Platão define o amor num de seus diálogos. Ele escreveu 35. E nesses diálogos, Platão filosofava, quase sempre colocando a tese que ele considera justa na boca de uma personagem Sócrates.
E no banquete, diálogo sobre o amor, não é diferente. Platão deixa todo mundo falar e no final fala Sócrates. E Sócrates vai definir o amor no banquete, definição que atravessa os séculos.
Claro que Platão jamais usou a palavra amor. Não falava português. Aliás, o português nem existia.
Platão falava grego e em grego o seu amor é eros. E que você conhece porque é raiz de muitas palavras do nosso idioma, como erotismo, erotização, erótico, eros motel, erros driving, erros night club. EOS faz parte da tua vida.
Então, eros, o que é? A definição é simples. Amar é desejar.
Ponto. Viu? Nada de dramático.
Amor e desejo são a mesma coisa. Você ama aquilo que deseja, você ama aquele que deseja, você ama na intensidade que deseja e você ama enquanto deseja. A má notícia, claro, é que se o desejo acabou, é porque o amor acabou também.
Amor e desejo são a mesma coisa. Ora, nesse momento, a pergunta óbvia, se amor é desejo, desejo é o que então? Pois desejo é a falta, diz Platão.
Desejo é a busca daquilo que faz falta. Desejo é pelo que não temos e queremos ter. Desejo é pelo que não somos e queremos ser, pelo que não fazemos e gostaríamos de conseguir fazer.
E agora você tem a equação completa. Você ama o que deseja e deseja o que não tem. E quando tem não deseja mais.
E como o amor é desejo, não ama mais. Funciona assim, simples e rápido, amor pela cunhada. E é claro que dentro deste olhar platônico, o único homem do Brasil a não amar Juliana Paz é seu marido.
Exemplos vão ao infinito. Minha filha mais nova se chama Natália, tem 11 anos. Quando tinha 7 anos queria porque queria um brinquedinho eletrônico chamado DS.
Queria porque queria, desejava e como desejo é amor, amava o DS. O DS na loja, ela na vitrine. E assim uma relação de amor se estendeu até o Natal, quando Natália, de tanto merecer, ganhou 10.
Nesse momento, desaparece a falta. Desaparecendo a falta, desaparece o desejo. E como o amor é desejo, acaba ali, naquele instante o amor de Natália pelo DS.
O JS já num baú, num baú de desejos assassinados pela presença, num baú de desejos mortos pelo consumo. Hoje Natália ama o DSI. O I ela não tem.
e a julgar pelos salários de professor da USP. Claro, o amor de Natália pelo des permanecerá vivo, erótico, vibrante, cada um de um lado do vidro da vitrine. Graças à universidade, a minha família é cheia de gente que ama tudo que vê.
[Aplausos] E é claro, porque é um evento sério, você poderia perguntar: "Ih, professor, será que podemos cogitar em amor pelo trabalho? EOS pelo trabalho? " Claro, no desemprego, por exemplo, no desemprego trabalhar é tudo de bom.
Aliás, eu acho que só no desemprego trabalhar é tudo de bom. Quando você tá desempregado, nossa, como seria bom trabalhar. Quando você tá desempregado, o trabalho enobrece o homem.
Quando você tá desempregado, você quer porque quer um emprego. E como o mundo nem sempre é tão cruel, tem um dia que você consegue um emprego e agora você tem trabalho até as tampas. E ninguém pode desejar o que tem até as tampas.
Agora o que você deseja é o que agora faz falta. Férias, folga, feriado, quem sabe até o próprio desemprego. Ano sabático e outras picaretagens acadêmicas.
Espero que você tenha percebido. Platão tem um pouco de razão. Quem poderia desejar enxergar?
É claro, só deseja enxergar quem não enxerga, porque quem enxerga enxerga, não deseja enxergar. Quem caminha caminha, não deseja caminhar. Quem fala, fala, não deseja falar.
Então, o desejo é na impossibilidade e o amor é desejo pelo que não temos. E quando tivermos, o amor desaparece, dando lugar a uma nova falta, a um novo desejo.