Uma virgem de 19 anos pediu trabalho a um bilionário, mas a proposta que ele fez a fez tremer. Se você gosta de histórias lindas de amor e superação, deixa nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo. Eu quero muito saber.
Agora, aproveite essa linda história. A chuva caía fina sobre São Paulo naquela terça-feira de abril, pintando de cinza os vidros da cidade e o coração de Catarina. Com os tênis encharcados e o cabelo grudado na testa, ela atravessou a recepção do edifício Moret Holdings, segurando nas mãos trêmulas um envelope plástico com seu currículo e a esperança quase morta.
Ninguém ali parecia notá-la. As recepcionistas, todas bem maquiadas e de saltos altos, sequer a cumprimentaram quando ela entrou. Era como se a transparência tivesse se tornado pele.
E Catarina sabia que para alguém como ela, o mundo sempre seria feito de portas trancadas. Boa tarde. Eu eu gostaria de deixar um currículo para alguma vaga.
Qualquer uma disse com a voz firme, apesar do nó na garganta. A atendente a mediu dos pés a cabeça demoradamente. O olhar dizia tudo.
Não era digna daquele lugar. Mas ao invés de dispensá-la, apertou um botão sob a mesa e falou algo no interfone. Em seguida, virou-se para Catarina com um olhar mais contido.
"Pode subir, o Senr. Renato Moret irá vê-la. " Catarina congelou.
O senhor Morete? O próprio A mulher deu de ombros. Ele pediu para subir e o andar.
O elevador espelhado a levou rápido até o topo, mas seu coração parecia subir mais devagar. A cada número que aparecia no visor digital, ela pensava na mãe deitada na cama, na conta de luz vencida, no arroz que estava acabando na despensa. O estômago doía.
Ela não tinha nada além daquele envelope e sua dignidade. Quando a porta do elevador se abriu, um corredor luxuoso se revelou à sua frente. Tapetes finos, quadros modernos, perfume caro no ar.
No fim do corredor, uma porta de vidro se abriu automaticamente e ela foi recebida por um homem que parecia saído de um filme alto, cabelos escuros perfeitamente penteados, terno alinhado, barba bem feita. Mas o que mais chamou atenção foi o olhar, um cinza tempestuoso, frio, penetrante. "Catarina Souza?
", Ele perguntou sem sorrir. Ela sentiu com as mãos apertando o envelope com força. Eu sou Renato Morete.
Sente-se. Ela o fez, as mãos sobre o colo tentando esconder o nervosismo. Você não tem ensino superior, nem experiência em grandes empresas.
O que faz você achar que pode trabalhar aqui? Ela respirou fundo. Ele não a pouparia.
E ela não podia mentir. Eu não acho que sou a mais qualificada, senhor, mas sou a mais desesperada. Tenho força de vontade.
Sou dedicada, honesta, aprendo rápido. Minha mãe está doente e eu só preciso de uma chance. Renato a encarou por alguns segundos longos.
O silêncio parecia uma punição. Quantos anos você tem? 19.
Ele se recostou na cadeira, passando a mão no queixo. Você sabe onde está se metendo, Catarina? Esta empresa é um tubarão e você parece uma sardinha assustada.
Ela olhou diretamente nos olhos dele com firmeza inesperada. Não sou uma sardinha, senhor. Só estou cansada de nadar contra a correnteza.
Se o senhor não tem uma vaga para mim, eu entendo, mas obrigada por me ouvir. Ela fez menção de se levantar, mas ele levantou a mão, interrompendo-a. Espere.
Ela congelou. Você é diferente. Tem algo nos seus olhos.
Uma mistura de medo e coragem, de doçura. E desafio, isso é raro. Renato se levantou, deu a volta na mesa e parou diante dela.
Catarina engoliu seco. Nunca estivera tão próxima de alguém tão imponente e tão misteriosamente magnético. Você diz que aceita qualquer vaga, qualquer mesmo?
Ela hesitou. Desde que seja honesta. Sim.
Ele sorriu de canto. Não era um sorriso gentil, era curioso, provocador. E se eu disser que quero que você trabalhe diretamente para mim, como minha assistente pessoal, 24 horas por dia, em tempo integral, acompanhando-me em eventos, viagens e tudo mais que eu exigir, ela arregalou os olhos.
Mas eu não tenho experiência. Isso eu resolvo, mas há uma condição. Ele se inclinou levemente, reduzindo a distância entre os dois.
Você deve ser totalmente leal, sem segredos, e deve se permitir ser moldada do seu jeito para o meu mundo. Isso soa como controle, disse ela com a voz baixa. E é, respondeu ele, mas também pode ser a oportunidade que você espera.
Ela o encarou por um longo momento. O coração batia como um tambor. insano, imprudente, mas sua intuição gritava que havia algo ali, algo além de trabalho, um desafio, um destino.
"Qual é o salário? ", ela perguntou. E ele sorriu como quem já sabia a resposta antes da pergunta.
R$ 50. 000 por mês, começando hoje. Ela quase desmaiou.
Sua visão ficou turva por um segundo. Era dinheiro demais para uma garota que nem sabia se teria o que comer na semana seguinte, mas ela respirou fundo e falou com voz firme: "Eu aceito, mas com uma condição minha também. " Ele arqueou a sobrancelha.
Estou ouvindo. Respeito. Não sou uma peça que o senhor pode comprar.
Sou uma pessoa. Renato sorriu. Dessa vez de verdade.
Pela primeira vez seus olhos pareceram mais humanos. Respeito é o mínimo que você terá, Catarina. E com isso ela se levantou.
Ele estendeu a mão e ela apertou. Sua palma estava quente, firme. O contrato não foi assinado naquele momento, mas o verdadeiro acordo, aquele invisível, feito de intenções, olhares e silêncios, já estava selado.
Ela só não sabia ainda o preço que pagaria por entrar no mundo de Renato Moret. E ele não imaginava o quanto aquela garota mudaria o dele. O escritório de Renato Moret parecia mais uma suí presidencial do que um espaço de trabalho.
Quando Catarina voltou no dia seguinte, agora mais seca, mais limpa e com uma blusa emprestada da prima, ele a recebeu com a mesma expressão impassível, fria, calculada e ainda assim hipnotizante. Pontualidade. Gosto disso", disse ele, sem olhar diretamente para ela, digitando no notebook de última geração.
Eu vim porque, bem, eu ainda estou processando tudo que o senhor falou ontem, confessou, sentando-se à frente da mesa. Renato ele corrigiu. Se vai trabalhar comigo diretamente, melhor começarmos com menos formalidade.
Apenas, Renato. Ela a sentiu desconfortável. Tudo ali era demais.
O luxo do ambiente, o cheiro amadeirado no ar, o relógio no pulso dele, que provavelmente custava mais que seu bairro inteiro, e mais do que tudo, a forma como ele a olhava, como se pudesse enxergar cada camada da sua alma. Renato apertou um botão e a porta atrás dela se fechou automaticamente. O som fez seu coração acelerar.
Ele se recostou na cadeira, cruzando os dedos diante do rosto. Você está aqui porque aceitou trabalhar para mim, mas quero que entenda exatamente no que está se envolvendo. Ele deslizou uma pasta preta sobre a mesa.
Esse é o contrato. Leia com atenção, especialmente a cláusula nove. Catarina abriu a pasta e começou a ler.
As mãos suavam. As cláusulas iniciais pareciam normais: confidencialidade, horário, flexível, acompanhamento em viagens, bônus por desempenho. Mas ao chegar na cláusula nove, seu corpo inteiro enrijeceu.
Cláusula nove. Assistente pessoal concorda em acompanhar o Senr. Morete em eventos sociais, jantares e compromissos particulares, incluindo finais de semana quando solicitado.
Espera-se envolvimento emocional com as aparências públicas de um casal, caso necessário. Qualquer envolvimento íntimo é opcional, não obrigatório e sob decisão exclusiva da assistente. Ela levantou os olhos assustada.
Aparência de um casal. O que exatamente isso significa, Renato? Ele se levantou e foi até o bar, ao canto do escritório.
Serviu um copo de whisky para si e apenas água para ela. Significa que minha imagem é tudo. Estar acompanhado de uma mulher elegante, misteriosa, desperta especulação.
E eu gosto disso, mas não tenho tempo ou paciência para romances reais. Você será minha presença constante, meu rosto feminino ao lado. Vai sorrir, posar para fotos, segurar meu braço.
Mas, como diz o contrato, não haverá nada físico, a não ser que você queira. Ela sentiu o chão balançar. Você quer que eu fja ser sua namorada?
companheira, parceira, aliada, chame como quiser. É um papel, um jogo, mas que pagará muito bem. Catarina tentou controlar a respiração, nunca imaginou algo assim.
Não era prostituição, mas era algo diferente. Um teatro de alto nível, um jogo de poder. E por que eu?
Perguntou. Você poderia contratar qualquer modelo famosa, qualquer atriz. Renato deu um meio sorriso.
Justamente por isso. Elas são previsíveis. Você não é real, ingênua, talvez, mas genuína.
E isso é raro. Eu gosto de raridades. Ela sentiu um calor subir pelo rosto.
Parte vergonha, parte raiva. Eu sou virgem, Renato. A frase saiu antes que ela percebesse.
No silêncio que se seguiu, ela quis desaparecer. Mas ele não riu, nem debochou. Apenas a olhou com mais intensidade.
Então isso te faz ainda mais interessante, mas fique tranquila. Não estou comprando seu corpo, estou testando sua confiança. E se eu me apaixonar por você?
Ela arriscou, a voz falha. Ele se aproximou devagar. O copo de whisky entre os dedos parou diante dela.
Não recomendo. Ela sentiu um arrepio. Ele era magnético, sim, mas também era perigoso.
Você tem até amanhã para decidir. Se assinar, começamos imediatamente. Se não, ninguém vai julgá-la.
Ela se levantou. As mãos tremiam, mas a voz saiu firme. Se eu aceitar, Renato, minha virgindade ainda será minha.
Isso é inegociável. Ele fez um gesto sutil com a cabeça, um meio aceno respeitoso. Eu não a quero por isso, Catarina.
Acredite, o que há de mais valioso em você não pode ser tocado. As palavras a seguiram até o elevador. A cada andar descendo, ela pensava, ele era perigoso, sim.
Mas também havia verdade nos olhos dele, algo quebrado, solitário. E talvez, só talvez, ela quisesse descobrir o que era. O carro preto com vidros fumet parou diante do prédio simples onde Catarina morava.
Ela olhou para o motorista que a aguardava com um sorriso educado e depois para o prédio da frente, velho, com tinta descascando e escadas que rangiam. foi seu último vislumbre de normalidade antes de mergulhar em um universo onde nada era modesto, onde o silêncio tinha um gosto diferente e o luxo se tornava uma prisão dourada. O motorista abriu a porta e ela entrou, sentindo o couro macio e o perfume amadeirado do banco.
No banco de trás havia uma pasta com seu nome em letras douradas e uma agenda novinha com os dizeres. Catarina Souza, assistente pessoal de Renato Moret. Ela quase riu.
Ainda não parecia real. A sede da Morette Holdings já era impressionante, mas nada se comparava à casa onde agora trabalharia e, em parte, viveria. A mansão de Renato ficava em um condomínio fechado na Serra da Cantareira, com portões altos, vigilância 24 horas e uma vista de tirar o fôlego.
Quando o portão se abriu, ela perdeu o ar. Jardins simétricos, estátuas de mármore, uma fonte central. A casa parecia mais um museu de arquitetura moderna do que um lar.
O motorista a conduziu até a entrada, onde uma governanta a recebeu com gentileza contida. Catarina subiu às escadas de mármore branco, com os olhos arregalados. No quarto que lhe foi destinado, tudo era cinza, branco e prateado.
Um closet maior que sua antiga sala, lençóis de algodão egípcio, um banheiro com banheira de hidromassagem, mas o luxo tinha um cheiro frio. O silêncio ali parecia gritar. À noite ela jantou sozinha.
Renato estava ocupado com reuniões, segundo a governanta. Catarina passeou pelo corredor e viu de relance uma porta entreaberta. Lá dentro ele estava de costas, olhando pela janela, copo na mão.
Ela quase chamou, mas parou. O homem ali parecia cansado, curvado não pelos negócios, mas por alguma dor interna que ela ainda não compreendia. Não queria invadir, então voltou para seu quarto.
Nos dias seguintes, sua rotina se transformou em uma dança delicada entre servir e não ultrapassar fronteiras. Ela organizava documentos, acompanhava reuniões, agendava compromissos e, como previsto, o acompanhava em jantares e eventos, sempre de salto alto e maquiagem leve. Seu vestido era sempre escolhido por uma assistente de imagem, tudo para manter a aparência de um casal sofisticado.
E ela representava bem. Sorria quando devia, evitava olhares mais intensos, mas a tensão entre ela e Renato crescia dia após dia. Ele era gentil quando queria, sarcástico quando se sentia, invadido.
Às vezes parecia admirá-la em silêncio. Em outras, a provocava com comentários carregados de duplo sentido. Você sabia que há mulheres que dariam tudo para estar no seu lugar, Catarina?
Ele disse certa vez em um jantar com executivos italianos ao tocá-la discretamente no braço. "Mas não sou qualquer mulher", ela respondeu erguendo o olhar desafiadora. Renato sorriu.
Um daqueles sorrisos que vinham de canto de boca sem atingir os olhos. Não, não é mesmo. Ela cuidava da mãe sempre que podia.
Renato mandara instalar uma enfermeira em casa, pagava os medicamentos e garantiu o tratamento em um hospital particular. Catarina estava grata, profundamente grata, mas também começava a sentir um tipo estranho de dependência que a incomodava. Havia noites em que Renato desaparecia por horas e ela ficava vagando pela casa.
Outras ele voltava exausto, com os olhos vermelhos e sem querer falar. Mas mesmo nesses dias ele a procurava. Fique por perto.
Só isso dizia. E ela sentava em silêncio no sofá, ouvindo o som do gelo girando no copo dele. Foi em uma dessas noites que ela o viu realmente frágil.
Ele bebia em silêncio, sentado na sala escura, à luz da lareira tremeluzindo. No colo, uma foto antiga. Ao se aproximar, Catarina reconheceu uma jovem sorridente.
Devia ter uns 18 anos com os mesmos olhos dele. Minha irmã, ela morreu há 4 anos. Catarina se sentou ao lado sem dizer nada.
A dor dele era palpável. Ela era tudo que eu não fui, leve, espontânea. Eu era o irmão mais velho, o que deveria protegê-la, mas falhei.
Foi a primeira vez que ele se abriu. Ela colocou a mão sobre a dele e Renato não afastou. Você não precisa carregar isso sozinho.
Ele a olhou e o olhar parecia pedir socorro, mas durou apenas um segundo. Depois ele se levantou, voltou a ser o bilionário inalcançável. Boa noite, Catarina.
Ela ficou ali sozinha, com o gosto amargo da dor dele preso na garganta. Nas semanas que se seguiram, o jogo entre eles ganhou camadas. Ele atestava com olhares longos demais, perguntas pessoais, elogios sussurrados.
Ela fingia não notar, mas o coração denunciava a cada batida. Não era mais apenas um trabalho. Catarina começava a se perguntar: "E se ele passasse dos limites?
E se ela deixasse? Estaria preparada para isso? Estaria segura emocionalmente?
Porque no fundo sabia que ninguém podia se aproximar de Renato Moret e sair ileso? O voo particular cortava o céu com uma suavidade silenciosa, como se o mundo lá fora não existisse. Catarina olhava pela janela, perdida nas nuvens, enquanto do outro lado da cabine, Renato digitava no notebook com a expressão dura de sempre: estavam a caminho de Belo Horizonte, onde uma negociação milionária exigia a presença do CEO e, como sempre agora, da sua assistente pessoal.
Ela nos últimos dias algo havia mudado entre eles. Um ritmo mais lento nos olhares, um silêncio que não era desconfortável, mas carregado de significados. Renato ainda era o mesmo homem de gestos contidos, mas parecia menos blindado.
Catarina, por outro lado, estava mais inquieta do que nunca. Sabia que estava se aproximando demais. Sabia também que não conseguia mais evitar.
Na noite anterior, ele havia passado pelo quarto dela, um gesto comum, apenas para perguntar se ela estava bem. Só isso, sem intenções, sem segundas camadas, mas havia algo no tom de voz dele que ecoava até agora. "Você dorme bem aqui?
", ele perguntou. "Durmo melhor do que em casa, mas com menos paz. Ele não respondeu, só assentiu e foi embora.
A recepção no hotel Cinco Estrelas foi silenciosa e eficiente. Renato ocupava a suí presidencial. Catarina, o quarto ao lado.
Dois seguranças os acompanhavam à distância, mas era fácil esquecer que estavam ali. O luxo já não a espantava como antes, mas o modo como Renato parecia alheio a tudo ainda a impressionava. Durante a reunião de negócios, ela o observou de longe, impassível, lógico, estrategista, o Renato do mundo.
Mas foi durante o jantar, já tarde, num restaurante isolado do hotel, que o outro Renato apareceu. Ela comentou casualmente sobre a falta de notícias da mãe naquele dia. O celular estava fora de área e a enfermeira não atendia.
Um peso invisível caiu sobre seus ombros e ela não conseguiu segurar. Os olhos marejaram. "Desculpe, eu não deveria chorar na frente de você", sussurrou envergonhada, enxugando as lágrimas rapidamente com o guardanapo de linho.
Renato largou os talheres. Pela primeira vez desde que se conheciam. Ele deu a volta na mesa e se ajoelhou ao lado dela.
Não peça desculpas por sentir. Ela o olhou surpresa. A voz dele estava rouca, quase gentil.
Ele pegou sua mão e assegurou com firmeza. Você está aqui dando tudo de si, cuidando da sua mãe à distância. Isso não é fraqueza, é coragem.
Catarina fechou os olhos tentando conter o soluço, mas ele se aproximou mais e sem pensar a envolveu em um abraço. Foi estranho no início. Um gesto que não combinava com ele, não o Renato que todos conheciam, mas o corpo dela se encaixou ao dele de um jeito natural.
O cheiro da pele dele quente e amadeirado, invadiu seus sentidos. O abraço era forte, protetor e durou mais do que qualquer protocolo permitiria. Quando se afastaram, ele limpou uma lágrima que ainda insistia em cair.
Você é mais forte do que imagina, Catarina. Ela não soube o que dizer. Pela primeira vez viu um homem ali.
Não o bilionário, não o patrão, mas um homem ferido, tentando segurar o mundo com as próprias mãos. Naquela noite ela não dormiu. Ficou deitada pensando naquele abraço, em como o coração dele batia forte, tão forte quanto o dela, em como o toque dele foi ao mesmo tempo respeitoso e necessário.
Não houve desejo ali, houve alívio, compreensão, mas foi exatamente isso que a abalou, a intimidade emocional, a conexão. No dia seguinte, durante o café da manhã, Renato estava mais calado do que o habitual. Bebia o café preto em silêncio, os olhos fixos no jornal.
"Obrigada por ontem", disse Catarina, sentando-se à frente dele. Ele ergueu os olhos. Havia algo diferente neles.
Mais leveza, talvez, ou menos resistência. "Você não precisa me agradecer. Eu conheço essa dor.
" Ela não respondeu, apenas esperou que ele continuasse e ele continuou. Minha mãe me deixou quando eu tinha 12 anos. Simplesmente foi embora.
Disse que não suportava mais meu pai. E ele, bem, ele estava sempre viajando ou ocupado demais para notar que eu existia. Quando a minha irmã morreu, eu percebi que já não sentia nada, só raiva, só frieza.
A confissão ficou suspensa no ar, como um segredo arrancado à força. E agora? Ela perguntou.
Agora eu disfarço. Me tornei bom nisso. Ela estendeu a mão sobre a mesa, tocando a dele de leve.
Mas você sente, Renato. Eu vi. Ele puxou a mão lentamente, não por rejeição, mas por autopreservação.
Você me confunde, Catarina, e isso me assusta. Ela sorriu de leve. Você também me assusta, mas de um jeito que eu não sei se quero fugir.
Os olhos dele prenderam os dela por longos segundos. Havia um peso ali, uma decisão se formando. Mas ele desviou o olhar e se levantou.
Temos um voo em 2 horas. E foi embora, como se nada tivesse acontecido. Mas Catarina sabia.
Algo havia mudado. O abraço da noite anterior ainda pairava entre eles e agora mais do que nunca, ela temia pelo que sentia, porque no fundo o coração dela já não era mais dela e estava cada vez mais nas mãos de um homem que aprendeu a não confiar, mas que talvez aos poucos estivesse aprendendo a amar. A tempestade chegou sem aviso.
Relâmpagos cortavam o céu de forma violenta, como se o próprio mundo estivesse em conflito. Do lado de dentro da mansão Morete, o barulho da chuva contra os vidros altos criava um ritmo inquietante, constante, como um coração apressado, prestes a transbordar. Catarina fechava as cortinas da sala quando a luz piscou, uma, duas vezes, e se apagou por completo.
"O gerador está com manutenção", explicou a governanta pelo interfone antes da linha também morrer. "Voltará logo, mas o logo não aconteceu. O silêncio dominou os corredores da casa e a escuridão, embora quebrada pela lareira da sala principal, fez o espaço parecer ainda maior, ainda mais solitário.
Renato apareceu minutos depois, com os cabelos levemente molhados. Ele havia saído para resolver algo no jardim quando a chuva começou. Vestia apenas uma camisa branca colada ao corpo e uma calça de linho.
A imagem dele, à luz do fogo, parecia saída de um devaneio proibido. Sem luz, sem sinal, sem mundo lá fora disse ele com um meio sorriso. Estamos presos aqui.
Parece até simbólico, respondeu Catarina, tentando manter a voz estável. Mas o corpo dela não obedecia. O ar ao redor dele era carregado de algo mais do que calor.
Era eletricidade. Sim, simbólico. Porque tem algo que preciso dizer.
E talvez essa seja a única noite em que eu consiga. Ela o encarou, parando de dobrar as mantas no sofá. O estômago se revirava.
Renato X. Ele se aproximou lento, sem pressa, como se cada passo fosse uma escolha. A lareira projetava sombras no rosto dele, tornando-o ainda mais indecifrável.
Mas os olhos estavam diferentes, não eram frios, não eram calculistas, estavam vivos, intensos. Desde o dia em que entrou naquela sala, encharcada de chuva e cheia de dignidade, eu soube que havia algo em você que me desmontava. Tentei manter distância, tentei tratar você como funcionária, mas falhei.
Catarina sentiu um arrepio subir pela espinha. Eu também falhei, Renato, porque mesmo sabendo que você era tudo o que eu devia evitar, você me fez tremer. A respiração dele ficou mais pesada, de medo e de desejo.
A frase ficou no ar como uma faísca antes do incêndio. Renato a olhou como se ela fosse a única pessoa no mundo que valesse a pena entender e se aproximou mais. Quando parou à frente dela, o silêncio foi quebrado apenas pelas gotas da tempestade do lado de fora.
Catarina, você é mais do que eu mereço, mas se me permitir esta noite eu quero deixar de fingir. Ela fechou os olhos por um instante. O coração batia tão alto que ela mal podia pensar.
Eu já deixei de fingir há semanas e foi o suficiente. Ele a puxou com delicadeza, mas com firmeza, segurando o rosto dela entre as mãos. O toque foi quente e protetor.
Os lábios se encontraram com uma mistura perfeita de necessidade e suavidade. Foi um beijo que começou tenso, mas que logo se transformou em rendição pura. Catarina sentiu como se o chão tivesse desaparecido.
As mãos dele percorriam seus cabelos, suas costas. O mundo sumiu. A tempestade, os fantasmas, as dores, tudo o que restava era aquele beijo, aquela verdade finalmente dita sem palavras.
Renato a beijava como quem se desculpava por anos de silêncio. E ela o beijava como quem dizia: "Eu te vejo". sem precisar falar.
Quando se afastaram, os olhos dele estavam marejados. Havia ternura no olhar, mas também medo. Eu não queria me apaixonar por você e eu nunca achei que alguém como você pudesse se apaixonar por mim.
Ela encostou a testa na dele. Respiraram juntos uma, duas vezes. O tempo parou ali, mas como tudo na vida de Renato Morete, a ternura logo foi encoberta por uma sombra.
Se você quiser ir embora agora, eu entendo, porque daqui para frente não há mais volta. Se continuar aqui, será minha de verdade, não só por contrato. Ela o olhou profundamente.
Eu não assinei aquele contrato por dinheiro, Renato. Eu fiquei por você e não vou embora agora. Ele sorriu.
E era um sorriso novo, não arrogante, não de canto de boca. Era um sorriso inteiro, um que ela nunca tinha visto antes. Naquela noite dormiram separados por escolha, porque o beijo foi íntimo o suficiente, porque agora havia algo mais forte que o desejo.
Havia entrega e o medo de estragar tudo também. Mas quando Catarina fechou os olhos em seu quarto, o calor da boca dele ainda queimava seus lábios. E pela primeira vez em muito tempo, ela dormiu em paz.
Do outro lado da mansão, Renato olhava para o teto, ainda ouvindo a respiração dela, ecoar em sua memória. Sabia que aquela noite mudaria tudo e que, se não tivesse cuidado, poderia finalmente amar alguém. E isso, para um homem como ele, era o maior risco de todos.
Era incrível como tudo parecia diferente depois do beijo. O mundo ao redor de Catarina havia mudado de cor. Até a mansão, antes fria e inatingível, agora parecia abrigar algo parecido, com calor.
Renato andava mais leve. Os silêncios entre eles eram confortáveis. Ela ouvia sorrir vez ou outra, e isso era raro, precioso.
Mas a calma antes da tempestade, como ela aprenderia, é a mais perigosa. Naquela manhã, Catarina chegou cedo ao prédio da Morette Holdings. Renato havia pedido que ela revisasse pessoalmente os contratos de um novo projeto internacional.
Ela gostava de ir cedo, evitava o burburinho dos funcionários e os olhares curiosos, ou assim imaginava. Enquanto passava pelo corredor do Vin de primeiro andar, ouviu vozes abafadas dentro da copa. Duas funcionárias conversavam entre risadinhas.
Não a viram se aproximar. Você viu ontem? Ela no carro dele toda elegante, coitada, mal sabe que é só mais uma das meninas do mês.
Ele tem esse padrão, né? Pega uma inocente, transforma num projeto de acompanhante de luxo e depois descarta. E essa agora dizem até que é virgem.
Imagina o troféu que ele acha que tem. A risada foi baixa. Cruel.
Catarina congelou. Por um instante achou que ia vomitar. Aquilo não podia ser verdade.
Não podia. Mas a dor veio rápido, certeira, como uma lâmina. Ela voltou pelo corredor cambaleando, o sangue fervendo de raiva, vergonha e humilhação.
Minutos depois, invadia o escritório de Renato sem bater. Ele ergueu os olhos do notebook, surpreso. Catarina, é verdade?
Ela disse direto a voz tremendo. O que dizem por aí? que eu sou só mais um capricho teu.
Renato franziu a testa. Do que você está falando? Não se faça de inocente.
Você me colocou aqui como sua assistente, me fez entrar na sua vida, no seu mundo, e agora todos acham que eu sou só mais um brinquedo seu, uma diversão temporária. Ele se levantou tenso, mas seus olhos endureceram, não de raiva, mas de defesa. Você está ouvindo fofoquinhas de corredor, é isso?
Vai deixar um boato te fazer duvidar do que temos? Do que temos? Ela riu amarga.
Então, existe alguma coisa? Porque para mim parece que você só está se divertindo, que me quis por perto porque eu era diferente, porque minha virgindade fazia de mim um troféu. Catarina, chega.
Não, Renato, eu quero saber. Isso tudo foi um jogo? Foi só mais um experimento do bilionário entediado com a própria vida?
Ele deu a volta na mesa, parou diante dela. Por um segundo, o olhar dele fraquejou, mas então, como sempre, veio o escudo. Você sabia desde o começo quem eu era?
Sabia que esse mundo cobra caro. Eu nunca prometi amor. A frase foi como um soco.
Catarina sentiu o chão sumir sob. Esperava tudo, menos essa resposta. esperava raiva, desespero, uma declaração, mas não frieza.
Obrigada por deixar tudo tão claro, senor Morete. Ela se virou para sair. Catarina, ele chamou, mas a voz foi baixa, fraca.
Ela não olhou para trás. Naquela noite, ela não voltou para a mansão, nem para o hotel. Pegou suas coisas em silêncio, escreveu uma carta e deixou com a governanta.
Renato, quando eu entrei na sua vida, achei que era só por um trabalho. Quando você entrou na minha, percebi que era por algo maior. Mas eu não posso viver de dúvidas.
Não posso ficar onde sou motivo de piada. Eu te admirei, te respeitei e te amei. Sim, mesmo sem querer.
Mas eu também me amo e por isso estou indo embora. Cuide-se, Catarina. Ela partiu para a casa da tia no interior, mudou o número do celular, desligou tudo, precisava respirar.
Renato ficou horas encarando aquela carta. Não conseguia trabalhar, não conseguia dormir. O gosto do beijo ainda estava em seus lábios, mas o vazio da ausência dela doía mais do que ele estava preparado para admitir.
"Eu nunca prometi amor", ele repetia para si mesmo. "Mas agora percebia. Não era Catarina quem ele tentava proteger, era a si mesmo.
Ela o amava e ele tinha se apaixonado também. só foi covarde demais para admitir e agora era tarde demais. As luzes do escritório principal da Moret Holdings, antes sempre acesas até tarde, agora se apagavam cedo.
Os corredores, que costumavam ecoar o ritmo firme de Renato Moret, estavam estranhamente silenciosos. Os funcionários trocavam olhares inquietos e coxixavam à porta fechada da sala do presidente. Desde que Catarina partira, Renato já havia cancelado três reuniões internacionais, perdido dois contratos milionários e recusado entrevistas que estavam programadas há meses.
Na última coletiva de imprensa, chegou atrasado e respondeu com frieza robótica, deixando investidores e parceiros desconfortáveis. A verdade, ele estava se desmoronando por dentro e por fora. Ela havia levado com ela mais do que o ar da casa, mais do que sua voz suave pela manhã.
levou à paz, a lucidez, o equilíbrio frágil que ele tentava manter sobre uma vida construída, a base de controle e solidão. Agora tudo parecia pesado, a cadeira dele, o próprio nome, a empresa, nada fazia sentido. No escritório, Renato olhava para a tela do computador sem ler uma única linha.
A carta de Catarina estava guardada no fundo da gaveta, mas parecia que ele a ouvia sempre que fechava os olhos. Eu também me amo e por isso estou indo embora. Essas palavras ecoavam como sentença.
Pela primeira vez alguém não havia implorado por mais tempo com ele. Não havia mendigado afeto ou aceitado migalhas. Ela partira e isso o desarmou.
tentou encontrá-la, ligou, mandou o recado pela enfermeira da mãe dela, a quem ainda sustentava silenciosamente, mas Catarina não respondeu. Estava em silêncio. E no silêncio, Renato conheceu o peso da ausência.
Catarina, por sua vez, voltara à vida simples em um bairro modesto do interior paulista. A casa da tia era pequena, mas acolhedora. A mãe dela, mais estável, graças ao tratamento garantido por Renato, passava os dias em repouso, melhorando pouco a pouco.
Catarina fingia normalidade, ajudava nas tarefas, lia romances antigos, acompanhava a recuperação da mãe. Mas à noite o vazio era ensurdecedor. Ela havia deixado Renato porque precisava se proteger, porque o orgulho ferido sangrava, mas não passou um dia sem pensar no abraço dele, no beijo à beira da lareira, no olhar despido de armaduras naquela noite chuvosa.
Ela se perguntava em silêncio se ele sentia o mesmo, se sentia falta, se havia doído nele também. O tempo passava e os jornais começaram a questionar o comportamento do magnata. Revistas de negócios.
Estampavam capas com frases como: "O Império Moret está ruindo e o bilionário que perdeu o foco. " As ações caíam levemente. Alguns sócios começaram a pressionar discretamente.
Renato, porém, não se importava. Pela primeira vez, os números não significavam nada. Ele se sentava sozinho no jardim da mansão, aquele mesmo onde Catarina o vira certa vez de costas, olhando o mundo lá fora.
Agora ele não fingia mais força, só cansaço. A única coisa que ainda fazia religiosamente era mandar a enfermeira visitar a mãe de Catarina em silêncio à distância, um jeito torto de continuar cuidando, de estar presente, mesmo sem ser visto. Uma noite, ao mexer em seus papéis, encontrou uma antiga fotografia da irmã.
Ao lado dela, mais jovem, ele mesmo, sorrindo com algo que agora parecia inalcançável, leveza. Ele chorou sozinho, como sempre, mas diferente de antes, não havia ódio, havia arrependimento e saudade, não da irmã de Catarina. Catarina percebeu que algo estava errado quando a enfermeira voltou de uma visita trazendo um envelope.
Era simples, sem remetente, mas a caligrafia era familiar. Dentro, um bilhete curto. A casa está mais fria desde que você saiu.
Meus dias mais curtos. Volte, nem que seja para me dizer que está feliz. R.
Ela não chorou ao ler, apenas fechou os olhos e apertou o bilhete contra o peito. Ainda não sabia o que fazer. Não sabia se perdoaria, mas agora sabia que ele sentia e isso era o começo de algo.
Na semana seguinte, os jornais publicaram a notícia de que Renato Moret recusara um contrato com um grupo estrangeiro porque precisava de tempo para si. A imprensa não entendeu. Os investidores se desesperaram, mas ele sabia.
Estava perdendo muito, sim, mas o que já havia perdido, Catarina era o que mais doía. E se ainda havia alguma chance de reconquistar, ele não deixaria passar, porque o Homem de Ferro havia finalmente entendido. Não se constrói um império sobre os escombros de um coração partido e o dele estava em ruínas.
O escritório de Renato permanecia o mesmo, impecável, silencioso, vazio demais. Depois da partida de Catarina, ele evitava aquele ambiente. Preferia trabalhar de casa em meio às lembranças, ao silêncio da mansão, que agora parecia grande demais para um homem só.
Mas naquela manhã de domingo, por algum impulso que não conseguiu explicar, ele resolveu voltar à empresa. Ao abrir a porta, tudo pareceu congelado no tempo. A caneca que Catarina costumava usar ainda estava na mesa auxiliar, esquecida, com restos de chá seco no fundo.
Ao lado, uma pasta de couro que ela costumava carregar para reuniões. Foi quando a viu, um envelope pardo, sem destinatário, caído entre papéis e pastas, o nome Renato, escrito à mão, com uma caligrafia que ele reconheceria até de olhos fechados. O coração acelerou, as mãos tremiam, com cuidado, abriu o envelope.
Renato, se você está lendo isso, é porque não consegui dizer tudo quando fui embora. Talvez eu tenha fugido, talvez tenha sido covarde, mas tudo o que senti foi real. Eu te admirei mesmo quando você me ignorava.
Eu te respeitei mesmo quando você me testava. E contra tudo o que planejei, eu te amei mesmo quando você me afastou. Eu precisei ir embora para lembrar de quem eu sou.
Mas se um dia você quiser me ver como sou de verdade, venha até mim. Não como patrão, nem como bilionário, mas como homem. Estarei onde sempre estive, cuidando do que realmente importa.
Catarina. Renato sentiu o ar fugir dos pulmões. Aquilo não era só uma carta, era um apelo silencioso, um sussurro de esperança entre linhas de dor.
Como ele não havia visto isso antes? fechou os olhos e, pela primeira vez em semanas soube o que precisava fazer. Não foi difícil descobrir onde ela estava.
Ele tinha recursos, contatos e o nome da enfermeira, mas decidiu não avisar. Catarina merecia mais do que um telefonema ou uma mensagem fria. Merecia um gesto, um reencontro sem armaduras.
Na manhã seguinte, pegou a estrada rumo ao interior sozinho. O carro cruzava paisagens que ele não via há anos, árvores, casinhas simples, vida comum. Ele nunca tivera tempo para essas coisas, mas agora entendia que o tempo era tudo.
Chegou ao bairro modesto no fim da tarde, perguntou discretamente a uma vizinha que apontou com um sorriso gentil à casa amarela de portão baixo. Lá estava ela no quintal de cabelos presos, camiseta larga, regando um pequeno jardim improvisado. Do lado de dentro, pela janela, a mãe de Catarina lia um livro em voz alta.
Com a ajuda de uma enfermeira. Catarina se abaixava para aparar as folhas secas quando o viu ele. Parado do outro lado da rua, camisa dobrada nos braços, olhar fixo nela, como se ela fosse a única coisa que importava no mundo.
Por um instante, não se mexeram. Depois, lentamente ela se ergueu. Os olhos brilhavam de surpresa e emoção contida.
Ele atravessou a rua devagar e, quando parou diante do portão, não disse nada de imediato, apenas tirou o envelope amassado do bolso. Você esqueceu isso no meu escritório. Ela o reconheceu.
Seu coração disparou. Não achei que você fosse ler. Li.
Tarde demais, mas li. Ele respirou fundo. Você tinha razão sobre tudo.
Sobre mim, sobre o que eu precisava enxergar. Eu me perdi no que construí, no que fingi ser, mas nunca nunca te esqueci. Catarina segurou o portão, sentindo os dedos gelarem.
E o que você veio fazer aqui, Renato? Te ver de verdade, como homem? Não como Morete?
Não como o patrão, só eu. Ela hesitou, mas então abriu o portão devagar. Ele entrou.
Seguiram juntos até o pequeno jardim nos fundos, onde ela costumava ler para a mãe. Sentaram-se no banco de madeira em silêncio. Ele olhou ao redor.
Tudo simples, humilde, mas havia calor ali, amor, algo que sua mansão nunca teve. Você fez tudo isso por ela? perguntou.
Pela minha mãe? Sim, porque é o que se faz por quem se ama. Renato assentiu, olhou para as mãos, depois para ela.
Eu nunca soube o que era isso. O que significava amar alguém de verdade. Até você.
Ela engoliu seco. Você me machucou? Eu sei.
A voz dele falhou. E não espero que me perdoe agora, mas estou disposto a provar. dia após dia, que não vou errar de novo.
Ela o observou em silêncio. O terno caro parecia fora de lugar ali, mas o homem o homem estava despido de defesas e isso era novo. Você vai precisar de paciência, Renato.
Pela primeira vez na vida, tenho tempo de sobra. E então, pela primeira vez desde a partida, ela sorriu. Não era um recomeço imediato, não era perdão automático, mas era um espaço, uma chance.
E para dois corações partidos, isso era mais do que suficiente. Renato voltava ao interior todos os domingos. Chegava sozinho, sem seguranças, sem motorista.
Às vezes levava flores, outras apenas livros ou doces feitos por sua avó, que reencontrara depois de anos de silêncio familiar, mas sempre levava o mesmo olhar, o de quem esperava, não por piedade, mas por permissão. Catarina, aos poucos permitiu primeiro que ele entrasse, depois que ajudasse com as compras ou ficasse com a mãe dela por alguns minutos enquanto lia no jardim, e então que compartilhasse silêncios até que o silêncio entre eles passou a ser confortável. Renato falava pouco, mas seus gestos gritavam.
plantou uma horta para a mãe de Catarina, mesmo sem saber nada de jardinagem. Consertou uma torneira que pingava a meses. Trouxe uma cadeira de rodas nova, sem dizer uma palavra sobre o preço.
Cozinhou desajeitado, um jantar que quase queimou, mas que fez as duas sorrirem por horas. Ele estava aprendendo a amar sem dominar. E isso era tudo o que Catarina precisava ver.
Foi numa tarde de céu dourado, quando os giraçóis do jardim começavam a abrir, que ela quebrou o silêncio. Por que continua vindo aqui, Renato? Ele a olhou de onde estava, sentado na varanda.
O vento bagunçava seus cabelos. Estava sem terno, usando uma camisa de algodão e jeans. E, de algum modo, parecia mais verdadeiro assim do que em qualquer capa de revista.
Porque não consigo ficar longe? Ela abaixou o olhar. Você é um homem ocupado.
Fui. Agora só um homem apaixonado. Ela mordeu o lábio, tentando conter o que sentia.
Você fala isso com tanta calma, porque é verdade e verdades não precisam gritar. Renato se levantou, caminhou até ela, parou a um passo de distância, não tocou, apenas olhou. Catarina, eu te amei calado por medo, depois te perdi por orgulho.
Agora tudo o que tenho é o que sou, sem contratos, sem riqueza, só meu coração. Ela sentiu os olhos marejarem. quis dizer algo, mas ele ergueu a mão e a estendeu suavemente.
Não quero você de volta como assistente. Quero você como mulher, minha mulher, aquela que me ensinou o valor do toque, do tempo, do silêncio, aquela que teve coragem de partir e me ensinou o que é amar de verdade. Ela hesitou, respirou fundo.
Renato, e se não der certo? E se você se fechar de novo? E se eu quebrar?
Ele se aproximou mais. Agora sim, segurou as mãos dela. Então a gente junta os pedaços juntos e recomeça quantas vezes forem necessárias.
As lágrimas escorreram. Ela riu. Um riso leve, solto, raro.
Você mudou. Você me mudou. E então ele a beijou.
Não foi como o primeiro beijo, cheio de medo e desejo contido. Foi um beijo de certeza, de paz, de recomeço. As mãos dele seguraram o rosto dela com cuidado.
Os dedos dela se entrelaçaram nos cabelos dele. Ali, naquele instante, tudo o que havia sido dor se transformou em promessa. Quando se separaram, ela encostou a testa na dele.
Sim. Ele franziu o senho, sorrindo. Sim, sim, Renato.
Eu aceito recomeçar. Meses depois, sob um arco de flores simples no mesmo jardim onde tudo se reconectou, Catarina disse: "Sim, novamente. " A mãe, agora recuperada e sorridente, segurava as alianças.
Havia poucos convidados, um violão suave e muitas lágrimas. Nada era ostentoso, mas tudo era verdadeiro. Renato trocou o anel com mãos trêmulas, disse o voto com a voz embargada: "Prometo não ser perfeito, mas ser real e te amar todos os dias com aquilo que aprendi contigo, presença.
" Catarina sorriu emocionada, prometeu o mesmo. E o beijo que selou aquele momento não foi de conto de fadas, foi de vida, de luta, de conquista. Hoje eles vivem entre os dois mundos, uma casa no interior com varanda, livros e um jardim que floresce todos os meses e um apartamento discreto na cidade onde Renato ainda comanda sua empresa, mas agora com prioridades diferentes.
Ele se tornou um líder mais humano, um homem mais inteiro e o mais importante, um marido apaixonado. Eles ainda dançam na sala ao som de músicas baixas. Ainda discutem sobre quem esqueceu a louça na pia, ainda choram vez ou outra, mas sempre voltam ao que importa, o amor que o salvou.
Porque não foi o contrato que os uniu, foi a verdade. E o tempo mostrou que quando dois corações se reconhecem, nenhum acordo é mais forte do que um sim dito com a alma.