Muito bom dia, meus caros! Sejam bem-vindos. Peçamos a Deus a sua bênção sobre nós neste dia, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém. Pai Nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós dentre as mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
O Senhor Todo-Poderoso nos abençoe e nos guarde, e nos livre de todo mal, hoje e sempre, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. No dia de hoje, entramos aqui no segundo capítulo do livro "O Caminho de Perfeição", de Santa Teresa de Jesus.
O título deste capítulo é "O dever de não cuidar das necessidades corporais, assim como do bem que há na pobreza. " Não penseis, minhas irmãs, que por não viver para contentar os do mundo, o alimento vos há de faltar. Isso eu vos asseguro: jamais procureis por artifícios humanos para sustentar-vos, porque morrereis de fome, e com razão.
Fitai o vosso Esposo, ele vos há de sustentar; estando ele contente, os menos devotos, ainda que não queiram, vos hão de dar de comer, assim como tem mostrado a experiência. E assim fazendo, se morrereis de fome, bem-aventuradas sereis vós, monjas do Mosteiro de São José. Pelo amor de Deus, não vos esqueçais disso: quem deixar a renda, deixe também de preocupar-se com o alimento; do contrário, tudo vai se perder.
Aqueles que, pela vontade do Senhor, disponham de rendimentos, devem ter esses cuidados quando for oportuno, e a razão para isso, pois é essa a sua vocação. Mas nós, irmãs, dedicar-nos a eles é um disparate; preocupar-se com as rendas alheias é para mim o mesmo que pensar nos prazeres dos outros. Sim, porque com a vossa preocupação, ninguém muda de pensamento, nem lhe vem a vontade de dar esmola.
Deixai isto nas mãos de quem move os corações: o Senhor, que é Senhor dos ricos e das riquezas. Viemos aqui por seu mandamento; suas palavras são verdadeiras e não podem faltar. Antes, faltarão os céus e a terra, mas não suas palavras; que nós não lhe temos, nem tenhamos medo de que ele nos falte.
E se alguma vez nos faltar o necessário, será para o nosso maior bem, assim como faltava na vida dos santos quando eram mortos em nome do Senhor, para que a sua glória aumentasse pelo martírio. Seria boa troca acabar depressa com tudo e gozar da fartura infinita. Olhai, irmãs, que muito vos importa, depois de minha morte, o que vou dizer, razão porque eu deixo por escrito: enquanto vida tiver, eu vos recordarei disso.
Pois a experiência me mostra o grande proveito que há aí; quanto menos tenho, menos preocupada estou. E o Senhor sabe que, a meu ver, tenho muito mais pesar quando sobra do que quando falta. Não sei se fico assim, em parte, por saber que o Senhor logo nos socorre.
Fazer o contrário seria enganar o mundo, sendo pobres no exterior, sem sê-lo no espírito. Isso nos traria um peso à consciência, como se as pessoas ricas pedissem esmola. E peço a Deus que isso não nos aconteça.
Onde há preocupação excessiva com esmolas, algumas vezes se vai angariar por costume, ou se pode ir pedindo aquilo de que não se necessita, talvez a quem tem mais necessidade. E, embora estes últimos nada possam perder, mas ao contrário, ganhem, nós sairíamos prejudicadas. Que Deus não permita, minhas filhas!
Se isso tiver de ocorrer, antes vou preferir que tivesse renda, de algum modo se ocupe o vosso pensamento com as esmolas. Eu vos peço, por amor de Deus, e quando a Menorzinha vir isso alguma vez nesta casa, clame a Sua Majestade Deus, e lembre-o a priora; humildemente, diga-lhe que está errada, e tão errada que pouco a pouco vai perdendo a verdadeira pobreza. Espero no Senhor que isso não venha a acontecer e que ele não abandone as suas servas.
Que isso que me aveis mandado escrever sirva também de alerta quanto a esse ponto, mesmo que não sirva para mais nada além disso. E acreditem, minhas filhas, acreditem, para o vosso bem: o Senhor me fez compreender um pouquinho os benefícios que há na santa pobreza, e aquelas que a experimentam vão entender, talvez não tanto quanto eu, porque fui não pobre de espírito como tinha professado, mas louca de espírito. A pobreza é um bem que traz em si todos os bens do mundo; é uma grande soberania.
Digo que quem pouco se importa de deixar todos os seus bens da terra termina por apoderar-se de todos eles. Que me importam os reis e senhores, se não desejo suas rendas nem desejo contá-los? Caso precise, para fazê-los descontentar em alguma coisa a Deus.
E que valor posso dar às suas honras, se estou persuadida de que para o pobre a verdadeira honra é, de fato, ser pobre? A meu ver, as honras e o dinheiro quase sempre andam juntos, e quem quer honra não despreza o dinheiro. Ao passo que quem o desdenha pouco valor dá às honras.
Entenda-se bem isso, pois me parece que desejar honra sempre envolve algum interesse por rendas ou dinheiro. Só por milagre quem é pobre recebe honras no mundo, na realidade, mesmo que as mereça por si. O pobre, pois, é considerado; a verdadeira pobreza traz consigo uma honra que a todos se impõe.
A pobreza aceita só pelo amor de Deus não precisa contentar senão a ele. É muito certo quando não se precisa. De ninguém, os amigos são muitos, isso eu sei bem por experiência.
Havendo tanta coisa escrita sobre essa virtude, não direi mais nada sobre elas, pois pouco é o meu entendimento e menor ainda a capacidade de explicá-la. Assim, para não comprometê-la com os meus louvores, nada mais digo. Só falei o que conheço por experiência e confesso que estava tão absorvida nisso que nem percebia, até agora, o que escrevi.
Mas enfim, está dito. Uma coisa vos peço, por amor de Deus: já que os nossos brasões são a santa pobreza, que no início da fundação de nossa ordem era tão estimada e guardada pelos nossos santos padres, pois, como me disse quem o sabe, não seais algo de um dia para o outro. Procuremos tê-la, noi, embora no exterior ela não seja praticada.
Agora, com tanta perfeição, é bem curta nossa vida. Inestimável a recompensa! E mesmo que houvesse nada a não ser seguir os passos do Senhor, grande prêmio seria para nós imitar em alguma coisa Sua Majestade.
Nossos estandartes devem ter esses brasões e tudo façamos para defendê-los: na casa, nas roupas, nas palavras e muito mais, no pensamento. E enquanto fizermos isso, não precisais temer que a perfeição desta casa decaia, pois isso, com o favor de Deus, não vai acontecer. Como dizia Santa Clara, grandes muros são os da pobreza.
Ela dizia que gostaria de cercar os seus conventos com estes muros: os muros da humildade e da pobreza. E é certo que, se respeitarmos isso de verdade, a honestidade e tudo mais estarão muito melhor protegidos do que se cercados por suntuosos edifícios. Eu vos peço, pelo amor de Deus e pelo seu sangue, fugi!
E em sã consciência, eu posso dizer, e o faço, que volteis a cair no dia em que dele vos aproximardes. Parece muito ruim, minhas filhas, que se façam grandes edifícios com as economias dos pobrezinhos que Deus. Nossas casas devem ser pobres em tudo e pequenas, assemelhem-nos em algo ao nosso Rei, que teve por casa apenas o presépio de Belém, onde nasceu, e a cruz, onde morreu.
Nessas casas, pouca diversão podia haver. Os que fazem casas grandes que prestem contas a Deus, pois lhes têm outros intentos santos. Mas para 13 pobrezinhas, qualquer canto basta.
Se tiverem espaço para uma coisa necessária pela estrita clausura em que vivem, com algumas capelas para o recolhimento na oração, o que ajuda muito na oração e na devoção, muito bem. Mas edifícios e casas grandes e bem decoradas, nunca! Deus nos livre.
Lembrai-vos sempre de que tudo há de cair no dia do juízo, e quem sabe se este não virá em breve? Pois não é razoável que, quando cair a casa de 13 pobrezinhas, faça muito barulho. Os verdadeiros pobres não devem produzir ruídos, devendo ser pessoas silenciosas, para inspirar compaixão.
E como eles vão se alegrar se virem alguém livrar-se do inferno graças à esmola que lhes deu? É bem possível que isso aconteça, pois estais muito obrigadas a rogar por suas santas almas continuamente, pois vos dão de comer. E o Senhor também deseja, embora tudo venha de suas mãos, que agradeçamos às pessoas por meio das quais Ele nos dá o sustento.
Não descuideis de fazê-lo. Não sei de que tinha começado a falar, pois me distraí. Creio que o Senhor assim o quis, porque nunca pensei em escrever o que disse aqui.
Que Sua Majestade nos socorra para nunca cedermos neste ponto. Assim seja. Amém.
Então hoje eu quis fazer a leitura completa deste capítulo, porque é o capítulo em que Santa Teresa trata da pobreza. Ela fala da pobreza das suas irmãs e da pobreza dos seus conventos. Lembrando que os carmelitas antigos, onde Santa Teresa viveu por 20 anos, os carmelitas foram alterando a regra primitiva com o passar dos anos.
E em alguns conventos era possível, por exemplo, que filhas da nobreza ou da pequena nobreza, como era o caso da própria Santa Teresa, tivessem dentro do convento rendas familiares. Elas podiam receber dinheiro da família, podiam ter empregadas, podiam ter inclusive alimentação diferente das outras religiosas. Então Santa Teresa acaba com isso, estabelece uma vida comunitária muito simples, muito pobre, e pede que o hábito seja o mesmo, os quartos sejam iguais, que tudo seja simples, que tudo seja pobre.
E por que Santa Teresa insiste tanto na pobreza? Porque, e aqui está a grande mensagem que nós podemos extrair para nós no dia de hoje, ela está falando do apego do coração às coisas deste mundo. Isso, para nós leigos que vivemos no mundo, significa que nós podemos até usar os bens, mas não podemos ser usados por eles.
Quem está no mundo também pode viver esta pobreza, desprendendo o seu coração e as suas esperanças das coisas deste mundo. Então, aqui Santa Teresa faz esse exercício com as suas monges, dizendo que o convento Carmelo não deveria ter renda, como era muito comum naquela época. Os conventos possuíam terras, arrendavam terras, alugavam propriedades e viviam disso, como uma segurança.
Santa Teresa diz que os carmelitas reformados não tenham nada disso, que vivam das doações, das esmolas que as pessoas darão e que Jesus mandará para sustentar esses conventos. Pensemos nisso. O quanto nós somos apegados ao nosso trabalho, à nossa casa, àquilo que nós temos, como se isso fosse, às vezes, a segurança da nossa vida.
Todas as nossas seguranças são palha e fumo diante de Deus. Deus dispõe de todas as coisas. Hoje temos, amanhã podemos não ter.
Então que tenhamos esta consciência: a nossa segurança está em Deus, a nossa segurança está em Cristo. Que assim possamos viver no dia de hoje e meditar nisso. No dia de hoje, a vossa proteção, ó Santa Mãe de Deus, não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.
Amém. Que Nossa Senhora nos. .
. Ajude nesse caminho. Que Deus nos abençoe neste dia, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém. Ótimo dia e até a nossa meditação de amanhã!