Meus queridos irmãos e irmãs, celebramos hoje a solenidade de São José, pai adotivo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quando dizemos "pai adotivo", dizemos por falta de uma outra palavra, por quê? Porque um pai adotivo torna-se pai por um decreto de sua própria vontade, ou seja, uma pessoa quando resolve adotar uma criança, ela o faz por sua vontade.
Acontece, no entanto, que São José tornou-se pai adotivo de Jesus por um decreto da vontade divina e nós não temos absolutamente nenhuma comparação na história e, por isso, não temos nenhuma palavra para dizer o tipo de pai que São José é. São José, sim, é pai adotivo, mas pai adotivo por uma outra vontade, a vontade divina. Um pai adotivo é adotivo por acidente, por acaso, na sua bondade, na sua vontade pessoal quis ser pai, São José, ao contrário, foi pai desde toda a eternidade nos planos divinos porque ele veio ao mundo para ser pai de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Meus queridos, o ser pai de Jesus é a razão da existência de José, ele não teria vindo ao mundo, não teria nascido, não teria existido, não teria acontecido nos sonhos divinos se não fosse para ser pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e, portanto, São José pareça menos pai do que os pais comuns, biológicos, na realidade, ele é mais pai do que qualquer pai que jamais existiu na face da terra. Porque se você que é pai biológico é pai, você é pai, mas você não se define a partir do seu filho, São José é pai e ele não teria existido se não fosse para ser pai do seu filho. Ele é ontologicamente pai, ele é pai nos pensamentos divinos, ele não tem outra razão de ser, ele não tem nenhum plano na sua existência, ele não tem nenhum porquê na sua vida, a não ser pai e pai do próprio Filho de Deus.
E se a natureza não o fez pai, porque, de fato, ele não é pai biológico, se a natureza não o fez pai, onde São José irá conseguir um coração de pai? Ora, Deus não dá uma missão sem dar a graça para essa missão, portanto, o que gerou em José o coração de pai foi a graça divina derramada no coração de um homem como em nenhum outro coração de ser humano do sexo masculino, criatura de Deus, foi derramada. São José recebeu a graça da paternidade.
Para nós aquilatarmos, para nós avaliarmos, para nós termos ideia da imensidão da graça recebida por São José pensemos: ele tinha que ter de Deus uma força especial para poder mandar no Filho de Deus. Como alguém, como um ser humano poderia encontrar forças para mandar, para ser o chefe de uma família onde a esposa e o filho são imensamente maiores do que a sua capacidade humana? É por isso que o evangelho nos diz que "São José, sendo justo", sendo justo, "não queria receber aquela esposa e aquele filho", porque ele viu a sua indignidade e viu a sua incapacidade.
No dia em que esse Anjo apareceu em sonho a São José e disse: "José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria por tua esposa", nesse dia São José não recebeu somente um comunicado, mas, como Maria que recebeu a graça no anúncio do Anjo, São José aqui recebeu a graça de um coração de pai e a recebeu com tal solidez, a recebeu com tal abundância, a recebeu com tal força que ele que, no início do evangelho, parece hesitante, vacilante, parece tremer da missão elevadíssima da qual ele não se acha digno e, por isso, o evangelho diz "sendo justo pensou em abandonar Maria", dali para a frente ele não mais vacilou, dali para a frente ele não mais tergiversou, São José recebeu a missão de proteger a Virgem Maria e de proteger Jesus. A missão de São José é maior do que a missão dos maiores santos, portanto, é maior do que a missão dos Apóstolos, qual é a missão dos Apóstolos? Os Apóstolos são um candelabro que foram feitos para erguer o Cristo fazer com que Ele brilhe diante dos homens como um farol.
São José, ao contrário, é um véu que foi feito por Deus para esconder Jesus. Esconder e protegê-Lo. Esconder e protegê-Lo durante trinta anos.
Esconder e protegê-lo do poder de Herodes. Esconder e protegê-Lo do poder dos demônios. Esconder e protegê-lo, para que o Filho de Deus pudesse aqui na terra ter uma vida escondida.
Por isso, São José é o santo do escondimento e da vítima íntima. Nós, seres humanos, temos uma tendência de avaliar e de dar mais honra, dar mais glória às virtudes públicas, às virtudes eminentes, às virtudes que brilham diante da sociedade. No entanto, essas virtudes públicas nada seriam se não houvesse virtudes secretas e escondidas que são o fundamento delas.
Se um santo aparece publicamente, prega, torna-se Doutor da Igreja, se um santo é como os santos Apóstolos, ele somente é santo se na vida privada ele tiver verdadeiramente essa santidade. Portanto, a vida secreta e íntima é o fundamento de toda santidade e São José é o padroeiro da vida secreta e da vida íntima, ele que foi um véu, que escondeu Jesus Cristo e O protegeu, ele é o véu que esconde e protege a nossa vida íntima, a nossa vida interior, a nossa vida com Deus. Peçamos a Deus esse coração secreto de amor a Deus, como o de São José, peçamos a Deus um coração de quem esconde e esconde secretamente a sua intimidade e a sua vida de amor.
Não que nós não precisemos testemunhar o amor, mas o testemunho de nada vale se não houver os segredos do rei escondidos em nosso coração. Por que então São José tinha que morrer antes de Jesus começar a sua vida pública? Por quê?
Porque quando o Filho de Deus aparece no batismo e uma voz do céu diz: "Esse é o Meu Filho muito amado" era necessário que o humilde José tivesse desaparecido de cena para que brilhasse a filiação divina. Aquela filiação adotiva, embora grandiosa, embora esplendorosa no mundo da graça, essa filiação de Jesus por José precisava desaparecer, precisava aos poucos se retirar na humildade para que aparecesse a glória da filiação do Pai, do Pai dos céus. Meus queridos, a grandeza de São José está no fato de que do alto dos céus o Pai fez brilhar um raio da sua glória e fez atear um fogo no coração desse homem, o fogo do seu amor de pai pelo filho Jesus.
O amor do próprio Pai eterno pelo filho Jesus veio incendiar o coração desse homem para que ele cumprisse a sua missão. As glórias de São José! Quanto mais humilde e desconhecido, mais ele é exaltado no céu.
Meus irmãos, São José passou os primeiros séculos da Igreja, praticamente quinze séculos como que desapercebido, como se, de repente, aquele véu e aquela intimidade secreta da vida de José, precisasse se estender humildemente por mais alguns séculos até que no século XVI começou a brotar na Igreja uma devoção por São José que só tem crescido, só tem aumentado porque agora é necessário que ele seja louvado pela sua glória. Quem se humilhar será exaltado e quem mais se humilhar será mais exaltado e quem mais se esconder, se humilhar e for pequenino, mais será exaltado, glorificado e colocado diante dos anjos e dos santos na sua grandeza. Meus irmãos, glórias a Deus por São José!
Glórias a Deus por esse que é pai de Nosso Senhor Jesus Cristo e não se define senão por outra coisa: pai e não é outra coisa a não ser pai e não é outra coisa senão um coração totalmente devotado ao seu filho. Que Deus nos conceda essa humildade, essa vida íntima e secreta e esse amor ardente, esse incêndio de amor por Jesus Cristo que queimava no coração do pobre e humilde José.