6 HISTÓRIAS DE TERROR PERTURBADORAS | RELATOS REAIS EP. 72

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Dom - Relatos De Terror
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Boa noite, Dom. Meu nome é Mateus. Trabalho como agrônomo e viajo constantemente para visitar áreas de plantil em lugares bem isolados. Há alguns anos, precisei supervisionar um terreno longe de tudo. E o que aconteceu naquele dia ainda me deixa com uma sensação estranha, mesmo tendo-se passado tanto tempo. Na época, eu estava envolvido em um projeto de reflorestamento e passava boa parte da semana dirigindo de um canto a outro. Era um período em que eu terminava o dia na estrada, voltando tarde para casa. Lembro que em uma quarta-feira de meados de 2017 peguei a estrada principal
por volta das 7 da noite para encurtar caminho e chegar mais rápido. Mas o que encontrei foi um trajeto quase deserto, sem sinal de postes de luz ou casas por perto. Eu dirigia uma caminhonete antiga, cabine simples, com carroceria coberta, porque sempre levava ferramentas e mudas de plantas. O motor roncava forte, mas do lado de fora tudo era silencioso demais. De vez em quando eu pensava ter visto alguma figura na beira do asfalto, mas passava rápido e eu atribuí a minha vista cansada. Até que depois de uns 40 minutos, notei um ponto parado na curva
mais adiante. Diminuí a marcha para ver melhor e percebi que era uma menina. Devia ter em torno de 10 anos, talvez um pouco menos, com cabelo preso em duas tranças. Ela assegurava o que parecia ser uma boneca de pano velha, mas bem maior do que as comuns. Reduzi para quase parar ao lado dela sem ter certeza se devia oferecer ajuda. Então ela ergueu a mão com um gesto calmo e me pediu carona. O senhor pode me levar? Falta pouco para chegar na minha casa. fica depois daquela elevação. Embora achasse estranho encontrar uma criança sozinha àela
hora, pensei que não podia deixá-la ali naquela escuridão. Só que por precaução, falei que ela teria de ir na carroceria, já que meu banco do carona estava tomado por ferramentas e documentos espalhados. Se precisar que eu pare, é só bater no teto, avisei. Ela concordou com um aceno. Abri a tampa traseira para que subisse, mas nem cheguei a vê-la caminhando até lá. Em segundos, ouvi um pequeno barulho confirmando que ela já estava acomodada. Continuei por mais alguns minutos e tudo seguia tão quieto que me perguntei se a menina ainda estava ali. A estrada permanecia deserta,
apenas com uma cerca baixa de arame ao lado e mata densa em certos trechos. Então, sem aviso, veio o som de três batidas leves no teto. Parei no acostamento, abaixei o vidro e perguntei se ela tinha certeza de que queria descer naquele ponto, porque não parecia haver nenhuma entrada ali. É logo depois de onde o senhor vê aquele barranco", ela respondeu com a boneca ainda pendurada no braço. "Meu caminho já está bem perto." Concordei meio desconfiado, mas não quis insistir para saber mais. Ela saltou da carroceria com a mesma agilidade de antes, deu um sorriso
rápido e se embrenhou numa trilha estreita que eu não tinha notado antes. Assim que voltei a dirigir, por causa da vegetação fechada, só fui notar, cerca de 200 m depois, um portão de ferro todo corroído pelo tempo. Na lateral dele dava para ver placas de concreto e cruzes inclinadas. Era um cemitério abandonado, o único indício de construção naquele trecho. Fiquei com um incômodo difícil de descrever, mas segui viagem. Dois dias depois, no meu escritório provisório, um funcionário da fiscalização rural apareceu para checar o andamento das atividades. Conversamos sobre os mapas de áreas cultiváveis e depois
de algum tempo, eu mencionei a menina que tinha encontrado na estrada. Ele parou de falar na mesma hora, encarando meus papéis como se algo o tivesse alarmado, e perguntou: "Elava com uma boneca grande?" Eu respondi que sim e que além do desconforto e da situação inusitada, não tinha acontecido nada demais. Então ele comentou que naquele cemitério, logo depois do barranco, havia sepulturas antigas de algumas famílias que moravam na região fazia décadas. Disse também que, segundo conversas locais, uma menina foi enterrada ali depois de um acidente estranho que ninguém nunca conseguiu explicar direito. Vez ou outra,
viajantes relatavam ter visto alguém parecido com ela pedindo ajuda na estrada. Aquilo me deixou inquieto. Passei dias refletindo sobre o que teria acontecido se eu não tivesse parado ou se a tivesse colocado no banco do carona. Só sei que até hoje, quando pego um trecho escuro e silencioso, volto a pensar naquela boneca grande e no rosto sereno da garota. Pode ser apenas uma lenda ampliada pelo isolamento da região, mas cada vez que lembro, não consigo afastar a ideia de que alguma coisa fora do comum talvez tenha acontecido ali debaixo daquela noite sem lua. Antes de
irmos para o próximo relato, verifique se você já está inscrito aqui no canal e se já ativou o sino de notificação para receber as próximas histórias. Aprecio sua companhia e seu apoio faz toda a diferença. Bem, vamos continuar. Boa noite, Dom. Me chamo Ismael e tenho uma lembrança de infância que nunca me abandonou. Quando eu tinha uns 8 anos, meu tio Ângelo resolveu passar alguns dias na casa dos meus avós, em um vilarejo bem isolado, cercado de morros cobertos de vegetação. Esse lugar era conhecido pelas histórias que o povo contava sobre luzes estranhas vagando no
alto das colinas e acontecimentos que ninguém conseguia explicar direito. Eu achava tudo curioso, mas não me metia muito na conversa dos adultos. Só que a chegada do tio Ângelo foi diferente de qualquer visita que já tínhamos recebido. Ele apareceu numa tarde com uma mochila e o rosto abatido, cumprimentou meus avós de maneira quase mecânica e não quis dizer o motivo de ter vindo tão de repente. Lembro de minha avó terme puxado para o lado e sussurrado: "Seu tio precisa de um tempo. Deixa ele quieto, está bem?" Eu concordei, mas passei a observar o comportamento dele.
Parecia que ele carregava uma angústia que não largava do peito. Passava horas andando pelas trilhas ao redor da casa, sempre em silêncio, e no fim do dia, ficava sentado no quintal, olhando para o horizonte. Meus avós evitaram fazer perguntas diretas, talvez por medo de que ele fosse embora antes do tempo. Uma noite fui à cozinha beber água e o vi parado na porta que dava para fora, encarando a escuridão do pátio. Ele não percebeu minha presença ou fingiu que não viu. Estava tão quieto que até segurei a respiração para não assustá-lo. No dia seguinte, ele
comeu quase nada no jantar e se recolheu bem mais cedo que todo mundo. Meus avós me pediram que eu não o incomodasse e eu obedeci. Só que em uma madrugada ele sumiu. Meu avô foi o primeiro a notar. Encontrei os dois, minha avó e meu avô, caminhando pelos corredores com lanternas antigas na mão. O quarto do tio Ângelo estava vazio, a porta entreaberta e a cama arrumada como se ninguém tivesse dormido nela. Aquilo me deixou muito assustado, mas meu avô tentou me acalmar, dizendo que ele devia estar lá fora, talvez precisando de ar fresco. Organizamos
uma busca rápida pelos arredores, mesmo antes de o dia clarear. Chamamos um vizinho para ajudar e logo depois meus avós entraram em contato com a pequena delegacia de uma cidade próxima. Dois policiais vieram até nós, mas por causa das limitações do vilarejo, tudo acabou de forma muito discreta e sem pistas concretas. Ninguém encontrou o vestígio dele. Numa dessas idas e vindas, o mesmo vizinho contou que tinha visto alguém parecido com meu tio subindo o morro antes de amanhecer, sem agasalho nenhum, mesmo com o frio forte que fazia. Depois justificou que não correu atrás para tentar
detê-lo porque pensou que fosse apenas alguém do lugar, decidido a fazer uma caminhada estranha na madrugada. Fomos procurar lá em cima, chamando o nome dele, mas tudo que escutávamos era o vento roçando nas folhas. Passamos muitos dias rodando a região. Perguntamos a outros moradores. Ninguém sabia onde ele estava. Não encontramos nada, nem roupas, nem documentos, nenhum sinal que indicasse o paradeiro dele. Meus avós ficaram arrasados, mas nunca desistiram de esperar. Anos se passaram e cada vez que eu voltava ao vilarejo, encontrava o quarto do tio Ângelo do mesmo jeito que ele deixou. Minha avó não
permitia que ninguém mexesse em suas coisas. dizia que ele podia voltar a qualquer momento. Cresci, me mudei para outro lugar, construí minha vida, mas algo dentro de mim permanecia em aberto. Então, cerca de 30 anos depois, recebi uma ligação da minha prima, filha da minha tia mais velha. Ela me pediu que fosse até lá no fim de semana, pois um conhecido da família tinha visto alguém que parecia demais com o meu tio, sentado numa pedra próximo ao topo de um dos morros. Ele não tinha nem rugas. Ela me olhou com o rosto incrédulo. Parece que
o tempo não passou para ele. Quando chegamos ao vilarejo, esse senhor que havia feito o avistamento estava numa cadeira de balanço esperando por nós. Mostramos a ele uma foto antiga do tio Ângelo de quando eu ainda era criança. O homem ficou pálido e começou a gaguejar. Era essa pessoa. Eu ofereci morava lá em cima. falou que só estava descansando. A sensação de ouvir isso me deu um nó na garganta. Na hora tentei pensar em outras explicações. Talvez fosse apenas alguém com traços parecidos ou mesmo uma alucinação de quem já tinha ouvido as lendas sobre aquele
morro. Subimos até lá, seguindo o caminho indicado, mas não havia viva alma ali. Olhei para cada detalhe, tentando encontrar qualquer pista, mas nada chamava a atenção. Nenhuma pegada, nenhum objeto, nenhum sinal de que alguém realmente estivesse por ali. Voltei para casa com uma inquietação que me acompanha até hoje. Fico pensando no que aconteceu com ele. Será que continua vagando pelo mesmo lugar, preso a alguma lembrança ou segredo que não nos pertence? Se eu o encontrasse agora, talvez ele estivesse da mesma forma que naquela foto antiga, sem ter envelhecido um dia, enquanto eu já passei por
tantas transformações na vida. E me pergunto se ele ainda teria forças para perguntar pelos nossos avós, que o esperaram até o fim, e chamaram pelo nome dele até o último suspiro. Essa dúvida me corrói. Não há nada mais cruel do que não ter respostas sobre alguém que amamos. E mesmo tantos anos depois, eu ainda olho para os morros na esperança de ver um vulto familiar, embora saiba que é provável que não encontre nada ali, além de recordações que insistem em me assombrar. Se estiver gostando dos relatos, não se esqueça de já deixar o seu like.
Ele é muito importante. Bem, vamos continuar. Meu nome é Henrique. Nunca esqueço do que aconteceu quando eu tinha cerca de 11 anos. Naquela época, morávamos em uma rua tranquila, onde as crianças podiam brincar até depois do jantar sem muita preocupação. Nesse dia específico, eu e mais quatro amigos estávamos na calçada conversando e rindo de coisas bobas, enquanto o céu ficava cada vez mais escuro por causa de nuvens densas. Não era tarde, talvez algo em torno de 7 ou 8 da noite, mas a falta de luz deixava tudo com um ar meio estranho. A gente sempre
jogava bola ou corria de um lado para o outro, só que naquele momento a bola ficou esquecida no chão. Surgiu uma sensação esquisita, como se alguma coisa diferente estivesse prestes a acontecer. O ar pareceu ficar pesado, quase como se houvesse uma vibração muito discreta. Sem que ninguém combinasse nada. Todos nós paramos e olhamos para o alto ao mesmo tempo. Lá em cima pairava algo grande e silencioso, bem acima das nossas cabeças, talvez a cerca de 40 ou 50 m, mas perto o bastante para causar um desconforto imediato. Eu só consegui reparar que a parte de
baixo era clara e redonda, com pontos luminosos girando devagar. Não se ouvia barulho forte, mas se a gente prestasse muita atenção, percebia um zumbido fraco, quase sufocado pelo vento. Foi então que a Bruna, uma das minhas vizinhas, gritou como se estivesse tomada por um medo repentino. Gente, o que é isso? Outros começaram a correr. Eu me abaixei atrás de um muro, tentando me acalmar, mas meus pensamentos não faziam sentido. Sentia que se ficasse parado, alguma coisa ruim iria acontecer. Depois de menos de dois minutos, reuni coragem para olhar outra vez. Notei que o objeto já
não estava exatamente sobre nós. Tinha se deslocado em direção ao final da rua e parecia deslizar na mesma altura das árvores, que por ali não passavam de 10 m. Em seguida, sumiu na escuridão, sem qualquer explosão ou clarão marcante. Parecia ter simplesmente desaparecido no ar. Por muitos anos, quase ninguém no bairro tocou no assunto publicamente. Eu mesmo evitei comentar por receio de virar motivo de piada. Só que todos que estavam lá concordam. O horário, o lugar, a forma do objeto e a angústia foram reais. Quando converso com a Bruna ou com o Caio, que também
estava naquela noite, percebo que a lembrança deles é igual à minha. A gente não sabe explicar o que foi, mas temos certeza de que não se parecia com nada conhecido. Até hoje, quando lembro daqueles pontos de luz girando lentamente, sinto um desconforto que não consigo descrever. Nunca me convenci de que era algum truque ou imaginação. Costumo dizer quando perguntam se acredito nessas histórias. Eu e meus amigos vimos algo de verdade e aquilo marcou a gente de um jeito que palavras não alcançam. Mesmo sem uma explicação oficial ou qualquer prova concreta, sei que o que vivemos
naquela rua jamais vai sair da nossa memória. Meu nome é Walter e morei por mais de 10 anos em uma casa que minha tia cedeu enquanto meus pais trabalhavam em turnos diferentes. O lugar era simples, tinha um quintal mal cuidado e um longo corredor que ligava os quartos à cozinha. Apesar de ser um ponto de apoio temporário, acabamos ficando lá por muito mais tempo do que imaginávamos. Quando eu era mais novo, por volta dos 12 anos, costumava ir dormir mais cedo. Sempre fui meio curioso em relação a histórias de fantasmas, mas nunca acreditei de verdade,
sabe? Tinha uma janela alta no meu quarto que dava para uma área externa estreita, quase como um vão entre as paredes. Eu me lembro bem de uma noite em que não conseguia pegar no sono. Virei de lado e vi dois pontos brilhantes, como se fossem pequenas lanternas flutuando do lado de fora. Não havia nenhum brilho de poste ou reflexo de luz naquela altura, então achei estranho. Tentei focar a visão e percebi algo que lembrava uma cabeça inclinada. Fiquei parado, achando que fosse uma ilusão dos meus olhos cansados. No instante em que pisquei, aquilo sumiu. Não
sabia se era sonho ou não, mas tive a nítida impressão de ter encarado alguma coisa por alguns segundos. Tentei ignorar, mas comecei a sentir uma inquietação que me manteve acordado. Uns minutos depois, a luminária do corredor acendeu de repente. Ela funcionava com sensor de movimento e, por um instante, achei estranho não ter ouvido o barulho da porta ou passos antes de acionar o sensor. Ainda assim, imaginei que algum dos meus pais tivesse se levantado. Porém, os passos que ouvi em seguida eram firmes e vinham direto na direção do meu quarto. Tentei me mexer para ver
quem era, mas fiquei travado. O barulho parou na minha porta que abriu devagar, rangendo de leve antes de silenciar, como se algo abafasse o som. Uma rajada de ar gelado entrou e eu senti algo agarrar meus tornozelos. Fui puxado até a beirada da cama, sentado, sem conseguir produzir uma única palavra. Só então percebi que não havia ninguém lá, nem meu pai, nem minha mãe. Quando recobrei os movimentos, houvi um clique quase imperceptível e a porta estava fechada, como se nada tivesse acontecido. Contei essa história para um amigo de escola, o Gustavo, meio desconfiado de que
ele ia rir da minha cara. Em vez disso, ele me lançou um olhar sério e disse: "Você não é o primeiro a comentar sobre algo estranho por ali." Fiquei sem saber o que responder, mas me senti menos maluco, pois aparentemente outras pessoas também notavam coisas bizarras na vizinhança. Isso me deu um certo alívio, mas também abriu espaço para um medo ainda maior. Com o tempo, comecei a prestar atenção a cada somidade naquela casa. Sempre que eu mencionava o assunto, surgiam relatos parecidos. Anos depois, já com cerca de 22 anos, recebi a visita do Gustavo. A
gente foi até a laje para conversar. O espaço era bem sem graça, só umas caixas velhas e o tanque de lavar roupa. Em certo momento, Gustavo apontou para o telhado de outra casa, algumas construções adiante. Vi uma forma escura parada ali, com dois pontos que pareciam refletir à luz distante. Não me movi. Ele também congelou. Foram poucos segundos, mas nós dois tivemos a impressão de que era a mesma entidade que eu vira na minha infância. daquele jeito, com uma cabeça levemente inclinada, como se estivesse tentando entender o que a gente fazia ali. Num movimento rápido,
a silhueta se abaixou e desapareceu. Descemos sem trocar palavra, como se qualquer frase fosse estragar o que acabara de acontecer. Pouco tempo depois, ganhei a companhia de uma cadela chamada Tina. Ela me passava a sensação de que a casa estava mais alegre e me ajudava a esquecer os sustos do passado. Acabei me mudando com meus pais para outro endereço mais compacto, mais organizado. Lá nada de muito estranho surgiu durante um bom período, até que passei por um episódio que me fez reviver tudo. Certa madrugada, perto das 5 ou 6 horas, Tina começou a rosnar baixo,
encarando um canto escuro do meu quarto. Me levantei devagar. acreditando que fosse algum inseto ou um reflexo no espelho. Quando cheguei perto, ela continuou olhando para o mesmo ponto, como se estivesse vendo algo. Eu me virei e reparei de relance uma forma tão grande que quase encostava no teto, com braços longos e a cabeça inconfundível, meio triangular, que parecia se dobrar para caber ali. Não houve movimento brusco. Aquilo simplesmente estava presente encarando a gente. em poucos instantes foi sumindo, como se misturasse as sombras do lugar. Não consegui voltar a dormir e passei o resto da
manhã tentando me convencer de que era só imaginação. A última vez que vi esse ser foi há mais ou menos duas semanas. Eu estava de carro levando minha namorada, Larissa para casa. Tina estava no banco de trás, quieta. Na volta dobrei uma esquina e notei que Tina levantou as orelhas. O local estava pouco iluminado, mas os faróis do carro permitiram que eu enxergasse em um terreno vazio aquela silhueta parada, olhando na nossa direção. Não se aproximou, não correu, apenas permaneceu lá imóvel. Continuei dirigindo até chegar em casa, tentando manter a calma. Contei para Larissa no
dia seguinte e ela me revelou. Eu achei que tinha visto essa mesma coisa ontem no corredor do nosso novo apartamento quando levantei para ir ao banheiro. Fiquei sem reação. A princípio, não sabia se me sentia reconfortado por não estar delirando ou apavorado por isso ser mais real do que eu gostaria. Passei alguns dias dormindo mal, com uma sensação de que esse ser não se restringia a um único lugar. Não tenho certeza do que seja. Até hoje guardo a impressão de que está sempre me observando de alguma forma. Não me atacou de novo, mas não me
parece querer ir embora tão cedo. Quando eu tinha cerca de 6 anos de idade, morava com minha mãe em uma casa bem pequena. Eram apenas dois cômodos e uma área que servia ao mesmo tempo de sala e cozinha. O chão era áspero, as paredes tinham marcas de humidade e mesmo durante o dia, tudo ali parecia meio abafado. Mas à noite qualquer barulho ganhava um peso diferente. Latidos que vinham de longe, conversas abafadas de vizinhos e de vez em quando algum carro passando devagar. Minha mãe Silvia sempre dormia em uma cama de casal e eu me
ajeitava ao lado dela. O colchão ficava perto de uma janela que dava para a rua. Na época eu andava muito inquieto. Quase toda a madrugada, por volta de meia-noite ou uma hora da madrugada, eu acordava com uma angústia estranha. Mas naquela noite em especial, fiquei paralisado por um tempo antes de olhar o relógio de cabeceira daqueles que ficam com uma luz fraca acesa. Quando finalmente tive coragem de conferir, vi que passava das 2 horas da madrugada. O barulho dos cães estava mais insistente, quase como se eles fizessem uma barreira contra algo que não deveria se
aproximar. Tentei balançar o braço da minha mãe. Ela quase sempre acordava com qualquer ruído, mas naquela noite tinha tomado um remédio para dor de cabeça e parecia mergulhada em um sono mais profundo do que o habitual. Fiquei assustado porque ela simplesmente não reagia como se não conseguisse me ouvir. Em meio à escuridão, uma vontade de verificar a janela me dominou. Fiquei alguns segundos criando coragem, até que resolvi levantar um pedaço da cortina para dar uma espiada. Do lado de fora havia a claridade fraca de um poste distante, cuja luz inclinada batia no telhado da casa
vizinha. Levei um susto ao ver uma figura feminina agachada ali. Dava para perceber que ela vestia algo comprido, meio encardido, que se misturava a sombra do telhado. O cabelo chegava a tocar suas costas, mas não dava para ver o rosto. Não sei se era o vento ou algum som preso na minha cabeça, mas parecia que vinha um lamento baixo, como se a pessoa estivesse chorando de um jeito contido. Senti um aperto que não consigo explicar. Joguei a cortina de volta e voltei para a cama tremendo. Sem saber mais o que fazer, comecei a rezar mentalmente,
repetindo orações que minha mãe me ensinara. Eu achava que isso me daria algum alívio. Por um tempo, tudo ficou silencioso. Depois de criar coragem de novo, me levantei devagar e olhei pela janela. O telhado estava vazio, sem sinal daquela mulher ou de qualquer movimento. Parecia que nada tinha acontecido. Ainda assim, os cães continuavam a latir de vez em quando, como se sentissem alguma presença que meus olhos já não podiam ver. No dia seguinte, minha mãe notou que eu estava agitado e me perguntou se eu tinha tido um pesadelo. Você está tão assustado. O que aconteceu,
meu filho? Acho que vi alguém no telhado do vizinho", respondi sem entrar em detalhes. Ela deu um sorriso preocupado e disse: "Deve ter sido só a sua imaginação. Até hoje, cada vez que escuto cachorros latindo no meio da madrugada de forma diferente, volto à cena que vi pela janela. O rosto daquela figura eu nunca cheguei a enxergar, mas a lembrança do lamento ainda me faz perder o sono. Boa noite, Dom. Meu nome é Márcia. Desde a infância sempre acreditei que certas amizades podiam ser ainda mais sólidas do que laços de sangue. Minha prima Úrsula foi
quem cresceu ao meu lado, dormiu comigo nos dias de chuva forte e dividiu cada etapa importante da vida. Nós duas nos considerávamos irmãs de coração. Quando criança, eu havia como uma luz que me guiava nos momentos difíceis, enquanto ela me enxergava como alguém firme e confiável. Éramos diferentes, mas nos completávamos de um jeito que eu pensava ser eterno. Apesar de sermos primas, a convivência entre nós era tão próxima que muita gente achava que éramos irmãs de verdade. Minha tia morreu quando eu tinha por volta de 12 anos e Úrsula, mais nova tinha 10. Foi um
período conturbado em que minha família e a dela decidiram que o melhor seria que Úrsula ficasse conosco por um tempo. Meu pai, Sebastião, tentava conciliar o luto da perda da irmã com a tarefa de acolher a sobrinha, mas ele sempre foi um homem simples, sem muita habilidade para lidar com questões emocionais. Era evidente que do jeito dele tentava fazer tudo que podia e nós três passamos a viver sob o mesmo teto, cada um processando aquela dor à sua maneira. Com o passar do tempo, Úrsula e eu assumimos algumas responsabilidades em casa. Enquanto ela ajudava com
a louça, eu tentava cozinhar o que sabia. Não tínhamos outra escolha. Éramos adolescentes que precisavam se virar. Mesmo assim, ainda existia um clima de companheirismo. Quando a saudade da tia surgia, sentávamos para conversar, ou se alguma nós se sentia sozinha, a outra estava sempre por perto. Parecia que nada conseguiria quebrar aquela parceria. Quando amadurecemos, nossas diferenças ficaram mais evidentes. Eu sempre gostei de ambientes tranquilos e de passar as noites lendo ou vendo algo na televisão. Úrsula, ao contrário, adorava se cercar de amigos, ir à festas e se jogar na vida social. Mesmo assim, mantínhamos um
forte laço. Ela gostava de contar sobre as viagens que pretendia fazer, os sonhos de conhecer lugares distantes e de viver cada dia como se fosse único. Já naquela época só almejava uma vida segura e sem grandes riscos. Não demorou muito para que todos notassem o carisma de Úrsula. Em qualquer lugar aonde íamos, ela chamava atenção. Recebia elogios. Era o assunto das rodas de conversa. Se estávamos entre conhecidos, acabava que as pessoas se dirigiam a ela antes de me notarem. E eu, sinceramente, nunca me importei. Já estava acostumada a ser mais discreta. Pensava que ser invisível
era até confortável. Nos raros momentos em que alguém me elogiava, eu não sabia nem como reagir. Tamanho era meu desajeito. Aos 17 anos, Úrsula teve a ideia de me levar a uma confraternização. Disse que eu precisava relaxar, sair um pouco de casa. Achei que fosse uma boa oportunidade para tentar algo diferente. Vesti a melhor roupa que eu tinha e fiz um penteado simples, mas me esforcei para parecer mais arrumada do que de costume. Na festa não tive surpresa nenhuma ao ver como ela ganhou a atenção de todos em poucos minutos, enquanto eu, mais uma vez
me sentia parte do cenário. volta, fiquei questionando se algum dia as pessoas me enxergariam de verdade, mas não era algo que eu assumia publicamente. Eu sempre guardei essas inseguranças comigo. Foi nesse período que conheci Leonardo. Ele não era do círculo habitual de Úrsula. Apareceu em um almoço promovido por conhecidos em comum. Diferentemente dos outros rapazes que já haviam cruzado meu caminho, Leonardo demonstrou um interesse genuíno pelas minhas opiniões e pelas minhas histórias. A gente começou a sair, mas sem grandes alardes. De início, confesso que estranhei a atenção que recebia dele. Parecia bom demais para ser
verdade. Ainda assim, dei uma chance e deu certo. Em pouco tempo, começamos a namorar de forma mais séria. Depois noivamos e então nos casamos. Enquanto eu vivia esse relacionamento tranquilo, Úrsula seguia a vida cheia de altos e baixos nos romances. Um dia estava apaixonada por alguém, no outro brigava ou terminava. Sempre acontecia alguma confusão. Apesar de me preocupar com ela, eu jamais imaginei que a instabilidade emocional dela pudesse tocar de forma direta a minha vida. Porém, pelo visto, eu não estava enxergando a situação direito. Depois de um término difícil, Úrsula apareceu na minha casa chorando
e se lamentando que não tinha sorte no amor, que não aguentava mais. Meu impulso imediato foi oferecer abrigo. Meu pai havia se mudado para uma cidade vizinha na época e eu morava sozinha com Leonardo. Então propus que Úrsula ficasse conosco até se recompor. Leonardo fez cara de poucos amigos, mas não protestou abertamente. Achei que ele estivesse preocupado com a rotina da casa, mas não liguei muito. Aquela era minha prima, praticamente uma irmã, e eu não a deixaria desamparada. Nos primeiros dias, tudo pareceu normal. Ela respeitava nossos horários, tentava incomodar, ajudava nas tarefas, mas comecei a
notar pequenos gestos, comentários aleatórios que Úrsula fazia a Leonardo, certa cumlicidade estranha nos olhares entre os dois que eu não conseguia entender. Como não tinha provas de nada, fui empurrando a desconfiança para o fundo da minha mente. Um certo fim de semana, resolvi conversar com Gustavo, o ex de Úrsula. Foi algo que surgiu de forma impulsiva. Já o conhecia superficialmente e marquei de encontrá-lo em um café. Perguntei porque eles tinham terminado de forma tão repentina. Ela nunca se satisfaz com o que tem. Quando o relacionamento parecia estável, ela simplesmente mudava de ideia. Ele fez uma
pausa e completou. Talvez agora a Úrsula queira algo que você não está percebendo. Minha cabeça entrou em parafuso. Queria me convencer de que ele falava por rancor ou ciúme. Na volta para casa, no entanto, fiquei atenta aos detalhes que antes ignorava. Podia jurar que Úrsula e Leonardo conversavam mais do que o normal. De vez em quando, eu entrava na sala e sentia que mudavam de assunto rapidamente. As risadas contidas morriam assim que eu aparecia. Decidi ficar de olho, mas não sabia o que fazer. Parecia que tudo estava acontecendo embaixo do meu nariz. Até que em
uma tarde em que eu me sentia estranha, resolvi voltar do trabalho umas duas horas mais cedo. Minha intenção era surpreendê-los de maneira positiva, talvez levar um lanche, não sei. Quando abri a porta, ouvi vozes abafadas vindo do meu quarto. Fui andando na ponta dos pés e quando entrei encontrei os dois juntos na cama. Eles me viram, mas não houve briga nem explicação. Era um silêncio absoluto, como se ninguém ali precisasse dizer nada. Fiquei imóvel, olhando para aquela cena, sentindo como se toda a minha vida tivesse se transformado em um borrão. Não gritei, não quebrei nada,
apenas saí, peguei minha bolsa e fui embora. Nos dias que se seguiram, aluguei um lugar apertado e simples, mas que me dava pelo menos a privacidade de chorar sem testemunhas. Desliguei o celular, não falei com ninguém, pedi a comida por entrega, trabalhei remotamente quando foi possível e me mantive afastada de qualquer contato. Minha vida parecia suspensa. Senti raiva, senti dor, senti um vazio que mal conseguia expressar. Com o tempo, a raiva foi se sobressaindo à dor. Na tentativa de esquecer o que houve, procurei por ajuda profissional antes de fazer qualquer loucura. Tive duas sessões com
um psicólogo, mas não me abri completamente. Ainda assim, percebi que precisava de um desabafo mais forte. Pensei em falar com meu pai, mas só consegui trocar poucas palavras por telefone, com receio de preocupá-lo demais. Cada conversa parecia insuficiente para aliviar a fúria que eu guardava. Foi quando, certa noite acabei vagando sem rumo pelas ruas, incapaz de retornar ao meu apartamento minúsculo. Passei em frente a uma casa que aparentava abandono. Havia uma pessoa sentada na calçada, uma senhora que me chamou a atenção. Ela me fitou sem se mexer e aquilo despertou em mim uma sensação incômoda.
Quis desviar, mas algo me impediu. Foi então que, com um tom baixo, ela murmurou: "Você quer acertar as contas?" Parecia que aquela mulher sabia de tudo que se passava na minha cabeça. E no meu desespero sentia a raiva pulsar mais do que qualquer outra emoção. Me aproximei porque não tinha nada a perder. Ela se apresentou como dona Lídia e me convidou a entrar, avisando que podia me ajudar a descarregar esse sentimento. Entrei na casa que por dentro tinha poucos móveis e uma penumbra estranha. Ela me perguntou com certa calma. Tem certeza de que quer fazer
isso? Eu não sabia ao certo do que se tratava, mas balancei a cabeça em afirmação. Ela não pediu detalhes nem nomes. Só me alertou de que qualquer ação movida por vingança podia cobrar um custo alto. Fiquei em silêncio, decidida a continuar. Foi quando ela começou a preparar algo que chamava de trabalho. Acendeu velas, murmurou preces que eu não reconhecia, jogou um pó escuro sobre uma bacia de água. Eu só observava atônita, e de repente meu corpo começou a tremer de um jeito estranho. Quando tudo terminou, dona Lídia disse: "Agora espere e não esqueça que tudo
tem um preço". Agradeci de forma automática e saí dali. Passei os próximos dias convencida de que tinha caído em um golpe ou em alguma fantasia. Acreditei que nada aconteceria até receber uma ligação de um conhecido em comum. Ele disse, com tom preocupado que Úrsula e Leonardo estavam passando por uma crise séria, brigando sem parar. Comentei vagamente que isso poderia ser algo passageiro, mas ele garantiu que a situação só piorava. Primeiro ela caiu da escada e ficou com o braço bastante ferido. Em seguida, eles brigaram a ponto de Leonardo dormir fora de casa por alguns dias.
Então ele sofreu um acidente de carro em baixa velocidade, mas o susto foi grande. Cada episódio criava mais tensão. Era como se não conseguissem mais ficar perto um do outro sem algo dar errado. Um mês depois, eles decidiram fazer uma viagem para tentar salvar o relacionamento. Foi a última notícia que tive. Soube que o carro derrapou em uma pista molhada e os dois morreram no local. Quando recebi a informação, fiquei anestesiada. Eu não chorei, não me desesperei. Senti apenas um vazio enorme. Acreditei que tudo terminava ali. Pensei que agora eu poderia seguir minha vida. Mas
talvez por um peso de consciência ou por algo que não sabia explicar, comecei a ter a impressão de que não estava sozinha. À noite eu tinha dificuldade de dormir. Ouvia vozes baixas, meu nome sendo pronunciado de uma maneira quase imperceptível. Tentei me convencer de que era a minha imaginação, mas a rotina se tornou insuportável. Fui buscar conforto na igreja onde meu pai frequentava antes de se mudar. Contei tudo em partes para o padre Júlio, sem entrar nos detalhes do ritual, mas mencionando minha dor, a traição e a morte deles. O padre me olhou sério e
disse: "Quando desejamos mal aos outros, mesmo sem intenção direta, abrimos portas na nossa vida que podem custar caro. Ele tentou me aconselhar a buscar arrependimento, mas eu não conseguia sentir remorço genuíno. fundo, ainda pensava que ambos mereceram o que aconteceu e mesmo assim eu não estava em paz. As noites seguintes foram perturbadoras. Eu sonhava com Úrsula e Leonardo, mas não com a aparência que tinham em vida. Eu os via de longe, sem falar nada, apenas me olhando de um jeito que não sei decifrar. Acordava confusa, minha respiração acelerada. Passava o dia inteiro me perguntando o
que estava acontecendo comigo. Foi quando, voltando do trabalho, percebi que havia pegadas sujas no corredor do meu pequeno apartamento, indo em direção ao meu quarto. Não fazia sentido, pois eu trancava tudo antes de sair. Limpei o chão, mas não conseguia ignorar o que vi. Parecia que havia algo ali comigo, como se alguém entrasse enquanto eu estava fora. Nessa angústia, lembrei de uma loja que vendia artigos místicos. Fui até lá, procurei por qualquer coisa que me fizesse sentir protegida. Um homem chamado Ademir me atendeu. Ele escutou a minha história por alto, sem saber nomes, e recomendou
um amuleto. Falou pouco, mas seu semblante era de preocupação. Às vezes, o que alimentamos volta para nos cobrar. Se já fizeram alguma prática sem saber exatamente o que estavam fazendo, talvez seja tarde para voltar atrás. Comprei o amuleto e mantive junto de mim, só que nada melhorou. Os sonhos continuaram, as vozes, a sensação de que eu não estava sozinha. Decidi visitar o local onde Úrsula e Leonardo tinham sido sepultados, procurando um fechamento. Ao chegar lá, havia um bilhete deixado sobre o túmulo dela. O bilhete dizia: "A porta que você abriu não pode mais ser fechada".
De imediato, olhei ao redor, mas não tinha ninguém. Meus joelhos enfraqueceram e a única coisa que pude fazer foi ir embora às pressas. Depois disso, os acontecimentos ficaram mais intensos. Não sei se era minha imaginação ou alguma manifestação real. Nas poucas horas em que conseguia dormir, sonhava que estava em um local escuro onde Úrsula aparecia, com o rosto inexpressivo me observando. Parecia que tentava falar, mas não havia som saindo da boca. Já Leonardo estava mais distante, mas com um olhar que me fazia sentir uma mistura de raiva e de ansiedade. Passei a dormir cada vez
menos. Minha aparência começou a se deteriorar. Eu estava pálida e sem vida. Decidi procurar novamente a casa de dona Lídia. Caminhei pelas mesmas ruas e tentei perguntar a moradores sobre ela, mas a residência que eu lembrava parecia fechada, com janelas lacradas e entulhos na frente. Um vizinho me garantiu que aquele lugar estava desocupado fazia muitos anos, sem registros recentes de qualquer idosa morando por lá. Aquilo me fez questionar o que afinal eu tinha vivido. Seguir a rotina se tornou um martírio. Eu chegava ao trabalho, mas mal conseguia me concentrar. Quando voltava para casa, era atacada
pela mesma sensação de desconforto. Parecia que a qualquer momento algo iria se revelar. Até que uma noite, enquanto eu tentava ficar acordada assistindo a um programa na televisão, ouvi ruídos vindos do corredor. Meu coração disparou. Levantei pensando que fosse algum invasor ou um gato que tivesse entrado. Porém, a casa estava vazia, como sempre. Voltei para o sofá, respirando com dificuldade. Naquele instante ouvi uma voz. Por quê? Não reconheci de imediato, mas me soou familiar. Hesitei entre correr ou responder, mas apenas fiquei paralisada. Fui tomada por uma mistura estranha de indignação e de culpa. Quando criei
coragem para andar pela casa, não encontrei ninguém. Deitei na cama e passei boa parte da madrugada encarando o teto, me perguntando se eu estava perdendo a sanidade. Na manhã seguinte, encontrei sobre a mesa da cozinha uma foto minha e de Úrsula. quando éramos meninas. Não lembrava de ter levado aquela foto para o apartamento. Ainda assim, ela estava ali e no verso havia algo rabiscado. Você me esqueceu? Corri para revirar minhas coisas, mas não achei mais fotos nossas. Aquela imagem sumiu do nada no mesmo dia, como se tivesse evaporado. Isso virou rotina. Objetos se moviam, apareciam
mensagens que eu não escrevi e o estado de tensão em que eu vivia me deixava cada vez mais abatida. Até mesmo pessoas próximas como colegas de trabalho, notaram que eu estava diferente. Eu não tinha coragem de contar a verdade, porque tudo parecia absurdo. Foi quando finalmente tentei outro caminho. Voltei a procurar o padre Júlio e resolvi ser sincera, contando o que eu tinha feito com dona Lídia. Ele me olhou com um ar grave, sem me julgar, mas sem esconder a preocupação. Às vezes, quando buscamos vingança, atraímos forças que não dominamos. Eu recomendo que você faça
uma reflexão profunda sobre o arrependimento. É possível que tudo isso seja um reflexo de algo interno, mas também pode ser que tenha acionado algo que não podemos explicar. Saí de lá me sentindo um pouco mais leve, mas ao mesmo tempo não vi um caminho real para resolver a situação. Ainda tentei rezar ou buscar algum tipo de redenção, mas a verdade é que eu continuava sem sentir remorço pelo que acontecera com Úrsula e Leonardo. Eu só tinha medo. Numa das poucas vezes em que consegui dormir, tive um sonho perturbador. estava em um quarto vazio, sem janelas
nem portas, e a uma certa distância vi a Úrsula sentada no chão. Seus olhos me acompanhavam, mas ela não se movia. Leonardo estava atrás dela em pé, só me olhando de maneira fixa. Acordei com o rosto molhado de suor, sem saber se aquilo era apenas meu inconsciente ou algo que tentava se comunicar comigo. Após essa noite, certos ruídos voltaram a me atormentar. Um dia cheguei do trabalho e achei que vi Úrsula no canto da sala de pé, mas quando pisquei não havia nada. Em outro, jurei ter ouvido a voz de Leonardo me chamando do quintal.
Abri a porta e o quintal estava deserto. Procurei não pensar tanto no assunto, mas não tinha paz em nenhum lugar, nem no trabalho, nem na rua, nem na minha própria casa. Parecia que eu estava sendo encurralada por lembranças e aparições. Em meio a esse sufoco, fui novamente naquela loja mística de Ademir, buscando uma saída definitiva. Ele me recebeu com certa reserva. Quando contei que a situação só piorava, ele puxou de uma prateleira um livro antigo, cheio de anotações e me mostrou um trecho. Dizia que em alguns casos, quando se faz um pedido de vingança, a
dívida fica em aberto até que algo seja quitado. Ele virou-se para mim. Pode ser que você esteja tendo esse tormento porque ainda não decidiu o que realmente sente. Enquanto existir essa contradição, talvez não seja possível se livrar. Minha cabeça deu voltas, pois eu não conseguia apontar arrependimento real. Senti que não havia muito a fazer. Ademir me aconselhou a buscar ajuda psicológica mais estruturada, além de sugerir que eu tentasse um período longe daquele apartamento. Mas uma parte de mim não acreditava que fosse só psicológico. Mesmo assim, anotei o número de uma terapeuta que ele indicou. Voltei
para casa trancada no meu pequeno apartamento, sem saber o que esperar. Passei a trancar as janelas, a bloquear qualquer fresta de luz, como se isso pudesse impedir alguma coisa de entrar. Mas essa sensação de tentativa de controle não me trouxe alívio. De madrugada, eu tinha o hábito de olhar o relógio a cada 15 minutos, esperando o tempo passar e, em algum momento, inevitavelmente adormecia. Certo dia, tive a impressão de que Úrsula estava parada no corredor que levava ao meu quarto. O rosto dela parecia sem reação, mas me fez lembrar dos dias em que éramos crianças.
Senti um peso enorme no peito, como se parte de mim soubesse que eu tinha escolhido um caminho sem volta. Pisquei e a imagem sumiu. Aquilo se repetiu em outras noites. Eu via algo que lembrava Úrsula ou Leonardo e no segundo seguinte desaparecia. O estado de tensão era tanto que minha saúde física se deteriorou de vez. Parei de comer direito. Meu rosto ficou abatido e as pessoas no trabalho já não fingiam que não viam. Perguntavam o que estava acontecendo comigo. Não conseguia responder com sinceridade. A gota d'água veio quando encontrei em cima da minha cama o
anel de casamento que Leonardo usava. Eu não o tinha em casa, pois ele sumira depois que saí da nossa antiga residência. O anel estava ali, como se tivesse sido deixado de propósito. Segurei o objeto, me perguntando se aquilo era uma ilusão ou se alguém havia invadido o apartamento. Fiquei quieta e o coloquei numa gaveta. Passei horas sentada na sala esperando algo acontecer. Não aconteceu nada concreto, mas eu mal pisquei. Na manhã seguinte, decidi que não dava mais para suportar. Chamei um carro de aplicativo e fui ao cemitério. Levei comigo o anel, talvez para largá-lo lá.
Já estava decidida. Ao chegar, deparei-me com outro bilhete preso na lápide de Leonardo. Isso não termina aqui. Senti uma tontura tão grande que precisei me apoiar. Ficou claro que seja lá o que fosse, seguia me cercando. Deixei o anel ali, sem saber se adiantaria algo. Fui embora com as pernas fracas. Naquela noite, ao apagar as luzes do quarto, houvi passos leves no corredor. Pareciam passos familiares, mas não tive coragem de me levantar. Fechei os olhos, tentei rezar alguma coisa, mas não consegui formular as palavras. Esperei passar. Nada aconteceu de imediato. Porém, antes de finalmente pegar
no sono, escutei de novo aquela voz fraca, como se fosse Úrsula. Você abriu essa porta. Não abri a porta do quarto. Fiquei na cama com o rosto enterrado no travesseiro. O silêncio voltou e depois de um tempo adormeci. No dia seguinte vi que a fotografia do meu casamento, que antes estava no fundo de uma gaveta, aparecera em cima da mesa. Eu e Leonardo sorrindo com Úrsula ao nosso lado. Só que havia marcas de riscos em volta dos nossos rostos. Peguei a foto e joguei no lixo, mas nada diminuía a minha agonia. Tentei mais uma vez
encontrar dona Lídia, mas não achei nada. Procurei a terapia que a Demir indicou, mas eu não falava a verdade por completo. A terapeuta pensava que minha culpa era fruto de um luto confuso e talvez fosse mesmo parte do problema. Mesmo assim, não encontrava solução imediata para o que se passava. As semanas foram se arrastando cada vez mais. Eu me distanciava da realidade. Passava horas encarando a parede do apartamento, sentindo a impressão de ver Úrsula pelo reflexo da televisão desligada ou percebendo um vulto que lembrava Leonardo. Meus dias se resumiam a trabalhar no automático e voltar
para casa para esperar o inevitável. Não havia trégua. Às vezes eu tinha a sensação de ouvir risadas baixas, como se alguém estivesse debochando de mim. Em outras, pressentia um movimento na cozinha que eu não conseguia explicar. Eu já não distinguia o que era real do que não era. Um dia, depois de uma crise forte de ansiedade, ouvi um barulho no corredor. Saí do quarto e encontrei minhas roupas espalhadas, como se alguém tivesse revirado meu armário. Não havia sinal de arrombamento. Recolhi tudo, mas não conseguia entender como aquilo acontecia. Vizinhos não reclamavam de nada, nem diziam
ter visto pessoas estranhas. Era tudo muito confuso. Decidi então tentar um último recurso. Me sentei na sala e falei em voz alta: "Se alguém está aqui, eu preciso saber o que vocês querem." O ambiente permaneceu silencioso por um bom tempo. Eu quase desisti, mas então vi uma mancha estranha se formando na parede, como se estivesse úmida. Não sei se foi obra da minha mente ou um problema estrutural do prédio, mas dentro de mim senti que não estava sozinha. Levantei, ainda atordoada, e fui para o quarto. Depois disso, passei as madrugadas em claro, comendo pouco e
me mantendo em um estado quase febril de tensão. Mesmo sem ver Úrsula ou Leonardo com nitidez, sentia que a presença deles estava entranhada em todos os cômodos. Tentei me mudar, mas percebi que não era só o apartamento. O problema continuava comigo. Comecei a acreditar que aquilo era minha punição. Quando estava para lá de exausta, dormia por curtos períodos. Nos sonhos via as mesmas cenas repetidas. Úrsula chorando, Leonardo com um semblante abatido e ambos me olhando fixamente. Um dia acordei sobressaltada. Tive um estalo. Minha história estava cruzando uma linha que não tinha volta. Peguei o celular
e tentei falar com meu pai, mesmo sabendo que ele não entenderia tudo. Ele me ouviu. Sugeriu que eu fosse morar com ele por algum tempo, mas algo me impediu. Tinha medo de levar esse tormento para outra casa. Agradeci e desliguei. Mais tarde refleti sobre o que havia feito ao aceitar o ritual de dona Lídia. Senti uma raiva de mim mesma, mas também não conseguia desviar a culpa que eu jogava em cima de Úrsula e Leonardo. Mesmo após a morte, eles ainda me perturbavam, ou talvez fosse a minha consciência, não sei dizer. Tudo ficou confuso. Nesse
ponto, percebi que a história não tinha um fim claro. Não era uma questão de resolver ou não resolver. Eu estava presa. Úrsula e Leonardo já não estavam vivos, mas de certa forma continuavam presentes e ativos no meu cotidiano, seja por força sobrenatural ou pela minha própria mente em colapso. Passei a temer que quando eu morresse, ficaria no mesmo lugar que eles, presa às mesmas acusações e sentimentos que não se resolveram. Encerro este relato sem uma conclusão definitiva. Até hoje durmo pouco e acordo assustada. Não sei dizer se eles me condenam ou se eu mesma criei
esse inferno pessoal. Tenho a impressão de que em algum momento a conta de tudo o que fiz vai chegar por completo. E quando isso acontecer, talvez eu não consiga fugir das consequências. Se existe algum arrependimento sincero em mim, ele não basta para reverter o caminho que escolhi. Vivo cada dia com a esperança de um recomeço e o temor de que as vozes e as lembranças jamais me abandonem. Bem, amigos, esses foram os relatos de hoje. Espero de coração que tenham gostado. Lanço vídeos novos por aqui todos os dias e ficarei muito feliz em te ver
nos próximos. Agora na tela estou deixando outros dois bons vídeos que certamente irão gostar. Um abraço do Dom e eu te vejo por lá.
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