[Música] Oi minha gente aqui se da Bento nessa temporada do entrevista Nós estamos comemorando os 20 anos da lei que obriga o ensino da história e da Cultura Africana e afro-brasileira nas escolas E hoje nós vamos também tratar da educação escolar indígena para conversar comigo hoje a gente recebe a doutora em educação e especialista em gestão escolar também diretora da Faculdade latino-americana de Ciências Sociais Rita Potiguara seja bem-vinda Rita obrigadíssima querida uma alegria estar com você que seja um encontro n Rita Por que educação escolar indígena Essa tem sido uma pergunta recorrente eh em que
Pese aí os longos anos de experiência que nós povos indígenas temos tido com a escola você sabe que na chegada dos colonizadores aqui eles trouxeram consigo a escola para os indígenas não é não é uma educação dos indígenas né a educação dos indígenas eles não quiseram saber é uma escola para os indígenas para que eles se integre a sociedade nacional para que eles professem a fé cristã para que eles deixem de falar a língua falada pelo por cada um dos povos indígenas para que eles sejam integrados aquele projeto Colonial que aqui chegou e assim foi
por todos os né No decorrer da história sempre teve um processo de Escol ação para os indígenas com essa ideia de que eles sejam integrados e deixem de ser indígenas e aí quando nós indígenas nos aventuramos a construir uma escola específica uma escola dos indígenas e para nós indígenas mais feitos a partir do nosso protagonismo a partir das nossas experiências comunitárias E dos nossos modos de vida a gente vai propor uma escola diferenciada diferenciada e que vá se contrapor esses processos todos que vá negar né esses processos todos que a gente vivenciou que era com
a finalidade de deixar com que a gente não fossemos mais indígenas Olha só porque eram considerados seres sem alma seres que deveriam e ser domesticado e a escola por muitos anos foi né essa escola essa escola foi foi direcionada para isso e quando a gente propõe a escola escola indígena uma educação escolar indígena é feita por nós indígenas óbvio que a gente se Ancora né na nas trocas eh de outros projetos societários não só dos projetos eh oficiais como a gente diz pelo estado brasileiro mas também com outros povos outras culturas outros parentes inclusive com
as escolas quilombolas as escolas do campo as escolas de Fronteira essa troca que a gente vem construindo eh esse nosso projeto de escola específico o que você diria que marca uma escola ou uma educação escolar indígena O que é uma algumas características que você acha que são muito importantes eh o primeiro desse é é eh que marca essa nossa escola essa escola que a gente depois da Constituição Federal de 88 a gente chamando de escola indígena né uma escola Nossa uma escola do nosso jeito uma escola que não mude o nosso forma de ser de
estar no mundo eh ela se encor em alguns Pilares alguns princípios que a gente vem tentando construir a partir das nossas experiências né e o primeiro deles é que essa escola seja diferenciada específica respeitando os nossos modos próprios de aprender e de ensinar nãoé né Nós historicamente todos os grupos sociais TM as suas práticas de aprender e de ensinar não é E nós queremos que essas nossas práticas de aprender e de ensinar venha para dentro das escolas indígenas e aí eu penso Especialmente na educação infantil por exemplo a educação das crianças pequenas não é a
educação das crianças pequenas é um processo comunitário essencialmente não é não é algo que encerre a criança numa escola numa sala de aula e a a tem o professor que fica ensinando o letramento numeramento para essas crianças a educação infantil para nós povos indígenas por exemplo não é só isso é o aprender coletivamente aprender com os mais velhos aprender com a mãe quando a criança né tem ali esse contato eh os primeiros contatos de socialização ali com a mãe e com a comunidade outro aspecto que para nós faz essa escola indígena né é diferenciada ela
ser Comunitária e a Escola Comunitária é uma escola que todo o seu projeto pedagógico toda a sua metodologia como ela se organiza tem a ver com o projeto de sociedade que nós queremos e nós povos indígenas queremos um projeto de sociedade fundado no viver bem um viver onde nós todos possamos ser felizes esse projeto de Bem Viver ele não é específico só para nós povos indígenas só faz sentido um processo de Bem Viver que seja para todo mundo indígenas não indígenas As populações negras As populações todas as pessoas que vivem nesse universo né vivam bem
tenham as suas identidades respeitadas tenham as suas culturas as suas línguas não sejam Discriminados não sejam tratados de forma preconceituosa sejam valorizados eh a partir do seu seus modos de produzir todos os grupos sociais produzem culturas culturas e produzem riquezas não é nós povos indígenas também então a escola diferenciada a escola indígena ela vem com essa perspectiva não é e a nós temos defendido que melhor né O Agente o ator principal para conduzir esse processo de Bem Viver é o professor da própria comunidade é o professor indígena não é que ele e ela né Nós
temos a grande A grande maioria dos nossos docentes das escolas indígenas são professoras indígenas mulheres né Elas carregam essa ancestralidade essa convivência eh com a comunidade com saber como são escolhidos não são Concursos Públicos como são ou são como nós eh a a a maioria dos nossos professores e professoras indígenas eles passam pelo critério de escolha da comidade a comunidade elege né é tanto que alguns dos professores das professoras indígenas não t a escolarização que os sistemas de ensino querem não é E aí a gente já tem conseguido avançar nesse aspecto a gente já teve
concurso específico concurso público em que os sabedores indígenas os sábios tradicionais falantes da sua língua que não passaram por processo de escolarização fizeram concurso a partir de provas né hor a partir dos conhecimentos eh que eles possam apresentar e foram avaliados por uma banca também constituída por indígenas e não indígenas e foram aprovados mas lamentavelmente a maioria dos nossos professores não são eh da do quadro permanente né dos sistemas de ensino são contrados temporários e tem portanto uma forma bastante precária né de trabalho mas é isso a e Mesmo não tendo esse vínculo empregatício que
tenha seus dire direitos trabalhistas garantido mas os professores indígenas e as professoras ainda são escolhidos por suas Comunidades a partir do seu envolvimento com as organizações com a luta indígena isso para nós é fundamental o professor tem que sar articulado com as questões da sua comunidade E aí e Rita Como é que os as nossos estados município como é que o governo federal tem lidado com a o trazer o professor indígena paraas escolas eh como é que eh como é que se dá ess essa contratação né então tem se dado querida de forma que a
gente diz que eh o estado brasileiro tem aprendido muito conosco porque nós temos ensinado outras formas outras maneiras outras metodologias de se eh trabalhar com esses atores específicos que são os professores indígenas não é quando a gente imagina que o estado brasileiro a maior parte né dos Municípios e dos estados e a e a união também a forma de contratação dos seus professores é somente através de um concurso que vai testar conhecimentos escolarizados vai querer um certificado um diploma e a gente diz não pode ser diferente a gente também pode apresentar esses requisitos de termos
feito um uma um curso para formação de professores portanto a gente tem uma escolaridade também em que a gente apresenta Nós também podemos eh tratar dos conhecimentos historicamente escolarizados que tá dentro do aquilo que a gente chama de currículo oficial como língua portuguesa matemática ciências e tudo mais mas também tem uma um outro componente que é o saberes específicos de cada povo os saberes específicos de determinadas comunidades que são ários de estarem na escola nós temos Desde 2005 né uma política do Ministério da Educação eh que incentiva que promove a criação das chamadas licenciaturas interculturais
indígenas que é para formar os professores para atuar nas escolas de Educação Básica indígenas do nosso país e esses cursos eles têm um componente curricular diferenciado tem uma metodologia eh diferenciada também que vai eh fazendo esse diálogo de saberes esse diálogo de metodologias entre as especificidades indígenas e as não indígenas em que ambos temos aprendido muito tanto os Agentes do Estado em si como a forma como o estado vai gestando e gerando as políticas públicas como também nós povos indígenas quando adentramos esses esses cursos quando a gente passa por essas universidades que são nossas formadoras
todo mundo aprende e é uma riqueza muito interessante quando a gente precisa de de políticas públicas de decisões dos órgãos extremamente estruturados como as secretarias de educação as delegacias de ensino o próprio MEC e nesse lugar de tomadores de decisão a gente não tem pessoas indígenas eh o desafio deve ser muito grande e como este desafio pode ser superado é Um Desafio muito grande porque eh a gente vive numa luta permanente de de se educar e de educar os outros e de Educar o estado nas suas mais diversas instâncias não é é um processo permanente
querida esse processo de Educação de a gestão da diversidade do modo geral eu falo isso porque eu fui gora na Secretaria da diversidade e inclusão do Ministério da Educação fui gestora por 8 anos não é lá sei a dificuldade que é a gente trazer os direitos de povos e comunidades tradicionais de povos indígenas os direitos que dizem respeito a determinados grupos específicos para serem eh promovidos para serem respeitados e a gente tem uma estrutura de estado né de gestão das das das políticas públicas brasileiras muito engessadas muito fechad em caixinhas nãoé muito enquadradas no sentido
de que por exemplo quando se promove uma política essa política não é para um sujeito específico é uma política que não tem identidade não é com determinados grupos ela é mais Universal genérica É aquela ideia de universalidade de que em geral a partir de uma perspectiva europeia ou branca né europeia branca eurocêntrica Claro e Urbana na grande maioria das vezes não é então quem porque tem essa especificidade nós por exemplo eh os últimos dados do censo não é esses que foram publicados agora em 2022 não conta de que a gente chegou a quase 1 milhão
00 indígenas não é e parte desses indígenas estão nas cidades Ou seja a gente tem indígenas que estão organizados em comunidades vivendo na cidade em áreas urbanas mas temos uma parte desses indígenas que vivem nas terras indígenas que não estão localizadas não é nas cidades portanto são realidades diferentes tá portanto mesmo a educação escolar indígena específica como a gente fala de modo geral ela não pode atender a todos os grupos indistintamente tá é realmente são desafios muito grandes que é como a nossa como educar uma um aparelho de estado né Essa essa altamente institucionalizado pra
diversidade né para para Para incorporar e tem um tipo de aprendizado que sempre eles acham que somos nós é que temos que aprender que nós é que temos que adquirir esse mérito para saber lidar com as regras e os códigos das instituições mas há muito que eles têm que aprender com os diferentes grupos que compõem né a sociedade eu ia chamar agora nessa nessa dimensão dos saberes e fazeres que em cada programa nosso nós temos trazido eh que a gente pudesse focalizar um pouco uma experiência a partir do que nós estamos conversando aqui Olá pessoal
sou Thiago anasia Professor indígena aqui do Ceará e nós no que diz respeito a procurar valorizar a educação escolar indígena temos trabalhado para eh na perspectiva de elencar quais os saberes que circulam em nossa comunidade quais os saberes que há muito tempo estão presentes em nossas aldeias através do do contato da da troca de experiência com os troncos mais velhos com os sábios da comunidade e na Perspectiva intercultural trazer esses conhecimentos para a sala de aula para que o aluno indígena ele tenha a possibilidade de se perceber dele se ver na construção na elaboração desse
currículo tem sido uma experiência muito exitosa porque nós estamos falando de um de saberes que H milhares de anos estão circulando dentro dessas comunidades acima de tudo servindo né para viver com uma função social de utilidade desse conhecimento e os alunos conhecem eles então quando você constrói uma relação de confiança em que os alunos se percebem que os alunos se vem e acima de tudos que os alunos vem essas n bem representadas a partir das suas lideranças as pessoas que são referências da sua comunidade trazendo esses saberes para a escola nós percebemos o quanto que
isso torna desperta a criatividade desperta a vontade de aprender as crianças a vontade de aprender doos alunos gente como vocês puderam observar o papo tá muito bom então a gente retorna no próximo episódio [Música] até