A Honestidade como Virtude e Dever - prof. Sidney Silveira

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Centro Dom Bosco
O prof. Sidney Silveira ministra aula sobre o tema da virtude da honestidade para os amigos do Centr...
Video Transcript:
E aí, E aí, E aí! [Música] É uma boa noite a todos, uma alegria estar aqui na mais uma primeira terça-feira do mês, e o tema de hoje, que é a honestidade, me ocorreu quando estava lá na liga, e um rapazinho comentando a respeito de algumas coisas que sucedem hoje na nossa política, etc., disse uma frase mais ou menos assim: "Honestidade é obrigação. Todos nós temos o dever de sermos honestos." E eu respondi: "Meu jovem, a coisa é um pouco mais complexa do que a princípio possa parecer." E aí me veio a ideia, me
ocorreu a ideia de fazermos esta primeira terça-feira sobre um tema que é perene, um tema que vale para hoje, valeu no passado e valerá amanhã, que é o tema da honestidade. E eu vou dizer o seguinte: eu pus ali no quadro as quatro virtudes cardeais, que são aquelas consideradas cabeça das demais virtudes, porque as outras virtudes morais participam das virtudes cardeais na medida em que atualizam algo delas. A principal virtude cardeal é a que está lá em cima: é a prudência, que nada tem a ver com cautela interesseira. Hoje, quando alguém ouve falar sobre a
prudência, imagina aquela espera, aquela pessoa que aguarda o momento certo, a pessoa oportunista para agir. Mas não é isto que Tomás tinha em mente, nem os escolásticos do seu tempo, quando falava da prudência. Prudência é recta ratio agibilium, é a reta razão no agir. Então, é uma virtude tão importante que os latinos a chamam de auriga virtutum, ou seja, a guia das virtudes. Auriga seria o cocheiro das virtudes, não é? Então, essa é aquela virtude sem a qual as outras virtudes morais não podem existir. Todas as virtudes morais, e também as cardeais, que são morais,
dependem da prudência, porque são atualizações analógicas da virtude da prudência. Então, se alguém é justo, o imprudente não pode ser dito justo. Porque, sendo as virtudes hábitos—hábito aqui é uma palavrinha aqui no latim escolástico; hábito tem uma designação bastante precisa que é o intermediário, o hábito entre a potência e o ato—the palavra mesma significa força, mas este "hábito" aqui é aquilo que em nós nos predispõe a alcançarmos a nossa própria excelência ou a excelência que somos chamados a realizar em nossas vidas, dadas as potências superiores que integram a nossa alma, que são a vontade e
este apetite intelectivo do bem. Toda vez que eu quero algo, o que me faz querer é a forma inteligível de um bem. Vocês estão aqui hoje porque a vossa vontade vos informou que, sob algum aspecto, estar aqui hoje era bom. Então, o bem é o que move os apetites. E, como dizia Aristóteles nas suas Éticas, o bem é aquilo que tudo apetece; todas as coisas apetecem o seu próprio bem, ainda aquelas coisas que não são dotadas de inteligência. É uma pedra; a ela apetece perdurar e conservar a sua forma, e no entanto nem pensa nisto.
E sabe, Tomás diz: "Ela está ali, exercendo o seu hábito entitativo de ser pedra." Todos os entes que são aquilo que têm ser tendem a perdurar no ser com a sua forma, mas, no caso humano, a nossa perduração no ser, para ser proficiente, precisa que nós atualizemos as virtudes, a começar pela virtude cardeal, a virtude cardeal por excelência, que é a prudência. Então, além de ser auriga virtutum, ou seja, a guia das virtudes, ela foi chamada também por alguns latinos de genetrix virtutum; ou seja, ela é a mãe das virtudes. Então, se nós queremos melhorar
como seres humanos, convém meditar a respeito desta excelsa virtude cardeal que o professor Já Lauande, que foi um estudioso de Santo Tomás, que era professor da USP, chamava de a virtude da escolha certa. A prudência é uma virtude do intelecto prático; nos ajuda a agir nas circunstâncias da melhor maneira possível, sob a luz e sob o influxo da razão. As outras três virtudes cardeais são a justiça, que, segundo Santo Tomás, é o ter um; é aquela virtude que se exerce para com o outro, para com o próximo. Ninguém aprende a virtude da justiça para, na
solidão da sua casa, ficar meditando a respeito de como ser justo. Nós aprendemos a justiça para sermos efetivamente justos. Então, no plano meramente moral, diz no estatuto que a virtude da justiça é a principal, sendo uma virtude que tem por objeto o direito. E aqui não sou direito legal, né? É justo dar a cada um o que lhe é devido, de acordo com os seus méritos. Então, cada um de nós, se quer melhorar como ser humano, também deve meditar a respeito de se está ou não sendo justo nas suas relações, a começar com a justiça
que uma pessoa precisa realizar para consigo mesma. Muitas vezes somos injustos ou por excesso para conosco; é o caso dos escrúpulos, ou das pessoas que, por qualquer coisinha, acham que estão infringindo regras graves, ou, no caso dos laxistas, que fazem barbaridades e acham que não fizeram grande coisa. Tem um filme da década de 60 que é o filme cujo título eu sei que a gente não passou na cabeça o retorno do filme, mas o título é Profético: "Matou a família e foi ao cinema." Esse título diz muito bem da consciência relaxada. O sujeito faz uma
coisa gravíssima, mas a consciência não lhe pesa porque ele não atualizou muito a juventude da justiça e acaba amortecendo a sua consciência. E a consciência, diferentemente do que pensava o filósofo René Descartes, que deve ter fumado alguma marijuana do século 16, ele achava que a consciência morava numa parte do corpo, na glândula, numa espécie de glândula. A consciência é simplesmente a... Nossa ciência das coisas aplicada habitualmente alguma coisa, como se diz que eu tenho consciência de algo, é porque habitualmente aplico esta ciência àquele algo. E assim que nós vamos somando nosso bom senso, né? Mas
experiências, ADN, é tão prudência, justiça, que ilumina nossa consciência e nos faz dar a cada um o que lhe é devido e dar a nós mesmos o que devemos, né? Nós devemos amar-nos; o amor de si mesmo, amor próprio, segundo Santo Tomás, na escala dos Amores, é o primeiro, no sentido de que se a pessoa não se ama, não ama nela aquilo que ela tem, tanto no plano físico como no plano intelectual, vo volitivo. Ela vai viver aos tropeções e vai dar com seu burrico na água em várias situações da vida. Por fim, as duas
últimas virtudes cardeais, e nós vamos ver que é honestidade, é apenas um pilar de uma das virtudes cardeais. Por isso eu disse para o jovem que me interpelou que não era tão simples assim dizer que nós temos obrigação de ser honestos. E acabou, é o negócio macho; complexo, complexo, que exige de nós atualização de algumas das nossas potências anímicas. As duas últimas virtudes cardeais estão ali, que são a temperança e a fortaleza. A fortaleza, ela ninguém imagina ao pensar na fortaleza um sujeito que é o campeão do MMA, não é o fortão, não é o
cara com a barriga tanquinho e capaz de golpes mais velozes do que eu, o The Flash. O forte é aquele que é capaz de suportar as adversidades inerentes à condição humana. Viver dói, envelhecer não é fácil. A vida é cheia de contingências; sofremos reveses de todos os tipos: reveses físicos, reveses de Moraes, reveses na família, etc. Então, a fortaleza é aquela virtude cardeal que tem dois grandes movimentos: segundo, automáticos, atacar. É preciso atacar as nossas fraquezas, agredir, né? E sustinere, que é o ato próprio da fortaleza. Corrija-me aqui, o professor Sérgio Pacha, é uma responsabilidade
dar uma aula quando temos um filólogo diante de nós, né? Mas a palavra paciência implica, conceitualmente, essa capacidade de sofrer, né? O paciente seria aquele que está no exercício do sofrimento, seria uma espécie de particípio presente do verbo praticar, que é sofrer em latim. Então, o paciente é aquele que está no exercício do sofrimento. Mas o exercício, o virtuoso, no seguinte sentido: ele consegue entender o seu sofrimento como instrumento para o seu próprio aperfeiçoamento pessoal. Então, está longe de ser o paciente aquela pessoa lamurienta ou então que suporta tudo, não reclama de nada, uma espécie
de timidez que nada tem a ver com a virtude da paciência. Aquela coisa que em Teologia Moral se chama respeitos humanos: não quer desagradar a ninguém, então não reclama. Aquele sujeito que nunca faz xixi fora do penico, mas não é porque ele tem a mira de Guilherme Tell; é por fraqueza. Não é tão assim; ele diz Amém para as pessoas em geral sem grandes questionamentos, acaba sofrendo, mas não de maneira virtuosa. E, por fim, lá embaixo, que é uma maneira de dizer, está a virtude da temperança. É uma virtude cardeal que diz respeito àquilo que
nós temos mais físico: o sexo, a comida, e se a sua mais dizia a bebida. Hoje, ele podia, no cardápio da temperança, um sem-número de drogas alucinógenas, dando uma escala, uma progressão geométrica que nem poderíamos calcular, inclusive. Um dos estados que ele critica, que é um estado de torpor, que é o da ebriedade, é que hoje nós poderíamos aplicar isto não apenas ao cara que bebe meio litro de uísque por dia, né, mas assim a qualquer hábito que entorpece a mente, que traga à pessoa um torpor mental. E ao estar num torpor mental, ela para
de prestar atenção a si mesma, para de prestar atenção às pessoas que estão à sua volta. E, portanto, quando não presta atenção, vai retirando, meio que instintivamente, das costas um sem-número de responsabilidades, de mão, que é muito fácil fingir que não vê e, às vezes, cai senão na neurose, literalmente, que é uma mentira existencial, como dizia Adler. É a mentira fundante da vida prática; a pessoa conta uma mentira para si mesma, erige a sua vida prática sobre esta mentira e acaba por acreditar culpavelmente nela. Então, prudência, justiça, fortaleza e temperança; pois muito bem, a virtude
moral da honestidade, como eu disse, é um pilar, um dos pilares da virtude; a temperança é uma virtude moderadora. E essa pessoa, mais nos diz que todas as virtudes cardiais é o que ele chama de congregar. Está ali, ver tudo, na verdade. Uma virtude nunca está sozinha; ela sempre se faz acompanhar de outras. Então, um bom diretor espiritual, um bom psicólogo, quando ele observa em algum, ele pode usar, presumir, aquelas que são anexas, aquelas sem as quais a virtude principal não se atualizaria. Então, a vida espiritual é como uma catedral gótica, cujos vitrais são cheios
de detalhes, cheios de cores. E essas cores, cada qual, têm um simbolismo próprio; cada qual aponta para uma realidade inteligível. Assim, a nossa vida... nossa vida não é uma catedral do Niemeyer, né? A de Brasília, que eu costumo dizer, por exemplo, que parece um couve-flor, uma couve-flor não cozida, de cabeça para baixo. É coisa feia, né? Na sua sinuosidade repetitiva, nas obras do Niemeyer, causam certo... pede um vita, você olha para o sambódromo; foi difícil da Copa em São Paulo, não é? Para aquele à nave espacial ali em Niterói, né? São curvas que se repetem.
Mas sabe que a minha maior causa de constrangimento é que o Bispo, o arcebispo, ou alguma pessoa que pense, como dizia uma vez, me contou o professor Sérgio, achar de um crítico literário mordazíssimo que nós tivemos. Tinha uma língua, um talento... O Agripino Grieco, uma vez referindo-se a um clérigo de maus bofes, disse algo mais ou escreveu algo mais ou menos assim: "Ele pensa que a tonsura é à clarabóia do cérebro". Doçura, para quem não sabe, é aquele corte de cabelo que os monges fazem, né? Cada tonsura tem a sua representatividade espiritual, né? A postura
do americana, que é uma ordem ativa e contemplativa, que foi a ordem dos pregadores, foi a ordem excepcional; é uma postura mais grossa que a Franciscana, etc. Então, o que me causa espécie é saber que um bispo chama um ateu para fazer uma catedral. Isso é a perda do bom senso. É como se eu, que operei o coração, quando fui operar o coração, o cirurgião competente, assim como o açougueiro, que não saberia nem manusear um bisturi. Então, a vida prática nossa, para que ela seja boa e proficiente, requer que nós, pelo menos, atualizemos algumas virtudes,
se não as principais, aquelas que são auxiliares. Pois muito bem, está ficando mais... Diz que toda virtude cardeal tem três partes, que são as partes integrais. Eu pus ali no quadro, são literalmente as partes que integram aquela virtude. São as condições requeridas necessariamente para aquela virtude. Então, como se diz que uma virtude é integrante, é como se fosse a parede de uma casa, que serve para, entre outras coisas, sustentar o teto. As partes subjetivas... E aqui, subtom, o latim às vezes é difícil traduzir, né, professor? O sujeito, apenas é, no sentido moderno, o que subjaz,
literalmente, o que está sob as virtudes anexas. As partes subjetivas de uma virtude cardeal são espécies que estão para aquela principal, ao modo como que irem heridas. Um sujeito não é... Nesse sentido que são subjetivas, que hoje, quando se fala em subjetivo, pensa-se logo na opinião de qualquer alguém, né? Solta um "pum" pela boca e acha que Aristóteles... Não, é isso; é o sujeito de uma virtude. E, por fim, as partes potenciais, que tratam de matérias secundárias daquela virtude. Porém, atualizam-se na alma da pessoa que busca, é saber tudo de maneira análoga à virtude principal.
Dito isto, vamos ver aqui no caso da temperança onde fica a honestidade. Eu trouxe aqui, pa, um excerto, um trecho da Suma Teológica, da questão 145 da segunda parte da Suma Teológica. A maioria que sabe, mas não sei se todos sabem, a Suma Teológica é a obra máxima de Santo Tomás. O que é difícil dizer, né? São tantas obras de uma perfeição extraordinária que dizer que uma é principal não é dizer pouco. Ela tem quatro partes: a prima, que parece que trata de Deus em si mesmo, considerado como Uno, e trata ali a prova da
existência de Deus, os atributos divinos, etc. A primeira parte da segunda parte tem ali várias questões relativas aos atos propriamente humanos, etc. A segunda parte, onde estão os tratados sobre as virtudes e os vícios e até sobre a paz. A terceira parte trata do retorno de tudo ao ADN do caso católico, tão sacramentos, por meio dos quais nós vamos, como que conformando a nossa alma à alma de Cristo. Então, Suma Teológica, esta super hiper catedral, na segunda parte, tem lá uma questão, que é a 145. Eu golerei aqui um trechinho dela, só que trata da
virtude da honestidade. E ao final desta breve aula, que eu espero que fique mais ou menos demonstrado, que a honestidade ela é sim virtude e é também um dever moral. Nós temos o dever moral de sermos honestos. Então, o rapaz que me interpelou, ele diz, metade da verdade, de fato, é uma obrigação moral sermos mais ou menos limpos da nossa alma, considerando as nossas fraquezas, né? Não pensamos... Isso é muito comum, sobretudo entre os jovens que estão começando a vida espiritual, né? E fazem o ideal skin, as fraquezas humanas e acabam por descambar em situações
espirituais dramáticas. A vida espiritual é cheia de pequenos precipícios e grandes altitudes. É um dos grandes místicos do Ocidente, que foi São João da Cruz, em sua subida do Monte Carmelo, que ele inclusive desenhou. Para quem não sabe, Salvador Dalí tem uma pintura que é do Cristo visto pelo Pai, uma perspectiva como se estivesse no céu, porém visto de cima. Aquilo, o que o inspirou, foi o desenho do próprio São João da Cruz, que retrata Cristo na Cruz contemplado pelo Pai. E São João da Cruz, que tido também como patrono da poesia moderna espanhola, é
um gigante sobre todos os aspectos: éticos, estéticos, na psicologia da santidade, etc. Ele nos mostra que o nosso caminhar nesta vida tem tropeços, muitos tropeços, e devemos, com o exercício de limpeza da alma, diminuir o número desses tropeços. A palavra pecado também não deixa de aludir a um tropeço existencial. Ela tem a carga moral e espiritual forte, mas tem uma carga também tática, pessoal. Quando peca, na verdade, está tropeçando. Então a temperança, as partes integrais da temperança segundo a Tomás, são, em primeiro lugar, a vergonha. Olha, vejam que coisa! Nós vivemos um sem-vergonha; as pessoas
cada vez mais exibem a sua falta de vergonha como troféus no Olimpo. Elas não têm vergonha. Isso aqui, Tomás, quando fala da vergonha como uma das partes que integram a virtude da temperança, Ele está aqui com a seguinte realidade humana no seu horizonte. Não é o pudor e a vergonha perante algo ruim que se fez, algo torpe. Essa vergonha pode ser meramente interna ou pode manifestar-se exteriormente, inclusive no plano físico, por exemplo, com o rubor. A pessoa se ruboriza. O escritor Nelson Rodrigues dizia, com aquele seu estilo impagável, né?, que não só acredita em quem
ainda é capaz de se ruborizar. É, talvez ele não alcançasse a altitude do que estava dizendo, mas realmente nada pior do que a pessoa... Que vai perdendo todas as balizas morais e perde a vergonha, que ela cai nos cachos; e vale dizer o seguinte: uma frasezinha que eu costumo repetir, que é de Santo Tomás e tem um espírito próprio de Santo Tomás, que é o seguinte: a hipocrisia, embora seja o mal na alma, ela ainda assim é uma reverência tortuosa que o hipócrita faz. O que é que parecer bom? O escrachado já não quer parecer
bom, ele já não tá nem aí. O hipócrita, para Santo Tomás, embora esteja numa situação existencial dramática, ainda tem uma baliza de bondade; ele quer parecer bom, pelo menos quando uma sociedade inteira já não quer nem parecer boa. Isso significa que a sua vaquinha civilizatória está no brejo das almas, com as patinhas atoladas, com selinhos balouçantes, mugindo furiosamente. E quem vai tirá-la dali? Essa questão é muito contemporânea. Vergonha, então, é virtude para São Tomás. É virtuoso você, depois de ter feito algo ruim, se envergonhar, tá? E essa vergonha muitas vezes tempera os apetites, já que
auxiliar da temperança. E a temperança é uma virtude modeladora de apetite bom. Então, a vergonha tempera, às vezes, o apetite. O que é que a pessoa faz? Nós, às vezes, somos os premidos por urgências, apetites vivas. Todos nós aqui, quem disser que nunca foi, presente e futuro, será o maior dos mentirosos. A vida humana é uma tensão entre o físico, o moral, o psicológico, o espiritual; dão muitas vezes o apetite, o sangue ferver literalmente, e parece uma urgência. E nós tendemos a confundir o apetite com a vontade. O apetite sensível, para essas, o mais, trata-se
de coisas distintas. Uma coisa eu posso dizer: sim, eu tô com vontade de comer uma feijoada, mas diria um tomista que esse termo 'vontade' está usado aí com analogia de atribuição, porque o apetite físico não é vontade. A vontade é um apetite intelectivo e não físico. Então, o médico me receitou fazer uma dieta, porque eu sou um cardíaco. Às vezes a mim me apetece comer uma carne cheia de gordura e como. Inclusive, eu socorro aos apetites. Mas eu só posso dizer que eu tinha vontade de comer numa analogia. E arrumar uma questão... é uma questão
interessantíssima, parei, súmula, né? Mas também é uma súmula das questões. O que importa é que muitas vezes, nós, derrotados pelos apetites, vamos mal conformando a vontade, até que chegamos à situação existencial que Aristóteles, na sua Ética a Nicômaco, um livro que um bom governo poderia distribuir, pelo menos para aqueles mais rapidamente intelectualizados, ele diz que a pessoa, quando chega no estadinho temperança, significa que ela já é uma paciente crônica no vício. Já não é mais o incontinente. O incontinente é aquele cara que veio o apetite, ele não sucumbiu, ele sucumbiu e lhe deu vazão. O
apetite já, o intemperante, tantas vezes que ele sucumbe, aquilo se torna hábito, e é mais difícil moralmente curar um hábito vicioso do que atos viciosos isolados. Então, pensamos, já que estamos aqui no âmbito das virtudes, para sermos honestos, devemos ter vergonha na cara. A ter vergonha na cara, essa aí, fazendo qualquer merda por aí, desculpando-nos, saímos por aí nos desculpando perante a nossa própria consciência ou caindo numa espiral de autojustificativa perante os outros. Isso é natural, isso acontece, né? Isso não é honesto. A segunda virtude auxiliar integral da virtude da temperança é justamente a honestidade.
E eu consultei, eu nem sabia que meu querido Sérgio Pacha estaria aqui; eu consultei o José Pedro, que é o Machado, que é um filólogo português, um grande piloto, talvez um dos maiores, né? Tenho o professor passado, dizendo que é o maior etimólogo da língua portuguesa, tomou atitude o uso do étimo das palavras. Esse português, José Pedro Machado, e ele nos aponta para algo que, neste caso, coincide com o que dizia o grande Santo Isidoro de Sevilha, nas suas etimologias. Por que que eu digo, neste caso? Que sabemos algumas, nós que Santo Isidoro, vocês viram,
é um grande santo da igreja; nas suas etimologias, às vezes ele, digamos assim, deixava a ciência do étimo de lado e fazia uma etimologia muito bonita, mas algumas etimologias, de fato, realmente não correspondem à história da palavra. Neste caso, sim, o José Pedro, eu ia falar de outra maneira, mas não bebi vinho, não estou no bar, eu estou no estado de sobriedade suficiente para manter a minha continência. O que é? Pedro diz que honestidade vem de 'honesto', né? Que, por sua vez, provém de 'honore' (honra). Agora eu vos pergunto: o que é digno de honra
segundo... Satisfaz, mais? Nós vamos ver aqui que é digno de honra a pessoa que tenta limpar-se interiormente para dar aos seus atos externos a maior congruência com relação aos atos internos. Isso é que significa verdadeiro com o sentimento. Quantas vezes aqui cada um de nós diz sim para uma pessoa, para uma situação, mas este sim não está viciado, porque não representa a anuência da vontade? Aquilo aqui se diz sim. Então, a lei civil só julga pelo ato externo, mas a lei moral nos julga também por aquilo que nasce no coração. Por isso que ocorre o
direito canônico; ele tem uma beleza extraordinária, porque aí ele não se interessa apenas em julgar o ato externo, e sim a sua nascente, e sim a sua... lá, e sente como nós vemos um rio limpo, nós presumimos que a fonte de onde ele partiu é limpa. Quando nós vemos um jabuti numa árvore, presumimos que alguém colocou o jabuti na árvore. Então é bom, às vezes, não mexerem jabutis em árvores, a não ser quando alguém colocou, né? Foi alguém muito mal-intencionado, aquele a quem chamam os demônios; às vezes põe jabutis nas nossas árvores existenciais e nós
nos enganamos. É o paternidade... é o... Pai da mentira, então, a honestidade. Eu vou falar dela mais atentamente, mas fica sentado, que ela é só um pilar dessa grande catedral da virtude da temperança. As partes subjetivas desta virtude são as seguintes: segundo Axonais, abstinência. No que diz respeito à comida, então, nós temos, por exemplo, nós, católicos, o jejum. Dias específicos para o jejum. Tudo bem que hoje o jejum foi contabilizado, tiraram do jejum parte dos seus rigores. É uma coisa dramática. Quem já fez jejum, por exemplo, um jejum por semana, percebeu ou há de ter
percebido que aquilo faz bem até para o corpo, que limpa o corpo. É óbvio que o jejum tem um sentido espiritual, que não é limpar o corpo, ele limpa a mente. Cristo nos diz que certos demônios só são combatidos com jejum e oração; ou seja, o jejum é um auxiliar da virtude da castidade, que é uma moderação do apetite sexual. A castidade nós vamos ver aqui na frente também integra a virtude da temperança. Então, e essa é uma das partes subjetivas. Repito, subjetivo aqui é que está com relação àquela principal, a energia como um sujeito,
a principal, e o sujeito, essa aqui é auxiliar. De alguma maneira, é uma atualização daquilo que a principal atualiza: a sobriedade. E aqui, sobriedade no sentido físico. Porém, se a pessoa não se contenta em abordar o seu físico, é óbvio que se a pessoa, fisicamente, não é sóbria, hum, se ela cheira muita cocaína ou pouco, né? Ela fuma muita maconha, ou se ela bebe muito, ela está em estado de ebriedade. Ela tende a amortecer a sua consciência muitas vezes com relação a coisas graves da sua vida. E quem está em estado de ebriedade, em geral,
acaba por agir de maneira ou atual ou habitual, e acaba por agir mal. Acaba por agir mal, tá? Sobriedade primeiro no corpo, tão nisto atrás. Disciplina. Como é bom ter disciplina corpórea! Fazer um... é uma caminhada, um exercício, fazer um... Então, eu vou ter uma disciplina. Posso? Eu quero estudar Santo Tomás. Tem que ter disciplina. Por onde... o comércio? Que livros eu tenho que ler? Ninguém consegue fazer algo difícil se não se exige um mínimo de disciplina. A própria vida espiritual requer disciplina. Por exemplo, como é bom acordar cedo e ler uma meditação de um
santo, fazer uma oração pela manhã. Os monges, por exemplo, rezam a liturgia das horas, as horas canônicas; eles santificam pedaços do dia. É óbvio que aqui, até onde eu sei, não há nenhuma freira nem um monge, mas, de alguma maneira, as freiras e os monges são modelos de espiritualidade para nós, neste sentido, a começar por isto: pela disciplina na oração. Agora, se a pessoa tá doidona... Então, se a pessoa, né? Por exemplo, eu tinha um vizinho que tinha um mau gosto metafísico impressionante, né? Musical. Era uma coisa de uma irritação, e ele me fazia exercitar
a virtude da paciência, que é o sofrer, porque ele ouvia coisas que eu só posso chamar de música, por uma benevolência hermenêutica, que às vezes ver a flor, porque era um batidão infernal, né? Desprovido de dois elementos da música: estão a harmonia e a melodia; é só ritmo, mas num ritmo frenético. Era uma música que certamente faria sucesso na quinta cova do inferno de Dante, e ele botava aquela merda todo dia. Eu ficava muito irritado, ficava muito agitado. Só que eu não tinha... e, para mal dos meus pecados, né? Era jovem e forte, e eu
não ia a tremer, né? A desafiá-lo para uma pancadaria, porque ele reduziria a quintessência do nada com um peteleco. Mas ele me fazia ouvir aquela coisa horrível. Pensem! Eu pensava que estava infeliz, né? Porque há uma estupidez estética. Tem uma coisa que eu chamo de estupidez estética, que é a pedra das pré-condições psicológicas para a apreciação da beleza. Aquele sujeito ali, ele pode ouvir uma sinfonia, uma polifonia de Tomás de Vitória; certamente, se ele ouvir, vai ter o tédio. Agora, qualquer parte do Kung Abole Cué capaz de levá-lo a extases beatíficos. O problema, e eu
digo só que sem nenhum livre preconceito, que eu sou sambista, eu sempre apreciei os bons sambas. O chorinho, é... não sou alguém que renega a cultura popular. O problema é que estas coisas que hoje se ouvem por aí, muitas delas são... que o filósofo Adorno, lá na década de 50, não é santo da minha devoção, posso citar à vontade, mas ele dizia: a cultura de massas está prestes a morrer. Na década de 50, vira a indústria cultural, que é o seguinte: alguns engenheiros sociais vão inventar coisas e as pessoas vão repetir. Pronto! E bolsa aumente!
Aqui no Brasil, alguns programas televisivos começavam lá na década de 70 pelo famoso Jabá. Hoje em dia, para tocar na rádio, tem um empresário que é aquele esquema, não é mais uma cultura popular; agora é o... O Paulinho da Viola, que tem um samba que dizia que tinha... eu catorze anos de idade quando o meu pai me chamou e perguntou-me se eu queria estudar filosofia, medicina ou engenharia. Tinha eu que ser doutor! O mural era cultura popular! É... Isto foi-se perdendo. Algumas dessas músicas atuais, eu me escuso de dizer o nome dos artistas, né? Para
não ferir susceptibilidades. Alguém pode estar vendo aí. Eu também não tenho mais paciência para responder a maus bofes internéticos. Mas, assim, sem sobriedade, não há honestidade. É só vai ser distraído que é importante. Castidade? Tá bom! Eu sempre lembro da minha participação no programa do Lobão sobre a castidade, programa da MTV. Eu fui convocado para falar sobre castidade, celibato, convidado, né? Não tinha nenhum padre que estava... a produção do programa na chave, um padre para... é verdade! É verdade, até que encontraram este que vos fala, que tem um artigo... Próprio à mulher, para Freud, para
a igreja, e foi parar lá daquele programa: "me aconselhe, compadre, antes, né?" Será que o programa não tem três pessoas de um lado falando ao mesmo tempo e mais três do outro lado? Eu respondi para o pessoal da produção: "ela não dá, porque isso exige tantas explicações prévias que eu precisava falar." Aí, ele disse: "pode mandar um e-mail." Eu fiz hoje, e sempre celibato e castidade. Para começar, nem toda a castidade é celibatária, nem todo celibato é castro. O celibato é a abstinência de sexo. No caso de um consagrado, ele será virtuoso se fizer jus
à consagração, aquela jura de amor a Deus que fez quando fez os votos perpétuos. Infelizmente, na história da Igreja, vemos que nem muitos, às vezes dentro das ordens, fazem jus a essa promessa solene feita a Deus. Se uma promessa feita para um amigo já é algo solene, imaginemos uma promessa ao modo de juramento feita a Deus. Então, a castidade é, digamos assim, uma moderação do apetite sexual por amor a Deus. Não é por proficiência do castro na casa daquele cara que não se dá bem com ninguém, né? Tem muita vontade de sair, mas não consegue.
É aquele cara que se modera por amor a Deus, os seus apetites sexuais, tendo em vista que nem todo prazer é lícito. Isto, para a contemporaneidade, é difícil de perceber. Nós somos uma sociedade hedonista; somos filhos, netos e tataranetos de vários hedonismos, de vários imanentistas. Só quando é uma coisa aberrante nós concebemos que talvez consigamos que o prazer não seja lícito. Por exemplo, o prazer que um estuprador de uma criança menor de idade sente, né? Esse é evidentemente imoral, mas não é imoral porque está na lei, que é a moral que agride a natureza das
coisas. A moral é a percepção inteligente da realidade. A pessoa, com seu intelecto, adquire critérios para a ação. Ora, se o estupro de um maior já é um ato impróprio na medida em que o receptáculo, a pessoa que é receptáculo do estupro, não está preparada, nunca ninguém pode dizer que está preparada, por um tanto quanto mais se poderá dizer isso de um menor de idade. Então, nós conseguimos conceber que certos prazeres são lícitos apenas em casos extremos, mas, em geral, não fazemos. A castidade, neste sentido, é uma virtude elevadíssima. Primeira tela, função noética, né? Nouces,
pensamento em grego. Se a pessoa dá vazão a todos os seus apetites sexuais habitualmente, ela vai entender que chega numa situação mental que são formas que chamava de "catita". A seguir, atentamente, e dizia aquela personagem da Escolinha do Professor Raimundo: "só pensa naquilo." A paixão, nesse sentido, é um movimento do apetite sensitivo pela imaginação de um bem ou de um mal. A pessoa, quando está apaixonada no plano metafísico, significa que é refém de uma imagem da vida espiritual. O que o demônio faz é contaminar a nossa imaginação, povoando-a de mil possibilidades. Santa Teresa D'Ávila tem
razão quando diz que, muitas vezes, a imaginação é a lucidez da casa do menos. Cuidado para não dar exagerada vazão a nossa imaginação! Uma imaginação saudável é necessária a uma vida feliz. Agora, se nós contaminamos a nossa psique com imagens demasiado torpes, demasiadamente fora do senso comum, nós vamos nos desregular. Alguns traumas, inclusive, provêm de imagens contempladas na infância, que às vezes nos acompanham dolorosamente durante toda a trajetória de vida. Então, a castidade nos protege a imaginação e predispõe o intelecto à contemplação das verdades superiores. Para isso, Deus nos fez: para contemplar a verdade e
para ter um ócio contemplativo. A palavra ócio, como corrigir meu professor Sérgio para "chato", é em grego uma palavrinha que define o ócio, que é "escolher". "Escolha" em latim é "escola". Originalmente, era o lugar para alguém exercitar o ócio no estudo. Diferentemente, se a criança tinha aptidões físicas, não ia para escola tão cedo; ela ia queimar as suas energias em outro lugar. Vejamos só como é meio contraditório. É meio contraditório uma formação para a profissão, porque não, com o tempo, esse ócio, esse ócio virtuoso que está implicado em todo estudo genuíno, digno deste nome, a
pessoa deve dedicar horas de ócio. Nesse sentido, o estudo: ela tem que fazer uma escola mental. E hoje, mais do que nunca, as escolas reais às vezes são um convite à desistência, né? A gente entra numa escola, que se jogar do sétimo andar depois do terceiro semestre, se for faculdade de Filosofia, então a coisa se agrava, né? A filosofia não é, digamos assim, o exercício da debilidade das suas capacidades intelectuais. A filosofia, esse amor à sabedoria, pressupõe tudo isso de que estamos falando aqui: vamos conhecer as realidades humanas, vamos conhecer a matéria, vamos conhecer o
que transcende a matéria. Ócio contemplativo sem sobriedade não acontece. Sem castidade, não acontece. Platão, só para fechar o parênteses da castidade como auxiliar da temperança. No seu livro, "Diálogo Outonal: As Leis", a certa altura do livro VIII, ele nos diz que, para uma pólis ser saudável, é preciso que haja leis que digam respeito também aos prazeres físicos individuais. Isso é inconcebível para nossa mentalidade. Pela cabeça de Platão, por exemplo, a sociedade de tarados não terá bons legisladores. É uma sociedade de pessoas que estão todas vestidas para o sensível, que não vai fazer a transição que
é sumamente humana: do sensível ao inteligível, e o papel do legislador é o principal. Pode-se perguntar sobre nossos legisladores atuais, das disfunções, às vezes, por masoquismo, né? Eu acho que eu dei. Eu preciso sofrer mais, né? Eu assisto alguns eventos no nosso Senado Federal, né? A cada coisa que a gente ouve, é impressionante. Essa semana, tem uma senhora abençoada que disse que, a cada mulher que morre, duas são gays, são negras. A cada uma que mora em duas, são negras. Olha o nível dos nossos parlamentares e a profissão deles! O ofício, deliberadamente, é para lá,
né? É falar. É, né? Mas, assim, eles falam e não dizem. Eu não me lembro de uma composição legislativa tão dramática como acho que nós temos visto nas últimas legislaturas. É um negócio de fazer corar o capeta, né? Então, outra virtude, outra parte subjetiva da virtude da temperança, pudor. Pois muito bem, falei da vergonha ainda pouco; são coisas distintas. A vergonha é um esgar de repugnância com relação a algo que se fez, o pudor é anterior àquilo que se pretende fazer. Muitas vezes, o apetite nos induz a fazer algo; por pudor, nós botamos um freio.
Aristóteles dizia que o pudor é um pudor natural, é uma defesa psíquica da alma. E se a pessoa quer ser temperada, a descer o dica neste sentido psicológico não é falsa pudicícia que nós vemos no falso moralista, do fariseu, do império escrupuloso. É uma defesa psicológica. Até alguns animais parecem ter algo desse pudor; o gatinho faz o cocozinho dele lá na terra, né? Alguns animais, até por defesa física mesmo, quando vão fazer as necessidades, se escondem. Quanto mais nós devemos contemplar certas realidades como passíveis de serem feitas somente no esconderijo da nossa alma. Tá, é
coisa boa, sem as mais. Então, e repito o que eu disse: mal a hipocrisia do que os cachos. Por fim, as partes potenciais da temperança. Vejam que maravilha: continência! O que bacana é conter-se. O que bacana é, às vezes, no momento dramático, botar freio a uma reação que já vinha aflorando, porque a pessoa consegue conceber, contemplar o seguinte: "se eu fizer isso, o resultado não vai ser bom". Tá, continência; ela pode se dar tanto no plano físico, para se tatuar mais, mas aqui, sobretudo, no plano mental, como um freio mental, que já pressupõe aquelas partes
subjetivas da temperança, como, por exemplo, o próprio pudor. O pudor seria a embreagem, a continência o freio. Estão ali, atuando juntos. Humildade, outra parte potencial da virtude da temperança. Eu trouxe aqui alguns de vocês que estavam lá na Liga Cristo Rei. O meu querido amigo Marquinhos, Te Avalia, deu uma palestra, e aqui eu tô com ele, cor dela lá para a Universidade de Barcelona. É uma coleção; o Robert está ali atrás e conhece a formação do caráter pelas virtudes. E essa coleção parte do seguinte pressuposto: a palavra "ethos", em grego, tem duas grafias: numa delas,
traduzem o nosso conceito de costume; noutra, que é a que Aristóteles usa na Ética a Nicômaco, significa formação do caráter pelas virtudes. Então, a ética, e como essa obra magna de Aristóteles, ela nos ensina o pico a correr uma vida moralmente virtuosa. E aqui, sobre a humildade, 18 Avalia, referindo-se à sua autoimagem, trata-se de uma virtude cuja matéria é a própria excelência da pessoa. Só quem tem algo grande para apresentar pode dizer se efetivamente é humilde. A humildade pressupõe a grandeza; é a própria grandeza, e ela mesma, como o primeiro degrau da sabedoria, já aponta
para essa grandeza. Esse é o reto apetite da própria excelência. Essa definição é de Santo Tomás: humildade é o reto apetite da própria excelência. Todos nós queremos ser excelentes nas nossas coisas, nela, no nosso trabalho, na nossa vida. O apetite desordenado da própria excelência é um vício grave, o pecado capital chamado soberba, é amar-se desordenadamente. A humildade é amar-se ordenadamente, de acordo com as possibilidades que a pessoa tem em si mesma. Então, está no húmus, perto do húmus da terra. Esse reto apetite da própria excelência implica o conhecimento objetivo de si mesmo, autoconhecimento. Por exemplo,
se a pessoa não está em estado de sobriedade, que é uma parte integral de uma das partes da temperança, como é que ela vai ser humilde? Muito dificilmente ela vai ser autoconhecer-se. Então, a humildade pressupõe o autoconhecimento, e quanto maior o autoconhecimento, maior será a humildade. Se grande forem os méritos, Cristo disse mesmo, e ele se apresenta como modelo: "É manso e humilde de coração". Nos cursos de Psicologia, tô aqui com ali na rocha, que coordena os cursos de Psicologia tomista, a gente sempre leva, quando fala da mansidão, como digamos, a ser aquilo que nos
ajuda a ter o discernimento da realidade. Nós recorremos a uma etimologia que se a pessoa mais aceita como certa, que é de Santo Isidoro de Sevilha, que é manso, é tudo, né? Uma suetode, né? Que deveria do latim "case mano", as oitos, como que domesticado pela mão. O manso é aquele que dominou as suas próprias emoções, tem autodomínio. Agora, se a pessoa não se conhece bem, como é que ela vai ter autodomínio? Então, a humildade e a mansidão são virtudes coirmãs, digamos assim. A pessoa que é indomesticável, que vive, né, no afã de dar vazão
à geração 3 low, ela dificilmente vai ser honesta, já que a oleosidade aqui de que tratamos é um dos pilares da virtude da temperança. E terminam este a vale aqui, então, esse reto apetite da própria excelência implica o autoconhecimento e a própria posição, conhecimento da posição subalterna na escala dos dentes. O ser humano tem a sua dignidade, né, numa perspectiva heideggeriana, por exemplo, aí dele; ele não contemplava as essências, tá? Rússia, eu não contemplava. Ele não contemplava, você não contemplava, e sim só essências. Se a pessoa mais, com o tempo, a gradação de ser na
realidade, a sua metafísica é metafísica da participação em graus intensivos. Descer para a tua mais, eu posso dizer: eu sou mais do que uma barata, porque o atualizo na ordem do sempre. Possibilidade e céu, se se, mas se comparadas com as possibilidades de uma barata, então tenhamos isso no nosso horizonte. Temos uma dignidade grande, mas acima de nós, a Deus; acima de nós, a outras pessoas sempre melhores. É bom comparar TAM e, acima de nós, para um católico, as criaturas espirituais que são os anjos, que têm uma perfeição odontológica muito superior à nossa. A pessoa
humilde se coloca em... e ela tem um senso de realidade. Eu fiz aqui, editar no Brasil, um livro de São Bernardo de Claraval pela coleção Escolástica de grave e bolso militar, ter super dos graus da humildade da soberba. Ele comenta uma passagem da regra de São Bento e mostra que a humildade e a soberba são, como que, dois vetores da escada mística de Jacó. Naquela escada bíblica, né? Com a humildade, nós subimos a escada; com a soberba, nós descemos. É tão continência. Humildade, mansidão, já falei aqui. Dá uma... se dão clemência, que é uma moderação
no apetite de Justiça. Crueldade, por exemplo, é o dar vazão ao apetite de Justiça. Portugal teve um rei que ficou muito conhecido como Pedro, o Cruel. Cruel vem do latim "crudos", que é o cruel. O Pedro, o Cruel, foi aquele que matou ou mandou matar os assassinos de Inês, aquela que foi morta a mando do seu pai. Agora, é tarde. Inês é morta; o Pedro, o Cruel... A crueldade é esse apetite desordenado de Justiça. A clemência, por sua vez, é a moderação deste apetite. Então, a clemência faz parte da temperança, como parte, como algo potencial.
Quem não é clemente tende a ser destemperado. Outra coisa são mais duas; apenas estou mais a enumerar como partes desta virtude cardinal que é a moderação, né? A moderação pode ser entendida em vários vetores, mas aqui, como o que está em jogo é a prudência, e a prudência pertence à razão. Essa é a reta razão no agir. Então, o moderado é aquele que pensa antes de tudo; é aquele que pensa antes de falar, mede as palavras não por interesse, mas consciente de que uma palavra mal dita pode ser a própria maldição para uma pessoa. Mas
podemos salvar uma pessoa da desgraça moral; uma palavra é dever de caridade nosso. Essa moderação é para com as pessoas com quem lidamos no nosso dia a dia. Hoje, uma coisa que é bastante comum na sociedade do Instagram, do Facebook, a sociedade que convida as pessoas a viverem de espelhos. Eu disse aqui na aula do mês passado que uma amiga minha chegou em Miami outro dia e tinha lá um painel enorme, maior do que o CDB, seja na saída, né, para pegar as malas do avião, seja o que seu. E aí eu vejo que seu
Instagram quer, é um convite a pessoa folgar, sendo raso, não tem interioridade nenhuma. Como é que ela vai ter algo que seja vetor de aperfeiçoamento se ela está preocupada com a imagem, da imagem, da imagem? As falsas imagens. Ela fez um ídolo falso de si mesma e erigiu um altar medíocre para esse ídolo. É aquilo que alguns latino chamavam de áurea medíocre, né? Você... essa aura de mediocridade que nós vemos ser quase que, digamos assim, compulsivamente imposta nos dias de hoje. Nós somos a sociedade que é o da excelência. Nós gostamos da mediocridade, da meia
opinião, da meia tinta. Estamos habituados a isto, estamos desafeiçoados a ouvir as coisas de maneira frontal. O Brasil é pródigo em formar personalidades de geleia, é pessoas que, qualquer coisa, não são suscetíveis. No grau extremo, eu sou casado com uma portuguesa e os portugueses são a maior barata, porque eles não têm isso, né? Eles falam na sua cara; e, às vezes, é o menor constrangimento, né? E é muito mais fácil lidar com alguém sem ter que usar, a todo momento, uma... uma dica que esteja a comprar o ferir "coitadinho". Nós somos a sociedade dos profissionais
do alto, da alta ofensa. E diz qualquer coisa; a pessoa se ofende num padrão, às vezes, que eu julgo quase diabólico. Tá? É muito ruim porque, como já disseram alguns, pior do que a coragem, vocês têm medo dos corajosos. São os covardes que se reúnem e são gregários. A mais a grei dos covardes é uma grei do acumpliciamento na maldade, do acumpliciamento na murmuração. As pessoas tornam-se cúmplices por meio daquilo que há de pior. Mas não estamos vendo isso aí com essa doença atual que prostrou o mundo. O mundo está apaixonado pela possibilidade de morrer
e esqueceu da certeza de morrer. A melhor fase aqui perto, as freirinhas do convento, as carmelitas, daquelas... têm um momento do exercício espiritual que elas contemplam, às vezes, uma caveirinha de uma irmã do antigo abadesse, né, que salva uma delas. Bem feio, menos isso aí. Não contemplamos a... a transferência, e as pelas exceções, né? A contemplação da morte dá um sentido superior à vida, mas não uma contemplação medrosa, e sim uma contemplação da morte como a realidade inexorável. Todos nós, como diz Machado de Assis, no Brás Cubas, a certa altura, e não conto também, seremos
pontuais na sepultura. Seremos pontuais na sepultura. Não tem... Quando nós morremos, já começamos a apodrecer. Mal morremos. O grande escritor Pedro Nava, como memorialista, ele era legista, médico legista, que tem uns livros muito interessantes. O Galo das Trevas não é um deles. Ele conta a experiência de legista; ele diz: o alimento... as pessoas estão habituadas a ver e a sentirem os maus odores de um cadáver depois de um tempo, mas para um legista já, desde logo, vem a consciência de que a pessoa morre, já tá podre, né? Fala um legista. Abre as tripas. Um recém-morto
já vem aquele odor nauseabundo. Então, assim, nós tivemos a morte na TV, nos filmes da Netflix, mas a morte não é uma realidade contemplada na sociedade do medo. E o medo aqui também pode ser entendido como a aquisição das virtudes. Rimor, és de futuro, Malu de santo, mas o medo é de um mau futuro. Porém, esse mal que é futuro, eu presumo que é difícil de combater. Ninguém tem medo de algo que é muito fácil de reputar, de refogar. Agora, um medo, o fado, o medo da morte, tão vendo natural. E medo natural, nós temos
amor natural à vida. Agora, o medo continuado de uma morte hipotética é patológico. É patológico! É uma coisa. Eu tenho medo objetivo: eu não vou entrar na jaula do leão. Eu não sou o treinador dele. Eu não sou eu quem alimenta o leão. Eu já passei perto da indesejada da gente, que é a morte, algumas vezes. Peguei o coração, essa foi a pior, mas em outras ocasiões também. Então, nós temos o apetite natural pela vida. Porém, quando o medo contamina nossa vida de maneira tal que nós viramos monomaníacos, que só pensamos em uma coisa, só
que é o medo da morte, eu abro que estamos doentes, né? E, como diz São Paulo em suas epístolas, “o amor lança fora o medo”. Onde o medo, graça a pouco amor; onde o amor prevalece, há pouco medo. A pessoa que vê o filho dela se afogando, ela, por amor, tem coragem. Só o amor tem coragem. Só o amor fortalece a nossa vontade. Como se diz que alguém tem força de vontade? A vontade, uma petite, entender que teve do bem é porque ama. E o amor é esse êxodo da alma do amante, da direção da
pessoa amada ou da coisa amada. Então, com a sociedade de medrosos, ou vamos dizer em português claro, de covardes existenciais, será uma sociedade de pessoas que estão carcomidas por um outro vício capital, que é o vício (pecado capital) da ascídia, mal traduzido por preguiça. A ascídia é o ódio à própria excelência, o ódio à excelência. “Eu sei, não quero saber.” E, por conseguinte, tenho raiva de quem sabe, né? Ter raiva de quem sabe e não querer saber é consequência. Então, o homem carcomido pela abertura, pelo vício da ascídia, não é aquele que odeia a coragem.
Ele odeia o que é corajoso, mas ele odeia o corajoso dele, praticamente, porque o olhar dele é a coragem. Ele não suporta ver a coragem, a coragem que ele está chamado a realizar na sua vida. Portanto, um pagão pode ter muito mais consciência disso do que muitos cristãos contemporâneos. A coragem é uma das três virtudes sem as quais não há pólis: sabedoria, moderação e coragem. Então, temos a coragem! Porque, sem coragem, que não é temeridade, né? Colocar-se em risco a troco de nada, mas sem um mínimo de coragem, a pessoa não reza o terço direito.
Então, ficou assentado aqui que a virtude, a obediência, a honestidade são melhores. Então, é uma virtude que é parte de uma outra que é muito maior, que é a temperança. E aqui eu vou ler um trechinho da questão 145 da segunda parte da "Suma Teológica", uma edição da década de 40 a 50 do século passado, que foi coordenada pelo grande tomista Santiago Ramires, numa época em que os neotomistas já escreviam. Já estavam nos países de língua vernácula e nativos e os grandes tratados em latim. Uma coisa é saber latim, outra coisa é escrever um tratado
de metafísica em latim, sendo o latim já uma língua, entre aspas, morta. Então, Santiago Ramires reuniu, na década de 40 e 50 do século passado, grandes monges, grandes frades dominicanos, e eles trouxeram à luz, pela biblioteca de autores cristãos, a sua "Suma Teológica", que nesta edição aqui é uma maravilha, porque a cada questão há um quadro sinótico. As apresentações são magníficas, são às vezes até melhores do que as traduções. E aqui diz o apresentador, né? Baseando-nos na etimologia de Santo Isidro, entendemos que efetivamente a honestidade, como estado, é o estado de honra, dignidade e decoro,
como o ato honesto é o mesmo que digno e honroso, conforme a razão e a regra da lei. Nós sabemos que os atos propriamente humanos, pois recostar-se não é um ato propriamente humano. Macacos, os gatos se coçam. Os atos propriamente humanos são aqueles levados a cabo pela inteligência e pela vontade. Então, são atos que transcendem o âmbito sensitivo. Os atos propriamente humanos que nos distinguem de todos os animais na escala zoológica são, sobretudo, dois: conhecer a verdade e amar o bem de maneira reta, de acordo com as luzes que a inteligência e a vontade oferecem.
O amor é a instância inexpugnável da liberdade. Ninguém pode ser coagido a amar ou desamar. Ninguém bota um revólver na cabeça do outro e diz: “Aí, teu filho, se a pessoa não ama o próprio filho, não será coagida.” Ela pode mudar, pode virar a marca alguma contingência até sobrenatural, mas não por coação. O amor não conhece coação. Então, se a pessoa é honesta, significa que ela ama a verdade. Então, quanto mais aqui nesta questão nos diz que a honestidade é um selo espiritual na nossa alma, está pressuposto nele, nesta observação de sua mais esse amor
à verdade. Então, são quatro perguntas, os artigos desta questão 145. Na primeira, ele se indaga sobre a relação que há entre honestidade e virtude e ele conclui que toda honestidade, todo e qualquer honestidade é fiduciária. Então, honestidade e virtude são convertíveis entre si; para Santos normais, então, é impossível um desonesto ser virtuoso. Dito assim, pode parecer meio óbvio, né? Mas quando nós... Entendemos, no âmbito metafísico em que está colocada esta proposição, que nós vemos a altitude do que está Tomás está aqui a nos dizer. Então, a honestidade, ela é sim um selo espiritual; ela se
identifica com a virtude porque implica o desejo de agir com a alma o mais limpa possível. Eu vou ler um textinho da resposta magistral, e o Magister dixit: Santo Isidoro, honesto é o mesmo que estado de honra. Parece, pois, que honesto é quando pode considerar-se digno de honra, como a honra se deve à excelência de uma coisa, e a excelência do homem provém de sua virtude, principalmente já que a virtude é a disposição do perfeito ao ótimo. Beijamos bem a virtude. O disse aqui tem um hábito, e o hábito é intermediário entre a potência e
o ato; a virtude é em nós aquilo que somos perfeitamente humanos, mas aquilo que nos arrocha a sermos excelentíssimamente humanos. Então, perfeito é aquilo que, para ser o que é, não falta nada. Cada um de nós aqui é perfeitamente humano; se eu perder, oi, Mari! Perfeitamente humano. Porém, eu posso me desumanizar pelos vícios. Então, quando nós perdemos alguma nota mais distintiva da alma humana, nós degradamos mais a nossa essência do que quando perdemos algo meramente físico. Então, é o que o Grande Mestre está nos dizendo aqui. Ele conclui: já que a virtude é a disposição
do perfeito ao ótimo, segue-se que, propriamente falando, é o mesmo falar de honestidade e de virtude. Então, são conceitos analógicos coirmãos. No artigo segundo, Santo Tomás faz um paralelo entre o honesto e o belo. Aqui é mais bonito o que ele disse: que uma entidade, a própria beleza espiritual. O belo, só para quem não sabe, é um dos sete transcendentais do ser, uma das sete manifestações universais do ser. Tudo tem ser, pelo simples fato de ser, carrega consigo um quantum de beleza: pulchrum. A beleza é uma manifestação universal do ser. É óbvio que a beleza
física... Quanto mais a beleza está próxima do plano físico, mais eu preciso revelar para que ela entre na minha memória. Então, eu vejo uma pessoa bonita, né? Pulchrum. E fiz a plus: a beleza agrada à vista; daqui a pouco eu esqueço. Agora, quando eu vejo alguém dela moralmente belo, alguém cujo proceder é um exemplo, é uma marca que já gravou na minha memória mais do que a beleza física. Se eu tenho contato com um santo, então é inesquecível, né? É o santo, por definição. Aliás, só a verdade é memorável, né? Só o bem é memorável.
Só esses transcendentais do ser são memoráveis. O que não presta é bom que a gente esqueça. Aristóteles diz que, na sua metafísica, o que é melhor nem ver. Melhor nem ver porcaria, é melhor não ver. Deixa para lá a porcaria, que se nós contemplarmos muito as porcarias, elas se entregam na nossa alma, e aí é impossível não ter, inclusive, doenças específicas na beleza nacional. Escreve Dionísio, o Areopagita, né? Que, na época, acreditavam que era São Dionísio, convertido por São Paulo, um areópago, né? Só que, depois, a crítica genética dos textos concluiu que era impossível que
aquele Dionísio da época dos Apóstolos fosse este aqui, que este aqui tinha conseguido neoplatônicos; era de uma escola neoplatônica. Então, no século 19, passaram a chamá-lo de Pseudo-Dionísio. Era o Pseudo mais real que eu conheço. Eu queria ser Pseudo como ele, né? Porque ele deixou-nos uma obra pequena, a Teologia Mística, onde ele diz que Deus é um raio de trevas luminosas. É paradoxo: Deus é um raio de trevas luminosas. Deus, em si mesmo, é pura luz, mas essa luz, para os nossos débeis olhos de pecadores, é trevas. Então, Pseudo é um dos autores mais citados
por Santos, no mais na Suma Teológica, e fala muito sobre a beleza. A beleza, na ordem dos cedo, tá: beleza ou formosura. Escreve Dionísio que concorrem duas qualidades: claritas (clareza). Eu posso atribuir o caráter de belo àquilo que não é claro para minha mente? Claro que não, né? A clareza é uma propriedade da beleza. E proporção. Ora, no caso aqui que nos toca mencionar, que é o da virtude da honestidade, essa proporção é entre as potências da alma. A pessoa honesta, justamente porque atualiza um sem número de pequenas virtudes auxiliares na temperança, ela é bela
em sentido profundo. É bela em sentido profundo. Então, no momento como atual, é um exercício espiritual muito interessante nós contemplarmos a beleza a começar pelo esforço para nós mesmos sermos honestos. Não é fácil ser honesto! Ao contrário do que o menino que me interpelou na liga e fechou pediu a ideia de trazer essa aula, que hoje é para vocês: a honestidade é obrigação, ela é um dever moral, mas não é fácil. Essa limpeza da alma só se consegue com o exercício das virtudes; é uma caminhada. Tem um ditado oriental que diz: só conhece o vento
quem se põe de pé. Se você se deita, você não sabe a força do vento. Assim é com as nossas forças psíquicas: se eu não faço um esforço para melhorar, sincero, é óbvio que eu vou viver na ilusão da bondade, da auto-ilusão da bondade, melhor dizendo. Então, a vida humana, ela será bela se tivermos os olhos no céu e os pés na terra. E a obra que aqui quem diz é o católico. Apelamos à graça, ao pagamento, ao sacramento da penitência. Ou seja, procuremos o perdão divino. O padre não é um psicanalista, nem psicólogo, nem
para ouvir o povo para curar um trauma. Ele está ali para quem... Persona Christi, dar o perdão divino. Então, as franjas do pecado contínuo, que são os maus hábitos arraigados na alma, etc., não são fáceis de melhorar. Agora, para um católico, existe essa tábua de salvação que são os sacramentos. Devemos buscá-los, devemos buscar os com a toda honestidade do nosso coração. Por fim, a sua mais em dois últimos artigos desta questão 45 faz a distinção entre honesto, útil e deleitável. É uma famosa distinção: nem toda coisa útil é honesta, nem toda coisa deleitável é honesta.
Dos bens que nós intercambiamos, não a amizade, por exemplo. A amizade é a comunicação objetiva de bens; os amigos, diz Aristóteles, são aqueles que se reúnem em torno da Verdade. Onde não há a verdade como centro, aquela não é amizade; pode ser interesse, pode ser qualquer outra coisa. Então, aí ajuda a ações premiadas que não nos deixam mentir, né? O sujeito se dá a mão, entrega todos os comparsas. Amizade não é uma espécie de compadrio no crime, tá? Porque entre comparsas no crime pode haver uma certa alegria na obtenção do mal que eles juntos conceberam
fazer; porém, isso não é amizade. Então, a amizade genuína pressupõe esse amor à verdade. Então, de todos os bens que podemos e devemos buscar, devemos sim buscar coisas deleitáveis. É claro, eu gosto de comer uma boa comida; quando posso, como, aprecio. É igual ouvir uma boa música; me deleito, etc. Agora, as coisas mais importantes: O que é isso? Então a honestidade é, digamos assim, a nossa meta. A nossa meta, e aqui vale um recado para todos nós católicos: não, hoje o catolicismo no Brasil vai ressurgindo de uma maneira miraculosa entre leigos, né? Devemos buscar a
santidade, claro, mas devemos buscar também as virtudes e não vende-se; será auxiliares, né? Desse selo sobrenatural da alma, né? Deus pode converter um desonesto, mas ao converter, a pressuposição é a de que a pessoa deixou de ser desonesta e não que ela continuou exercitando a sua desonestidade ao mesmo tempo que recebe esse selo da santidade. Não percamos isso do nosso horizonte. E, por fim, quando ele comenta que a honestidade é parte da temperança, que eu mencionei aqui, neste é difícil, ele diz uma coisa muito bonita: tem que ter um cuidado para não rasgar o livrinho.
Honestidade, vejam que bonito, a cidade é certa, a formosura espiritual da "Gwen espirituales de pulchritudo". Na formosura e torpe, são termos antagônicos que mutuamente se iluminam; por isso, a honestidade parece reduzir-se, com especial motivo, à temperança que refreia o que há no homem de mais baixo e torpe. Então, outra informação que sabe que eu mais está aqui nos dar aula: a cidade é, em nós, fruto de um esforço para pagarmos as pequenas torpezas da nossa vida. Quem é de nós aqui que pode, em consciência, dizer que já não fez um monte de merda na vida,
que não continua a fazer e que cai nas três fontes do pecado? Segundo a atual mais, a malícia que é a mais grave é a ignorância, que tem certos atenuantes, embora não todos, tá? E nem toda ignorância é desculpável. E, por fim, paixões e fraquezas: as paixões desordenadas. Então, essa formosura espiritual que a univercidade é um exercício. É difícil; é um dever moral sermos honestos. Mas não é fácil, porque se a virtude fosse fácil, não teria essa força toda. E qualquer virtude tem graus de dificuldade, como hábitos que nós vamos deixando arraigar na alma para
que cheguemos à nossa própria excelência. Por isso, o próprio nome de temperança leva consigo um bem para a razão; aqui corresponde moderar. Por um tom, ou seja, dar um tom, é o um antigo bom tom, né? A honestidade é o bom tom da alma. É o bom senso. A pessoa de bom senso pensa e não quer que os outros façam com ela o que não quer. Ela não quer, se não deve, fazer o que não quer que os outros façam com ela mesma. E Santo Tomás conclui assim: pois a honestidade, enquanto diz razão, é porquanto
tem uma relação especial com a temperança. Não considera como parte subjetiva da mesma, nem como virtude adjunta, senão como a parte integral; ou seja, como a parte que integra a temperança. É impossível uma pessoa ser temperada se não é honesta. Viu, meus caros? Eu termino esta aula, que eu não sei há quanto tempo vou, quando o Bruno senta aqui, já é centro que a minha ampulheta virou, até fazer o planeta virar, e ele está ali com estilingue escondido para me dar na cabeça. É mais assim, temos isto no nosso horizonte: a honestidade como virtude, o
que é auxiliar de uma virtude maior, que é a temperança; e também como dever moral. E esse dever moral, quando nós conseguimos, minimamente, realizá-lo, nós alcançamos o que Santo Tomás diz aqui na Suma Teológica, uma das questões: a honestidade é uma beleza espiritual. É uma beleza espiritual. Sejamos, tanto quanto possível, pedindo a graça de Deus como auxílio, honestos. Aquele abraço, né gente? Até a próxima! [Aplausos]
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