O capitalismo precisa ser racista - PODCAST Não Ficção

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Atila Iamarino
Link: https://creators.insiderstore.com.br/ATILA Cupom: ATILA #insiderstore Uma conversa sobre a o...
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[Música] Por que que a gente vive Como vive no Brasil por que que a gente ganha o que ganha aqui por que a nossa condição de vida é a que é porque que a gente estuda o que estuda o que que teve que dar certo na educação brasileira para ela dar tão errada e qual é o buraco que a gente precisa entender para poder explicar tanta coisa no Brasil isso é o racismo que é um assunto que toca tanta coisa mas tanta coisa no país que a gente precisava ter uma conversa aqui sobre como ele
estrutura o Brasil e a nossa história moderna e como o presente ressoa demais com o passado e com uma técnica muito Brasileira de mudar tudo para nada mudar mas parecer que mudou para ter uma conversa dessa tão complexa e que toca em tantos pontos da nossa história aqui no não ficção onde a gente traz ciência do dia a dia com especialistas a gente tem que ter a especialista que é a inae Lopes dos Santo que é historiadora formada pela USP professora de história da Universidade Federal Fluminense a uf colonista da deut velho Brasil e é
especialista em história da escravidão e história das Relações raciais nas Américas ela é autora de livros como aenda Senzala arranjos escravos e moradia no Rio de Janeiro história da África do e do Brasil afrodescendente e racismo brasileiro uma história da formação do país entre outros é com base nesse aqui que a gente vai conversar muito bora falar com ela Ah e antes de partir pra nossa conversa esse episódio do não ficção também tem o apoio da insider que é a marca de roupas funcionais que oferecem conforto durabilidade e tecnologia com 15% de desconto com nosso
cupom Atila e ainda tem mais desconto no site que somado ao nosso cupom pode dar até 35% off Então aproveita esse Descontão para fazer uma escolha inteligente porque além de conseguir manter a cor por mais lavagens E com isso durar mais e ter um custo benefício melhor com garantia caso a sua camiseta desbote a sua Tech t-shirt ainda dá menos trabalho sim menos trabalho porque o tecido em Tech da insider tem ação antiodor já que ele absorve tão bem a umidade do corpo que dificulta o crescimento das bactérias que dão mau cheiro e porque além
de tudo é um tecido que se desamassa com o calor do corpo e com isso dispensa passar então vindo de alguém que já tem preocupação suficiente com as roupas de uma criança pequena que faz questão de pular em cada poça de água que encontra e que já tá correndo cada vez mais rápido e aproveita o nosso cupom attila na hora de fechar o carrinho ou usando o nosso link do saiba mais para pagar menos por roupas que vão dar menos trabalho e aproveita para se vestir bem e apoiar o nosso canal e antes de tudo
muito bom te rever por aqui é obrigado novamente pelo prazer e pelo privilégio da gente poder conversar nesse meio tempo Entre eu ter te entrevistado e pro hiper conectado né e te convidar por aqui eu fui ler o seu livro e com c CMA com tranquilidade o racismo brasileiro e é o livro mais anotado que eu tenho porque particularmente depois de ter começado o o o não ficção e ele explica tanta coisa tem tanto assunto em aberto tem tanto tópico todo episódio que a gente trata de sociologia história eh qualquer aspecto de humanidades que passa
pelo Brasil sempre tem um buraco uma questão a ser explicada que fica claríssimo no teu livro como isso se explica Então eu queria ter uma conversa que para mim vai ser uma referência vai ser uma Âncora aqui para toda vez que a gente tiver um problema ou tiver um dilema tiver alguma coisa para entender porque que o Brasil é como é mentalmente provavelmente falar não a gente vai voltar pra conversa com a inae para entender Por que as coisas são como são dessa for e e é impressionante ess esse buraco que que é coberto pelo
racismo na nossa história é impressionante como em outras obras ou em outros momentos ou outras discussões eu nunca vi sendo puxado dessa forma e trazido para esse protagonismo para essa questão ah crucial que é e de repente tudo fica mais claro então Obrigado por esse presente de grego né como você chama seu livro eh E obrigado por trazer essa luz pelo menos para mim do do quão importante é orientar as coisas da forma porque parece uma questão tipo ah beleza isso existiu ou aconteceu mas quando você amarra tudo ao redor disso para mim é como
evolução é como tectonismo essas grandes teorias ou essas grandes formas de pensar que pega eventos super desconexos e de repente alinha todos eles de maneira que eles fazem muito mais sentido e de repente questões que parece até contraditórias em si se você olha só para elas se você entende esse processo histórico que levou aquilo as duas estão explicadas sem se contradizer porque elas são resultado desse outro processo maior esse Supra processo né essa esse uh da maneira como você explica e conduz isso tudo tudo se oriente tudo faz sentido então de verdade é é um
privilégio mesmo poder conversar contigo aqui e eu espero trazer pras pessoas um pouquinho do que da mudança que isso traz na forma de pensar quando a gente pensa dessa forma ou quando leva isso em consideração de uma maneira tão central quanto você trouxe e não como algo a ser citado como ah existiu mas não pensar nisso como processo né eh para começar por exemplo para trazer uma questão que tá latente agora no começo de 2025 já eh em outro país felizmente Então me sinto até mais à vontade de falar sem sem tocar nos Bros das
pessoas aqui no Brasil mas para elas entenderem como as coisas estão acontecendo os Estados Unidos estão passando por um processo agora no começo de 2025 de eh para um brasileiro escaldado um golpe assim de de de uma mudança de regime de governo com muitas medidas inconstitucionais sendo passadas uma depois da outra para mudar uma série de coisas isso acho que ninguém consegue questionar porque da maneira como o presidente tá passando ordens executivas lá que ferem a Constituição do país isso dá para falar são inconstitucionais Talvez as pessoas discordem da interpretação que eu vou dar mas
como grande parte dessas ordens executivas miram em programas de diversidade Equidade e inclusão vulgo miram em minorias Principalmente nos Estados Unidos latinos negros e mulheres eh eh me parece um programa de supremacia branca que tá Ah devolvendo Privilégio para essas pessoas e um programa orientado dentro de nos Estados Unidos uma mentalidade Cristã Ah muito explícita muito clara com os outros valores que vão junto de fecundidade de trabalho prosperidade e outras coisas parece em coisas desconexas mas logo no comecinho do seu livro já dá para ver como que o cristianismo como essa imagem da salvação de
um povo de o grande guia do ocidente do que é ser do europeu ou ocidental ou de uma região desenvolvida e a ordem que isso traz para que você precise impor em outras pessoas e o que você precisa fazer eh que para mim era uma coisa recente de repente você me mostra que Portugal já tava operando dentro disso há mais de 500 anos então de onde vem essa mescla de um povo a sua missão e o cristianismo e Isso ligado a uma cor de pele específica e a um projeto de desenvolvimento específico assim com que
papel que isso teve na Fundação do Brasil porque né Por que que essa discussão recente que a gente vê disso aqui nos Estados Unidos não é recente e continua ressoando não uma ótima pergunta tá ti já primeiro Agradecer o convite é um uma oportunidade também incrível tá aqui de novo com você né E que bom que você gostou do livro fico feliz não é um livro fácil não né de ler nem foi fácil de escrever mas acho que o objetivo dele era mesmo esse causar um incômodo de como a gente entende a nossa própria história
né trazendo a questão racial para um pra centralidade que eu defendo durante todo o livro que ela deve ter eh e pensando nesse passado presente que é uma dimensão que a gente trabalha muito na na historiografia sobretudo quem trabalha com com história da escravidão né e o legado da escravidão essa dimensão de passado de um passado presente é muito forte né Eh sobretudo nos Estados Unidos tem uma uma linha de pesquisadores negros principalmente né de de pesquisadores negros radicais que apontam isso a escravidão ela não acabou né ela acaba formalmente enquanto instituição mas há uma
herança que se reinventa sistematicamente porque o pressuposto que justificou a escravização moderna ou a escravidão moderna né que é a escravidão que constitui o continente americano de maneira geral e o Brasil de maneira específica é justamente a ideia da supremacia Branca né E esse essa ideologia da supremacia branca ela de fato eh já tava ela já permeava um pouco eh países como a a Portugal e Espanha né antes do da era da chamada era dos descobrimentos né antes do processo das grandes negações e de alguma maneira ela estava muito vinculada ao peso que o catolicismo
teve especificamente nessas duas eh dessas duas Nações na formação das Nações né na formação de Portugal enquanto uma nação livre Soberana e moderna assim como a Espanha Lembrando que eram duas regiões do continente europeu que foram eh parte significativa delas né controladas pelos por califados muçulmanos durante muitos séculos né eh então a própria construção da identidade desses dois né desse mundo ibérico ela tá muito vinculada com a identidade católica né então ser português é também ser católico isso não era uma coisa muito dissociada e uma das experiências mais emblemáticas eh num num recuo um pouco
maior de tempo né Eh eh na Europa é foram as cruzadas Então as cruzadas Elas têm já esse eh essa essa marca né de não só se entender pelo menos a perspectiva dos dos católicos né como não como um povo escolhido mas fazer dessa escolha um mote para conversão de outros né no caso dos infiéis que eram os muçulmanos então alguns historiadores apontam que eh o que a gente chama de racismo já pode ser vislumbrado na no Esso das Cruzadas você já observa ali uma classificação racializada dos sujeitos e uma hierarquização né dessa eh dessa
classificação e o Brasil foi um país colonizado pelos portugueses que teve a Igreja Católica como um dos seus principais alicerces né a colonização ela foi justificada moralmente pela igreja católica assim como a escravização de Africanos Então quem dá o aval quem permite que Portugal né Eh comercializasse esses africanos Porque Portugal não chega nem a adentrar o continente especificamente né então o início é é uma é uma relação bem mais Mercantil né de compra e venda eh mas existia uma questão moral a escravização enquanto a escravidão melhor dito enquanto instituição ela não existia na Europa enquanto
sistema melhor dito produtivo desde o final do império romano então claro que a escravidão ela continua existindo em locos menores né em escalas menores mas você não tinha nenhuma sociedade que dependesse da escravidão para existir na Europa né então existia mais de um século de de distância entre o fim do Império Romano e esse momento em que é um século Desculpa mais do que um Milênio né entre o fim do Império Romano e o processo inicial de de escravização de Africanos então o que que foi necessário ser feito criar uma justificativa moral barra religiosa né
Para que não tivesse nenhum tipo de impedimento ético na escravização de africanos e isso é feito a partir de uma releitura do que os muçulmanos já estavam fazendo para escravizar os africanos porque é também é importante ser dito né Eh os os muçulmanos iniciam um processo de escravização no continente africano por volta do século 9 né Depois de Cristo é bem antes né Então na verdade o tráfico transariano ele ele dura por 1000 anos né ele tem uma outra dinâmica uma né enfim ele é enfim ele é muito distinto né do do que vai ser
o tráfico Transatlântico embora os povos escravizados fossem o mesmo as as relações estabelecidas entre os muçulmanos e Esses povos ela é distinta mas a escravização ela está pautada e Inclusive a gente tem relatos né né de de de pessoas negras em na na China no século X e XV que chegaram por conta desse tráfico transariano então ele é um tráfico significativo que movimentava uma economia significativa mas que vai ter um impacto mais diluído digamos assim então o tráfico transariano o tráfico eh eh Transatlântico eles retiram mais ou menos a mesma quantidade de Africanos do continente
só que o transariano faz isso em 1000 anos e o tráfico Transatlântico faz isso 300 então a dinâmica é é diferente mas quando os portugueses iniciam Então esse esse esse comércio já tinha basicamente 500 anos de tráfico transariano existindo e esse tráfico ele eh tinha uma uma justificativa moral que recuperava o antigo testamento algumas passagens no antigo testamento para dizer que as populações que viviam ao sul do Saara né que eram conhecidas e chamadas de negros de diferentes né por diferentes línguas enfim mas guinel significava negros né Eh eles eram eh descendentes de pessoas pecaminosas
né e por conta disso eles deveriam e poderiam né ser escravizados não haveria nenhum tipo de impedimento moral então o que que a Igreja Católica faz ela recupera essa passagem que já havia sido utilizada pelos mulos e institucionaliza isso né dentro de um de uma de um de uma criando uma novidade na verdade né Qual que é a grande novidade para a escravidão dentro da escravidão moderna O que que a escravidão moderna traz paraa Instituição da escravidão que é uma instituição que existe há milênios né enfim diferentes partes do mundo então assim a escravidão infelizmente
ela está Espraiada no mundo todo ao longo da nossa história mas a diferença da escravidão moderna é que ela é uma escravidão racializada ou seja apenas determinado os sujeitos podem ser escravizados né no caso da escravidão moderna eh os sujeitos que poderiam ser escravizados são todos sujeitos não brancos Então os sujeitos negros africanos né E também os indígenas embora escravização indígena também tenha tido uma ela foi muito importante no início da colonização de toda a América né Eh mas ela tem nuances ela tem uma outra tem dinamismos que tem escalas muito impactantes né então eh
não dá para fazer pensar numa única história da escravização indígena porque vai depender muito De que parte do continente americano a gente tá a gente tá falando mas é é importante dizer que os indígenas foram escravizados né Depois tem uma discussão inclusive feita por um importante Frei que é o Bartolomeu de Las Casas que vai advogar eh ele vai ficar ele é ele é um Frei que visita e que mora na verdade aqui na América no século X eh e que ele vai ficar muito horrorizado com a encomenda que é né um sistema que foi
criado pela colonização que basicamente reduzia esses esses ameríndios a a a condução de escravizados e ele vai fazer uma crítica contundente à encomenda e vai propor justamente o quê que se ampliasse a compra e venda de Africanos porque eles né já existia uma justificativa mais arred dada mas azeitada para que esses homens e mulheres fossem escravizados e é preciso dizer uma coisa também né o tráfico de Africanos o traso Transatlântico de Africanos escravizados começa antes da chegada dos europeus nas Américas ele começa em meados do século XV então aproximadamente 50 anos antes dos espanhóis e
mais tarde os portugueses chegarem aqui na América então quando eles chegam na América Eles já T redes estabelecidas de compra e venda de Africanos escamados o que a gente não pode também entender a colonização Porque isso é uma coisa que durante muito tempo a gente aprendeu assim na escola eu lembro de ter aprendido assim na escola né o tráfico ele chega pra gente depois da colonização isso é um erro né histórico porque o tráfico existe antes e ele vai ser um motor econômico fundamental do mundo que a gente vive hoje eu quero chegar nesse motor
econômico mas queria falar um pouquinho dessa chegada no Brasil aqui antes pra gente poder ir depois pro Motor econômico Então deixa eu ver se eu interpreto de uma forma coerente você tem já o a escravidão acontecendo historicamente na na humanidade por n motivos em n condições diferentes eh você tem as cruzadas dos europeus tendo que arrumar uma justificativa de porque que você pode matar aquele povo e aquele povo não poderia te matar ou porque que você pode eh ter mais privilégio do que aquelas pessoas Então você embarca isso como aquelas não são pessoas pessoas somos
só nós e você embrulha isso tudo na noção de que que pessoas Somos Nós Que pessoas são aquelas aqueles são negros nós somos brancos e nós somos superiores a eles e por isso a gente pode escravizá-los é é que na a questão da da das Cruzadas ela tem uma complexidade maior porque não há uma percepção eh de que os de que os muçulmanos que são os que são né os inimigos né É contra quem as cruzadas são feitas não há uma percepção de que eles sejam negros né sãoos são morenos depois a igreja encapsula isso
no negros Então se vocês partirem para explorar o mundo agora saibam que se vocês encontrarem negros eles têm que servir vocês é tanto que no caso do Brasil especificamente o primeiro a primeira forma de chamar as sociedades indígenas eram os negros à Terra era assim que eles eram chamados justamente porque a partir do momento que você deu esse rótulo tá justificado você muito tempo o negro vira o outro né dentro dessa lógica eh eurocris o negro vira o outro e aí depois esse outro vai ser subdividido então tem vai ter uma especificidade os africanos depois
os indígenas né mas de uma maneira geral é é por aí eu queria deixar isso muito claro para as pessoas porque a gente ouve justificativas de todo tipo para dizer que não existe mais racismo ou outras coisas dizendo que bom não é uma questão de cor de pele é uma questão de classe social eh todo todo o povo já foi escravizado os eslavos vem de escravos ou não sei o quê mas o país é fundado por pessoas que pensam que o outro é o negro e por ser negro tem que ser escravizado então na Fundação
do país já vem essa questão fundamental de escravidão igual a negro né tanto que se você quer escravizar os indígenas você chama eles de negro negros da terra e você deixa de escravizá-los quando eles deixam de serem negros serem compreendidos como negros e claro essa compreensão parte é isso é que a gente tem uma uma percepção né Muito muito contemporânea em que né o etos religioso tá tá descolado mas nesse momento tá muito [Música] embricamento E e essa essa é a diferença o que que acontece do ponto de vista da justificativa religiosa é que a
população africana é lida como Infiel que é aquele que conhece a palavra da igreja né enfim e recusa naturalmente Infiel se vieram barar Infiel inf e os ameríndios vão ser considerados pagãos que são aqueles que não conhecem a palavra da igreja né e que por isso tem a chance por meio da catequese de serem salvos a escravização exatamente a escravização africana ela vai ser lida como eh eh quase um favor que a Igreja Católica tava fazendo para esses africanos né E que quer dizer a igreja não mas a igreja vai ler dessa maneira um favor
que esse catolicismo tá fazendo porque tá permitindo a entrada desses homens e mulheres selvagens e bárbaros no mundo ordenado pelo catolicismo Mas eles vão ter que em vida o purgatório a escravidão é o purgatório em vida é assim que ela é lida pela igreja católica Então na verdade é isso mesmo que você disse o Brasil é um país que ele é fundado pela escravização racializada né Não só o Brasil a América né então eh eh o continente americano todo ele ele se constitui dessa maneira como a gente compreende né A partir do momento da chegada
dos dos europeus tendo aão questão racial como uma infraestrutura dominante né então é muito curioso que você falou né tem as pessoas que falam ai o racismo não é eh eu tento fazer uma comparação para as pessoas entenderem né o tamanho que é o racismo eh alguém questiona que nós vivemos no mundo capitalista a gente não questiona isso todo mundo sabe que o sistema que a gente vive é o sistema capitalista o racismo ele é anterior a capitalismo Inclusive só tem capitalismo porque teve racismo porque tem racismo ordenando a gente há mais tempo inclusive né
então eh eh o o o racismo ele é uma é uma infraestrutura maior do que o capitalismo a gente não pode não tem não é mais possível de questionar é claro que o questionamento faz parte da própria eh do motor né negar a existência é fundamental para azeitar a a a justificativa das desigualdades né porque a gente naturaliza essas desigualdades Essa é a grande sacada do do racismo você naturaliza que as pessoas são inferiores você naturaliza que Teoricamente os negros têm eh condições né são sempre pobres isso tá naturalizado né tanto que eh ninguém fica
muito comovido de ver famílias e mais famílias negras em situações de rua né e quando você tem a gente fez isso H alguns anos atrás mas me marcou muito é o caso de um de um rapaz jovem não lembro se ele em Santa Catarina ou Rio Grande do Sul que virou mendigo gato né que era um rapaz jovem e claro né teve uma mobilização nacional lembro de ver acho que era o fantas enfim programas em rede nacional se mobilizando para tirar o rapaz que era um rapaz loiro alto de olho claro mendigo de olho azul
né né exatamente usar os termos da época tamb claro que essa e claro que essa essa é a ação que deve que se deve ter sempre mas essa ação é destinada a pessoas que são consideradas pessoas Então assim antigamente a gente falava de alma agora a gente tá falando de humanidade porque em última instância é isso o racismo ele ele vai hierarquizando a humanidade e criando seres humanos e seres subh humanos né e isso é fundamental para exploração de qualquer tipo sobretudo a capitalista e que para deixar muito Claro na Fundação do Brasil sempre esteve
vinculado a cor de pele sempre sempre sempre agora sobre o motor econômico e sobre essa questão entre racismo eh anteceder o o capitalismo e o capitalismo surgir Onde tá a conveniência dessa dessa divisão por cor de pele o o que que motor é esse Por que que ISO gera um sistema moderno porque E como você disse a gente vive numa sociedade capitalista certo ah ah curiosamente ao mesmo tempo vou pegar os Estados Unidos de novo pras pessoas não acharem que eu tô querendo pegar no pé de uma questão política brasileira ou de um partido ou
de alguma coisa daqui na fileira da frente de Posse do presidente dos Estados Unidos atual tinha a família dele e tinha as três pessoas mais ricas da história da humanidade bezos Zuckerberg e o mansk que sozinho tem mais dinheiro do que os outros dois juntos e esses três juntos em questão de alguns meses vão ter mais de 1 trilhão de Dólares que é o PIB de alguns países ele já tem o PIB de alguns países menores Ah então assim pela medida do capital ou pela medida atual de sucesso que é quanto dinheiro você tem nessa
fila de frente estavam as três pessoas mais bem-sucedidas do mundo e um deles só tem 200 bilhões porque divide o patrimônio pela metade com a esposa antes sen não teria mais com a ex-esposa então assim dentro de um país que tá passando por essa revolução de excluir novamente mulheres negros da força de trabalho gente isso por favor é só ver as ordens executivas dizendo que não pode mais ter contratação e que tem o cuidado de contratar mulheres negros e outras coisas de promover Equidade de promover Equidade obrigado então o o oposto de Equidade é você
ter supremacia de um grupo sobre outro então se não promove Equidade tá promovendo supremacia do grupo favorecido que são homens brancos e eh as duas coisas estão aparecendo juntas na minha cara ali certo as pessoas mais ricas participando muito mais ativamente do governo com um deles literalmente instalado dentro do governo americano dentro da casa branca comandando logo mais a folha de pagamento do país e o orçamento de um país do país mais poderoso que já teve qualquer país essas duas coisas estão então assim me parece hoje de longe olhando para um lego que racismo e
capitalismo estão andando juntos ali então eu quero te perguntar se isso é por acaso ou se um implica no outro e se você fala que o racismo anteced não isso historicamente capmo é comprovado né na verdade assim o racismo ele é um um sistema de poder tem um sociólogo que tem um livro maravilhoso eh e muito claro sociologia então tem ali um mas a introdução acho que a introdução desse livro chama o contrato racial né Chama Charles MS ele faleceu há pouco tempo é um livro que tem 25 anos mas quei traduzido recentemente e que
acho que é uma é ele ele é muito didático me explicar que a modernidade ou seja o período da história que data do momento em que as diferentes sociedades humanas começam a se conectar a se conhecer que a partir do final do século XV né a modernidade ela é erguida junto com o racismo o racismo ele é o motor econômico ideológico do né da da Constituição dessa era que a gente ainda vive então não tem muito para onde fugir então o racismo ele é esse sistema de poder que vai dizer o seguinte que a humanidade
está dividida em raças as raças elas estão hierarquizadas e existe uma raça superior que é a Branca Esse é o pressuposto claro que esse racismo ele é historicamente determinado também né Ele é um produto que também obviamente ele define o tempo mas também é definido pelas mudanças do do da humanidade no tempo então o racismo do século X não é o mesmo racismo do século XVI que por sua vez não o mesmo racismo né não se apresenta da mesma forma no século XXI mas a estrutura o Né o embasamento ele é o mesmo que é
pegar o fenótipo a diversidade de fenótipos dos sujeitos classificá-los em grupos específicos e dizer quem é superior a quem só que tem dentro dessa né dessa desse sistema de poder quem está no poder é justamente quem não se racialização isso inclusive para entender a ideia de minorias que é uma ideia que faz sentido do ponto de vista político mas não populacional porque quando a gente fala nas minorias já fal né sobretudo no Brasil a maior parte da população brasileira essa mulheres dess então exatamente né Mas por que eh é é um termo que é que
é importante a gente também entender ele na história né porque essas são as minorias porque elas não têm acesso ao poder a gente tá falando de poder é isso o racismo define quem tem poder quem vai eh eh sentar na na na na na cadeira de Presidência da Casa Branca e quem vai sentar na cadeira de presidência do Brasil quem vai ocupar os principais eh né O parlamento quem vai quem vai dar quem vai decidir quem vai dar canetada quem vai decidir né isso pensando hoje e qual que é uma uma da das mais das
artimanhas desse desse racismo que agora tá ficando mais exacerbado mas durante muito tempo isso ficou mais isso ficou recolhido né Eh Ou ficou velado melhor dito é a ideia eh dessa supremacia branca que não se apresenta por quê Porque a estratégia foi tomar a experiência branca como Universal Então até bem pouco tempo a gente falava numa história Universal agora tem história do Brasil tem história Universal a história Universal geralmente é a história da Europa né a a experiência de universalidade ela é uma experiência que se dá a partir da experiência Branca então qualquer em qualquer
situação que eu não racializar num sujeito Branco todos os outros são racializados é isso então ass eu tenho três poos se juntando nas Américas europeus indígenas africanos a gente aprende a partir da chegada dos europeus se você aprender de outra forma é racializado é racializado você vai falar ah a história não é você não você não tem aula de história da Europa vou vou fazer até uma crítica à maneira como a gente ensina história a História Moderna você tem história da Europa você não tem História Moderna invés de estudar sei lá os incas Oceania né
a Oceania eh o império monomotapa não a História Moderna é uma história né e a medieval a mesma coisa então a maneira como a gente divide a história Universal é a partir da experiência europeia branca e aí Claro agora com muito custo e por conta de muita luta de movimentos sociais de intelectuais enfim a gente vai abrindo alguns nichos Então você tem um pouquinho Ah então vamos entender o que fazer um paralelo que tá acontecendo também no continente africano durante a idade média Então a gente vai lá e olha um pouquinho né mas o a
premissa é entender o mundo a partir da experiência europeia eu não consigo falar isso em biológicas tranquilamente também assim se você vai testar um fármaco uma droga até ontem não se testava isso em em ratos fêmeas porque com menstruação com ciclo menstrual e outras coisas isso pode perturbar a ação do remédio sem se fazer a pergunta sobre se pessoas que menstruam também não vão precisar saber disso pra vida delas mas eh eh né Eh homem branco o é o homem branco que está no poder é isso então e é muito é é é uma bugadinha
mesmo que a gente quando a gente tem essa percepção do tamanho do racismo dá uma bugada porque é a forma como a gente entende o mundo sim é questionar isso é questionar absolutamente tudo do Band de pel é claro exatamente do Band eu sempre brinco dem demorou muito tempo para eu conseguir comprar a base base né mulher a gente usa base de vez em quando do meu tom de pele porque não tem não tinha no Brasil isso é muito recente uma base que não fosse ter uma história do meu irmão caçula quando era pequeno isso
é vantagem ser filha de de de militante do movimento negro meu pai né que uma vez alguém acho que tinha uns 6 anos enfim e pediram eh eh Caué passa o o lápis cor de pele ele passou marrom então assim né ele já tava isso é legal também de pensar como é que é a é a construção do o racismo também é uma construção a gente não nasce racista né As crianças são elas são ensinadas cotidianamente a serem racistas e não é né não é que a gente tá vendo enfim frases agora a até tá
vendo né frases nazistas ações nazistas saudações nazistas enfim Isso parece que tá temo infelizmente um retorno muito contundente Ah eu esqueci de fazer essa relação de que o cara mais rico do mundo abre fazendo uma saudação que é uma saudação Romana Idêntica a saudação que o Hitler fazia assim né para usar os termos ente é uma saudação na é a saudação do supremacia branca é isso que tá ele ele é a supremacia Branca em forma de de de de pessoa né ele o trump então e isso e agora esse né esse esse discurso que antes
era velado sobretudo depois do holocausto judeu né que é o momento em que a Europa sente no seu próprio território né Eh poder terrível do racismo porque a gente né antes do holocausto judeu a gente tem a experiência o maior genocídio da história da humanidade é o genocídio eh dos ameríndios depois a tem experiência do tráfico que também é uma experiência de mortandade absurda e né numa escala né e depois a gente e por último dentro dessa né tô falando número de pessoas que morrem né E a gente tem também o holocausto judeu é só
quando chega na Europa que a Europa Fala Ei esa calma não dá para ser assim porque enquanto tinha campo de concentração na Namíbia as coisas pareciam tão estranhas você testar né Abrir cérebro de pessoas eh vivas para testar para saber o que tava acontecendo porque era isso que que os alemães fizeram na Namíbia durante algum tempo mas quando chega na Europa isso vira um problema obviamente tem que virar um problema não tô discutindo isso a minha questão é sempre eh mostrar que o racismo faz com que o limite da humanidade né O que ele questiona
da humanidade só apareça nas experiências quando chega na na pessoa branca então o problema só acontece quando é com branco porque quando não é a gente já internalizou que ah isso acontece a gente pode ficar chateado revoltado mas a gente e tá internalizado porque se não tivesse internalizado a gente a sociedade a sociedade não só brasileira né o ocidente já teria passado por uma grande revolução que não passou porque a gente a gente é ordenado a gente é condicionado a entender o mundo a partir da estruturação racista que é isso quem tem poder são homens
brancos salvo raríssimas exceções mas mesmo assim essas exceções são enfim né é muito excepcionais Claro agora a gente tem is tô falando do ocidente Ainda bem que existe o Oriente né para criar uma uma outra outras relações possíveis eh e é e esse poder ele é político econômico ele não tá dissociado né Essas coisas não tão dissociadas nessa nessa estruturação do racismo e é isso o racismo ele é anterior ao capitalismo então o capitalismo ele é um sistema de produção que vai fazer uso deliberado do racismo deliberados o racismo ele ajuda muito o capitalismo a
funcionar o racismo por exemplo ele ele cria clivagens entre a classe trabalhadora só de fazer isso você já resolveu muitos problemas né para para outras críticas mais contundentes ao ao capitalismo se você tem trabalhadores que estão na mesma condição na mesma classe mas que mesmo assim não experimentam a mesma condição porque tem raças diferentes ou cores diferentes né Isso já resolve vai ter uma união né que é o que se propõe a ter para que esse sistema mude é é como em particular me lembro uma experiência recente de um uma pessoa que num condomínio fechado
acho que no Rio de Janeiro viu o vizinho tentando entrar em casa Achou que era um assaltante o cara sai com uma arma e mata o vizinho e eu fico pensando como que não tá todo mundo chocado de que o seu vizinho pode ter uma arma e vir te matar quando você entra em casa aí alguém não mas o cara era negro por isso que ele confundiu esse Ah tá então de repente tudo se torna compreensível não é que é um vizinho não é que é o cara armado não é a situação eu não tenho
como ser vítima disso se eu não sou negro né E tá tudo resolvido é é isso é uma é uma engrenagem acho que talvez esse seja o melhor o melhor termo assim né para para melhor alusão é a engrenagem que faz a sociedade moderna funcionar se você tirar assim não tem como parar assim quer dizer a gente espera criar condições para parar mas é muito difícil é é realmente muito difícil e é tão difícil que a gente viveu no intervalo de 10 anos nessa última década a gente viveu uma ascensão muito significativa da Luta pelos
direitos eh pela ampliação dos direitos civis no Brasil e no mundo mas sobretudo no Brasil pensando aqui no Brasil né Por uma por políticas de de Equidade as cotas raciais e a sua importância histórica para fazer com que a população negra conseguisse chegar eh eh do ponto de vista econômico em condições parecidas com a população branca e obviamente não chegou porque é um percentual piqueiro Mas enfim já tem uma mudança que é que é bem expressiva a gente tá vendo que isso pode rir a gente tá vendo isso ruir na verdade né o caso dos
Estados Unidos demonstra que não tem jogo ganho dentro do dessa estrutura racista e capitalista O Ataque à universidade lá acontecer porque já entraram as mulheres já se tornaram maioria na universidade então de repente aquilo não importa mais é é é isso é é esse é desse poder que a gente tá falando é o poder de decidir o que que importa o que que não importa aonde eu vou alocar dinheiro aonde eu não vou alocar dinheiro não é só sobre né ter pessoas negras na televisão isso isso é fundamental é óbvio é muito importante que a
que tanto negros quanto brancos mas sobretudo que que crianças negras liguem a TV e se vejam que Leiam livros que tenham personagens negros que conheçam mas eu tô falando de de quem decide de quem e agora a gente tá experimentando uma coisa que eu acho muito curiosa pensando como estador que fal gente parece que eu tô F gente mas eu tô no século XX tô no século XI em que o poder tá muito personalizado esse poder político econômico cinco seis pessoas no Ocidente que daqui a pouco vão ter né o PIB de de países significativos
então a gente tá vivendo uma radicalização também eh ao meu ver muito tensa e séria dessa estrutura racista assim é a a a aposta no racismo ela tá sendo dobrada e eu acho que a gente tá bem numa quadratura histórica assim então eh eh quem poderia fazer diferente e porque isso também acho que é uma dimensão importante de de dizer eh sobre o racismo enquanto sistema de poder quando a gente toma um racismo como sistema de poder a gente Obrigatoriamente coloca a população branca dentro desse sistema de poder porque quem usufrui os privilégios desse sistema
de poder né então quando eu faço isso o racismo Deixa de ser um problema do negro ou do indígena para ser um problema de todos essa é uma percepção que é fundamental ela é fundamental sim só só vamos ter mudanças muito significativas realmente quando as pessoas brancas que são as pessoas que estão no poder historicamente falando e efetivamente eh não só se atentarem para essa questão mas escolherem mudar essa essa lógica o que a gente tá vendo é que essa escolha não tá sendo feita a gente tá vendo que as pessoas brancas no poder estão
apostando que é é assim que tem que ser porque sempre foi assim e nisso elas estão certas né no ocidente sempre foi assim agora não necessariamente sempre né não necessariamente precisa ser assim é isso porque o rismo também tem essa eh eh mais uma esfera terrível né ela ele limita a nossa capacidade de imaginação a gente não imagina o mundo que não seja ordenado dentro dessa lógica e é fundamental que a gente Imagine que a gente cria Utopia para trazer a mudança eu eu ainda ainda pra gente chegar na né nas mudanças e no no
no que no como pode ser diferente Ainda tentando mudar um pouquinho a maneira como a gente interpreta a história eu depois lendo sobre a História Moderna modelos econômicos Eu já vi muita gente falando que olha o capitalismo moderno com Mercado de Ações com participação em empresas sociedade tudo surge ali no começo do Mercantilismo quando você tem a companhia das Índias orientais os holandeses querendo explorar E aí você divide a incerteza com as pessoas e faz aposta futura e contrata e tal e e acho falei nossa curioso como parece uma coisa super moderna mas ela tem
essa raiz antiga e e viabilizou essas coisas aí você me coloca como sim você pode ter essas navegações atrás de especiarias e outras coisas mas o o mesmo tipo de navegação aconteceu para traficar humanos Você pode ter as especiarias sendo o a renda que você espera do seu investimento mas o açúcar produzido por negros escravizados no Brasil foi muito mais importante do que isso pro país pelo menos e E aí você me descreve algumas coisas que que são surreais assim de século 16 1 18 das pessoas terem eh não só compra de ações mas carta
de crédito financiamento e para poder comprar escravos para comprar pessoas e você financia e compra esperando que o trabalho dessa pessoa pague a compra dela e dê uma margem de lucro para você poder comprar mais duas pessoas depois e então você tem um rendimento do seu investimento e esse rendimento em cima de trabalho humano de quem você comprou para fazer aquilo e depois essa pessoa se quiser se livrar ela vai ter que comprar o fora dela então assim isso já existia ou isso floresce aí é a gente tem dois dois movimentos assim tem o mercantilismo
que de fato ele existe um pouco antes até desse início mais contundente do tráfico mas eh que inclusive é o que justifica né as grandes navegações pelo menos dos Portugueses e dos dos espanhóis nesse momento eles querem chegar às índias e comercializar ali com com com o índico né Entrar no comércio índico não conseguem os espanhóis tentam fazendo o o a volta no no mundo e chegam nas Américas né e os portugueses tentam mais efetivamente e conseguem alum durante um tempo mas acabam que que eles são quase que expulsos ali no comecinho do século X
E aí que se inicia efetivamente o processo de colonização do Brasil né Eh mas a a sofisticação do Mercantilismo que vai levar ao capitalismo né que é uma construção que demora eh séculos né então a gente tem essa essa eh esse acúmulo de de sofisticação sobretudo da financeirização da economia isso se deve por conta da compra e venda de Africanos escravizados então de fato assim essa o tráfico ele é o motor ele é o fundamento econômico que garante a possibilidade do capitalismo existir eu não tô falando só são duas coisas que são fundamentais por um
lado o acúmulo primitivo de capital que que é uma dimensão já muito trabalhada que é o fato de que esses proprietários escravizados acumulavam né por conta da expropriação do trabalho escravizados acumulavam eh esse esse esse dinheiro e podia investir uma série de coisas inclusive em tecnologia e a gente tem Revolução Industrial aquilo que a gente apendo na escola Isso está correto mas você tem uma etapa anterior que é da financiera da da da da economia Essa financiera é só o tráfico que permite porque o tráfico era uma uma atividade alt mente lucrativa altamente E altamente
obviamente perigosa também por isso que você tem isso vamos dividir né porque se não tem as pessoas elas não eram Donas de navios elas eram Donas de cotas de navios Negreiros porque se afunda um navio negreiro você não vai perder 300 escravizado você vai perar 12 né a cota de 12 que você tinha ali que é a Sua cota né E no caso do Brasil em específico que aí isso é uma diferença Nossa em relação a outros países como por exemplo os Estados Unidos ou até Cuba que são países que tiveram uma escravidão muito contundente
muito eh foram sociedades que dependeram da da da escravidão da instituição escravista para fazer se economia funcionar mas o Brasil tem mais uma uma camada que é o fato de que os brasileiros os colonos nacidos no Brasil e depois dos brasileiros depois de 1822 eles são os traficantes então a economia brasileira tem uma relação muito dinâmica com o tráfico as maiores fortunas do Brasil não são até o século XIX eh de produtores de açúcar ou de produtores de café são de traficantes né são de traficantes então isso eh é preciso ser dito a gente tá
no século XX ou no século X Desculpa as maiores fortunas no Brasil é eram de traficantes ou ainda assim é de traficantes de de Africanos escravizados agora mudou né qual enfim da modalidade do que se trafica mas isso é muito importante dizer né então por exemplo um exemplo que eu gosto muito de dar né Eh por que que Dom João quando faz a a transferência da corte para cá né pro Brasil por que que ele opta em vir pro Rio de Janeiro e não para Salvador que era uma cidade do ponto de vista eh do
ponto de vista arquitetônico muito melhor estruturada era uma cidade que tinha sido vice reino durante séculos né tinha acabado próxima então enfim era uma cidade do ponto de vista urbanístico era uma cidade muito mais bem paramentada porque as fortunas do Brasil estavam na região Fluminense por conta do tráfego os maiores né o capital estava aqui eu falo do Rio de Janeiro então o capital estava aqui no Rio de Janeiro nas suas cercanias por conta dos traficantes né que vão constituindo a sua fortuna desde o buom do do ouro quando você tem a descoberta das das
minas né Essa descoberta ela muda a lógica de organização administrativa das colônias enfim né o sonho do Eldorado meio que acontece e você tem uma mudança também das rotas de tráfico o tráfico já existia Mas você muda um pouco as rotas de tráfego começa a trazer africanos principalmente da África Central onde on Kong e Angola sobretudo porque eram homens que conheciam metalurgia então Eles teriam né um eles eles TM um Noal para para enfim para trabalhar na mineração e o porto mais próximo do Rio de Janeiro que já já tinha o tráfico mas ele era
né num volume muito menor Então o que a gente observa a partir de então é é um dinamismo monstruoso do do do tráfico nessa região né E aí você vai criar famílias que são eh as grandes fortunas que são traficantes porque se a gente pensar nos grandes ciclos econômicos a gente tem um açúcar ali no século X e começo do século até século X 17 o século XV até 1770 tem o ouro de 1770 a 1830 Você não tem nenhuma grande commodity sendo produzida no Brasil Quando vai começar o café o café você começa a
ser realmente né e eh eh exportado em 1830 no Brasil o que que dá dinheiro no Brasil nesse momento é comprar e vender africano escravizado não só pro Brasil né o Brasil inclusive muitos traficantes que moravam aqui no Rio Janeiro tinham eh uma vínculos com a Bacia do Prata então levavam africanos escravizados que hoje sobretudo paraa Argentina Então você tem né uma série de eh eh eh de ações Então é isso é não tem como dissociar a economia brasileira do tráfico né e a formação de Fortuna ela tá históricamente vinculada ao racismo então né que
o pressuposto para escravizar é que aquela pessoa inferior porque ela é negra então eu posso trazer ela para cá posso vendê-la posso otear enfim né então isso é é uma dimensão muito importante da história brasileira que a gente de fato conhece pouco iní aproveitando que você falou do da chegada dos da vinda do do do do Rei de Portugal para cá né do deles ocuparem o Rio de Janeiro e tudo tem uma coisa que me marcou ali e eu queria aproveitar dela para fazer o gancho seguinte que é a a criação da polícia militar do
Brasil quando eles vêm para cá para pegar esse esse exemplo pontual e depois terminar o Reinaldo o Reinaldo e falar da Independência Por que que ela foi criada aqui quando eles chegaram lá bom a intendência geral de polícia da corte que é a instituição que foi criada e que é a vó da polícia militar no Brasil digamos assim né ela ela uma intendência que já existia em Lisboa então o que acontece quando a família real vem para cá há uma espécie de duplicação das instituições que existiam na corte porque o rio vira corte né Só
que essa corte tinha uma diferença significativa né aqui no Rio de Janeiro que é o fato do Rio de Janeiro ser uma cidade escravista e não só ser uma cidade escravista como se manter e em grande medida ampliar a sua dependência da escravização ou do trabalho dessas pessoas escravizadas né então durante o período joanino por exemplo a gente tem um significativo aumento do tráfico de Africanos escravizados pro Rio de Janeiro porque quem vai construir a materialidade dessa essa cidade enquanto corte com calçar as cuas os pântanos né O Rio de Janeiro é uma cidade com
muitas muitas Lagoas eh quem vai construir os edifícios o Jardim Botânico são as pessoas escravizadas elas são a mão-deobra fundante e Fundamental dessa cidade corte né então a intendência ela tinha uma uma dimensão que não é exatamente a que a gente conhece como da polícia totalmente Então tinha essa essa essa essa coisa de cuidar da da questão da criminalidade mas também tinha uma dimensão que talvez essa fosse mais importante nesse período de 1808 a 1821 que era funcionar como uma espécie de prefeitura então administrar o município da corte né Só que essa corte Como eu
disse era uma corte que tinha muitos escravizados Então vai ter um braço da intendência que vai ser responsável por cuidar da Ordem porque também era uma questão muito contraditória e complexa Então você cria uma corte a exemplo da corte que existia em Lisboa que era uma corte que não tinha escravidão Há muitas décadas né só que você precisa do trabalho dos escravizados para que essa corte se efetiva do ponto de vista material então a intendência ficou com a incumbência de lidar com a população escravizada então ela vai em grande medida mediar também as relações entre
senhores escravizados Então o que começa a acontecer por exemplo é que um proprietário pode pagar via intendência de eh de polícia da corte para que um funcionário da intendência chicote Asse o seu escravizado e não mais ele né A intendência também vai tentar fazer com que ess esses castigos físicos tivessem um limite né que era de 50 chibatadas por dia porque antes não tinha nenhum tipo de de de enfim de limitação o proprietário se quisesse matar com 300 batad um dia no escravisado ele poderia né então se cria uma uma uma ordenação e sobretudo né
a cidade do Rio de Janeiro ela ela ao longo da primeira metade do século XIX ela se torna numa na maior cidade escravista do mundo então nenhuma outra cidade no mundo teve mais escravizado do que o Rio de Janeiro né e ela é uma cidade em que eh que dependia desse trabalho do trabalho do escravo al ganho que é uma categoria diferente do escravizado mostrando como que a escravidão foi capilarizada na sociedade brasileira o escravo de ganha é um escravo que ele arrenda sua força de trabalho para terceiros então ele faz um contrato com seu
apalavrado com seu proprietário então pros termos atuais eu vou te entregar R 250 por semana tá então esse é o combinado que eles têm e ele vai trabalhar na rua enfim vai ele pode ter diferentes profissões pode ser uma lavadeira pode ser uma quituteira pode ser um Um padeiro um pedreiro um barbeiro cirurgião vai pagar e e semanalmente ele vai pagando essa né essa jornada de trabalho o equivalente à jornada de trabalho dele para o seu proprietário O que sobrar fica com ele ou com ela que tem que garantir a sua alimentação e a sua
moradinha então o proprietário fica eximido disso que era uma uma prerrogativa do Senhor de escravos garantir a né a a a vestimento e alimenta do escravizado por pior que fosse né Eh mas esse escravizado o que acontece na cidade o escravizado tem trânsito ele transita então a gente tem muitos casos por exemplo de proprietários que moravam em outra cidade os seus escravizados moravam e trabalhavam no Rio né então a polícia precisa controlar essas pessoas quem vai controlar esses escravizados é a polícia Então a gente vai ter uma série de Leis Municipais não só no Rio
de Janeiro nas grandes cidades né Salvador também uma cidade que a segund a terceira cidade a terceira maior cidade escravista do mundo e a segunda maior cidade escravista eh do Brasil né E que teve a maior rebelião de escravizados do Brasil que é a rebelião dos Malês que esse ano completa 190 anos ela foi uma rebelião eminentemente Urbana de pessoas escravizadas que viviam na cidade e que faziam desse trânsito né uma possibilidade também de reinvenção da sua própria vida então a polícia tinha que estar atenta a isso só que o Rio de Janeiro era corte
o Rio de Janeiro tinha que ter um cuidado muito maior com a administração da população escravizada então a ação da polícia ela é muito contundente no Rio de Janeiro para garantir que não existissem possíveis rebeliões aqui no Imagina uma cidade no tamanho do Rio de Janeiro seria quase um Haiti né algo próximo a uma revolução do Haiti que obviamente não acontece porque você tem tava acontecendo nesse período né Ele é o Haiti Na verdade ele vai de 1791 a 1000 desculpa 1790 e 1700 911 a 1804 né que é são 13 anos de de de
rebelião então quando na verdade em grande medida uma das razões lá atrás da vinda da família real é a revolução do Haiti porque ela desencadeia uma série de questões relativas ao Napoleão Bonaparte que perde a sua grande a sua colônia mais importante que era Sand doman que vira o Haiti né e ao perder o seu projeto Colonial ele é derrotado Então a primeira grande derrota de Napoleão Bonaparte é feita pelos escravizados do Haiti ele se volta para eh a Europa e faz o bloqueio continental no que ele decreta o bloqueio continental Portugal que tinha relações
muito próximas com a Inglaterra e que era a Grande eh eh eh eh opositora da da França nesse momento na verdade a Inglaterra era grande Senhora da do Atlântico né e e a França tava tentando lutar para pegar um parte dessa dessa hegemonia que a Inglaterra tinha então o Portugal Tem que manter a sua a sua lealdade a Aos aos Ingleses E aí se toma essa faz essa escolha que na verdade foi uma escolha muito audaciosa da família real né com a Marinha Inglesa escoltando a corte portuguesa Então tá ali tudo então querendo ou não
a revolução do tem muito a ver com isso então e tem esse no Brasil não chega a ser um medo real mas é um medo retórico né é dito que precisa ser cuidado do que vai acontecer com o Brasil para que ele não vire uma especificamente o rio porque tá chegando essa quantidade de escravizados muito grande então a polícia ela vai ser esse A intendência geral de polícia da corte vai ser essa instituição responsável por isso E aí a gente tem alguns Episódios que são muito interessantes de serem estudados que é o fato de que
alguns eh eh alguns policiais alguns não o chefe de polícia especificamente né mas alguns dos Capitães que trabalhavam na polícia eles vão vão criar um sistema que aí sim e a gente consegue ver o DNA da polícia militar do Brasil que é eu vejo um negro e eu prendo depois eu vou perguntar se ele é escravizado se ele é livre se ele é liberto Porque também tem isso né como a o Rio de Janeiro tem essa tinha essa autonomia de trânsito né Você tem um número maior de alforrias nas cidades do que no campo então
você tem uma população negra muito grande uma popula dentro dessa população negra uma população escrava que era significativamente maior durante um certo tempo mas você tem o crescimento de uma população negra livre significativa e o que a gente tem é a polícia tendo que lidar com essa população dentro da lógica da escravidão e do racismo então o que que se cria né a prática que nem é uma prática que era enfim né institucionalizada oficialmente pela intendência mas que acaba virando uma prática corriqueira que era ser Negro para depois saber se ele é culpado ou não
Então essa a suspensão generalizada que a gente tem dentre a população né sobre a população negra até hoje que a polícia infelizmente continua atuando dessa forma você todo negro é um suspeito né até que prove o contrário é o contrário do que os direitos eh garantem n na Constituição Brasileira isso tem um DNA lá atrás durante a vigência da escravidão com a intendência geral da polícia da corte então então pro Brasil não virar uma Venezuela digo um Haiti você traz a corte para cá onde você já tem uma população negra maior por causa dessa pejotização
de escravizados que agora estão fazendo mais ou menos como alguém que aluga um carro para fazer Uber que é você terceiriza o instrumento de trabalho e só recebe o valor que depois que a pessoa cumpriu a cota ela fica com excedente E aí você Funda uma polícia que vai fazer o favor de controlar essa população negra para os brancos para manter essa hegemonia é mas na verdade a a questão do Haiti ela é mais complexa porque na verdade é é a condição da corte que exige um número cada vez maior desses escravizados aqui então é
mais complexo ainda então você tem que criar uma instituição que Garanta a que que essa vinda né de de africanos que é uma vinda absolutamente volumosa então é nesse momento por exemplo o ca do Valongo que foi o porto que mais recebeu africanos cravados no mundo né que ele vira esse esse grande né Essa essa grande esse Grande portal de de Africanos aqui para eh pro Rio de Janeiro pra região Sudeste de maneira mais Ampla né então é é é nesse contexto e a polícia vai fazer uso até antes doos estudos eh do racismo científico
que vão advogar a mesma coisa então na verdade na partir da década de 1830 1840 a polícia sobretudo na na Europa ela vai fazer da raça do conceito de raça e aí tem o racismo científico tem uma outra não é o mesmo racismo lá do século XV x que que a Igreja Católica tá falando é um outro racismo né salvaguardado por aquilo que se era considerado ciência na época que vai dizer que a a humanidade dividida em raças que essas raças não são iguais entre si que elas não devem se mesclar inclusive né E que
vai criar uma uma polícia que vai tentar antecipar a ação de criminosos a partir da Leitura fenotípica então se eu vejo uma pessoa negra ela é potencial né ten estudos que comprovam que os negros são criminosos IMP potencial aí que que eu faço eu paro essas pessoas ou Mato essas pessoas Então essa é uma lógica que nasce no século XIX né e que não foi alterada a polícia brasileira infelizmente boa parte dela ainda age a partir dos pressupostos do racismo científico mas ele é científico hoje são algoritmos determinando isso é impessoal bem impessoal né Como
Se existisse impessoalidade como se a ciência não fosse feita a parte de escolhas né enfim ent sujeitos então é mais uma vez é só é só mais uma camada do racismo então o algoritmo é outra camada é é são as ritualiza né eu tô fazendo aquela paradinha para lembrar você de assinar o canal assim você recebe os próximos não ficção e os próximos vídeos regulares e para quem já se inscreveu pense em mandar um apoio para gente um Valeu demais isso faz muita diferença para trazer os próximos convidados aqui para para aproveitar e trazer esse
momento pros dias atuais ou para reflexos que a gente vê mais modernos dessa permanência do racismo no Brasil você citou o racismo científico junto da polícia como uma justificativa moderna que já não é mais a justificativa religiosa né já não é mais caso de ser fiel ou Infiel ou Pagão mas sim pela ciência essas pessoas são inferiores a gente já mediu os crânios delas então mantém-se o status quo né então você tá buscando mais validar a situação do que questionar os princípios dela eh para trazer para um outro um outro braço disso que me surpreende
muito Por ignorância minha também tem um braço constitucional parece né o Segue o braço constitucional político mesmo depois a independência né então Eh você coloca como na na na Constituição de 24 pós Independência eh é é definido quem tem direitos ou Quem é cidadão como pessoa que tem posse de escravizados Então quer dizer você não só tem o o o na Constituição a defesa da propriedade privada como essa propriedade privada é a propriedade de pessoas e e assim Tem tantas tem tanto contexto tem tanta coisa que rima com os dias atuais e com você ser
doutor ou você ser chefe e você ser alguém porque você manda em outras pessoas não tô nem falando no sentido de manda negativo positivamente mas assim você é alguém de respeito se você tem muitos funcionários quantas pessoas te atendem te obedecem e esse lance de né um apartamento de classe média classe média alta tem que ter o elevador de serviço e por onde os prestadores de serviço vão entrar e vão fazer as coisas de casa a noção de que você é uma pessoa chique se você tem a unha feita porque você não tem que lavar
sua própria louça eh Você tem tempo de ir pra praia ou fazer alguma coisa porque tem outras pessoas fazendo fazend no seu trabalho por você e o quanto dessa dessa mudança ainda ressu até hoje e o quanto dessa noção de que para você ser um cidadão você tem que ser dono de outro cidadão a gente ainda vê e da propriedade privada abraçar isso né é eu acho que essa é uma pergunta muito importante que permite a gente fazer um arco eh do Brasil independente né do Brasil que se propõe a ser uma nação independente Soberana
né que é o que acontece a partir de 1822 de uma maneira específica eu sou até um pouco contrária a uma uma linha que tenta diminuir a importância da Independência acho que a independência ela é um momento crucial é uma transformação na história do Brasil também e talvez sobretudo por ser uma nova aposta no racismo como um sistema de poder e no caso específico que você eh eh mencionou que é a Constituição de 1924 né que é fruto na verdade da constituinte de 23 que é uma constituinte uma assembleia constituinte Intensa com a intervenção de
Dom Pedro io né dissolução da Assembleia Então ela é é politicamente muito eh conturbada você tem a saída do do Bonifácio que é o que se considera o patrono da Independência enfim eh mas tem uma dimensão que eu acho que é muito interessante que é basicamente o que você disse né é uma constituição é a nossa primeira constituição até hoje a constituição mais longeva da nossa história né Eh é uma constituição em que você não vê a palavra de escravidão em nenhum momento ela não aparece a palavra não aparece né mas você tem uma alusão
à escravidão justamente no artigo 179 que é o artigo que garante que todo cidadão brasileiro tem direito à propriedade privada e qual era o tipo de propriedade privada mais difundido no Brasil da época a posse de outras pessoas né a propriedade de outras pessoas Então você tem aí uma a criação de um mecanismo ou a consolidação de um mecanismo que se mantém até hoje quando a gente pensa na estrutura racista do Brasil que é o uso do Silêncio tem um livro que na minha opinião um dos livros mais incríveis que já foram escritos de um
de um Historiador e antropólogo haitiano chamado Michel RF truot que chama silenciando o passado que acabou de receber uma uma bela tradução aqui num por uma editora brasileira a cobogó e é um livro em que ele fala justamente isso como você não falar escolher não falar sobre o passado é um tremendo exercício de poder então o que que essa constituição faz ela não fala sobre a escravidão que já começava a ser questionada pelo movimento abolicionista fora todas as assuntos da população escravizada que desde CPRE lutam contra a escravidão no começo do século XIX o abolicionismo
se torna uma força política importante sobretudo na Inglaterra que até pouquíssimo tempo antes tinha sido a maior traficante de escravizados do mundo né né então você tem uma virada histórica aí na na eh eh na Inglaterra que tá vinculada também À Revolução do Haiti a leitura que é que né que a Inglaterra faz essa revolução do heti também mas o fato é que o movimento evolucionista tava tava crescendo Então já tem né e e nessa Assembleia constituinte o próprio Bonifácio que é um homem que tinha né Eh eh eh uma uma enfim que tinha uma
uma uma percepção tinha passado muito tempo na Inglaterra tinha uma percepção eh um pouco diferenciada das relações ele chega a fazer a proposta de uma emancipação gradual da escravidão no Brasil que nem vai ser debatida E por quê Porque o amálgama o cimento aquilo que vai unir o Brasil em torno da formação de uma única nação é a condição de propriedade proprietário de escravizados Essa é a condição que vai é esse sentimento que Vai juntar pessoas que tinham eh que viviam né que falavam português nem muito parecido né E que viviam em diferentes partes do
da dessa América portuguesa a gente não pode esquecer que o Brasil é um país de de dimensões continentais então o que que unia uma pessoa né um homem branco livre do Rio Grande do Sul com alguém do GR Pará com alguém da eles não tinham não tinham uma Né nenhuma nação não nasce com esse sentimento já aflorado né vários estudos demonstram que é uma construção que vai sendo feita agora o que que liga essas pessoas o que que faz com que elas se conectem né Eh por um lado você tem né estudos também já consolidados
de uma formação e muito de uma mesma formação a formação da classe intelectual política né brasileira e econômica se dá em Coimbra todo mundo vai paraa mesma Universidade então isso né você tem Digamos um controle de de de de do que se pensa né maior mas Sobretudo o fato de que essas pessoas são proprietários de escravizados Então você tem no período colonial a intensificação do tráfico por conta da entrada desses colonos brasileiros no tráfico Então os maiores traficantes a partir do século x1i não são mais os portugueses aqui pro Brasil são os próprios brasileiros Isso
facilita né a entrada desses africanos no Brasil com comprar escravizados né o valor de um escravizado nunca foi barato tá então assim é um valor significativamente elevado a gente pode fazer comparação com carro né seria mais ou menos como adquirir um carro então não é qualquer pessoa que pode comprar eh um carro né Eh então a a entrada desses traficantes faz com que você tenha uma maior facilidade de aquisição desse desse bem então no então no Brasil era mais fácil comprar um africano escravado do que em outras partes do continente americano então tem eh eh
então o o silenciamento em relação à escravidão foi uma estratégia utilizada por essa classe de proprietários que era uma classe diversa e talvez uma das maiores comprovações disso são as as muitas rebeliões que T nesse primeiro reinado depois as chamadas eh eh eh eh eh eh voltas eh regenciais insurreições regenciais no período regencial Então você tem muita discussão política acontecendo nesse momento do Brasil né mas o limite dessa discussão se dá geralmente até o questionamento da escravidão quando a escravidão começa a ser questionada em muitos casos essas sublevações elas acabam porque é como se fosse
um grande acordo que que é travado entre essa ess esses proprietários né E tem uma frase do luí Felipe de Elen Castro que é um dos dos maior historiadores do Brasil que ele diz o Brasil né o o o estado brasileiro nasce apostando na escravidão pro Futuro né é exatamente isso Só que essa aposta ela se dá por meio do Silêncio num primeiro momento na Constituição né então a constituição não fala sobre escravidão mas é sabido que a escravidão é a principal forma de propriedade privada que está garantida a todo o cidadão por sua vez
para você exercer o direito do voto você tem que ter eh você tem que receber uma quantia né Ganhar ao longo do ano uma quantia específica então é um recorte censitário né E e esse recorte ele é garantido em última instância pela quantidade de escravizados que você tem então né não está escrito que é o escravizado que vai garantir o direito à Cidadania do brasileiro e brasileira que tá se quer dizer do brasileiro brasileira não tinha cidadania nenhuma nesse momento né Mas se a gente faz uma análise CR usada é nessa conclusão que a gente
chega então quem que vai poder votar é quem tem o número X de escravizados e que consegue uma renda anual x e quem vai poder se candidatar e ser eleito em última instância é quem ganha 2x ou seja né Eh a condição de proprietário de escravizados é o que vai definir o que é cidadania no Brasil esse essa é na minha perspectiva né a maior herança da escravidão no Brasil nos dia de hoje é esse etos do proprietário de escravizado do Senhor de Engenho esse etos existe né cotidianamente quando a gente tem no Brasil né
Eh eh a a Instância do quarto de empregada que é uma coisa né que que é a quase que uma transposição do período da escravidão pros dias atuais né quando a gente vê por exemplo situações de uma mulher no Leblon aqui no Rio de Janeiro que resolveu bater no entregador de de aplicativo porque ele demorou porque ele não quis subir então essa coisa do que você sabe com quem você tá falando né que é uma expressão muito corriqueira aqui no Brasil ela é em grande medida ordenada por esse passado de proprietário de escravizado E por
quê isso é uma dimensão que eu tento também trazer no livro né porque a gente costuma fazer uma oposição né nós que vivemos no mundo democrático quase sempre né enf Eh aí a oposição se dá entre escravidão e liberdade na vigência da escravidão os polos opostos não são escravidão e liberdade os polos opostos são escravizado e proprietário de escravizado a liberdade é algo que se dá Entre esses dois polos então quanto mais perto de proprietário de escravizado estou mais perto eu sou de ser livre ou uma das maneiras que eu tenho de garantir a minha
liberdade é virar um proprietário de escravizado E no meio né E nessa linha aqui você tem o racismo operando então mesmo que eu seja uma pessoa negra livre né se eu não sou proprietário de escravizado a minha a minha a minha liberdade tá tá em questão e estava né a alforria por exemplo que é a possibilidade de um escravizado comprar a sua liberdade ou adquirir a sua liberdade né ela era uma lei costumeira até 1871 ou se ou seja não havia nenhuma lei que regesse efetivamente a uforia então um senhor de escravos poderia simplesmente suspender
o foria que ele deu por escravizado que ele quis não tinha nenhum aparelho legal que impedisse ele de fazer isso claro que isso muitas vezes não acontecia porque a forrer ela vira uma espécie também de válvula de escape da escravidão Então isso é uma condição também interessante para pontuar um pouco como se deu a história escravidão no Brasil Como você tem a possibilidade da escravidão ela tá dada no Brasil caso algo que era muito mais difícil por exemplo nos Estados Unidos né quando um africano escravizado chega aqui ele entende que ele pode conseguir a liberdade
dele por alguns mecanismos né não são nem 5% dos escravizados que conseguem ou comprar ou adquirir alforria o número é pequeno mas só dessa possibilidade est no horizonte isso vai mudar inclusive as ações desses escravizados em busca dessa Liberdade Então afor ela é uma válvula de escape sem sombra de dúvida mas que tá na mão do proprietário quem define em última instância é o proprietário e tanto é assim que é por conta dessa desse controle que você vai criar o clientelismo sobretudo nas áreas rurais então quando eu consigo eu adquiro né Sei lá uma senhora
que era muito católica morreu e deixou as suas mucamas Livres essas mucamas não vão pegar a sua trouxinha e vão sair por aí é muito difícil acontecer elas geralmente vão ficar em torno da casa senhorial porque elas sabem que o filho daquela senhora pode suspender a liberdade delas a qualquer momento então isso vai criando também uma uma relação de clientelismo que é muito característica do Brasil né Então essa condição de proprietário de escravizados ela organiza a sociedade brasileira durante a vigência da escravidão durante toda a vigência da escravidão no Brasil então são quase 400 anos
e ela se mantém como um etos né na na própria na ideia de de acesso à Cidadania de uma hierarquização da Cidadania né porque a gente vive num país em que tem pessoas que acreditam que são mais cidadãs do que outras que T mais direitos do que outros e isso tá muito imbuído desse desse local de pertencimento como proprietário do escravizados que ao meu ver é uma dimensão que a gente fala muito pouco então a gente tem todo um um um um movimento que eu acho que é fundamental de recuperar as raízes africanas né de
entender que esses africanos que vieram para cá não eram só escravizados né eles vêm com saberes eles constróem a mentalidade do Brasil eles são uma força de trabalho do país mas ninguém fala que as pessoas eram proprietárias escravizadas então as pessoas né a gente cria uma Isso é uma uma Mais uma perversidade do racismo no Brasil você cria no século XX uma estrutura que vai usar a escola como principal ferramenta para manutenção do racismo na qual a criança negra aprende que é feio descendente escravizado mas ninguém aprende que é feio né que é algo de
menor valor ser descendente de proprietário escravizado alguém que compra uma pessoa que vive do trabalho do outro que expropria sistematicamente que tem o direito de vida e morte isso não é questionado nas escolas Então essa é uma longuíssima duração da da história da escravidão e do racismo no Brasil dessa desse embricamento né das duas coisas que ente assim a partir do momento que a escravidão ela deixa de existir né o racismo se reatualiza na verdade ele tá quando a gente pega né com mais cuidado né os mecanismos do tempo então eu sou uma uma grande
entusiasta do século XIX não é por acaso acho que o século XIX explica muito o Brasil de hoje quando a gente vai estudar por exemplo o abolicionismo que que a gente sabe sobre a abolição no Brasil muito pouco né a gente conhece a Princesa Isabel a lei urea que né Talvez o quê Joaquim Nabuco né o Rui Barbosa pessoas que t a sua importância no processo de Abolição abolicionistas importantes a prina Isabel assina lei Mas que nem de longe explicam o que foi o abolicionismo o abolicionismo no Brasil foi o primeiro grande movimento social do
país e um movimento que era eminentemente Popular tanto que a primeira província a decretar a abolição é o Ceará por conta da rebelião dos Jangadeiros que que se simplesmente é isso que acontece os Jangadeiros em 1884 se rebelam e dizem que não vão mais traficar fazer o traficar não eles não traficavam eles faziam o transporte de Africanos escravizados ilegal eles falaram que não vão mais fazer E aí começa um movimento gigantesco e o governador de província é obrigado a decretar o fim da escravidão na Província quatro anos antes da princessa Isabel logo depois eh eh
Manaus acontece a mesma coisa né na prov do Amazonas então eh eh isso a gente não aprende na escola a gente não conhece os grandes abolicionistas negros do país André Rebolsas né Luiz Gama José do Patrocínio a gente não sabe a importância que o teatro teve para difundir a as ideias abolicionistas né então a gente tem um olhar que é de novo propositadamente construído assim para achar que a abolição foi uma dádiva de uma princesa e mais meia dza de homens brancos quando na verdade não a abolição foi decretada na lei de 13 de maio
na lei áurea quando não havia mais para onde esticar é é muito provável em história a gente não tem e se né E se mas fazendo esse exercício assim se a Princesa Isabel não tivesse decretado a abolição é possível que o Brasil tivesse vivido algo muito próximo a uma revolução Popular ou uma rebelião de grande monta Popular Então a gente tem essa a gente não conhece esses né que não são nem por menores Na verdade são são são dimensões interessantíssimas da história né e de novo o silenciamento então o que que a gente faz a
gente não fala sobre isso a gente não fala que que a n eh Sempre converso muito né com pessoas que tem pelo menos 3 mais de 35 né mas eu acho que isso ainda mudou pouco nas nas escolas a gente aprende uma história do Brasil que é sempre uma uma uma ideia de Mesmice como se nada mudasse uma história um pouco desinteressante né eu lembro da minha experiência como aluna não gostava da história do Brasil eu entrei na universidade para fazer para ser professora de de idade média Olha só Ainda bem que a universidade foi
lá e deu a a reviravolta que precisava dar obrigada a USP né mas eh mas eu lembro de quando eu era professora de de de escolas os meus alunos e alunas falam Professor história do Brasil é chato vamos sei lá Primeira Guerra primeira guerra guerra e segunda guerra mundial são são né os top 10 estão vendo os top 10 dos alunos mas por qu porque a história do Brasil é contada como se nunca começa acontecendo nada aí sai um um rei português aí entra o filho dele né aí aí entra o filho do filho aí
tem uma uma uma uma uma uma república que também não é tão quando na verdade assim claro que a gente tem uma série de manutenções na história e o racismo é a principal delas a gente precisa entender isso mas a história do Brasil ela é cravada por rebelião por insurgência por revolta por vários heróis populares aproveitando o contexto texto de ensino in eh tem uma passagem sua bem marcante para mim Ah já mais pro fim do livro falando do de Tempos Modernos pós década de 60 para cá vai de como o esse silenciamento eh proposital
planejado chega nas escolas como uma reforma do sistema de ensino com a mudança da gente ter por exemplo estudos sociais e não necessariamente história e geografia e uma outra coisa que me marcou demais a gente tem uma discussão da da história das escolas mas eu não tinha visto esse aspecto dela que é essa noção de que eh você vai levando a fronteira para garantir que de qualquer maneira você manté a segmentação que eu quero dizer o seguinte antes você tinha aquela divisão de só vota quem é Alfabetizado Mas a partir do momento que você precisa
de pessoas alfabetizadas para trabalhar então você leva a alfabetização até elas agora você precisa colocar um outro degrau aqui que vai separar privilégios e como esse degrau virou a criação do ensino superior de qualidade né então O que explica o declínio do Ensino Fundamental e Médio das grandes escolas excelentes públicas para uma coisa massificada sem conteúdo que só vai fazer o mínimo e leva esse bastão do que seria um bom ensino ensino de qualidade pro ensino superior e você coloca a fronteira que não é mais alfabetização mas é o vestibular para garantir quem entra ali
e talvez não por coincidência aí você começa a ter os privilégios legais de quem tem uma graduação né Eh e de que acesso ao que que você vai ter com esse novo patamar eh que assim me desperta para esse apagamento e me cria um alerta para o que que vai acontecer com a universidade pública agora que essa barreira começa a cair com cotas o que que vão fazer né se não vão transformar a universidade pública no ensino público né e deixar isso desandar e e e levar esse bastão para outro lugar mas ficando na parte
do apagamento histórico como que isso acontece O que que a gente vê na educ moderna que que vem desse impulso é essa pergunta que você fez essa esse início da sua pergunta que é mais específicamente sobre a reforma que cria né as ciências eh eh Ciências Sociais né Eh educação básica ela é uma reforma que acontece em meio a ditadura militar no Brasil né a reforma de 1971 que tem como fundamento Justamente esse criar uma de trabalhadores que tivesse o mínimo de qualificação inclusive para um desenvolvimento econômico que estava sendo gestado pela já vinha sendo
gestado desde né do estado novo com juro Vargas mas havia um investimento na industrialização Nacional claro que com a ditadura militar Você tem entrado do Capital estrangeiro de uma maneira que ainda não tinha tido antes né Eh mas o objetivo é você criar uma uma escola que garantisse uma formação muito Rasa e muito pouco crítica né então não Por acaso as ciências humanas são as ciências mais afetadas dentro da educação nesse momento específico Então você esvazia a quantidade de horas que esses alunos vão ter você esvazia eh eh quer dizer você determina Quais são os
conteúdos que vão ser trabalhados E como vão ser trabalhados então toda uma reforma anterior da década de 30 e 40 é da escola nova que até pregava tanto a autonomia do professor quanto uma uma uma educação mais crítica né da formação crítica dos alunos isso cai por terra durante a ditadura militar né O que a gente vê exatamente o contrário tanto que depois disso a gente tem um outro movimento com a rede democratização que é um uma tentativa de correr atrás dessa criticidade né que é formação da da da LDB a discussão sobre a questão
racial que na verdade ela se inicia na na Constituição de de 88 mas ela a constituição decide não tratar desse assunto e só vai tratar muito mais paraa frente com a promulgação da lei 10.639 que acontece em 2003 Então são muitos anos depois né Você tem um debate que é trazido pelo movimento negro para que a questão racial seja uma questão que ordene também a educação básica então Eh essa o que a gente tem né e o Darc Ribeiro tem uma uma frase que ela é absolutamente eh Preciso né e a falência da educação no
Brasil ela é um projeto político e é um projeto que tem bastante tempo então se a gente faz um rec lá atrás e que deu excelentes resultados né porque a gente vive num mundo que tá organizado pela ideia da meritocracia que uma ideia é absolutamente falaciosa de que nós né a depender de quanto a gente se esforça a gente vai conseguir ou não o nosso mérito o nosso sucesso o problema básico é que a gente ninguém sai do mesmo lugar né gente não sai do mesmo patamar Então você já começa né a premissa da meritocracia
ela tá equivocada eh na verdade a meritocracia é até curioso é um conceito que foi criado por um sociólogo inglês numa crítica contundente ao liberalismo e que foi relida pelos neoliberais criando essa ideia de que basta você né se se esforçar e empreender que você vai conseguir quando na verdade a gente sabe né que você não pode não há como ter uma competição justa entre um estudante que tá prestando vestibular e que estudou a vida inteira numa escola pública é filha de uma empregada doméstica e que tem que ajudar a mãe também a trabalhar durante
o final de semana e o menino que estuda numa escola particular é herdeiro de não sei quem assim essas pessoas elas não estão saindo do mesmo lugar então assim a competição ela é absolutamente desigual né por isso que a gente usa muitas vezes em educação o termo Equidade que é garantir que todos partam da mesma condição e por isso que eu advogo o sempre a maior saída para um país democrático é o investimento total e absoluto na escola pública é só escola pública que vai garantir essa Equidade se todos os brasileiros e brasileiras tivessem escolas
públicas de qualidade Aí sim quem sabe a gente poderia começar a conversar em meritocracia embora eu não acredite muito nesse conceito de meritocracia né nem nem utopicamente falando para dar um exemplo do que me marca na conversa com você de como a gente precisa ter esse outro olhar para entender coisas que parecem discordantes e do quanto a gente aplicar modelos de fora do Brasil paraa nossa situação ignorando o nosso passado racista e o presente também faz a gente não conseguir entender as coisas eu não sei de um exemplo de um país com o sistema público
de ensino que não tem uma população homogênea Ah o sistema de ensino japonês o sistema de ensino chinês chinês Ok não é tão homogêneo mas também não é em toda a China que o sistema de ensino vai ser bom o o sistema de ensino coreano o sistema de ensino nórdico onde você tem escola pública de sei lá japoneses que se vem como japoneses que vão estudar é uma coisa agora onde você tem o ensino público onde diferentes grupos vão pra escola vir um outro abismo Você tem uma situação no mínimo como americana onde você pode
ter boas escolas públicas mas porque o vínculo de o orçamento delas é o orçamento do bairro que determina a qualidade da escola que tá ali e aí você tem uma disputa Insana para poder colocar o filho no bairro certo para ele ter aquela boa escola então no mínimo um mecanismo desse de viabilizar a desigualdade vai ter para você ter uma diferença de escolas né É porque se a gente fizer um recu maior ainda no tempo né Nós Somos a modernidade quer dizer a contemporaneidade que a gente vive que é essa era contemporânea ela é marcada
pela Revolução Francesa e pelo pelas transformações que a Revolução Francesa traz a educação pública ela é um legado da Revolução Francesa criação dos liceus depois isso é replicado ao longo do século XIX em vários países né então a educ a ela é o mecanismo que viabiliza em última instância você mudar de classe social A Ascensão social ela tá vinculada à sua formação desculpa eu sou isso encarnado só tenho essa oportunidade contigo aqui por causa da minha educação pública Exatamente exatamente e né Eu também fiz toda a minha formação eh eh superior em educação pública eu
estudei em escolas particulares até escolas particulares bem assim renomadas mas eu era bolsista né bolsista a vida inteira porque minha mãe trabalhava na escola como coordenadora então sempre estudei numa escola que meus pais não teriam como pagar né Se eu tivesse que pagar para mim PR os meus dois irmãos seria impossível então então é isso é sempre na minha formação isso sempre foi colocado o que você a possibilidade que você tem é essa meu pai até falava a escola e meu pai e minha mãe falava a escola a faculdade que eu vou te pagar é
a USP então assim você dá seu jeito e passa que foi que a gente todo mundo fez a gente deu o nosso jeito e acabou passando os os três filhos né no ocidente é a educação que vai garantir ou vai na verdade garantir não vai garantir mas ela é a porta de entrada ela vai viabilizar uma possibilidade de ascensão social então a maior a coisa mais eficiente que você tem para fazer é controlar essa educação é não garantir que ela de fato seja pública igualitária gratuita para todas as pessoas é você escalonando essa educação então
a história do Brasil sobretudo a história da educação do Brasil ela é marcada por diferentes ondas em que a gente consegue observar como que a educação ela foi tomada eh eh como esse esse veículo de de manutenção do privilégio né então a gente se a gente olha pro século XIX Você não tem uma educação você não tem políticas de educação pública isso não existe você tem as escolas do imperador que são pouquíssimas você tem a proibição de que escravizados eh eh estudassem né Eh e e a permissão de que negros Livres estudassem ela ela ficava
no âmbito das províncias então cada província decidia mas no fundo eh por mais que tivesse que fosse possível que essas escolas existissem e elas existiram é preciso dizer né Tem exemplos muito interessantes no Rio de Janeiro tem Escola Pré testato que é de um professor negro que pede autorização para ensinar meninos negros ali no centro do Rio de Janeiro a Maria Firmina dos Reis que é uma das maiores escritoras que a gente tem a primeira escritora abolicionista do Brasil que escreve um romance abolicionista na América Latina ela cria uma escola né ela foi professora a
vida toda depois ela cria uma escola ao que tudo indica a primeira escola mista do país em que aceitavam meninos e meninas então assim você tem a população negra que entende que você que a educação é esse mecanismo é esse veículo de acesso e que tá correndo atrás disso agora o Estado Nacional ele vai controlar o quanto ele pode a educação e o que se ensina né CL e o que se ensina obviamente Então você tem ondas Então você tem esse controle restrito e você tem movimentos os movimentos sociais chegando e aí você tem uma
negociação né então do período eh eh regencial né na verdade desde o segundo reinado no Brasil de da década de 1840 até 1930 a educação pública se basicamente não tem política de educação pública Então nem a proclamação da república mudou isso muito pelo contrário o que a república fez foi fazer da alfabetização o critério para definir quem pode ou não votar Dentro os cidadãos brasileiros muda na verdade isso já tinha sido mudado da da da tinha tido uma emenda da Constituição de 1824 durante o império quando eles começam a observar que os o número de
negros livre está crescendo eles falam bom esses negros Livres estão crescendo eles vão conseguir chegar a a receber o x que precisava para poder votar Então a gente vai ter que mudar o critério não é mais esse critério o critério vai ser a alfabetização porque eles estavam controlando a educação pública quando a a o Brasil vira uma república você tem um novo regime você pode Reinventar o que você quiser né então e qual que é a escolha política é manter a o alfabetização como critério o letramento como critério para quem pode votar e quem pode
se candidatar né e de novo você tá falando de um país que tem 95% da população analfabeta Qual é a política de educação pública que existe nesse período nenhuma São 40 anos de primeira repúbl pública e você não tem nenhuma grande política contundente do Estado Nacional Brasileiro aí você tem uma série de movimentos né sociais diferentes movimentos negros que estão ali né enfim reivindicando isso o Vargas quando assume o poder entende isso cria o ministério da da educação e da saúde né enfim numa perspectiva eugenista muito complicada né enfim sabemos que gú Vargas eh eh
flertava abertamente com o nazismo a história da alga Prestes conta muito bem isso e se a gente olha com cuidado paraas políticas educacionais no da década de 30 a gente vai ver que os pressupostos Eugenia estão todos ali ordenando né mas existe uma política de educação pública pensada de maneira mais Ampla e sistemática então é uma resposta que o varga está dando pros movimentos sociais e a partir daí a gente tem ampliação cada vez maior né da sociedade civil pensando essa educação isso vai até a ditadura militar a ditadura militar suspende isso suspende essa criticidade
e volta para um controle muito efetivo do que deve ser ensinado quem vão ser os heróis da Pátria Quais são os assuntos e não é por acaso que é toda a reforma né sobretudo quando ela é feita de uma perspectiva muito conservadora as principais áreas que são controladas né E que passam a a ter censuras efetivas é história geografia e português literatura enfim são as humanidades né que tem uma um objetivo de de formar a o cidadão e a né cidad cidadão brasileiro de maneira mais crítica Então o que o que a gente tem é
isso assim é até interessante pensar isso que a história da educação no Brasil é uma das maneiras mais eficazes de entender como é que o racismo funcionou no país sem entender o racismo não entende a história da educação do Brasil exatamente você fica achando né então quem que pode ser aluno quem que não pode ser aluno né como é que os professores tratam essa diversidade entre os alunos Isso é um problema que a gente tem até hoje né vários estudos mostram como crianças esses de alunos negos e alunos brancos porque você tem uma uma marca
né aquela marca da da suspensão generalizada para o aluno negro não é só quando ele vira um jovem de 16 anos é quando ele é uma criança entendeu ele já nasceu fadado ao fracasso é isso que o racismo faz com as pessoas negras o fracasso é o caminho que o racismo aponta você conseguir sair disso é porque você fez o empreendimento absurdo e geralmente é as pessoas fazem mesmo né e é um empreendimento também comunitário Então tem um lado bonito nessa história que é essa vida Comunitária o que que as mães abrem mão de fazer
por si próprias para poderem garantir uma escola melhor e uma educação melhor PR os filhos ou os pais né mas a educação a histora da educação no Brasil a falência ela é em grande medida a manutenção da supremacia branca no Brasil é para garantir que essa supremacia continu no poder que ela não seja questionada que a gente nem consiga saber que ela existe né E aí o mío da democracia racial ele é absolutamente perfeito nesse nesse sentido né O cabé guer munanga que é um sociólogo importantíssimo sociólogo antropólogo da USP professor da USP ele usa
o termo né um crime perfeito eh o racismo no Brasil é um crime perfeito porque você não consegue nem criminalizar você não consegue nem apontar a ação racista historicamente falando porque fala não é bem assim né Você sempre tem a a mesena ela foi lida que é uma característica da população brasileira nós somos uma população messen isso é um fato incontornável né mas essa é uma venação que ela não é fruto só do amor entre as pessoas ela é fruto inclusive historicamente de violência sexual de homens brancos contra mulheres africanas e mulheres indígenas é assim
é uma estrutura que ela é patriarcal misógina racista né então a gente tem um episódio inteiro sobre o o a reconstrução da violência que foi a história do Brasil pela genética dos brasileiros e é 100% isso eu falei lá e posso repetir aqui tenho mitocôndria indígena Então minha linhagem materna indígena e a linhagem masculina europeia assim não pronto é isso sabe E e essa é a maior parte da da história dos brasileiros e brasileiras é isso é assim tá tá assim é isso é muito curioso assim porque a o racismo ele é matemático você comprou
coma matematicamente que ele existe você comprova geneticamente que o racismo tá tá ali não por uma ideia de desigualdade entre os tipos humanos porque a gente sabe que do ponto de vista biológico as raças não existem as raças humanas são uma invenção né uma invenção que foi criada para eh manter um sistema de poder que é o sistema racista da supremacia Branca Então mas do ponto de vista sociológico a gente tem que usar esse esse termo para poder entender como é que as coisas funcionam porque ele ele não é um conceito que existe do ponto
de vista biológico mas ele funciona sociologicamente ele é aplicado e ele continua ordenando o Brasil e na verdade todo o ocidente no mínimo Mas voltando pr pra pergunta da educação eh a educação ela é uma ferramenta muito eficaz para o controle de um pensamento crítico e por conta disso ela é uma ferramenta muito eficaz para a manutenção do racismo por isso que eu também advogo que ela é o melhor caminho na luta com contra o racismo né você tem que é é na escola que a gente pode começar a ver uma transformação efetiva né a
gente tem alguns caminhos já sendo traçados enfim né se fala muito numa num educação antirracista letramento racial nos últimos anos isso ganhou uma notoriedade que é fundamental né mas eu acho que a gente precisa ser mais ousado do que a gente vem sendo assim sobretudo eu penso falo mais da área da história assim eu acho que a gente tinha que mudar radicalmente como a gente ensina história no Brasil radicalmente e o que a gente tem visto com a mudança por exemplo do ensino médio novo ensino médio ele é quase que uma reatualização do que a
ditadura militar fez no ensino médio também que é esvaziar os conteúdos mais críticos né Eh pedir para jovens de 14 e 15 anos já já entenderem para onde que eles vão na na vida se formarem profissionalmente e não criticamente formarem isso na verdade essa reforma é para criar massa de é classe trabalhadora o menos crítica possível né então isso é muito complicado Eu particularmente sou sou radicalmente contra a forma como a gente a gente faz educação acho que assim podia acho que a universidade ela tem que ser um espaço que qualquer pessoa que queira estar
possa estar mas também acredito que assim a universidade não pode ser a única opção porque não cabe todo mundo na universidade Não dá para ser todo mundo né que a gente tem que fazer e isso também é uma herança da escravidão no BR Brasil é pagar melhor por serviços que são feitos por técnicos por exemplo né ou por pesadores de serviço então se você vai para países ditos países desenvolvidos a distância do salário eh de um professor universitário e de um motorista de ônibus é muito menor do que aqui no Brasil coincidentemente os dois são
da mesma etnia né exatamente aqui já não ou dificilmente né então eh eh essa busca do nessa coisa bacharelesco que o Brasil tem desde o século XIX né então e de não querer também de não dá muita eh eh notoriedade para os serviços feitos os serviços manuais mas ISS tudo é anônimo né exatamente eh eh isso é também uma herança da escravidão no Brasil sem sombra de dúvidas Teu livro rima demais nisso inir rima demais assim a hora que você descreve como o a imigração do século XIX ali principalmente do 20 é pensada para você
manter um excedente de trabalhadores que precariza a condição de trabalho né traz mais mão de obra porque não pode ter emprego sobrando traz me sua tão familiar com queixas modernas de que a o índice de desemprego no Brasil Tá baixo demais e que isso traria inflação que que é agoniante é exatamente e essa essa história da imigração acho que ela é um ponto muito crucial da história do Brasil porque ela marca exatamente a a transição do né de uma sociedade escravista para uma sociedade livre né Eh então e ela tem essa tem duplo um duplo
papel essa essa emigração né Por um lado é de fato garantir um excedente de mão deobra né que era fundamental mas é também controlar Quem é esse excedente sim sim vamos dar emprego vamos dar terra e Posses Vamos fazer uma mini reforma agrária aqui mas para quem a gente trouxer da Europa para que a gente gente trouxer da Europa e aí também não é qualquer um que se quer da Europa né Por quê Porque também tinha como objetivo quer dizer o objetivo maior o objetivo sem sombra de dúvida da imigração pensada pelo Estado Nacional Brasileiro
volto a frisar né não tô falando da vinda das famílias Imigrantes do quantas pessoas sofreram e tiveram que trabalhar isso do mérito individual de quem exatamente não é sobre isso né É sobre a escolha do Estado Nacional Brasileiro é embranquecer a população brasileira é trazer esse excedente garantir que esse acidente seja cada vez mais branco porque havia um pressuposto né dado no ocidente de que as sociedad que conseguiriam se desenvolver entrar na égide na era da modernidade da Ordem do Progresso que estão estampados na nossa bandeira era uma população Branca tem o racismo científico e
continua ass ideologia ordenadora do idente Então os políticos brasileiros na sua imensa maioria brancos estão olhando a população brasileira que já era profundamente m genado e fala bom a gente precisa resolver esse problema como é que a gente resolve a gente traz Imigrantes para cá né e por conta dos estudos que se achava muito científicos na época né eles acreditavam que essa miseração ela garantiria no espaço de quatro gerações ou seja de um século que a população brasileira chegasse a um percentual de zero por de negros Esse é o objetivo e assim isso foi eh
explicitado no primeiro Congresso Mundial das raças em 1910 em Londres então o herm Fonseca presidente do Brasil escolhe o Batista la seda que era um dos mais importantes intelectuais do país né era era o diretor do Museu Nacional para ele mostrar pro mundo a saída que o Brasil estava trazendo para virar um país civilizado e moderno a saída é embranquecer a população e para embranquecer a população El já tinha entendido por conta das experiências anteriores no período do império que alemães não eram não era tão legal trazer alemães por mais que eles fossem bem brancos
né os italianos quer dier os italianos sim os alemães não eram tão interessantes os Suíços não eram tão interessantes porque eles criavam suas próprias comunidades e não se relacionavam tanto com a população brasileira então o que que eles queriam pessoas sobretudo homens brancos né latinos que fossem católicos porque o catolicismo seria essa via de acess fora também a facilidade da língua né Então as línguas de de origem Latina também facilitariam essa relação E é isso que acontece se você pega os primeiros 20 anos 25 quase 30 anos de de de intensa imigração então de 1890
quando é feita a primeira a primeira lei a 1920 né Você só tem italianos espanhóis e portugueses vindo para Brasil era proibido a vinda de African anos Livres Então os africanos que vieram até final do século XIX na condição de escravizados eles não poderiam entrar na condição de Livres né os japoneses também não eram bem-vindos nesse primeiro momento e chineses aí isso depois muda um pouco aí você tem uma migração japonesa um pouco mais tardia né mas o objetivo Era exatamente esse né completar ali o que faltou E aí vem também um pouco mais mundo
né islamizados Líbano a no norte da África enfim eh mas o grosso da imigração ela é feita por esses homens e depois a suas famílias também latinas né com esse intuito e do ponto de vista assim não deu certo ho a gente tem na verdade hoje o Brasil é formado por uma população majoritariamente negra né entendendo que negros na categoria do IBGE que são né a conformação dos pretos com os chamados pardos que é um termo super complexo né que tem uma história longa que vale Vale Um podcast acho que esse é um termo que
vale é muito interessante na verdade eu eu já falo há algum tempo se eu tivesse algum tipo de gerência entre os Ministérios eu falo ó gente cria um projeto aí pra gente estudar essa essa questão do Pardo porque é uma é uma temática muito muito interessante e muito constitutiva da da identidade nacional né porque o Pardo ele pode ser qualquer coisa e ao mesmo tempo enfim é é o grosso da população brasileira né então a imigração ela tem esse objetivo e do ponto de vista se do ponto de vista eh eh demográfico né ela não
alcança os objetivos de fato não alcança né a população brasileira hoje mostra o contrário mas do ponto de vista da da criação do Imaginário a ela é muito eficiente muito eficiente né porque você consolida primeiro uma uma dimensão muito equivocada de que eh durante a da escravidão você não tem trabalhadores negros Livres quando é exatamente o contrário Então o movimento abolicionista que começa lá na década de 1860 ele vai conseguindo uma série de vitórias né um movimento que demora quase 30 anos para conseguir o que seria sua vitória maior que a abolição da da escravidão
mas existiam outras outros projetos que não que não se efetivam porque o estado Deal brasileiro não queria né mas o fato é que as vésperas do 13 de Maio de 88 de 18 8 15% da população negra era escravizada os outros 85 eram homens e mulheres livres que não tinham outra opção no mundo a não ser serem trabalhadores então que história é essa de que não tem trabalhador no Brasil que você precisa trazer porque essa história que a gente aprende na escola sim e desculpa tinham que trabalhar inclusive porque se não tivessem trabalhando iam ser
capturados de novo e né Exatamente exatamente né E também tem essa essa dimensão de que assim e que esses homens e mulheres não estariam preparados para trabalhar em liberdade Mas a maior parte deles já eram livres então em última instância assim não sei se precisaríamos de desse contingente significativo de imigrantes que vi porque vieram milhares né s mais de 3 milhões no intervalo de 35 anos é muita gente Claro a gente tá falando num momento da história da humanidade que já tem muita gente no mundo né Muito mais gente no mundo do que tinha antes
mas mesmo assim né a imigração europeia nessa Virada do século XIX pro século XXX paraas Américas ela é é imensa né e no Brasil ela tem esse caráter de formar o cidadão ideal Esse é o objetivo é formar um cidadão ideal e se ele não existe fenotipicamente ele vai existir enquanto ideia isso não mudou no Brasil o Brasil ainda é devedor deste comecinho do século XX o Brasil de hoje de 2025 ainda devedor desse começo do século XX que acredita num país que só vai dar certo se ele for branco mas assim esse momento histórico
em particular do começo da imigração ele me marca demais como eu posso fazer é só para você que eu não faço eu posso dar educação eu posso dar terra da reforma agrária da condição de trabalho da Amparo do estado para você ter Posses ter espaço ter uma história registrada eu só escolho não dá para você que tá aqui há 300 anos 500 anos pedindo por isso eu vou dar para essa outra galera que eu vou trazer daqui na sua cara e você vai ver eles escolherem isso pelos próximos 500 anos muito mais cedo que vocês
eu desculpa eu sou resultado disso né família Marino foi trazida para cá em 1900 e sei lá bolinha achando que provavelmente ia paraa outra América mas foi para essas que foram parar e e tá aí não é exatamente isso acho que esse é o momento muito crucial da história do Brasil por isso que eu gosto de revisitar esses Marcos políticos né porque eles são momentos de escolhas políticas você podia ter feito diferente você escolheu não dar educação não fazer o mínimo de reforma agrária que já foi feito no Brasil que foi basicamente nesse momento depois
disso nunca mais né Eh porque para toda a população você escolhe pelo fenótipo dos sujeitos você gasta dinheiro porque o Brasil subvencion essa essa essas viagens claro que depois esses Imigrantes tinham que pagar muitos deles viviam em condições precárias por conta disso né De novo não é sobre a luta e as mazelas da população Imigrante mas é preciso se ter eh eh consciência de que esses Imigrantes mesmo os mais pobres tinham um trunfo na mão eles eram brancos Esse é o grande trunfo e quando a gente olha os registros né Eh eh de de anúncio
de patrões né procurando empregados nos jornais de época você vê naquela época não tinha problema em falar isso hoje a gente fala boa aparência né boa aparência verou sinônimo de ser branco mas naquela época eles falaram falavam deliberadamente queremos empregar até empregar doméstica que é que é um espaço que sempre foi muito ocupado pelas mulheres negras mas até Nesse caso tem governantas brancas queremos empregados para indústria tal preferência preferência brancos Então você tem é isso é o Estado Nacional junto com essa classe econômica que é formada muitas vezes das mesmas pessoas definindo né quem vai
ter acesso ao trabalho com com mínimo de de dignidade né E ao mesmo tempo que você cria sobretudo no Rio de Janeiro que é uma espécie de grande laboratório dessas políticas de de Hi de higienismo né No começo do século XX você cria a ideia do Malandro do vagabundo né a ideia construída nesse momento para você fazer o quê encarcerar a população negra Então você controla essa população negra né então você não dá possibilidade ou dificulta Mita a possibilidade desse sobretudo dos homens negros conseguirem empregos aí você cria uma categoria que é de vadiagem que
foi sendo construída na virada do século XIX para século XX essa categoria permite que você institucionalize esses homens e também as mulheres em muitos casos ou nas prisões ou nos hospícios E você tá controlando todo mundo e Vida que Segue Mas a gente não é o país do Samba do futebol do carnaval a gente não reconheceu o valor da cultura Negra e junto com a miss generação resolveu isso não a gente reconheceu sim sem somb de dúvida e essa Na verdade acho que foi a Jogada de mestre do Getúlio Vargas que é uma figura que
eu particularmente não gosto acho muito problemático mas eu tenho que tirar o chapéu para ele porque ele soube fazer isso o Getúlio Vargas ele conseguiu eh reatualizar o mito da democracia racial que é um mito que na verdade surge lá no século XIX quando eh no segundo reinado esse intelectualidade fala bom temos que criar uma ideia de Brasil que Brasil é esse depois de de passar da conturbação do primeiro reinado do período regencial que tem muitas revoltas que na minha opinião devem ser tratadas como pequenas guerras civis né porque eram coisas muito intensas eram rebeliões
muito intensas então em 1840 o que que acontece você tem a criação do ihgb e fala a gente precisa definir que Brasil é esse quem são os brasileiros tem con essa história tem que Def é Instituto Histórico geográfico brasileiro né e eh e se cria um concurso para definir quem contaria como se contaria história do Brasil e quem ganha essee concurso é vão márcios que era um homem de origem alemã né Eh e ele diz né a imagem que ele usa ela é muito significativa então o Brasil é um grande Rio Branco com dois afluentes
menores o negro e o indígena e é assim que a gente conta a história do Brasil desde então é um grande a gente pode até hoje em dia né os livros didáticos por conta enfim da da lei 10639 que agora foi atualizada para 11.645 para exigir também a a presença indígena na história eh e por conta dos né da Luta dos movimentos sociais movimentos negros movimentos indígenas você tem nesse dos livros didáticos eu acho muito difícil a gente encontrar livro didático que não tenha boxes falando sobre né heróis negros resistência e movimentos indígenas isso Tá
Mas isso não é o fio condutor da narrativa isso é exceção quando na verdade não é então a gente continua apostando naquilo que que que o vão márcios falou em 1843 vai fazer 200 anos 200 anos e que que o júri Vargas fez retomando a sua pergunta ele reatualiza que que ele fez você tem uma efervescência cultural imensa sobretudo no Rio de Janeiro e e e aqui no enfim pegando São Paulo um pouco da Bahia Você tem uma efervescência dessa cultura Negra né africana ainda ou afro referenciada ele fala não tudo bem a capoeira que
durante muito tempo foi considerada crime as pessoas eram presas por capoeira a né os terreiros de candon black até hoje obviamente vivem uma condição de intolerância absurda e que foi construída nesse né no comecinho do século XX mas que naquela época também era considerado feitiçaria então eram também né enquadrado como crime o futebol que até e eh a carta de resposta do Vasco né em 24 não era considerar você não podia ter ter jogadores negros tinha coisa do pó de arroz enfim ele pega e fala não gente isso não tem mais como como como continuar
e o samba que tá ganhando né então você tem o samba na virada 19 pro 20 tanto na Bahia quanto no Rio de Janeiro é a criação de ranchos carnavalescos as escolas as primeiras escolas de samb Então você tem uma efervescência cultural ali gritando e exigindo ações políticas também que que o Vargas faz ele incorpora isso mas ele ele desafricanização tira essa esse protagonismo africano barra negro e transforma isso em Nacional quando historicamente não é então o carnaval ele a festa do carnaval de rua ela tem uma origem Negra desde o inudo lá no século
XIX com os escravizados né Eh é o samba não tem para onde correr não tem nem como ele é negro ele é uma resposta da população negra à Vida que eles tinham e uma e essa é uma coisa é muito bonita né como que a população negra ISO não é só no Brasil não ela faz a cultura uma maneira de exercer a política já que ela não pode entrar na política formal a cultura vira uma maneira né as expressões culturais se transformam em em ações políticas também e o samba vira isso e o futebol que
tava tendo uma entrada e o surgimento de de grandes craques eh eh eh de grandes jogadores negros então ele incorpora isso cria um discurso nacionalista o que para para parte população negra é um alívio Então você tem muitos negros que são eh eh eh pessoas que gostavam do Júlio Vargas porque ele ele acaba com uma rxa que existia na primeira república entre imigrantes e brasileiros então ele na verdade ele começa a ter ser um pouco xenófobo né enfim o Jú vgas tem uma série de Midas xenófobas mas vidas como nacionalistas né mas você retira esse
esse esse protagonismo negro Então você desaf afiza você tem você tem retirada de instrumentos do sanda para ele ficar menos africano né Eh a Bossa Nova que fica eu não tenho nada contra a Bossa Nova acho a Bossa Nova enfim gosto de bossa nova mas a Bossa Nova É um samba feito com gente branca é isso que a Bossa Nova É é isso porque o o ritmo ele é o o samba um samba mais CAD né mas não foi não fizeram isso com o Rock lá fora também exatamente e nós e aí o que que
você tem junto com o Getúlio Vargas né é uma obra que é muito importante intelectual brasileiro também é muito importante de quem eu não obviamente não gosto mas enfim é é importante lê-lo que é o Gilberto Freire eh que enfim também flertava com fascismo né vai para Portugal eh eh es flertava com fascismo mas ele cria uma ideia de que o Brasil é formado por uma espécie de Harmonia racial no livro Casagrande senzala que ele publica em 1933 e ele vira o a grande síntese do Brasil esse livro é é tomar como se fosse a
grande síntese do Brasil Então onde tá a a contribuição do negro do africano né tá no em algumas palavras tip cafuné né tá no Cuidado tá na comida e acabou né você não tem mais contribuição tanto eu acho que a coisa mais Sagaz desse livro é o título casa grande sem zala o gber freira tava falando onde cada um tem que estar sobre isso então assim o Brasil vai dar certo e todo mundo vai ser brasileiro e a gente vai ser um país o samba do carnaval do futebol com tanto que cada um saiba em
que lugar deve estar então cabe todo mundo no Brasil essa a grande sacada do gertúlio Vargas cabe todo mundo cabe o negro cabe o indígena cabe o f cabe o o o o Imigrante o filho do imig todo mundo cabe com tanto que você sabe em que lugar você pode estar você não pode querer sair do lugar que você tá então nós somos isso não tenho a menor dúvida né em 2025 a gente não tem nenhum século ainda de de né de distanciamento da da era Vargas para hoje nós somos herdeiros do Brasil que a
Era Vargas criou do ponto de vista racial e das ações né Eh mais contundentes do estado claro que a gente teve mudanças importantes né como as cotas raciais a própria reconhecimento do racismo da existência do racismo no Brasil isso foi reconhecido quase que nas vésperas do século XX aqui no Brasil né mas as ações elas são ações adas a partir desse pressuposto né que no final somos todos iguais mas né é todo mundo igual mas eu sei quem é que mora no Leblon eu sei quem é que mora na favela da Maré pegando o exemplo
do Rio de Janeiro ou sem que mora sei lá nos Jardins em São Paulo e sem que mora né enfim Osasco né que é muito próximo ou qualquer então a gente sabe quem tá na periferia e quem tá no centro é é isso né esse lance do cada um no seu lugar me lembra demais a galera que de classe média alta que vai pra Europa por exemplo viver lá e fica horrorizada de ter que lavar prato limpar e fazer as coisas Descobrindo a vida de rei que você consegue ter no Brasil com R 30.000 R
50.000 de salário o que na Europa não te dá uma qualidade de vida diferente da vida de alguém que ganha metade disso mas aqui você tem um salto muito grande de qualidade de vida muito não precisava nem ter nem 30 em 15 você já tem uma vida assim né né de é tô falando para comparar com um salário ali de 5.000€ coisa assim que seria alguém que já tá ganhando bem na Europa Vai perto mas sim sim e e a custa de quem isso aqui né O que que dá esse privilégio para quem ganha tão
bem aqui por que que você depende de uma parte da população eh na miséria ainda né é para isso você só pode ter alguém que que pode pagar né muito mal pago inclusive empregadas domésticas tem pessoas tem la Juma na sua casa porque você tem essa essa essa clivagem absurda porque a gente acha natural essa a palavra é a naturalização é a normatização da desigualdade e da desigualdade que é racial então é natural que uma empregada doméstica ganha r$ 700 quando o salário mínimo é quase o dobro já é o dobro disso é natural porque
eu tô dando comida né ela tá comendo na minha casa às vezes ela dorme na minha casa embora falo dela dormir na minha casa significa que ela vai trabalhar muito mais do que as 8 horas né que hoje são e eh eh significa que ela da Família significa que ela da família né Afinal de contas enfim você trata bem não sei nem qual que que é o critério de tratar bem né Eh sem sombra de dúvidas sim come nem sempre né mas enfim come da minha comida ou da comida que eu comprei porque às vezes
tem a diferença não esse Iogurte não tá você pode comer iogurte Mas esse não então o que a gente tem é é isso eu falei no começo né da da nossa conversa que tem uma uma não é nem umaa expressão é quase que uma categoria de análise né que muitos eh eh que muitos intelectuais negros sobretudo estadunidenses eles usam que essa ideia de de uma de um passado presente né a escravidão ainda é um passado presente no Brasil Ela acabou enquanto instituição mas a a engrenagem que ela criou não foi transformada e ela não foi
transformada porque o Brasil segue negando a centralidade que a questão racial tem na sua organização então assim nenhuma transformação vai se efetivar e nem mesmo a democracia vai ser uma democracia de fato enquanto o Brasil não lidar com a questão racial assim não a nossa e é muito interessante olhar no pro passado e ver Os muitos momentos que a democracia esteve é perigo Quem coloca a democracia a perigo sempre aposta na supremacia Branca sempre sempre né então a democracia só tem a ganhar com a ampliação da Equidade racial né com ou a efetivação dessa Equidade
né de uma maneira mais eh contundente agora é isso a história é feita de ciclos né infelizmente eu acho que a gente tá entrando numa uma outra quadratura um pouco um pouco tensa mas né assim eu eu eu eu confesso que quando eu escrevi esse livro eu escrevi numa condição também muito foi um uma espécie de quase um colapso nervoso que eu tive quando o George Floyd foi assassinado e eu não vi até hoje eu não vi o vídeo não não vejo né mas o que me chamou atenção eu doa de história da América né
então doa doos Estados Unidos de outros países americanos então eu sei que outros homens já foram mortos de maneira muito semelhante a que o George flud foi então não há uma novidade infelizmente naada do George flud a novidade que a gente tem é da resposta né que o movimento eh Black lives matter deu para para esse assassinato mas o que me chamou atenção à época foi como que uma imprensa pretensamente Progressista do Brasil leu isso muito assim endossando o movimento black live matter mas fazendo uma leitura como se no Brasil não existisse assassinados Como o
George Floyd F essas pessoas estão elas elas não sabem onde elas moram elas não olham pro lado elas não estão vendo elas não anda na rua e aí eu fiquei realmente assim tomada de ódio e aí eu tinha meu filho Caçula tinha meses eu estava acho que também tava ainda no no puerpério você ajudou ali Pensando Em que mundo que ele tá entrando né exatamente eu sentei e falei eu vou eu eu escrevi um um copião assim enfim do que seria a ideia do livro eu tinha conversado com o Leandro que é o que é
o meu editor na na todavia mas a tinha feito uma conversa assim muito rápida enfim eu falei eu vou vou jogar vou perguntar se ele topo dois dias depois ele falou topo E aí eu comecei só que eu fui ficando deprimida enquanto eu escrevia o livro porque eu sou me especialista no século XIX então assim eu conhecia muuito a história do século XIX só que eu tive que adentrar o século XX com mais fôlego E aí eu fui vendo que eu foi de fato a ritualização do racismo ela é muito muito constante muito sofisticada então
assim teve um momento que eu falei cara não é é é depressão que a sensação que dá e eu e eu escrevi o livro durante o governo do Jair bolsonaro então ao mesmo tempo que eu que eu olhava e ficava muito indignada com o que tava acontecendo em plena covid eu falava mas isso é muito coerente o que tá acontecendo é muito coerente com a história do Brasil né A gente parece que esqueceu um pouco do que foi essa história e aí o que me fez eh acho que até é bom para para encaminhar para
um fim assim né mas o que me fez dar uma respirada foi olhar pros movimentos negros esses movimentos sempre existiram né esses movimentos de fato todo o ganho que a gente tem de uma sociedade mais justa mais igualitária vem desses movimentos sociais movimentos negros movimentos indígenas movimentos trabalhadores do sem teto do sem terra são esses né das mulheres né são esses movimentos que t essa narrativa oficial que tensionam o que é a história que de fato importa né então o que eu tenho feito hoje é é olhar com muito mais eh não só cuidado mas
de forma muito mais sistemática para esses movimentos para ter a certeza isso eu tenho mas para também falar sobre isso assim as pessoas estão fazendo isso há muito tempo é importante a gente conhecer também esse passado claro que é importante saber dessa orquestração que o racismo tem para saber como ele é complexo e gigante mas é importante saber que sempre teve tensionamento sempre teve conflito a população negra indígena as mulheres elas nunca baixaram a cabeça e falaram sim senhor né O que tem é agora a gente precisa aprender isso e aprender com isso né para
também entender o que que deu certo o que não deu certo Quais foram as estratégias importantes né e a histó E aí aí dá um um alento assim dá um respiro para você olhar pra história do Brasil e fala não tem coisas belíssimas na história do Brasil tem momentos incríveis tem momentos de de de de que mistura né a coisa da como como eu comentei da cultura enquanto forma de fazer política Aí você olha pro samba de outra forma você olha pro carnaval de outra forma você vai olhar pro Teatro Experimental do Negro você vai
ver figuras como grande hotelo entender a importância desse homem né de outros personagens im que a gente basicamente desconhece então agora o que eu faço é pegar esses personagens negros que são poucos pouco conhecidos né e mergulhar mergulhar no que eles produziram desculpa elogio que eu tenho que fazer a sua obra é uma delícia quando você entra nesses trechos no livro de escolher uma personagem escolher um personagem e dar um pouquinho do dia a dia deles e como eles estão vivendo o resultado desse fruto histórico maior ali mas de forma pessoal assim é é muito
gostoso isso isso foi foi foi a estratégia que eu fiz para sobreviver escitando do livro Falei de fato uma hora que eu que eu empaquei o falava eu tinha até ficava sem graça de escrever eh pro Leandro porque assim eu tinha já tinha que tem o livro Demorou ele saiu mais de um ano de atraso né mas T teve a covid eu tive covid meu filho era pequeno teve covid aí meu marido teve todo mundo teve covid né cer minha filha não tem então teve uma coisa né E era uma você sabe melhor que ninguei
o medo que todo mundo sentia em relação a isso enfim mas calhou do livro e até foi acabou que foi uma coisa né dos acasos que não são tão acasos que o livro saiu justamente nos 200 anos da Independência do Brasil Então foi legal para fazer uma um contraponto com uma história oficial que obviamente não não dá conta nem de longe assim do que é a nossa complexidade enquanto nação né então é de fato essas e conhecer esses personagens né veio que uma mulher em 1908 que nasceu em 1908 da aelian Campos Melo quase mat
o patrão da mãe porque o patrão obrigou ela a voltar a trabalhar num domingo né e que ela tem que aí ela sai da Cid você vê essas e a mulher ela é uma soldada do Brasil na segunda guerra ela cria o primeiro Sindicato de de de empregadas domésticas do Brasil a mulher vive quase 100 anos ela vive quase com o século XX todo tem entrevista dela no YouTube disponível para as pessoas verem assim é é bonito também né Tem uma beleza junto ali dessa porque é muito difícil quando vocêa estudar a história do Brasil
a parte dessa perspectiva do racismo é um é uma porrada literalmente então para nuançar porrada eu trazia essas pílulas que foram que foi o que me fez conseguir terminar o livro né E que agora é o meu MTE que eu estudo são esses homens e mulheres negros tentando entender o que que eles estão propondo o que que eles estão produzindo eu tô encontrando pessoas fantásticas né Manuel Quirino que é o primeiro intelectual negro que de fato faz uma um uma crítica positiva à presença negra no Brasil né é ele o primeiro homem que vai falar
não foi o que os africanos e seus descendentes fizeram foi importante ele vai listando isso em 1918 né e ele é um abolicionista incrível enfim para mim um tópico inteiro de Episódio tem que ser quanto da indústria da tecnologia e do que é base de identidade brasileira de manufatura vem desse tipo de conhecimento trazido para cá por essas pessoas Exatamente porque é isso a gente também esse olhar que a gente faz da coisificação do escravizado né faz com que a gente também não se aprofunde nem nas histórias africanas nem nas histórias desses homens e mulheres
que nasceram aqui agora os homens e mulheres que vem do continente africano eles vêm comos seus saberes isso você ninguém tira você pode tentar fazer o que das maiores violências mas o saber que essa pessoa tem você ela mantém e esses saberes construíram o Brasil né os primeiros que que quem trabalha com metal no Brasil quem vai fazer a mineração no Brasil são africanos quem vai curar no Brasil até meado do século XIX são africanos e africanas chamados de curandeiros barbeiros Cirurgiões mas são eles as pessoas e quem né eram tanto o chamado povo que
ia nesses homens e mulheres como também essa essa Elite dominante tanto que é muito curioso ver isso também né a classe médica ela ela se consolida Justamente na virada do século XIX pro século XX o que que ela faz para se consolidar enquanto classe médica ela criminaliza as práticas africanas Então não é que não dá eles não literalmente competição de mercado né Eu tenho um colega eh eh o Eduardo posidônio que ele estuda isso ele mostra né você tem vários médicos importantes que vão ter que eles começ eles abrem os seus consultórios os seus consultórios
não conseguem chamar pessoas porque as pessoas continuam indo nos curandeiros né e eh eh nas parteiras enfim eh e aí o que que eles fazem eles vão pra política e começam a criar leis aí essas leis são para o quê criminalizar as práticas e as pessoas começam a ir para seus consultar Então essa entender também essa dinâmica assim é difícil mas aí você vai conhecer o Juca Rosa e como que ele atuou que é um curandeiro excepcional Então você vai e é isso a história eu acho que a gente também tem que eh eh tomar
né a história na complexidade que ela tem e essa também é uma das grandes artimanhas de como se contou a história do Brasil como se fosse sempre uma coisa muito tranquila e um rio que flui não é tem tempestade o Brasil tá Cheio de pequenas tsunamis no meio né nossa história Então acho que a gente precisa olhar para essa complexidade eh e foi isso um pouco que eu tentei fazer no livro trazer parte dessa complexidade pra gente entender tanto essa aposta recorrente no racismo mas também as respostas que foram sendo dadas pela população negra né
sobretudo é o mote da minha pesquisa é sobre a população negra mas também é possível falar sobre a questão indígena né para entender também nos momentos em que esse estado vai ter que ceder e ele tem e ele cede e depois ele volta e ele cede então é um é um jogo político constante né Então isso que eu tentei trazer no livro eh a partir do que eu acredito como sendo um tema fundamental para entender não só o Brasil mas a modernidade que é o racismo Obrigado né porque assim obrigado por trazer o elefante Olha
aí por descrever o elefante da sala que a gente só vê a orelha o rabo a tromba E aí não sabe se é uma cobra se é um rabo de porco né e é tem um elefante inteiro ali e E assim a sua fala agora de saúde e da gente entender Até conselho de medicina moderno precisando desse olhar vem a fala do dobs que é nada na Biologia faz sentido a não ser sobre olhar da evolução sabe é é é é esse tipo de de mudança conceitual que você tá trazendo você personificando em você né
E e essa essa noção então Obrigado de verdade assim imagina para quem quiser ter esse outro olhar para quem quiser desenvolver esse olhar e começar a fazer sentido do do mundo moderno eh nos Estados Unidos Eu sei que eles precisam estudar a ditadura brasileira para entender um pouco do que eles estão começando a passar lá eh a gente tá aqui tipo nós primeira vez de vocês nessa eh mas para entender o Brasil para entender essa outra forma de pensar para começar a reavaliar os pontos de vista Quais são as suas obras que outras obras você
recomenda O que que você me dá de de lição de casa para quem sair daqui interessado é eu tenho dois livros eh que são foram escritos pro público Mais amplo um é o racismo brasileiro que eu escrevi foi publicado em 2022 pela todavia e outro chama história da África e do Brasil afrodescendente que eu publiquei em 2017 pela Editora Palas que é um livro que tem um caráter mais paradidático ele é pensado justamente para ajudar na aplicação da Lei 10669 então assim Ah tem que dar tô dando história antiga ten que falar da África dá
para falar perfeito você vai lá e vai achar um jeitinho de falar então Eh eh a gente tem alguns livros eh bem interessantes também tem o holocausto brasileiro da Daniela arbex que é um dos livros um dos melhores livros que eu já di na minha vida assim é uma história que tem a questão racial tem a questão da loucura encarceramento falar de um Brasil muito atual né fala também da reforma manicomial enfim é é é muito interessante o livro do Mário Magalhães que é um livro também da biografia do do do do Mariguela que é
uma figura icônica né eh ah tem um livro que eu acho maravilhoso que é livro de cabeceira que é rebelião escravas no Brasil a história do levante do malê do João José Reis que para mim é o maior Historiador que a gente tem o seu fã de carteirinha eh E que conta a história desse grande levante então é um livro gostoso de ler é muito denso do ponto de vista histórico mas que também conversa muito com essa eh eh com essa nossa África que constitui né no caso específico ali de Salvador mas a gente pode
ampliar isso sugiro o romance Um defeito de cor também da da Ana Maria Gonçalves que é um livro maravilhoso ponciá Venancio eh da da concessão Evaristo né Eh o livro Solitário Adeliane Alves Cruz lei o Machado de Assis Memórias Póstumas e brascubas lá já tem muita coisa Lima Barreto obras completas Lima Barreto era um grande crítico do racismo um homem que viveu o racismo de uma maneira muito dura né ele foi ele foi institucionalizado duas vezes no hospício nacional e eho sab essa sim duas vezes duas vezes por alcool mas um alcoolismo que na verdade
é muito fruto do racismo da época né então Eh é uma É uma história muito interessante tem dois dois autores que trabalham com a revolta do do a a revolta do João Cândido né A Revolta da Shibata que é o Álvaro nascimento e a Capanema eh São Du obras diferentes que são interessantes o Thiago Rogério que fez né Que que foi o mentor do projeto Quirino acabou de publicar o livro sobre projeto Quirino eh também sugiro que vocês que vocês eh Leiam eh tem muitas obras interessantes Então a gente tem uma uma produção historiográfica da
sociologia brasileira muito contundente né tem a organização dos livros eh das obras melhor dito né dos escritos da da lélia Gonzales feita pela pela Flávia rios tem os escritos também eh da Beatriz Nascimento que foram feitos pelo Alex hats que falam enfim de como tem uma inteligência negra já criticando há muito tempo né sugiro também veementemente todos os livros do Cloves Moura que estão sendo parte deles reeditados pela Editora Dandara Então tá estão saindo com eh eh com com muito cuidado né com medição cuidadosa tem os os quadrinhos né as do do Marcelo D Salete
que ele recupera eh um um deles a o Quilombo dos Palmares então também tem essa outra né essa outra linguagem eu tenho duas colegas que acabaram também de de publicar duas grandes amigas né que acabaram de publicar tanto uma história do Valongo quanto uma história da questão do jongo eh pela Editora veneta também em quadrinhos que é Silvana gea e a Juliana Barreto surgir os livros sobre quilombo do Flávio Gomes também é um dos grandes historiadores que a gente tem aqui no Brasil né Eh Enfim eu posso eu posso ficar temp mas a bateria acaba
para poupar o tempo da inae que já foi heróica em em retomar a nossa gravação aqui mais de uma dezena de vezes eh eu peço para vocês darem uma olhada na lista do saiba mais na bibliografia do saiba mais que a gente vai pegar as obras que ela falou aqui e outras que ela nos mande para est disponível para vocês É de longe a bibliografia mais extensa que a gente já teve aqui no n ficção mas por um problema professora né a gente vai já já tenho issos ali eu vou não mas te ouvindo falar
eu vejo o livro sendo escrito aqui porque eu eu falei isso para você pessoalmente vou repetir aqui no ar eu para cada pergunta que eu te fiz eu tinha tr00 anotações no livro que eu queria garantir que elas estariam sendo respondidas na sua resposta e eu não tive que voltar para nenhuma delas assim é uma delícia você pergunta de a para ser e tenho abecedar inteiro completo no caminho pras coisas então é um privilégio múltiplo aqui poder conversar contigo poder ouvir isso e obrigado demais pelo conteúdo que você escreve pela forma acessível como você fala
mas também por nos dar esse espaço e e fazer um esforço hercúleo para poder passar isso tudo pra gente aqui porque as pessoas não fazem ideia do que já teve de maquita Queda de Energia fone internet filhos dos dois lados dos dois lados foi foi uma Saga mas uma saga do bem né a gente precisa dessas sagas para a gente tá né Estamos juntos aí na na construção de um de uma sociedade mais então foi um prazer enorme obgado e espero que todo mundo goste e se incomode também porque é uma tema que na verdade
a gente não gosta muito né mas é um tema com qual a gente precisa lidar então agradeço mais uma vez o convite aa prazer muito grande estar com vocês aqui Obrigadão obrigada a vocês Espero que você tenha gostado da conversa e entendido porque que eu comecei o episódio falando que foi um dos livros que eu mais anotei na vida e quanta relação o que a Ina explica no racismo brasileiro aparece com tudo que a gente vê em História sociologia geografia demografia e outras coisas no Brasil e quantos buracos a gente tem conceituais para explicar são
preenchidos quando a gente leva isso em conta como eu disse para ela me parece uma noção que você precisa ter para entender inclusive fatos que são conflitantes entre eles por aqui se você reparou que a roupa dela mudou ou o cabelo dela mudou ou o fundo mudou e eu tô com outra cara aqui é porque a inae foi uma heroína que enfrentou não sei quantas dificuldades técnicas aqui entre internet cair microfone não funcionar o programa Não rodar travar e outras coisas pra gente conseguir gravar essa conversa foram várias tentativas picadas que a gente tá construindo
uma conversa coerente aqui porque foi coerente no fim das contas mas teve essa dificuldade toda então fica o meu agradecimento especial a ela depois desse suor e lágrimas todos aqui pra gente fazer isso D certo e a gente poder aproveitar a conversa com uma pessoa tão especial e com um conceito tão importante pra gente ter por aqui eu não consigo sair sem chamar atenção Para uma coisa a noção dela de que a a possibilidade de compra de liberdade servia muito mais como válvula de escape pra pessoa sentir que ela não tá sendo escravizada necessariamente mas
que essa escravidão tem um fim que se ela trabalhar o suficiente ela vai poder se libertar daquilo vai atingir o status de ser uma outra pessoa participando na sociedade que para participar na sociedade vai ter que comprar suas pessoas escravizadas e vai est tá sempre a mercê de quem deu essa liberdade com muitas aspas para ela revogar isso e não conseguir pensar nos milhões e milhões de empreendedores que a gente tem no Brasil que não são pobres são empresários de sucesso em potencial que ainda não realizaram o seu sucesso mas se trabalharem o suficiente e
juntarem o suficiente um dia podem chegar nessa situação e contarem com a benevolência de muita gente se você quiser mais conversas como essas e outras por aqui super importantes aproveita se inscreve no canal assim você recebe os próximos não fixando e os outros episódios e se você tiver nomes sugestões e ideias de temas e pessoas manda aqui pra gente eu tô muito feliz com que a gente tá construindo por aqui e espero que você também esteja a gente se vê no próximo [Música]
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