Isabela caminhava pela cidade com o olhar atento, o coração acelerado e a cabeça cheia de preocupações. Aos 19 anos, a vida não tinha sido fácil para ela; cresceu na periferia, lutando diariamente para sobreviver em meio à pobreza e à falta de oportunidades. O pai havia sumido quando ela ainda era uma criança, e a mãe, cansada e doente, mal conseguia manter a casa. Era Isabela quem sustentava as coisas, fazendo bicos e trabalhos temporários. Mas, ultimamente, nem isso estava dando certo. Naquela tarde, ela vagava pelas ruas do centro da cidade, observando a movimentação intensa de carros
e pessoas apressadas. Era o tipo de lugar onde os ricos circulavam, onde as pessoas ostentavam roupas caras, acessórios de luxo e viviam uma realidade completamente diferente da sua. E foi exatamente ali que Isabela viu uma mulher que parecia ter saído de uma revista, elegante, com um vestido de grife, óculos escuros enormes, saindo de um café com uma bolsa caríssima pendurada no braço. Isabela parou por um instante, observando a mulher. A bolsa reluzente parecia brilhar à luz do sol; seu coração começou a bater mais forte e uma ideia impulsiva e perigosa surgiu em sua mente. Ela
nunca havia roubado nada grande antes – pequenos furtos, quando era mais jovem, para conseguir algum dinheiro rápido – mas nada comparava àquela bolsa. A bolsa parecia valer uma fortuna, e só de pensar no que poderia fazer com o dinheiro que ela traria, Isabela sentiu um frio na barriga. A adrenalina misturava-se ao medo e, por um breve momento, ela hesitou. Mas a hesitação durou pouco. Sem pensar duas vezes, seus pés começaram a se mover por conta própria e, antes que pudesse recuar, Isabela correu em direção à mulher. Com um movimento rápido e certeiro, puxou a bolsa
do braço dela e saiu disparada pelas ruas movimentadas, seu coração quase saindo pela boca. Ouviu a mulher gritar atrás dela, mas correu mais rápido que podia, desviando-se das pessoas e dos carros que buzinavam enquanto atravessava as ruas. As pernas de Isabela doíam; a adrenalina era tão forte que ela mal sentia o cansaço. Entrou em uma viela estreita e deserta, escondendo-se atrás de um muro. Ofegante, a bolsa estava ali em suas mãos, pesada, cheia de promessas. O que ela tinha feito? Por um momento, o arrependimento tentou se instalar, mas ela o afastou rapidamente. A vida não
lhe dava muitas escolhas e, naquele momento, parecia que havia feito a única coisa que poderia mudar sua situação. Depois de se certificar de que ninguém a seguiria, Isabela abriu a bolsa com mãos trêmulas. Seu primeiro pensamento foi o dinheiro, claro. Talvez houvesse uma grande quantia ali, suficiente para resolver seus problemas por alguns meses. Dentro, encontrou a carteira recheada de cartões de crédito e algumas notas de dinheiro, o suficiente para ser útil. Mas foi então que algo inesperado chamou sua atenção: um pequeno caderno de couro surrado e aparentemente antigo. O nome "Helena S. Martins" estava gravado
na capa com letras douradas. A curiosidade de Isabela foi imediata; a bolsa era de uma milionária, isso era óbvio. Mas por que uma mulher tão rica carregaria um caderno velho, com aspecto de algo valioso? Foliando rapidamente as páginas, ela percebeu que aquilo não era apenas um diário pessoal. As páginas estavam preenchidas com anotações detalhadas, datas, endereços, nomes que Isabela não reconhecia. Um arrepio percorreu sua espinha; havia algo naquela bolsa, além do dinheiro e dos cartões, que parecia muito importante. Isabela não sabia ao certo o que tinha em mãos, mas uma coisa era clara: aquele caderno
era mais valioso do que aparentava. O simples roubo de uma bolsa estava começando a se transformar em algo muito mais complicado. Isabela ainda sentia a adrenalina correr por suas veias enquanto permanecia escondida naquele beco estreito, com a bolsa roubada apertada em suas mãos. O coração batia tão rápido que parecia que ia explodir no peito, e sua respiração estava ofegante. Ela tentava acalmar os pensamentos, mas as perguntas e o medo vinham em ondas. Ela tinha acabado de cometer o maior erro da sua vida. Depois de folhear as páginas do caderno que encontrara na bolsa, a sensação
de ter feito algo muito maior do que imaginava invadiu-a. Aquelas anotações, nomes, endereços – tudo aquilo parecia estranho. Isabela não era boba; sabia que o mundo dos ricos era cheio de segredos e intrigas. Mas não esperava que seu ato impulsivo de roubar uma bolsa a envolvesse em algo tão misterioso. Ela fechou o caderno e voltou a vasculhar o conteúdo da bolsa, ainda sem acreditar na quantidade de dinheiro que encontrou; era muito mais do que havia imaginado no início, o suficiente para ajudar sua mãe doente, pagar as dívidas acumuladas e até mesmo mudar de vida se
soubesse como usar aquele dinheiro de forma inteligente. Mas o que mais a intrigava era aquele caderno. Deveria deixá-lo ali? Queimar? Entregar à polícia? A curiosidade, misturada ao medo, fazia com que cada escolha parecesse errada. No entanto, Isabela decidiu que, antes de fazer qualquer coisa, precisava sair daquele lugar. Olhou ao redor, certificando-se de que ninguém a seguiria até o beco. O centro da cidade era caótico, cheio de becos e ruas estreitas onde poderia facilmente se esconder. Ela respirou fundo e começou a caminhar rápido, evitando o contato visual com qualquer pessoa que passava. Sabia que precisava desaparecer
por um tempo até decidir o que fazer com a bolsa e o misterioso caderno. Enquanto andava, as imagens da mulher elegante que havia roubado começaram a voltar à sua mente. Isabela podia ver claramente o rosto chocado e a expressão de desespero da mulher enquanto ela fugia com a bolsa. Será que ela era perigosa? Será que aquela mulher já estava à sua procura? "Helena S. Martins", o nome que estava gravado no caderno, ecoava na cabeça de Isabela como um sinal de alerta. Quem era Helena e por que aquelas anotações pareciam tão importantes? A rua começava a
mudar de aparência à medida que Isabela se... Afastava-se do centro e se aproximava de seu bairro. As lojas de luxo e prédios imponentes foram substituídos por casas simples, muros pichados e ruas empoeiradas. Esse era o mundo que ela conhecia, onde podia se misturar e passar despercebida. No entanto, a tensão em seus ombros não diminuía. Ao chegar em casa, Isabela entrou rapidamente e trancou a porta atrás de si. Sua mãe estava deitada no sofá, com a televisão ligada em um volume baixo. Ela olhou para Isabela com uma expressão cansada, mas não fez perguntas; sabia que a
filha estava sempre saindo para tentar encontrar trabalho e, na condição em que estava, não tinha forças para questionar mais nada. Isabela foi direto para o seu pequeno quarto, onde jogou a bolsa sobre a cama, sentou-se ao lado, com a cabeça entre as mãos, tentando organizar os pensamentos. Olhou para o caderno mais uma vez, sentindo o peso das decisões que precisaria tomar. Será que o roubo daquela bolsa a colocaria em sérios problemas? Ela mal conseguia lidar com os desafios que já enfrentava; quem diria com as possíveis consequências de algo que, a cada segundo, parecia mais perigoso
do que um simples furto? Tentando distrair-se, pegou o celular da mulher de dentro da bolsa e o ligou. Surpreendentemente, ele não tinha senha, como se Helena não temesse que alguém pudesse acessá-lo. Isso fez Isabela pensar: uma mulher tão rica vivendo sem... ou talvez ela simplesmente não esperasse que algo assim acontecesse. Enquanto mexia no aparelho, percebeu que não havia muitas mensagens recentes, apenas uma série de e-mails e notificações de calendários com reuniões e eventos. Contudo, uma mensagem, em particular, chamou sua atenção: "Helena, temos que conversar. O tempo está se esgotando." A mensagem, enviada por alguém chamado
Gustavo, fez o estômago de Isabela se revirar. Algo estava errado, e ela sentia isso cada vez mais intensamente. Fechou o celular e o colocou de volta na bolsa, sentindo-se incapaz de lidar com aquilo sozinha. Enquanto as horas passavam, Isabela começou a perceber que fugir com aquela bolsa não seria o fim, mas o começo de algo muito maior do que ela podia imaginar. E agora, o que ela faria? Devolveria a bolsa, iria à polícia ou continuaria com o que começara, investigando por conta própria o mistério que caíra em suas mãos? Sem saber, Isabela havia cruzado uma
linha da qual não poderia mais voltar. No silêncio do seu pequeno quarto, com a bolsa ainda sobre a cama, Isabela sentia-se sufocada pelo peso daquilo que havia começado como um simples roubo. O que, inicialmente, parecia apenas uma oportunidade desesperada para sair das dificuldades, estava se tornando um enigma cada vez mais sombrio. Aquela mensagem misteriosa no celular, as anotações confusas no caderno, o nome da mulher que ela mal conhecia, mas que agora parecia tão envolvida em algo perigoso, tudo isso a deixava inquieta. Ela precisava pensar: o que exatamente havia caído em suas mãos? Quem era Helena
S. Martins e o que aquelas anotações significavam? Isabela sentia que estava entrando em um território desconhecido, cheio de segredos que pareciam maiores do que ela mesma. Mas uma coisa era clara: ignorar aquilo não parecia mais uma opção. Ainda tentando processar tudo, Isabela começou a examinar o caderno de novo, desta vez com mais atenção. As páginas estavam cheias de nomes, muitos dos quais não faziam sentido para ela; alguns eram sublinhados, outros tinham símbolos ao lado, como se fossem codificados. Havia também endereços, todos de bairros nobres da cidade, e datas que pareciam marcar compromissos importantes. Isabela tentava
entender o padrão, mas tudo parecia um quebra-cabeça incompleto. Ela leu uma página que se destacava das outras; no topo, em letras grandes e destacadas, estava escrito "A operação final". Logo abaixo, havia uma lista de datas, sendo a mais recente da há três dias. Aquilo fez seu estômago se contorcer. O que seria essa operação? Estaria Helena envolvida em algo ilegal? Isabela sempre soube que o mundo dos ricos estava cheio de negócios obscuros, mas aquilo parecia algo muito mais perigoso. Sem ter com quem compartilhar o que estava descobrindo, Isabela sentia-se cada vez mais isolada e insegura. Quem
era aquela Helena, realmente? E, mais importante, se ela soubesse que Isabela tinha a bolsa, o caderno e o celular, o que estaria disposta a fazer para recuperar? A cada minuto, parecia que ela estava se aprofundando mais em um buraco do qual não sabia como sair. Movida pela curiosidade, Isabela decidiu que precisava descobrir mais sobre Helena. Descer até a sala, onde sua mãe assistia à TV, não era uma opção; ela não queria que a mãe desconfiasse de nada. Ao invés disso, foi ao pequeno kiber café do bairro. Lá, pagou por uma hora de acesso à internet
e começou sua pesquisa. Ela digitou o nome "Helena S. Martins" e rapidamente percebeu que Helena era mais famosa do que pensava. Diversas matérias de jornais e revistas traziam seu nome; era uma empresária renomada, dona de uma rede de galerias de arte, envolvida em causas sociais. Seu rosto sempre aparecia em eventos beneficentes e lançamentos de exposições. As fotos mostravam uma mulher elegante, sempre cercada por outras figuras influentes da cidade. Mas, apesar da aparência pública impecável, algo não batia com o que Isabela estava descobrindo no caderno. Entre as matérias, uma chamou a atenção: havia uma notícia de
alguns meses atrás sobre o desaparecimento da filha de Helena. Isso a deixou inquieta. A filha de Helena, chamada Clara, havia sumido misteriosamente e a polícia parecia não ter feito muitos progressos. Algumas teorias apontavam para um sequestro, enquanto outras sugeriam que Clara havia fugido por conta própria. Isabela franziu a testa. Será que o desaparecimento da filha estava ligado ao conteúdo daquele caderno? Quanto mais Isabela lia, mais percebia que a vida de Helena não era tão perfeita quanto parecia, e a menção à "operação final" e a proximidade da data a deixavam nervosa. Havia algo em andamento, algo
grande e perigoso, e de alguma forma, Isabela havia se envolvido nisso. metido no meio disso, ela queria mais do que nunca devolver a bolsa, o caderno e o celular, mas, ao mesmo tempo, sentia que não poderia simplesmente ignorar tudo. Alguma coisa dentro dela impelia-a a ir mais fundo. De volta ao seu quarto, Isabela passou o resto do dia tentando decifrar mais pistas nas anotações de Helena. Ela sabia que estava entrando em terreno perigoso, mas não conseguia parar. Quanto mais lia, mais intrigada ficava com os nomes; endereços pareciam ser de pessoas importantes, talvez relacionadas ao desaparecimento
de Clara. O relógio marcava quase meia-noite quando algo estalou em sua mente: um dos endereços anotados no caderno parecia familiar; era de um edifício na área central da cidade, perto de onde Isabela trabalhava de vez em quando, em uma loja de conveniência. Ela não sabia por que aquilo a tocou, mas uma sensação de que esse lugar tinha importância na história tomou conta dela. Exausta, mas com a mente acelerada, Isabela deitou-se na cama. Enquanto o sono a dominava, aos poucos, uma pergunta se repetia em sua cabeça: o que mais Helena estava escondendo? E, mais do que
isso, o que Isabela estava disposta a fazer? Com todas essas informações que tinha em mãos, o dia seguinte começou como qualquer outro, mas Isabela não conseguia afastar a sensação de que estava sendo observada. Desde que pegara a bolsa de Helena, cada esquina parecia esconder alguém à espreita; cada olhar de estranhos a deixava nervosa enquanto andava pelo bairro, indo em direção ao centro da cidade para tentar achar mais respostas. Um sentimento crescente de insegurança a acompanhava. Ela tentava se convencer de que ninguém sabia que tinha a bolsa; não havia como Helena Martins, uma mulher tão rica
e importante, ter percebido que fora ela, uma garota comum da periferia, a responsável pelo CTO. Porém, Isabela subestimava o alcance e o poder do mundo de pessoas como Helena e, naquela manhã, seria forçada a encarar essa dura realidade. Ao chegar ao centro, Isabela sentiu novamente aquela sensação estranha, como se estivesse sendo seguida. Olhou rapidamente por sobre o ombro e viu uma mulher parada do outro lado da rua; a princípio, não a reconheceu, mas então uma onda de pânico a invadiu: era Helena! A mulher que ela havia roubado estava parada, olhando diretamente para ela, com uma
expressão séria, mas curiosamente calma. Por um segundo, Isabela pensou em correr; seu primeiro instinto era fugir dali o mais rápido possível, mas, antes que pudesse tomar uma decisão, Helena atravessou a rua em sua direção, seus saltos altos batendo firmemente no asfalto. Quando finalmente chegou perto, Isabela mal conseguia respirar. Como ela havia encontrado o que queria? Denunciá-la? Gritar? Mas o que Helena fez a deixou ainda mais confusa. Em vez de parecer zangada ou ameaçadora, ela simplesmente disse, em um tom baixo e firme: "Precisamos conversar." Isabela congelou; não era o que esperava ouvir. Por um momento, tudo
o que ela queria era sair correndo e desaparecer, mas algo no tom de Helena a fez parar. A mulher olhava para ela de um jeito que Isabela não conseguia decifrar: não havia raiva, mas uma intensidade que a deixou ainda mais nervosa, sem saber exatamente o porquê. Isabela balançou a cabeça, concordando, e Helena apontou para um café ali perto. Elas entraram e se sentaram em uma mesa no canto, afastadas do barulho e da movimentação. Isabela estava inquieta, os olhos fixos na mesa, enquanto Helena a observava em silêncio. O garçom trouxe um café para Helena, mas Isabela
não conseguiu pedir nada; seu estômago estava revirado demais para pensar em comer ou beber. Após alguns segundos de um silêncio desconfortável, Helena finalmente falou: "Eu sei que você pegou minha bolsa," disse ela, sem rodeios. Isabela abriu a boca para responder, talvez para se desculpar ou para tentar se explicar, mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Helena continuou: "Não estou aqui para chamar a polícia ou para te causar problemas. Não agora, pelo menos. Estou aqui porque o que você pegou tem mais importância do que imagina." Isabela, ainda em choque, não sabia como reagir; as palavras de
Helena não eram o que ela esperava. A mulher não estava preocupada com o dinheiro ou os cartões; sua expressão não mostrava o desespero de quem perdera algo material. Ela parecia preocupada com algo muito maior e, a julgar pelo tom sério em sua voz, Helena acreditava que Isabela sabia o que estava fazendo, o que, claro, não era verdade. "Eu preciso que você me escute com atenção," disse Helena, inclinando-se para a frente. "Você não faz ideia no que se meteu, mas agora que tem o meu caderno, está envolvida, e isso pode ser muito perigoso para você." As
palavras "para você" ecoaram na mente de Isabela. Um arrepio percorreu sua espinha. Ela já sabia, instintivamente, que havia algo errado com aquele caderno, mas ouvir Helena confirmar isso só aumentava seu medo. Isabela queria responder, dizer que não sabia de nada, que tudo foi um erro, que ela só estava desesperada por dinheiro. Mas Helena parecia saber de tudo e, estranhamente, parecia não estar interessada em puni-la. "Você simplesmente não pega a sua bolsa de volta e esquece que isso aconteceu," Isabela finalmente perguntou, a voz um pouco trêmula. Helena suspirou, olhando para Isabela com uma expressão cansada, como
se já tivesse pensado nisso muitas vezes. "Por agora, você já viu coisas demais e, além disso, eu preciso da sua ajuda." Isabela ficou completamente confusa; ela, uma garota que mal conseguia manter o controle da própria vida, estava sendo solicitada a ajudar uma milionária em algo que claramente envolvia muito perigo. Aquilo parecia surreal. "Minha filha, Clara, ela desapareceu há alguns meses," Helena começou a explicar, os olhos se enchendo de uma dor que Isabela não esperava. "A polícia não encontrou nada, mas eu sei que não foi um sequestro comum. Há um grupo de pessoas com quem eu
já tive contato antes; elas estão envolvidas e o caderno que você pegou tem..." informações que eu reuni sobre elas. Isabela não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Ela havia se metido sem querer em algo muito maior do que imaginava. E onde eu entro nisso? Perguntou, ainda em choque. Helena observou por um momento, como se estivesse calculando algo. "Você é alguém que eles não conhecem, alguém fora desse círculo. Isso te torna invisível para eles. Eu preciso de alguém como você para me ajudar a descobrir onde Clara está." As palavras de Helena pareciam ecoar na cabeça de
Isabela. Era como se, a cada segundo, as coisas ficassem mais estranhas e complicadas. A ideia de ajudar Helena em algo tão perigoso era aterrorizante, mas ao mesmo tempo, Isabela não podia ignorar o fato de que, sem querer, já estava envolvida. Ela tinha o caderno, sabia demais e agora parecia que sua vida dependia de suas próximas escolhas. "Você pode recusar, e eu encontrarei outro jeito," disse Helena. "Mas você precisa entender que, a essa altura, eles podem estar te observando também. Esse grupo não deixa rastros, mas estão sempre um passo à frente. Se souberem que você tem
algo que os ameaça, não vão hesitar em vir atrás de você." Isabela sentiu o mundo girar ao ouvir aquilo. Estava com medo, e a última coisa que queria era se envolver ainda mais. Mas a sensação de que não havia volta começava a pesar. A bolsa, o caderno, as anotações… tudo aquilo já tinha transformado sua vida de uma forma que ela não sabia se conseguiria consertar. Com a cabeça, Isabela olhou para Helena e, depois de um longo silêncio, sussurrou: "O que eu preciso fazer?" Helena sentiu como se já soubesse que essa seria a resposta. "Primeiro, precisamos
começar a investigar quem está por trás de tudo isso. Eu vou te guiar, mas você será meus olhos onde eu não posso ir. A vida da minha filha depende disso." Isabela sabia que estava prestes a embarcar em algo que poderia mudar sua vida para sempre. Isabela ainda estava atônita com tudo que acabara de ouvir. A possibilidade de se envolver em uma situação tão perigosa era algo que ela nunca teria imaginado, especialmente quando pegou a bolsa de Helena naquele impulso. Agora, sentada naquele café, diante da mulher rica e poderosa, Isabela mal conseguia processar o turbilhão de
informações que lhe fora jogado de uma vez. Ela não conseguia tirar da cabeça o olhar de desespero e urgência de Helena enquanto falava da filha desaparecida e das pessoas misteriosas que estavam por trás de tudo isso. Ainda confusa, Isabela começou a mexer as mãos nervosamente embaixo da mesa. Sabia que estava em uma encruzilhada. Por um lado, tudo o que ela queria era sair dali, devolver o que havia pegado e esquecer que um dia havia se metido nesse caos. Por outro lado, as palavras de Helena ecoavam em sua mente: "E você já está envolvida, eles podem
estar te observando." O medo do desconhecido, do perigo real que parecia cada vez mais próximo, a fez entender que talvez ela não tivesse realmente escolha. Não havia como simplesmente recuar sem se arriscar. Helena, percebendo o silêncio hesitante de Isabela, olhou fixamente para a garota. A milionária estava acostumada a negociar, a usar palavras para conquistar aliados e obter o que queria, e naquele momento, ela sabia que precisava conquistar a confiança de Isabela ou, pelo menos, garantir que a jovem não fugisse daquela situação. "Eu sei que isso tudo parece muito," disse Helena com uma voz mais suave.
"Você está em uma posição que nunca pediu. Eu entendo, mas veja: a única razão pela qual estou te pedindo ajuda é porque você já entrou nesse jogo, mesmo sem perceber. Eles não sabem quem você é, e isso te dá uma vantagem. Você pode entrar em lugares onde eu não posso, falar com pessoas que jamais conversariam comigo." Helena fez uma pausa, avaliando a reação de Isabela. "E eu posso garantir que, se me ajudar, eu farei o que estiver ao meu alcance para proteger você. E, além disso, a recompensa pode ser muito maior do que apenas dinheiro."
Isabela mordeu o lábio inferior. "Recompensa?" Aquela palavra ecoou em sua cabeça de uma maneira que ela não conseguia ignorar. É claro que precisava de dinheiro, precisava mais do que qualquer coisa para cuidar de sua mãe e sair da vida de dificuldades que levava. Mas havia algo mais ali, algo que estava começando a crescer dentro dela. E a sensação de que, de alguma forma, ajudar Helena a encontrar a filha era também uma oportunidade de fazer algo importante, de ser mais do que uma garota da periferia lutando para sobreviver. Era como se o destino tivesse colocado aquela
chance em suas mãos, por mais arriscada que fosse. "Você quer que eu seja seus olhos e ouvidos?" disse Isabela, finalmente encontrando sua voz, embora ainda insegura. "Mas o que exatamente eu teria que fazer? Eu não tenho nenhuma experiência com…", ela não sabia exatamente como chamar a situação, mas a ideia de estar se metendo em algo que parecia uma trama de filme de espionagem a deixava ainda mais nervosa. Helena assentiu. "Não estou pedindo que você faça nada além da sua capacidade. O que eu preciso agora é de alguém que possa entrar em um círculo social onde
eu sou uma figura pública. Essas pessoas sabem quem eu sou, estão sempre me observando. Mas você, você é anônima. Pode se aproximar de algumas pessoas sem levantar suspeitas. E eu acredito que há eventos próximos, reuniões, onde poderíamos obter informações valiosas sobre o paradeiro da minha filha." Helena respirou fundo antes de continuar. "Acredite em mim, esses homens não são comuns. Eles são perigosos, sim, mas são arrogantes, acham que estão acima de tudo e todos. Isso os torna descuidados." Isabela tentou processar aquilo. Estava sendo convidada a se infiltrar, a tentar espiar pessoas que, pelo que Helena dizia,
eram extremamente perigosas. Mas, ao mesmo tempo, a milionária parecia confiante de que sua escolha poderia mudar tudo. Descrição e anonimato seriam suas maiores armas. Isabela nunca havia se considerado importante o suficiente para ser invisível, mas naquele momento, ser uma garota como parecia ser justamente o que poderia ajudá-la a escapar da atenção desse grupo. — Você tem certeza de que essa é a única maneira? — Isabela perguntou, a voz mais baixa. — Não pode simplesmente ir à polícia contar a eles o que sabe? Talvez eles pudessem ajudar a encontrar sua filha. O rosto de Helena endureceu
por um momento. A mulher olhou para Isabela com uma mistura de dor e desilusão. — Eu tentei a polícia, claro que tentei, mas eles estão ou comprados ou com medo quando se trata de gente tão poderosa. A verdade é que a polícia não quer se envolver. Quanto mais fundo você cava, mais sujeira encontra. E Clara, minha filha, está presa nesse mundo de segredos, e eu não posso confiar em ninguém para tirá-la de lá, exceto em alguém como você. A sinceridade nos olhos de Helena, o desespero contido que ela tentava esconder, finalmente atingiu Isabela de uma
forma que a fez parar de questionar aquela mulher à sua frente, que parecia tão imponente e poderosa, mas estava na verdade desesperada para encontrar sua filha, para consertar o que havia sido feito. E agora, Isabela começava a entender que não se tratava apenas de uma proposta; era uma súplica. — Eu não sei se sou a pessoa certa para isso — Isabela disse, a voz hesitante. — Mas se eu ajudar, como vai funcionar? O que exatamente você quer que eu faça? Helena respirou fundo, aliviada ao perceber que Isabela estava começando a considerar sua proposta. — Eu
vou te dar instruções. Existem alguns eventos nos próximos dias onde certas pessoas que conheço vão estar presentes. Você só precisa ir, se misturar e tentar ouvir o que estão dizendo. Qualquer coisa que pareça suspeita, qualquer menção sobre Clara ou sobre o grupo que estou investigando, você me conta. Eu vou te guiar em cada passo. Não vou te mandar para o fogo sem orientação. Isabela, ainda inquieta, sentiu-se devagar. Ela sabia que estava entrando em algo muito maior do que jamais imaginou, e o medo ainda estava lá, pulsando dentro dela. Mas algo em sua mente estava começando
a mudar. Talvez essa fosse sua única chance de mudar sua própria vida. Talvez, ajudando Helena, ela pudesse finalmente ter uma oportunidade real de sair da miséria e fazer algo significativo. — Eu vou tentar — disse ela, a voz baixa, mas firme. — Mas quero deixar claro: estou fazendo isso por você e pela sua filha. Só espero que tudo isso não me coloque em um buraco ainda mais fundo. Helena sorriu levemente pela primeira vez desde que haviam se sentado. — Obrigada, Isabela. Eu prometo que cuidarei de você, e juntas encontraremos Clara. As duas ficaram em silêncio
por um momento, o peso da situação pairando no ar. Isabela sabia que aquela decisão era apenas o começo. Os dias seguintes passaram como um borrão para Isabela. Ela se sentia presa entre o medo e a curiosidade. De um lado, havia o pavor de se meter em algo perigoso demais para uma pessoa comum como ela; do outro, havia a intrigante complexidade do que estava acontecendo, e uma parte dela queria desesperadamente entender o que tudo aquilo significava. Quem era aquele grupo de pessoas que Helena temia tanto e por que estavam envolvidos no desaparecimento de Clara? Isabela ainda
estavam digerindo tudo que havia aprendido sobre a filha desaparecida de Helena. No começo, ela não sabia o que pensar. Pessoas ricas sempre pareciam ter seus dramas secretos, mas aquilo era diferente. Ao passar mais tempo conversando com Helena, Isabela percebeu que havia muito mais no passado dela do que imaginava. Uma das conversas que tiveram foi em um pequeno apartamento, que Helena havia alugado para que pudessem se encontrar sem levantar suspeitas. Helena começou a revelar mais sobre sua história. — Era como eu finalmente abrindo, mostrando minhas feridas — começou Helena, sentada na poltrona com um ar distante,
os olhos fixos na janela. — Essa mulher que aparece nas revistas, que sorri em eventos de gala, ela é uma fachada, algo que construí para sobreviver nesse mundo em que vivo. Mas por trás disso tudo, a verdade é muito mais complicada. Isabela ouvia em silêncio, curiosa. Ela já havia notado que Helena escondia muito mais do que revelava ao público, mas não esperava que a verdade fosse tão profunda. — Quando eu era mais jovem, minha vida era tão dura quanto a sua — continuou Helena, a voz suave, como se revivesse as memórias enquanto falava. — Eu
cresci em uma cidade pequena, em uma família sem muitos recursos. Sempre quis mais, sonhava em escapar daquele lugar. Eu consegui, mas a um custo alto. Quando cheguei à cidade grande, fiz escolhas das quais não me orgulho. Me envolvi com pessoas que me prometeram um caminho rápido para o sucesso. Mas essas pessoas não eram como qualquer um. Isabela não pôde deixar de notar o tom sombrio nas palavras de Helena. Ela sabia o que era fazer escolhas difíceis; viver na pobreza às vezes levava a decisões que pareciam não ter volta. Mas o que Helena parecia estar descrevendo
era algo muito mais sério. — Essas pessoas — Helena continuou — eram parte de um grupo poderoso, um grupo que opera nas sombras. Eles controlam partes da cidade, influenciam decisões políticas, negócios, tudo. E por muito tempo eu fiz parte desse mundo. Eu sabia o que acontecia, mas me mantive longe do lado mais sombrio. Eu achava que se jogasse o jogo dele sem me aprofundar demais, estaria segura. Mas estava enganada. A tensão no ar aumentava. Isabela sentia a gravidade daquilo que Helena estava contando, mas ainda havia tanto que ela não entendia. — E sua filha? —
perguntou Isabela, a voz baixa, quase receosa de interromper. Helena suspirou profundamente antes de responder. — Clara era meu mundo. Ela não sabia de nada disso. Eu fiz... De tudo para mantê-la longe desse ambiente, para dar a ela a vida que eu nunca tive. Mas, eventualmente, o passado volta para te assombrar. Esses homens com quem me envolvi no passado nunca perdem o controle. Quando Clara começou a se destacar, a aparecer mais na mídia como a filha perfeita e da mulher de negócios bem-sucedida, ela se tornou um alvo. Helena fez uma pausa, e Isabela viu a dor
profunda nos olhos dela. Eu percebi tarde demais que Clara estava sendo observada. Eles a sequestraram para me forçar a voltar ao jogo. Eles querem me usar para continuar seus esquemas, querem me silenciar porque eu sei demais e agora estão usando minha filha como moeda de troca. Isabela sentiu um nó se formar em seu estômago; estava claro que Helena carregava uma culpa enorme pelo que havia acontecido. Ela havia se envolvido com pessoas perigosas e, agora, Clara estava pagando o preço. Mas o que mais assustava Isabela era perceber que, de certa forma, ela também já estava envolvida.
O caderno que você pegou, continuou Helena, contém informações que podem derrubar esse grupo. Eu venho coletando essas provas há anos, na esperança de encontrar uma forma de proteger Clara e destruir esse império corrupto de uma vez por todas. Mas o tempo está se esgotando, Isabela. Eles sabem que estou perto demais. A mente de Isabela girava com todas aquelas revelações. Ela finalmente começava a entender a extensão do perigo em que estava se metendo. Não era apenas sobre uma filha desaparecida; era sobre uma rede de poderosos criminosos, pessoas dispostas a fazer qualquer coisa para manter seus segredos
escondidos, e agora Isabela fazia parte disso, mesmo sem querer. Ela olhou para Helena, que parecia cansada, mas ainda determinada. A ideia de entrar mais fundo naquele mundo escuro e perigoso ainda a assustava, mas havia algo na determinação de Helena que começava a influenciá-la. Clara estava desaparecida e aqueles homens eram responsáveis. Isabela sabia o que era perder tudo para a crueldade da vida e agora sentia que precisava ajudar Helena a lutar de volta. Se esse grupo é tão poderoso, por que você confia em mim? Perguntou Isabela, ainda insegura sobre sua capacidade de fazer a diferença. Helena
olhou diretamente para Isabela, os olhos firmes. — Porque você é a última peça que eles não previram. Você é invisível para eles e é isso que pode nos salvar. Isabela sentiu um frio na espinha. Ela não queria estar naquele lugar, naquele papel, mas sabia que não havia como recuar. As palavras de Helena haviam despertado algo dentro dela: um senso de justiça ou talvez de revolta contra aqueles que acreditavam estar acima de todos. Eles não previam que alguém como ela, uma garota simples, fosse capaz de desafiá-los e talvez fosse exatamente isso que lhe desse uma chance
de mudar tudo. — Então, o que fazemos agora? — Perguntou Isabela, sua voz mais firme do que antes, finalmente aceitando o papel que havia sido forçada a desempenhar. Helena sorriu levemente, um sorriso cansado, mas cheio de esperança. — Agora começamos a derrubar esse império, uma peça de cada vez. A partir daquele momento, Isabela sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. O caminho à frente seria perigoso, incerto e cheio de reviravoltas. Mas agora ela estava comprometida, não apenas por Helena, mas porque sentia que, de alguma forma, essa luta também era dela. Depois da última
conversa com Helena, Bela não conseguia tirar os pensamentos turbulentos da cabeça. Tudo que ela havia descoberto, as histórias sombrias sobre o passado de Helena, o sequestro de Clara e a existência de um grupo de pessoas tão poderosas e perigosas, era como se o mundo real, o mundo que Isabela conhecia, tivesse dado lugar a um universo de segredos e mentiras muito mais profundo do que ela jamais imaginara. E agora ela estava no centro disso tudo. Nos dias que se seguiram, Isabela tentou continuar sua rotina normal. Trabalhou em bicos temporários, ajudou sua mãe em casa, andou pelas
ruas de sempre, mas nada mais parecia igual. Sua mente voltava sempre àquela decisão que pairava sobre ela, como uma sombra insistente: aceitar ou não a oferta de Helena? Ajudar ou não em uma missão que, de alguma forma, parecia maior do que a própria vida? Enquanto Isabela passava por uma pequena feira no bairro, seus olhos vagavam pelas barracas de frutas, mas sua mente estava longe dali. Ela não conseguia esquecer o desespero nos olhos de Helena quando falava sobre Clara, a culpa que Helena carregava por ter se envolvido com pessoas erradas, e agora sua filha estava pagando
o preço. Algo dentro de Isabela incomodava profundamente e, a cada dia, ela sentia que fugir daquela situação já não era mais uma opção. De volta ao pequeno apartamento onde morava com a mãe, Isabela se jogou na cama, exausta, mas sem conseguir dormir. Estava claro que, de algum modo, a vida a empurrava para essa decisão. O que ela faria? Fugir de tudo isso não parecia mais possível. Helena estava certa e Isabela já sabia demais. E se havia algo que Isabela aprendera vivendo no seu bairro, era que saber demais podia ser perigoso. Se essas pessoas descobrissem que
ela tinha o caderno de Helena, que estava envolvida, sua vida estaria em risco. Ela tentou imaginar como seria se decidisse devolver a bolsa, esquecer Clara e seguir com sua vida. Talvez pudesse até se esconder, desaparecer em algum lugar longe dali. Mas mesmo enquanto pensava nisso, sabia que a tranquilidade que buscava não viria. O medo de ser descoberta seguiria para onde quer que fosse, pior, o peso da culpa: uma garota estava desaparecida e, de certa forma, Isabela sentia que agora tinha a chance de fazer a diferença. Talvez uma chance que nunca mais teria. Sua mãe, que
passava pelo corredor, deu uma olhada no quarto e percebeu o ar preocupado no rosto da filha. Sem perguntar diretamente, ela apenas disse, em tom tenso. Suave Isabela, você sempre foi forte. Não importa o que esteja acontecendo, você vai encontrar um jeito. As palavras de sua mãe ecoaram dentro dela de uma maneira inesperada; não que a mãe soubesse de toda a confusão, mas havia um fundo de verdade naquela frase. A vida nunca fora fácil para Isabela. Desde pequena, precisara lutar por tudo que tinha e sempre encontrava uma maneira de sobreviver, mesmo nas situações mais difíceis. Por
que agora seria diferente? Ela se virou na cama, o olhar fixo no teto, como se tentasse buscar respostas nas rachaduras da pintura antiga. E então, uma ideia começou a se formar lentamente em sua mente. Talvez essa não fosse apenas uma questão de sobrevivência; talvez, desta vez, fosse uma oportunidade, uma chance de mudar algo, de lutar por algo maior do que ela mesma. Assim, após horas de pensamentos agitados, Isabela tomou sua decisão. Na manhã seguinte, antes que o sol tivesse nascido completamente, Isabela já estava de pé. Ela sabia que não havia mais como voltar atrás. Se
fosse para fazer isso, teria que mergulhar de cabeça. Mas dessa vez seria diferente; não era mais apenas uma garota que cometera um erro impulsivo. Agora, ela estava entrando em um jogo muito maior e, se queria sobreviver, teria que aprender a jogar. Pegou o celular que havia ficado escondido junto com a bolsa de Helena e enviou uma mensagem rápida para o número que Helena havia deixado: "Estou dentro. O que preciso fazer?" A resposta veio quase imediatamente, como se Helena estivesse esperando por isso: "Precisamos nos encontrar, te explico os detalhes." Algumas horas depois, Isabela estava mais uma
vez no pequeno apartamento que Helena usava como esconderijo temporário. A expressão de Helena, ao ver Isabela, misturava alívio e determinação. Ela sabia o quanto havia pedido da garota. Embora esperasse que Isabela aceitasse, não estava completamente certa até aquele momento. — Obrigada por confiar em mim — disse Helena, quebrando o silêncio. — Você não faz ideia de quanto isso significa. Isabela, por sua vez, estava séria. Ela não havia vindo por gratidão ou reconhecimento; algo muito maior a movia, mesmo que ainda não conseguisse entender completamente. — Não faço isso por você. Estou aqui porque acho que é
a coisa certa a fazer, mas preciso saber exatamente no que estou me metendo. Helena assentiu. — Claro, eu vou ser direta. O primeiro passo será você se infiltrar em um evento que vai acontecer amanhã à noite. É uma festa de caridade organizada por um dos membros do grupo que estou investigando. Não é apenas uma festa comum; é onde eles costumam fazer negócios, trocando informações. Eu preciso que você esteja lá, observando. Isabela olhou para Helena com uma sobrancelha erguida. — Como eu vou conseguir entrar em uma festa dessas? Não pareço o tipo de pessoa que eles
convidariam. — Eu já pensei nisso — respondeu Helena. — Você vai como minha assistente. Eu tenho uma reputação, e como você vai estar ao meu lado, ninguém vai te questionar. Eles sabem que estou dentro do círculo deles e você estará segura, desde que não faça nada suspeito. “Segura” — a palavra soou quase irônica aos ouvidos de Isabela, mas ela se sentiu tentando absorver o máximo de informações. — E o que eu devo fazer lá? — Escute — disse Helena. — Observe pessoas; como eles falam demais quando acham que estão cercados apenas por aliados. Se ouvir
qualquer coisa sobre Clara ou sobre qualquer movimentação estranha, você me avisa. Vamos devagar, sem chamar atenção. Isabela sabia que não seria fácil. Ela nunca havia estado em um evento como aquele, cercada por pessoas tão poderosas, provavelmente perigosas. Mas já não havia mais volta; seu destino estava traçado. No fim do encontro, Helena entregou a Isabela um vestido elegante, algo que ela jamais teria condições de comprar sozinha. — Vista isso amanhã. Precisa parecer como se pertencesse àquele lugar. Enquanto pegava o vestido nas mãos, Isabela sentiu a estranheza da situação. Estava prestes a entrar em um mundo que
não era o dela, fingindo ser alguém que não era, e tudo isso para encontrar pistas sobre uma jovem desaparecida. A vida que ela conhecia parecia cada vez mais distante e, ao mesmo tempo, uma nova Isabela estava começando a surgir; uma versão que precisaria ser mais forte, mais esperta e muito mais corajosa. Com a decisão tomada, Isabela sabia que o próximo passo a levaria ainda mais fundo em um jogo perigoso. No dia seguinte, Isabela acordou com o peso da responsabilidade que havia assumido. O que estava por vir seria diferente de tudo que ela já havia experimentado.
Ao olhar o vestido que Helena lhe entregara na noite anterior, pendurado na cadeira do seu quarto, ela mal podia acreditar que aquilo seria a sua vida agora. Estava prestes a entrar em um mundo que parecia tão distante do seu: o mundo dos ricos, dos poderosos, e pior ainda, o mundo de pessoas perigosas e sem escrúpulos. Enquanto se arrumava, Isabela não conseguia afastar o nervosismo crescente. Suas mãos estavam trêmulas enquanto vestia o tecido macio e elegante que nunca havia tocado antes. Olhou-se no espelho e mal se reconheceu; a garota da periferia que lutava para sobreviver agora
se preparava para se infiltrar em uma festa de caridade cercada por pessoas que, de alguma forma, estavam envolvidas no sequestro de Clara. Quando terminou de se arrumar, sua mãe entrou no quarto e ficou parada à porta, surpresa ao ver Isabela tão diferente. — Você está linda — disse ela, com um sorriso orgulhoso, sem saber exatamente o que estava acontecendo. Isabela devolveu um sorriso tímido, tentando esconder o turbilhão de emoções que fervilhava dentro dela. A última coisa que queria era preocupar sua mãe, que já carregava fardos suficientes. — Obrigada, mãe — respondeu Isabela, tentando soar despreocupada.
— É só um trabalho novo. Sabia que não poderia contar a verdade; colocaria sua mãe em risco, e Isabela estava determinada a proteger a única pessoa que ainda tinha. Logo depois, Helena mandou uma mensagem avisando que passaria para buscá-la. Isabela desceu as escadas. O coração acelerado, Isabela encontrou Helena esperando em um carro luxuoso. A milionária parecia mais calma do que nunca, como se estivesse totalmente no controle da situação. Mas, ao olhar nos olhos de Helena, Isabela notou algo que já vira antes: a mesma tensão silenciosa que sentira quando Helena lhe contara sobre Clara e sobre
o grupo que estavam enfrentando. Helena também estava com medo, mesmo que soubesse escondê-lo melhor do que Isabela. "Está pronta?" perguntou Helena, enquanto Isabela entrava no carro. "Eu não sei se a gente pode estar realmente pronta para algo assim," respondeu Isabela, meio brincando, tentando aliviar a tensão, mas, no fundo, sabia que não havia como se preparar totalmente para o que estava por vir. "Você vai se sair bem," disse Helena, com uma confiança que parecia inabalável. "Lembre-se: você está ali para observar. Mantenha a cabeça baixa, não chame atenção, mas ouça tudo com cuidado. Qualquer pista sobre Clara
pode ser a chave." O carro avançava pelas ruas da cidade, e quanto mais se aproximavam do local da festa, mais Isabela sentia o estômago revirar. Ela nunca tinha estado em um ambiente como aquele, cercada por pessoas que pareciam viver em um mundo de fantasia, onde o dinheiro fluía livremente e problemas como os dela simplesmente não existiam. Contudo, sabia que, por trás de toda a fachada, existiam segredos perigosos escondidos nas sombras. Chegando ao local, Isabela ficou boquiaberta ao ver o enorme prédio iluminado e decorado de forma extravagante. Era uma mansão imponente, com carros de luxo chegando
um atrás do outro. Homens e mulheres desciam elegantemente de veículos, vestindo roupas caríssimas, com sorrisos falsos e conversas superficiais. Mas, para Isabela, cada um daqueles sorrisos poderia esconder algo mais profundo e sombrio. Elas saíram do carro e Helena rapidamente assumiu sua postura habitual, cumprimentando algumas pessoas com um sorriso ensaiado. Enquanto entravam, Isabela seguiu ao lado, tentando parecer calma e confiante, embora seu coração estivesse disparado. As paredes altas, o mármore no chão, os lustres de cristal... Tudo parecia opressor, quase sufocante, para alguém que nunca havia pisado em um lugar tão luxuoso. Dentro do salão principal, a
música suave tocava ao fundo e os convidados se espalhavam por toda parte, com taças de champanhe nas mãos, conversando e rindo como se o mundo lá fora não existisse. Isabela tentava absorver tudo, mas logo percebeu que não seria tão simples quanto parecia. Havia muitas pessoas ali, e distinguir quem estava envolvido com o grupo que Helena mencionara seria uma tarefa difícil. "Fique ao meu lado por enquanto," disse Helena baixinho, enquanto cruzavam o salão, cumprimentando mais convidados. "Vamos nos aproximar de Gustavo." Isabela gelou ao ouvir aquele nome. Gustavo era o homem que Helena acreditava estar diretamente envolvido
com o sequestro de Clara, alguém perigoso e influente. Ele era uma peça central naquele jogo, e qualquer informação sobre ele poderia ser crucial. Finalmente avistaram Gustavo perto de uma mesa no canto do salão, conversando com alguns homens de aparência séria. Ele era um homem alto, com cabelos grisalhos bem cortados e uma postura imponente. Seu rosto mostrava uma confiança arrogante, como se estivesse sempre no controle de tudo ao seu redor. Quando ele se aproximou, sorriu levemente, mas havia algo frio em seus olhos. "Helena," disse Gustavo, com uma voz profunda e calma, apertando a mão dela. "Sempre
um prazer te ver em eventos como este." "O prazer é todo meu," respondeu Helena, mantendo sua expressão neutra. "Gostaria que você conhecesse minha nova assistente, Isabela." Isabela forçou um sorriso e apertou a mão de Gustavo, sentindo um calafrio na espinha ao encarar o homem. Ele olhou para ela com curiosidade, mas logo desviou a atenção, voltando à conversa com Helena. Enquanto os dois trocavam algumas palavras sobre assuntos banais, negócios, eventos sociais e caridade, Isabela ficou em silêncio, mas prestando atenção em cada detalhe ao redor. Sabia que aquele era um momento crucial; tudo o que acontecia ali
poderia ser uma pista, algo que revelasse o paradeiro de Clara ou os próximos passos daquele grupo. Conforme a noite avançava, Gustavo e seus colegas se afastaram para uma área mais reservada do salão. Helena cutucou levemente Isabela com o cotovelo. "Agora é com você," disse, com um tom sério. "Vá até onde eles estão, finja estar servindo algo ou apenas passando. Mas ouça o que puder." Isabela hesitou por um segundo, mas logo assentiu. Esse era o momento de mostrar a Helena que ela podia confiar nela. Respirou fundo, pegou uma taça de champanhe de uma mesa próxima e
caminhou lentamente em direção ao grupo, tentando parecer o mais discreta possível. Os homens conversavam em um tom baixo, mas, conforme Isabela se aproximava, pôde ouvir algumas palavras soltas. "Precisamos terminar o acordo até o final do mês, e o tempo está correndo," disse Gustavo, sua voz mais grave do que antes. "Eles estão ficando impacientes, e você sabe o que isso significa." Isabela fingiu ajeitar sua taça, se aproximando um pouco mais. Um dos outros homens, que parecia ser um dos cúmplices de Gustavo, respondeu: "E quanto à filha dela? A garota. Ainda temos algum controle sobre isso?" Gustavo
riu, mas foi um riso curto e sem humor. "Ela ainda está onde deveria estar. Mas se Helena continuar insistindo, não teremos escolha a não ser tomar as coisas de um jeito que ela não vai gostar." O coração de Isabela disparou. Sabia que estavam falando de Clara. Era a primeira confirmação concreta de que ela ainda estava viva, mas também que seu tempo estava se esgotando. Com o máximo de cuidado, Isabela recuou lentamente, tentando não parecer que havia escutado mais do que deveria. Quando finalmente voltou ao lado de Helena, sua mente estava girando com o que havia
acabado de ouvir. "Você conseguiu ouvir algo?" perguntou Helena discretamente. Isabela olhou para ela, tentando controlar o pânico que começava a crescer. "Eles ainda estão com ela. Clara está viva, mas não por muito tempo se não agirmos." Rápido, Helena apertou levemente o braço de Isabela, um gesto de agradecimento silencioso, mas a expressão no rosto da mulher mostrava que ela já sabia que o caminho à frente seria ainda mais perigoso do que imaginavam. A partir daquele momento, Isabela sabia que não havia mais volta; o primeiro passo havia sido dado, mas o perigo apenas começava. Enquanto Isabela e
Helena deixavam a festa naquela noite, o silêncio entre elas era tão pesado quanto as informações que Isabela havia acabado de obter. O trajeto de volta ao esconderijo temporário de Helena foi feito sem trocarem muitas palavras. Isabela ainda estava absorvendo tudo que havia escutado de Gustavo, e a confirmação de que Clara estava viva trazia uma sensação mista de alívio e urgência. Sabia que agora, mais do que nunca, precisariam ser rápidas e precisas em seus próximos passos. Helena, por sua vez, parecia estar se preparando mentalmente para a tempestade que estava por vir. Ela mantinha uma expressão dura
e focada, mas Isabela podia perceber a dor por trás daquele rosto impassível. Mesmo com todo o seu controle, Helena não conseguia esconder completamente o desespero de uma mãe que sabe que sua filha corre perigo. Assim que chegaram ao apartamento, Helena se serviu de um copo de água e, sem perder tempo, se virou para Isabela, o rosto novamente endurecido. — Conte-me tudo, com detalhes. Isabela respirou fundo, recapitulando mentalmente o que ouvira na festa. — Eles mencionaram Clara — começou um dos homens —, perguntou a Gustavo sobre ela, se ainda estava sob controle. Gustavo disse que ela
estava onde deveria estar, mas também falou que, se você continuasse tentando encontrá-la, não teriam escolha a não ser finalizar as coisas de um jeito que você não iria gostar. Em ponto. Helena fechou os olhos por um segundo, a tensão em seu rosto se aprofundando. — Então eles estão ficando sem paciência. Sabia que isso aconteceria. Esse grupo não tolera ameaças por muito tempo, mas agora temos uma confirmação: Clara está viva. A última frase foi dita com um misto de alívio e dor. Helena sabia que o fato de Clara estar viva não significava que estivesse a salvo.
— Helena — disse Isabela, hesitante —, se eles estão falando em finalizarem as coisas, isso significa que temos pouco tempo. O que faremos agora? Helena abriu os olhos, parecendo ter voltado ao presente, e seu rosto era de pura determinação. — Agora sabemos que Clara ainda está viva. Mas isso significa que o tempo está contra nós; não podemos nos dar ao luxo de hesitar. Isabela sentiu um nó se formar no estômago; sabia que o próximo passo seria muito mais perigoso do que qualquer coisa que já haviam feito. — Você tem alguma ideia de onde eles possam
estar mantendo Clara? Helena balançou a cabeça, pensativa. — Não exatamente, mas tenho algumas pistas. Gustavo e o grupo com quem ele está envolvido costumam usar locais fora dos olhares do público. Temos que ser cuidadosas; a próxima reunião desse grupo acontecerá em breve e é onde podem revelar mais. Eles sempre trocam informações em eventos assim. — Outra festa? — Isabela perguntou, sentindo o peso daquela ideia. A última havia sido exaustiva, mas ela sabia que não havia outra escolha. — Sim — confirmou Helena —, mas essa será mais discreta, um círculo menor. Eles vão se reunir em
uma casa que pertence a um dos associados de Gustavo. Se conseguirmos infiltrar você de novo, talvez possamos descobrir mais. Isabela assentiu, embora estivesse nervosa. A ideia de ir a outro evento como aquele, cercada por criminosos perigosos, a deixava com medo, mas ao mesmo tempo sentia que agora estava comprometida demais para recuar. Ela já havia dado o primeiro passo e não podia parar agora. No dia seguinte, Isabela passou o dia tentando se preparar mentalmente para o que viria. O relógio parecia correr mais rápido e ela sabia que cada minuto que passava era um minuto a menos
para Clara. Helena também estava mais tensa do que nunca, organizando suas próprias anotações, conferindo os detalhes e tentando descobrir quem estaria na próxima reunião. Finalmente, a noite chegou. Dessa vez, o evento não era em um local grandioso como a festa anterior, mas em uma casa luxuosa e isolada na parte alta da cidade. O caminho até lá foi silencioso, com Isabela e Helena trocando poucas palavras, focadas no que estava por vir. Quando chegaram, a casa parecia mais uma fortaleza, cercada por altos muros e guardas discretamente posicionados, mas suficientemente ameaçadores. Assim como na festa anterior, Isabela entrou
com Helena, mantendo-se em segundo plano e tentando ao máximo não chamar atenção. O clima dentro da casa era diferente do que havia sentido na festa de caridade: havia menos pessoas e a conversa era mais contida. Os convidados pareciam se conhecer bem, o que tornava o ambiente ainda mais perigoso para Isabela. Ela não era uma intrusa em meio à multidão agora; qualquer movimento errado poderia ser percebido. Helena caminhou pelo salão, cumprimentando algumas pessoas, enquanto Isabela a seguia de perto. — Fique atenta — sussurrou Helena. — Essas pessoas falam pouco, mas o que dizem é importante. Eles
sabem que o cerco está fechando, então qualquer deslize pode nos dar uma vantagem. Isabela se posicionou discretamente perto de um pequeno grupo de homens que discutiam em voz baixa. A conversa era superficial a princípio; falavam sobre negócios e política, mas conforme o álcool fluía e os sorrisos relaxavam, o tom começou a mudar. Gustavo estava no centro de uma dessas conversas. Isabela logo percebeu que ele estava mais cauteloso naquela noite, mas ainda assim algo escapou. — Precisamos concluir essa questão em breve — disse ele a um dos homens ao seu lado. — Helena está mais próxima
do que pensamos. Se ela descobrir o local... — Bom, então teremos que resolver tudo de uma vez — o homem ao lado de Gustavo, um sujeito de meia-idade com um olhar frio, fez um gesto de desprezo. — Ela não vai encontrar nada; o lugar onde mantemos a garota é à prova de curiosos. Até lá, vamos fazer o que for necessário. Precisamos garantir que tudo saia conforme o planejado. Isabela sentiu o sangue gelar; o lugar onde estava escondida parecia ser algo muito bem planejado, mas o que Gustavo e o outro homem não sabiam era que ela
estava ouvindo tudo. Decidiu que precisava de mais informações. Mas e se Helena continuar pressionando? Você sabe como ela é, disse o homem ao lado de Gustavo. Gustavo riu levemente, mas havia frieza em seu riso: se ela continuar, vamos forçar o fim, e quando isso acontecer, não haverá volta para ninguém. Aquilo era o bastante. Isabela sabia que tinha que sair dali com aquelas informações. Voltou para o lado de Helena, fingindo que nada havia acontecido, mas seu coração estava acelerado. — Temos que sair — sussurrou para Helena. — Eles vão agir em breve. Se você pressionar, Clara
está escondida e eles estão confiantes de que o lugar é seguro, mas eles estão prontos para acabar com tudo se sentirem que estão sendo expostos. Helena sentiu um frio na barriga, disfarçando enquanto olhava ao redor, buscando uma desculpa para saírem sem chamar atenção. — Vamos sair agora, antes que algo mais aconteça. As duas se retiraram da casa o mais discretamente possível, sem levantar suspeitas. O caminho de volta foi silencioso, mas dessa vez havia uma tensão diferente no ar: a sensação de que estavam mais perto de descobrir a verdade, mas também perto do perigo. Quando chegaram
ao esconderijo de Helena, ela se virou para Isabela, os olhos brilhando de determinação e medo. — Agora temos uma pista. Sabemos que Clara está em algum lugar seguro, longe dos olhares comuns, mas precisamos descobrir onde e rápido, antes que eles decidam agir. Isabela concordou, sabendo que os próximos dias seriam cruciais. Clara estava viva, mas o tempo estava correndo. O primeiro passo havia sido dado, mas a verdadeira batalha ainda estava por vir. Depois da reunião na casa de Gustavo, Isabela sentia-se cada vez mais imersa no mundo de segredos e perigos que ela e Helena haviam decidido
enfrentar. A confirmação de que Clara estava viva, porém escondida em um lugar seguro e inacessível, fazia o tempo parecer ainda mais curto e o perigo ainda mais iminente. A cada nova pista, o cerco se fechava; era como se estivessem correndo contra um relógio invisível, cujos ponteiros poderiam parar a qualquer momento, encerrando todas as chances de resgatar Clara. Os dias seguintes foram intensos. Helena estava mais determinada do que nunca, vasculhando cada contato, revisando suas anotações e usando todas as suas conexões para tentar descobrir algo sobre o tal local seguro mencionado por Gustavo. Mas, mesmo com toda
sua experiência, parecia que o grupo criminoso estava sempre um passo à frente, escondendo habilmente qualquer rastro que pudesse levar a Clara. Isabela, por sua vez, se dividia entre as investigações com Helena e sua própria vida, continuando a viver na periferia, tentando parecer a mesma garota de antes. Mas nada mais era igual. Seu coração estava constantemente agitado, e a tensão a acompanhava como uma sombra, dia e noite. O peso do segredo que ela carregava — o sequestro de Clara, as mentiras, os perigos — fazia com que tudo ao redor parecesse mais cinza e distante. Mas em
uma manhã tranquila, enquanto caminhava pelas ruas em direção a um pequeno café onde costumava ir para se concentrar, algo estranho aconteceu: Isabela percebeu que estava sendo seguida. Não foi algo que ela notou imediatamente, mas uma sensação incômoda de que alguém a observava começou a crescer. Tentou ignorar, achando que era apenas fruto do nervosismo que vinha sentindo ultimamente. No entanto, ao virar uma esquina e olhar discretamente por sobre o ombro, viu um homem desconhecido caminhando a alguns metros de distância, aparentemente sem pressa, mas claramente seguindo seus passos. Isabela acelerou o ritmo, o coração disparado. Não podia
ter certeza se estava sendo paranoica ou se, de fato, o homem era uma ameaça, mas depois de tudo o que havia vivido, ela não podia arriscar. Decidiu tomar uma rota alternativa, cortando por algumas ruas estreitas na tentativa de despistá-lo. Na nova esquina, olhava para trás, esperando não vê-lo mais. No entanto, o homem ainda estava lá, mantendo uma distância segura, mas claramente focado nela. Finalmente, Isabela não aguentou mais. Virou em um beco deserto e, com a respiração pesada, encostou na parede, esperando o desconhecido aparecer. Seu corpo estava tenso, pronta para correr ou, de alguma forma, enfrentar
o que viesse. E então, ele apareceu: um homem alto, de meia idade, vestindo um terno escuro. Seus passos eram calmos, mas seus olhos estavam fixos nela. — O que você quer? — Isabela perguntou, a voz saindo mais firme do que esperava. Ela não sabia se ele era um dos homens de Gustavo, alguém do grupo ou apenas um estranho qualquer, mas seu instinto lhe dizia para estar alerta. O homem parou a alguns metros de distância e levantou as mãos, como se quisesse mostrar que não representava uma ameaça imediata. — Não quero te assustar, Isabela — disse
ele, com uma voz grave, mas calma. — Estou aqui para te ajudar. As palavras do homem só deixaram Isabela mais desconfiada. Como ele sabia o nome dela? — Ajudar? Quem é você? — perguntou, sem baixar a guarda. O homem deu um passo à frente, mantendo a calma. — Meu nome é Eduardo. Eu conheço Helena. Trabalhei com ela e, no passado, ela me pediu para manter um olho em você, para garantir que esté segura. Isabela franziu a testa, sentindo a desconfiança crescer. — Se você a conhece, por que ela não me falou sobre você? Eduardo deu
um leve sorriso, como se já estivesse esperando essa pergunta. — Porque eu sou parte do passado dela que ela prefere esquecer. Mas, quando se trata da segurança de alguém que ela confia, Helena sabe que precisa de aliados. E agora você se tornou importante para ela. Isabela não sabia se acreditava nele. Tudo o que aprendera nos últimos dias ensinara-a a desconfiar de qualquer pessoa que se aproximasse repentinamente com boas intenções, mas havia algo nos olhos de Eduardo — uma sinceridade fria, quase cansada — que a fez hesitar. carregasse um fardo muito pesado, ainda assim, ela não
podia baixar a guarda. "Por que você estava me seguindo?" "Eu precisava me certificar de que ninguém mais estava." Respondeu ele sem hesitar. "Você e Helena estão se metendo com pessoas perigosas, Isabela, e elas são boas em detectar qualquer fraqueza, qualquer movimento errado. Eu estou aqui para garantir que você não cometa erros que possam te custar caro." Erros. Isabela sentiu a raiva crescer. "Eu não pedi para estar nessa situação." Eduardo assentiu lentamente, sem demonstrar surpresa. "Eu sei, e isso só torna as coisas mais perigosas. Quanto mais envolvida você estiver, mais difícil será sair disso, e por
isso estou aqui para ajudar a guiá-la, se você permitir." Isabela ainda não sabia se confiava nele, mas algo dentro dela estava começando a ceder. Se ele realmente conhecia Helena, talvez houvesse alguma verdade no que dizia. De qualquer forma, não tinha muitas opções. "Como exatamente você vai me ajudar?" Eduardo relaxou um pouco, percebendo que Isabela estava disposta a ouvir. "Sei que estão atrás de Clara. Sei que ela ainda está viva e que o tempo está acabando. O que você não sabe é que esse grupo com quem estão lidando tem ramificações muito maiores do que Helena te
contou. Eles não são apenas um bando de criminosos comuns; eles têm conexões com o submundo do poder: política, negócios, tudo. E a razão pela qual Clara foi sequestrada não é apenas para atingir Helena." Isabela sentiu um arrepio percorrer sua espinha. "Como assim?" "O que você está dizendo?" "Clara é uma peça em um jogo muito maior," respondeu Eduardo, sério. "Essas pessoas estão envolvidas em algo que vai além de qualquer disputa pessoal com Helena. O sequestro dela faz parte de um plano maior, e você está no meio disso agora." As palavras de Eduardo começaram a se encaixar
em tudo que Isabela já havia ouvido nas conversas de Gustavo e seus cúmplices. "O que eles querem de verdade?" "Controle," disse Eduardo, sua voz firme. "Eles querem o controle que Helena tem, as informações que ela reuniu ao longo dos anos. Eles querem impedir que isso venha à tona, e Clara é a garantia de que Helena ficará em silêncio." Isabela ficou em choque. Helena já havia mencionado que estava tentando destruir o grupo, mas não fazia ideia de que o plano deles era tão elaborado ou que Clara estava no centro de tudo de maneira tão estratégica. "E
como eu posso ajudar nisso?" "Você já está ajudando," respondeu Eduardo. "Cada passo que você deu até agora te colocou mais perto de descobrir a verdade, mas agora as coisas vão ficar mais perigosas. Eles sabem que Helena está investigando e, a essa altura, devem desconfiar de você também." O coração de Isabela acelerou. "Então o que eu faço agora?" "Continue como está," disse ele. "Siga Helena, ouça, aprenda. Mas, acima de tudo, tome cuidado. O próximo movimento que fizer pode definir tudo." Eduardo então deu um passo para trás, como se soubesse que o tempo da conversa havia acabado.
"Se precisar de mim, eu estarei por perto. Não se esqueça disso." Antes que Isabela pudesse responder ou fazer mais perguntas, Eduardo virou-se e desapareceu na esquina do beco, deixando-a sozinha com seus pensamentos. Ela ficou parada por alguns minutos, tentando processar tudo que acabara de ouvir. A cada novo passo, o que parecia ser apenas o resgate de uma jovem se tornava algo muito mais perigoso, muito mais complicado. Voltar para Helena com aquelas novas informações seria o próximo passo, mas, no fundo, Isabela sabia que estava cada vez mais próxima de algo grandioso, algo que poderia mudar tudo:
para melhor ou para pior. Com a mente cheia de novas preocupações, Isabela voltou para o caminho que percorria, já não mais a mesma garota que começara aquela jornada. Quando Isabela chegou ao esconderijo de Helena, a cabeça ainda girava com as informações que Eduardo lhe dera. Ela havia decidido que não contaria imediatamente sobre o encontro com o homem misterioso, pelo menos não até entender melhor qual era o verdadeiro papel de Eduardo nessa história. Se ele era confiável, Helena teria mencionado algo antes, ou seria uma peça oculta que ela havia mantido em segredo por razões desconhecidas. De
qualquer forma, Isabela sabia que precisava se concentrar no que importava e encontrar Clara antes que fosse tarde demais. Helena estava na sala quando Isabela entrou. Seu semblante estava sério, como de costume, mas havia um cansaço visível em seus olhos. Desde que a filha fora sequestrada, ela parecia nunca realmente descansar, mesmo quando tentava manter o controle. Isabela podia ver que a preocupação constante com o paradeiro de Clara estava consumindo-a por dentro. "Como foi o café?" Helena perguntou, com uma leve curiosidade, enquanto organizava alguns documentos em cima da mesa. Para Isabela, a pergunta parecia inofensiva, mas a
jovem ainda estava nervosa tentando esconder o fato de que havia sido seguida por Eduardo e tido uma conversa tão reveladora. "Tranquilo," Isabela respondeu, tentando parecer natural. "Nada fora do comum." Ela se sentiu culpada por mentir, mas ainda não sabia se poderia confiar em Eduardo completamente ou se Helena sabia da existência dele. Helena sentiu-se distraída. "Eu passei o dia investigando mais sobre Gustavo e os homens com quem ele anda. Parece que eles estão ficando mais cautelosos. Nossas últimas investidas os fizeram recuar um pouco, mas isso significa que eles podem estar preparando algo maior. Precisamos agir rápido."
Isabela sentiu o peso dessas palavras. Gustavo e seus cúmplices sabiam que estavam sendo investigados, e isso os tornava ainda mais perigosos. Sabendo que Clara era um trunfo nas mãos deles, cada movimento delas poderia provocar uma reação imprevisível. A situação era uma corda bamba onde qualquer deslize podia ser fatal. "Você conseguiu mais alguma informação sobre onde eles poderiam estar mantendo Clara?" Isabela perguntou, tentando mudar o foco para a questão principal. Helena olhou para ela, e o brilho de determinação nos olhos da milionária ficou. — Mas é evidente sim — disse ela, voltando à mesa e pegando
um dos documentos que havia espalhado. Aquela conversa que você ouviu na festa sobre um lugar seguro onde estão mantendo Clara me deu uma ideia. Não é o tipo de informação que eles deixariam escapar sem estar confiantes de que é impossível de ser descoberta. Então comecei a pensar em locais que eles controlam, mas que não chamariam muita atenção. Achei que seria algo muito óbvio; eu estava errada. Isabela se aproximou, curiosa, enquanto Helena abria um mapa da cidade, destacando uma área fora do centro. — Aqui — disse Helena, apontando para um ponto que ficava longe das áreas
movimentadas. — Essa propriedade pertence a um dos homens de Gustavo, um sítio afastado no limite da cidade. É um lugar que raramente é visitado, mas que nos últimos meses começou a receber algumas movimentações estranhas. Eu não tinha ligado os pontos até agora, mas acho que encontramos o lugar onde estão mantendo Clara. O coração de Isabela acelerou. Finalmente, uma pista concreta, mas com a descoberta veio o medo. Se realmente fosse o local onde Clara estava sendo mantida, significava que estavam mais perto de um confronto direto com Gustavo e seu grupo. — Você tem certeza? — perguntou
Isabela, tentando processar o que aquilo significava. Helena assentiu. — Ainda não podemos ter 100% de certeza, mas todos os sinais apontam para esse lugar. O local é isolado, discreto, e sob controle deles. Faz sentido que seja onde estão mantendo Clara. — Então, o que faremos? — Isabela perguntou, sentindo a adrenalina aumentar. A ideia de resgatar Clara parecia mais real do que nunca, mas também mais perigosa. Helena olhou diretamente para Isabela, seu rosto duro, mais determinado. — Vamos ter que ir até lá. Não temos outra escolha. Se esse é o lugar, precisamos descobrir o que está
acontecendo lá dentro. A ideia de invadir uma propriedade controlada por criminosos parecia absurda, mas Isabela sabia que, nesse ponto, não havia mais espaço para hesitações. Clara estava em perigo e elas não podiam mais esperar por outra pista. — Quando vamos? — perguntou, tentando manter a voz firme. — Hoje à noite — respondeu Helena, de forma direta. — Quanto mais rápido agirmos, mais chances temos de pegar eles de surpresa. Gustavo ainda está tentando manter as aparências, o que significa que eles podem estar vulneráveis. Mas precisamos ser cautelosas. Isabela sentiu o peso da decisão. Em poucas horas
estariam enfrentando a situação mais perigosa de suas vidas. Ela sabia que, dali em diante, qualquer erro poderia custar não apenas a vida de Clara, mas também a delas. A tarde passou de forma tensa e silenciosa. Helena preparava os últimos detalhes, enquanto Isabela tentava se concentrar na missão, mas sua mente não parava de voltar à conversa com Eduardo. Ele havia mencionado algo sobre o grupo estar envolvido em um jogo maior, algo que ia além de Clara. E se isso fosse verdade? O que realmente estaria acontecendo nos bastidores? Quando a noite finalmente chegou, Isabela se vestiu de
forma discreta, como Helena havia instruído. Elas precisariam entrar sem serem vistas, e qualquer deslize poderia chamar a atenção das pessoas erradas. Helena, que sempre parecia impecável, também havia trocado o look por roupas práticas, preparadas para uma noite que poderia exigir mais do que apenas descrição. — Estamos prontas? — perguntou Helena ao sair do quarto. Isabela sentiu, mesmo que por dentro a ansiedade ainda a consumisse. Elas deixaram o apartamento em silêncio, sem deixar vestígios de onde iam ou o que fariam. O trajeto até o sítio foi feito em um carro alugado por Helena, que preferiu evitar
qualquer conexão com seus bens pessoais. O caminho era deserto e a escuridão da noite só aumentava a sensação de isolamento. Ao chegar perto da propriedade, Helena estacionou o carro em uma pequena trilha de terra, longe da entrada principal. Elas precisavam evitar serem vistas pelos guardas, que com certeza estavam vigiando o lugar. Conforme avançavam, Isabela sentiu a atenção aumentar. O sítio era grande, com uma casa principal e algumas construções menores espalhadas pela propriedade; tudo parecia calmo demais, mas elas sabiam que isso não significava que estavam seguras. — Precisamos encontrar uma forma de entrar — sussurrou Helena,
enquanto caminhavam silenciosamente pela vegetação ao redor do terreno. — Se estivermos certas, Clara pode estar em uma dessas construções menores. Vamos nos concentrar nelas. Isabela olhou ao redor, seus sentidos à flor da pele. Cada ruído parecia amplificado pela noite silenciosa, e a escuridão tornava tudo ainda mais ameaçador. A qualquer momento, poderiam ser descobertas. Enquanto se aproximavam de uma das construções, Helena parou de repente, fazendo um sinal para Isabela se abaixar. Ao longe, um guarda passava com uma lanterna, inspecionando a área. Elas esperaram em silêncio, o coração de Isabela disparado, até que o homem desaparecesse na
escuridão. — Agora — sussurrou Helena. Elas avançaram rapidamente em direção à pequena construção de madeira, uma espécie de depósito. O silêncio era tenso. Isabela podia sentir cada batida do próprio coração enquanto se esgueiravam para dentro do prédio. O que elas encontrariam ali? Ao abrir a porta com cuidado, Helena e Isabela entraram na pequena sala mal iluminada. O que viram as deixou em choque. Clara não estava ali, mas algo muito pior estava. Havia papéis espalhados por toda parte: documentos, fotos, mapas; tudo apontava para uma rede de corrupção muito maior do que Isabela e Helena imaginavam. Aquele
lugar não era apenas um esconderijo para Clara; era o centro de operações de algo muito mais perigoso, algo que envolvia figuras poderosas da cidade. Ia muito além de um simples sequestro. Helena olhou para os papéis, horrorizada. — Meu Deus, eles estavam planejando isso há muito mais tempo do que eu pensava. Isabela não sabia o que pensar. Aquilo que descobririam mudaria tudo. O que antes era uma busca desesperada por Clara, agora se tornava algo muito maior. O que Isabela e Helena encontraram dentro daquele depósito abalou ambas profundamente. A pequena construção de madeira, que parecia ser apenas
uma das várias partes do sítio, guardava um segredo muito mais obscuro do que elas poderiam imaginar. Haviam imaginado. Os papéis espalhados pelo chão revelavam uma teia complexa de corrupção, chantagem e manipulação, vendo figuras poderosas da cidade, algumas das quais Helena conhecia bem. O silêncio que tomou conta das duas era carregado de tensão e incredulidade. Enquanto Helena pegava um dos documentos com mãos trêmulas, seus olhos varreram as páginas cheias de nomes, datas e transações financeiras. Ela não podia acreditar no que estava vendo; era uma prova concreta de que o grupo criminoso estava muito mais enraizado no
sistema do que pensava. "Isso é muito maior do que eu imaginava," disse Helena, a voz entrecortada pela surpresa e pela raiva. "Eles estão comprando políticos, juízes, empresários, todos envolvidos em um esquema que pode destruir qualquer um que se coloque no caminho deles." Isabela, que tentava entender a gravidade do que estava diante delas, olhou ao redor. Ela já sabia que as pessoas que sequestraram Clara eram perigosas, mas nunca havia pensado que o alcance de suas ações fosse amplo. "Essas pessoas controlam tudo," murmurou, sentindo o peso daquela revelação. "Sim," respondeu Helena, com um suspiro profundo. "Eles não
se contentam em apenas intimidar ou controlar pessoas individualmente. Eles controlam instituições inteiras e fazem isso de forma silenciosa, invisível para a maioria das pessoas." Enquanto Helena continuava a examinar os documentos, Isabela se aproximou de uma mesa no fundo da sala, onde havia um mapa detalhado da cidade. Havia vários círculos em vermelho, marcando diferentes locais, todos relacionados às operações do grupo. Mas, entre esses círculos, um em particular chamou sua atenção: um armazém abandonado na periferia da cidade, perto de onde Isabela morava. "O que é isso?" ela perguntou, puxando o mapa para perto de Helena. "Esse lugar
está marcado e parece que é importante." Helena olhou o local destacado no mapa e franziu a testa. "Eu conheço esse lugar. É um armazém que foi fechado há anos. Não fazia parte das minhas investigações, mas se está marcado aqui, então deve ser importante para eles." Isabela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. "Será que Clara está lá?" Helena parou por um momento, processando a ideia. "Pode ser. Faz sentido. Eles estariam usando esse lugar isolado para mantê-la longe de tudo. E se for isso, precisamos agir rápido." Mas, antes que pudessem traçar um plano de ação, algo inesperado
aconteceu. De repente, o silêncio da noite foi quebrado pelo som de passos do lado de fora da construção. Isabela e Helena congelaram. Alguém estava se aproximando, e pela forma como os passos ecoavam no chão de terra, não parecia ser apenas um guarda fazendo a ronda. Elas se entreolharam, o pânico surgindo. "Não havia muito tempo para pensar. Precisamos sair daqui agora," sussurrou Helena, tentando manter a calma. Isabela olhou ao redor, procurando uma saída. A porta por onde entraram não era uma opção, então silenciosamente começou a procurar uma janela ou algum outro lugar por onde pudessem escapar.
Mas, antes que pudessem fazer qualquer movimento, a porta da construção foi aberta com um estrondo. Dois homens altos e fortes, vestidos com roupas escuras, entraram com lanternas em mãos. Eles varreram o interior da sala com os feixes de luz, e seus olhos se fixaram imediatamente em Isabela e Helena. "Então é aqui que vocês estavam escondidas," disse um dos homens, sua voz carregada de desprezo. Helena deu um passo à frente, tentando manter a postura. "Não sei quem vocês são, mas garanto que estão cometendo um grande erro." Os homens riram, claramente sem se importar com as palavras
de Helena. "O único erro aqui foi você achar que poderia nos desafiar," respondeu o segundo homem. "Acha mesmo que poderia invadir uma de nossas propriedades sem que soubéssemos? Vocês caíram exatamente na armadilha que preparamos." Isabela sentiu o sangue gelar. Aquilo era uma armadilha. Eles sabiam que Helena estava investigando e que ela acabaria chegando até aquele lugar. Toda aquela estrutura de documentos e provas estava ali para atraí-las, para fazê-las acreditar que estavam próximas de algo maior, e agora, estavam presas. "Vocês acham que vão sair daqui?" disse o primeiro homem, avançando em direção a elas. "A noite
vai acabar bem diferente do que vocês esperam." Isabela olhou desesperadamente para Helena, buscando uma solução, mas antes que pudesse pensar em qualquer coisa, o som de pneus cantando no asfalto ecoou do lado de fora. As luzes dos faróis iluminaram a entrada do depósito, e o motor de um carro parou bruscamente em frente à construção. Os homens se viraram, confusos, e nesse momento, a porta foi aberta com violência. Para surpresa de Isabela, Eduardo apareceu, a expressão séria e determinada. "Eu disse que ficaria de olho," disse ele, com uma frieza impressionante. Antes que os homens pudessem reagir,
Eduardo avançou contra um deles com uma força surpreendente, derrubando o guarda no chão. O outro tentou atacar Eduardo, mas ele foi mais rápido, acertando um golpe preciso no homem que caiu de joelhos. Helena e Isabela ficaram paralisadas por um momento, sem acreditar no que estava acontecendo. "Eduardo é claramente mais habilidoso do que havíamos imaginado. Vamos, temos que sair agora!" Eduardo gritou, gesticulando para que ambas corressem em direção à saída. Isabela e Helena não hesitaram e correram para fora da construção, o coração disparado e a adrenalina pulsando em suas veias. Assim que saíram do sítio, Eduardo
as guiou até o carro que havia trazido. "Entrem," ordenou, sem perder tempo. "Precisamos sair daqui antes que chamem reforços." Sem pensar duas vezes, Isabela e Helena entraram no carro. Eduardo deu partida rapidamente, e eles saíram em alta velocidade pela estrada de terra, deixando o sítio para trás. A tensão no carro era palpável, mas o alívio de terem escapado começou a se instalar. Enquanto Eduardo dirigia, Helena finalmente quebrou o silêncio. "Você me seguiu todo esse tempo?" Eduardo, sem tirar os olhos da estrada, respondeu de forma firme: "Eu disse que estaria por perto, Helena. Vocês estavam prestes
a cair em uma armadilha perigosa. Eu tinha que agir." Para Helena, esperando alguma reação, Helena, por sua vez, parecia exausta, mas aliviada. "Obrigada," Eduardo disse ela, baixinho, algo que surpreendeu Isabela; parecia que, afinal, Helena confiava em Eduardo mais do que havia deixado transparecer. "Temos pouco tempo," disse Eduardo. "Agora sabemos que eles estão um passo à frente, mas também sabemos de algo importante: aquele armazém que você encontrou no mapa é lá que eles estão mantendo Clara." Isabela sentiu o estômago revirar. "Então está confirmado. Precisamos ir até lá." Eduardo assentiu. "Sim, mas teremos que ser muito mais
cuidadosos desta vez. Agora eles sabem que estamos nos aproximando; eles não vão hesitar em reagir." Enquanto o carro avançava na escuridão da noite, o grupo sabia que estava prestes a enfrentar o momento mais perigoso de suas vidas. A missão de resgatar Clara estava mais próxima, mas o preço a pagar poderia ser alto demais. O tempo estava se esgotando e qualquer movimento errado poderia ser fatal. Depois da dramática fuga do sítio, o silêncio no carro de Eduardo era espesso e cheio de tensão. A adrenalina ainda corria pelo corpo de Isabela e sua mente estava acelerada com
a avalanche de eventos que haviam se desenrolado tão rapidamente. Eles haviam se aproximado demais da verdade, ao mesmo tempo em que caíram em uma armadilha. Agora sabiam que Clara estava em um local específico, mas o perigo se tornava ainda maior. Quando finalmente chegaram a um local seguro, uma pequena casa fora do centro da cidade, Helena, Eduardo e Isabela saíram rapidamente do carro. As luzes da casa estavam apagadas e a escuridão ao redor parecia oferecer uma proteção temporária. Eduardo entrou primeiro, verificando se estava tudo em ordem, enquanto Helena e Isabela o seguiam em silêncio. Assim que
a porta se fechou atrás delas, o cansaço finalmente começou a pesar sobre Isabela. A adrenalina que a mantinha alerta começou a ceder, deixando um cansaço profundo em seu corpo, mas ela sabia que não poderia descansar, não com Clara ainda em perigo. "Precisamos pensar em um plano," disse Eduardo, enquanto acendia uma pequena luminária sobre a mesa. Ele se sentou em uma cadeira de madeira e olhou para as duas mulheres à sua frente. "O que vimos lá atrás confirma que eles estão mais organizados e preparados do que imaginávamos, mas agora temos a vantagem de saber onde Clara
está." Helena, que ainda estava processando tudo, finalmente se sentou ao lado de Isabela. "Eles armaram uma armadilha para nós," disse ela, com a voz baixa, mas carregada de frustração. "Eu deveria ter percebido. Fomos cegas ao achar que estávamos perto do fim. Gustavo e seus homens estão sempre um passo à frente." "Você não poderia saber," disse Eduardo, tentando acalmá-la. "Esse grupo é muito bom em se manter nas sombras. Mas agora eles sabem que estamos chegando perto; isso nos dá uma oportunidade. Eles estarão nervosos." Isabela, ainda processando tudo, finalmente falou: "Eduardo, você disse que Clara está no
armazém que vimos no mapa, mas como podemos ter certeza? Pode ser outra armadilha." Eduardo assentiu, compreendendo a preocupação de Isabela. "É verdade, não podemos confiar apenas nas evidências superficiais, mas meu contato no grupo confirmou movimentações recentes naquele local. Eles estão reforçando a segurança; isso só pode significar uma coisa: ela está lá. Eles estão ficando cada vez mais preocupados." Helena respirou fundo, como se tentasse organizar seus pensamentos em meio ao caos. "Se Clara está lá, precisamos tirá-la de lá o mais rápido possível, mas isso precisa ser feito com cuidado. Se invadirmos o lugar sem um plano,
podemos colocar a vida dela em risco." Eduardo concordou: "Exato, eles não hesitarão em fazer algo com ela se perceberem que estão prestes a perder o controle da situação. Precisamos ser precisos e rápidos." Isabela, que até aquele momento se sentia como uma mera espectadora em meio àquele jogo perigoso, sabia que agora, mais do que nunca, teria um papel ativo. Ela já havia se envolvido demais para recuar e agora estava disposta a fazer o que fosse necessário para salvar Clara. "O que precisamos fazer, então?" Eduardo se levantou e começou a explicar o plano que vinha elaborando. "Precisamos
ser estratégicos; não podemos simplesmente entrar de uma vez. Vamos usar o fator surpresa a nosso favor. O armazém tem uma entrada principal e uma secundária, usada para movimentação de mercadorias. Se fizermos Gustavo e os homens dele acreditarem que estamos indo pela entrada principal, poderemos entrar pela secundária e surpreendê-los." Helena, ouvindo atentamente, assentiu. "Isso pode funcionar, mas como faremos eles acreditarem que estamos vindo pela entrada principal?" Eduardo olhou diretamente para Isabela. "Você vai ser a isca." Isabela arregalou os olhos, surpresa. "Eu?" "Sim," disse Eduardo com firmeza. "Eles não sabem que você está diretamente envolvida; vão subestimar
você. Se você aparecer na entrada principal pedindo para conversar com Gustavo, eles vão se concentrar em você, enquanto eu e Helena entramos pela lateral. Uma vez lá dentro, encontraremos Clara e tiraremos vocês de lá." Isabela hesitou por um momento. A ideia de se colocar diretamente na linha de fogo a apavorava, mas, ao mesmo tempo, sabia que Eduardo estava certo. "E se eles não acreditarem? E se me reconhecerem como alguém do grupo de Helena?" Eduardo deu de ombros, com um olhar sério. "Eles podem até desconfiar, mas não vão agir imediatamente. Gustavo é cauteloso e ele vai
querer entender o que você está fazendo lá. Isso nos dará o tempo que precisamos." Helena olhou para Isabela, seu rosto expressando preocupação. "Você não precisa fazer isso, Isabela; podemos pensar em outra coisa." Mas Isabela já havia tomado sua decisão. Ela sabia que, para Clara ser resgatada, precisaria correr riscos. "Eu vou fazer," disse, com mais confiança do que sentia. "Se isso nos der uma chance de salvar Clara, eu faço." Eduardo assentiu, satisfeito com a decisão de Isabela. "Ótimo! Precisamos agir hoje à noite; quanto mais esperarmos, mais perigoso se torna." O plano estava traçado, mas todos sabiam
que a execução seria arriscada. Enquanto se preparavam para a missão, a atmosfera na pequena casa parecia tensa. carregar o peso das consequências que qualquer erro poderia trazer naquela noite sob o manto escuro do céu, eles se aproximaram do Armazém. O local estava iluminado apenas pelas luzes das câmeras de segurança e o silêncio ao redor tornava o ambiente ainda mais tenso. Eduardo estacionou o carro a uma distância segura e eles se dividiram conforme o plano. Isabela, com o coração acelerado, respirou fundo antes de começar a caminhar em direção à entrada principal do Armazém. Ela estava sozinha
agora; cada passo parecia mais pesado que o anterior, mas ela manteve a cabeça erguida, sabendo que se demonstrasse medo, tudo poderia ir por água abaixo. Quando chegou à entrada, dois homens guardavam a porta. Eles a olharam com desconfiança, mas Isabela não vacilou. "Estou aqui para falar com Gustavo," disse ela, tentando manter a voz firme. "Diga a ele que é sobre Helena. Ele vai querer ouvir." Os homens trocaram olhares, claramente desconfiados, mas um deles pegou o rádio e informou alguém do lado de dentro. Isabela tentava parecer tranquila, mas por dentro o medo crescia a cada segundo.
Enquanto isso, Eduardo e Helena se esgueiravam pela lateral do Armazém, movendo-se silenciosamente em direção à entrada secundária. Eles sabiam que o sucesso dependia de Isabela manter a atenção dos guardas e de Gustavo, tempo suficiente para que pudessem entrar. Finalmente, o homem que estava com o rádio olhou para Isabela. "Gustavo disse que você pode entrar." Ela sentiu e seguiu o guarda para dentro do Armazém, tentando controlar a ansiedade. Seu coração batia tão rápido que ela podia ouvir cada batida nos ouvidos. Quando entrou no grande espaço vazio e mal iluminado, viu Gustavo ao longe, sentado à frente
de uma mesa improvisada. "Então," disse ele com um sorriso frio, "você tem algo para me dizer sobre Helena?" Isabela caminhou em sua direção, mantendo a calma. "Sim, eu tenho. Mas antes, preciso saber de Clara." O sorriso de Gustavo desapareceu, substituído por uma expressão de desconfiança. "Clara? E o que você tem a ver com isso?" "Eu só quero garantir que ela esteja viva," disse Isabela, tentando ganhar tempo enquanto Helena e Eduardo se infiltravam. "Certo, então se me der uma prova de que ela está bem, eu posso ajudar." Gustavo se levantou, caminhando lentamente em direção a Isabela.
"Você acha que pode barganhar comigo, menina?" Antes que ele pudesse continuar, o som de um barulho metálico ecoou pelo armazém. Os olhos de Gustavo se estreitaram. "O que está acontecendo?" Isabela soube que seu tempo havia acabado; ela tinha que agir rápido. "Não é o que você pensa, Gustavo. Eu só estou aqui para ajudar." Mas já era tarde demais. Gustavo acenou para os guardas, que começaram a se mover rapidamente, percebendo que algo estava errado. Do outro lado do Armazém, Eduardo e Helena haviam conseguido abrir a porta lateral e entrado. Eles se moviam rapidamente, tentando encontrar Clara,
enquanto os guardas começavam a perceber que estavam sendo enganados. Isabela, vendo que o plano estava desmoronando, decidiu agir. "Você quer saber onde Helena está?" Ela disse a Gustavo, tentando distraí-lo mais um pouco. "Ela está mais perto do que você imagina." Antes que Gustavo pudesse reagir, o som de uma porta sendo arrombada encheu o armazém. Eduardo e Helena haviam encontrado Clara. Quando Eduardo e Helena arrombaram a porta no fundo do Armazém, o ar estava carregado de tensão. Eles entraram rapidamente em um pequeno quarto escuro, suas respirações pesadas preenchendo o ambiente. Havia uma cama simples e ali,
amarrada a uma cadeira, estava Clara; seu rosto estava pálido, os olhos fundos e assustados, mas vivos. Ela olhou para os dois com uma mistura de alívio e confusão, tentando processar o que estava acontecendo. "Mãe!" ela murmurou, a voz fraca, enquanto Helena trabalhava freneticamente para libertá-la. Eduardo ficou de guarda na porta, ouvindo atentamente os sons vindos do Armazém. Eles não tinham muito tempo antes que Gustavo e seus homens percebessem o que estava acontecendo. "Precisamos ser rápidos," disse ele em um tom baixo e urgente. "Eles vão descobrir que estamos aqui a qualquer momento." Isabela, do outro lado,
ainda estava de frente para Gustavo, tentando manter a situação sob controle. O ar entre eles parecia cada vez mais pesado e ela sabia que o tempo estava acabando. Gustavo já estava desconfiado, os olhos estreitados e cheios de raiva. "O que você realmente está fazendo aqui?" ele perguntou, a voz mais baixa, mas carregada de ameaça. Isabela tentou manter a calma. "Estou aqui para resolver as coisas pacificamente. Se você liberar Clara, talvez Helena faça o que você quer." O sorriso cruel de Gustavo voltou. "Você realmente acha que tem algum poder sobre o que vai acontecer aqui? Eu
já sei que vocês estão me enganando." O estômago de Isabela revirou; ele havia percebido. Ela olhou rapidamente ao redor, procurando uma saída ou uma forma de ganhar mais tempo, mas não havia mais como enganar Gustavo. Ele fez um sinal discreto com a cabeça para um dos guardas. Isabela viu o homem começar a caminhar em sua direção. Antes que pudesse pensar no que fazer, o barulho de passos rápidos e vozes ecoou pelo Armazém; os guardas finalmente perceberam que algo estava acontecendo. Isabela sabia que tinha que agir, e rápido. Sem pensar, ela se jogou para o lado,
derrubando uma pilha de caixas que estavam ao seu alcance, criando uma distração momentânea. Os guardas hesitaram por um segundo, o que foi o suficiente para Isabela correr em direção à saída. Enquanto ela corria, ouviu a voz de Gustavo atrás dela, gritando ordens: "Peguem aquela garota! Ela está com eles!" Isabela correu com todas as suas forças, o coração batendo tão forte que parecia explodir em... Se eu peito, ela precisava voltar para Helena e Eduardo antes que fosse tarde demais. No fundo do armazém, Eduardo ajudava Helena a levantar Clara. Mesmo enfraquecida, Clara tentava se mover o mais
rápido possível, sabendo que sua vida dependia disso. "Conseguimos", disse Helena, com um misto de alívio e desespero. "Agora precisamos sair daqui." Mas antes que pudessem dar o próximo passo, ouviram os gritos vindos da entrada do armazém. Os guardas estavam se aproximando e o som das botas ecoava nas paredes de metal do local. Eduardo olhou para Helena, a expressão grave. "Eles estão vindo. Vamos precisar lutar para sair daqui." Helena assentiu, mantendo Clara firme ao seu lado. "Faremos o que for preciso." Nesse momento, Isabela apareceu correndo, ofegante, mas aliviada ao ver que Clara estava salva. "Eles estão
atrás de mim", disse ela entre respirações. "Precisamos sair agora!" Eduardo, percebendo que não havia mais tempo para um plano elaborado, olhou para as duas. "Vamos nos dividir. Eu vou tentar segurar eles aqui por tempo suficiente para vocês escaparem." "Não!", Helena protestou, sua voz firme. "Nós saímos juntos." "Não temos escolha", disse Eduardo, a voz séria. "Se tentarmos sair juntos, seremos cercados. Eu sou o único que pode segurá-los por tempo suficiente. Vocês precisam tirar Clara daqui." Isabela olhou para Eduardo, sentindo uma mistura de gratidão e medo. Ele estava disposto a se sacrificar para garantir que elas escapassem.
"Tem certeza disso?", ela perguntou, a voz trêmula. Eduardo assentiu com um olhar determinado. "Sim, agora vão. Eu os encontro do lado de fora." Sem mais tempo para hesitações, Helena e Isabela começaram a guiar Clara em direção à saída lateral do armazém, enquanto Eduardo ficava para trás, se posicionando para enfrentar os homens de Gustavo. A tensão era quase insuportável. Enquanto elas se moviam em silêncio, cada passo calculado para não atrair atenção, quando finalmente chegaram à porta lateral, o ar frio da noite as atingiu como um soco. Isabela se virou para ajudar Clara enquanto Helena verificava o
caminho à frente, mas antes que pudessem avançar muito, o som de tiros ecoou dentro do armazém. Helena parou de repente, o corpo rígido, Eduardo com os olhos arregalados de medo. Isabela puxou Helena pelo braço, tentando manter o foco. "Precisamos continuar. Ele está nos dando tempo. Se voltarmos agora, tudo terá sido em vão." Helena hesitou por um segundo, mas sabia que Isabela estava certa. Elas não podiam parar. Então, com Clara entre elas, as duas correram pela escuridão, seus corações batendo freneticamente enquanto se afastavam do armazém. O som dos tiros ficava mais distante a cada passo, mas
o medo continuava a persegui-las. Quando finalmente chegaram a um local seguro, escondidas em uma pequena mata ao lado de uma estrada deserta, Helena caiu de joelhos, ofegante. "Eduardo", repetiu, sua voz agora cheia de desespero. Isabela se ajoelhou ao lado dela, tentando recuperar o fôlego. "Ele sabia que era a única forma. Ele fez isso por nós." Clara, ainda fraca, se inclinou contra uma árvore, a cabeça baixa. "Mais viva", ela murmurou, como se tentasse convencer-se a si mesma. "Ele tem que ficar bem." A noite parecia envolvê-las em um manto de silêncio e incerteza. Elas haviam conseguido salvar
Clara, mas a um custo alto demais. Eduardo havia ficado para trás, e não havia como saber o que tinha acontecido com ele. Enquanto Helena tentava processar tudo, Isabela sabia que aquele era apenas o começo de uma nova batalha. Gustavo e seu grupo ainda estavam em jogo, e com Clara salva, as coisas só ficariam mais perigosas. O som de sirenes ao longe ecoou na noite. A polícia estava finalmente chegando, mas será que seria suficiente para enfrentar o poder e a influência de Gustavo? O resgate de Clara havia sido bem-sucedido, mas a verdadeira luta estava apenas começando.
O resgate de Clara havia sido realizado com sucesso, mas a sensação de alívio foi rapidamente substituída por uma inquietação sufocante. Na pequena clareira onde Helena, Isabela e Clara se esconderam após a fuga do armazém, o clima era opressor. A verdade era que, mesmo com Clara salva, elas estavam longe de estarem fora de perigo. O sacrifício de Eduardo ainda pairava sobre elas, e a incerteza quanto ao destino dele só piorava a ansiedade crescente. Helena permanecia em silêncio, sentada no chão com as mãos entrelaçadas, o olhar fixo no vazio. A filha, finalmente ao seu lado, estava viva,
mas debilitada e abalada pelo tempo em cativeiro. A angústia de não saber o que tinha acontecido com Eduardo era palpável. Isabela sentia-se igualmente tomada por essa preocupação. "Ele vai ficar bem", disse Clara, mais para si mesma do que para as outras. Sua voz era fraca, mas cheia de uma esperança desesperada. "Eduardo é forte. Ele vai dar um jeito." Helena olhou para a filha, os olhos marejados. "Eu espero que sim, meu amor. Mas não podemos esperar mais por ele. Precisamos agir antes que Gustavo descubra para onde fomos. Se Eduardo conseguiu segurá-los, é nossa chance de desaparecer."
Isabela, mesmo exausta e emocionalmente desgastada, sabia que Helena estava certa. Estavam em fuga, e a qualquer momento, Gustavo e seus homens poderiam rastreá-los. Clara estava a salvo, mas isso não significava que o pesadelo havia acabado. Elas ainda estavam nas garras de um inimigo poderoso e implacável, e o próximo movimento seria decisivo. "Precisamos de um plano rápido", disse Isabela, olhando para as duas mulheres à sua frente. "Gustavo vai usar todos os recursos dele para nos encontrar, e agora que sabemos o que descobrimos, ele não vai descansar até nos silenciar." Helena suspirou, tentando organizar seus pensamentos em
meio ao caos. "Eu ainda tenho contatos que podem nos ajudar, pessoas que Gustavo não conseguiu corromper, mas precisaremos de provas concretas. Se conseguirmos reunir todos os documentos e informações que vimos no depósito, poderemos derrubá-los de uma vez." Isabela olhou para Helena, surpresa. "Quer dizer que precisamos voltar lá?" Helena sentiu que sim. Uma determinação sombria nos olhos, se voltarmos agora, quando eles ainda estiverem desorganizados, talvez tenhamos uma chance. Se conseguirmos pegar os documentos antes que Gustavo apague todas as provas, podemos expor a verdade. Clara, ainda fraca, olhou para a mãe preocupada: “Mãe, isso é muito perigoso!
Nós mal escapamos de lá, e se eles estiverem esperando por nós?” Helena se aproximou da filha, segurando suas mãos com ternura. “Eu sei, meu amor, mas precisamos fazer isso. Não é só sobre salvar você; é sobre garantir que Gustavo e esse grupo não machuquem mais ninguém. Se não fizermos nada, eles continuarão operando impunemente, manipulando tudo e todos, e a próxima vítima pode não ter a mesma sorte que você.” Isabela entendeu o peso da decisão. Elas não podiam fugir e simplesmente esperar que tudo se resolvesse. O que haviam encontrado no armazém—os documentos, os mapas, as provas
de corrupção—era a chave para derrubar o grupo de Gustavo de uma vez por todas, mas retornar significava arriscar tudo novamente, inclusive suas vidas. Enquanto a discussão acontecia, o som distante de motores ecoou no ar, fazendo com que todas ficassem alertas. “Eles estão nos procurando,” murmurou Isabela, o coração disparado. “Precisamos nos mover!” Helena se levantou rapidamente, ajudando Clara a ficar de pé. “Vamos nos afastar daqui e encontrar um lugar seguro. Depois, voltaremos ao armazém.” Horas mais tarde, após uma fuga rápida pela cidade, elas encontraram abrigo temporário em um pequeno hotel afastado, o tipo de lugar onde
ninguém fazia perguntas. Helena contatou discretamente um de seus aliados de confiança, alguém que poderia fornecer cobertura quando elas retornassem ao armazém. Enquanto aguardavam, o silêncio entre elas era pesado. Clara descansava em uma das camas, o rosto ainda pálido, mas finalmente relaxado após dias de terror. Helena estava ao telefone organizando os detalhes finais. Isabela, no entanto, não conseguia parar de pensar em Eduardo. “Será que ele havia sobrevivido àquele confronto?” Pouco depois, Helena desligou o telefone e voltou sua atenção para Isabela. “Meu contato está a caminho. Ele vai garantir que tenhamos cobertura enquanto recuperamos os documentos. Isso
pode nos dar uma vantagem.” “Quanto tempo temos?” perguntou Isabela, ainda nervosa. “Algumas horas,” respondeu Helena. “Precisamos nos preparar. Gustavo pode estar reorganizando suas forças, mas não terá tempo de apagar todas as provas.” Com o plano traçado, elas passaram as próximas horas se preparando mentalmente para a última parte da missão. Estavam cansadas emocionalmente, esgotadas, mas sabiam que essa era a única chance de acabar com aquele pesadelo. Quando finalmente voltaram ao armazém, o ambiente parecia diferente. A noite estava ainda mais escura e o ar parecia carregado de eletricidade. O medo e a adrenalina voltaram a pulsar em
suas veias. Helena estacionou o carro a uma distância segura e as três caminharam cautelosamente até a entrada lateral do armazém. Eduardo não estava lá para guiá-las dessa vez, e a ausência dele era como uma sombra que pairava sobre elas. Mesmo assim, Helena e Isabela sabiam exatamente o que precisavam fazer. “Vamos entrar, pegar os documentos e sair o mais rápido possível,” sussurrou Helena enquanto se aproximavam da porta. “Fiquem alertas para qualquer movimento.” Elas entraram no armazém pela mesma porta lateral que haviam usado anteriormente. O interior estava vazio e silencioso, mas havia sinais de que os homens
de Gustavo haviam passado por ali. Algumas caixas estavam reviradas e a mesa onde os documentos estavam havia sido desorganizada. Isabela se moveu rapidamente em direção à mesa e começou a procurar as provas que haviam visto antes. “Eles mexeram em tudo, mas acho que ainda podemos encontrar algo.” Helena se juntou a ela, vasculhando os papéis que restavam. Depois de alguns minutos tensos, ela encontrou o que parecia ser uma pasta importante, cheia de documentos comprometedores. “Isso é o suficiente,” disse Helena, os olhos brilhando com a excitação de finalmente estar perto de derrubar Gustavo. “Se conseguirmos entregar isso
à pessoa certa, podemos acabar com eles de uma vez por todas.” Mas antes que pudessem sair, um barulho de passos ecoou pelo armazém. O pânico tomou conta de todas elas, e Helena fez sinal para que ficassem em silêncio. “Alguém está vindo,” sussurrou Isabela, com os olhos arregalados de medo. Elas se esconderam rapidamente atrás de uma pilha de caixas, enquanto os passos ficavam cada vez mais próximos. O coração de Isabela estava disparado e ela podia sentir o suor frio nas mãos. Será que tinham sido descobertas? Quando os passos finalmente se aproximaram, uma figura familiar apareceu na
penumbra. Era Eduardo. Ele estava machucado, com um corte na testa e uma expressão de cansaço. “Mais vivo!” Eduardo exclamou Helena em um sussurro aliviado, correndo até ele. Ele sorriu, mesmo em meio à dor. “Eu disse que encontraria vocês.” Isabela mal podia acreditar: Eduardo havia conseguido sobreviver ao confronto e estava ali, pronto para ajudar. Mas, mesmo com a alegria do reencontro, a missão ainda não havia acabado. “Precisamos sair daqui agora,” disse ele, olhando para a pasta que Helena segurava. “Gustavo está com reforços a caminho. Se não sairmos rápido, estaremos encurralados.” Sem mais ações, o grupo deixou
o armazém o mais rápido que puderam, com Eduardo liderando o caminho. O medo ainda estava presente, mas a esperança de finalmente derrubar Gustavo e expor toda a verdade as impulsionava. Quando saíram para o ar frio da noite, o som distante de sirenes começou a ecoar. A polícia estava a caminho, e as provas que Helena carregava poderiam mudar tudo. Mas Gustavo não era o tipo de homem que se rendia facilmente; ele viria atrás delas com tudo o que tinha, e a batalha final ainda estava por vir. Com os documentos em mãos, Isabela, Helena, Clara e Eduardo
correram pelas ruas desertas até o carro. A noite parecia mais escura, e o som distante das sirenes ecoava, misturado ao pulsar acelerado de seus corações. Elas haviam escapado do armazém com as provas, mas todos sabiam que o próximo passo seria ainda mais perigoso; Gustavo não desistiria facilmente, e agora que sabiam... Demais, suas vidas estavam em risco mais do que nunca. Eduardo, ainda ofegante e visivelmente machucado, entrou no carro com as mulheres e deu partida. A atenção dentro do veículo era palpável. Helena estava ao lado de Clara, apertando a mão da filha como se quisesse garantir
que ela ainda estava ali, a salvo. Isabela, sentada no banco da frente, sentia o cansaço pesar sobre seus ombros, mas sabia que não podia relaxar. Não, ainda. — Onde vamos agora? — perguntou Isabela, tentando controlar o nervosismo que aumentava a cada segundo. — Tem um lugar seguro onde podemos passar a noite e planejar nossos próximos passos — respondeu Eduardo, sem tirar os olhos da estrada. — Mas isso não vai nos manter escondidos por muito tempo. Gustavo vai nos caçar. Então precisamos agir rapidamente — disse Helena, com voz decidida. — Temos as provas, agora só precisamos
garantir que cheguem às pessoas certas antes que Gustavo faça qualquer coisa. — Você tem alguém em mente? — perguntou Isabela, olhando para Helena, que assentiu. — Sim, tenho contatos no governo, gente que não foi corrompida por Gustavo e seu grupo. Se conseguirmos entregar esses documentos a eles, podemos derrubar toda a organização, mas não podemos confiar em qualquer um. Precisamos ser cuidadosos. Enquanto Helena falava, Isabela percebeu que estavam cada vez mais perto da verdade, mas, ao mesmo tempo, a sombra do perigo parecia mais próxima. Gustavo tinha recursos, poder e, sem dúvida, influências em todas as esferas
da sociedade. Se ele descobrisse o que elas estavam prestes a fazer, poderia agir antes que conseguissem entregar as provas. Depois de quase uma hora dirigindo, Eduardo finalmente parou em uma pequena casa escondida em uma área rural, longe da cidade. Era uma construção simples, cercada por árvores, o tipo de lugar onde ninguém pensaria em procurar. Eles desceram rapidamente do carro e entraram na casa, trancando a porta atrás de si. — Este lugar pertence a um velho amigo — disse Eduardo, enquanto se acomodavam. — É seguro por enquanto. Podemos passar a noite aqui, planejar o que fazer
amanhã. Clara, ainda visivelmente abalada, sentou-se no sofá, os olhos cheios de exaustão. — Não acredito que isso está finalmente acabando — murmurou ela, como se ainda não conseguisse processar tudo o que havia acontecido. — Ainda não acabou, mas estamos quase lá, querida. Agora que estamos juntas, vamos conseguir sair dessa — disse Helena. Isabela observava aquela cena com uma mistura de alívio e preocupação. Elas estavam seguras por enquanto, mas sabiam que a batalha final ainda estava por vir. Gustavo não ficaria parado, esperando ser derrotado. Ele atacaria com força total, e elas precisavam estar preparadas. — Precisamos
enviar as provas amanhã de manhã — disse Helena, voltando sua atenção para Eduardo e Isabela. — Vou ligar para o meu contato e agendar um encontro. Se conseguirmos entregar os documentos a ele, Gustavo não terá mais como nos parar. Eduardo assentiu, mas havia uma preocupação em seu olhar. — Tem certeza que podemos confiar nesse contato? Gustavo tem espiões em todos os lugares. Se ele descobrir que estamos prestes a expor tudo, pode tentar destruir as provas antes que elas cheguem ao destino. — Posso confiar nesse homem — afirmou Helena. — Ele já me ajudou antes e
sei que não está envolvido com Gustavo. Mas precisamos ser rápidos. Enquanto o plano era discutido, Isabela começou a sentir uma inquietação crescente, algo estava incomodando-a: uma sensação estranha de que as coisas estavam se movendo rápido demais. Por mais que tivessem as provas e um plano, o risco era enorme, e qualquer erro poderia custar caro. De repente, o som de pneus no cascalho do lado de fora interrompeu seus pensamentos. Todos congelaram, os olhos se voltando imediatamente para Eduardo, que já estava de pé e em alerta. — Quem é? — sussurrou Helena, a voz cheia de tensão.
Eduardo caminhou lentamente até a janela e espiou por entre as cortinas. Quando ele viu quem estava lá fora, seu rosto endureceu. — Temos um problema. Antes que pudessem perguntar mais, a porta foi aberta com força, e dois homens armados invadiram a casa. Isabela reconheceu imediatamente um deles: era um dos capangas de Gustavo, o mesmo que ela havia visto no armazém. — Achamos vocês! — disse o homem, com um sorriso cruel, apontando a arma para eles. — Vocês realmente achavam que podiam fugir? Eduardo tentou reagir, mas os homens foram rápidos. Em segundos, Helena, Isabela, Clara e
Eduardo estavam cercados. O coração de Isabela disparou. Como eles tinham os encontrado? Estavam tão perto de expor Gustavo, e agora tudo parecia desmoronar. — Vamos acabar logo com isso — disse o homem, avançando com a arma em direção a Helena. — Gustavo manda lembranças. O desespero tomou conta de Isabela; eles estavam à beira de perder tudo. Mas então, algo inesperado aconteceu: o som de sirenes ecoou ao longe e luzes vermelhas e azuis iluminaram a casa pela janela. A polícia estava chegando. Os homens de Gustavo se entreolharam nervosos. — Droga! Precisamos sair daqui — gritou um
deles, puxando o outro em direção à porta. A polícia chegou antes do previsto. Sem perder tempo, os capangas correram para fora da casa, deixando Helena, Clara, Isabela e Eduardo atordoados, mais vivos. O alívio foi instantâneo, mas o choque de quase terem sido capturados ainda pairava no ar. Em questão de minutos, a casa estava cercada por policiais, e um oficial entrou para verificar se todos estavam bem. Helena, tremendo de alívio, segurou Clara e Isabela perto de si. — Nós conseguimos, por pouco. Eduardo, ainda se recuperando do ataque, olhou para Helena com seriedade. — Gustavo está ficando
desesperado. Ele sabia que estávamos aqui. Isso significa que ele está monitorando cada movimento nosso. Helena assentiu, a expressão sombria. — Mas agora ele cometeu um erro. Se a polícia o seguir, podemos expor toda a organização. Amanhã entregamos as provas e garantimos que a verdade venha à tona. Isabela, aliviada por terem escapado por um triz, sabia que o próximo dia seria decisivo. A batalha ainda não havia acabado, mas, pela primeira vez, ela sentia que o fim estava próximo: um fim. que poderia trazer justiça, mas que ainda carregava perigos desconhecidos. Com a madrugada se aproximando, todos sabiam
que a noite seguinte seria diferente. O plano final estava prestes a ser executado e, com ele, viria a última chance de derrubar Gustavo e acabar com todo o esquema sombrio que ele havia construído. Mas a pergunta que ecoava na mente de todos era: até onde Gustavo iria para proteger seus segredos? O sol da manhã iluminava a pequena casa onde Helena, Isabela, Clara e Eduardo haviam passado a noite anterior após o ataque dos homens de Gustavo. O que restava da tensão da noite ainda pairava no ar, mas agora eles estavam a um passo do momento mais
importante de toda a jornada: entregar as provas às autoridades, expor Gustavo e toda a sua rede de corrupção. O cansaço estava evidente nos rostos de todos, mas havia uma sensação crescente de esperança, uma faísca de vitória no horizonte. Helena, sempre focada e determinada, estava ao telefone organizando o encontro com seu contato de confiança no governo. Clara descansava no sofá, ainda se recuperando fisicamente e emocionalmente de tudo o que havia passado. Eduardo, apesar de ferido, estava concentrado em garantir que tudo estivesse em ordem para o próximo passo. Isabela, por outro lado, se sentia estranhamente distante. Enquanto
os outros estavam imersos na missão de derrubar Gustavo, algo dentro de Isabela começava a incomodá-la. Desde que tudo havia começado, desde aquele dia em que roubara a bolsa de Helena, ela sentia que algo mais estava por vir, algo que ainda não havia sido revelado. Era como se cada passo a estivesse levando não apenas a ajudar a salvar Clara, mas a descobrir algo muito maior, algo sobre si mesma. Quando Helena desligou o telefone e se aproximou de Isabela, ela notou a inquietação no rosto da jovem. — Está tudo bem, Isabela? Você parece distante. Isabela tentou sorrir,
mas não conseguiu esconder a confusão em seus olhos. — Eu estou bem, só pensando em tudo que aconteceu, em como minha vida mudou desde o momento em que peguei sua bolsa. Helena olhou para ela com um misto de compreensão e curiosidade. — Acredite, minha vida também mudou desde aquele dia. Nunca imaginei que o roubo da minha bolsa nos traria até aqui. Ela fez uma pausa, como se ponderasse antes de continuar. — Mas eu sinto que há algo mais, não é? Algo que você não está dizendo. Isabela suspirou, sentindo o peso das palavras que estava prestes
a dizer. Ela sabia que aquele era o momento de abrir o que vinha guardando desde que tudo isso começou. — Eu venho sentindo que há mais nessa história do que apenas o resgate de Clara; algo que me envolve diretamente. E, depois que encontramos aqueles documentos no depósito, uma sensação estranha não sai da minha cabeça. Helena franziu a testa, inclinando-se ligeiramente para frente. — O que você quer dizer com isso, Isabela? Isabela respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. — Quando estávamos no depósito, vi algo entre os papéis que me chamou a atenção: um nome. Um nome
que eu conheço, mas que nunca pensei que estaria ligado a isso. O interesse de Helena se intensificou. — Qual o nome? — Meu nome — respondeu Isabela, com a voz hesitante — mas não apenas o meu. O nome de meus pais. Eu vi menções a um antigo acordo, um documento que falava de uma família que devia favores ao grupo de Gustavo. Isso me atingiu de uma forma estranha. Minha família sempre foi muito humilde, sempre lutou para sobreviver, mas agora quero saber se havia algo mais por trás das dificuldades que enfrentamos. Helena ficou em silêncio por
um momento, processando as palavras de Isabela. — Você acha que sua família esteve envolvida com Gustavo de alguma forma? Isabela assentiu lentamente, lutando para entender o que aquilo significava. — Eu não sei. Meus pais nunca falaram sobre isso e meu pai desapareceu quando eu era muito jovem. Minha mãe sempre foi reservada sobre o passado dele, mas agora começo a pensar que talvez ele estivesse envolvido em algo perigoso, algo que o fez desaparecer. Helena sentiu um arrepio percorrer sua espinha; aquilo mudava muita coisa. — Você acha que Gustavo ou alguém de seu grupo esteve envolvido no
desaparecimento do seu pai? Isabela não sabia como responder. Era uma hipótese terrível, mas que a cada minuto parecia mais plausível. — Eu não tenho certeza, mas tudo parece conectado agora, como se a razão pela qual eu me envolvi em tudo isso não fosse apenas um acaso. E se o destino da minha família estivesse ligado ao de Clara? — Ao seu? — Eduardo, que havia se aproximado ao ouvir parte da conversa, olhou para Isabela com um olhar atento. — Isso faz sentido. Gustavo opera há muito tempo nas sombras. Ele lida com muitas famílias: algumas em dívidas
com ele; outras que ele usa para manter seu poder. Se sua família estava envolvida com ele de alguma forma, isso pode explicar o desaparecimento do seu pai. Isabela sentiu o mundo girar ao seu redor. Ela sempre acreditara que sua vida fora marcada apenas pela pobreza e pela luta diária para sobreviver; nunca imaginara que seu passado poderia estar entrelaçado com algo tão sombrio e perigoso. — Eu preciso saber a verdade — disse Isabela, com a voz determinada. — Preciso saber o que aconteceu com meu pai e se Gustavo ou seu grupo estiveram envolvidos. Isso significa que
a luta não é apenas por Clara; é por minha família também. Helena olhou para Isabela, compreendendo a profundidade daquela revelação. — Você merece saber a verdade, Isabela. E agora, mais do que nunca, precisamos enfrentar Gustavo, não apenas por Clara, mas por tudo que ele fez com tantas pessoas. Eduardo concordou. — Isso muda as coisas. Se Gustavo está diretamente ligado ao passado da sua família, Isabela, então estamos lidando com uma rede de mentiras e manipulação que vai muito além do que pensávamos. Precisamos nos preparar para o confronto final. Isabela sentiu um novo fogo crescer dentro de
si. Ela não era mais… Apenas uma garota que havia se envolvido acidentalmente em algo maior agora estava pessoalmente ligada a Gustavo, e isso mudava tudo. A busca por justiça e a vontade de salvar Clara se fundiam com o desejo de descobrir a verdade sobre seu pai e sua própria história. "Quando entregarmos esses documentos," disse Isabela, com uma nova determinação na voz, "quero que tudo venha à tona. Não quero apenas derrubar Gustavo, quero expor tudo o que ele fez, todos que ele machucou: minha família, sua família, todas as pessoas que ele manipulou ao longo dos anos."
Helena assentiu, sentindo a força renovada de Isabela. "E vamos fazer isso hoje. Entregamos as provas e damos o primeiro passo para acabar com Gustavo de uma vez por todas." A tarde chegou rapidamente, e o grupo se preparava para o encontro crucial com o contato de Helena. Eduardo verificava cada detalhe, garantindo que estivessem prontos para qualquer imprevisto. Isabela, agora ainda mais focada, sabia que aquele seria o momento decisivo. O encontro estava marcado em um café discreto no centro da cidade; eles chegariam em horários diferentes para não levantar suspeitas. Helena estava no, mas Isabela sabia que, no
fundo, estava enfrentando sua própria batalha pessoal. Ao entrar no café, o ambiente parecia calmo, quase banal, em contraste com o turbilhão de emoções que girava dentro de Isabela. Ela observou discretamente enquanto Helena e seu contato se sentavam a uma mesa no fundo. A pasta contendo os documentos estava sobre a mesa como uma bomba prestes a explodir. Enquanto o contato de Helena lia os papéis, observava as reações dele a cada página virada. O homem parecia mais surpreso e preocupado. "Isso é mais do que suficiente para abrir uma investigação oficial," disse ele, olhando para Helena com seriedade.
"Gustavo e seus homens não têm chance depois disso." Helena assentiu, visivelmente aliviada. "Então, o próximo passo é garantir que essas provas cheguem às autoridades certas. Não podemos dar a Gustavo a chance de escapar." O contato garantiu que tudo estava em andamento; as autoridades seriam acionadas e Gustavo seria finalmente exposto. A sensação de justiça estava próxima, mas Isabela sabia que ainda havia muito a ser descoberto: seu passado, a verdade sobre seu pai. Isso ainda estava envolto em mistério. Quando o encontro terminou e elas saíram do café, Isabela olhou para Helena, o coração ainda pesado com as
perguntas sem resposta. "Você acha que algum dia vou descobrir o que aconteceu com meu pai?" Helena colocou a mão no ombro de Isabela. "Se Gustavo está por trás disso, agora ele não poderá mais se esconder. Vamos descobrir a verdade, Isabela. Prometo que, assim como lutamos para salvar Clara, vamos lutar para descobrir o que aconteceu com sua família." Isabela assentiu, sentindo uma nova esperança crescer dentro de si. A batalha ainda não estava completamente vencida, mas agora ela sabia que, com Helena ao seu lado, enfrentaria o que fosse necessário para descobrir a verdade. A tensão no ar
era quase palpável enquanto Isabela, Helena, Clara e Eduardo aguardavam em um lugar seguro após o encontro no café. O contato de Helena havia levado os documentos para as autoridades, e a queda de Gustavo estava mais próxima do que nunca. Mas, ao mesmo tempo, o silêncio da espera deixava todos inquietos. Sabiam que Gustavo não deixaria tudo acontecer sem uma última cartada. Ele era um homem perigoso e tinha muitos recursos à sua disposição. Isabela sentia o peso de tudo aquilo em seus ombros. A missão de derrubar Gustavo, que antes era algo que ela encarava como uma luta
de Helena, agora tinha se tornado pessoal; o nome de seu pai aparecendo entre os documentos havia despertado perguntas que ela nunca se atrevera a fazer. Quem era seu pai de verdade? O que o conectava a Gustavo? E por que sua mãe nunca lhe contou sobre essa ligação? Helena, sempre estrategista, estava ao telefone, acompanhando cada movimento da operação. Clara, ainda se recuperando, observava tudo, claramente abalada por tudo que havia passado. Eduardo, como sempre, estava atento à segurança, certificando-se de que não fossem pegos de surpresa. Isabela, no entanto, sentia-se inquieta. Ela precisava de respostas e sabia que
havia apenas uma pessoa que poderia fornecê-las: sua mãe. Pegando o celular, hesitou por um momento antes de discar o número. Sua mãe atendeu na segunda chamada, a voz cansada, mas cheia de preocupação. "Isabela, está tudo bem? Você sumiu nos últimos dias. O que está acontecendo?" Isabela respirou fundo. "Mãe, preciso que você me diga a verdade sobre o papai. Eu descobri algo e agora preciso entender o que realmente aconteceu com ele." Houve um silêncio do outro lado da linha. Isabela podia sentir que sua mãe estava relutante, mas, depois de alguns segundos, ela finalmente falou: "Isabela, eu
nunca quis que você soubesse disso. Foi tudo doloroso. Eu pensei que, ao esconder a verdade, estaria protegendo você." Isabela sentiu seu coração apertar. "Mãe, eu preciso saber. Estou envolvida em algo muito maior agora, e a história do papai está no meio disso. Ele estava envolvido com Gustavo." Sua mãe soltou um suspiro pesado, como se estivesse carregando aquele fardo há muito tempo. "Seu pai... ele esteve envolvido com Gustavo. Mas não foi por escolha dele. Gustavo manipulou-o, usou-o para seus próprios fins. Seu pai foi forçado a fazer coisas das quais se arrependeu profundamente. Quando ele percebeu que
não havia mais saída, que Gustavo destruiria... Ele desapareceu." "Eu nunca soube para onde ele foi, só que ele fez isso para nos proteger." As palavras atingiram Isabela como um soco no estômago; seu pai, aquele homem de quem ela guardava poucas memórias, havia se sacrificado para mantê-las a salvo. "Então ele fugiu de Gustavo?" "Sim," confirmou sua mãe, a voz cheia de tristeza. "Ele me disse que essa era a única maneira de garantir que você teria uma vida melhor, longe da influência de Gustavo. Ele desapareceu para proteger você, mas eu sempre temi que Gustavo tivesse encontrado..." Isabela
sentiu. As lágrimas em seus olhos, tudo aquilo fazia sentido agora: a ausência do pai, a luta constante da mãe para mantê-las seguras. Gustavo estava por trás de tudo. — Mãe, eu vou derrubar Gustavo! Vamos expor tudo o que ele fez por você, pelo papai e por mim. Sua mãe ficou em silêncio por alguns segundos e, quando falou novamente, sua voz estava mais firme: — Eu confio em você, minha filha, mas por favor, tenha cuidado. Gustavo é perigoso. Ele destruiu tantas vidas, inclusive a nossa. Não quero que você seja a próxima. Isabela respirou fundo, tentando acalmar
as emoções que fervilhavam dentro dela. — Eu prometo, mãe, eu vou fazer isso da forma certa. Desligando o telefone, Isabela se virou para Helena, que observava de longe. — Precisamos nos preparar. Gustavo vai tentar agir antes que as provas cheguem às mãos certas. Não podemos baixar a guarda. Horas depois, enquanto a noite caía sobre a cidade, o movimento começou. O contato de Helena ligou, confirmando que Gustavo já estava sendo investigado pelas autoridades, mas que ele não iria esperar passivamente. Gustavo havia desaparecido e seus capangas estavam agindo de forma desesperada, tentando encobrir os rastros que restavam.
Mas já era tarde demais; as provas eram sólidas e o cerco estava se fechando. Mas a sensação de inquietação não deixava Isabela em paz; algo dentro dela dizia que Gustavo ainda tinha uma última jogada, uma última tentativa de escapar. E ela estava certa. Naquela mesma noite, o telefone de Helena tocou. Quando ela atendeu, sua expressão mudou imediatamente. — É ele — disse ela, olhando para Isabela e Eduardo. — É Gustavo. Eduardo franziu a testa. — Ele está se sentindo encurralado. Deve estar tentando negociar. Helena colocou o telefone no viva-voz, permitindo que todos ouvissem a voz
de Gustavo do outro lado da linha. Estava calma, mas cheia de veneno. — Helena, achei que seríamos mais civilizados que isso. Eu esperava mais de você, sinceramente. Helena não se abalou. — Você está acabado, Gustavo! As provas já estão nas mãos das autoridades. Não há mais para onde correr. Houve um silêncio do outro lado, seguido de uma risada baixa. — Acabado? Você realmente acredita nisso? Eu sobrevivi a coisas muito piores. Você acha que essas provas vão ser suficientes para me parar? Você não faz ideia de quantas pessoas ainda estão do meu lado. Isabela sentiu o
sangue gelar. Gustavo ainda tinha aliados. — Você perdeu, Gustavo! Seus dias de manipulação e violência acabaram. — Ah, Isabela — disse Gustavo, sua voz se suavizando —, você não deveria estar envolvida nisso. Seu pai... Um silêncio do outro lado da linha e então Gustavo respondeu, sua voz mais fria: — Veremos, Isabela. Veremos. A ligação foi encerrada e o silêncio que se seguiu era carregado de tensão. — Ele está se preparando para a fuga — disse Eduardo. — Sabia que isso aconteceria. Ele vai tentar escapar do país. Helena assentiu. — Mas não vamos deixar que isso
aconteça. O plano final foi montado rapidamente. As autoridades estavam em movimento e Gustavo estava sendo rastreado. A noite estava caótica, mas todos sabiam que estavam perto de fechar esse capítulo sombrio. Cada minuto que passava parecia uma eternidade até que, finalmente, a notícia chegou: Gustavo havia sido encontrado e preso enquanto tentava fugir para o exterior. Quando a notícia foi confirmada, um sentimento de alívio percorreu o grupo. Helena abraçou Clara, que finalmente estava segura. Eduardo, com um sorriso cansado, se recostou contra a parede, enquanto Isabela olhava para o horizonte, sentindo um misto de emoções. Gustavo havia sido
derrotado, sua rede de corrupção exposta. As provas que Helena, Isabela e Eduardo haviam reunido seriam suficientes para derrubar todo o esquema criminoso. Mas, para Isabela, a batalha era apenas sobre Justiça. Era pessoal; o nome de seu pai finalmente estaria limpo e sua mãe poderia viver sem medo. Isabela se aproximou de Helena, que a observava com um olhar suave. — Nós conseguimos — disse Helena, com gratidão nos olhos. — Sim — respondeu Isabela, com um pequeno sorriso. — Agora podemos seguir em frente. O passado de Isabela, antes cheio de segredos, agora estava esclarecido. A busca por
Justiça havia terminado e o futuro, pela primeira vez, parecia cheio de possibilidades. E assim, com a verdade revelada e as sombras do passado dissipadas, Isabela finalmente encontrou paz e a esperança de um novo começo.