algumas semanas eu postei um vídeo aqui falando sobre os chifres de Moisés né porque Moisés aparece com chifres nas pinturas renascentistas e esculturas também nas iluminuras medievais e para explicar isso eu falei sobre a Latina vulgata né que é uma versão da bíblia traduzida por São Jerônimo e para ilustrar isso eu mostrei várias imagens de São Jerônimo né várias representações feitas sobre essa figura e uma pessoa muito perspicaz que foi a Eliane perguntou porque que aparece sempre caveiras nas representações de São Jerônimo e de fato como vocês podem ver aqui sempre tá presente né Essa
aqui a o São Jerônimo de Caravaggio a caveira tá sempre presente aqui em cima da mesa né junto que com os livros às vezes com crucifixos né aqui por exemplo a caveira ele inclusive aponta para caveira aqui nessa nessa representação aqui também ele apontando para caveira né Tem um lema aqui que a gente vai discutir depois também aqui em cima aqui São Jerônimo com crucifixo e a Caveira então enfim né sempre aparece a caveira realmente nas relações de São Jerônimo E por que que isso acontece na verdade a gente poderia até ampliar essa pergunta para
Por que que a caveira é tão presente na morte Cristã de uma forma geral né a gente poderia ir para outras imagens por exemplo de São Francisco de Assis que a caveira também é muito presente né tá sempre presente aqui a caveira com o São Francisco de Assis até nessa imagem aqui de São Francisco de Assis nascente do rio São Francisco em Minas Gerais né que tem a caveirinha ali presente aos seus pés Então porque aparece essa questão tanto da caveira Bom basicamente essa caveira representa na ilustra serve de alegoria de uma ideia mais Ampla
que é a ideia do memento Mori né que é um lema em latim que significa lembra-se da morte ou lembra-se da sua mortalidade e que é um pensamento muito importante dentro da história do cristianismo e ele na verdade até não intercede né O cristianismo a partir de duas matrizes principais do cristianismo né que são pensamento judaico né tradição Judaica e a tradição greco-romana também é filosofia grega né que afinal de contas o cristianismo nasce entre judeus né mas no mundo romano e no mundo e que a educação das elites fundamentalmente grega e quando o cristianismo
se torna a religião das elites né se torna também a religião oficial etc e tal a teologia Nesse contexto vai se desenvolver muito inspirada por ideias gregas né então antes de falar propriamente do memento Mori no cristianismo vale a pena a gente falar assim brevemente sobre o memento Mori entre os gregos e entre os judeus e entre os gregos talvez a escola filosófica mais lembrada pelo elemento mole seja o estoicismo para os históricos a meditação sobre a morte sobre a mortalidade era algo que era muito importante para colocar os pensamentos e as práticas das pessoas
e uma outra perspectiva né A partir do momento em que você reconhece a morte como algo natural algo inevitável né algo que vai acontecer até com uma certa iminência né tipo assim a morte não está muito longe essa reflexão te leva a repensar O que que você tá fazendo da sua vida né se vale a pena fazer mesmo e agir como você tem agido e idealmente essa reflexão levaria uma vida mais virtuosa e até uma situação aqui do manual de epiteto né que é um dos textos históricos talvez mais importantes e famosos assim que a
gente tem hoje que diz o seguinte tem adiante de seus olhos dia a dia a morte e o exílio e tudo que parece terrível mas acima de tudo a morte e Então você nunca terá nenhum pensamento objeto nem desejará nada além da medida Então essa reflexão essa meditação sobre a morte é te purificaria dos Pensamentos inúteis vãos né arrogante soberbos ou simplesmente fúteis mesmo transitório você efêmeros sem valor em si e também te afastarei de todo tipo de acesso né e te manteria numa vida mais sóbria mais racional mais meditada refletida né mas como eu
disse não é só entre os gregos que a gente encontra essa ideia do elemento mole mas também na própria Bíblia né nos textos da tradição Judaica Hebraica a gente encontra também ali a essa ideia de que a reflexão sobre a morte teria um caráter sapiencial não seria algo que poderia levar as pessoas para maior sabedoria então a gente encontra no livro de Eclesiastes por exemplo a seguinte passagem ali a uma casa em luto do que ir a uma casa em festa porque esse é o fim de todo homem né a morte ao fim de todo
homem deste modo quem está vivo refletirá Então essa contemplação essa esse confronto né direto com a morte seria fundamental para provocar uma reflexão sobre o momento presente né sobre a vida seria mais instrutiva a reflexão sobre a morte do que a contemplação da Alegria da pompa da festa né que talvez tivessem até o efeito contrário do elemento mole né um efeito de distrair de te afogar ali em aparências em sentimentos momentâneos e te afastar daquilo que é mais substancial por assim dizer tem outro livro na Bíblia também que é o Eclesiástico que é diferente do
Eclesiastes né não tá presente nas melhores protestantes tem no cano judaico mas está presente nas bíblias católicas e é um texto judaico escrito antes de Cristo que diz o seguinte em tudo que fazes lembra-te do teu fim e jamais pecarás então de novo essa ideia da refle sobre a finitude da nossa existência né sobre a nossa mortalidade como algo que mudaria o nosso Ethos né teria efeitos espirituais e éticos Salutaris então a gente vê tanto no judaísmo quanto na filosofia grega no pensamento na Tradição greco-romana essa questão da reflexão sobre a morte né o elemento
mole Como eu disse o cristianismo vai se desenvolver bebendo dessas Fontes né E vai desenvolver eventualmente o seu próprio pensamento a sua própria reflexão sobre a morte que tem algumas peculiaridades né a gente precisa entrar em tantos detalhes aqui mas talvez o traço mais marcante da do momento humor e Cristão é que o distingue dos outros dois é que a ênfase do pensa da reflexão sobre a morte do cristianismo ela se dá muito na reflexão sobre o pós vida que a morte do cristianismo é um momento também de juízo é um momento em que tudo
que você fez antes da morte vai ser pesado de certa forma e você pode ir para um pós-morte bom ou por um pós morte terrível né então essa iminência do juízo né que a morte significa é algo que deveria levar as pessoas a reflexão para que elas mudassem suas práticas as suas crenças os seus hábitos pensamentos etc e se alinhassem mais com o temor a Deus né a doutrina Cristã é para que elas garantissem esse pós vida favorável né Paraíso a vida com a eternidade com Deus A Nova Jerusalém a coisa do tipo então é
por isso que a gente encontra essa caveira né na representação de São Jerônimo e o São Jerônimo especificamente dentro da tradição Cristã é uma figura que é famosa pela sua reflexão a sua insistência no momento mole né então tem até uma lenda medieval que diz que o São Jerônimo mantinha sempre uma caveira em cima da mesa enquanto ele fazia suas meditações suas reflexões Então é isso que essas imagens aqui representam Mais especificamente né E como eu disse né Tem esse lema também que aparece aqui em cima que é o homobula que também vai nesse sentido
O que significa homem bolha ou seja né O homem é uma bolha né também essa defemeridade de qualquer momento pode estourar né então assim esteja preparado no caso de São Francisco Mais especificamente né talvez a ênfase maior ainda seja na questão da modificação da Carne né A negação o atletismo né negação por exemplo dos Prazeres A negação das vontades da concupiscência como se diz né então aqui a gente encontra os doces pensamentos sobre a morte né escrito aqui no livro né ou os doces pensamentos da Morte que são Salutaris né para nos ele aponta aqui
né para nos encaminhar para a vida verdadeira que a vida de Cristo que foi uma vida de Sofrimento né na carne pelo menos e a gente outros elementos aqui por exemplo como a ampulheta mostrando que o tempo vai se esvaindo né o tempo passa não volta e a gente vê também aqui um instrumento de auto flagelação né de castigo do corpo algo para realmente é destruir aquilo que é transitório que seria a nossa carnalidade por assim dizer e cultivar uma posição isso o nosso espírito que é o que permanece e é o que vai ser
recebido julgado e abraçado desprezado por Deus depois da morte então a vida do santo deveria ser isso né essa preparação o tempo inteiro vigilante para o momento da morte que é o momento crucial né que vai inaugurar sua vida eterna que pode ser de novo né positivo ou negativo então assim é bom se preparar bem mesmo tem até um livro muito interessante de um Historiador que é o Jean delomon chama pecado e o medo que ele mostra bem esse uso da caveira até empregações mesmo né às vezes pregadores Saiu à noite nas cidades com caveiras
e velas dentro da caveira para fazer realmente um espetáculo em torno desse tema da Morte e chamar a atenção das pessoas para mortalidade e consequentemente para urgência da conversão né de largar aquilo que é transitório que vai passar e se agarrar aquilo que é terra no Bom verdadeiro e justo outro tema interessante é uma dança macabra né que mostra figuras como Reis crespos crianças até sendo chamadas para dançar Ali pela pelas caveiras pela morte né ou seja ninguém escapa dessa dança então a caveira esqueleto os ossos né como símbolo dessa reflexão sobre a morte é
muito comum na história do cristianismo e principalmente na idade média e no período moderno enfim né mas eu acho que está respondido então a pergunta aí da Eliane né e comenta aí que que vocês acham dessa questão da reflexão sobre a morte né vocês acham que é uma coisa meio excessivamente mórbida ou pode ser de fato eticamente espiritualmente salutar Mas é isso aí Espero que tenham achado interessante e nos vemos e nos próximos vídeos [Música] [Aplausos]