Vamos acordar, Ítalo. Acordar para ir para a creche. Isabel, Ingrid.
Vamos acordar. Vamos embora, mãe. Olha a lama para não pisar.
Senão vai ficar todo sujo. A Santa Luzia é uma invasão. Todos que moram lá é porque precisam.
É porque não tem condição de pagar aluguel nem tem condição de construir a própria casa. Eu saio de manhã de casa e só volto à noite. Eu, meu marido e as crianças.
A gente só volta à notie. A violência é muito grande. As vezes tem tiro à noite.
A gente escuta tiro. Um dia desses, quando a gente ia para a creche com as crianças, tinha um óbito, do nosso lado. A gente passa do lado e vem trabalhar.
Eu já me acostumei com a violência só que nossos filhos veem todo dia. Eu vou explicando para eles de que jeito é, o que leva a pessoa até aquilo. o que pode acontecer, e vou explicando porque eles vão vendo a realidade junto comigo todos os dias.
Miraílde! Miraílde. A gente gosta de lá com lama ou sem lama.
a gente gosta da Santa Luzia. É um pessoal unido. Quando chega alguma coisa cada um divide com uma pessoa.
quando a gente ganha alguma coisa. os vizinhos sabem dividir com os outros vizinhos. Lá é bom.
Eu gosto de lá. Vamos começar o rojão agora. Vamos a luta!
O Estatuto da Criança e do Adolescente ele é um instrumento muito completo. b Qual era a nossa preocupação? Ver o olhar sobre a criança desde a gestação.
Então o Estatuto garantiu o pré-natal à mãe que não existia por lei, garantiu as campanhas de vacinação das crianças e adolescentes no nosso país, teste de pezinho que prevê no ato que a criança nasce, se ela tem uma doença que possa ser tratada antes que avance. Ela prevê a oportunidade, da criança e do adolescente viver em um ambiente da família, da sociedade, e com o apoio das políticas sociais que o Estado deve assegurar para ter o mínimo de condição à liberdade, à vida, à cultura, ao lazer, ao esporte à educação, ao trabalho. Neste momento esta casa recebe uma responsabilidade que se traduz no comparecimentos destes meninos de rua.
meninos estes que são filhos desta pátria. Câmara dos Deputados e Senado. assuma a proposta para que a lei faça justiça a estes que simbolicamente estão aqui sentados e que poderão no futuro ocupar como deputados e senadores estas cadeiras e dirigirem as suas vidas.
Nós tivemos muitas audiências, debates. O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua veio para a Câmara, desde a Constituinte dando um suporte. As Pastorais também estiveram, a OAB.
É uma lei que tem a preocupação desde quando o bebê está no ventre da mãe com todas as políticas preventivas que são necessárias o suporte à família para que dê a educação, o limite, a formação aos seus filhos, até aquele que não teve essa oportunidade porque houve a omissão da família, da sociedade e do Estado que são os que estão acometidos nas medidas socioeducativas. Eu acho que eu tive sorte. Por nascer em uma família muito pobre meu pai dizia: "a tua saída é a escola" "Eu não vou poder deixar nada para você, você não vai ter nada.
" "se você não construir através da escola, você está ferrado" Então eu sempre entendi que a escola é um lugar muito interessante O CASE Jaboatão é um centro de ressocialização de jovens que fica a cerca de 6km do centro de Recife e tem como característica ser o centro de referência no Brasil. É um trabalho de excelência, feito por uma equipe multidisciplinar de professores, de educadores, de apoio Com o pessoal ligado à psicologia, nutrição. É um trabalho de excelência, reconhecido no Brasil como modelo.
Quando os meninos chegam aqui, eles pensam que vão ser internados em uma situação de internamento como outra qualquer, o mais comum que se tem. Eles têm o choque de ter que vir para a escola O Estado diz "você vai para a escola" Ele não vai ser internado em um pavilhão. Ele é internado em uma casa, onde tem um agente que funciona como sendo a pessoa adulta que dirige o funcionamento daquele ambiente.
Eles estabelecem um relacionamento. Vez por outra nós vemos um menino abraçado, brincando, jogando bola com o agente. Nós, o professor de capoeira César e eu, já chegamos a sair com 20 meninos aqui do CASE em uma kombi e eles sequer pensam em fugir Eles dizem: "Nós poderíamos sair correndo agora, mas nós jamais faríamos isso por conta do que vocês são para a gente.
por que você é um cara que me trata como gente. Vamos deitar! Deita, Joana!
Marina, vamos deitar? David, tira as pernas de cima da Marina. Marina, tira a sandália do pé.
A creche fica em pé através dos doadores. Se faltar doadores, com certeza ela vai cair. No começo desse ano, as doações foram poucas.
A gente passou por um aperto. Faltou um pouco o lanche. Não teve lanche.
Aliás, teve. Mas não o lanche normal, foi um lanche leve. Faltou doação, faltou leite, Tudo o que vem de doação é bem-vindo!
E se não tiver doação, não tem creche. O pouco que os doadores trouxerem para a gente, já serve para as crianças. Às vezes eles trazem alimentos.
Quando não podem, eles trazem calçados, roupas, porque através das roupas e dos calçados, a gente faz um bazar na semana e paga o aluguel, paga a água, paga a energia. Tudo através desse bazar. Sábado tem bazar, viu, gente!
Tem muito calçado bom para as crianças, roupa boa, cueca, calcina boa. Na época em que eu fui submetida a vir para cá foi por falta de opção mesmo. Foi na época que minha filha adoeceu e eu não tinha recurso para pagar o tratamento.
A única forma que eu encontrei foi vir para o lixão. Trabalhei dia e noite sem parar, trazendo ela porque eu não tinha com quem deixar. Foi a parte que mais me doeu e me machuca até hoje.
Até hoje eu sofro por ter tido que trazer ela, mesmo doente eu tive que trazer. Fico aquele vazio dentro de mim, aquela dor. .
. Você vê que é sub-humano até para adulto, imagine para criança. Foi daí que surgiu a ideia de pegar os filhos das vizinhas, das amigas, para elas poderem vir e não trazer as crianças.
Foi aqui que eu morei 8 anos. O início do projeto foi aqui. a gente atendeu no início 12 crianças e fechamos para o novo espaço com 86.
Esse espaço aqui me traz muitas lembranças, lembranças boas, lembranças horríveis. Aqui acomodava todas as crianças, todas amontoadas. As crianças começaram a aumentar e aumentar, e a gente não tinha como suportar todas as crianças.
Aí passamos para o novo espaço, que é onde existe hoje. Hoje meu emocional é mais equilibrado, mas antes eu chorava muito de ver a realidade daquelas crianças. Traz boas lembranças também porque foi um trabalho em conjunto, foi mãos dadas para construir.
Bom dia! A Maria de Jesus se encontra? É do Conselho Tutelar.
Marta. Obrigada. Estou com uma situação aqui daquelas difíceis como sempre.
É uma garotinha de 10 meses. Uma fofura. A mãe dela está solicitando um SOS Creche para você.
Tem jeito? A mãe dessa menina precisa da creche porque ela faz tratamento, um acompanhamento médico. Ela está sozinha.
Não tem companheiro. Ele precisa para facilitar ela trabalhar. Ela está pagando aluguel e uma pessoa para cuidar da criança.
Ela trabalha como diarista. Certo. Obrigada.
Tchau. Você sabe onde é? - Sei.
Vou te dar o encaminhamento. Você vai procurar a Maria de Jesus. Ela mama?
- Mama. Pode amamentar ela. Faz de conta que não tem ninguém aqui.
Sou conselheria tutelar desde o mandato de 2013. Os conselheiros são eleitos através de voto facultativo, entre a comunidade, e ele tem que exercer este mandato, na tentantiva. .
. eu digo tentativa porque nem sempre é possivel garantir a defesa e garantia dos direitos das crianças e dos adolecentes seja no âmbito da saúde, da educação, enfim. .
. até da própria família, Muitas vezes os casos de violação de direitos da criança e do adolescente acontece no próprio âmbito familiar. Boa tarde!
Feliz Dia das Mães! Em 13 de maio de 1888 foi assinada a Lei Áurea que abolia a escravatura, mas de acordo com o poeta, a liberdade não deve ser concedida, e sim conquistada. No Brasil e no mundo, os negros participam de movimentos sociais pelos direitos humanos, pelo combate ao racismo, e pela justiça social.
A princípio, elas vêm. . .
com medo da unidade. "meu filho está sendo maltratado? " "Os direitos dos meus filhos estão sendo violados?
" Então o primeiro trabalho da gente com as famílias é fazê-las entender que elas são parte fundamental deste trabalho. Quando elas vêm à unidade, que elas conhecem a unidade, A gente tem um trabalho aqui que a gente faz com as famílias: a gente seleciona algumas mães e elas vêm, dormem, e passam o fim de semana, o Natal, as festividades. isso é uma forma delas participarem da dinâmica da Casa.
A gente tem aqui o Conselho Disciplinar, que é proveniente do SINASE, onde o adolescente, se descumpre alguma regra da Casa, ele vai para esse Conselho Disciplinar, que é de cunho não punitivo, mas educativo. E a mão participa disso, ela tem conhecimento disso, de todo esse processo. É tudo voltado para a importância da família nesse processo.
Quantas vezes tu ficastes sem dormir esperando até a hora de voltar. Agora nós vamos averiguar o Disque 100 Essa denúncia aqui é de negligência. Agressão física, violência psicológica e negligência.
Será que houve agressão? Será que existe mesmo esse histórico de agressão? Porque pode ser um vizinho com quem ela tem algum problema que faz a denúncia Pode ser até o genitor dessas crianças que está numa situação disputa, de ciúme, que faz para prejudicar a mãe.
Conselho Tutelar. Meu nome é Marta. Eu posso entrar para ver como que é a sua casa?
Aqui é o banheiro. Esse é o quarto. Os meninos dormem todos com você?
Não. É você e três crianças? Sim.
Não tem um companheiro? - Não. Ele vem e me ajuda.
Certo. Eu estou convocando a senhora para compararecer ao Conselho Tutelar amanhã. Como a senhora está no seguro, a gente também pode fazer a orientação para a senhora fazer a inscrição para esse bebê ir para uma creche, para a senhora pleitear uma vaga em uma creche Tudo bem?
Então está ok. É um território de alta vulnerabilidade social A gente tem inúmeras situações e denúncias através do Disque 100 no que diz respeito a negligência, seja na saúde, na higiene, nos cuidados básicos necessários, seja a própria violência física. Nesses casos o Conselho é acionado e obrigatoriamente fará a averiguação da denúnica.
Às vezes a criança pode estar sendo negligenciada pela educação: está em casa, está sendo alimentada, tem uma casa, tem um teto, mas o responsável não a matriculou devidamente. Ela está fora da escola. Não deixa de ser uma negligência.
Cabe ao Conselho Tutelar aplicar as medidas protetivas. Que vão desde encaminhar essa família, de requisitar os serviços de educação, uma certidão de nascimento, Até se for o caso de pais que estão em situação de drogadição ou acoolismo, fazer o encaminhamento desses pais ou responsáveis para que eles sejam devidamente atendidos, para que tenham capacidade plena de estarem cuidando e se responsabilizando pelos seus filhos. Havendo reincidência ou quando os pais se negam a fazer o tratamento e persistem esses quadros de negligência, é feito um estudo de caso, e possivelmente, deverá ser encaminhada ao Ministério Público a situação dessa família, dessas crianças.
O Conselho pode até a medida de proteção mais drástica que tem no Estatuto da Criança e do Adolescente, que é o Acolhimento Institucional Eu entrei no quarto de vocês e eu vi toda uma desorganização lá: roupa espalhada, toalha, prato jogado, Na próxima vez que eu voltar na Casa e aquele quarto não estiver organizado, eu vou pedir para recolher o videogame e a televisão e vocês vão ficar um tempo sem jogar. Eu vou pedir para tirar mesmo porque a gente já conversou que a organização do quarto, roupa, é de responsabilidade de vocês. O cuidador não tem que entrar no quarto para cuidar do que é de vocês.
E eu venho falando com vocês há muito tempo sobre isso. - Eu saí cedo hoje. Hoje você justifica, mas e nas outras vezes?
- nas outras vezes eu estava com preguiça. Então a preguiça vai ter que sair porque preguiça para jogar videogame não tem. - Claro que não.
É um esporte! - Vai ter que melhorar isso! Eu estou falando bem sério, fazendo um diálogo com vocês.
Combinado? Nós somos uma instituição de acolhimento que recebemos as crianças em medidas protetivas que são medidas aplicadas de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente que é o art. 101.
Essas crianças e adolescentes que recebemos, de 0 a 18 anos, estão em alguma situação de vulnerabilidade social. É um paliativo até que se faça a reintegração familiar. Essa é a proposta: a gente trabalha com a família buscando meios e usando a rede social para que essa família possa se restabelecer e a criança possa voltar ao seio dessa família.
Pensamos planos, trabalhamos o tempo dessa criança ficar na instituição, como que essa família vai se restabelecer. Se monta todo esse plano e encaminha para a Vara da Infância. Logo em seguida, nós fazermos uma visita domiciliar e tenta inserir em trabalho.
Todas as dificuldades que a família está enfrentando, nós tentamos atender tanto a criança quanto também a família. A gente lança propostas, mas nem sempre a família consegue se organizar. Existe caso da família não aderir e continuar no seu processo de drogadição, continuar em situação de rua, continuar com as vulnerabilidades sociais.
Não adere. Não quer trabalhar. E aí esse menino permanece no abrigo.
Então a gente trabalha o protagonismo juvenil e a automia buscando subsídios para que ele possa sair do abrigo e possa se manter. A gente insere esse jovem em programas de aprendizagem, procuramos fazer com que ele não gaste todo o dinheiro, que é uma orientação financeira. A gente trabalha também com orientação financeira.
Temos um exemplo recente de uma jovem que saiu da instituição com dez mil reais. Ela saiu com 10 mil reais, alugou um imóvel para ela, comprou todos os móveis, entrou na Justiça, pediu a guarda dos irmãos e levou todos os irmãos com ela, Hoje moram com ela. com essa educação financeira que a gente passa para os jovens.
Toda a criança que vai para a Alecrim passa por uma triagem. A gente tem um limite de 120, imposto por nós mesmos, mas a nossa lista de espera tem o triplo de crianças querendo entrar. Na Estrutural, há muitos anos atrás, foram iniciadas as creches, mas as creches pagas.
Não tem creche do Governo até hoje e a única creche que faz esse trabalho é a nossa. A gente abraça a causa porque a nossa realidade é uma comunidade onde é muito rara a presença paterna na família. Elas têm que sair para conseguir manter a casa e para elas saírem têm que encontrar um lugar para deixar os filhos Para ser sincera, eu não vejo um lazer aqui, lazer algum.
Os parquinhos estão quebrados. Aquela praça só dá usuário de drogras. Não tem condição de levar uma criança para ir em uma praça com muitos usuários de droga.
Eu não levo meu filho. Você, vem. Vamos ver quem fala melhor.
Fala "amorosa". Alto! - "A" - Não, é "amorosa".
Quem foi que falou "horrorosa"? Fala "F", bem alto! - "F" - "Formosa" Fala "I" - "I" Mais alto: "I" - "I".
- Isso! Fala "sapo" - "(s)apo" É para guardar essa palavrinha. Eu tenho 4 meses aqui, mas eu amo um pouquinho de cada um.
e me dói saber que tem uns aqui que já perderam o pai, já perderam a mãe então precisam de uma atenção a mais. Tem umas crianças aqui que são bem cuidadas demais. Tem outras que a gente manda com.
. . É triste saber que a criança sai daqui e volta com a mesma fralda no outro dia.
É por isso que acho que tem muita voluntária aqui, entendeu? Porque quando eu precisei, eles estavam aqui para me ajudar. Agora que eles estão precisando eu tenho que estar aqui para ajudar.
Mas eu venho mais por amor. É muito bom. Se entendia creche como um direito dos pais.
Na verdade, dentro do Estatuto da Criança e do Adolescente, a creche é um direito da criança. É a proteção dessa criança. Tem que colocar a maior para a menor.
Tchau. A maioria dos autores, dos pesquisadores, consideram a primeira infância o período que vai da gestação até os 6 anos de idade. E é justamente nesse período inicial que tudo se organiza no cérebro humano.
As competências, as habilidades, a capacidade intelectual, racional, a emoção, o vínculo com as pessoas, a capacidade de se colocar no lugar do outro, de entender o outro. Tudo isso se organiza, na verdade, nos três primeiros anos de vida, não é nem nos 6. É nos 3 anos de vida Qual é o fator de risco que a criança tem no início da vida?
Ela não ter atendida as suas necessidades básicas, inclusive emocionais. Quando isso acontece a criança entra em um estado que a gente chama de estresse tóxico. Ela não entende o que está acontecendo com ela.
Ela está aprendendo o mundo ainda. e de repente ela não tem atendida sua necessidade de comer em uma hora certa, não tem os horários. Fez xixi, fez cocô, e a pessoa não cuida, ela fica toda molhada, ela começa a chorar ou entrar no estresse tóxico.
A simples negligência. Não precisa ser violento com a criança. A violência piora.
Mas a simples negligência em relação à criança eleva muito o estresse, eleva os hormônios do estresse, entre eles o cortisol, que são devastadores no cérebro. Eles destróem os neurônios, destroem as conexões entre os neurônios Essa criança pode ficar com uma lesão cerebral sem nunca ter tido uma doença, sem nunca ter tido uma tendência genética para isso. Ela vai carregar isso para o resto da vida, vai ter problemas emocionais para o resto da vida.
Até para a prevenção da violência, Para ter indivíduos mais competentes, com mais habilidades no futuro, são muito importantes os cuidados no início da vida. Em 5 anos, ou menos disso, no mínimo, 1390 crianças e adolescentes foram assassinados e foram assassinados na maioria dos casos, a tiro. Existe portanto, uma guerra contra as crianças e adolescentes pobres deste país.
O problema da criança? Como é que se resolve o problema da criança? É um problema social.
O olhar da sociedade traz isso como um problema social. Se você pegar antes do Estatuto da Criança e do Adolescente, O problema da criança e do adolescente era um problema policial. Com o Código de Menores a criança e o adolescente eram um objeto da ação.
Ele não tinha nem voz, nem vez. A coisa vinha de cima para baixo. O tratamento era muito impessoal e uma sociedade muito distante.
Sociedade que cobrava: "não quero ver o menino na rua porque o menino me incomoda" "porque está enfeiando a cidade" Mas não se sentia parte do processo. Porque a gente também tem que trabalhar o princípio da co-responsabilidade. Eu sou responsável por isso aqui.
Nós, cidadãos, somos responsáveis. E com o advento do Estatuto, a filosofia mudou. No Código do Menor, a cabeça do juiz era a sentença Pouco importava se esse adolescente ele vinha da ausência das políticas sociais, da ausência da família, da ausência das políticas do Estado, e o juiz, cabia a ele a sentença: "você está condenado porque você já foi condenado na sua infância, você vai ser condenado de novo.
Você fazia uma distinção muito grande. Por exemplo, criança pobre, criança filha de negro, criança das comunidades carentes, criança filha de trabalhador, é "menor". Filho de quem tinha alguma condição era criança e adolescente.
Foi difícil. Até hoje você tem muita gente que fala ainda: "Fulano é menor", "menor de idade". E pessoas que às vezes vão até discutir a matéria continuam usando a terminologia "menor".
Que ficou estigmatizada, É uma coisa condenável, sabe? Toda criança é criança! Todas as crianças e adolescentes que nós atendemos tem que ter um encaminhamento da Vara da Infância e da Juventude.
Se uma criança, em situação de rua, chega no abrigo e bate na porta, não é que nós não vamos receber. Nós vamos receber, mas automaticamente tem que ser comunicado a Vara da Infância e da Juventude para que venha uma Guia de Acolhimento onde nós somos o guardião dessa criança. Existem crianças que não têm família, mas nós iniciamos toda uma busca envolvendo o Judiciário, solicitamos que o Judiciário nos ajude a encontrar essa família.
Família extensa. Se não é o pai e mãe, que é família biológica, a gente procura encontrar algum parente extenso, alguém da família que possa receber essa criança. A gente procura garantir todos os direitos dessa criança.
Ela não está em uma situação de "coitadinha" Isso vai passar. Ele vai voltar para a família ou não. Vai para uma adoção ou vai para uma família substituta, mas essa fase da vida dele vai passar.
É isso. Para ele viver no seio de uma comunidade onde a casa funciona em uma dinâmica normal de uma casa como a nossa família, A alimentação é feita na casa e eles brincam com os vizinhos e jogam bola na quadra, vivem no seio de uma comunidade mesmo. Sai, trabalha, volta, vai para a escola andando sozinho, volta.
É a dinâmica mesmo de casa. Toda situação com adolescente infrator é encaminhada ao Conselho Tutelar justamente para fazer o acompanhamento do núcleo familiar, se ele entrou para o delito foi por evasão escolar, falta de escola, foi por falta de apoio dessa família. Enfim, isso vai muito da visão que esse promotor ou juiz vai ter.
sobre esse adolescente. Aquele adolescente que já tem uma reincidência sistemática desses atos infracionais vai para esse meio socioeducativo. Quando o menino sai daqui, ele sai equalizado para entrar em uma série que seja compatível com a sua idade.
Dá muito trabalho porque as crianças às vezes chegam aqui e não tem sequer a alfabetização. Uma das experiências que me marcaram foi o caso de um menino Eu vou chamar ele de "A" Ele chegou no CASE porque a comunidade dele já não o aceitava. Ele era uma criança de 12 anos, mas a comunidade já estava com vontade de dar um fim nele.
Então, a juíza achou por bem mandá-lo para cá. E quando ele chegou, era uma criança que quase não falava. Ele simplesmente berrava.
Uma das coisas que mais me surpreenderam, e isso é uma coisa marcante e me emociona bastante, foi quando, em uma das vezes em que eu estava na sala dos professores, ele me chamou e disse: "eu quero ler um negócio para você" E ele leu uma poesia e com pouca dificuldade. E o que me chocou foi o prazer de dizer "eu sei ler". Para mim, o grande diferencial desta unidade, que é o que possibilita todas as outras ações, é a quantidade de adolescentes que a gente tem.
A gente não trabalha com a super população, que é o que massifica, que é o que prejudica o trabalho. Por mais que você queira, por mais que o educador se empenhe, mas super população impacta direta e negativamente na ação educativa. Para mim, o grande diferencial daqui é o quantitativo.
É o número de adolescentes que a gente trabalha. É aqui que a gente desenvolve uma atividade de robótica e projetos eletrônicos. A gente começa com uma eletrônica básica.
Depois vai sofisticando e separando os alunos: aqueles que se saem melhor nos projetos, aqueles que se saem melhor na solda. Há um mês atrás, a gente foi para a Funase de Pacas e consertou as câmeras, nós temos fotos, de lá. Os alunos.
A gente passou um dia e consertou as câmeras e as cabeações. Os próprios alunos. Se ele fez isso em outra unidade, ele pode fazer isso em qualquer outro lugar.
É uma equipe. Desenhista, a pessoa que projeta, o menino que monta o Lego, outro que solda, outra que escolhe as peças. E depois que vai para o computador para a programação.
e o carro executa aquilo que o campeonato quer que execute. Por isso a gente vê que quando ele sai da unidade, que saem de liberdade, eles me procuram para fazer outro curso e voltam porque eles querem fazer o trabalho e continuar. Eles querem continuar o curso.
Hoje a gente tem esse grande problema na nossa comunidade: os adolescentes estão recrutados para o crime. E se for fazer uma análise são pessoas que não tiveram acesso. Acesso à escola.
Acesso à educação. E de uma forma geral são vetados de ser cidadão. Porque a família Santa Luzia, as pessoas que moram nesses locais não têm nem endereço.
São pessoas que perante ao Governo não existem porque não tem como fazer a contagem delas. É onde eu acho que a sociedade foi falha. Onde o Governo é falho na nossa cidade.
Porque se hoje nós temos, como eles falam: bandidos na Estrutural a culpa foi do Governo que não soube aplicar uma política pública aqui dentro, de incentivo. Foi da comunidade, que começou a melhorar a sua estrutura familiar e foi colocando grades nas suas portas em vez de oferecer um emprego para o adolescente. Eu acho que não adianta eu me proteger.
e não querer proteger meu próximo. Eu acho que a proteção tem que ser para todos e não apenas para a minoria. O pano de fundo desses meninos é essa sociedade capitalista que a gente vive em que o consumismo também chega para eles.
Eles também querem a roupa de marca, o relógio de marca. E isso, quer queira ou não, tem uma relação direta com o envolvimento deles com o tráfico. Como a família não pode dispor disso, não pode supri-lo dessa necessidade, ou desse desejo.
Eu não colocaria nem necessidade. Eu acho que está mais para o desejo. Ele vai se associar ao tráfico.
É uma relação muito direta. Tanto é que aqui na unidade, a gente não permite a roupa de marca. Por que?
Porque a gente sabe que quando vai fazer a leitura social, tem muito isso: tem muito a coisa: "eu tenho que consumir, "porque o adolescente da minha idade de classe média tem. eu sou adolescente, com os mesmos desejos, os mesmos anseios. " Porque a gente tem que mostrar para a sociedade que o menino, quando sair daqui, quando cumprir a sua medida, ele não vai conviver em outro planeta, ele vai conviver conosco.
Ele vai usar os ônibus que a gente usa, ele vai andar nas ruas que nós andamos. Por causa disso, a Secretaria está com um trabalho, com os egressos, que é aquele que sai. O que é egresso?
Egresso é todo aquele que sai do sistema. É justamente para fechar essa ponta que é importantíssima, que é quando o menino retorna à comunidade dele. É trabalhar na comunidade dele.
Ver que equipamentos sociais essa comunidade dispõe ocupar o menino. Porque aqui ele é ocupado 24 horas. Ele tem escola, as atividades de oficina, o curso de inglês.
Fora as atividades externas. Ele tem o tempo todo ocupado. E quando volta para a comunidade, muitas vezes ele não dispõe dessa ocupação em tempo integral que para o adolescente é fundamental.
Quando a gente tem a socieade como parceira, quando o menino retorna a esse convívio é muito mais fácil. Esse retorno dele é menos sofrido, ele é mais afável. Seria muito mais interessante nós pensarmos em investir em uma possibilidade de cuidar disso noas anos iniciais, dar uma educação de qualidade, ou simplesmente obedecer a Constituição, e por fim, nós termos que colocar menos crianças em situação de internamento.
Não bate a colher na mesa. Todo mundo condena o Governo. O Governo tem suas falhas?
Tem. Mas as falhas do Governo têm muito a ver com o que a socidade transmite. Se cada cidadão achar que tem a obrigação de proteger à criança, a coisa muda.
Esse trabalho que faço é por paixão, por amor. E pela realidade lá do passado. Se tivesse alguém que tivesse se preocupado comigo da forma que eu me preocupo com essas crianças, Eu talvez tivesse do meu lado todos os meus amigos que morreram, que se perderam na vida do crime.
Eu acho que teria sido uma realidade diferente. E se cada pessoa plantasse essa sementinha do voluntariar dentro de si, as coisas poderiam ser bem diferentes. Meu nome é Yves Santanta Eu sou ator.
e interpretei um menino de rua para que não aparecesse nenhuma criança em uma situação tão triste neste documentário. Eu acho que toda criança tem o direito de ser feliz, de ter casa, o carinho da família, poder estudar, ter comida à vontade, a vida como eu tenho, a vida boa, né? E além de tudo, o amor, que é o básico para não sofrer e nem fazer nada de errado.
Eu acho que toda criança deveria ser feliz. Nas gravações, eu conheci um texto que foi escrito por meninos de rua e entregue para o deputado Ulysses Guimarães na época em que estavam escrevendo a Constituição. e eu vou ler para vocês.
Queremos que nossos pais ganhem mais dinheiro. Queremos ter casa grande para a gente poder correr, dormir e brincar. Queremos que nossos pais parem de beber, de brigar e de bater na gente.
Queremos ter sempre roupa e sapato. Queremos estudar, passear e viajar. Gostaríamos de ter dinheiro.
Não queremos roubar. Não queremos ser presos e nem apanhar da polícia. Queremos trabalhar e ser alguém.