atenção o que você vai ouvir agora é apenas a primeira parte de uma história baseada em fatos reais do seu Francisco caros ouvintes gostaria de fazer um esclarecimento importante sobre Nossos Vídeos muitos acreditam que nossas histórias são dubladas mas na realidade são narradas por profissionais experientes esta abordagem não é por acaso exe uma razão muito significativa por trás dela os idosos que corajosamente compartilham suas vidas conosco frequentemente revelam situações extremamente delicadas e pessoais seus relatos incluem detalhes sobre familiares amigos e conhecidos né além de eventos que podem ser considerados controversos ou até inadmissíveis pelos padrões
atuais é uma exposição crua e honesta de suas experiências de vida se permitíssemos que esses idosos se identificassem diretamente as consequências poderiam ser sérias e de longo alcance não apenas para eles mas para um círculo muito mais amplo de pessoas mencionadas em suas histórias imagine o impacto que essas revelações poderiam ter nas vidas atuais dessas pessoas conflitos familiares problemas legais danos à reputação Nossa responsabilidade é proteger todos os envolvidos é por isso que insistimos que você nosso espectador se concentre na Essência da história não nas imagens representativas já disse isso antes mas reforço devido aos
comentários que Lemos diariamente por isso eu te peço inscreva-se no canal agora e deixe seu like da confiança é rápido e faz toda a diferença nosso objetivo final é Honrar essas experiências de vida queremos que essas narrativas sejam ouvidas refletidas e respeitadas sem comprometer a privacidade ou o bem-estar de ninguém agora sem mais delongas seu Francisco fique a vontade para compartilhar sua história Ô minha filha se aprochegue tô feliz que você veio deixa eu te contar como foi que conheci a Elsa mas fique sabendo Essa não é uma história de AM terno não era lá
pelos idos de 1965 eu era moço tinha uns 24 anos verdinho ainda trabalhava naquela Fábrica de Tecido sabe um lugar enorme cheio de máquina barulhenta o cheiro de algodão e óleo de máquina era forte parecia que grudava na gente mas naquele dia Ah naquele dia senti um perfume diferente no ar foi quando vi ela pela primeira vez a Elsa viu moça bonita com os olhos castanhos que brilhavam mais que as lâmpadas da fábrica o sorriso dela meu Deus era uma coisa que alegrava o dia da gente lembro como se fosse hoje o Zé aquele meu
colega de turno me cutucou com o cotovelo nas costelas e falou baixinho ó a moça nova na fiação fingi que nem liguei mais que nada meus olhos ficavam procurando ela o tempo todo a as máquinas de costura faziam um barulhão danado mas ainda assim eu consegui ouvir a voz dela quando ela se apresentou ao contramestre Elsa 19 anos vinda do interior para trabalhar a voz dela era que nem música pros meus ouvidos nos dias que vieram depois eu ficava inventando desculpa para passar perto de onde ela trabalhava Às vezes a gente pegava o mesmo rolo
de pano e nossas mãos se encontravam parecia que tinha tomado um choque de tão bom que era uma vez o supervisor me chamou a atenção Francisco presta atenção no serviço Mas que nada eu só conseguia pensar naqueles sorrisos que trocava com Elsa demorei um tempão para criar coragem viu mas um dia chamei ela para tomar um café depois do trabalho para minha surpresa e alegria ela aceitou sentados na lanchonete empoeirada em frente à fábrica descobrimos que tínhamos muito em comum também vim pra cidade grande atrás de uma vida melhor contei para ela remexendo o café
com leite nervoso que só a Elsa deu uma risada gostosa dessas que fazem a gente se apaixonar mais ainda e achou ela perguntou olhando bem nos meus olhos Acho que acabei de achar falei sentindo o rosto esquentar que nem Brasa o namoro foi rapidinho a Elsa não era igual à outras moças que eu conhecia não era moderna trabalhadora cheia de sonho a gente conversava sobre fazer uma vida junto longe daquelas tradições antigas das nossas famílias numa noite andando de mão dada na praça ela virou para mim e falou vamos casar logo Chico não quero esperar
mais não nem precisava pedir duas vezes no mês seguinte estava casado sabe eu morava numa pensão desde que tinha vindo do interior fazia uns 3 anos e meio já era um quarto pequeno não dava para nós dois não e para falar a verdade aquele lugar era só para rapazes solteiros nem podia levar a Elsa lá então Fizemos assim alugamos uma casinha simples perto da fábrica dava para ir a pé e a gente ia todo santo dia era uma caminhada boa mas a gente nem ligava tava feliz demais para reclamar de qualquer coisinha Ah minha filha
o casamento foi uma coisa simples viu nem convidamos a família nem a minha nem a dela a gente pensou vamos fazer logo e depois a gente avisa Combinamos de ir visitar eles depois quando desce lembro como se fosse hoje cada um escreveu uma carta para sua família contando a novidade a Elsa Coitada Ficou um tempão olhando pro Papel em Branco sem saber direito o que escrever já eu rabisquei umas linhas meio tortas explicando que tinha encontrado a mulher da minha vida o casamento mesmo foi só no cartório numa quinta-feira à tarde depois do trabalho nem
tivemos que faltar o serviço viu levamos uns amigos nossos do trabalho para ser testemunha o Zé e a Conceição lá da Fiação foram os padrinhos a Elsa tava linda com um vestidinho branco tubinho ela tinha um corpo atraente e cheio de curvas eu fui com minha melhor camisa toda engomada que quase não dobrava de tão dura foi rápido sabe o homem do cartório leu uns papéis a gente assinou e pronto marido e mulher não teve festa não teve bolo não teve nada disso mas teve amor minha filha muito amor depois da cerimônia fomos todos tomar
uma cervejas em um barzinho que tinha música Foi nossa festa de casamento voltamos pra fábrica no dia seguinte cada um pro seu posto como se nada tivesse acontecido mas eu me sentia diferente olhava paraa aliança no meu dedo e não acreditava que agora era um homem casado no fim do expediente fui buscar a Elsa na sessão dela Saímos de mãos dadas sob os olhares e sorrisos dos colegas fomos direto paraa nossa casinha era o começo da nossa vida juntos nossa vida de recém-casado era uma beleza de noite ficava só no amor e nos planos pro
futuro a Elsa falava em estudar quem sabe até fazer faculdade um dia eu sonhava em ter meu próprio negócio a gente vai ter filhos sim mas não agora ela dizia pegando na minha mão Primeiro vamos curtir nossa vida de casal e eu concordava com tudo como é que podia discordar a Elsa era meu mundo inteiro ora a gente acordava cedinho tomava café junto e ia pra fábrica de mão dada de noite fazia janta junto rindo e dançando naquela cozinha apertada com o rádio tocando isso que é felicidade Chico a Elsa falava baixinho no meu ouvido
enquanto a gente dançava e era mesmo viu naqueles primeiros meses tinha certeza que nossa vida ia ser sempre assim cheia de amor companheirismo e sonho junto as respostas das cartas que enviamos para nossas famílias demoraram para chegar quando finalmente chegou Ah minha filha foi um rebuliço só a carta da família Da Elsa chegou primeiro ela abriu com as mãos tremendo li por cima do ombro dela a mãe dela escreveu que estava decepcionada por não ter sido convidada para casamento mas que entendia que os jovens às vezes fazem essas coisas o pai dela nem assinou a
carta já a resposta da minha família essa demor mais para chegar minha mãe dona Perpétua do Socorro escreveu uma carta de Quatro páginas misericórdia começava dizendo que estava magoada depois passava para preocupada e terminava pedindo pra gente ir visitar assim que desce a Elsa ficou meio triste com as respostas A gente devia ter esperado Chico ela falou uma noite enquanto lavava a louça do jantar eu abracei ela por trás e disse o que tá feito tá feito agora é olhar pra frente Combinamos de ir visitar as famílias no próximo feriado primeiro a dela depois a
minha foram visitas tensas viu a mãe da Elsa mal olhava para mim o pai dela um homem grande e calado só me cumprimentou com um aceno de cabeça na casa da minha mãe foi diferente Dona Perpétua abraçou a Elsa como se fosse filha dela chorou deu conselho Fez um almoço que dava para alimentar um batalhão meus irmãos ficaram zoando comigo dizendo que eu tinha dado um passo maior que a perna mas sabe de uma coisa minha filha apesar de toda essa confusão Eu não me arrependi de nada a Elsa era a mulher da minha vida
e eu sabia disso a gente voltou pra nossa casinha depois dessas visitas mais unidos do que nunca antes de continuar falando da Elsa deixa te contar umas coisas que aconteceram antes coisas que a gente nem costuma falar sabe mas acho que você precisa saber já que lá na frente vou ter que contar de qualquer jeito é algo que muitos homens da minha época guardavam como segredo sujo eu tinha 17 anos quando fui pela primeira vez na casa da Paineira era o nome que davam pro lá da minha cidade ficava na beira da estrada um lugar
que parava caminhoneiro do Brasil inteiro de dia parecia só mais um bar de beira de estrada mas de noite virava um antro de perdição foi meu irmão mais velho o Tonho que me levou ele já tinha ido outras vezes Chico ele falou já tá na hora de você virar homem de verdade o lugar era uma casa grande com umas luzes fracas na frente quando entrei Senti o cheiro forte de perfume misturado com cachaça e cigarro a música alta mal abafava os gem vindos dos quartos as mulheres de lá todas elas tinham nome de flor lembro
da Rosa da Margarida da Violeta acho que era para esconder quem elas eram de verdade foi a Rosa que tirou minha virgindade ela devia ter uns 30 anos os olhos carregavam uma tristeza profunda foi rápido sem muita conversa depois fiquei com uma sensação estranha meio envergonhado acabei voltando L outras vezes cada vez que ia gastava quase todo o dinheiro que ganhava trabalhando na roça com meu pai e meus irmãos dava uma parte em casa claro mas o resto ia tudo pra casa da Paineira via homens casados pais de família maridos de vizinhas todos fingindo que
não se conheciam era um pacto silencioso de traição ninguém contava de ninguém meu próprio avô tinha levado meu pai lá pela primeira vez meu pai só parou quando casou jurando fidelidade a minha mãe nunca mais botou os pés lá ele dizia homem casado tem que respeitar a mulher e olha que na época dele era ainda mais comum essas coisas mas meus irmãos mesmo casados continuavam frequentando o lugar com menos frequência mas deixar de ir Isso Nunca deixaram eu era contra isso não achava certo talvez por isso que decidi ir embora paraa cidade um dia percebi
que daquele jeito eu nunca ia ter nada na vida tava sempre sem dinheiro sempre devendo Foi aí que decidi que precisava mudar de vida tinha um primo meu o Dionísio que trabalhava na cidade numa fábrica resolvi que ia tentar a sorte por lá também quando falei que ia pra cidade meus irmãos acharam que eu tava ficando doido vai largar a terra por uma fábrica eles falavam mas eu tava decidido não queria acabar como eles casado cedo cheio de filho e ainda assim indo paraa casa da Paineira escondido das mulheres foi difícil no começo viu a
cidade era um mundo diferente mas pelo menos eu tava longe daquela tentação nos primeiros meses às vezes dava uma vontade de procurar um lugar parecido na cidade mas eu resistia queria juntar um dinheiro ter uma vida melhor e foi assim que eu tava vivendo quando conhecia a Elsa quando olhei nos olhos dela pela primeira vez entendi o que meu pai queria dizer sobre respeitar a mulher era diferente de tudo que eu tinha sentido antes essas experiências me ensinaram muito me fizeram valorizar o amor de verdade o companheirismo não contei para Elsa sobre a casa da
Paineira talvez devesse ter contado mas naquela época a gente não falava dessas coisas olhando para trás agora vejo como era tudo errado os homens achavam que podiam fazer o que queriam que era normal trair as mulheres coitadas tinham que aceitar ou fingir que não sabiam não era certo não mas era assim que as coisas funcionavam quando casei com a Elsa prometi para mim mesmo nunca mais ia pisar num lugar daqueles e cumpri viu mesmo nos momentos mais difíceis do nosso casamento nca procurei outras mulheres bom voltando à Vida de Casado depois daquelas visitas às famílias
a gente voltou PR nossa rotina eu e a Elsa trabalhando na fábrica sonhando com um futuro melhor a gente era jovem cheio de planos mas sabe como é né a vida às vezes tem outros planos pra gente não demorou muito e a Elsa engravidou foi uma surpresa e tanto a gente tinha combinado de esperar um pouco mais aconteceu lembro do dia que ela me contou Tava toda nervosa tremendo chegou em casa do trabalho mal tocou na janta depois me chamou no quarto e contou eu fiquei sem saber o que dizer no começo mas depois abracei
ela forte vamos dar um jeito falei no fundo eu tava feliz mas também assustado o João nasceu 9 meses depois um menino forte saudável com um par de de pulmões que fazia a vizinhança toda saber quando tava com fome a Elsa deixou o trabalho na fábrica para cuidar dele no começo ela até gostou ficava o dia todo com o bebê cuidando da casa eu chegava do trabalho e encontrava tudo arrumadinho comida na mesa eu tava gostando da vida de pai de família mas a lua de mel Não durou muito logo a cândida veio sem a
gente planejar E aí as coisas começaram a ficar pesadas para Elsa dois bebês pequenos a casa para cuidar e eu trabalhando cada vez mais para dar conta das despesas o dinheiro curto as noites mal dormidas tudo isso foi pesando sem contar que o leite da Elsa não era suficiente descobrimos quando tivemos que ir ao médico a gente não entendia porque a menina chorava tanto o d explicou que era porque estava com fome o leite do peito não estava dando conta para manter a fórmula que era louca de cara tivemos que mudar de casa fomos para
um lugar um pouco mais longe do meu trabalho onde o aluguel era mais barato mas eu me lasquei todo porque tinha que acordar bem mais cedo e chegava bem mais tarde em casa foi nessa época que as brigas começaram a ficar mais frequentes a Elsa foi ficando cansada irritada às vezes eu chegava em casa e ela tava chorando com as crianças berrando tentei ajudar como podia mas não era fácil chegava do trabalho e mesmo cansado ainda dava uma mão trocava fralda dava mamadeira tentava fazer o João dormir mas parecia que nunca era suficiente a gente
mal tinha tempo para conversar direito aqueles sonhos de estudar de ter um negócio próprio foram ficando para trás a vida era só trabalho e cuidar das crianças a Elsa que antes falava em fazer faculdade agora mal tinha tempo de ler o jornal e então veio a bomba a Elsa engravidou de novo dessa vez eram gêmeos quando o médico falou achei que ela ia desmaiar ali mesmo no consultório tive que segurar ela para não cair Pedro e Paulo nasceram fortes mas a Elsa ah a Elsa parecia que tinha perdido o brilho nos olhos quatro crianças pequenas
uma casa para cuidar e uma mulher cada vez mais distante a Elsa não era mais aquela moça Alegre que eu conheci na fábrica agora Ela vivia cansada de olheiras fundas cabelo sempre preso num coque mal feito às vezes eu olhava para ela e mal reconhecia minha mulher as coisas foram piorando aos poucos a Elsa ficava cada vez mais distante como se tivesse se perdido em algum lugar entre as fraldas sujas e as mamadeiras às vezes eu chegava em casa e encontrava as crianças sozinhas chorando o João com 4 anos tentando acalmar os irmãos menores a
Cândida de do anos com a fralda tão cheia que vazava pelas pernas as fraldas de pano se acumulavam num canto da área de serviço criando mau cheiro uma vez cheguei a ver umas larvinhas se mex no meio daquela sujeira toda era de revirar o estômago a casa que antes era o orgulho da Elsa agora estava sempre uma bagunça pratos sujos na pia roupa espalhada brinquedos por todo lado eu tentava ajudar lavava as fraldas no tanque nos fins de semana esfregando até meus dedos ficarem em carne viva mas parecia que nada era suficiente mal acabava de
lavar uma pilha já tinha outra esperando Olha minha filha tem uma coisa que eu ainda não contei é meio constrangedor falar sobre isso mas faz parte da história mesmo com toda aquela situação complicada eu ainda era um homem jovem entende às vezes quando as crianças estavam dormindo eu procurava a Elsa Como marido tentava me aproximar fazer um carinho mas a Elsa era tinhosa não deixava eu nem chegar perto me repreendi dizia que eu não tinha noção você está vendo essa bagunça toda e ainda tem cabeça para esse tipo de coisa Chico Ela sempre me fazia
sentir culpado sabe como se eu fosse um insensível só pensando naquilo mas não era assim eu só queria um pouco de afeto um pouco de consolo no meio daquela vida difícil uma vez insisti um pouco mais fui passando a mão por baixo do vestido dela mas aí ela virou uma onça me empurrou com tanta força que quase caí da cama sai daqui Chico você não percebe que eu não quero ela gritou eu fiquei arrasado Passei o dia lavando fraldas e louças achei que ela iria me recompensar mais nada fui rejeitado de novo continuamos dormindo na
mesma cama mas era como se houvesse um muro invisível entre nós e assim passamos mais de C meses até que ela me disse uma noite Chico Eu amo eles mas eu não aguento mais não era isso que eu queria para minha vida eu queria estudar trabalhar fora ser alguém agora olha para mim tentei consolar ela dizer que as coisas iam melhorar falei que quando os meninos crescessem um pouco ela poderia voltar a estudar mas no fundo eu também tava perdido outra noite depois de mais uma discussão por causa das Fraldas sujas acumuladas a Elsa olhou
para mim com os olhos cheios de lágrimas e disse isso não é vida Chico eu não nasci para isso às vezes eu olho pras crianças e não sinto nada só cansaço Aquilo me assustou tentei abraçar ela mas a Elsa se afastou naquela noite dormi no sofá pensando no que fazer para salvar meu casamento quando acordei madrugada com o choro dos gêmeos fui pro quarto chamar a Elsa mas ela não tava lá a cama ainda tava arrumada como se ninguém tivesse dormido nela procurei pela casa toda chamei gritei nada as crianças Acordaram com a confusão começaram
a chorar também foi então que vi o bilhete na mesa da cozinha Embaixo de uma xícara de café pela metade Chico não aguento mais preciso ir amo as crianças mas não consigo ser a mãe que elas merecem me perdoa Elsa a Elsa tinha ido embora me deixou sozinho com quatro crianças pequenas naquela hora senti o mundo desabar o choro das Crianças parecia distante Como se eu tivesse mergulhado num pesadelo mas não tinha tempo para chorar as crianas precisavam de mim troi as fraldas dos gêmeos Pedro e Paulo com apenas meses dei mamadeira para cândida fiz
o João parar de chorar prometendo que a mamãe logo voltaria menti pro meu próprio filho tentando acreditar na mentira eu mesmo o que aconteceu depois naquela madrugada depois que acalmei as crianças fui naquela cozinha e resolvi ler o bilhete da Elsa novamente minha cabeça girava tentando processar o que tinha acabado de acontecer Será que a Elsa foi só dar uma volta para esfriar a cabeça e logo vai voltar Será que ela foi embora mesmo mas vai voltar arrependida daqui a pouco as perguntas sem respostas não paravam de surgir na minha mente Lembrei de todas as
vezes que a Elsa tinha reclamado do cansaço das noites mal dormidas dos sonhos adiados como é que eu não tinha visto que as coisas estavam tão ruins assim me sentiam fracassado um marido incompetente que não conseguia ajudar a própria mulher de repente senti as pernas fraquejarem me apoiei na pia da cozinha as mãos tremendo tanto que mal conseguia segurar na borda Foi então que o choro veio um choro de desespero que eu nunca tinha sentido antes chorei Como Criança soluçando mesmo me sentia um inútil um homem que não foi capaz de manter sua família unida
como é que eu ia explicar isso pros meus filhos como é que eu eu ia criar quatro crianças sozinho não sei quanto tempo fiquei ali chorando na cozinha escura Mas então como se fosse um tapa na cara para me acordar daquele pesadelo ouvi de novo o choro das Crianças vindo do quarto a verdade é que com Elsa ou sem Elsa eu tinha quatro bocas para alimentar e nenhuma ideia de como fazer isso sozinho aquelas crianças eram minhas eram minha carne e meu sangue se a Elsa tinha desistido delas eu não podia fazer o mesmo passei
a noite em claro cuidando das Crianças tentando colocar a casa em ordem quando o sol nasceu a ficha finalmente caiu eu era um pai solteiro com quatro filhos pequenos não tinha como avisar o trabalho que ia faltar telefone que nada luxo de rico na nossa rua só o armazém da esquina que tinha um eu não podia sair de casa e deixar as crianças sozinhas para ir até lá pela primeira vez em anos simplesmente não fui trabalhar fiquei em casa me virando como podia com as crianças o tempo todo pensando no que ia dizer pro supervisor
quando Voltasse a verdade nem pensar a vergonha era grande demais imaginei as fofocas na fábrica o Francisco sempre tão certinho faltou sem avisar Será que bebeu Será que tá doente ninguém quem ia imaginar a verdade que a Elsa tinha ido embora me deixando sozinho com os filhos fiquei pensando que talz elaia ter vola dos paisa as horas passam devagar as crianas choravam pediam pela mãe cada vez que olhava relógio pensava no supervisando minha falta noiro que ia perder por esse dia não trabalhado dinheiro que já fazia falta antes imagina agora menos de uma semana depois
as latas de leite que eu tinha guardada já tinha secado raspava o fundo da lata com a colher tentando tirar até o último pozinho para fazer a mamadeira dos gêmeos e da cândida a verdade é que mamar no peito só o João mamou bem os outros o leite da Elsa era pouco como já te disse o médico disse que os gêmeos também tinham que tomar a fórmula o arroz e o feijão também tav no fim só tinha sobrado umas batatas e meia dúzia de ovos eu não voltei ao trabalho a vergonha de explicar o que
tinha acontecido Era grande demais e pedir ajuda pros vizinhos nem pensar o orgulho não deixava mas não podia deixar as crianças com fome eu tava encurralado não tinha mais jeito ia ter que sair para comprar mantimentos leite pros pequenos comida pra gente no fundo bem no fundo ainda tinha uma pontinha de esperança cada vez que ouvia um barulho no portão meu coração disparava será que é ela voltando Será que ela se arrependeu e tá voltando para casa foi então que Deus ouviu minhas preces numa tarde de domingo ouvi batidas no portão Era o Zé meu
amigo e padrinho de casamento ele estava com uma cara preocupada Chico que que tá acontecendo Faz quro dias que você não aparece na fábrica o pessoal tá quando ele entrou e viu o estado da casa os olhos dele se arregalaram as fraldas sujas espalhadas a louça acumulada na pia as crianças chorando por um momento vi terror passar pelo rosto dele meu Deus Chico a Elsa ela não a ele não conseguiu terminar a frase mas entendi o que ele estava pensando achava que tinha acontecido uma tragédia que a morrido não aguentei desabei ali mesmo na frente
dele contei tudo entre soluços como a Elsa tinha ido embora me deixando sozinho com as crianças como eu tava perdido sem saber o que fazer o Zé me abraçou forte deixando eu chorar no ombro dele depois que me acalmei um pouco Ele olhou nos meus olhos e falou Chico você não tá sozinho nessa a gente vai dar um jeito primeiro Vamos dar um trato nessa casa e alimentar essas crianças Depois a gente pensa no resto ali naquele momento senti um alívio que não sentia há dias finalmente tinha alguém para me ajudar alguém para compartilhar o
peso daquela situação o Zé passou o resto do dia me ajudando ele e a Conceição tinham três filhos pequenos também ele sabia tudo o que fazer enquanto ele foi no mercadinho eu fiquei a casa depois voltou com o leite das crianças e umas sacolas cheias de comida demos banho nas crianças fizemos comida já era noite quando as crianças já estavam dormindo o Zé sentou comigo na cozinha Chico você não pode continuar assim precisa voltar pro trabalho eu vou falar com o supervisor amanhã que a segunda-feira explicar a sua situação e vou ver se consigo alguém
para te ajudar com as crianças o dia tentei protestar dizer que não precisava mas no fundo eu sabia que ele estava certo Não podia continuar daquele jeito Obrigado Zé falei não sei o que seria de mim e das crianças sem você Ele deu um tapinha nas minhas costas e sorriu para isso que serve os amigos Chico a gente vai superar isso junto naquela noite dormi um pouco mais tranquilo ainda tinha um longo caminho P mas pelo menos agora eu não estava mais sozinho nessa fase ruim da minha vida o Zé ajudou como prometeu mas a
coisa era mais complicada do que a gente pensava Voltei pro trabalho mas e as Crianças onde é que eu ia deixar acabei deixando na casa da dona Adelaide uma senhora que cuidava dos meninos do bairro mas aquilo não era o ideal não era só uma casa cheia de criança correndo para todo lado sem ninguém para olhar direito Fui até na creche do governo ver se arrumava uma vaga a mocinha lá me olhou com uma cara de dó que só vendo seu Francisco vai ter que esperar tem fila pode demorar meses voltei para casa com o
rabo entre as pernas não tinha jeito era deixar com a dona Adelaide mesmo todo dia de manhã meu coração apertava de deixar meus pequenos lá tinha criança demais naquela casa e a senhora não dava conta não um dia a cândida egou com uma mordida Funda no ombro quase Perdi a cabeça mas o que eu podia fazer brigar com uma criança reclamar com a dona Adelaide e correr o risco de perder o único lugar que eu tinha para deixar meus filhos no trabalho a situação não estava melhor o povo cochichando olhando de rabo de olho parecia
que eu tinha virado bicho de circo o coitado que a mulher abandonou com quatro crianças pequenas a vizinhança era a mesma coisa cichos para todo lado quando eu passava com as crianças algumas pessoas até ofereciam ajuda mas eu sabia que era só para assuntar mesmo não aguentava mais aquela situação dois meses e meio depois que a Elsa foi embora tomei uma decisão não dava mais para continuar daquele jeito as crianças mereciam algo melhor e a verdade era Clara eu não estava dando conta sozinho uma noite depois dear crianas para dormir sentei na cozinha e chorei
muito de cansaço de raiva de saudade da vida que eu tinha antes foi aí que tomei a decisão mais difícil da minha vida voltar pra casa da minha mãe fui conversar com o chefe na fábrica expliquei a situação Afinal eram quase 9 anos trabalhados de carteira assinada pedi um acordo porque não podia simplesmente largar o emprego sem nada no bolso o homem foi compreensivo graças a Deus olha Chico ele disse a gente pode fazer o acerto mas o dinheiro só daqui a uns dias tem que passar pela contabilidade entende eu entendi Não era o ideal
mas pelo menos ia receber um bom acerto para recomeçar a vida com as crianças na minha cidade natal aceitei na hora voltei para casa e comecei a arrumar nossas coisas não era muita coisa não a gente morava de de aluguel eu resolvi deixar os móveis não dava para levar sem contar que eram muito velhos juntei o que dava umas roupas das Crianças uns brinquedos umas panelas que a Elsa tinha deixado para trás tudo Coube em duas malas velhas e uma caixa de papelão olhando aquilo tudo me bateu uma tristeza se anos de casado quatro filhos
e era só isso que a gente tinha era hora de seguir em frente fui falar com o dono da casa expliquei a situação ele até que foi compreensivo não cobrou o mês que tava correndo combinei de mandar a chave pelo zé depois que a gente partisse a vida não tava fácil não mas pelo menos eu tinha para onde ir muita gente não tem nem isso na manhã que a gente ia pegar a jardineira olhei uma última vez paraa casa ali tinha sido meu lar o lugar onde fui feliz com a Elsa onde meus filhos nasceram
agora era só uma lembrança triste vamos Chico o Zé falou pegando um dos gêmeos no colo está na Hora de Recomeçar tranquei a porta e seguimos pra rodoviária a viagem foi longa as crianças choraram muito no começo mas depois o barulho da jardineira foi acalentando E eles dormiram o Zé coitado passou a viagem toda me ajudando com os pequenos não sei o que seria de mim sem aquele amigo e assim com o coração pesado mas com uma pontinha de esperança parti rumo à casa da minha mãe não sabia o que me esperava Mas sabia que
não podia mais continuar daquele jeito olhava PR os meus filhos dormindo e rezava para estar fazendo a coisa certa Dona Perpétua do Socorro quase desmaiou quando me viu na porta com quatro crianças pequenas e umas poucas malas meu filho o que aconteceu ela perguntou já pegando o Pedro no colo contei tudo ali mesmo na porta já que a mãe já foi pensando que a Elsa tinha morrido eu tive que explicar o mais rápido que pude para ela não passar mal minha mãe ouviu em silêncio balançando a cabeça quando terminei ela só disse entra Meu filho
essa agora é a sua casa e dos meus netos depois que a gente chegou J Zé tomou um café rápido com a gente ele tava com pressa não queria perder a jardineira de volta pra cidade que tinha horário certo para passar na hora que ele foi se despedir não aguentei as lágrimas vieram sem que eu pudesse controlar o Zé também ficou emocionado a gente se abraçou forte como irmãos obrigado Zé falei você é um amigo e tanto não sei o que seria de mim e das crianças sem você o Zé deu um tapinha nas minhas
costas que é isso Chico você faria o mesmo por mim fiquem com Deus o Zé falou por fim cuida dessas crianças e quando der manda notícias a senti com a cabeça ainda emocionado demais para falar vi o Zé se afastando acenando uma última vez antes de virar a esquina estava com o coração apertado mas cheio de gratidão pelo amigo fiel que Deus tinha colocado no meu caminho a mãe também se emocionou vendo aquela cena depois que o Zé se foi minha mãe começou a olhar Neto por Neto com os olhos cheios d'água que crianças perfeitas
meu filho ela disse a voz embargada a mãe não conhecia nenhum deles a última vez que nos vimos foi aquela vez que te contei que eu e a Elsa fomos lá depois de casados ela Estava emocionada e triste ao mesmo tempo Francisco ela me chamou baixinho enquanto as crianças brincavam no quintal me diz uma coisa você não traiu a Elsa né conhecendo seu passado naquele eu olhei nos olhos dela sério mãe eu juro de pé junto que não depois que casei a Elsa nunca mais olhei para outra mulher ela me fitou por um momento então
assentiu eu acredito em você meu filho você é igual seu P A mãe pegou o Pedro no colo que já estava choramingando de sono coitadinhos devem estar exaustos da viagem Vamos ajeitar Tudo para eles dormirem enquanto arrumámo-lo [Música] [Música] sei que não vai ser fácil ela me interrompeu com um abraço apertado Meu filho essa é a sua casa e dos meus netos a gente vai dar um jeito Deus não dá um fardo maior do que a gente pode carregar naquela noite quando me deitei ao lado das Crianças eu chorei silenciosamente de alívio de medo de
saudade da vida que eu tinha antes mas também de gratidão pelo Zé pela minha mãe e pela chance de recomeçar na manhã seguinte acordei com o cheiro de café fresco e o canto do galo por um momento me senti de volta à infância mas logo a realidade me atingiu quando vi meus filhos dormindo ao meu lado eles sempre acordavam na madrugada mas dessa vez eles estavam tão cansados que Dormiram a noite toda Que judiação para mim foi bom também precisava muito dormir fui até a cozinha onde encontrei minha mãe já ativa preparando o café da
manhã o quintal que eu podia ver pela janela estava cheio de vida a horta bem cuidada as galinhas ciscando Bom dia mãe falei me Sentando à mesa Bom dia meu filho ela respondeu colocando uma xícara de café na minha frente dormiu bem olhei ao redor a casa parecia tão quieta a senhora tem ficado sozinha aqui todo esse tempo perguntei ela assentiu com riso triste é meu filho Desde que seu pai se foi há 10 anos tenho tocado as coisas sozinha cuido da horta das Galinhas me mantenho ocupada senti uma pontada de culpa fazia tanto tempo
que eu não voltava para casa ocupado com minha própria vida na cidade e por fim só voltei porque precisei me senti péssimo e meus irmãos mãe como estão o José está bem trabalhando aqui mesmo na cidade é um bom marido um bom pai o Pedro se mudou para a capital há uns anos arrumou um emprego bom lá o Tonho continua por aqui trabalha na oficina mecânica do seu Juvenal e a Rita você soube acabou de se casar faz uns dois meses com o filho da Dona enersa o Claudomiro lembra balancei a cabeça lembrando sim e
o Tonho mãe ele ele se aquietou minha mãe suspirou Ah meu filho o Tonho é o Tonho né continua com aquele jeito dele mas pelo menos está trabalhando passa aqui de vez em quando para me ajudar com alguma coisa da casa mãe me desculpa por ter ficado tanto tempo sem vir sem dar notícias ela colocou a mão sobre a minha não se preocupe com isso agora meu filho O importante é que você está aqui e agora temos quatro anjinhos para cuidar nesse momento ouvimos o choro de um dos gêmeos minha mãe sorriu vá lá cuide
dos seus filhos eu termino de preparar o café da manhã para eles temos muito o que conversar mas agora não é hora as crianças precisam de você os dias foram passando e não demorou muito pros meus irmãos aparecerem o José sempre calado chegou primeiro não falou muito mas ficou ali do meu lado me dando apoio às vezes um olhar um tapinha nas costas vale mais que mil palavras o Tonho aquele desbocado depois que soube fez o maior alvoroço cadê aquela vagabunda ele gritava Deixa eu pôr as mãos nela que vai ver só deixa para lá
Tonho eu falei não vai adiantar nada agora a Rita minha irmãzinha Caçula foi um anjo mal tinha se casado e já tava lá todo dia ajudando a cuidar das crianças o marido dela ia pro trabalho e ela vinha pra casa da mãe dizia que estava treinando para quando tivesse os dela eu via nos olhos dela a tristeza e raiva os dias foram passando e aos poucos a gente foi se ajeitando a mãe e a Rita cuidavam das Crianças enquanto eu procurava serviço o Tonho até me arrumou umas diárias na oficina do seu Juvenal não era
muito mas já ajudava Sem falar que eu não entendia nada de mecânica mas era melhor que trabalhar na roça de sol a sol eu sabia bem disso já que minha infância toda foi assim depois de um mês morando com a mãe tive que voltar pra cidade precisava pegar o acerto da fábrica onde eu tinha trabalhado por quase 9 anos na época não era fácil conseguir emprego com carteira assinada e eu tinha ficado lá todo esse tempo peguei a jardineira bem cedinho a viagem foi longa mais bem mais fácil sem as crianças eu me lembro bem
de sentir um vazio viajando sozinho tive muito tempo para refletir pensava em Elsa Será que ela não amava as crianças pois na minha cabeça era impossível imaginar minha vida sem eles cheguei na cidade já era quase meio-dia fui direto pra fábrica com o coração na mão Será que iam me pagar direito a gente sempre ouvia histórias de patrão que dava calote nos empregados graças a Deus o supervisor seu Adalberto era um homem de palavra me recebeu na sala dele todo formal Francisco ele disse aqui está seu acerto tudo certinho Como manda a lei quando viu
valor quase caí para trás era muito dinheiro pros padrões da época era uma pequena Fortuna dava para comprar uma vaca leiteira quem sabe até um pedacinho de terra ou então guardar para quando as crianças precisassem de de algo importante saí da fábrica me sentindo meio tonto nunca tinha segurado tanto dinheiro na mão quer dizer eu guardava tudo na minha pochete que ficou bem gordinha recheada Naquele tempo não tinha esse negócio de depositar em banco não era tudo em dinheiro vivo mesmo Pensei quando chegar em casa eu decido junto com a mãe como gastar esse dinheiro
eu estava com muito medo de ser assaltado mas foi quando saí da sala do seu Adalberto que tudo começou a virar um pesadelo todo mundo me olhava de um jeito diferente mas eu não entendia o porqu me cumprimentavam e depois abaixavam a cabeça desviavam o olhar eu estava procurando meu amigo Zé pois não poderia ir embora sem dar um oi quando avistei o Zé Ele demonstrou felicidade mas depois mudou o semblante Então eu vi que algo muito sério estava acontecendo o Zé falou Chico ele disse baixinho preciso conversar com você mas agora não dá me
espera e depois do expediente vou te contar algo que você precisa saber é importante fiquei intrigado mas concordei tive que ir para fora da fábrica eram umas 3:30 da tarde eu fiquei plantado lá para fora tentando imaginar mil coisas com aquela dinheirama toda morrendo de medo de um bandido me ver mas dali eu não arredava o pé quando o turno Acabou às 7 da noite O Zé me chamou para ir no barzinho ali perto o Zé estava sério demais sentamos numa mesa no canto o Zé pediu duas cervejas e ficou um tempo em silêncio como
se não soubesse por onde começar Chico ele finalmente falou tô te falando isso porque sou teu amigo tá rolando uns boatos por aí sobre a Elsa Senti meu coração apertar Que tipo de boato Zé ele suspirou fundo dizem que a Elsa não sumiu do nada não que ela bem que ela fugiu com o Paulinho o filho do seu Geraldo foi como se o chão tivesse sumido debaixo dos meus pés o Paulinho o filho do dono da nossa antiga casa aquela casa que a gente teve que sair quando a cândida nasceu lembra Pois é parece que
eles estavam de caso Desde aquela época todo mundo sabia menos eu o Zé continuou me contando tudo que estava sabendo de conversa pela cidade que a Elsa e o Paulinho eram amantes que todo mundo sabia menos eu senti o chão sumir debaixo dos meus pés um gosto amargo tomou conta da minha boca parecia que tinha engolido féu as vozes ao meu redor foram ficando distantes Por que ninguém me contou antes consegui perguntar depois de um tempo o Zé baixou os olhos eu nunca soube Chico se soubesse tinha te falado saí do bar feito um zumbi
arrastando os pés pelas ruas que antes me eram tão familiares agora cada esquina cada árvore cada banco de Praça parecia zombar de mim gritando em silêncio traído todo mundo sabia menos você seu corno idiota os coxos me perseguiam quando eu me aproximava as pessoas paravam de falar e me olhavam com a aquela cara de pena eu queria gritar queria sumir queria que a terra me engolisse o dia tinha sido um pesadelo e estava longe de acabar na estação mais uma pancada a próxima jardineira só sairia no dia seguinte já que me enrolei tanto conversando com
o Zé acabou ficando tarde então resolvi passar a noite na pensão da dona Jurema onde eu morava antes de casar com a Elsa eu queria morrer só queria sumir daquela cidade e nunca mais dar as caras por ali de tanta vergonha foi aí que o mundo desabou de vez a pensão fervilhava de olhares e sussurros os vizinhos me encaravam com pena e constrangimento a Dona Zulmira Fofoqueira de Plantão não se conteve seu Francisco eu sinto muito pelo o que o senhor está passando Eu fingi de bobo mesmo doendo fundo eu queria saber o que estavam
falando o que todos sabiam ela falou tanta coisa que olha é preciso ter forças para ouvir ela dizia seu Francisco o senhor não sabe da missa à metade a Elsa tava de caso com o Paulinho há anos todo mundo via ele se agarrando pelos cantos Quando o senhor ia pra fábrica e tem mais a sua menina não é sua nem os gêmeos o senhor não reparou que eles não parecem nada com o senhor Dizem que o Paulinho é que é o pai de verdade Por que o senhor não procura a Elsa e devolve os filhos
para ela Ave Maria que situação O senhor é um santo viu sabe minha filha eu nunca tive vontade de bater em mulher mas sinceramente me passou pela cabeça dar um tapa na cara daquela boca de serpente venenosa a vergonha e a dor me consumiam enquanto eu digeria o fato de que era o último a saber da minha própria desgraça cada palavra da dona Zumira era como uma punhalada como é que eu ia olhar PR as crianças agora como é que eu ia encarar minha mãe meu Deus do céu que situação voltei pra casa da minha
mãe arrasado senti um nó no estômago que não passava a vergonha era tanta que eu mal conseguia olhar nos olhos da minha mãe dos meus irmãos como é que eu ia contar PR os meus filhos que a mãe deles não só tinha abandonado eles mas tinha fugido com outro homem e mais Será que aquelas crianças eram minhas naquela noite chorei como criança no colo da minha mãe chorei de raiva de tristeza de Humilhação a mãe só ficava passando a mão na minha cabeça rezando baixinho Deus sabe o que faz meu filho ela dizia essa Cruz
que ele te deu é porque sabe que você é forte o suficiente para carregar nos dias que se seguiram foi difícil demais cada vez que eu olhava pro João pra Cândida pros gêmeos meu coração apertava como é que eu ia explicar para eles como é que eu ia proteger eles dessa verdade tão dolorosa decidi que por enquanto ia manter a história que a gente tinha inventado que a mãe tinha ido trabalhar longe que um dia ela voltava era mentira eu sabia mas naquele momento parecia ser a única coisa que eu podia fazer para proteger meus
filhos a vida continuou sabe tinha que continuar as crianças precisavam comer precisavam de roupa de carinho não dava para ficar parado chorando Pitanga Mas cada dia era uma luta acordava de manhã com aquele peso no peito aquela vontade de não levantar da cama mas aí ouvia o choro de um dos gêmeos ou o João chamando pai binca comigo e tinha que seguir em frente sabe a cândida era minha menina Manhosa sempre querendo colo morria de ciúmes dos Men queria por toda a lei que eu pegasse ela em vez deles Olha tinha sim a dúvida da
paternidade mais para mim aquelas crianças eram minhas E aí de quem falasse que não foi a fé em Deus e o amor pelos meus filhos que me deram força para continuar a mãe que sempre foi muito devota me disse uma coisa que ficou martelando na minha cabeça meu filho talvez tudo isso tenha acontecido porque você se afastou da igreja a gente precisa estar perto de Deus nos bons e nos maus momentos ela tinha razão Fazia anos que eu não pisava numa igreja a não ser em casamento ou batizado resolvi então que era hora de voltar
paraas missas de domingo no começo não foi fácil levar as crianças pequenas pra igreja Ave Maria mas graças a Deus a paróquia do Sagrado Coração de Jesus tinha uma salinha pros pequenos as freiras cuid deles durante a missa ensinando catecismo e histórias da Bíblia assim eu conseguia prestar atenção no que o Padre Antônio falava As palavras dele eram um bálsamo para minha alma ferida ele sempre dizia meus filhos é nas dificuldades que nossa fé se fortalece me diga minha filha você acha que eu fiz certo em acolher as crianças como minhas mesmo sabendo que talvez
não fossem meu sangue devia ter feito o que a dona Zumira sugeriu e devolvido eles pra da Elsa aquela mulher que me traiu e abandonou sem dó nem piedade bom eu fiz o que meu coração mandou e sabe de uma coisa não me arrependo nem um pouquinho comecei a rezar o terço toda a noite com as crianças antes de dormir o João que já era maiorzinho até decorou a Ave Maria a cândida gostava de segurar o terço da vovó aquele de contas azuis que ela trouxe de Aparecida aos domingos depois da missa a gente ficava
um pouco na Praça da Matriz as crianças brincavam no parquinho tinha balanços gangorras a mãe estava certa voltar pra igreja me deu um novo ânimo sentia que não estava sozinho nessa luta tinha Deus Nossa Senhora e toda a comunidade da Paróquia me apoiando bom a gente sabe sa que sempre tem um ou outro que só vai pra igreja para fofocar Mas aí não era um problema meu eu ia para rezar e principalmente pedir uma direção na minha vida e se eu te contar que até então eu não sabia o que fazer com o dinheiro do
meu acerto era um segredo meu e da mãe guardava numa lata de bolacha escondida bem no fundo do armário da cozinha toda a noite antes de dormir eu rezava pedindo uma luz uma ideia do que fazer com aquele dinheiro foi numa dessas idas à igreja num domingo de manhã que tive um pensamento veio assim de repente enquanto eu estava ajoelhado rezando depois da comunhão senti que era a resposta às minhas orações pois surgiu do nada como se alguém tivesse sussurrado no meu ouvido lembrei da dona Adelaide de como era difícil Deixar meus filhos lá e
pensei E se eu fizesse um lugar melhor para as crianças foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça saí da igreja naquele dia com o coração cheio de esperança e a cabeça fervilhando de ideias já aconteceu com você depois de uma oração sentir ou ouvir que a resposta chegou assim coisa que você nem tinha pensado antes às vezes parece que Deus fala com a gente de um jeito que a gente nem espera não é mesmo me conta aí nos comentários se você já teve uma experiência parecida sua opinião é é importante para mim
naquela mesma tarde sentei com a mãe e contei meu plano ela me olhou com aqueles olhos cheios de Sabedoria e disse meu filho isso só pode ser coisa de Deus vai em frente que ele vai te abençoar agora vou te contar como foi que abri minha creche foi uma loucura viu mas olha Às vezes a gente precisa ser meio maluco mesmo para fazer alguma coisa que preste nessa vida a mãe dona Perpétua do Socorro me disse bem antes quando eu sugeri comprar uma casa para morar com as crianças foi logo quando trouxe o dinheiro da
cidade a mãe vendo que eu estava no fundo do poço por causa da descoberta Cruel da da Elsa ela disse meu filho não precisa se preocupar em comprar casa agora não pelo menos enquanto as crianças não crescerem um pouco vocês ficam aqui comigo então eu guardei o dinheiro e combinei com a mãe só usaria em último caso a mãe tinha a pensão pela morte do pai ela ainda não tinha se aposentado e eu sempre fazendo meus bicos aqui e ali Aquilo me deu uma ideia se eu não precisava gastar com casa podia investir em algo
para ajudar o povo da cidade e ganhar um dinheirinho também um dia andando pela cidade vi um Casarão antigo era de madeira viu tava meio caindo aos pedaços mas o terreno ave maria era uma bênção de tão grande fiquei olhando aquilo e pensei E se eu fizesse uma creche de verdade aqui fui atrás do dono era o seu Antenor um velhinho viúvo que mal saí de casa disse que precisava vender rápido porque a filha queria levar ele para morar com ela o coitado não estava muito bem de saúde negociei com ele expliquei minha ideia O
homem ficou todo animado seu Francisco el me disse pode ficar com a casa fechei o negócio na hora não foi caro Se fosse lá onde morava com a Elsa com certeza seria cinco vezes mais caro Peguei mais uma parte do dinheiro do acerto e comecei a reforma chamei o Tonho meu irmão que era bom de carpintaria para me ajudar o José também veio troue seus dois filhos que er moços a gente trou Umbu podres fizemos um banheiro a mais deixamos aquela casa uma belezura no quintal limpamos tudo tinha até umas árvores frutíferas lá no fundo
fiz um parquinho com balanço escorregador tudo que criança gosta até uma caixa de areia eu botei viu dentro da casa dividi os cômodos fiz uma sala pros bebês outra pras crianças maiores um refeitório grande uma cozinha bem equipada com uns tachos dos grandes bastante merenda pros pequenos Aí pensei agora preciso de gente boa para trabalhar aqui mas o dinheiro já estava acabando e eu não podia me dar ao Luxo de contratar muita gente foi quando tive uma ideia Por que não pedir ajuda pra família falei com a mãe mãe a senhora não quer ser a
cozinheira da creche ninguém faz comida melhor que a senhora ela ficou toda animada com a ideia Claro meu filho vou fazer umas merendas que essas crianças vão se lambusar depois fui falar com a Rita minha irmã Rita você não quer me ajudar a cuidar das crianças lá na creche ela topou na hora disse que estava preocupada de ficar sem cuidar das minhas crianças só que eu sabia que precisava de mais alguém foi aí que a Rita me falou da Marinete uma amiga dela dos tempos de escola Chico A marinete tá precisando de emprego ela tem
jeito com criança podia ajudar a gente conversi com a Marinete e contratei ela era o único salário que eu ia ter que pagar no começo quando tava tudo pronto botei um cartaz na frente Creche Mãe Perpétua cuidamos do seu filho como se fosse nosso escolhi esse nome em homenagem a minha mãe claro as primeiras crianças a frequentar a creche foram as minhas imagina se não né o João a cândida o Pedro e o Paulo eles ficaram todos animados com a ideia de ter um lugar só para eles brincarem no primeiro dia apareceram várias mães e
pais mas eles só perguntavam quanto seria e iam embora fiquei preocupado achando que tinha feito besteira mas a verdade é que eu não estava cobrando caro sabia que o pessoal dali era pobre até fiz uma pesquisa para saber quanto era a mensalidade das escolinhas da região para eu poder cobrar um preço justo mas aí no dia seguinte apareceram cinco crianças no fim da semana tinha 12 o povo foi vendo que a creche era boa que a gente cuidava bem das crianças e foi espalhando a notícia Deus foi abençoando fiz questão de ter tudo certinho comida
na hora certa soneca depois do almoço brincadeiras no parquinho as crianças adoravam viu o meu João que já era maiorzinho ficava todo orgulhoso dizendo que o pai dele era o dono da creche uma coisa que fiz e que as mães gostaram muito foi mandar bilhetinho todo dia contando como a criança tinha passado Lembrei de como eu ficava preocupado quando deixava meus filhos com a dona Adelaide sem saber direito o que estava acontecendo logo a creche ficou famosa na cidade em menos de um ano já tinha até lista de espera tive que contratar mais gente as
mães trabalhadoras ficavam mais tranquilas sabendo que os filhos estavam bem cuidados uma coisa que me deixou muito feliz foi poder ajudar alguma as famílias que não podiam pagar tive uma ideia que achei que podia dar certo espalhei pela cidade que ia dar duas vagas de graça por TRS meses era um tempo para essas famílias se ajeitarem na vida sabe funcionava assim a gente escolhia duas famílias que estavam passando mais necessidade elas podiam deixar as crianças na creche de graça por 3 meses depois desse tempo ou elas começavam a pagar ou a gente passava a vaga
para outra família necessitada no começo fiquei com medo de não dar certo Afinal a gente já tava apertado de dinheiro mas sabe que foi a melhor coisa que fiz as pessoas ficaram sabendo e começaram a falar bem da creche diziam que a gente tinha coração lembro da primeira família que ajudamos era uma moça a Madalena que tinha ficado viúva com dois filhos pequenos ela chorou quando eu falei que podia trazer as crianças depois dos 3 meses ela já tinha arrumado um emprego e conseguiu continuar pagando lembrava de como foi difícil para mim no começo quando
fiquei sozinho com as crianças queria fazer a diferença na vida dessas famílias dar uma chance para eles se levantarem e sabe de uma coisa ver aquelas crianças felizes aqueles pais aliviados era lindo demais a creche estava indo bem as famílias adoravam e a gente seguia fazendo noss trabalho com muito amor e dedicação naquela época lá pelos anos 70 não tinha tanta regulamentação pra creche como tem hoje em dia um dia apareceu uma assistente social da prefeitura ela veio dar uma olhada no que a gente estava fazendo porque tinha ouvido falar bem da creche fiquei um
pouco nervoso mas ela foi bem simpática seu Francisco ela disse que trabalho bonito o senhor fazendo aqui só vi para melhorar ainda mais ela sugeriu umas coisas simples ter um caderninho para anotar as vacinas das crianças fazer um cardápio variado pras merendas essas coisas nada muito complicado O importante é que as crianças estejam bem cuidadas e felizes ela falou e pelo que estou vendo isso vocês já fazem com muito carinho fiquei aliviado não precisava de um monte de papel ou autorização complicada O Que contava mesmo era o cuidado com as crianças claro que a gente
seguiu as orientações dela fizemos até umas melhorias a mais pedi pro Tonho fazer umas prateleiras novas pros brinquedos organizamos melhor os espaços as mães ficaram todas contentes quando souberam que até a moça da prefeitura tinha gostado da creche naquela época era assim o que valia mesmo era a boa vontade e o trabalho honesto a gente fazia o melhor que podia com o que tinha e as pessoas reconheciam isso o tempo passou voando viu as crianças foram crescendo a creche prosperando e a vida foi ficando mais fácil eu já tava até me sentindo um homem de
negócios Imagine só mas aí num belo dia quando meus gêmeos já estavam com 5 anos aconteceu uma coisa que eu nunca imaginei era uma tarde de sexta-feira eu tinha ido em casa buscar uns Lençóis pros berços da creche a mãe tava com pressa dizendo que ia chover e que era para eu correr peguei os lençóis e já estava saindo pelo portão quando vi meu coração quase parou era ela a Elsa sinceramente achei que nunca mais ia ver aquela mulher na minha frente minha pressão deve ter baixado na hora fiquei até tonto ela tava ali parada
me olhando e vou te contar tava bonita demais toda arrumada maquiada Chico ela disse se aproximando com aquele cheiro de perfume gostoso podemos conversar fiquei sem reação pego de surpresa antes que eu pudesse responder ela já tava entrando passando bem pertinho de mim aquele cheiro dela Ave Maria me arrepiei todo é pecado eu sei não devia ter sentido isso mas sou de carne e osso eu estava sozinho em em casa todos estavam na creche ela entrou e foi direto pra sala se sentou no sofá cruzou as pernas toda elegante parecia uma artista de novela minha
filha se você me ouviu até aqui eu agradeço e se quiser continuar para saber o que a diaba da Elsa fez comigo de novo escreva nos comentários parte dois uma coisa eu te adianto as coisas que aconteceram vai te deixar de queixo caído não esquece de dar uma olhadinha no link do nosso livrinho dos 100 chás das avós para diversos males que o pessoal do canal preparou com tanto carinho para vocês são receitas maravilhosas para você e toda sua família Quando você compra além de ter acesso a esse conhecimento tão precioso ainda mostra o seu
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