[Música] sou Kelton Campos e tenho 27 anos e moro na Brasilândia e s artista plástica Quando eu olho para esse lugar linear mesmo né até meus 27 anos eu sempre vi o quanto tinha uma necessidade muito forte de de me expressar fui uma criança que buava as paredes com o batom da mãe com lápis teve um período muito simbólico na minha vida que foi quando meu irmão começa a desenhar ele reproduzia em grande escala capas de CD de rap aí T não ficava em volta tipo Ai que mágico era um momento que ele era visto
como um indivíduo sabe aí eu me inspirava nele no que ele fazia E aí escondido desenhar eu tinha Acho que uns 7 8 anos é meio que por aí assim nós somos seres que faz parte da natureza e ponto sabe né uma espécie que faz parte desse bioma mesmo né E aí por isso é uma pessoa também cresceu na Babilônia vamos se dizer assim numa grande metrópoles que é São Paulo e numa periferia também que é grande isso sempre foi muito confuso porque parece que quando a gente cresce n Nesse contexto que é a cidade
as grandes cidades parece que existe um distanciamento assim do que é a natureza o que me inspira muito acho que é a natureza as pessoas é as relações quando a gente pensa na educação a gente pensa em direito então isso é uma problemática que a gente tem que trazer né porque muitas vezes as pessoas têm uma relação com artistas e com a arte com a produção artística que fica num campo muito bagunçado se artista é trabalho se você tem tem a possibilidade oportunidade de estudar de desenvolver melhor seu trabalho sua técnica eu acho que é
importante né mas eu acho que isso tem que ser discutido numa perspectiva que isso deveria também ser um direito isso deveria ser algo que fosse mais palpável em relação a acesso todo mundo já sabe já cansou de ouvir que é um lugar elitizado né às vezes por exemplo conheço artistas não pobres que muitas vezes a formação de arte ela vem depois né porque ele já era formado em outras coisas tipo Ai deci ser artista vou fazer uma posse o mestrado e em artes né independente da linguagem artística né que essa pessoa decidiu seguir a gente
vive em um país queer arte né Isso precisa ser reivindicado E aí voltando para educação também acho que é um processo histórico Eu gosto muito de me aprofundar nas linguagens na produção e artistas muitas vezes não não nesse contexto ocidental né Não nessa perspectiva europeia né nessa coisa muito clássica da arte porque é um lugar também que me traz validação mesmo porque eu não sou uma pessoa eh que ten formação né Eu sempre fui autodidata eu sei que eu tô fazendo sabe porque eu tenho 27 anos eu tenho muita coisa para aprender para conhecer para
desenvolver enquanto técnica Mas eu sempre também tento me alar e me sintonizar com as oportunidades no Brasil assim não tem oportunidade para todo mundo e quem tá falando tá mentindo é uma cadeia muito voraz eu pinto mas por exemplo a pessoa que trampa mangando na praia com comessa produção de joia para mim também é artista e tá no corre sacou [Música] é a minha missão assim entender como a gente consegue pensar outra forma da produção né da distribuição do trabalho de outros colecionadores né de outros curadores é muito importante e de se relacionar com os
outros artistas também né eu não ditei as regras eu cheguei já tava aí e aí eu eu sinto que eu tenho um lugar também da sorte porque eu não acredito em talento talento trabalho eu sei que eu consigo pintar um rosto eu sei que vou desenvolv uma técnica com barro porque eu tô há quase 3 anos ali futucando pegando a terra Entendendo aglutinante entendendo resina porque muitas vezes parece que o artista tipo assim nossa olha como ele é talentoso só que assim ele é talentoso Porque Você investiu né então a gente tem que pensar nessas
estratégias pros novos artistas eu sei que eu tô nesse lugar hoje porque eu tive investimento também entendeu alguém investiu em mim porque senão a gente fica lidando com os artistas como se ele fosse um anjo escolhido pelo Divino entendeu E isso não é justo fica uma agenda muito violenta em relação aos artistas e a demanda de trabalho em relação a aquele artista que é assim ah por exemplo Ah tem tem artista mulher aí todo mundo quer sugar a gata aí tem o artista a artista trans aí todo mundo quer sugar gata e ela só pode
ser ela de trans só pode ser ela de mulher só pode ser ela de preta só pode ser ela de indígena e aí você vai criando uma agenda muito perigosa e a gente vê o quanto muitas vezes a gente tá lidando com artistas doentes né E aí que mercado é isso também né Que tipo de artista a gente tá conseguindo cuidar e proteger pensando colecionadores pensando eh curadores pensando instituições pensando nas Galerias e a gente também tá falando de uma coisa muito importante eh socioeconômica porque é um mercado que move um dinheiro muito grande então
a gente tá falando de economia de um país a gente tá falando de um PIB como que isso Volta também pros artistas né muitas vezes tem uma produção linda mas existe uma precarização por trás né artistas mal pagos artistas Não pagos profissionais Não pagos né porque eu dependo de uma cadeia imensa de outras pessoas para acontecer meu trabalho eu dependo do do da pessoa que vai fazer a luz eu dependo da pessoa vai fazer o texto eu dependo da pessoa que vai fazer a montagem eu dependo da pessoa que vai embalar o trabalho sabe então
acho que tem que ter o respeito então a nossa profissão né Nós artistas temos que ver também nosso trabalho como trabalho quais direitos são garantidos Cadê o estatuto dos Artistas das artes plásticas igual tem no audiovisual é o mercado tem que abrir espaço pro pras novas pessoas né pros novos curadores pros nossos pesquisadores a gente tá falando de uma produção intelectual então a gente tá falando no de uma história brasileira né quando eu não tiver mais aqui eu vou ter um histórico aí né e eu acho que como isso tá inserido também na educação né
que é uma coisa que eu penso muito que eu acho que é um papel das instituições né como eles consegu assegurar né Cuidar dessa memória dessa produção desse intelecto né desses [Música] artistas as pessoas colocam muito um vro assim sabe nos artistas e muitas vezes é muito doloroso eu vho quanto artista porque muitas vezes você consegue futucar as obras dos Artistas tipo você vê a obra ver a pintura em alta qualidade ver um texto sobre trabalho mas você nunca consegue saber sobre o artista isso é uma coisa que me preocupa muito porque muitas vezes as
Galerias estão interessadas no trabalho mas não na história do artista de quem ele foi quem ele deixa de ser o que que aconteceu então isso é um fenômeno brasileiro que que é que é muito próximo do que a gente entende como a terra do apagamento né porque aqui é um lugar que se apaga as coisas né que se esconde a história acho que tem uma coisa muito cínica que é vamos falar das obras mas não vamos falar dos Artistas Vamos humanizar né Essas pessoas né E isso eu acho que tem muito a ver com a
história do Brasil assim por isso acho importante artista falar os artistas tem que falar os tem que escrever sobre eles porque pode ser o lugar mais seguro que a gente encontre tipo ISO isso que eu tô fazendo agora de ter um espaço para falar é muito importante porque vai ser um documento ninguém vai conseguir tirar isso entendeu porque tá registrado E aí fala sobre a obra mas não fala sobre o artista sendo que eu para mim é um é espiralado entendeu eu não consigo ver isso separado né enquanto uma pessoa também racializada eh Quando eu
olho assim pras manifestações brasileiras pra cultura brasileira pro candomblé por exemplo sou candomblecista nada se separa entendeu Eu não eu eu eu não vejo as coisas assim então a minha produção a minha relação pictórica ela não se separa ela faz parte de toda o entrelace da minha história da minha individualidade e a e muitas vezes eu tento reivindicar isso enquanto meu lugar sujeito no mundo porque eu sinto que quando eu tô abrindo uma individual quando tô numa coletiva quando tô nesse contexto existe sim um processo de fertilização e existe sim um processo de Romantizar essa
pessoa né de não vê ela às vezes muitas vezes como sujeito ou como indivíduo ela é artista Eu acho que isso é uma mensagem mais pros artistas mesmo né os novos e os e quem tá começando eu acho que é eu acho que a gente tem que baixar um pouco a expectativa em relação à nossa carreira porque isso tem um um fator muito de políticas públicas quem está no governo e tudo mais e tem a geopolítica também né que tem uma relação Direta com a arte eu acho né sobre os colecionadores curadores e Art advisor
enfim todo mundo se conhece porque por exemplo ahi eu comprei uma obra da Kelton falou Ai comprei uma obra da Kelton lá o negócio da terra lindo né aí falou não é sério também acho que vou comprar uma também e acho que isso isso vai criando essa cadeia às vezes vou conhecer outros colecionadores e eu vejo que ele já se conhece todo mundo se conhece sabe os galeristas se conhecem os colecionadores se conhecem porque tem esse lugar comum né que é o famoso Lob amor essa expectativa ela tem que ser tomada muito cuidado né eu
tô falando isso para mim mesma na real ou abaixa bola assim né é uma roleta russa muitas vezes assim para quem vem de um contexto de ser uma pessoa pobre Qual a relação do material com a produção do trabalho é a durabilidade eles querem que o trabalho dure 300 5000 anos pro trabalho ser revendido sei lá quantas vezes eu fiz uma coletiva em Los Angeles na pandemia em 2020 e aí eu tô aprendendo que seress artista tô tô entendendo como funciona o mercado aí eu dei soldout aí vem sei lá R 25.000 na minha conta
Nossa quanto dinheiro na pandemia Mona aisso tipo assim tá preciso produzir mais para poder vender mais é artista isso né Tem uma produção aí vai comprar a tela r$ 2000 cada pote de tinta tá R 300 de R 300 a R 500 pincel aluguel põe aí 12 meses no mínimo vai dar r$ 2000 então é um investimento muito caro e um investimento muito seguro porque eu também não sei se eu vou vender e tem muitas Galerias assim que se importam com artista então criam acordos né parcerias mas o investimento do trabalho é caro como que
assim eu chego no meu pai fala ai pai preciso comprar um lápis de r$ 500 tipo amore a gente tá pensando que vai comer ainda né então a gente tá no modo sobrevivência né E aí tem um um trabalho meu que já foi revendido cinco vezes e eu não vou ver esse dinheiro porque eu não tenho direito de sequência E aí a galera vai vendo eu nas feiras nas coisas individual o trabalho vai ficando mais caro o trabalho que foi vendido sei lá por 000 tá 15 . mil e eu não vejo esse dinheiro entendeu
e isso é muito doido isso é muito frustrante também então acho que essa coisa da vulnerabilidade é isso Não não é um um mercado seguro porque a gente não tem direitos garantidos né ninguém se importa com artista né é um mercado de Luo é um lugar extremamente caro de se manter e de se permanecer e muita gente se perde também né porque é muito glamuroso né esse artista os looks o champan Então tudo isso é um investimento do trabalho uma coisa que eu gosto muito que me dá muita força conhecer outros artistas mais velhos principalmente
que identifica e perguntar ou como como foi um artista grande né brasileiro ele tem mais de50 anos e ele falou Kelton eu comecei a viver com pintura com50 anos e ele é branco amor se hoje é difícil você entrar ali na patota imagina lá atrás né era uma coisa muito a dedo ser um mercado de luxo muito glamorosa que sempre entre na arte e fica assim Mona eu vou ficar rica não é assim é trabalho trabalho para eu venho aqui eu entro aqui no estúdio 10 10 da manhã eu saio 10 10 11 horas da
noite eu trago minha Marmitinha entendeu não tem esse glamor todo né que é colocado muitas vezes em relação a nossa profissão sabe então isso coloca a gente em muita vulnerabilidade porque fica também essa semiótica de que artista está bem está todo mundo bem tá sempre bem tem dinheiro trabalha como quer faz o horária que quer faz o que quer e quando a gente se aproxima uma das galerias de v que não é meio meio assim que funciona as coisas Sabe eu não sei se eu se eu consigo ser artista ano que vem porque eu fiz
um investimento muito grande esse ano e tive problemas também esse ano para mim uma carreira de sucesso eu saí desse lugar da Sobrevivência eu tenho vivido só de arte assim esses dois anos e eu também entendo esse lugar que é muito violento né de ser a pessoa única ali às vezes e eu não quero isso para mim na minha da carreira de jeito nenhum a carreira de sucesso para mim é eu ter consciência de quem eu sou eu não me perder nesse processo e de Eu também ter de de est sempre sintonizada com que tipo
de artista eu quero ser isso vai sero trabalho da minha vida né Enfim acho vai ser minha melhor [Música] obra AG agora a gente vai dar um passeio no meu estúdio Ah eu já tô com esse trabalho aqui que é uma máscara que eu tô com essa produção de fazer algumas máscaras essa daqui eu fiz com foi um material que eu desenvolvi que é terra e serrage e umas resinas como ten essa relação com ancestralidade no trabalho eu acho que as máscara é um lugar muito interessante para eu conseguir traduzir o invisível por exemplo como
trabalho uma relação com orixá com invisível com a natureza eu acho que as máscaras né no contexto não ocidental ela é esse lugar que pode ser referenciado né Por exemplo o povo europeu usava muitas máscaras para produzir violência né então quando a gente pensa no por exemplo nos povos e de diáspora ou nos povos originários é tem essa relação muito forte com a máscara ser só um sentimento ou uma expressão não tem uma Rela relação mais bélica sabe por exemplo aqui pode ser um tio que eu não conheci né porque eu tenho essa relação na
minha família que é um processo né de apagamento né um processo histórico aonde as pessoas escuras estão desaparecendo né ou muitas vezes quando eu já cheguei aqui elas já não estavam a minha relação com as máscaras tem a ver com esses seres eu sei que eu carrego sei que estão próximo de mim mas eu não conheço eu desconheço [Música] [Música] Eu também ganhei um ganhei um Pilão da mãe Bia que é onde eu faço meus pigmentos E aí minha relação com o pigmento natural também eh começou a se dar porque eu comecei a estudar cerâmica
e eu abri a a cerâmica na tela de pintura eu comecei a pintar em cima aí foi uma coisa que foi surgindo meio intuitiva assim aí eu comecei a ficar muito obsecada com pigmento natural porque é é muito gostoso gente quem tem oportunidade de mexer com terra com argila com qualquer coisa assim de plantar quando eu fui morar na Bahia um lugar que foi muito me enriqueceu muito o meu trabalho que eu morei perto do Extremo Sul da Bahia foram as falesias que eu também uso porcelana também uso argila branca Mas aí tem uma diversidade
gigantesca assim de minérios né que tem mais óxido que tem mais ferro e aí você começa a estudar aí tem uns pigmentos naturais também de Marrocos que eu ganhei e eu gosto de resgatar isso assim no meu trabalho quando eu falo resgatar é de correr atrás né porque fica também o imaginário de que isso não existe aqui sabe só tem fora e não é verdade né Eu tô estudando em orubá também entendendo como a linguagem ela é muito mais complexa pensando nesse povo na ocidental Porque tem uma proximidade da da cosmologia né guo que é
tipo escutar então aqui eu tenho uma senhora meio que escutando uma pessoa é um trabalho sobre isso né sobre o quanto o processo de escuta às vezes ele nos traz muita cura o meu trabalho também a ver com essas ritualísticas né então me inspiro muito nas religiões manifestações afro-brasileiras então eu sempre tento colocar nesse lugar fantasioso esse trabalho chama Bori né que é Bori alimentar a cabeça que é um ritual muito conhecido né no canom Blen então aqui eu tenho uma figura que tá mergulhando ou pegando essa cabeça né no rio porque vocês vão ver
muitas cabeças no meu trabalho porque é uma coisa muito importante pros povos diaspóricos e no candomblé também né então aqui eu tenho uma criança com pote pequeno na mão e eu tenho um pai com com as as mãos no céu né e o que que isso quer dizer que a gente depende dessas gerações para poder desenvolver uma sociedade vamos se dizer assim então a mão do adulto não vai entrar no pote pequeno e a mão da criança entra no pote pequeno só que a mão do adulto alcança o céu a da criança não então a
gente precisa um do outro então o trabalho que tem um pouco a ver com essa relação de gerações esses tons mais claros são tons que são que vai ser esse plano mais orum né que é esse outro lugar e os os tons mais terrosos são os planos materiais que seria a representação dessas relações que a gente tá tendo aqui agora com as pessoas essa frequência eu faço a captação de material das tinta tipo a partir do do que eu tô vendo mesmo é meio intuitivo assim e a forma também que eu encontrei de de me
conectar com esse lugar com a minha quebrada também né porque que existe né ainda né esse esses lugares com muita Terra esses lugares arborizados assim São Paulo uma cidade tá sempre em construção né Sempre tendo obra então e eu gosto desse material porque eu sei que eu vou encontrar el em qualquer lugar do mundo por exemplo quando eu cheg no estúdio é um processo meio de Alquimia que eu vou misturando Tons Mais Claros com Tons Mais Escuros misturo várias cores e aí eu vou desenvolvendo assim O pigmento né em si [Música] Olha meu futuro enquanto
artista é a permanência nesse mercado nessa produção eu tô aprendendo muito né então acho que ter pessoas interessadas no meu trabalho eu não tô nem falando no lugar de comprarem meu trabalho assim especificamente que é extremamente importante também né porque eu preciso olhar pra minha vida a longo prazo entendeu principalmente pensando num país que é tem muitos Record em relação ao meu corpo entendeu então a gente tem pouquíssimos artistas e que conseguiram permanecer né na arte a gente tem pouquíssimo artista conseguindo permanecer na arte Vivo que é o meu objetivo né eu quero eu quero
conseguir viver e gozar do meu trabalho da minha profissão em vida não quero que isso aconteça quando eu morrer sabe eu sei que a intelectualidade também é trabalho sabe então eu respeito muito as pessoas que são artistas no Brasil assim umas Nem tanto mas outras assim 1% porque eu sei o quanto é difícil e eu nunca vou admitir que me digam isso que eu não sou minha profissão e artista é profissão por mais que seja uma coisa muito íntima eu não sou o meu trabalho não sou minha pintura só sabe eu sou várias outras coisas
di [Música]