Mussolini e a ascensão do FASCISMO

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Leitura ObrigaHISTÓRIA
Salve, espectadores do canal! No vídeo de hoje (praticamente um remake de um vídeo antigo), falaremo...
Video Transcript:
Este vídeo é um oferecimento de nossos colaboradores no Apoia. se, acesse o site e confira. Salve espectadores do canal, eu já tinha um vídeo gravado para esse mês de outubro.
Mas diante das eleições e de alguns debates que estão rolando pela internet aqui no Brasil, eu resolvi botar esse outro vídeo na gaveta, por enquanto, e fazer um vídeo sobre o surgimento do Fascismo na Itália. Legendado por: Anthony Amaral No comecinho de 2017 eu fiz um vídeo fazendo a resenha do livro: Mussolini e a ascensão do Fascismo, de Donald Sassoon. Era um vídeo bem importante porque ele fazia um resumo básico do conteúdo do livro, explicando a ascensão do fascismo italiano até a chegada de Mussolini ao poder.
Mas por ser uma resenha de livro, e não um vídeo de conteúdo direto, um monte de gente ignorou o vídeo - como alias é bem comum acontecer em vídeos sobre livros. Então eu resolvi aproveitar que a audiência do canal é bem maior agora, e resolvi refazer aquele vídeo sem o formato de resenha. Vamos ver se agora vocês assistem.
Como sempre é bom informar que esse vídeo esta financiado pelos nossos colaboradores no Apoia. se Cujos nomes estão aparecendo aqui embaixo A campanha do Apoia. se é absolutamente fundamental para este canal continuar existindo Então se você gosta do conteúdo que nos produzimos, considere se inscrever em nosso Apoia.
se. As demais pessoas não se esqueçam de se inscrever no canal porque é importante. E pra quem quiser saber qual é a fonte desse vídeo, como eu já comentei antes, é o livro Mussolini e a ascensão do Fascismo, escrito por Donald Sassoon.
Aqui no card você pode assistir o vídeo que nós fizemos sobre esse livro, mas como esse vídeo aqui é mais ou menos um remake daquele, até um pouco mais aprofundado, vai ficar meio repetitivo. De qualquer forma, fica a recomendação do livro, e continue nesse vídeo aqui por enquanto. Por fim, vale dizer que é obvio que vão vir nos comentários fazer varias analogias com o presente.
As analogias ficam a cargo de vocês, mas eu recomendo que assistam o vídeo que eu fiz sobre o conceito de Fascismo, que esta aqui no meio dos cards também. E vale avisar que o video termina quando Mussolini chega ao poder, o vídeo foca na ascensão do Fascismo na Itália, assim como o livro no qual esse vídeo se inspirou E não no governo Fascista depois que ele chega. Para isso teria que rolar um outro vídeo no futuro com uma pesquisa mais aprofundada, e eu ja expliquei nesse outro vídeo aqui, o motivo pelo qual eu não estou podendo fazer essas pesquisas de fôlego nesse momento.
Não custa avisar que o respeito nos comentários é fundamental. e determinados comentários desrespeitosos serão deletados e os comentadores bloqueados. Sem mais enrolação, vamos ao vídeo.
Para falar da historia do Fascismo a gente precisa ir lá no começo da primeira guerra mundial. Ainda que a questão da popularidade da primeira guerra seja contestada por alguns autores é inegavel que em algumas cidades grandes a noticia da guerra foi recebida por grandes parcelas da população, especialmente masculina, com certa empolgação. Todo mundo achava que a guerra seria rapida, e em alguns aspectos, decisiva.
Não é à toa que ela chegou a ser chamada de: “guerra para acabar com todas as guerras”. Só que na Itália a reação ao começo da guerra foi mais cuidadosa. Os católicos e os socialistas eram os grupos políticos que mais se opunham à guerra.
Além do mais, as aventuras imperiais Italianas, de anos anteriores, tinham sido um fracasso total. Em 1896, por exemplo, os italianos enviaram 17 mil e 700 homens para conquistar a Etiópia, já que a Itália chegou muito atrasada na corrida colonial pela África. Essa força expedicionária foi massacrada pelas forças do imperador Menelik, e tanto os mortos quanto os prisioneiros foram castrados, como era a tradição etíope da época.
Foi uma derrota muito humilhante que enterrou as ambições coloniais italianas até 1911 e 1912, quando a Italia declarou guerra à Turquia, e tomou a Líbia, Rhodes e as ilhas do Dodecaneso, com apoio da imprensa liberal e dos católicos que viam a empreitada como uma cruzada contra os bárbaros pagãos. No fim das contas essa vitória alimentou politicamente mais os nacionalistas italianos do que os liberais. Enfim, tanto a facção dominante no parlamento, que era dos liberais, quanto os socialistas, eram desfavoráveis à entrada da Itália na guerra.
Porque eles viam a economia italiana como muito fraca para dar conta de participar. Mas a Itália acabou entrando no conflito de qualquer jeito, mesmo com as divisões internas muito fortes entre os que apoiavam e os que eram contra. Os socialistas, por exemplo, usavam o Slogan: Para se manterem neutros à entrada do país guerra.
Enquanto os catolicos acabavam ficando do lado do Estado. E como Mussolini entra nessa história? Mussolini começou a trajetoria politica dele na ala à esquerda do partido socialista.
E eu sei que para vocês é confuso falar em “ala esquerda do partido socialista”, mas vocês têm que entender que até pelo menos a segunda guerra mundial, ou um pouco antes, o termo “socialismo” era um termo em disputa. Nessa época tinha autores que defendiam um socialismo de direita, por exemplo, por mais absurdo que pareça hoje. Mussolini defendia uma “neutralidade ativa” nos textos que ele escrevia para o jornal Avanti, que era um jornal socialista, Argumentando que: Só que, logo que ele publicou esse texto ele foi expulso do partido socialista em 29 de novembro 1914.
Esse momento de mudança brusca fez com que, aos poucos, ele fosse caindo nas graças dos nacionalistas, ainda que naquele momento ele ainda se definisse como de esquerda. Só que entre a direita nacionalista as opiniões politicas sobre a guerra foram ganhando espaço e Mussolini percebeu que aquele setor politico era mais interessante para ele. Essa ambiguidade ideológica inicial não atrapalhou Mussolini, pelo contrário, ajudou.
A guerra contribuiu para construir uma consciência nacional que a Itália não tinha. O ressentimento pela guerra uniu veteranos de várias tendências em torno da ideia de uma Itália diferente, na qual aqueles que haviam pago o preço lutando na guerra teriam seu sofrimento reconhecido pela gratidão da pátria. Mas para os veteranos não era isso que acontecia, para eles os outros, os ricos, os protegidos e os que tinham amigos importantes e influência ficaram longe da guerra.
Os ricos ficaram ainda mais ricos, enquanto eles arriscavam a vida nas trincheiras. Esse bolo de veteranos ressentidos virou um terreno fértil para a proliferação de associações paramilitares, onde a extrema direita depois conseguiu vários dos seus principais adeptos. Antes da guerra a Itália era conhecida como “a menor das grandes potências”, ou talvez nem pudesse ser considerada potência.
O nacionalismo italiano tinha como uma das suas principais características o sentimento de inferioridade, algo que foi reforçado pelo tratado de Versalhes, onde os negociadores italianos foram bastante ignorados e mesmo a Itália tendo conseguido algumas conquistas importantes durante a guerra, as ambições maiores que foram levadas a mesa de negociação durante o tratado, não deram em nada. Logico, isso aumentou o ressentimento de alguns nacionalistas. Mussolini ficou à margem de tudo isso nesse momento, em meados de 1919 principalmente.
E não conseguiu inicialmente capitalizar muito com a vitória italiana, que o poeta Gabriele D'Annunzio chamava de "vitória mutilada". As greves no norte da Itália, os avanços eleitorais do partido socialista e a formação e crescimento do partido popular católico chamaram mais a atenção politicamente naquele período. Mas Mussolini não tinha as mãos vazias, ele era editor de um jornal chamado II Popolo di italia.
Segundo Donald Sassoon poucos jornais italianos eram interessados em politica, então ter um jornal que debatia esses assuntos tinha potencial para ser mais importante do que ter um partido politico, coisa que nem Mussolini tinha na época. Ele tinha um movimento que eram os Fasci Di Combatimento. O programa desse grupo ainda não era abertamente de direita, porque ele tinha várias reivindicações clássicas da esquerda da época, como: voto feminino, abolição do senado, salário minimo, jornada de trabalho de 8 horas, representação dos trabalhadores nas empresas, imposto sobre a riqueza, confisco de bens da igreja e um imposto especial sobre os lucros de guerra.
Flertar com esses dois lados do espectro politico na época, ajudou bastante a projeção de Mussolini. Mas isso a gente vai vendo no decorrer do vídeo. Nessa época Mussolini demonstrava um antiparlamentarismo forte.
E o parlamento saiu enfraquecido da guerra, o que concentrou muito o poder na mão do executivo. E o resultado dessa eleição de 1919 - a primeira desde 1913 - não agradou muito os nacionalistas. O partido socialista ficou com 32,2% dos votos, se tornando o maior partido do legislativo italiano.
Em segundo ficou o partido católico, com 20,5%. E os liberais, pela primeira vez, perderam a maioria parlamentar. Apesar disso, a médio prazo isso foi bom para os anseios do Mussolini, pois o parlamento italiano ficou paralisado, Os socialistas eram anticlericais demais para se unir aos católicos, e eram anticapitalistas demais para se unir aos liberais.
Ainda que a Itália não sofresse uma ameaça séria de revolução, o período entre 1919 e 1920 foi um dos mais politicamente radicalizados da Itália. Cheio de greves e atividade sindical muito intensa, algo que aconteceu em boa parte da Europa logo após a guerra. Isso fez com que os círculos industriais e liberais ficassem com medo, e isso foi capitalizado pelos Fascistas com o passar do tempo.
A imprensa mais ligada a esses setores industriais e liberais passou logo a atacar os grevistas e manifestantes. No fim das contas as greves acabaram com mediação e isso abalou psicologicamente os setores operários mais radicais que achavam que seria possível empreender uma revolução na Itália naquele momento. Em 1921 a ameça da esquerda na forma de greves e medo de revolução já tinha passado.
Tanto que em 1922 a gerência da Fiat demitiu trabalhadores considerados socialistas e comunistas, “criadores de caso”, e os sindicatos não fizeram nada. As greves acabaram, a esperança de revolução morreu e os socialistas terminaram esse período mais divididos do que nunca. O setor comunista do partido socialista inclusive se desligou do partido e fundou o partido comunista da Itália.
Até o segundo semestre de 1920 o fascismo era bem marginal em toda aquela crise social e política que vinha acontecendo. O próprio Mussolini afirmou ao seu biógrafo, Renzo De Felice, que não tinha perfeita clareza sobre o que era o fascismo. Para quem viu aquele meu vídeo sobre o conceito de Fascismo, deve lembrar que eu comentei sobre como o Fascismo é parasitário e bebe de várias fontes, sem muita preocupação com princípios de pureza ideológica.
Então, isso se reflete até no começo do movimento. Isso não faz dele uma terceira via, mas dilui qualquer ambição de pureza ideológica. A grande virada para os Fascistas não ocorreu nos centros urbanos, mas nas cidades pequenas do centro da Itália.
Os grandes proprietários de terra eram, em geral, conservadores, tanto quanto o campesinato. Os camponeses em geral eram católicos, tinham aversão ao Estado, aos impostos e aos socialistas. Durante a guerra o ódio do campesinato pelo governo central só aumentou, porque a maioria dos dispensados do serviço militar era das cidades.
Fora que os camponeses acreditavam que a guerra servia para os ricos e moradores das cidades ficarem ainda mais ricos. E como vocês podem imaginar, essa galera tendia a não gostar muito dos socialistas. Um dos motivos é porque os socialistas eram a principal força de organização dos trabalhadores agrícolas em sindicatos, e eram os principais inspiradores das ligas socialistas, que apoiaram as ondas de greves entre 1919 e 1920.
E assim como na eleição passada para o parlamento, os socialistas tiveram uma baita vitória nas eleições locais de 1920. Nessas eleições os socialistas tiveram vitórias importantes em várias cidades enquanto os católicos tiveram em outras cidades. E os liberais, que normalmente defendiam os interesses das classes proprietárias de terra foram perdendo força.
Com isso os socialistas podiam distribuir contratos do setor publico às cooperativas, ao invés de distribuir para os grandes proprietários de terra. Os socialistas também aumentaram os impostos sobre a propriedade. E nesse mesmo contexto, os trabalhadores agrícolas conseguiram melhores salários e melhores jornadas de trabalho.
Desnecessário dizer, as classes fundiárias ficaram indignadas com isso. Eles achavam que o governo não combatia as ligas socialistas como deveria ser. E ai começou a aproximação dos latifundiários e proprietários de terra dos Fascistas.
Aos poucos esses proprietários começaram a contratar seus próprios esquadrões, normalmente entre os fascistas locais, para combater as ligas socialistas e garantir que as ligas e sindicatos não tentassem forçar os agricultores a não contratar os fura-greve. Enquanto a esquerda ia se fragmentando, a direita italiana ia se unindo. A violência dos Fascistas conseguiu assustar o eleitorado e atingir alguns resultados.
Surgiu um ambiente generalizado de desrespeito à lei e conivência de certas classes a essa violência. Aham, Claudia, senta lá! A polícia em geral tendia a ser conivente com a violência dos Fascistas e nem sequer aparecia nos lugares onde os crimes eram cometidos, ou chegavam super tarde e não prendiam ninguém, nem identificava os responsáveis.
Isso claro, nos crimes cometidos pelos Fascistas. Logo o movimento liderado por Mussolini se tornou a promessa de liquidação do sindicalismo, defesa da propriedade privada, uma politica externa nacionalista e a realização de obras públicas para fomentar a economia. É importante citar que assim como em outros países a classe industrial italiana não era homogênea.
Você tinha tanto industriais que eram favoráveis a um governo desenvolvimentista, quanto a um discurso de Estado mínimo. E Mussolini flertou com esses dois tipos sempre que ele pode. Mais adiante a gente vai falar mais sobre isso.
Antes de chegar no campo, o Fascismo já tinha testado a violência na região de Trieste, não contra os socialistas, mas contra as minorias eslavas. E lá, Mussolini foi recebido como herói. Mas lá a questão dos eslavos é um pouco mais complexa, tinha a ver com o resultado da primeira guerra, sobre o tratado de Versalhes, é outro contexto.
Fora esse contexto a violência fascista, focou em suprimir politicamente a esquerda. Entre 14 e 15 de outubro de 1920, a redação do diário socialista “II lavoratore di Trieste” e a câmara do trabalho em Fiume foram destruídas. A violência foi levada até Emilia depois Bologna, onde os fascistas atiraram contra um grupo reunido para comemorar a vitória eleitoral dos socialistas.
Nove pessoas morreram e 100 ficaram feridas. Em janeiro de 1921, de novo em Bologna, os camisas negras incendiaram a câmara do trabalho enquanto as elites locais comemoravam isso. Nos 6 primeiros meses de 1921, os fascistas destruíram: 119 câmaras do trabalho, 59 Case Del Popolo – que eram círculos culturais socialistas – 107 cooperativas, 83 escritórios das ligas da terra – que eram associações de trabalhadores agrícolas – gráficas socialistas, bibliotecas públicas e sociedades de ajuda mútua.
Entre fevereiro e maio de 1921, quando ocorreu a eleição geral, dirigentes socialistas foram intimidados e espancados – e, em alguns casos, assassinados. Os camisas negras foram se espalhando pela Itália, especialmente nas cidades onde as votações dos socialistas eram expressivas. Onde eles não tinham muita força política a violência era esporádica.
Segundo cálculos dos próprios Fascistas, coletados por Donald Sassoon, os grupos Fascistas entre 1920 e 22 eram formados, em média, da seguinte maneira: Proporcionalmente, a maior fonte de apoio aos Fascistas, em termos numéricos, eram os estudantes colegiais e universitários. A população colegial e universitária masculina era cerca de 135 mil estudantes na Itália. Desses, cerca de 19 mil eram Fascistas militantes.
Uma proporção bem maior do que qualquer outro grupo populacional. Em maio de 1921, no entanto, houve uma pequena mudança de panorama. Os Fascistas foram colocados na lista eleitoral do bloco nacional, que tinha candidatos de diferentes posicionamentos, ainda que em geral fosse uma lista formada por políticos de direita.
E ali Mussolini entendeu que precisava mudar mesmo a abordagem política. Agora os Fascistas não podiam mais depender só da violência, eles tinham que flertar com a legalidade também. Além disso, eles tinham a conivência da policia e dos militares, ao ponto de terem até transporte fornecido pelo exercito em algumas ocasiões.
O resultado disso foram 35 cadeiras do parlamento para os Fascistas pelo bloco nacional. Era um numero muito pequeno, mas demonstrava um crescimento. Agora que os Fascistas estavam entrando nas estruturas oficiais de poder, Mussolini entendeu que precisava acalmar os membros mais violentos entre os Fascistas, mas não o bastante para fazer os Fascistas perderem a imagem de ameaça.
A chefia do governo foi dada a Ivanoe Bonomi. E esse novo primeiro-ministro tratou de convencer Mussolini e os socialistas a assinarem o Patto Di Pacificazione. Minha pronuncia do italiano é ruim mesmo, ignorem.
Ou em português, pacto de pacificação. Onde ambos os lados se comprometeriam a não empregar violência nas suas disputas politicas. Mussolini aceitou o pacto para contragosto de alguns Fascistas, que eram mais radicais, e afirmou que era hora do Fasci di Combatimento virar um partido politico de verdade, ameaçando renunciar caso a pressão da ala mais radical contra essa abordagem mais politica dele aumentasse.
Nesse momento ele começou a estabelecer contato mais próximo com as forças politicas e sociais que ele achava que importavam mais no país. A monarquia, os industriais e a igreja. A aproximação foi mais fácil com os dois primeiros.
Com a monarquia foi simples, porque ela não tinha nada contra os Fascistas. Antigamente Mussolini era extremamente antimonarquista, mas agora que ele tentava chegar ao poder, ele começou a afirmar que era possível renovar a politica italiana sem ter que acabar com a monarquia. A ponto de afirmar em 20 de setembro de 1922 que: Uma semana antes da marcha sobre Roma, em 24 de outubro de 22, ele afirmou que a monarquia não tinha motivos para ficar contra os Fascistas, porque ambos queriam a unidade do país sem se preocupar com a democracia.
Só que antes de flertar com a monarquia ele primeiro abordou os industriais. Em um dos seus raros discursos na câmara dos deputados em 1921, Mussolini declarou que a politica econômica Fascista seria liberal e não socialista, embora, segundo ele, o Fascismo não fosse liberal, nem nacionalista, nem democrata, nem católico. O Fascismo era o Fascismo, ele dizia.
Em fevereiro de 22 ele escreveu que: Em geral os industriais compraram esse barulho. Ainda que nem todos eles fossem defensores de uma economia liberal, menos gerenciamento estatal e afins, como a produtividade italiana era muito menor que a dos países concorrentes. Mussolini não demorou em adotar essa postura, que continua inclusive depois que ele virou primeiro-ministro.
Em 6 de abril de 1920 Mussolini já dava indícios de mudança, escrevendo o seguinte no jornal dele, o II Popolo d’Italia: Dois anos depois em 20 de setembro de 1922, Mussolini fez um discurso onde dizia, entre outras coisas:. Quando ele foi designado primeiro-ministro, a Cofindustria - que era uma associação de industriais -, aprovou a escolha dele antes mesmo de Mussolini declarar que tinha aceitado o cargo. Isso quer dizer que todos os industriais eram Fascistas ou pró Fascistas?
Não necessariamente. Se dependesse deles o chefe do governo seria um liberal. A questão é que os Fascistas eram a principal força antissocialista do país, e eram um grupo que estava disposto a fazer o trabalho sujo se fosse necessário E os liberais estavam perdendo força politica e não conseguiam mais maioria no congresso através do voto.
Assim que Mussolini foi nomeado primeiro-ministro ele nomeou um liberal como ministro das finanças, Alberto De Stefani. Com a igreja foi mais complicado se aproximar. No primeiro discurso na câmara dos deputados em 21 de junho de 1921 ele falou que o Fascismo não pregava o anticlericalismo, porque isso seria algo anacrônico que as tradições latinas imperiais de Roma eram representadas pelo catolicismo, que o Estado deveria fornecer ao Vaticano toda a ajuda material para as escolas, igrejas, hospitais e etc.
Desde que o Vaticano renunciasse ao poder secular e declarou também ser contra o divorcio, que era uma pauta dos católicos conservadores da época. Mas tranquilizar a Igreja era só parte do processo, ele tinha que acalmar também o PPI, que era o partido católico. E ele deu sorte que esse partido também estava bem divido.
Ele tinha de um lado uma ala à "esquerda", que pensava num catolicismo social baseado numa rede de cooperativas e "sindicatos brancos". Esses sindicatos brancos seriam sindicatos mais moderados criados para competir com os socialismo, segundo algumas premissas que eram estabelecidas desde a encíclica Rerum Novarum de 1891. Que alias foi a principal inspiração da CLT brasileira e não a carta de Lavoro, como tanta gente fala na internet.
Inclusive esse sindicatos existiam, e se por um lado eles não aderiram às ocupações das fabricas em 1920 eles também não criticaram essas ocupações. Foram inclusive firmes em condenar a violência Fascista no campo e foram acusados de serem bolchevistas brancos, tendo seus escritórios atacados pelos camisas negras com tanta violência, quanto os camisas negras empreendiam contra os socialistas. Já os católicos de centro se aproximavam dos liberais, ainda que tivessem alguns conflitos com o ex primeiro-ministro, que era alinhado aos liberais.
Nessa época ocorreu a morte do Papa Bento XV, e no lugar dele foi eleito Pio XI, que era conhecido por ser bastante conservador e anticomunista. Por conta disso o Vaticano foi se afastando do partido católico, mas com a ascensão rápida de Mussolini, o vaticano pressionou o partido católico à aceitar formalmente o novo regime em 1922. Nesse ano Mussolini estava em uma situação bem confortável.
Os liberais e os católicos estavam divididos, a esquerda inteira estava dividida, os liberais estavam fracos demais para conseguir formar um governo, a violência Fascista no campo recebeu apoio e os Fascistas tinham conseguido alguns assentos no parlamento. Mussolini já era respeitado nos círculos políticos e fazia a voz da moderação entre os próprios Fascistas, para não espantar esses grupos que apoiavam os Fascistas. Como as autoridades e a classe media toleravam a violência Fascista, eles continuaram.
Tomaram a sede da prefeitura de Milão e expulsaram o conselho socialista. Ocuparam Trento e Bozzano, forçaram diversos prefeitos pela Itália a renunciar a seus cargos e reprimiram uma greve chamada pelos socialistas em 1922. Greve essa que protestava pela volta da legalidade e o fim da violência Fascista e do entreguismo do governo para os Fascistas.
Essa repressão da greve, inclusive, fez a popularidade dos Fascistas explodir, aumentando o partido Fascista como nunca antes tinha acontecido. Em agosto de 22 Mussolini já falava em os Fascistas assumirem suas “responsabilidades”, fazendo alusão ao governo do país e esse pensamento levou a decisão em 16 de Outubro de realizar a Marcha sobre Roma. Basicamente essa marcha era uma manifestação que atraiu Fascistas da Itália inteira para Roma, com o intuito de pressionar a monarquia a colocar o governo na mão deles.
Na conferência de 24 de outubro as autoridades, inclusive, providenciaram trens a preços mais baratos para transportar os Fascistas ao evento. A ideia era que os prédios do norte e do centro da Itália seriam ocupados e três colunas armadas convergiriam para três pontos rodoviários ao redor de Roma. Nesse evento Mussolini argumentou o seguinte: E na mesma fala deu o tom da ameça: Luigi Facta - que era o primeiro-ministro nesse momento - decidiu intervir preparando um decreto instituindo o Estado de sítio e impondo a lei marcial para que o rei assinasse e autorizasse o exército a conter os Fascistas.
Resultado: o rei Vitor Emanuel III não só não assinou, como ainda pediu que Mussolini montasse o novo governo. Do ponto de vista da monarquia a esquerda era vista como a maior ameça, especialmente os Maximalistas, que eram os mais radicais que queriam uma revolução aos moldes do que tinha acontecido na Rússia em 1917. Embora eles não tivessem força para fazer a revolução, era uma ala que existia.
Se ele barrasse os Fascistas isso seria uma vitória política para a esquerda, e como eu expliquei, Mussolini vinha fazendo falas públicas de conciliação com a monarquia. Logo que Mussolini foi convidado a fazer parte do governo os liberais em peso e até mesmo a igreja demonstraram a aceitação pública à escolha do rei, enquanto a esquerda Italiana estava toda fragmentada e sem nenhuma força política para conter o avanço Fascista. E a população italiana dificilmente se meteria no assunto.
Três anos e meio de guerra, 2 anos de agitação social, uma crise econômica e a violência Fascista fizeram com que os italianos quisessem só ter um pouco de paz. Então foi mais fácil aceitar essa situação e tentar conseguir alguma tranquilidade política. O Donald Sassoon escreve uma coisa no livro que eu vou botar aqui para vocês porque ela ajuda bem a entender essa situação.
O autor diz o seguinte: Enfim. . .
Mussolini foi nomeado primeiro-ministro, os Fascistas foram orientados a entrar em Roma e fazer a marcha sem violência, (embora alguns tenham saqueado as casas de alguns socialistas antes de ir embora) e voltaram para casa. E quais as consequências dessa aposta política? Os partidos foram dissolvidos, os sindicatos tiveram que se fundir na Confederazione nazionale del sindacati Facisti, (ou seja, uma confederação de sindicatos Fascistas de fachada), um tribunal especial para defesa do Estado foi criado para tratar dos opositores e dissidentes, a liberdade de imprensa acabou, uma polícia secreta foi criada para reprimir o antifascismo, um novo código jurídico foi criado e os manuais escolares passaram a ser submetidos ao controle do governo.
Nesse vídeo eu foquei exclusivamente na conjuntura que fez com que Mussolini chegasse ao poder. O regime Fascista na Itália renderia muito mais pano para manga, levando em conta que ele durou, mais ou menos, 21 anos, e vocês sabem muito bem que nos últimos tempos têm se falado muito sobre o perigo do Fascismo no Brasil. Eu sinceramente não sei quem você é, o que você que está assistindo esse vídeo pensa ou acredita, nem em quem você vota.
Eu também não quero saber. Eu achei que eu tinha que vir aqui e falar sobre esse assunto, porque existe uma demanda social por esse tema. E ao contrário de muita coisa que me pedem, esse tema eu tinha condições de fazer um vídeo, porque a pesquisa já estava feita.
Como eu disse no começo do vídeo, as analogias eu deixo para vocês. Eu queria falar sobre a história da ascensão do Fascismo pela relevância do tema - e sim, pelas analogias que se podem fazer com o presente. O Fascismo foi uma ameaça à Itália que se concretizou e as consequências foram terríveis.
E ao contrário do que alguns acadêmicos defendem, eu pessoalmente sou adepto da percepção de que o Fascismo não pode ser resumido apenas ao caso italiano e ao caso nazista. O Fascismo é maior do que isso. E praticas Fascistas vêm acontecendo no decorrer da história mesmo em governos que não podem ser definidos como Fascistas stricto sensu.
A história italiana nos dá lições importantes para o futuro. Só que alguém tem que fazer esse trabalho chato de lembrar as pessoas o que aconteceu no passado, e o que pode acontecer no futuro. À aqueles que não virão aqui falar besteira, xingar e etc.
Muito obrigado por sua audiência. Sintam-se à vontade para compartilhar esse vídeo por ai, e não se esqueçam de se inscrever no canal. Se você gostou desse vídeo considere a possibilidade de contribuir com o canal pelo Apoia.
se. Muito obrigado e até a próxima.
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