Se eu te contar que a Guerra na Ucrânia colocou os olhos da União Europeia no Brasil? Você com certeza vai se perguntar: o que uma coisa tem a ver com a outra. Quando a Guerra no leste Europeu implodiu, dentre todas as consequências geopolíticas que poderiam surgir, uma foi quase imediata, a energética.
Tudo por conta da dependência da União Européia do fornecimento de gás vindo da Rússia. A Europa, ao contrário do Brasil, não utiliza de muitas energias renováveis. O gás natural é o segundo combustível energético mais utilizado no mundo e é o principal combustível utilizado na geração de energia do continente europeu.
O gás natural alimenta fábricas e casas e principalmente no inverno, quando as temperaturas ficam negativas, ele é fundamental para aquecer as casas. No entanto, 25% de todo gás natural existente na Terra está em terras russas, o país é o detentor da maior reserva natural da substância e o maior exportador de gás natural do mundo. Em 2020 a Europa foi a principal importadora do gás russo, representando 68% da exportação total da Gazprom, a maior exportadora de gás natural do país.
Uma das maiores narrativas do início da Guerra era que a União Européia dizia que Putin usava o fornecimento de gás na retaliação as medidas sancionadas. Ele restringiu o fornecimento do gás natural, levando o valor do combustível subir mais de 450% e fazendo a Europa temer uma recessão. Uma nova solução teve de ser encontrada às pressas.
Entre a crise emergente causada pela dependência do gás russo e a crise ambiental, que já preocupavam os principais líderes mundiais, o hidrogênio verde se destacou entre as outras soluções. O Hidrogênio Verde conhecido também como: “O combustível do Futuro”, ou “Ouro Verde”, é uma energia limpa e com capacidade de energia muito superior a outros combustíveis. No entanto, é também um combustível com altíssimo valor de produção.
Porém diante das circunstâncias, líderes mundiais como a Alemanha decidiram que era hora de investir nessa fonte renovável e encontrar o melhor lugar para produzir ela, e é aí que o Brasil entra na história. Apesar do Hidrogênio ser o elemento mais abundante do universo, ele geralmente está acompanhado de outro elemento, como a água (H2O) ou o metano (CH4). Porém, para a produção de energia, é preciso o hidrogênio puro, ou H2.
Para se ter uma ideia, 1 kg de hidrogênio contém energia equivalente a 2,1kg de gás natural ou 2,8 kg de gasolina. Por mais que pareça uma solução ecológica, os combustíveis fósseis representam a principal matéria-prima para a produção de hidrogênio: o gás natural responde por 48 % da produção mundial, o petróleo por 30 % e o carvão por 18 %. O hidrogênio pode ser produzido de diversas maneiras, a partir de combustíveis fósseis, energia nuclear e energias renováveis por meio de uma série de processos como a eletrólise da água, a reforma de gás natural, gaseificação de carvão entre outros.
O hidrogênio é classificado em três categorias de acordo com o processo de produção. O hidrogênio Cinza, é obtido através da reforma do gás natural e da gaseificação do carvão, o que acarreta na liberação de carbono para a atmosfera. O Hidrogênio Azul utiliza do mesmo processo de reforma a vapor, no entanto o CO2 é capturado e armazenado, impedindo sua liberação no ar.
Já no Hidrogênio Verde, o processo não resulta na liberação de gás carbônico. O método de separação do hidrogênio é diferente das outras, sendo que não existe a utilização de combustíveis fósseis e o processo utilizado é a eletrólise. Na eletrólise, é aplicada uma corrente elétrica na água para separar a molécula de Oxigênio, do Hidrogênio, e assim não ocorre nenhuma liberação de carbono, por que as usinas de H2V são abastecidas com energia renovável, o que faz dela uma energia limpa.
No entanto, para gerar essa corrente é exigido uma carga muito alta de energia, o que faz de sua produção muito mais cara. Atualmente, o Hidrogênio Verde é utilizado em missões espaciais para fornecer energia e água aos astronautas. Mas ele é uma substância super versátil, e pode ser transformado tanto em eletricidade, como em combustível e amônia verde.
A amônia, é uma matéria prima fundamental no setor siderúrgico e refinarias de petróleo, e um dos produtos químicos mais populares do mundo, ela está principalmente na composição de fertilizantes e produtos de limpeza. O H2V - Hidrogênio Verde - também pode ser utilizado como combustível. Algumas pessoas até mesmo se arriscam e produzem hidrogênio de forma caseira, mas é um processo altamente inflamável e perigoso, e o combustível à base de Hidrogênio Verde é algo que ainda está sendo desenvolvido.
Espera-se que com pesquisas futuramente o Hidrogênio verde sirva não só para carros e caminhões, mas também para aviões e navios. Em janeiro, um estudo organizado pela consultoria estratégica alemã Roland Berger, previu que o hidrogênio verde se tornará a principal fonte de energia do planeta, ultrapassando o petróleo. Segundo o estudo, o H2V, movimentará mais de um trilhão de dólares anualmente.
O que essa possível solução energética precisava era uma aumento de demanda, o que foi exatamente o que aconteceu quando começou a Guerra da Rússia e Ucrânia. O perigo iminente de um apagão, enfrentado pela União Européia seria o que se precisava para um aumento nos investimentos? Durante muito tempo o alto custo da produção de H2V, impediu o investimento em pesquisas e na produção.
No entanto, após se dar início a Guerra na Ucrânia, a Rússia, que detém cerca de 40% da demanda de gás natural de toda Europa, utilizou deste poder para ameaçar as nações que eram contra o ataque. No mesmo dia em que as maiores economias do Ocidente estabeleceram um teto sobre o petróleo russo, como uma forma de limitar o financiamento de guerra de Putin, o maior gasoduto de exportação de gás natural da Rússia que flui diretamente para a Europa parou de funcionar. O Nord Stream 1, que corresponde por 35% da importação de gás da Europa, já havia tido seu fluxo diminuído, e posteriormente fechado para manutenção, porém, no dia em que ele supostamente voltaria a funcionar, veio o anúncio de que o abastecimento não iria ser retomado e agora por um tempo indeterminado.
Líderes globais afirmavam que não havia dúvidas de que esta era uma jogada política de Putin. Essa briga de gigantes causou o aumento do combustível e da eletricidade, justamente no início do inverno Europeu, causando inflação e estagnação econômica, além de uma não tão distante crise energética. A dependência pelo gás russo começou a ser inaceitável.
A União Europeia passou então a correr contra o tempo por um substituto emergente do gás natural. Importar de outro país não era uma opção, as pressões contra combustíveis poluentes e a descarbonização da atmosfera a levaram a procurar por uma opção mais sustentável. O Hidrogênio Verde era a alternativa perfeita.
Por ser advinda de uma energia renovável, o processo de eletrólise exige muito mais eletricidade para a separação das moléculas do que os processos com combustíveis fósseis sendo assim um processo muito mais caro. No entanto, com o gás e a amônia sofrendo alta dos preços por conta das sanções russas, o investimento em hidrogênio verde passou a compensar. Isso acelerou a exploração do hidrogênio verde que passou a ser a melhor solução não só para a crise energética da Europa, mas também para a crise climática, passando a ser encarado como “Energia do Futuro”.
O conflito entre Ucrânia e Rússia, no entanto, apenas acelerou a corrida pela produção do H2V, mas uma movimentação neste sentido já havia começado. Movidos para cumprir as promessas estabelecidas pelo Acordo de Paris, países do mundo inteiro passaram a agir com urgência na realização de projetos para a comercialização do Hidrogênio Verde. Os Estados Unidos já fez promessas de fornecer em dez anos hidrogênio verde sob o mesmo custo do hidrogênio convencional.
E o Chile em 2020 já havia apresentado uma estratégia nacional de investimento de hidrogênio verde. Mas, por enquanto, o líder nesta corrida é a Austrália. O país está a um passo para abrigar a maior planta de hidrogênio verde do mundo.
O eletrolisador de hidrogênio anunciado é extremamente ambicioso e promete fornecer dez vezes mais energia que qualquer outro, gerando 250 MW e com capacidade de alimentar uma usina de 200 MW. O projeto tem investimento de US$593 milhões de dólares fornecidos pelo governo do estado Austrália do Sul e tem a empresa Office of Hydrogen Power South Australia como executora do projeto que é liderada por ninguém menos que Sam Crafter criador da bateria original da Tesla, considerada a maior bateria do mundo. Mas além deste mega projeto, a Austrália tem mais quatro em andamento, em todo território nacional que devem acrescentar 13,1 GW na capacidade de produção.
O Chile, foi um dos pioneiros a apresentar uma Estratégia Nacional de Hidrogênio Verde e o país tem grandes planos para o futuro. Existem planos para produzir o hidrogênio verde mais barato do mundo até 2030 e de se tornar um dos três maiores exportadores de H2V do mundo. O Ministro de Minas e Energia do país, Juan Carlos Jobet, anunciou na COP 26 que o Chile espera ter 5GW de capacidade de eletrólise em 2025.
O país tem cerca de sessenta projetos em desenvolvimento. Um deles procura descarbonizar a mineração, considerando que a exportação de cobre é a maior indústria do país, o projeto denominado HyEx, tem a frente a empresa chilena de mineração Enaex com parceria da empresa de energia francesa Engie. O projeto utilizará as altas incidências de sol do norte do Chile vindo do deserto do Atacama.
Em dezembro do ano passado o país foi pioneiro mais uma vez, ao lançar a primeira usina de combustíveis sintéticos a partir de hidrogênio verde. O processo que mistura hidrogênio verde e dióxido de carbono retirado da atmosfera resulta em um e-metanol que posteriormente fabricará uma e-gasolina. O projeto teve investimentos do governo chileno e de grandes empresas como a Porsche e a ExxonMobil.
Para entrar nessa corrida, a União Europeia procura investir até 2030 US$430 bilhões em Hidrogênio Verde. A Holanda é um dos países que anunciou a construção de uma usina, que será construída no norte do país apoiada pela petroleira Shell e tem como objetivo alcançar 10 GW em eletrolisadores que irão abastecer o país e a Alemanha. A Espanha, saiu na frente, com um investimento de 150 milhões de Euros para a construção da Usina Puertollano, que foi inaugurada em maio de 2022 com a promessa de ser a maior usina de hidrogênio verde para a produção industrial da Europa.
Porém apesar de ter os recursos e a vontade de liderar esta corrida, a União Europeia, possui um pequeno problema na produção de hidrogênio verde. Problema esse que o Brasil pode solucionar, direcionando os olhos do mundo para ele e o colocando na fila para se tornar um dos maiores produtores de hidrogênio verde do mundo. Para que a produção do hidrogênio seja de fato verde, é necessário que a energia que alimenta a usina seja livre de carbono.
Para isso, a energia utilizada necessita vir de fontes renováveis como a energia eólica, solar, biomassa, entre outras. Contudo, para se ter acesso a este tipo de energia é preciso ter condições para isso. Por esta razão, países com boas incidências de sol e vento saem na frente, mas aqueles que não tem essa capacidade precisam investir onde tem, que é o que a Europa entendeu que precisa fazer.
O Brasil é conhecido por seu alto investimento em fontes de energia renováveis, com mais de 83% da matriz energética do país vinda de origem renovável e com usinas de energia solar e eólica espalhadas pelo país com capacidade para produzir 1,3 milhão de megawatts. Em 14 de março deste ano, ocorreu aqui no Brasil o Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA)com a visita do ministro alemão de Assuntos Econômicos e Ação Climática, Robert Habeck, , que teve como um dos seus principais motivos o reforço a relação entre os dois países, quanto ao investimento de produção de hidrogênio verde no Brasil. A parceria entre a Federação Alemã de Associações de Pesquisa Industrial e o SINAI investirá R$21 milhões de reais na seleção de projetos de organizações de tecnologia e pesquisa, para pequenas e médias empresas, que promovam pesquisas de desenvolvimento tecnológico para a produção de hidrogênio verde no Brasil.
Além disso, a Alemanha investirá na ampliação da usina de hidrogênio verde da Bahia, a transformando na primeira em escala industrial do país. A usina será capaz de produzir em seu primeiro ano de funcionamento 10 mil toneladas de hidrogênio verde e 60 mil toneladas de amônia verde por ano. Com o investimento o grupo pretende quadruplicar a capacidade de produção já em 2025, a ideia é transformar essa usina na maior usina de hidrogênio verde do mundo.
Para isso, a empresa alemã Thyssenkrupp fornecerá eletrolisadores, o principal componente para distribuir correntes elétricas na água separando as moléculas de hidrogênio do oxigênio, e também fornecerá tecnologia para o aumento da produção de energia da usina, advinda de energias renováveis. O nordeste brasileiro deve ser a região a receber mais investimentos de empresas internacionais. Isto, por conta de sua localização favorável, que reúne o melhor ponto do Brasil para traço de rotas marítimas até a Europa, e segundo, e mais importante, por sua grande incidência de sol e ventos, sendo uma das melhores do planeta.
Não à toa, sendo a região do Brasil a produzir a maior quantidade de energia renovável do país. Em 2021, só o nordeste brasileiro possuía 17 projetos para a produção de H2V, com investimento de cerca de US$52,85 bilhões de dólares advindos de empresas internacionais, segundo o infográfico criado pelo site Diálogo Chino. Entre eles, um investimento de 5,4 bilhões da empresa australiana Enegix que tem o objetivo de construir no Ceará a maior usina de H2V do mundo com capacidade de produzir 600 mil toneladas de hidrogênio verde, suficientes para abastecer seis milhões de veículos para rodarem dez mil quilômetros por ano.
Se as promessas forem cumpridas, isto colocará o nordeste como o principal exportador do produto. Agora em 2023, o número de projetos alavancou. Só o estado do Ceará assinou 24 Memorandos de Entendimento, uma espécie de pré-contrato, para projetos de produção de hidrogênio verde.
O estado abriga a única Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Brasil, uma área de livre comércio com exterior, o que garante às empresas instaladas neste espaço maiores benefícios cambiais e tributários. Foi no Ceará que houve, em janeiro deste ano, o lançamento da primeira molécula de hidrogênio verde produzida no país. É esperado para o fim de 2023 o início das operações da primeira fábrica de hidrogênio verde em larga escala do Brasil, que está sendo construída pela Unigel em Camaçari, Bahia.
Segundo o estudo da consultoria alemã Roland Beger, o Brasil, por conta da experiência com produção de energias limpas, será líder na exportação de hidrogênio verde. O estudo estima que o país fará cerca de R$100 bilhões de reais anualmente com as exportações de H2V, e R$150 bilhões no total. Enquanto em outros países o custo de produção do quilo de H2V fica em cerca de 3 a 8 dólares, no Brasil esse valor cai para 2,20 e 5,20 doláres, por conta da utilização de energia proveniente de usinas eólicas ou solares na produção.
Para o funcionamento da usina na Bahia, financiada pela Thyssenkrupp, por exemplo, tem como parceria a Casa dos Ventos, uma das maiores empresas de energia eólica do país, no fornecimento de energia. O economista e professor da UFRJ, Nivalde de Castro, até mesmo afirma que "O Brasil tem tudo para ser a Arábia Saudita do hidrogênio a partir de 2030. O desafio é transformar o potencial em realidade".
Com tanto investimento chegando no Brasil, em março de 2023 o presidente do senado Rodrigo Pacheco criou uma Comissão Especial de Hidrogênio Verde a fim de debater políticas públicas para a produção de hidrogênio verde no país. A Comissão, que acontecerá até 2024, busca por meio de audiências públicas e visitas aos projetos atualizar o governo e a população sobre os avanços do desenvolvimento do hidrogênio verde no Brasil, além de acompanhar ações de iniciativas públicas e privadas. No entanto, esta é uma medida que vem um pouco atrasada, o governo brasileiro demorou a entender a importância do H2V e de seu papel para o setor ambiental e econômico do Brasil.
Lá em 2021, um mapeamento realizado pelo Ministério de Minas e Energia do Brasil com agentes do setor privado demonstrou que a falta de incentivo financeiro e apoio político era uma das principais barreiras para o avanço do desenvolvimento do hidrogênio verde no país. Na época, o Brasil chegou a implementar o Plano Nacional de Hidrogênio, o conhecido PNH2, mas o plano ia ao sentido contrário dos objetivos de implementação do hidrogênio verde e deixava livre a utilização de fontes fósseis, como carvão e gás. Além de que ele não determinava metas de produção, preço, ou de consumo, mesmo elas sendo sugeridas pela Absolar, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica.
Segundo Jurandir Picanço, consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), o Brasil só começou agora a "Planejar o Planejamento”. E se junta a ele, outros especialistas que reforçam que sem metas estabelecidas e sem jurisdição do setor, investidores ficam inseguros e o Brasil perde cada vez mais oportunidades. Nos resta agora saber se a Comissão Especial criada nos trará essas necessidades, e se sim, é preciso torcer para que elas venham o mais rápido possível.
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