Podcast Três Irmãos da Área. Quem fala com vocês, mais uma vez, Rodrigo Torró, do meu lado, meu brother, meu irmão Roberto Andrade Filho, borracha na mesa, operando nosso diretor Pedro Henrique. Aí, Robertinho, boa noite! Tudo bem? Boa noite! Fala aí, meus irmãos, beleza? Fala aí, meu irmão, bacana! Três episódios ao vivo hoje, hein? Vamos encerrar esse com chave de ouro. Cara, eu me sinto muito mais seguro em voltar para Minas agora, depois desse episódio que a gente vai fazer, porque eu tenho certeza que a gente vai voltar com Deus. Sei, Robertinho, eu tenho certeza.
Para com essas coisas, cara! Paraar, tenho certeza! Porque não, não é heresia, é verdade. Hum, a gente vai falar sobre isso aqui e uma pessoa que tem conhecimento. Eu tô pronto para aprender, eu quero aprender e eu acho que tô com a pessoa certa para me ensinar. Então, mesmo que eu não consiga tudo que eu preciso, vou conseguir muito do que eu quero. Será, homem? Ah, vou voltar com Deus! Padre José Eduard, obrigado. Alegria, toda minha, fico honrado de estar aqui com vocês. Muito bom! Eu tava falando pro senhor nos bastidores, assim, o pessoal tá
pedindo muito pra gente trazer o senhor aqui, sabe? Muitos pedidos mesmo, mesmo. Sabe, fico agradecido. Será? Por quê? Não sei, as pessoas têm que melhorar um pouco o gosto, né? Senhor, é daqui de Osasco, não é? Sou de Osasco, minha paróquia é em Osasco, né? Paróquia São Domingos. Mas também tenho uma atividade nas redes sociais, no Instagram, no YouTube, tem sempre uma pregação diária. Enfim, tem o meu apostolado também, digamos, virtual. Hoje é importante essa pregação virtual, né? Ela chega em lugares que as pessoas que não conseguem vir até a igreja vão receber uma mensagem,
né? Exato! Hoje mesmo, uma pessoa mandou uma mensagem do Reino Unido. Imagine! Caramba! Que acompanha, etc. Mandou umas perguntas lá, depois eu tenho que responder, mas é assim, né? Então, a gente, o apostolado pela internet se tornou realmente limitado. A gente chega muito longe. Eu fico pensando assim, hoje as pessoas têm uma carência do conhecimento, uma carência da catequese, né? Eu vejo assim, muita gente elogiando: "Nossa, como esse padre é bom para catequizar! Como esse padre fala bem! Como esse padre catequista bem!" E da onde que vem essa carência? Da onde que vem tal? Porque,
às vezes, me parece também que são conhecimentos acessíveis, mas mesmo sendo acessível, o católico não consegue buscar esse conhecimento, né? É, você concorda com isso? Concordo e digo mais, né? Nós estamos na era do conhecimento, ou seja, as pessoas querem conteúdo mais e mais e exigem isso. Digamos até nos forçam a produzir conteúdo, no sentido de demandarem isso de nós. E é uma característica da nossa época isso. Talvez porque, em épocas anteriores, nós estávamos mais preocupados com plantar, colher, com a sobrevivência material. Hoje, digamos assim, numa era tecnológica, vivendo em grandes cidades, tendo meios de
comunicação muito mais fáceis, nós podemos nos dar ao luxo de pensar algo mais abstracto, algo mais teórico. E acho que essa é a situação em que se encontra a nossa geração. Você fala pela busca do espiritual, assim completar o espiritual tanto quanto de todas as outras áreas. Hum, qualquer pessoa que queira compartilhar conhecimento hoje vai ter um público. É inevitável. Quem não terá público é quem não é capaz de transmitir conhecimento. Sim, sim. Mas, até voltando um pouquinho, hoje, vamos, a gente mora no Brasil, um país católico. Toda cidade que eu conheço tem uma igreja
católica e, mesmo assim, as pessoas têm necessidade de uma boa catequese. Mesmo assim, as pessoas têm carência de uma boa catequese. Por que isso acontece? Ah, bom, enxergando a questão por esse ângulo, eu diria que existe um déficit de formação generalizado, né? A Igreja Católica, diferentemente de outras confissões, ela tem uma cultura, um tesouro de produção, uma complexidade interna na sua organização, uma riqueza de nuances que não estão à disposição para qualquer um de uma maneira fácil. Qualquer conhecimento relativo à Igreja, por exemplo, né? A liturgia, ela demanda um mundo de cultura. Você tem que
ser um erudito para lidar com todo esse conhecimento. Ninguém consegue fazer isso de uma hora para outra. Então, a ciência catequética, de certo modo, é até um pouco normal, né? Porque, realmente, o acervo é muito grande e, para dar conta dele, você precisa de instrumentos que não são facilmente acessíveis. Quando você tem um clero mais bem formado, isso é mais fácil. Então, existem lugares do mundo em que a formação do clero é espetacular. Existem fases na história da Igreja em que essa formação é melhor e em que essa formação é pior. Hoje, eu não acho
que estamos num momento mais, digamos assim, glorioso da formação do clero e isso, portanto, vai refletir, de algum modo, num déficit por parte dos fiéis. H-leigos, por exemplo, que estudam muito mais do que sacerdotes, do que formadores, e que acabam dominando algumas áreas do conhecimento teológico e filosófico mais do que clérigos. Sério? Isso mesmo, isso existe. É, mas é porque realmente, eu acho que, do ponto de vista da formação sacerdotal, há um déficit, né? Antigamente, por exemplo, na década de 50, quando você entrava para o seminário muito jovem, você já aprendia de cara seis línguas
e a formação, digamos, de humanidades era muito bem dada. E, depois disso, a filosofia e a teologia também eram muito fortes, eram muito intensas. Hoje, o nível caiu bastante. Aliás, também não podemos nos esquecer que o nível da educação no país, hum, decaiu muito. Então... Um jovem que chega hoje no seminário tem déficit de linguística, déficit de lógica e interpretação de texto. Não consegue compreender; então, às vezes, o seminário não tem instrumentos suficientes para poder, digamos assim, sanar essas dificuldades e ajudar o aluno a superar tudo isso. O problema educacional brasileiro é muito grave, né?
O Papa Bento XVI falava que o problema da nossa geração é o analfabetismo religioso; ele não chamava nem mais de ignorância religiosa, era o analfabetismo mesmo. O secularismo foi jogando tanto para as coisas, digamos, dessacralizadas que acabou se tornando religiosamente analfabeto. Porém, aqui temos um analfabetismo que não é só religioso; é um analfabetismo real mesmo e funcional. Quer dizer, as pessoas não são capazes, às vezes, de ler uma postagem na internet e compreender aquilo, né? Estou cansado de passar por isso. Às vezes, eu posto uma frase e as pessoas entendem exatamente o contrário ou enxergam
algo que eu não disse, etc., e me atacam por isso. É uma experiência que todos nós temos diariamente, sim, sim. Então, nesse universo de deficiência educacional, a deficiência religiosa, obviamente, vai sofrer as consequências. Digamos, para utilizar uma analogia muito, muito interessante, que é Tomás de Aquino, meu autor preferido, meu teólogo preferido, utiliza-se do que é o "regans montes", né? É um verso de um Salmo que fala que é dos altos montes que desce a água que irriga os vales. Então, se no topo da sociedade há uma ignorância enciclopédica, como é que o que vai no
vale? Nós vamos ter irrigação? Essa é a ideia. É assim que você fala sobre essa deficiência; com certeza, há uma deficiência, e eu acho que a população hoje precisa mais ainda disso. Porque, quando você anda por uma cidade, pelo menos na minha, o que a gente mais vê, independente da religião, são farmácias e igrejas. Uhum. Então, a população, de forma geral, está doente tanto fisicamente como espiritualmente. E daí, acho que essa doença trabalha de uma forma em que as pessoas não sabem nem como buscar religião. Elas querem a religião, mas não entendem a religião. Sabe?
Elas querem buscar uma cura e não uma fé, não um entendimento. Sabe? Elas querem ser mais acalentadas. Eu acho bom. É o drama da religiosidade natural, é isso. O homem, digamos assim, antropologicamente cru, aham, quer Deus para resolver um problema: ele está com fome, tem alguém perseguindo-o, ele quer proteção, ele está necessitando de um bom tempo para plantar, para colher, etc. Quando essas necessidades são supridas, então ele consegue se abrir para algo que é transcendente, uhum, ou seja, para algo que nos supera. Ora, o que acontece em um país como o Brasil, que tem uma...
esse, no fundo, esse é o drama do mundo. Os países como o Brasil têm, de fato, uma demanda religiosa por razões muito primárias, que é a direção da religiosidade natural mesmo. As pessoas não têm saúde, então precisam de cura; não têm emprego, então precisam de pão, precisam prover suas necessidades; não têm segurança, então precisam que Deus lhes dê segurança. Então, essas demandas acabam sendo mais emergentes, enquanto que nos países em que isso já não é mais um problema, eles não... as costas para Deus, abandonaram. Porque abandonaram a transcendência! Então, é uma armadilha do secularismo que
coloca o homem sobre, digamos assim, sobre a carne seca. Uhum. E ele já diz: "Bom, eu não preciso de Deus para nada". Mas ele se esquece que esse horizonte material é curto, é imediato e que a realidade nos transcende imensamente. E nessa realidade, está Deus por trás de tudo. Não consegue mais enxergar isso. Você acha que nesse momento pode bater uma angústia nessa população mais privilegiada que hoje está virando as costas?, eventualmente a população mais privilegiada, justamente pelo abandono da transcendência, não encontrou sentido para a vida. Então, o índice de suicídio nesses países é muito
alto; o índice de uso de entorpecentes desses países é altíssimo, justamente porque eles não conseguem mais enxergar um sentido. E não tendo os instrumentais para dar um sentido ou encontrar esse sentido que está objetivamente dado, basta o homem abrir um pouco o coração. Ele acaba, digamos, confinado. Aí ele fica isolado, e isso gera medo, angústia, insegurança; não se sabe lidar com a existência. Problemas que, por exemplo, nossos antepassados não tinham. Sim, já tive dúvidas, já padre, dúvidas de Deus. Olha, dúvidas de Deus já tive, mas em níveis diferentes. Como assim? Por exemplo, eu nunca tive
dúvida de que Deus existe. Para mim, antes de qualquer filosofia, isso é um dado muito, muito, digamos, íntimo, desde criança. Assim, dentro da sua casa. Exato. Mas isso também, eu tive uma educação cristã. Meu pai é nordestino, minha mãe é do interior de São Paulo. Isso tudo leva a um tipo de concepção mística da existência. O brasileiro, o brasileiro do interior, ele enxerga o mundo por uma lente mística. Então, sobretudo antigamente, né? Se ele vê, por exemplo, uma ave cantando de um jeito estranho, ele pensa que é um mal agouro. Se acontece determinada coisa, ele
imagina que está chegando um recado de alguém. Ele está conversando com Deus, no fundo, através das mais simples. Vocês são mineiros, e Minas também deve ser assim. Sim, sim. O, o, o digamos, o brasileiro típico desse Brasil profundo, eu venho daí. Então, a religiosidade e o sentido. Sagrado, digamos, uma concepção mística sobrenatural da existência sempre esteve presente e nunca faltou. Agora, a partir do momento em que você racionaliza isso, tanto pela filosofia quanto pela teologia, então você começa com essa percepção imediata. E aí, é claro, surgem dúvidas: como explicar isso e aquilo? Será que isso
tem explicação ou aquilo não tem? De que modo eu posso abordar melhor essa questão ou aquela? Porque nós vamos lidando com perguntas que vão colocando a religião contra a parede e colocando a nossa fé contra a parede. E aí eu preciso dar razões em primeiro lugar para mim mesmo. Uhum. Então, nesse sentido, tive dúvidas e foi difícil buscar as explicações. Olha, por sorte, não à providência de Deus; acho que foi me circulando sempre e me colocando em contato com — com, por sorte. Se não tivesse, é por Deus, né? A providência divina foi me colocando
ali, então sempre tive contato com boa literatura, com bons filósofos, que foram sanando, no fundo, as minhas questões mais profundas. Aham. E hoje, você consegue... É porque assim, eu não sei, talvez eu não goste de falar isso porque as pessoas... Eu consigo, eu olho para as coisas assim e eu vejo o divino em tudo que eu estou olhando hoje, assim sabe? Eu vejo Deus em tudo quanto é lugar. Eu não consigo ter dúvida de Deus. Eu só não sei como buscar Ele mais. É, eu acho que é a minha busca hoje, assim, como que eu
vou acessar mais? Eu quero mais e mais e mais, e mais! Mas eu consigo — você tem na igreja. Enxergar pode ser que não, mas eu consigo enxergar Deus nas coisas, assim, sabe? Eu não sei se isso acontece fácil com todo mundo. O cristianismo coloca a questão de maneira invertida: não fomos nós que amamos a Deus, foi Ele que nos amou primeiro. Então, o cristianismo é a religião de um Deus que se faz homem e que, por assim dizer, dá as caras. Ele se revela e vem nos buscar. E, mais do que isso, Ele morre
na cruz em nosso lugar, assumindo todas as nossas culpas. E o que me salva não é o que eu faço, é o que Ele fez. Esse é um núcleo do cristianismo, ou seja, Deus, sabendo que nós não podemos nos salvar, se fez um de nós para, com justiça e misericórdia, tomar as nossas culpas e expiar Ele mesmo em nosso lugar. Qual é a única coisa que a gente precisa fazer diante de uma busca de Deus por nós tão extrema? Jesus diz que o bom pastor vai atrás da ovelha perdida; deixa as noventa e nove e
vai atrás da perdida. Qual é a minha resposta a esse, digamos, amor obstinado de Deus? É simplesmente deixar, deixar as minhas barreiras; eu largar as minhas defesas; eu deixar de me fazer de durão. Eu aceitar a realidade de que esse amor é assim e crer Nele. Jesus diz, no Evangelho de São João, que Deus enviou seu Filho ao mundo, seu Filho unigênito, para salvar aqueles que nele crerem. Quem nele crê, está salvo; quem não crê, já está condenado. Então, preciso crer que Deus amou de tal modo o mundo a ponto de enviar seu Filho unigênito.
Eu tenho que crer que Ele amou. Agora, se eu coloco diante de mim uma cognição, então eu digo o seguinte: eu não acredito senão naquilo que pode ser medido e constatado. Quando eu limito cognitivamente o meu conhecimento àquilo que é sensível e tátil, por assim dizer, bom, então o que acontece com isso é que eu me fecho para aquilo que transcende o meu conhecimento. Por quê? Porque não existe um conhecimento infinito, indeterminado. A gente, por exemplo, não conhece o que vai acontecer um dia depois da nossa morte. Todo conhecimento é limitado. Então, no fundo, eu
tenho que fazer uma escolha: ou eu me abro para o conhecimento que sempre vai me transcender, e essa abertura positiva é de quem desiste, no fundo, de ficar se fazendo de difícil, de ficar colocando sempre uma barreira. Quando eu me abro, então, digamos cognitivamente, eu percebo que o meu intelecto está sendo alimentado por uma fonte que realmente é infinita, e eu vou passar a vida inteira me surpreendendo. Agora, quando eu me fecho, esse fechamento vai me fazer ter aversão ou vai me fazer ridicularizar até, ter ódio daquilo que transcende a minha capacidade de ver, de
chegar, de tocar etc. No fundo, eu preciso fazer uma escolha: perceber o que é mais inteligente nesse processo. Será que o mais inteligente é me fechar para aquilo que me transcende? Ou eu me abro, sendo que o que me transcende está por todo lado? Como você diz, eu enxergo Deus por todo lado. Mas por que eu enxergo Deus por todo lado? Porque, por exemplo, nessa sala há uma infinidade de informações que nós não conseguimos decifrar, que ultrapassam a nossa capacidade de conhecimento, até de percepção. Por exemplo, nós não enxergamos as coisas por dentro. Nós não
enxergamos que, por exemplo, a corrente eletromagnética está por dentro das coisas, mas, no entanto, ela está ali. Então, entender que a realidade me transcende é uma experiência concreta que todo ser humano tem. Negar isso e circunscrever tudo ao mensurável, ao perceptível, ao sensível, no fundo, me parece um grande ar de burrice, ainda que ilustrada e ainda que bem vocabular. E ela pode ter muita erudição externa, mas, no fundo, no fundo, é como se você se circunscreveu, você se trancou numa redoma e está ali dentro, com medo e, talvez, até com ódio do que está do
lado de fora. Será que os ateus fazem isso? Não existiria ateísmo se eles tivessem uma abertura cognitiva, né? O até quem que é ele? Ele sempre, ele sempre está problematizando tudo e, no fundo, se fazendo de difícil para enxergar o ser que está por baixo da real. Aliás, não existe ateísmo sem uma ideia de Deus. O ateísmo é uma negação de uma ideia de Deus. Ora, portanto, todo o ateísmo está tentando desmontar uma determinada ideia de Deus ou determinadas ideias de Deus. O que acontece é que o Deus que os ateus tentam impugnar não existe
mesmo. Uhum! Eu não acredito naquilo que eles estão tentando impugnar, né? Então, por exemplo, alguém que diz assim: "Deus é um espírito desencarnado". Pelo amor de Deus, isso é uma loucura! Como assim um espírito, uma alma desencarnada? Alma é o que anima um corpo! Deus, por definição, espírito, ele não pode ser desencarnado. Então, quer dizer que ter carne, ter materialidade, seria uma condição intrínseca necessária à qual ele não tem? Ou seja, esse Deus, eu não acredito. Eu me lembro de um famoso debate, se não me engano, do Dkin com um pastor da Igreja Anglicana, né,
nos Estados Unidos, em que eles estavam falando um debate acalorado, etc. No final, o tradutor perguntou: "Me diga, mas o que seria necessário para você acreditar em Deus?" Aí ele disse: "Bom, que ele aparecesse aqui na minha frente, eu visse e ele pudesse aparecer na frente de vocês também, etc. Pronto, cheguei! Sou Deus!" E aí o teólogo anglicano respondeu: "Bom, nesse Deus eu não acreditaria, porque é evidente que Deus não é uma coisa no universo e nenhuma super coisa que está lá em algum lugar, que pode ser detectada por instrumentos humanos e que, digamos assim,
está relacionada comigo como uma coisa que está fora de mim." São Paulo diz, nos Atos dos Apóstolos, no famoso discurso no Areópago, que "nele vivemos, nos movemos e somos." Não tem como eu sair de Deus para provar Deus. É uma loucura! Então, nesse Deus, realmente não acredito. Nós estamos falando de coisas diferentes. Por isso que eu não me incomodo com os ateus. Esse Deus do ateu realmente não existe, não existe, não tem como existir. Quer dizer, um Deus que pode ser provado pela química, pela física. Aí tem a turma, por exemplo... porque tem isso também,
né? Existem diferentes ateísmos. Uma coisa é um ateu que, por exemplo, responde à Igreja Católica, é um ateísmo, digamos assim, anticatólico. Ele vai ficar se preocupando com picuinhas de se esse milagre aconteceu ou não, se aquele santo foi verdade ou não. Vai ficar questionando coisas desse tipo. Já o ateu ex-protestante vai pegar a Bíblia. Uhum? Aí vai lá na Bíblia, vai querer desmentir, dizer que "ouve" e tal, e tal, e tal, e tal. "Deus é tão mal assim? Deus matou tanta gente assim?" Exato! Quando, na verdade, a Bíblia também é um recorte da história, né?
E descreve a experiência que os autores tiveram na história, tem um contexto. O método histórico-crítico ajuda a perceber esse contexto. Só que a revelação de Deus transcende isso daí e transcende muito, porque, para nós cristãos, ela não se resume a uma série de palavras colocadas num papel. Ela transcende a Bíblia; transcende a Bíblia porque é uma pessoa real. É o Verbo que se fez carne. Hum! Deus se fez homem. E o Deus que se fez homem é a segunda pessoa da Trindade, e a Trindade se revela através dele. Ou seja, isso é muito mais do
que um papel. Quer dizer, você entendeu? Esse tranho... Ah, porque você está olhando... Eu estava olhando, que me pareceu que você não estava entendendo essa parte. Claro, claro! O que acontece é que veja: o cristão acredita que Jesus Cristo está vivo agora, neste momento, e ele está nos salvando neste momento. Seu qualquer ato de bondade que tenha valor sobrenatural, ele está causando em mim, nesse exato momento, assim como o sol está causando o calor e tudo aquilo que isso proporciona ao planeta. A humanidade santíssima de Cristo está causando a graça e tudo aquilo que sobrenaturalmente
nos determina. Ora, isso é mais do que um texto, né? A armadilha protestante foi justamente a de restringir tudo a uma neurose textual. Você fica no texto, no texto, no texto, no texto, no texto, no texto, no texto e você não percebe que há uma pessoa real que veio, que se encarnou, que tem um rastro histórico real, que não se limita a umas coisas escritas, que tem um corpo, tem uma Igreja, que tem seguidores, deixou apóstolos, marca do sangue, e tem uma marca real na história efetiva que chega até os nossos dias. Você consegue entender
porque o protestante se limita à Bíblia? O que não está aqui é heresia. Eu acho que isso tem uma razão de ser histórica. Na minha opinião, quando os árabes se infiltraram no Ocidente, através da filosofia, filósofos como Averróis, Avicena, etc., eles criaram aquele tipo de pensamento muçulmano, de filosofia muçulmana. Ou seja, é um completamente transcendente. O que está acontecendo aqui não tem nada a ver com ele. Ele é absolutamente transcendente, faz o que quer, não tem uma necessidade de una determinação lógica. A vontade dele é superior à inteligência, e o único recurso que nós temos
a Alá é Mohammed, seu profeta, através das palavras que ele trouxe. Então, eu acho muito interessante que o protestantismo tenha uma leitura corânica. Você utiliza o mesmo modo de encarar a escritura como o... Islã enxerga o Alcorão, o protestante tá mais para o Islamismo do que para o catolicismo. Ah, bom, eu não diria bem assim, né? Eu só nesse aspecto, tá, no aspecto de tratar o texto da Escritura. Sim, sim, sim, aí sim, mas no mais não, porque eles têm a mesma fé que nós, estamos na Trindade da Santíssima Humanidade de Cristo e assim por
diante, né? Você acha que a Igreja Católica, né, falando sobre outras religiões e ateus... Ah, não sei se é uma impressão minha, mas a Igreja Católica é a mais perseguida, não? É a mais criticada, sem dúvida. Você tem uma produção anticatólica, que não é desde a Reforma Protestante. As difamações contra a Igreja são praticamente ininterruptas. Depois, no Iluminismo, que nasce de filósofos protestantes, como Kant, por exemplo, Hegel; eram protestantes. Então, no Iluminismo, depois da Revolução Francesa, naquele tipo de racionalismo que surge na França, depois se alastra pela Europa, você vai tomar um ataque frontal à
Igreja, inclusive às suas estruturas, ao papado, à autoridade dos bispos, à autoridade do poder espiritual, e isso foi invadindo os séculos. Chegamos no comunismo, que, com a rejeição completa de Deus, passou a perseguir, num primeiro momento, a religião, depois acabou usando-a em seu favor, né? Na Rússia, por exemplo, Stalin, primeiro perseguir, depois ele passou a ser um promotor da Igreja Ortodoxa, por muitos até considerado um santo lá na Rússia, pelo amor de Deus. Então, veja, a Igreja Católica sempre foi perseguida e desde a Reforma essa perseguição só aumentou e só se tornou mais rígida, mais,
digamos assim, destinada, mais forte, até o ponto que nós chegamos hoje a uma espécie de ódio mesmo a Cristo, à Igreja, porque veja, não parece estranho que a galera que quer anarquizar, que quer ridicularizar, sempre pegue aquilo que, para o católico, é o mais sagrado, mais santo, né? Por que uma feminista, por exemplo, precisa colocar um Rosário no ânus, na praça pública? Por que ela não utiliza outros métodos? Eu estava vendo isso; não é crime fazer isso, deveria ser considerado crime, por intolerância religiosa, por exemplo, mas, na prática, a Igreja é difamada e caluniada. Quantas
escolas? Quantas vezes por dia? Sim, uhum, e nunca se faz nada. Agora, por exemplo, se o contrário acontece, né? Uma religião minoritária, por exemplo, é criticada. Nossa, isso pode dar uma cantora, falar uma letra de falar que Jesus é bom na letra, mudar pouca coisa ali, mas continuar falando... Deu ruim, deu ruim. Agora, vejam, é muito interessante que eles precisem pegar símbolos religiosos católicos para fazer a anarquia. Eu estava vendo, em frente à catedral, se não me engano, de Milão, um grupo de feministas fazendo uma espécie de ladainha sacrílega na frente da catedral. Mas por
que precisa fazer isso na frente da catedral? Querem fazer um protesto em favor das suas causas? Não deveria ser necessário pensar na Igreja, mas pensam, ou seja, enxergam a Igreja Católica como o grande entrave para o movimento revolucionário internacional. Mas não seria porque a Igreja não tem parcela de culpa nenhuma, nem na época da Santa Inquisição, por exemplo? A Igreja, quer dizer, as pessoas da Igreja cometeram muitos erros ao longo da história; esses erros às vezes são inflacionados até se tornarem, digamos assim, mitificados, do ponto de vista negativo, exacerbando a... né? Então, por exemplo, a
questão da Inquisição: existiu, existiu, mas a Inquisição julgava quem? Os católicos. Uhum, somente os católicos. Somente os católicos, nunca julgou judeu, nunca, não julgava pessoas de outra religião. Se a pessoa se arrependesse, ela era imediatamente libertada. Se ela mesma se apresentasse, não acontecia nada com ela, apenas depois de uma obstinação do encarceramento. Então, a pessoa tá ali, continua na sua pertinácia, então, aí sim a Inquisição condenava a pessoa e a entregava para o braço secular. As bruxas de fogueira... Pois é, mas as tais das bruxas, quantos sacrifícios humanos não cometiam? Matar crianças, matar moças virgens...
E não só bruxas, mas homens também, bruxos, sim. Então, ou fazia uma espécie de terrorismo, né? Terrorismo religioso, terrorismo do feitiço, né? De dizer: olha, eu vou destruir, eu tenho um poder sinistro capaz de te matar, por exemplo, né? E o que causa um transtorno psicológico, etc. Faz isso aqui que, se não, vai dar... É, não sempre foi como é hoje. Não, a gente vive épocas de abundância, mas não só isso. Por exemplo, hoje praticamente ninguém acredita nessas coisas, né? Então, o impacto disso é muito menor. Hoje nós temos sistemas prisionais muito eficazes; naquela época
não havia a justiça. Se fazia de outro modo, era extremamente perigoso, né? Nós não podemos ser, digamos assim, anacrônicos e perder de vista a hermenêutica do momento histórico. Sim, cada realidade tem o seu modo de ser interpretado no contexto histórico concreto em que aconteceu. A minha única dúvida nesse período, assim, e eu até acredito que sim, potencializaram muito o terror da Igreja para realmente destruir a instituição da Igreja, mas, por exemplo, eu tô lendo um livro da vinda da família imperial pro Brasil e, nessa época, o livro conta que, por exemplo, a ciência não foi
tão desenvolvida em Portugal ou na Espanha nessa época, assim como foi desenvolvida em outras regiões, como França e Inglaterra, que a ciência cresceu muito mais nessas outras regiões do que em Portugal e na Espanha. Tanto é que não temos cientistas. Dessa região, por quê? Porque era uma área totalmente dominada pela Igreja. Era, era. Os territórios onde a Igreja era mais forte eram Portugal e Espanha. Então, assim, o que me levou a crer que a Igreja freava o avanço da ciência e esse tipo de crítica parte de um preconceito em que se quer colocar a Igreja
na pecha de obscurantista. Quer dizer, a Igreja é contra o conhecimento, a Igreja é contra a ciência, a Igreja é contra o avanço da sociedade. Só que isso não é verdade. Veja, os maiores inventores e descobridores foram frades e padres. A teoria do Big Bang foi criada por um padre jesuíta. Mas pode ser que eu esteja enganado, agora a memória pode me trair um pouquinho. Por exemplo, Mendel, que é o pai da genética, foi um padre, um monge. Isso de dizer que Portugal e Espanha são atrasados tecnologicamente, meu filho, Portugal e Espanha fizeram as grandes
navegações 200 anos antes da família real chegar aqui ao Brasil. Mas os jesuítas foram os educadores do nosso país. Quando o marquês de Pombal expulsou os jesuítas de Portugal e, portanto, das províncias do Brasil também, o que aconteceu foi que ele pulou todos os educadores. O déficit educacional que nós temos, por exemplo, no país se deve em grande parte a essa herança da expulsão dos jesuítas. Vejam que na América Espanhola você tem universidades muito antigas, porque os jesuítas não foram expulsos de lá. Exatamente daquele modo, já havia uma determinada formação. Além de outras ordens religiosas,
diferentemente do Brasil, que era predominantemente jesuítica. Quando a família real veio para o Brasil, ela transferiu a corte para o Brasil. Isso significa que o Brasil passou a ser Metrópole, sim, e foi uma jogada de gênio do Dom João VI. Napoleão estava arrasando a Europa e, ao invés de ele ficar refém e deixar a monarquia portuguesa refém, ele veio para o Brasil e estabeleceu a corte aqui. Foi quando Dom João VI chegou aqui que começou a ter escola, que começou a ter imprensa. Foi quando ele chegou que não tinha nada disso aqui. Não tinha médico
no país, não tinha nada. Quando Dom João VI vem para cá, isso começa a se criar. Mas nós temos uma dívida com Portugal que é imensa do ponto de vista civilizatório. Mesmo aquilo que fizeram para civilizar o nosso país foi grandioso. Tem seus problemas, tem seus problemas. Eu acho que existem coisas, bens imateriais valem mais, que são muito superiores e, de certo modo, são até impagáveis, né? Sim, mas é evidente que houve erros. Não tô querendo dizer isso, não. Assim, é uma piadinha. É que vejam, às vezes colocam uma coisa de um modo tão adulterado
para nós que nós mesmos nos tornamos reféns desse amorfo ao qual somos impostos. Mas, Portugal, por exemplo, tem um dos filósofos que desenvolveram a filosofia de São Tomás, mais brilhante, que era português. Depois, mesmo na economia, a economia liberal deve muito aos economistas que estavam nos conventos dominicanos de Portugal. É, mesmo exatamente, o livro do Alejandro Chafuen, "Faith and Liberty", em que ele fala justamente sobre isso, sobre como o modo de pensar a economia realmente é tributário do pensamento desses homens. Quer dizer, se eu escolho colocar a Igreja como culpada de todos os erros da
humanidade, é um erro muito grande. Ou colar nela a pecha de obscurantista, eu estou cometendo uma injustiça de proporções incalculáveis, até porque a gente já ouviu isso outras vezes. Que eu questionei uma busca pela verdade. Eu acho que a gente tem que falar da maneira mais sincera que a gente tem para falar e pronto. Eu não me preocupo nem um pouco com isso. Tranquilo, você não mente, né padre? Não, então tem que falar a verdade. Não mente. Eu procuro não mentir. Eu, as pessoas que convivem comigo, sabem que eu digo a verdade na lata. É
mais, é mais. Não tem mentirinha do bem, eu não gosto, nunca gostei. Acho que você tem que falar a verdade. Mas esse é mais uma coisa sua, pessoal, ou isso é realmente uma determinação que você segue? Acho que as duas coisas, viu? Acho que as duas coisas. Eu nunca gostei de ficar de historinha, não. Dizer o que tem que ser, e pronto, na lata. Bom, você acha que algumas tradições da Igreja estão sendo perdidas? Vou te perguntar por quê e vou te dar um exemplo. Porque se eu não estou enganado, quando fiz a primeira comunhão,
quando a gente fosse rezar, me foi instruído que eu tivesse que ficar com as mãos juntas e os padres teriam liberdade nas mãos para encaminhar a bênção, alguma coisa nesse sentido, não me lembro bem porque já tem mais de 40 anos, então não me lembro bem. E hoje, parece que quando eu vou à missa, por exemplo, eu não sou um iante fiel, as pessoas, geralmente, quando vão rezar, elas fazem esse movimento. Isso está certo? Bom, é uma questão bem interessante. Em princípio, em princípio, digamos assim, no rito latino, que é o rito romano, que é
o que eu mais conheço, não haveria esse gesto. Agora, com o novo Missal, existe um convite ao Pai Nosso em que ele diz: "Levantemos as mãos e oremos como o Senhor nos ensinou". Na verdade, é uma exortação, uma monição, como se diz, né? Um convite tirado do Missal Ambrosiano. Ou seja, aquele que é vigente em Milão. Temos que levantar as mãos. É, hoje eu diria que isso não é o grande problema; eu não colocaria a questão por aí. Agora, é verdade que nós perdemos muitas tradições que são mais importantes do que essas. Por exemplo, o
nosso contato com a língua latina. Quem é que estuda latim hoje de verdade? Ninguém. Grego é uma língua morta, o latim... Mas a missa em latim, ela realmente é mais eficiente; ela me conecta mais. Não, eu não quero; longe de mim advogar esse tipo de coisa, até porque vejam: hoje, quando se fala em latim, a pessoa já imagina que isso é tradicionalismo, que eu tô querendo... Não, não! Eu tô falando do latim como acesso, por exemplo, aos Padres da Igreja. Como é que eu vou ler os grandes autores da patrística sem conhecer latim? Ou seja,
a produção desses homens está toda em latim, nunca foi traduzida, porque não tem, inclusive, como fazer isso. É muita coisa possível traduzir? Não, é muita coisa, muito material. Há muita documentação, há muita coisa; existem coisas que são inexploradas ainda, que isso ainda tem coisa para todo mundo aprender. Eu tenho um amigo que estudou patrística, que ele descobriu os textos de um padre da Igreja no meio de uma série de documentos que ele estava analisando. Tinha lá um texto grego do padre da Igreja; ele sabe grego, decifrou aquilo. Uhum. Ou seja, eu acho que isso é
muito... vocês imaginem o seguinte: que todo o clero do mundo inteiro, o clero católico romano, falava latim. Ou seja, quando chegava aqui um padre da Alemanha, um padre da França, quando se fazia um concílio, um sínodo, todo mundo se entendia. Uhum. Hoje já não é mais assim. Isso me parece muito sério, né? Ou, por exemplo, se nós pegarmos a tradição do canto gregoriano, que praticamente se perdeu, tudo se esvaziou no canto popular, né? O canto gregoriano não é apenas um estilo de música. O Concílio Vaticano II disse que é a música oficial da Igreja, reafirmando
aquilo que os papas anteriores disseram, porque ele tem uma espiritualidade interna, né? O canto gregoriano é um canto tão somente melódico; ele não é rítmico e não é harmônico. Ou seja, ele não tem batidas, ele não tem ritmo e ele também não tem harmonia, divisão de vozes e coisas do tipo; ele é tão somente melódico e, exatamente por isso, eleva a alma para aquilo que é de mais espiritual. A perda disso é inestimável. Uhum. E assim por diante, há muita coisa que nós deixamos para lá em nome, por exemplo, de nos atualizarmos ou de alguma
maneira nos aproximarmos das demandas modernas, né? É o que eu estava pensando. Isso é feito mais para aproximar a Igreja do povo, né? Pois é, só que o fato é que o povo se afastou da Igreja. É justamente... e tem um vídeo interessantíssimo da Rita Lee, não sei se vocês já viram isso, em que ela conta: "Nossa, quando eu era jovem, era católica, eu ia à missa, tinha aquele órgão, aqueles cantos, tudo lindo, tudo impressionante. Aí de repente coloco música popular, baladinha. E aí de repente o padre vira pra mim e fala: 'Ih, eu não
tenho mais nada a ver com isso, não quero mais saber.'" Né? Tem uma entrevista dela falando isso. Achei muito interessante, porque é o sentimento de muitas pessoas, né? Eh, aqui no Brasil, por exemplo, aquele bolsão conservador do Brasil profundo, que tem valores profundamente arraigados, como a família, como os princípios morais, etc., com um discurso um pouco mais progressista adotado num determinado momento pela Igreja, essas pessoas acabaram se identificando com as igrejas pentecostais, que têm um discurso moral tal qual aquele que nós católicos tínhamos no passado. Então, eh, aqui precisaríamos de uma autocrítica. Ou seja, quem
mudou aqui? Foi o povo ou foi a Igreja? Eu acho que a Igreja mudou. E essa história de que nós mudamos para nos aproximar do povo, na verdade, produz um efeito contrário. Vou te falar o que acontece: assim, não sei se isso... mas é que teve um movimento, por exemplo, mundial, aí uma cultura nova e tal, que era bem distante de religião e tudo mais, e essa cultura já está em queda; ela não deu certo. A galera que estava pregando isso nos lugares já viu que ela não funciona; é uma cultura que já está desacreditada.
Mas eu tenho um irmão que é bem religioso, ele é praticante e tudo mais, e ele vive reclamando para mim que o que ele quer na Igreja é o clássico, sabe? O que ele realmente se interessa. Ele vai em várias igrejas, né? Se não tiver aqui, ele vai em outra. Enfim, mas que ele fica até frustrado quando ele pega alguma coisa mais moderna. Ele quer que ele seja irmão mesmo; ele quer aquele padre que realmente pede silêncio e que a roupa seja... que o cara não vá de bermuda, que a mulher não vá com o
decote grande. Ele fala: "Esse é o padre que eu gosto de ver." Mas esse é o padrão do católico brasileiro de base. Uhum. Quem imagina que o brasileiro é o cristão brasileiro banal está muito enganado. Uhum. Não é assim. Mas você veja, né? Esse modo de ser foi bastante hostilizado nas últimas décadas e parece até ser quase que criminoso. Não, onde já se viu você estar olhando pro... Passado, ao invés de olhar para o futuro, você está olhando para trás. Nós temos que olhar para frente, mas será que eu estou olhando para frente mesmo, né?
Essa é a, digamos, a natureza um pouco enganosa da mentalidade progressista, né? Ela tem certeza de como será o futuro, mas assim, quem me garante se o futuro será o fio dental ou será a burca? O exemplo entre coisas novas e as coisas novas que vieram como: "Nossa, isso vai revolucionar! Isso é o bom!" Elas estão caindo por si só, mas, é claro, e as tradições que se mantiveram ou que se perderam, elas estão voltando a ser o novo ponto de origem. De novo, tipo assim, "Nossa, eu quero é o patriarcado de novo!" Agora, será
que um dia saiu? Porque veja, quando a noiva quis casar de calça jeans, é verdade. Ou seja, o ponto de referência de sublimidade, de grandeza e de um valor excelsior continua sendo o... [Música]. Mesmo então, a fanisa, essa banalização nunca agradou ninguém. Por que é que você quer apresentar um Deus transcendente de uma maneira banal? Senta todo mundo no chão, pega na mão e vai fazendo de qualquer jeito. Isso aqui atropela não apenas a espiritualidade cristã, mas até mesmo a espiritualidade da religião natural, porque não existe entre os cultos pagãos um tipo de trivialidade de
desmanzo como esse, né? Por que a gente tem que fazer isso com a Santa Missa? Você acha que a Igreja foi infiltrada em algum momento para estar nesse ponto? Eu acho que sim, mas eu também não acho que é um fenômeno assim localizado numa fase do tempo. Eu acho que sempre houve... O apóstolo São João, se vocês lerem, não apenas São João, mas São Paulo também fala dos falsos irmãos que se infiltraram para espionar nossa liberdade em Cristo. São João fala daqueles que estavam entre nós, mas que nunca foram dos nossos. Sempre vai existir isso,
né? Aliás, Jesus, quando fala sobre o reino de Deus, ele diz que o reino de Deus é um campo no qual há joio e trigo. Então, eu acho muito ingênua a... Por exemplo, às vezes aparecem alguns católicos hoje em dia. Tem muito católico meio doido também, que o pessoal começa a navegar por teorias da conspiração. Mistura isso com aparecionismos, mistura isso com um determinado enfoque teológico meio fundamentalista, com outras questões, e cria uma espécie de mundo paralelo, que por exemplo diz assim: "Olha, em tal momento houve um desvio". Pera aí, mas calma! As coisas não
são produzidas do dia para a noite. Sim, os movimentos históricos são produzidos em larga escala ao longo de um período muito, muito, muito abrangente, e nós precisamos ter uma certa sensatez para não cair em simplificações banais, né? Sim, sim, eu vejo hoje uma divisão que eu não sei se ela é preocupante. Até queria saber a opinião do senhor. Eu vejo, principalmente quando a gente vai trazer, vai falar aqui da Igreja Católica, aqui no Três Irmãos. Tem muita gente que fala: "Pô, esse padre é TL". Esse padre não é TL. E eu vejo que tem uma
briga muito grande para apontar alguém como TL. E se TL é tão ruim assim para todos os católicos que apontam TL, por que a Igreja permite a teologia da libertação? Me parece que nenhum católico que eu conheci até hoje concorda com ela. É um problema real. A teologia da libertação é um enfoque teológico problemático. Eu tenho críticas, mas não críticas assim baratas, né? No sentido de que hoje em dia a pessoa simplesmente rotula ou, digamos, coloca uma etiqueta e pronto. Ah, botou o rótulo, até sem saber. O tipo de crítica que eu tenho é profunda,
é um método teológico. Eu acho que o método teológico da teologia da libertação é um método teológico equivocado. Isso é uma questão profunda e um debate que, na minha opinião, não foi feito. Ele precisaria ser feito para que as coisas ficassem claras. Ele precisa ser feito? Eu acredito que sim, ele precisa ser feito, porque você tem uma abordagem teológica que se propõe a analisar criticamente as fontes da teologia, o magistério, a tradição, as Escrituras, a partir dos condicionamentos econômicos dos quais elas são tributárias. Segundo essa concepção, para mim, isso é muito complicado. Como assim? Me
explica melhor, por favor. É porque, no fundo, você está partindo da ideia de que Deus é um produto da estrutura econômico-política da sociedade e que, portanto, você precisa contrapor a uma determinada estrutura dominante uma outra imagem de Deus que equivaleria ao Deus da Revelação. Eu acho uma forçação de barra; faz sentido nenhum. Gigantesca. Mas, assim, repito, eu só disse isso de uma maneira muito, muito, muito resumida. Mas é bem mais complexo do que isso, né? Ora, então, para mim isso é problemático. O que eu vejo é o seguinte: os fiéis têm um faro. A Igreja
chama isso de sensus fidei fidelium, o senso da fé dos fiéis é uma espécie de sentido. E o que acontece? Os fiéis abandonaram esse tipo de abordagem. Hoje ela é uma abordagem elitista, que está circunscrita a pessoas de uma, até de uma determinada faixa etária. Já pertence, digamos assim, a um certo passado e não se reproduz, não tem vitalidade e foi rejeitada pelo, digamos assim, pelo grosso da membresia da Igreja, né? É o fato. Agora, o que fazer com isso? Eu sei, mas esse é o fato que está diante de nós. Olhos, né? É um
assunto espinhoso assim para o senhor abordar. Assim, não, não, eu não tenho problema com assunto nenhum. Sim, sim, a coisa é que, eh, não basta haver uma espécie de contraposição. Inclusive, eu acho interessante analisar também esse aspecto. Eu preciso me colocar na perspectiva daquelas pessoas que estavam vivendo aquele processo histórico, daquele momento, e não ser cruel com elas. Claro, porque veja, você tem lá um padre, uma religiosa, que receberam determinada formação; eles não têm culpa de terem sido formados assim. Eh, eu já disse que eu acho que o debate sobre o método teológico não foi
suficientemente feito, então não tem sentido nenhum eu hostilizar pessoas ou criar uma guerra entre pessoas. Eu, na verdade, o que eu deveria fazer é um debate de alto nível, mas eu não vejo que nós temos clima para isso. Porque quando você tem, digamos assim, concepções antagônicas em disputa, você não quer fazer um debate de alto nível. Cada um quer fazer apologia da sua própria percepção. Isso aqui não faz, digamos, muito danoso, né? Não faz a verdade avançar. Uhum, você transforma, digamos assim, a verdade em prisioneira de uma determinada reatividade, né? Podendo causar até uma ruptura.
Acho que não chega tanto, porque a igreja, a unidade da igreja católica é uma coisa muito, muito, muito profunda. Teve um rapaz que ele perguntou, e é bem simples, mas ele perguntou: vou te repassar, beleza? Ele falou que está com a esposa dele há 16 anos e que ele foi, depois disso, fazer um casamento no civil, mas estava muito caro o casamento civil e ele não fez o casamento civil. Então, ele foi à igreja para fazer um casamento religioso e que o padre não quis fazer o casamento religioso dele porque ele não tinha feito o
civil. Isso é uma lei, né? Bom, é que vejam, eh, em digamos assim, em princípio, a igreja não celebra um casamento religioso que não tenha sido civilmente reconhecido, né? Agora, a questão econômica aí eu acredito que ela é superável. Primeiro lugar, do ponto de vista civil, a pessoa também pode alegar a pobreza. E aí deveria fazer, quer dizer, se a pessoa tem um atestado, tem um reconhecimento de que ela não tem condições de pagar, o estado não deveria negar o direito que o cidadão tem de se casar. Sente, é um direito. Agora, a igreja também,
a igreja é a mesma coisa: é necessário que o casamento religioso seja antecedido pelo casamento civil. Não, não é estritamente necessário; é positiv necessário. Ou seja, é uma norma. Uhum, o bispo poderia dispensar o fiel dessa norma; isso cabe a ele. Há bispos que dispensam, há outros que não dispensam por razões diferentes. Entendi. Aí tinha uma lei que... porque antigamente a igreja poderia... antigamente você não precisava ser casado no civil e poderia ir numa igreja que isso aconteceria naturalmente, não é? A igreja era... casamento civil. É, né? Mas aí parece que teve uma determinação, sei
lá, uma lei, uma norma jurídica mesmo que meio que proibiu a igreja de fazer isso. Numa forma de que você fique dependendo do estado para isso. Normal. O estado queria dominar, né? Na verdade, o que aconteceu foi o seguinte: é que o estado parou de reconhecer ipso facto. Ah, entendi. Um casamento religioso como civil. Entendi, porque antigamente o casamento religioso já tinha um efeito civil imediato. Hoje esse efeito civil precisa ser impetrado. Um casamento religioso pode ter efeito civil, né, desde que a pessoa faça alguns trâmites no cartório. Uhum. É verdade. Hoje, do jeito que
está, você não precisa nem casar, né? Você foi lá no cartório, lá, foi separar. Ser casado, direitos são os mesmos. Você precisa casar. É infelizmente, infelizmente para casar precisa, mas para separar não precisa de nada. Inclusive, já esse assunto... se eu me tornar um católico e fiz a primeira comunhão, tudo, e entrar para a igreja, eu sou casado no civil. Eu tenho que depois casar com a minha esposa na igreja católica? Se você ou ela forem batizados na igreja católica, sim. O que determina isso é o batismo. Ou seja, duas pessoas que não são batizadas,
elas não têm obrigação da chamada forma canônica. Então, o casamento que elas fizerem foi válido, uhum, natural. E pôs um anel de coca ali, tá valendo do jeito que elas consideraram. Agora, se você é batizado, você é obrigado à forma canônica. Então, não é pecado. Então, se pelo menos uma das partes... Se pelo menos uma das partes for batizada, para aquele casamento ser válido, ele precisa ser... ele precisa da forma canônica. Precisa ser feito segundo as leis da igreja. Aí, só para me lembrar aqui do que a gente falou antes, é nessa hora que a
inquisição entrava. Se você não é batizado, você não precisa cumprir lei nenhuma. Mas se você é, aí você tem que casar de acordo com as leis da igreja. Exatamente. Não é isso? É, mas aí para casar também tem que passar pelos outros. Tem que fazer pela crisma, crisma, tem que fazer primeira comunhão, batismo... E aí eu já posso pular para o casamento, pode? Quer dizer, não é o adequado; o ideal seria que você tivesse completado a iniciação cristã, etc. Ah, mas se acaso uma pessoa não recebeu a iniciação cristã completa, ela é apenas batizada, ela
pode casar, desde que seja católica mesmo, né? É, se no caso caber aqui. Então, se ele quiser casar lá, a esposa dele não é batizada, mas ele é... basta um... basta um, mas sim! Não é que só... não é... não é só. Que basta uma qualquer outra forma de casamento não será válida, justamente porque ele é batizado. Sim, ah, entendi. No caso, seus menos são batizados. Cabiro ainda não? Não, né? Ainda não podia, disse aí. E tem que ir na missa todo domingo. Padre, tem que ir à missa todo domingo. É pecado faltar à missa.
É pecado faltar à missa para o católico. Ah, sacanagem. Está assim, tem compreensão? A lei? Não, não. Ah, sacanagem. Tem que ir todo domingo, mano, na missa. Eu sei que eu só tenho que cumprir isso, mas eu acho sacanagem porque, por exemplo, ontem eu estava aqui. A gente entra aqui às 10 horas da manhã e sai daqui à meia-noite. Como é que eu faço para ir à igreja? Mas não custa nada. Você não para para almoçar, por exemplo? Não, não. Sempre tem dia que não dá, né? Uma missa dura cerca de uma hora. Quer dizer,
você acorda lá, vai às 7 horas, vai à missa. Você tem o dia inteiro para trabalhar, cara. Mas a missa, aliás, não deveria nem trabalhar no domingo, em princípio, né? Mas se for necessário, se for espiritualmente necessário, etc. Certo? Trabalhar no domingo é pecado? Eu não diria assim. O repouso dominical é, digamos assim, obrigatório para o fiel. Mas a vida é complexa. Então, a situação que o fiel tem que trabalhar no domingo porque é o emprego que ele tem. Ah, sei lá. O médico tem que fazer plantão, não tem jeito. É um farmacêutico, tem que
ter a farmácia aberta, não tem jeito, necessita, né? Então, existem trabalhos que você não consegue se livrar no domingo. Mas o ideal é o repouso, mais um tempo de repouso, né? Assim, eu entendo isso. O padre, quando está celebrando, pregando, ele está trabalhando. O padre pode trabalhar. No caso, o padre é isso. O domingo é o dia que a gente mais trabalha, mas é porque o trabalho é necessário. Como é que os fiéis vão cumprir o preceito se fazem exame? Isso é cansativo, padre. É cansativo. Você se sente cansado assim? É cansativo porque, primeiro, com
os gestos na liturgia, eles demandam um certo preparo físico, né? Você tem que ficar parado, com o corpo ereto, com as mãos postas, tenso, né? Então, você vai pregar, você está falando para as pessoas. Você está em pé, as pessoas estão sentadas e você não está falando com amigo, né? Você está transmitindo uma mensagem muito forte. Se você vai distribuir comunhão, você se inclina um pouquinho, é um que é mais baixo, outro que é mais alto. Você está fazendo uma certa atividade. Então, às vezes, você fica fisicamente dolorido. Mas a exaustão é só física ou
é mental também? Psicológica também. Porque, claro, você tem que pregar. Pregar é uma atividade psicológica difícil. Você tem que estar lidando com ideias. Você tem que, sobretudo, se você cuida bem da pregação, né? Então, você tem que estudar. É complexo. Agora, não é só isso. Você tem reuniões, você tem pessoas que querem te pedir conselhos. Você tem que atender uma confissão aqui, outra ali. Então, tudo isso, né? Por exemplo, só uma sentada de conversa com um casal em crise, às vezes, rouba duas, três horas de um padre. E a igreja ainda é procurada para esse
tipo de… Claro, para crise de casais, para resolver problemão de testamento, não. Divisão de testamento, não. Resolver problema familiar. Mas assim, uma pessoa que está em litígio, às vezes, vai procurar ajuda, conselho, etc., né? Mas não, assim, para a igreja entrar lá na disputa. Isso, de jeito nenhum. Mas já foi muito mais, né? E seria bom, eu acho, se voltasse assim, né? Porque a igreja entende a necessidade da sua paróquia ali, né? Dos seus fiéis. Além do que, assim, veja, quando você verbaliza algo para um sacerdote, ele enxerga aquilo de fora. Inclusive, eu diria que
essa é uma das grandes vantagens do celibato, porque o celibato me faz estar distante das dinâmicas internas familiares. Então, enxergo tudo de uma perspectiva completamente diferente. Parece que não, mas é assim. E, às vezes, só o fato de eu ser celibatário já ajuda muito a perceber a questão sob um prisma original, apresentar aquilo para a pessoa. Além do que, claro, o sacerdote tem a graça de estado, então aquilo que ele fala, há uma iluminação especial de Deus que a gente percebe mesmo no exercício do ministério. Uhum, tem uma… o Lucas está aqui. Lucas Gregório escuta
isso: que eu achei interessante. Sou protestante, porém eu estudo a história da igreja antiga. Porém, ao estudar a história da igreja, comecei a ter dúvidas. Eu posso ser católico sem acreditar em todas as doutrinas? Santos? Algumas tradições? Tem o trauma com velas e outros? Ou seja, ele é um protestante que acha que tem vontade de ser católico, mas ele quer ser católico sem seguir todas as doutrinas. Ele pode? Não, isso não é possível desse jeito. Como a coisa está enunciada, não é possível. Porém, se ele continuar estudando, ele vai perceber que existem travas que ele
tem. Por exemplo, vou colocar um caso, né? Há pessoas que têm travas com Maria, Nossa Senhora, porque ele estava numa igreja que se pregava muito contra. É só Jesus. É só Jesus. Não tem outra pessoa, não tem santo. Então, ele pega uma trava com ela. Ora, quando a pessoa vai se tornar católica, tem aquilo, uma espécie de fobia mariana, digamos assim, né? Então, nesses casos, por que que ele não pode se tornar católico imediatamente? Porque se ele tem dificuldades com Maria, ele tem uma deficiência cristológica. Por quê? Porque, por exemplo, se eu não entendo que
Maria é mãe de Deus, tem um problema aqui que… Eu não tô entendendo porque Jesus é Deus. Como é que Jesus é Deus e Maria não é mãe de Deus? Aí vai dizer: "Não, mas é que Jesus é Deus e homem." Certo, Jesus é Deus e homem; Ele tem duas naturezas, uma divina e humana. Porém, a pessoa encarnada, a pessoa que é o sujeito da natureza tanto divina quanto humana, é uma pessoa divina. Se ela é mãe, ela tem que ser mãe da pessoa; não é possível que alguém seja mãe da natureza. Deus pode ser
só Deus, que é criador da natureza humana. A natureza humana é comum a todos nós, então ela é mãe de um indivíduo que é a pessoa que se encarnou. Então, ela é mãe de Deus. Ou seja, é aqui que estão as deficiências, né? Então, por exemplo, uma pessoa que tem dificuldade de entender a intercessão dos santos, ela não conseguiu perceber ainda a natureza da Igreja como comunhão. A comunhão dos santos, ou seja, nós todos somos um corpo de Cristo; isso não acaba na Terra, isso se estende aos céus. Quando o autor da carta aos Hebreus
diz que nós estamos rodeados por uma nuvem de testemunhas, que testemunhas são essas? Que nuvem de testemunhas são essas? Justamente, são os santos que estão na glória. Então veja, é uma coisa que chega a ser absurda: pensar, por exemplo, que alguém está lá na glória do céu e tipo assim: "Danem-se todos que estão lá na Terra se lascando," né? Chega a ser impensável, quer dizer, parece que a glória do céu diminui o amor. O que é isso? Ou ela aumenta esse amor? Então aqui entra todo o assunto da comunhão dos santos. Então não dá para
ser católico pela metade; você é católico 75%? Porque as verdades da fé estão todas escoradas umas nas outras; se você puxa uma, você derruba todas. Eu não sei se você concorda com o que eu vou falar, mas eu estava pensando essa semana sobre a intercessão dos santos. Deus coloca o tempo todo pessoas na nossa vida, pessoas comuns, para nos ajudar. "Senhor, tá vindo aqui." Deus colocou o Senhor aqui para contribuir; nós contribuímos, né? Eu sempre tenho pessoas que, na minha vida, me ajudam. O Robertinho é uma pessoa que tá na minha vida me ajudando; Pedro
é uma pessoa também, faz tudo, ajuda. Então, assim, se Deus coloca as pessoas na nossa vida para nos ajudar, por que Deus não poderia colocar os santos para nos ajudar também? Pois é, Ele coloca o tempo todo essas pessoas perto da gente. Exato, e isso... Ou seja, vou traduzir o que você tá dizendo de outro modo: legal, tem sentido o que eu falei? Tem sentido, tem absoluto sentido. Se eu posso orar por você na Terra, por que eu não posso orar por você no céu? Quando eu estou mais próximo de Deus, não tem o mínimo
sentido acreditar nisso. O que não é só? É só Jesus? Quer dizer, que Jesus nos separa? Nós não somos um corpo; quanto mais unidos a Cristo estamos, mais unidos entre nós. Quer dizer, é um negócio... Há uma deficiência na compreensão aqui, né? Por exemplo, uma pessoa que tem dificuldade com a intercessão dos santos, ela então imagina o seguinte: que um pai não fica nada contente de ver os filhos se ajudando uns aos outros. "Eu sou o pai, só eu posso ajudar!" Mas eu sou o pai de todos vocês, e, portanto, vocês só são irmãos porque
eu sou o pai de vocês todos. Então, a comunhão que existe entre vocês me glorifica. Que você ajude o outro, graças à graça que eu mesmo dei a vocês, isso só me glorifica. Essa é a alegria do pai. Então a Igreja sempre disse que o culto aos santos glorifica primariamente a Deus, porque Deus é a causa da santidade, Deus é a causa da comunhão, Deus é a causa da caridade que existe entre os santos e os santos do céu e os santos da Terra. Sim, eu vou te falar: eu, como pai, bem menor, né? Me
comparando com Deus... Mas a coisa que mais me deixa feliz é ver, eu tenho mais de um filho, né? Então são irmãos, é um irmão ajudando o outro. Se eu tô no caminho e posso ajudar, você entende? É eu ajudando o cabeleireiro, ajudando meu irmão mesmo, né? Então, veja como as pessoas pegam uma questão por um lado errado. Por exemplo, elas dizem assim: "Por que eu preciso rezar a um santo se eu posso falar diretamente com Jesus Cristo?" Eu já vi isso. As pessoas colocam a questão numa espécie de dilema, mas é um falso dilema,
pois eu posso falar diretamente com Jesus Cristo e também posso falar diretamente com Jesus Cristo. E também... você falar com Jesus Cristo comigo? Quer dizer, não há uma incompatibilidade, né? Não é "ou" ou "é". E é com Cristo, é com o Espírito Santo, é com os santos que estão no céu, com os irmãos aqui da Terra que eu peço para eles orarem por mim também. Ouvi-me dizer que um evangélico não pede oração para seu pastor; opa, pede, senão ele não ia ao culto. E por que esse ódio tão grande a Maria, padre? Não é um
ódio assim... Não, eu vejo uma raiva de Maria, assim, de colocar Maria como uma mulher comum, assim. Eu já não... Maria é uma mulher comum, Jesus tratou Maria como uma mulher comum. Jesus foi perguntar onde que Maria... foi perguntar onde Jesus estava. Tava na casa do meu pai. Mulher, e não conversa com Ele. Tem aquela outra situação que eu não sei qual é a passagem da Bíblia certa, mas que chega lá Jesus: "Ó, sua mãe veio aqui para te ver, né? Sua mãe e seus irmãos." Não, perante a Deus, todos são meus irmãos, né? Como
se não fosse família de Jesus. É isso mesmo. São coisas, são textos que são mal compreendidos, né? Na verdade, essa espécie de aversão a Maria que existe em muitos evangélicos, não em todos, mas em muitos, deve-se ao fato de que eles pensam que isso diminui a glória de Jesus. Se tiver... aham... ou seja, se eu honro Maria, eu estou roubando algo da glória de Cristo. É uma espécie de complexo, né? E, na verdade, veja, é exatamente o contrário. Ninguém amou mais Maria do que Jesus, e Ele a amou como filho, a amou como serva, sobre
diversos aspectos. E nós também podemos dizer que ninguém amou a Jesus tanto quanto ela, por inúmeras razões, inclusive pelo fato de ela ter tido Deus encarnado dentro do ventre dela durante nove meses. Vocês imaginam o seguinte: se aquela mulher que tocou na veste de Jesus foi curada instantaneamente porque tocou na veste, o que ela não terá recebido de graça ao carregar o Deus encarnado dentro das suas entranhas? Opa! Eu não posso dizer que isso aqui é uma coisa normal, uma coisa comum. O sangue dela é o sangue de Jesus. Falar agora, Ele tem o sangue
dela. São Paulo diz que a única referência que ele faz a Maria está na carta aos Gálatas. Ele diz: "Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher". Ou seja, ela não foi uma barriga de aluguel. Por isso que eu estou dizendo que a incompreensão sobre Maria, no fundo, é uma incompreensão sobre Cristo. Ou seja, não é que Deus pegou uma espécie de matéria, criou uma matéria divina do nada e jogou lá dentro do ventre dela, e ela foi uma barriga de aluguel. O que São Paulo diz, "nascido de uma mulher", está salientando o fato
de que Deus fez Jesus de Maria de um modo que nós não entendemos, miraculosamente, mas dela. Então, a união que ela tem com Cristo é única e exclusiva; nenhuma criatura tem mais. Quando eu começo a enxergar isso, os complexos começam a cair e eu começo a ver: "Peraí, peraí! Não é que eu estou enxergando simplesmente a realidade. Não é que eu estou tirando a glória. Não há uma disputa entre Ele e ela." Não é isso. Esses textos, né, que você faz menção, na verdade, estão falando sobre outro assunto. Porque veja, os judeus tinham uma aliança
e têm uma aliança que é uma aliança de geração carnal. O que é isso, né? Então, Deus fez uma aliança com Abraão e com a sua descendência. Só é judeu quem nasce de um ventre judeu. Uhum! Ou seja, quando chega Maria e os chamados irmãos de Jesus para falarem com Ele enquanto estava pregando, e Ele diz assim: "Quem são minha mãe e quem são meus irmãos?" Ele responde: "Minha mãe e meus irmãos são aqueles que fazem a vontade de Deus e a põem em prática." Jesus não está fazendo uma mariologia ali; não é a função
do texto. O que Jesus está dizendo é: agora temos uma nova aliança. A geração não se dá mais pela carne e o sangue; a geração agora é pela palavra. Eu estou gerando a fé no coração de vocês. Vocês estão se tornando meus irmãos pela graça que está sendo infundida em vocês. Então, eu posso ser cristão, eu posso ser judeu, posso ser árabe, posso ser índio, posso ser japonês, posso ser de qualquer procedência, porque já não é mais uma descendência carnal; agora é uma proveniência oriunda do Espírito Santo pela fé em Cristo. Nele, nós todos somos
irmãos. Então, o texto está falando, no fundo, sobre isso. Uhum! Não é um tratado de mariologia. Então, todas essas questões que às vezes são apresentadas são textos retirados do seu contexto, querendo forçar Jesus... ah! Inclusive a forçar Jesus a pecar, porque é uma coisa absurda, né? "Que minha mãe, você não é minha mãe!" Como assim? "Pai e mãe, cadê, cadê a...?" Não tem lógica, simplesmente não tem lógica, porque a lógica tem que ser em todo contexto, né? Tudo tem que estar amarrado. Se alguma coisa for falada, mas que distorce outra coisa importante, provavelmente já não
é mais a verdade. E por que não há documentos falando de Maria? Ou se têm, eu não sei. Depois da morte de Cristo, existem textos que são considerados não canônicos, ou seja, não são textos bíblicos. Mas, por exemplo, existem cartas de Santo Inácio de Antioquia a Maria. Ele estava vivo ainda na época e ela também. E o que? Essas são cartas. Alguns duvidam da autenticidade porque não há o original em grego, apenas textos tardios latinos, etc. Mas isso também, por exemplo, tem textos da Bíblia que só existem em latim, um latim tardio, e que não
estão, por exemplo, no Livro dos Provérbios, né? Uhum! Enfim, pelo menos na versão católica é assim. Então, vejam, há textos, por exemplo, há o evangelho chamado Evangelho de São Tiago, que é um apócrifo, uhum! Ou seja, não é um canônico, não é um texto que esteja na Bíblia, mas fala de Maria, recolhe algumas tradições acerca de Maria. E, sobretudo, você tem o magistério e os escritos dos Padres da Igreja sobre Maria, que todos eles estão recolhendo tradições. Apostólicas, Maria. Depois, ela, Jesus teve irmãos. Ela sentiu: "Vida, não, não teria o mínimo sentido, né? Quer dizer,
quando Cristo nasce de uma mãe virgem, é por isso, porque consagrando a virgindade dela, ela é mãe do Deus encarnado. Não tem o mínimo sentido que ela continue. Ela queira ter? Pensa assim: "O seu filho é o Deus encarnado. Ah, eu não tô satisfeito, eu quero ter mais um". É tudo bem, tudo bem. Agora sim, nossa, eu acho que agora vai ser heresia. Agora, agora vai ser crucificado. O que não entra na minha cabeça? Eu entendo tudo isso, mas falar que Maria morreu virgem, aí eu já acho que é um desrespeito a São José. Não,
por quê? Ele foi o primeiro que respeitou a virgindade dela, a defendeu. Veja, quando no Evangelho de São Mateus, José pensa em abandonar Maria, por que que ele pensa em abandonar Maria? Para defendê-la. Claro, ele fugiu, por ele assume uma culpa que ele não tem. Entendi, porque se ele ficasse, ou ele denuncia, aham, ou ele prevarica. Sim, sim, não tem saída. Então, para de defender ou fugir. O Anjo diz: "Olha, o que tá nela foi gerado pelo Espírito Santo". Quando o Anjo, no Evangelho de São Lucas, diz assim: "Maria, tu conceberás e darás à luz
um filho. Ele será chamado com o nome de Jesus", etc. Ela pergunta: "Como se dará isso, se eu não conheço varão?". Uhum. Só que o texto começa dizendo: "O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada por um homem da tribo de Davi, da descendência de Davi, chamado José, e o nome da virgem era Maria." Ou seja, "eu não conheço varão". O que significa isso? Eu não conheço o varão. O texto começa dizendo que ela está desposada, sou virgem, mas ela não conhece o varão. Desposada é
noiva. O que que é a desposada? Desposada não é simplesmente noiva, é uma preparação de casamento legal, mas ainda não factual. Entendi, já tá reservada, mas tá casada, tá desposada, realmente, só que ainda não está morando com o marido. Então, veja, quando o texto coloca na boca da virgem essa alegação: "Eu não conheço o varão", isso revela o propósito de não se unir carnalmente àquele homem, porque não faz sentido: "Você vai dar à luz um filho, será chamado tal". Ah, entendi. Então, quer dizer que o nosso filho vai ser... Não. Ela, ela opõe, estando desposada,
e diz: "Não, não conheço o varão". Ou seja, aquele casamento já foi feito com propósito de uma não coabitação do ponto de vista carnal, e assim foi até o final da vida deles. É o que a Igreja sempre ensinou desde os seus primórdios, e é o que faz sentido. Segundo o Evangelho, se você pega os irmãos de Jesus... Gostar dos irmãos de Jesus, por exemplo, Marcos, capítulo 6, diz quem são eles, dá o nome: São Marcos, São Tiago, José, Judas e Simão. Aí fala das irmãs que ainda estão conosco. Muito bem. Quando você vai para
o capítulo 27 de São Mateus, que é a cena da crucifixão, ou o equivalente, São Marcos que é o capítulo 15, o que você vai encontrar lá? É: "Aos pés da cruz estava Maria, mãe de Tiago e José". Quem é essa Maria, mãe de Tiago e José? Você pega o texto paralelo em São João: "Aos pés da cruz estava a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena." Uhum. Ou seja, Maria, mulher de Clopas, é a Maria, mãe de Tiago, José, Judas e Simão, irmã de Maria, que portanto deu
à luz aos primos de Jesus. Era a tia, no caso seria a tia de Jesus, com os filhos dela. É o que essa combinação de textos mostra para nós. Entendi. Então, veja, Maria Santíssima e São José não eram pessoas normais. Vou te dar um exemplo: digamos que você encontre com a Santa Teresa de Calcutá. Você pensaria em alguma coisa sexual com ela? Não, porque a santidade que ela transmite é um negócio extraordinário. Agora imagina Maria Santíssima, que foi criada simplesmente para ser a mãe de Deus. Sim, mas imagina o grau de santidade que transparece dela.
Veja, o Anjo... Aliás, o texto de São Lucas diz que, no... É, que Maria foi assim que ela recebeu a anunciação: "O Anjo disse: Isabel, tua parenta está grávida. Esse já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível." Então Maria diz: "Eis a serva do Senhor: faça-se assim segundo a sua palavra." E ela dirigiu-se apressadamente a uma cidade da Judeia, às regiões montanhosas, e diz assim que, ao cumprimentar Isabel, Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Ela já estava. Então vejam, essas coisas, elas não são sem significado. Portanto, quando
São José estava diante dela, meu, aquilo só comunica santidade, castidade, só comunica graça, só comunica Deus. Não tem... É, é, é impensável isso. Vejam que há um... Esse texto de... É muito interessante que esse texto da visitacão de Maria a Santa Isabel, ele foi escrito por São Lucas, de olho num outro texto do primeiro livro de Samuel que descreve o translado da arca da aliança para Jerusalém. E há um detalhe ali muito interessante que, há um determinado momento, a arca se desequilibra no lombo dos bois e um homem toca a arca e morre. Davi fica
com medo e manda a arca ficar na casa de uma pessoa, se não me engano, Obed-Edom, uma coisa assim. Ele vai... A arca vai ficar na casa. Aí, 3 meses, eh, aliás, 3 meses, exatamente 3 meses. E aí ele vê que não tá tudo bem. Aquela casa só prosperou. Então, ele leva a Arca para o palácio, para sua casa, sem encostar. Ou seja, há uma analogia aqui entre porque eh Davi pula diante da Arca. Aí você vê, no episódio da Anunciação, o quê? Eh, a criança pulou no meu ventre de alegria, né? Então, todos os
detalhes são muito parecidos. Ela fica 3 meses, eh, na casa de Isabel. O texto diz lá no final, e assim por diante. Então, você vê que há um paralelismo. Aham. Portanto, era intocável. Era intocável, não há, não há, a não ser que você seja um naturalista e você pense que nossa senhora... você coloca Nossa Senhora no mesmo pé que a Anita, que a Luí, ou seja, tá tudo no mesmo nível. Então, a mulher desejável e São José, um homem qualquer, como qualquer outro. Também não, não é. Ass Maria realmente é a nova Arca da Aliança.
É a nova Arca da Aliança. Ela traz o próprio Deus no seu ventre. Mas isso tá escrito. Veja no livro do Apocalipse, o capítulo 11. No final do capítulo 11, tá escrito assim: "E apareceu no céu o templo de Deus e a Arca da Aliança." Na sequência, "E apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés, na cabeça uma coroa de doze estrelas", etc. E, eh, eh, grávida do daquele que vai reger as nações com cetro de ferro. O seu filho foi arrebatado para junto de Deus, do
seu trono, etc. Ou seja, o próprio São João, no Apocalipse, coloca a mulher em paralelo com a Arca, exatamente como São Lucas faz no episódio da visitação. E mais, eh, às vezes em que Jesus, especialmente no Evangelho de São João, quando Ele chama Maria de mulher, na verdade, você vê, o que Ele está fazendo aqui é uma referência ao capítulo 3 do livro do Gênesis, quando Deus diz à serpente: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Ela te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar." Ou seja,
quando Jesus a chama de mulher, Ele está dizendo que ela é aquela mulher prometida em Gênesis, capítulo 3, versículo 15. A nova Eva. Ela é a nova Eva. E mais, o próprio São João, no Apocalipse, utiliza o mesmo termo, mulher, para dizer: "Apareceu no céu um grande sinal, uma mulher vestida de sol", etc., etc., eh, colocando um paralelismo entre Maria, a igreja, a Arca da Aliança, o resto de Israel fiel, e assim por diante, né, numa espécie de figura multidimensional. Então, não dá para falar dessas coisas, digamos assim, em termos tão somente... assim, tão... não
farei isso mais, quadre, prometo! Tem muito bem. É isso aí, já tá V, já aprendeu uma. Eu te falei que a gente vai aprender, a gente vai aprender e vai voltar. Melhor, vamos voltar com Deus. Rapaz, de onde vem aquela... é um jargão? De onde foi criado? Que tipo assim, falando de Maria, pede pra mãe que o filho atende. Existe isso ou não? Isso é só uma coisa que as pessoas falam, mas é só um jeito carinhoso, né? Eu acho que eu conheço até a pessoa que criou essa expressão, acho, porque é uma amiga minha,
uma senhora muito velhinha, que é a Dona Maria Gabriela, aqui de São Paulo. É que é uma senhora de uma santidade muito grande, maravilhosa. Eu acho que foi ela que disse essa frase. Pelo menos eu escutei pela primeira vez na boca dela, né? Mas é só um jeito piedoso para falar eh da intercessão poderosa de Nossa Senhora. Por que que a... eu tava falando, acho que a gente falou essa semana também. A igreja tem tantos milagres, né? E eu acho que ela poderia usar muito bem isso daí como a carta na manga de conversão, de
mostrar quando for questionada, até mesmo por ateus, né? Vários ateus questionando, "aí, ó, tá aqui, ó, explica esse milagre aqui". A ciência já tentou provar e não deu conta. Porque que a igreja não faz isso? Porque São Paulo disse em Romanos, capítulo 10, que a fé vem pelo ouvir, ouvir a pregação da palavra de Deus. Ou seja, a fé não é uma persuasão humana de eu chegar aqui e te vencer pelos fatos, impondo a você uma verdade factual de fora. Então vejam, se Deus não conceder a graça da fé para um homem, o homem não
é capaz de crer por si mesmo. E só o evangelho pregado é que pode produzir fé no coração da pessoa. Então você pega um milagre estrondoso, por exemplo, como o milagre de Fátima, a dança do sol diante de 70.000 pessoas. Tem gente que contesta: "Ah, não foi a chuva, né? Que tinha a chuva e secou todo mundo." Como que aconteceu esse milagre lá? Como que é contada essa história em 1917, no dia 13 de outubro? Eh, Nossa Senhora havia dito à Lúcia e aos demais pastorinhos que iria acontecer um grande sinal. Simplesmente disse isso. Então
vieram 70.000 pessoas que, na sua grande maioria, presenciaram aquele milagre, que é um milagre muito, muito pitoresco, né? O sol se deslocando. Por isso que eu digo que milagre é uma coisa que foge à nossa compreensão, né? Porque se o sol se deslocar, a gente morre, não tem jeito, né? Se ele der um suspiro, acabou o mundo, né? Mas é um milagre. Então milagre não dá pra explicar. É isso, né? Ora, tem gente que contesta: "Não, mas os testemunhos são pessoas que estavam condicionadas, são pessoas... não sei o quê." 70.000 pessoas. Pois é, mas tem
gente que contesta. Então, há milagres, por exemplo, o manto do índio de São Juan Diego, né? A Virgem de Guadalupe é outro milagre estrondoso. Qual é esse? Quando Nossa Senhora aparece em 1531 para o índio no México, uhum. Enfim, ele vai levar um sinal ao bispo. Na montanha, no inverno, apareceram umas rosas. Ela manda o índio colocar aquelas rosas no seu poncho, né? Na sua tilma. Ele vai e, quando abre aquelas rosas na frente do bispo, aquelas rosas caem. Foi uma imagem de Nossa Senhora na frente de todos. A imagem é estudada até hoje porque
a tilma está lá há 500 anos, que já é uma coisa fora do comum: são 500 anos, né? Depois, não há traço de pincel, não se sabe a procedência da pigmentação que está lá: não é de natureza animal, vegetal, etc. Já se estudou isso. Já se viu que nos olhos dela estão as imagens, os reflexos do bispo, do Juan Diego, que estão lá, né? As constelações, até mesmo no manto dela. Aquilo provocou um boom de conversões inacreditável porque os índios viram que ela estava com uma faixa azul; aliás, uma faixa preta em cima do ventre
e estava com os cabelos à mostra, né? Ou seja, os cabelos à mostra significavam, na cultura deles, que ela era virgem, mas com a fita preta que as mulheres grávidas usavam. Então, ela era virgem e mãe. Cara, e assim vai. Eles viram as representações ali. Foi uma coisa fora do comum. Tem gente que contesta isso, caramba, que fica achando problema, né? “Não, mas não sei o que, mas fulaninho de tal disse que não sei quando.” A pessoa não quer crer, ela não vai crer. Eu acho que tem uma passagem no evangelho que é muito interessante.
Jesus diz assim: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra.” Isso está no capítulo 11 de São Mateus. “Porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos.” Ou seja, o fulano que é incrédulo está achando que está em grande vantagem, uhum, porque ele fica em pé toda hora, desafiando a Deus e dizendo: “Me prova aí que você é Deus. Eu só vou acreditar se eu ver, se eu tocar, etc.” Ele acha que está numa grande vantagem, mas, na verdade, essa é a suprema desvantagem porque ele está cada vez
mais fechado. “Eu te louvo, ó Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos.” Quer dar uma de sábio, quer ser professor de Deus, quer ser o entendido. Tudo bem, Deus não precisa de você. Você nunca vai ter acesso. É você que precisa dele. É você que é um... você e eu. Nós somos um saco de podridão. Daqui a pouco isso aqui está tudo podre debaixo da terra. Eu não tenho nada a ensinar para Deus. Poxa vida, eu preciso dele. Agora, se eu quero me fazer difícil, muito bem. Azar
o meu. A pena de quem é simples se abre pra graça sobrenatural. Deus é capaz de transformar o coração dessa pessoa, inclusive com atos que ultrapassam a capacidade humana. Isso a gente vê na vida normal. Qualquer sacerdote percebe que os fiéis que creem, mesmo, fazem coisas que humanamente não têm explicação. Não dá. Por exemplo, né? Os 22 cristãos coptas que foram martirizados pelo ISIS, acho que em 2017, por aí. Na semana seguinte, foram entrevistar a mãe de um deles, cristã copta, e perguntaram o que ela faria se encontrasse um dos assassinos do seu filho. Ela
disse: “Eu chamaria eles para entrar em casa e agradecer muito a eles porque eles levaram o meu filho pro céu. Meu filho está na glória de Deus. Eu estou muito feliz.” Isso é fé. Difícil. Como é que você explica humanamente isso? Ou, por exemplo, uma pessoa que está definhando em cima de uma cama, está morrendo, está feliz e está dizendo: “Eu estou bem, eu não estou mal, eu estou bem.” E que as pessoas chegam lá para dar força a essa pessoa e são essas pessoas que saem de lá fortalecidas e consoladas e aconselhadas. Isso não
é obra humana. Isso só a graça de Deus pode fazer. Ou você pega um homem, por exemplo, como aquele, como havia aqui um grande pregador na década de 90, que o nome dele era Zé Pretinho. Ele era um mendigo da Praça da Sé, totalmente alcóolatra, drogado, etc. E um dia estava acontecendo um grupo de oração da Renovação Carismática na Catedral da Sé. Uma fila de pessoas para receber oração. Ele pensou: “Ah, estão dando alguma coisa ali.” Ele foi para a fila. Quando chegou a vez dele, a pessoa colocou as mãos sobre ele, o efeito do
álcool e das drogas cessou naquele instante e o homem se converteu de uma maneira extraordinária. Ele se tornou um pregador. Naquele instante, foi instantaneamente. A vida dele foi mudada. Era como se ele tivesse morrido e tivesse nascido sobrenaturalmente. Então, esse homem, por exemplo, quando chegava num estádio, era uma pessoa simples, de formação precária, pegava uma viola meio desafinada e começava a cantar. A presença de Deus descia no estádio, abria a boca e as pessoas começavam a receber graça, cura. Então, isso não se explica humanamente. E, por exemplo, aquela menina que foi curada pelo padre Pio
e que passou a enxergar sem ter as córneas. Era cega e ela passou a enxergar sem... Ou seja, o olho, fisicamente, dela era incapaz. Ela... Passou a enxergar o milagre e foi uma coisa interessante porque ela encontrou o Padre Pio na porta da igreja, né? E foi nesse encontro, a "casual", entre aspas, que se deu o milagre. Agora veja, o milagre na verdade começa quando ela tá lá na casa dela e tem ideia de ir para São Giovanni Rotondo. Ela podia ter perdido o trem, podia ter acontecido um acidente no meio do caminho, ela não
ter conseguido chegar, chegasse atrasada... Se qualquer fator tivesse, digamos, intervindo ali, não aconteceria aquele encontro e, portanto, não aconteceria o milagre. Mas por que aquele encontro aconteceu? Ah, nós vamos estudar isso pela ciência. Que ciência que é capaz de pegar todo esse fenômeno aqui e analisá-lo no seu conjunto? Não tem resposta. Então, se eu não percebo que, se eu tenho a mesquinharia intelectual de querer confinar tudo isso ao campo mínimo da minha percepção sensível, eu sou um babaca. Eu acho que só a pessoa vai se dar conta disso quando ela já estiver no inferno. Infelizmente,
o senhor acredita no inferno? Claro, é bíblico. E no demônio também, certo? Sem dúvida. Já se deparou com algum? Já, já. Já fez exorcismo de alguém? Já, como jovem, inclusive, antes de ser padre. Antes de ser padre. Mas como cons... Mas você tinha autoridade para tirar o...? Não é que aconteceu. Tava todo lá, manda embora e foi... Não é uma coisa complexa isso, então. Hum, eu parto do princípio que se só estamos nós aqui, cai o endemoniado aqui. Deus nos colocou nessa situação para fazer alguma coisa. Mas como o senhor sabia que era um demônio
que estava no corpo da pessoa? Então, é uma coisa interessante essa, sabe? Existe um dom listado entre os dons do Espírito Santo, em Primeira Coríntios, capítulo 12, que é o dom do discernimento de espíritos, que a Deus concede à pessoa a capacidade de perceber. É uma percepção imediata quando é o espírito do homem, o espírito de Deus ou o espírito maligno, né? Então, eu acho que um pouco por isso. Mas é também muito diferente, viu? É uma... porque, assim, eu vou contar um caso que aconteceu comigo. Uma vez, eu tava atendendo uma pessoa e a
pessoa tava conversando, me contando as coisas. De repente, ela parou, ela baixou a cabeça, levantou; era outra pessoa. Ela me encarou no olho com uma risadinha sarcástica de quem diz "eu te conheço há muito tempo". Parece que ela penetrou em você. Eu tava sentado, peguei água benta e fiz assim. Aí abriu aquela situação, ah, né? Então, como é que você vai dizer que isso é simplesmente diferente de um surto? Uma pessoa surtada já acontece. Às vezes, as pessoas levam pessoas surtadas pra igreja pensando que é demônio. Uhum, eu vou lá. Grande parte é surto mesmo,
mas você percebe a diferença. É a pessoa mesma que está ali. Como que o demônio entra no corpo de uma pessoa? Através de portas abertas. Existem portas que foram abertas para ele entrar. Então, é preciso analisar caso por caso. Portas tipo comportamento dessa pessoa, comportamentos, maldições, malefícios e, ah, determinados pecados. Uma busca pessoal, se a pessoa quiser buscar o demônio, ele vem. Acontece. Acontece quando... O demônio, você falou, por exemplo, tem o surto e tem a possessão mesmo. Não é só a pessoa que você sente; tem todo um entorno ali. Você chega a sentir, sei
lá, uma mudança no tempo, sei lá, fica mais frio ou não. No... você fala uma mudança de temperatura, ambiente, sei lá, alguma coisa. Sim, já aconteceu. Eu já tive... já aconteceu isso comigo, né? Você mudar o ambiente porque não é o olhar só, né? Mas regra é... mas não é regra. Essas coisas não têm um protocolo, sabe? Não é que o diabo chega com protocolo, tudo estabelecido. Cada caso é um caso. Há de tudo, né? Tem medo, não, Padre? Nem um pouco. Eu tenho medo de doido, mas de demônio não tenho medo, não. Falar seus
pecados? Ah, engraçado isso daí. Ele sabe seus pecados. "Ah, aí meu pecado? Se pecado, tô tudo confessado! Tudo apagado." Você pode se autoc confessar? Não, não confessa com o padre. Você tem que confessar com o padre. Todo mundo confessa com o padre. Um bispo confessa com o padre, o Carl, o Papa, conversa com o padre. É todo mundo. Você tem algum padre que você prefere confessar? Olha, eu, se eu preciso confessar mesmo, eu vou nos colegas que estão perto, né? Ligo lá: "Você tá na sua paróquia?" Eu vou lá e confesso com ele. Ou, me
confesso com... Tem um confessor com o qual me confesso habitualmente, né? Mas às vezes você precisa, tem aquela confissão de emergência, né? Eu ia te perguntar isso agora. Se você fizer um pecado, falar assim: "Nossa, Senhor! Acabei de fazer uma merda!" Você já liga pro cara ou você espera o final de semana? Não, eu sou bem... eu não fico muito tempo, não. Sério. Não, porque o que acontece? Mas você confessa de coração, Padre? De coração, contando o pior de você, assim? É claro, a gente confessa para mostrar o que não presta. Eu tenho medo de
confessar de coração. Ah, mas isso é bobagem, porque veja... Primeiramente, medo do padre. Saiu primeiro que é o seguinte: você tá... alguns evangélicos, né? Eles falam assim: "Como é que eu vou conversar com o padre? Ele é um homem que nem eu." Na verdade, isso é um argumento a favor da confissão. Assim, a sua carne não é diferente na minha carne. As tentações que você passa não são... Diferentes das minhas tentações. Então veja, não sei, hein? Padre, hum, tenho certeza disso. Eu vou dizer mais: eu não conheço até hoje, eu nunca me escandalizei com ninguém
que me disse qualquer coisa, porque, cara, o ser humano é o que é. Uhum, você tá lá, você é uma pessoa que tem coragem de chegar para você e dizer as piores coisas dela; você tem que admirar essa pessoa. Deu até uma repina espinha aqui agora. É, eu... Quando, na verdade, quando um penitente vem e abre a alma e conta as piores coisas, eu fico... eu, eu fico... eu fico realmente admirado. Para mim, é um privilégio. Não é assim como as pessoas pensam. Outra coisa que as pessoas pensam, né? Padre, vai lembrar do que eu
fiz. Cara, não, você não lembra. Eu não lembro nem do que eu comi ontem, cara. Aliás, homem é um bicho que não tem memória, né? Mulher lembra de tudo, mas homem... E se a pessoa te contar um crime ali na hora, assim, um... eu vou absolver como um pecado. Se ela estiver arrependida, eu vou absolver como um pecado normal; eu não sou a polícia. Mas você não tem uma obrigação. Aliás, o professor Joel falou que você é especialista em Teologia da moral, né? Moral é moral. Você não tem uma obrigação moral de fazer algo. Não,
não, tipo, denunciar a pessoa. Sim, é o contrário, porque o segredo de confissão é inviolável. Se um padre revelar o segredo de confissão, ele é que vai ser julgado. Ele é excomungado automaticamente, exceto se ele revele, né? Porque ele quer, porque ele quer, né? Então não é uma coisa assim, fazer um acidente, não, porque ele quer. Se ele quer mesmo, ele... escam... não. Mas você só poderia revelar se você quiser. Não tem outra forma de se revelar sem... sem... você não... que eu digo assim, por exemplo, né? Uma pessoa que... porque o segredo de confissão,
por exemplo, é o próprio fato da pessoa se confessar, já é um segredo de confissão. Sim. Então, de repente, uma pessoa fala: "O senhor viu minha mãe hoje?" Ela fala assim por um lapso. Eu posso dizer: "Ah, eu vi". Entendi; quer se confessar. Entendi, isso é... não é o que a igreja entende por revelação do segredo de confissão. Sim, sim, sim. Dizer: "Olha, o Rodrigo fez isso, ele confessou". É isso aí, isso aí... o cara tá escandalizado automaticamente. Porque imagina se um abusador de crianças vai confessar com você. Se você não faz algo, pode ser
que ele faça outras vítimas depois. Posso te dizer: geralmente, quem confessa é a vítima. Uhum. E aí o confessor tem a difícil tarefa de encorajar a vítima a denunciar o abusador. Uhum, que não é simples. Ele não pode fazer isso, mas muitas vezes, todo tipo de abuso, né, e ele aparece na confissão. Muitas vezes, o confessor é aquele que vai fazer a pessoa ter a coragem de pedir ajuda. Você vai eliminar, confessar algo que ela não é culpada. Aí, porque ela... bom, ela vai confessar os pecados dela, mas naquele contexto, ela abre o coração e
conta os sofrimentos dela. Não é isso que eu tô imaginando? É muito sofrimento guardado a ponto de confessar algo que você não tem culpa nenhuma, alguma coisa que é um pecado, sabe? Você teve junto num pecado. Não acho que é essa sensação que eu teria, sabe? Tipo assim, de falar: "Nossa, eu tô em... que não fui eu". Existe isso? Existe isso. Porque a relação abusador-vítima nem sempre é psicologicamente clara pra vítima. Uhum. E também, às vezes, é uma coisa meio confusa. Tem... tem isso. Você sabe que tem um erro, mesmo que você não seja parte.
A própria pessoa, às vezes, procura o sacerdote porque ela quer uma palavra. Ela não sabe o que fazer durante aquela situação. Ela tá perturbada. Ela não tem coragem de falar com mais ninguém. Pois é, porque ela tem vergonha, na maior parte das vezes. Aí, se o presunto for... se for menor, né, criança, que às vezes, por exemplo, tá sendo abusada por um padastro, por exemplo. E aí, você precisa ajudar essa criança a pedir ajuda, sei lá, em... o Conselho Tutelar, a falar com uma pessoa adulta fora do contexto de confissão, para que a pessoa adulta
possa fazer alguma coisa, né? Sim, é um dia mais pesado. Assim, senhor, olha, pessoas... é uma tarefa muito absorvente. É psicologicamente absorvente. É, é psicologicamente absorvente porque você tem que estar ouvindo o que a pessoa tá dizendo e tá pescando naquilo que você precisa ajudar, né? Naquilo que a pessoa diz. Agora, tem coisas que, veja, isso não tem nada a ver com gravidade e coisa assim. Eu vou dar um exemplo. Claro, às vezes, eu tô lá no confessionário e chega uma pessoa que fala muito baixinho e fala muito. Eu tenho que ficar ali, né, ali
escutando, escutando aquela coisa detalhada, aquela coisa que parece que não vai acabar. Hum, 15 minutos depois, eu estou psicologicamente devastado, esgotado. A pessoa, às vezes, não falou nada demais, mas só o fato de você estar ali com a pessoa falando baixinho... você tem que prestar atenção, aquilo ali te esgota psicologicamente. E a maioria, quando tá ali, fala baixinho, né? Que essa tem medo do Santo ouvir. Mas tem uns que falam mais baixinho do que o normal. Mas você não dorme, não, né, Padre, nessa hora? Não, né? Olha, já aconteceu... falou que não mente, já aconteceu
de eu dar umas pescadas, tava conversando, mas geralmente, quando é isso, né, eu falo pra pessoa: "Desculpa, eu cochilei aqui". Fala de novo, repete de novo para entender. Olha que isso, hein! Porque, é, mas acontece, a gente é humano, né? Não tem como, é humano. Você dá uma cochiladinha às vezes, pode acontecer. Eu perguntei do peso assim porque, por exemplo, no meu caso, eu escuto histórias assim e eu fico muito impactado, assim, sabe? E eu imagino que, mas um padre não, a sensibilidade, porque você escuta tanto, é tanto, é tanto o dia inteiro, é toda
vez, é toda hora. Sério, padre, você não? Você fica como? Faz, né? Depois você vai lá e chora, que nó, que tristeza, né? Não pode acontecer pela compaixão, né? Sim, da gente. Mas isso aí não é ruim, a gente reza pela pessoa, etc., né? Pela compaixão, sim. Mas assim, aquela coisa do escândalo, né? Que é aquela coisa da pessoa ficar assim: "Nossa, que coisa, inventar um pecado novo é uma coisa inédita, nunca vi." Não, o senhor luta muito contra o aborto, né? Já eu falo que as confissões de aborto são uma das mais pesadas do
confessionário. Não, não fala assim que as mulheres que se confessam, entendi, elas sofrem demais. Não é que é difícil pro padre escutar, não, é horrível. Mas as mulheres que fizeram, ou passaram por um aborto, são as confissões mais difíceis, assim. É porque, tipo assim, a pessoa te conta aquela história, aí você pensa: "Não, isso aconteceu ontem", pelo drama, né? Quando aconteceu: "Ah, foi há 35 anos atrás, ela nunca esquece", entendeu? É isso que é pesado, não pro padre, pra ela sim. Porque parece que aquela culpa ela não consegue se livrar daquela culpa, né? Então, sei
lá, mulher que diz assim: "Toda noite eu sonho com criança, eu vejo uma criança no colo da outra, eu fico mal, vejo meus próprios filhos, fico mal, que eu lembro daquele que eu tirei." Nossa, entende? Essas coisas acontecem. Geralmente, as pessoas que defendem o aborto, elas não estão preocupadas com o "day after", elas estão preocupadas só com o aborto, né? E essas pessoas vão desaguar onde? É no confessionário, somos nós que cuidamos dessas mulheres. Você sabe? Seus pais que ficaram sabendo de aborto das mulheres também têm a mesma, o mesmo sofrimento. Olha, não sabe? Às
vezes, incentivaram, né? Acho que muitas vezes é o pai também que incentiva o sofrimento do aborto, o sofrimento da mulher. Mulher, sofrimento da mulher. Por isso que é uma coisa... Você parece que tá defendendo, né? A mulher, quando você fala: "Não, você tem direito a isso, etc.", só que depois o sofrimento fica com ela, não fica com os outros. Que loucura, né? Uma parada que, tipo, nunca vai ser um pecado pro pai ali, que fez, que mandou tirar, mas pra mulher sempre. Depois, esse fardo que ela vai carregar. Quer dizer, o pai pecou. Não, sim,
pecou, mas o sentimento dele não tem peso para ele, não é algo que às vezes ele vai levar no confessionário. É cega a vida. Se ele cooperou e se arrependeu, ele vai confessar. Ele tem que confessar. Mas é exatamente o que você tá dizendo: a dor, aquela chaga, ele não vai ter. Sim, que é a... Você tem uma especialização em Teologia da Moral. O que é a Teologia da Moral? Teologia Moral é a parte da teologia que estuda o comportamento humano e como esse comportamento humano é ordenado pro céu ou pro inferno, né? Portanto, o
que é virtude? O que é pecado? Basicamente, é isso. Então, meu, eu me ocupo com os mandamentos, com os pecados, é mais ou menos isso daí. E tem pecadinho, pecadão? Ou é tudo pecado? Tem pecado maior? Sim. Então, veja, porque o pessoal fala que não tem pecadinho e pecadão, mas isso é uma aberração, porque é diferente, né? Você vai comparar uma mentira com assassinato? Não há uma diferença de gravidade, claro. Então, quando uma pessoa fala isso, ela perdeu o senso das proporções, né? Então, sim, tem pecado. A moral católica diz que existem pecados que são
veniais, são pecados leves, e pecados que são pecados mortais, ou seja, são pecados de gravíssima classificação. Tem duas classificações ali, basicamente. Então, por exemplo, uma mentira, em geral, é um pecado leve, venial. Um, sei lá, a pessoa fez uma crítica a outra pessoa, geralmente é pecado leve. Agora, se você cometeu adultério, é um pecado grave, mortal. Se você, sei lá, né, um robô cometeu um roubo, isso é pecado mortal. Um roubo, é claro, eu tô falando... Lógico que a moral... tô falando, por exemplo, da mulher que pega R$ 10 na carteira do marido. Isso é
apropriação indébita, é um roubo também! Padre, não passa pano! Não, é roubo também! Pegou dinheiro na carteira do marido, é roubo. Aqui não é pecado grave, no máximo leve, né? Mas eu tô falando assim: você roubar uma quantia considerável, é pecado mortal. É porque eu fico pensando assim, sei lá, talvez a pessoa roubou uma galinha para comer com a família ali porque não tinha grana. Ah, não, mas aí... Aí, atenuante, né? Há muitos atenuantes. Agora, o roubo de corrupção... Ah, pô! Matou vários! Aquilo ali, você tá tirando dinheiro de hospital, de creche, de... Não, né?
Agora, por exemplo, a Drina da igreja diz que existe a destinação universal dos bens. Então, se alguém tá morrendo de fome e pega uma coisa para comer, rouba isso, isso não é considerado roubo em si, né? A pessoa tá pegando o necessário para... Ela sobrevive, né? Sim, agora, e o roubo? Esses roubos expressivos são pecados, né? Claro, pecados graves. É, há pecado grave. Por exemplo, caluniar alguém é um pecado grave, grave. Como é que eu vou... eu tô te caluniando, né? Tô dizendo uma mentira sobre você? Tô falando: "Olha, sua mulher saiu com outro", só
para sacanear com aquela mulher. Hum, isso, isso é pecado grave, né? Apesar de... é uma mentira, teoricamente, né? Exatamente, passaria como uma mentira, mas é um outro tipo de mentira. Ex: é uma mentira muito grave. Ou, por exemplo, né? Uma pessoa que ofende gravemente seus pais, isso é um pecado grave. Se for um simples desrespeito, geralmente é um pecado leve, mas pode ser grave. Se fizer odiar alguém, é pecado grave. Isso daí o cristão não pode odiar. Se não pode odiar, não pode odiar. O cristão não pode desejar o mal para ninguém. O Senhor não
odeia ninguém. Olha, não tenho nem... "o cara foi o mais corrupto do país". Assim, não, eu rezo pela conversão dele. Uhum, eu não posso querer o mal para ele. Isso, isso é contra o Evangelho. Se eu fizer uma piada com Deus, bom, isso pode ser uma blasfêmia, mas a gente tem que tomar cuidado para não virar uma chatice, né? Quer dizer, às vezes uma pessoa fez uma piada inocente, que não tem problema nenhum. Aquilo, hum... eu não posso considerar um pecado. Às vezes, nem pecado é. Mas se pegar grave, agora, quando faz uma piada para
ofender a Deus, aí sim, aí se torna uma blasfêmia. Eu tô querendo... eu tô pegando... denegrir a imagem dele. Mesmo fazem muito isso aí com Nossa Senhora, com o nosso Senhor, etc. Né? Padre, a salvação, ela é muito difícil. Ela é muito difícil porque não odiar uma pessoa é quase que beirar a santidade, assim, viu? Mas não, mas você odeia? Ah, isso eu odeio. Sério? Odeio. Claro, ódio é da pessoa. Tem ódio da pessoa. Eu não vou falar aqui, mas tem pessoas que roubam o nosso país, que eu tenho ódio dessas pessoas. Não, meu coração
tá cheio de ódio dessas pessoas. Calma, calma, calma. Uma coisa é o sentimento de indignação pelo que a pessoa fez. Ah, tá. Então, por exemplo, eu vou pegar um exemplo bem simples. Digamos que você tem um filho pequeno e tem um malandro que tá batendo no seu filho. Você não vai sentir uma coisa maravilhosa por aquela pessoa. Pelo contrário, você vai partir para cima, você vai... Mas para quê? Para parar a ação dele. Você tem raiva do que ele fez. Isso é legítimo, isso não é pecado. Mas eu não quero que aquela pessoa seja condenada,
que ela vá para o inferno. Se eu puder fazer alguma coisa para salvá-la, para que ela se arrependa do que ela fez, vou fazer. Eu tenho que perdoá-la inclusive. Mas eu concordo. É assim porque, se Deus quiser, eu nunca vou passar por isso, mas se eu pego uma pessoa que, por exemplo, fez mal ao meu filho sexualmente ou que foi lá e matou meu filho, esse cara vai pro inferno. Para mim, esse cara... eu odeio ele profundamente. Pois é. Agora, eu não sei. Então, nessa hora eu tô cometendo um outro pecado, talvez, da mesma proporção
que o dele. Ah, não, não. Calma, vamos lá, a gente tem que separar. Mas você entendeu? É porque não odiar depende muito de uma situação. O meu ofício é separar um pouco as coisas aqui, né? Que bom que você tá aqui. É fazer uma dissecação da coisa. Então, digamos assim que eu vejo um tarado sexual agredindo meu filho. Pô, eu vou partir para cima dele, vou quebrar a cara dele, por indignação, porque naquele ato da indignação, para parar o ato dele, é o caso da legítima defesa, né? Uhum. Quando uma pessoa, por exemplo, chega a
alguém aqui e tenta me matar, para me defender, ou seja, para parar a ação dele, o único modo que eu tenho é eliminá-lo. Né? Por exemplo, uma mulher que não tá sendo estuprada, é muito difícil ela vencer o estuprador, mas talvez não seja muito difícil eliminá-lo. Sim, para parar a agressão dele. Só que isso aqui não é a mesma coisa de que você odiar alguém. Realmente, você tá parando uma agressão. Você tem raiva do que a pessoa fez, você fica indignado com aquilo, mas o ódio é assim: eu odeio aquela pessoa, quero um mal para
ela. Uhum. Não, isso não. O cristão não pode. Aliás, eu posso querer justiça. Isso, eu posso querer justiça, mas não mal. Eu quero que se ferre? Não, calma! Quero que esse cara pegue fogo? Vou pôr fogo nele para ver ele queimar? Um exemplo drástico: por exemplo, um fulano recebeu pena de morte e ele vai ser executado. E eu sou o que tenho o dever pelo Estado de executar a pena. Uhum. Digamos que o fulano seja um monstro, né? E eu tenho que fazer aquilo, tenho que executar a pena pro fulano lá. Eu posso fazer aquilo
como um simples ato de justiça. Ou seja, é minha obrigação pelo Estado, etc. Não tenho outra escolha. Vou lá e aperto o botão. Ou além disso, eu posso fazer aquilo curtindo, achando aquilo o máximo, com ódio, querendo destruir. Aí sim, é pecado. Sim, sim. Percebe a diferença? Eu levo a coisa para o drástico para ficar mais clara a distinção. Mu, então, por exemplo, há muitas pessoas... Que eu, eu, eu, eu lamento muito que elas tenham aquelas atitudes. Eu fico muito triste, até indignado. Uhum. E eu acho que o justo seria que, por exemplo, recebessem uma
pena adequada e que parassem de fazer o mal e não prosseguissem naquela posição. Então, nesse sentido, que eles mal logrem que aquelas ações sejam ineficazes. Meu desejo sincero, porém, não com um sentimento de ódio ou de raiva. Não, eu perdoo de todo o meu coração. Eu tenho que desterrar isso de mim. Já teve alguém, duas pessoas do mesmo gênero se relacionar é pecado. É pecado, segundo a sagrada escritura e segundo a doutrina da Igreja. Quando você fala "se relacionarem", você está falando sexualmente. O ato em si é um ato desordenado. É pecado. Quando o Papa...
mas só que não é o único pecado do mundo, porque às vezes as pessoas pegam e parece que esse aqui é o, uhum, né, é o escolhido para receber todas as críticas, as hostilidades. É pecado, é pecado grave. Mas o homem e a mulher fazerem sexo, né, também vai ser pecado. Não é? Não é? Todo tipo de casamento é pecado? É pecado sim, é... é pecado. Aí, ó, tá vendo? Eu tenho que confessar. Mas é pecado grave. O Papa abençoar gays. Isso é um problema para vocês? O clero, na prática, não, porque ninguém vem pedir
isso. Não acontece, né? É muito raro, muitíssimo raro. Mas, inclusive, eu tomei muita paulada por defender o Papa Francisco nessa questão. O que é a posição do Papa Francisco? A posição do Papa Francisco, da doutrina da fé, é que você pode fazer uma oração por essas pessoas. Uma oração simples, pedindo que Deus os ajude, que leve à conversão, etc. Essa posição da Igreja não é uma posição que legitima a prática em si, mas que acolhe a pessoa que vem pedir uma bênção, sim. Então veja isso aqui. Eu vou contar um caso concreto, né? Um padre
amigo meu me contou que dois rapazes estavam indo à sua paróquia e, aí, participando da missa, etc., não comungavam, não participavam do sacramento. Mas, no final da missa, foi lá um dos rapazes e falou assim: "Padre, é o seguinte, eu queria pedir ao senhor uma bênção, porque eu estava nas drogas, eu estava numa vida devassa. E aí eu encontrei esse meu amigo, que nós estamos juntos, etc., e ele me trouxe pra Igreja, ele me trouxe de volta para a minha família, etc. O senhor não poderia me dar uma bênção?" Como é que eu vou negar
uma bênção para uma pessoa assim, né? Então, ele, um padre, foi lá, corretamente, deu uma bênção para ele: "Senhor, Deus te abençoe, que te conduza o teu caminho, te leve para a plenitude da graça, etc." Amém. É disso que o Papa estava falando. E aí isso que eu penso, assim, eu, quem sou eu para falar alguma coisa nesse sentido? Mas é muito lógico. Isso para mim tem que ser assim. Eu não enxergo como sendo diferente. Vamos falar a verdade, é uma coisa que acontece nas famílias por aí. Porque vejam, um pai cristão tem o seu
filho homossexual. O que ele vai fazer? Acolher ele e cuidar dele, amá-lo, estar ali para ajudá-lo nos momentos, dentro da Igreja. Pois é, é melhor que ele esteja ali, sim, escutando a palavra de Deus, etc. Na Igreja Católica, isso não é muito problema. Há muitas pessoas que têm esse tipo de inclinação e, às vezes, até de prática, que frequentam, entre os fiéis normais, etc. Apenas não recebem os sacramentos. Mas aonde que é problema? Por que que é tão questionado? Por que se fala tanto disso? Eu acho que, no contexto das igrejas evangélicas, é um pouco
mais, digamos assim, declarada, né? Porque o vínculo da membresia é muito mais... você sabe quem é quem de uma maneira muito mais interrelacional. Uhum. Na Igreja Católica, não é tanto assim. A pessoa vai à missa, tem as pessoas que são membros da Igreja, tem os que são, nos visitam, aqueles que vêm uma certa frequência, etc., e pronto. Ninguém pergunta sobre, né, quais são as práticas sexuais daquela pessoa. A gente tá muito preocupado com isso, não? Sim, o Papa fez uma declaração essa semana agora também sobre padres gays. Não fez também algo assim? Houve uma confusão,
na verdade. Eu não sei até que ponto essa confusão foi proposital, mas a Conferência Episcopal Italiana fez um documento sobre a formação do sacerdote em que ali ele tomava um texto anterior da Congregação para a Doutrina da Fé, de 2004. Na época, 2004, 2003, quando o Papa Bento XVI era cardeal e era o prefeito dessa congregação. E ali ele dizia o seguinte: é muito complicado, no processo de discernimento vocacional de um jovem, você dizer assim até que ponto o Fulano é homossexual. É complicado você estabelecer isso, quase que impossível. Por exemplo, se o Fulano tem
só um jeito... existe, sim, assim como existe homem que é machão, mas é homossexual, existem homens que são menos machões, um pouco mais efeminados e que são heterossexuais. É como querer criar uma tabela de homossexualidade. Então ele estabeleceu um critério. Qual que é o critério? Se o Fulano procura viver a castidade e procura chegar a uma espécie de harmonia interior sexual, de paz com a sua própria condição masculina e está há alguns anos sem nenhum tipo de recair, etc., então podem ser ordenados, sim. Mas é num contexto mais amplo. De formação da afetividade, porque o
que acontece é que o sacerdócio é reservado a homens, e homens que precisam ter uma mente masculina. Hoje em dia, é até complicado falar essas coisas, porque o pessoal diz que é sexismo, né? Fala que o homem tem um jeito de pensar, a mulher tem um jeito de pensar, mas, enfim, somos seres humanos. É o que é a nossa experiência de cada dia. Então, por exemplo, o sacerdócio é um ofício para homens; ele precisa ter um jeito paterno de lidar, um jeito firme de lidar com a comunidade. Ele tem que ter uma presença masculina, ele
tem que ser capaz de ser pai dos jovens, de toda a condição. Ele tem que dar orientação para que a paróquia e para que as comunidades em geral tenham um determinado perfil. Ele não pode ser um fulano que gosta de fofoquinha, de conversinha, que é melindroso, que é cheio de problemas, que está falando uma coisa, está imaginando o que o outro está pensando, um não sei o que, não sei o que. E entendem? Então, há um perfil psicológico. Esse perfil psicológico é o que a igreja precisa garantir, né? Porque se o cara for muito, sei
lá, muito sensibilizinho, chorar com tudo, ter medo de não sei quê ou ter um jeito muito afetado demais que causa um certo constrangimento nas pessoas, etc., é melhor que não se ordene. Sim, como é que é aqui em Osasco? É um bispo; aqui na região, Osasco tem um bispo, São Paulo tem outro. O senhor tem um bispo que o senhor deve... ele manda em mim. Aham. E como que é sua relação com ele? É uma relação de dependência, dependência filial, sim. Então, e de obediência. Então, é ele que me designa à paróquia em que estou,
é ele que dá a linha pastoral para mim e para todos os padres da circunscrição diocesana. Então, é ele que estabelece quais são as linhas de pastoral, tem que se fazer assim, tem que se fazer assado, e nós, como padres, temos que ter aquela sintonia com o bispo. Essa sintonia não significa uniformidade, não significa que eu vou ser uma cópia dele; hum, eu tenho meu jeito de ser, eu tenho meu modo de ser, mas eu tenho que ter harmonia com ele. Tenho que respeitá-lo, reverenciá-lo, levar em consideração as indicações que ele me der, ser dócil
àquilo que ele me orientar. E se ele me der uma ordem, eu tenho que obedecer, sim. E essa obediência é importante. Sem ela, você não tem virtude na igreja, né? E quando o senhor precisa do seu bispo, você sente que ele tem um acolhimento que você precisa? Não, nunca. Sim. Sempre que eu precisei, fui conversar com ele. Sempre foi compreensivo. Quando precisou me defender, ele me defendeu, ele me orientou de como eu deveria agir, etc., etc. E eu acredito que boa parte dos padres pode ter essa experiência. É evidente que não existe nenhum bispo perfeito,
assim como não existe nenhum padre perfeito. E é também evidente que nós vivemos num contexto em que há uma certa crise de paternidade na sociedade. Então, às vezes, por exemplo, pode acontecer de um padre esperar do seu bispo mais do que seu bispo pode lhe oferecer, hum, em questão de paternidade, filiação, carências, etc. Cada bispo é um bispo, eles também têm os seus problemas, também têm as suas fraquezas, também têm os seus limites. Tem que ser compreensível com isso, né? Por exemplo, às vezes eu tenho um bispo que é mais seco no jeito de ser,
sei lá, veio lá do Sul, tem um jeito mais tosco de ser, é um italiano, um italianão que dá suas caneladas, né? Eu tenho que ser compreensivo. Poxa, eu não posso ficar, né, na choradeira, ai, o bispo não, comigo não. Vamos ser adultos, né? Faz parte. Vamos ler o super chat? Podemos deixar aí no grupo? Pode ser, padre? Podemos ler? Tem alguma coisa aí, Robertinho, para você entregar? Tem. Já se inscrevam no canal, aí, galera. Quem estiver aí se inscreve no canal, se puder ser membro, é muito importante. Quem puder se inscrever no meu, se
inscreva no meu também, Padre José Eduardo. Olha só, Padre José Eduardo. Então, é o seguinte: se for religioso mesmo, sou católico de verdade. Vira membro, não é? Tem que virar membro, tem que virar membro. Eu acho que eu não tenho isso no meu canal. Não, só assim. Isso não, não faz isso. É uma lembrancinha que a gente trouxe aí para você, dada de um parceiro nosso. Eh, cara, é uma fábrica lá de Araguari. Na verdade, não é uma fábrica nossa; é a sua fábrica. Por que que essa fábrica é sua? Porque se você quiser, por
exemplo, ter uma marca de roupa com a sua identidade, com o seu estilo, do jeito que você quiser, eles vão fabricar tudo que você precisa, desde a sua logo da sua marca até o estilo de investimento que você quiser ter. Então, se você sonha em ser empreendedor e ter uma roupa sua, mesmo com a sua marca de roupa, é só procurar a sua fábrica. Então, eles vão produzir tudo que você precisa, entregam em todo o Brasil, não tem pedido mínimo. Ah, eu preciso de aquela camiseta tecnológica, né, que está na moda aí. Ela tem um
bom valor. Se você quer revender essa camisa, quer ter fábrica com essa roupa, você pode pedir para eles: Ah, eu quero uma para mim, ver como que é. Pode comprar só uma, é preço de fábrica, né, padre? Felipe Oliveira mandou aqui: "Padre, sua bênção. Qual a explicação de João 6:63? Em discurso protestante, utilizam esse versículo para invalidar a Eucaristia." Ah, já sei do versículo que ele tá falando. Jesus faz um discurso inteiro sobre o pão da vida. Qual é o contexto do capítulo 6 de São João? Ele faz a multiplicação dos pães, despede o povo,
os discípulos atravessam o mar da Galileia, acontece aquela tempestade, ele vem durante a noite, chegam em Cafarnaum e vão à sinagoga. Aí na sinagoga, o pessoal que recebeu os pães chega lá e Jesus desmascara: "Vocês não vieram aqui porque vocês viram sinais, vocês vieram aqui porque vocês comeram pão e ficaram fartos." Ou seja, são uns interesseiros, né? "Vocês têm que trabalhar pelo verdadeiro pão do céu." E aí, qual é o pão do céu? "Eu sou o pão da vida." E Jesus vai, "Eu sou o pão da vida", etc. E aí, em determinado momento desse discurso,
ele muda mais uma vez a tônica: "O pão que eu vos darei é a minha carne dada para a vida do mundo." E aí ele começa a dizer: "Minha carne é verdadeira comida, meu sangue é verdadeira bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele", etc. O que acontece? Alguns discípulos se escandalizam com isso e vão embora. Jesus vira para os 12 e diz: "Vocês querem ir embora? Podem ir, se vocês quiserem." E aí, São Pedro diz: "Senhor, Tu tens palavras de vida eterna." Aí Jesus para: "Para onde iremos
nós? Tu tens palavras de vida eterna." E aí Jesus diz, essa frase que ele está falando: "A carne de nada vale; o espírito é que vivifica. E as palavras que eu vos tenho dito são espírito e vida." Então, o que que fazem alguns? Mas isso é clássico, né? Os pregadores protestantes antigos já fizeram isso. Pegavam essa frase: "A carne de nada vale" e diziam o seguinte: "Jesus não tá falando que a carne dele é verdadeira comida." Isso tem que ser interpretado de maneira espiritual; é o espírito, a carne não é. Aham, só que se você
tiver um pouco de honestidade hermenêutica, vai lendo o texto. Veja: se Jesus tivesse falando de maneira metafórica, qual que é o sentido de deixar que os discípulos vão embora? Ele poderia falar: "Galera, pera aí, calma. Vocês não entenderam, eu tô falando só em sentido simbólico, viu? Voltem." Não, ele deixa o pessoal ir embora e diz: "A carne de nada vale; é o espírito que vivifica." Então, do que que ele tá falando? Ele diz que a carne de nada vale e que o espírito é que vivifica. Ele tá querendo mostrar para os seus discípulos que aquelas
palavras que ele disse sobre a sua carne, sobre o seu sangue, elas têm que ser interpretadas de modo espiritual, de modo sacramental. É o que o evangelista São João tá tentando explicar. Gente, não é para comer um bife de Cristo, não se trata disso; se trata de se alimentar do Senhor, dele mesmo, da vida dele, mesmo que está realmente presente no sacramento da Eucaristia. Por que que isso é importante? Porque Jesus, ele começa, e esse relato de João, capítulo 6, começa com a multiplicação dos pães. Ou seja, ele tem poder sobre os pães; é a
primeira lição. Depois ele anda sobre as águas, ou seja, ele tem poder sobre o seu corpo. E aí vem a pregação dele e ele diz: "A minha carne é espírito e vida." Ele tem poder sobre o pão; ele tem poder sobre a carne. Esse é o pão do céu; ele tá dando a carne, ou seja, ele tá falando do sacramento da Eucaristia. Uhum, que não é um símbolo meramente, não é que significa, sim, que também não teria sentido. Qual o sentido que tem Jesus mandar o pessoal pra igreja comer pão? Não é padaria, a igreja
é, né? Então, a doutrina sobre o sacramento da Eucaristia, formulada pela igreja, é um jeito que é o único possível de explicar que você não está indo na igreja para comer pãozinho; você está comendo de verdade o corpo de Cristo. Mas, de uma forma sacramental, as aparências do pão continuam existindo, embora aquilo já não seja pão, é o Senhor que está por ali, que está ali debaixo daquelas espécies, debaixo daquelas aparências. Eu já ouvi falar também que, na multiplicação dos pães, um dos milagres também não foi multiplicar os pães, mas foi para depois ensinar a
dividir os pães, certo? Pode ser uma lição da multiplicação, sim. O texto, na verdade, não fala de multiplicação, mas ele descreve uma multiplicação. Aham. Porque ele descreve que, enquanto eles dividiam, todos se saciaram e sobraram, sim, numa ocasião, 12 cestos; na outra ocasião, 7 cestos, né? É porque ele é Deus; ele poderia ter feito pão para todo mundo sem precisar dividir. Aliás, se você lê o capítulo 21 de São João, quando Jesus aparece na praia, os discípulos estão pescando em Caná da Galileia. Eles vão para a praia, ele chama, né? Eles têm uma pesca milagrosa
lá, eles vêm pra praia e eles veem que, sobre as brasas, havia peixe e pão. Da onde é que ele tirou aquele peixe e aquele pão? A impressão que o relato está dando é que ele criou aquele peixe e aquele pão. Uhum. E essa também é uma metáfora eucarística para dar importância. Ele está na Eucaristia; ele está realmente na Eucaristia. Não é um símbolo; não é uma presença meramente metafórica. Sensacional! Eu queria só assumir um compromisso aqui. Pode? Claro! É assim, já pedi para você voltar. Sabe por quê? O Marcelino tá aí. Me lembro de
um... não é o Marcelinho Pão e Vinho. Mas ele é muito fã seu e ele é fã de um outro cara que é um dos maiores irmãos que a gente tem, que é o And Leo. E ele queria que você viesse aqui um dia com And Leo. E o And Leo, eu tenho certeza que se eu falar que você vem, o And Leo vem. Então, para mim, fala que você e o And Leo vêm. Eu preciso que você fale que você vem também, de novo, com prazer. Ó, a gente deu sorte do Padre José Eduardo
hoje; ele tinha agenda, eu sei, mas por isso que eu já tô jogando. O cara quer ver você, quer... eu quero, você quer, todo mundo quer. Você fala que vem aqui e acabou. Agora tem que vir, entendeu? Por isso que eu fiz aqui ao vivo agora. Então, a galera da esquerda aqui mandou um abraço pro senhor também. Vi falando aí que a teologia de esquerda não pode, mas de direita pode... isso não é. Hoje tudo tá querendo ser politizado. Teologia? O método existe; um método teológico que tem que ser respeitado. Eu acho que, no caso
da teologia da libertação, aí sim, você tem uma teologia de esquerda no sentido de que você politizou o método em si. Uhum. E eu não conheço uma teologia que se diga teologia de direita, ou seja, você pega os valores de direita e altera o método teológico para ele combinar com aqueles valores. Isso não existe. Então, a pessoa que tá falando isso tá falando só uma bobice. Vamos lá, que teve uma legal aí do sangue, né? Qual que é? Já me ajudou. Tamba laranja aí, que é essa laranja, porque quando Jesus vem, ele sangra, né? Aqui
ó, Vittor, padre, sua bênção. Qual era o argumento de Lutero para rejeitar a transubstanciação? Ele, o que acontece: ele acreditava na consubstanciação. É uma outra doutrina, né? Então, o que ele queria dizer com isso? Enquanto a Igreja Católica defende que a substância do pão se torna a substância do corpo de Cristo, Lutero acreditava que não. A substância do pão continuava existindo, mas junto com a substância do pão continuava existindo o corpo de Cristo. O corpo de Cristo está com o pão, mas para todos os efeitos você está comendo pão, né? Sim. Então, mas era o
modo de Léo entender, uhum, né? E de rejeitar. Ele rejeitava a missa como sacrifício, ele rejeitava o sacerdócio ministerial e assim por diante. Eh... o sangue. Aqui ó, quer que eu leia? Lei, lei, eh? Padre, tentaram matar Jesus algumas vezes, mas não conseguiram porque ele ainda não tinha assumido os nossos pecados, não é verdade? Então, assim, é uma pergunta. Essa é a dúvida. O sofrimento de Jesus no orto, quando ele suou sangue, foram os nossos pecados no corpo dele. Hum, não vejo bem! Não conseguiram matar Jesus antes do tempo porque não era sua hora. No
capítulo 10 de São João, Jesus diz assim: "Ninguém tira minha vida; eu a dou por mim mesmo." Então, chegou a sua hora. A oração no Monte das Oliveiras é uma oração em que todo o mistério da Paixão recai sobre o Senhor. Então, vocês imaginem o seguinte: as pessoas dizem que a morte física é o pior sofrimento. Mas não é verdade. O pior sofrimento é a morte da alma, a morte espiritual. Há muitas pessoas que morrem com medo de morrer ou que se mataram com medo de morrer, anteciparam a morte com medo de morrer. Ou, por
exemplo, há relatos de pessoas que iam sendo levadas para a guilhotina que, no caminho, ao irem à guilhotina, foram tomadas de tal pânico que acabaram morrendo. Então, o que acontece? A oração no Monte das Oliveiras é um momento imediato antes da Paixão em que o Senhor mergulha naquilo que Ele vai viver e todo o peso psicológico do que isso significa caiu sobre ele. É por isso que seu sangue é uma angústia. É por isso que Jesus diz, né? "Minha alma está aflita até a morte." É uma angústia incomensurável e chega seu sangue. Padre, se possível,
eu poderia explicar a questão do purgatório que tem base bíblica, mas muitos protestantes se negam a entender. A questão do purgatório é uma questão relativamente simples. Se você pegar Lucas, no capítulo 12, ali tem a parábola do servo, do servo fiel. Jesus, Pedro pergunta quem. Jesus conta a parábola do servo que não esperou o seu senhor voltar, que começou a maltratar os empregados. E aí Pedro diz: "Tu contas essa parábola para nós ou para os outros?" Jesus responde: "Quem é o servo prudente a quem o senhor confiou sua família? Se tal servo não estiver esperando
o seu senhor voltar e começar a bater nos empregados e a torturá-los, o senhor, quando voltar, irá parti-lo ao meio." Essa é a condenação eterna. Aqueles servos que tiverem desobedecido ao seu senhor receberão muitas chicotadas; aqueles que não sabiam o que o senhor lhes tinha mandado receberão poucas chicotadas. Ou seja, Jesus está falando de três ordens de castigo: um castigo que é eterno, que é ser partido ao meio, e outro castigo que é temporal, outro castigo que é ultrapassado. No capítulo 5 de São Mateus, Jesus diz assim: "Procura reconciliar-te com o teu adversário, enquanto caminhas
com ele para o tribunal, para que ele não te entregue ao juiz, o juiz não te entregue ao oficial de justiça, ao carcereiro, e ele te meta na prisão. Dali não sairás enquanto não pagares o último centavo." Um pouco mais abaixo, quando Jesus fala do adultério, ele diz assim... De falar do adultério, ele diz: "Se o teu olho te leva a pecar, arranca-o e joga-o fora, porque é melhor entrar no Reino dos Céus sem um dos olhos do que, tendo os dois olhos, ir para a Geena." O que acontece se você perguntar a um judeu
o que eles entendem por Geena? Eles entendem como uma espécie de pena temporária. O inferno, na concepção judaica, é exatamente o que a Igreja ensina que é o purgatório. Hum, eles não acreditam no inferno eterno; o inferno eterno é uma revelação do Novo Testamento. Então, quando Jesus diz: "Ali de lá nos irá até pagares o último centavo", depois ele fala logo abaixo sobre a GN etc., ele está trafegando nesse âmbito de compreensão tipicamente judaica. Aliás, o capítulo 5 de São Mateus é o que contém o comentário de Jesus à lei de Moisés, então ele está
se movendo no âmbito estritamente judaico. Uma leitura mais profunda do Novo Testamento já mostra que essas realidades estão ali reveladas. É tão simples, porque tanta dúvida em cima disso, né? Pessoal, não estuda, deve ser, né? Mais algo aí, né? Ô Padre, tem alguma parte da Bíblia assim que te toca mais? Pode falar uma aí pra gente. Olha, eu gosto demais da primeira carta de São João. O que que nela é falado? Ela é uma espécie de síntese da espiritualidade profunda do Novo Testamento. Eu acho ela maravilhosa. Mas, assim, os escritos do Novo Testamento para mim
é muito difícil dizer. Eu já me fiz essa pergunta muitas vezes: se alguém me perguntasse qual que é o meu livro do Novo Testamento preferido, eu não sei. Por exemplo, a carta aos hebreus é maravilhosa, mas ao mesmo tempo a carta aos Efésios, Efésios, Colossenses e Filipenses, mas Efésios é uma espécie de Everest. É uma carta maravilhosa; ela tem umas alturas assim que São Paulo só diz ali, são muito lindas. Eu amo a carta aos Romanos. Lutero gostava muito da carta aos ROM; ele gostava mais da carta aos Gálatas. Ele não gostava era da epístola
de São Tiago, que ele quis tirar da Bíblia, e o Apocalipse também, quer dizer, que não servia para nada. E eu gosto do Apocalipse, por exemplo, acho o Apocalipse um livro fascinante. Realmente, o Apocalipse é um código. Olha, não sei, depende do que você quer dizer com isso. Acho que sim, que ele foi escrito em códigos, né? O que é o Apocalipse? É um livro que tem que ser decifrado para realmente ser entendido. Bom, a palavra Apocalipse significa Revelação. Então, está revelando, quer dizer, o livro revela ou ele foi feito para que eu entenda algo,
algo que ali está escrito, que está mais profundo, que precisa ser revelado. Alguns escritores eclesiásticos antigos diziam o seguinte: assim como você só entende o Antigo Testamento a partir do Novo Testamento, você só entende o Novo Testamento a partir do Apocalipse. Mas em que sentido? No sentido de que ali você tem uma espécie de chave histórica, e essa chave histórica mostra que, em última análise, a Babilônia vai cair e a Jerusalém do alto vai descer, ou seja, Deus vai prevalecer e quem está do lado dele já venceu. Ou seja, a história não está indo a
uma espécie de final incerto; a história está sendo conduzida por um grande finale, que será o casamento de Cristo com a Igreja, as bodas do Cordeiro, e que Deus vai ser tudo em todos, como diz São Paulo em 1 Coríntios capítulo 15. Portanto, eles tinham razão, porque se eu estou aqui lutando por Cristo, vivendo as Bem-aventuranças, não é fácil: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados os que choram, porque serão consolados; bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra; bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia." E assim por diante. Eu estou
lutando para viver isso sem saber quem é que vai ganhar no final; é terrível, não dá. Mas se eu já sei que quem vai ganhar no final é Deus, e que Cristo já venceu, e que Ele está sentado à direita de Deus Pai, e que Ele vai voltar para julgar os vivos e os mortos, o mundo inteiro vai ser julgado por um só homem. Quando eu entendo isso, então passo por tudo: passo por tortura, por martírio, por calúnia, por difamação, e eu saio inteiro disso daí, inteiro, porque eu sei que Ele já venceu. Se Ele
está jogando no time certo, e eu sei que o diabo sabe que Ele já perdeu, que ele não vai derrubar Cristo do seu trono. Então por que que é tento? Porque o único modo do diabo vencer é impedindo você de ir pro céu. É uma derrota, mas ele não quer essa derrota sozinho; ele é ódio puro. Vejam, quando nós vemos toda essa cultura da morte: aborto, divórcio, eutanásia, sexo com todo o liberalismo, sem conexão com a vida, com a reprodução humana. É que, na verdade, o diabo quer um mundo cheio de elefantes e baratas, hum,
porque ele sabe que não vai vencer o Cristo, mas ele sabe que ele pode destruir o ser humano; pode fazer muito menos, muito mais gente não vir a esse mundo. Ele pode impedir que os eleitos, de alguma maneira, os eleitos não, mas que os seres humanos apareçam, e assim ele conseguirá, digamos assim, uma entre aspas, vitória. É por isso que ele luta tanto pela cultura da morte e por tudo isso que nós estamos vendo e que as pessoas acham que é uma coisa maravilhosa. Por que que Deus, que já salvou a gente da Cruz uma
vez, não nos salva de novo? Cabum, com o diabo? Ele já salvou, Ele já salvou. Já salvou? Não, mas nós já estamos salvos, aí só que escolha bem o... O livro do Apocalipse diz que o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo. Em que sentido? No sentido de que, quando Cristo morreu, o autor da Carta aos Hebreus diz que Ele se ofereceu ao Pai pelo Espírito eterno. Ou seja, aquele instante da Sua morte transcende a história inteira; Ele abarca a história inteira. Então, veja: Ele não quer nos salvar como se nós fôssemos cadáveres. Ele
quer que nós vençamos com Ele. Ele nos sustenta com a Sua graça para que a gente lute, para que nós também recebamos uma coroa. São Paulo diz que ele luta por uma coroa que não é terrena, é uma coroa, uma coroa celestial, um galardão. Ele quer nos salvar como combatentes. Então, nada de covardia. Quer dizer, Ele não morreu na cruz para que eu ficasse acovardado ou parado, esperando tudo cair na minha boca. Ele morreu na cruz para me empoderar com a Sua graça, para que eu vença com Ele. Essa vitória já está certa, ela já
está determinada, e, aliás, só é possível porque Ele morreu e ressuscitou. Tem um sermão de São João Crisóstomo muito bonito, um sermão de Páscoa, em que Ele descreve a Paixão de Cristo como se fosse uma disputa de gladiadores. Então, Ele diz assim: "Ele estava lutando com o diabo para nos salvar." E aí chega uma hora em que o demônio o mata no meio do campo, no meio do estádio. E aí nós estamos perdidos. Ele veio nos salvar, Ele morreu... Poxa, tem mais o que fazer! Mas, aí, quando está todo mundo triste, Ele se levanta e
destrói o diabo. E aí o Imperador, aqui, no caso uma imagem de Deus, vai lhe dar a coroa de vencedor. Mas Ele não precisa dessa coroa. Então, o que Ele faz? Ele coloca a cada um de nós lá no lugar dele, e é Ele quem nos dá a coroa, quem nos premia, quem nos dá o troféu, quem nos dá a vitória. Então, nós só temos que escolher do lado em que estamos. Mas já está tudo muito claro: Ele venceu, e temos a possibilidade de sermos vencedores junto com Ele; basta escolher o lado certo. Obrigado, Padre
José Eduardo. Prazer em conhecê-lo. Prazer foi todo meu, uma alegria muito boa. Quem quiser te acompanhar, te seguir, você pode passar suas redes. Estou no Instagram como Padre José Eduardo. Estou lá no Instagram e no YouTube também como Padre José Eduardo. É só me seguir. Quem quiser me conhecer desse Brasil afora pode ir lá visitar-me na minha paróquia. Estou quietinho lá; é só ir lá me visitar. Temos missa todos os dias, às 19:30, de segunda a sábado, e domingo, às 8:00 e 18:00. Só que agora, nesse final de janeiro, as missas de segunda a sexta
não vão acontecer, porque tenho atividades fora. Está beleza. O senhor podia fazer uma oração pra gente encerrar? Pode ser? Claro! Vamos lá. Pai, nós queremos te pedir, em nome de Jesus Cristo, que Tu envies o Espírito de Ação para todos aqueles que estão nos acompanhando aqui pelo YouTube e todos aqueles que escutarão depois esse podcast. Que o Senhor possa abrir os olhos da fé de cada pessoa para que, como diz o apóstolo, eles possam ver a glória de Deus na face de Cristo. Pedimos que abençoe abundantemente todos aqueles que promovem esse canal, que fazem esse
trabalho, para que sejam cada dia mais exitosos e possam também eles receber da luz da Tua graça, toda inspiração necessária, e possam ser atraídos cada vez mais ao Teu reino de amor e santidade. Nós Te agradecemos por todos os dons que nos concedes em todos os dias da nossa vida, porque nos guardas, nos defendes, e nós sabemos que podemos contar contigo sempre e a cada instante. Amém. E a bênção de Deus Todo-Poderoso, Pai, Filho e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça para sempre. Amém. Obrigado! Valeu, galera! Valeu! Fui!