dá para sentir a secura desde a primeira página desse clássico da literatura brasileira onde os personagens procuram um pouco de água comida e sombra no vídeo de hoje vamos falar de Vidas Secas de Graciliano Ramos e bater um papo com Adriana cópio que ilustra a nossa belíssima edição na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas Manchas Verdes os infelizes tinham caminhado o dia inteiro estavam cansados e Famintos ordinariamente andavam pouco mas como haviam repousado bastante na areia do Rio Seco a viagem progredira bem três Léguas fazia horas que procuravam uma sombra a folhagem dos juazeiros apareceu
longe através dos Galhos pelados da Catinga rala é assim que se inicia Vidas Secas com a mudança de Fabiano sim a Vitória os dois meninos baleia a cachorrinha da família e uma das personagens mais famosas da literatura brasileira e o papagaio da família todos eles fogem da seca e esperam encontrar um novo lugar mas não sabem onde eles caminham pelo Sertão e encontram uma fazenda abandonada tentam fazer então desse lugar o seu novo lar O livro é composto por capítulos que oferecem diferentes perspectivas dessa realidade de acordo com cada integrante da família inclusive os capítulos
inicialmente foram escritos separadamente como contos o primeiro deles foi baleia depois sim a Vitória cadeia E por aí vai reunidos na forma de um livro a obra então pode ser vista como um romance desmontável ou seja os capítulos podem até ser lidos fora da ordem cronológica um elemento muito muito muito importante de Vidas Secas é a linguagem Graciliano Ramos é um autor que não mede esforços para lapidar o texto até a sua forma perfeita esse esmero todo do autor resulta então em uma linguagem que evoca a escassez vivida pelos personagens e ao mesmo tempo exalta
os termos puramente brasileiros em uma carta à sua esposa em que Graciliano Ramos fala do seu romance São Bernardo publicado 4 anos antes de Vidas Secas Olhem só o que ele diz O resultado é que a coisa tem períodos absolutamente incompreensíveis para a gente letrada do asfalto e dos cafés sendo publicada servirá muito para a formação ou antes para a fixação da língua quem sabe se daqui a 300 anos eu não serei um clássico E é claro que o autor se tornou um clássico em pouquíssimo tempo porque a forma como Graciliano Ramos articula as palavras
é uma das maiores riquezas da literatura brasileira em Vidas Secas inclusive há um destaque pra falta das palavras isso porque a família Mal conversa quando eles dialogam eles falam com palavras monossilábicas ou então com termos de pessoas letradas que eles escutaram mas eles não sabem direito o que esses termos significam por isso a conversa um pouco desconexa quando ele terminou de escrever o livro gra Ramos disse a um amigo o seguinte fiz esse livrinho sem paisagens sem diálogos a minha gente muda vive em uma casa velha e as pessoas adultas não TM tempo de abraçar-se
mas em uma coisa temos que discordar do velho graça apesar das descrições das paisagens serem secas não terem tantas minúcias em comparação a por exemplo outros autores que são mais rebuscados a natureza em Vidas Secas tem um papel muito importante a seca a chuva as aves de arribação São todos elementos que além de compor o romance estão diretamente ligados aos sentimentos dos personagens Vidas Secas borra os limites entre ser humano e natureza e no posfácio escrito pela poeta e pesquisadora Stephanie Borges ela fala justamente sobre essa dicotomia Ela diz que o modo de vida de
Fabiano sim a Vitória e os meninos nos lembrar de um grupo para quem a cisão entre natureza e pensamento ocidental não faz muito sentido isso porque a natureza não é fonte de exploração ela faz parte da existência e do sustento à vida é uma visão totalmente diferente sobre a terra os animais os rios e as plantas apesar da miséria da fome e da seca esses personagens estão muito mais inseridos na natureza do que na cidade com a cultura Urbana isso inclusive faz Fabiano se sentir deslocado no mundo e questionar o seu papel como homem Como
vivia em terra alheia cuidava de animais alheios descobria-se encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra você é um bicho Fabiano isto para ele era motivo de orgulho sim senhor um bicho capaz de vencer dificuldades a Stephanie Borges no seu posfácio também diz que essa proximidade de Fabian com os animais não humanos a sua compaixão e a sua dor ao se ver como carrasco no decorrer do livro dizem mais sobre a sua humanidade e a sua elegância do que se ele vestisse um terno à maneira dos homens da cidade outro personagem que questiona os limites
entre homem e natureza é a cachorrinha baleia e não é exagero nenhum dizer que baleia é uma das personagens mais lembradas pelos leitores e leitoras do nosso país uma vez eu vi uma autora brasileira contemporânea perguntando no seu perfil ali do Twitter Qual a personagem da literatura brasileira que mais tinha marcado os leitores a maioria das pessoas que respondeu a pergunta disse Baleia Baleia é humanizada pelo narrador e talvez a personagem mais comunicativa da obra por ela não precisar de palavras para se expressar nós acessamos os seus sentimentos com mais facilidade do que os dos
outros personagens fora que a ideia para Vidas Secas surgiu justamente com ela em uma carta paraa sua esposa o graça fala sobre baleia escrevi um conto sobre a morte de uma cachorra um troço difícil como você vê procurei adivinhar o que se passa na alma da cachorra Será que há mesmo alma em cachorro não me importo o meu bicho morreu desejando acordar num mundo cheio de preás exatamente o que todos nós desejamos no fundo todos somos como a minha baleia e esperamos preá aliás escrever sobre troços difíceis é uma marca do autor Graciliano Ramos escreveu
As Histórias contidas em Vidas Secas entre Maio e outubro de 1937 depois de sair da prisão onde ele ficou 10 meses como preso político natural do interior de Alagoas graça começou na carreira literária de uma forma pouco usual quando ele foi feito ele redigia os seus relatórios com uma linguagem muito única muito singular relatórios verdadeiramente literários e isso foi chamando a atenção dos editores na época ele passou então a publicar suas histórias e chegou até a ser conhecido como dostoyevski dos trópicos aqui no canal nós temos um vídeo inteiro dedicado à biografia do Graça vale
muito a pena assistir é um complemento pro vídeo de hoje a nossa edição também traz um posfácio do pesquisad e especialista em Graciliano Ramos Vander Melo Miranda entre outras coisas ele fala como graça foi contra a corrente literária da sua época ele inovou no estilo o pesquisador também retoma os elementos da natureza e Analisa em profundidade a estrutura e a linguagem do livro Ele conta também que Originalmente a obra se chamaria cardinheira são aves de arribação que se deslocam de um lugar para outro em determinadas Estações do ano essas aves estão presentes no penúltimo capítulo
do livro O Mundo coberto de penas e penas aqui tem tanto sentido dos pássaros quanto do sofrimento dos personagens o terceiro posfácio Fica por conta do professor e pesquisador Silviano Santiago ele traça um Panorama das obras do autor e fala da relação de Graciliano Ramos com o escritor português essa de Queiroz agora segura coração porque a a apresentação é de ninguém mais ninguém menos do que dvan o músico é alagoano como Graciliano Ramos e ele escreve uma carta ao autor falando da experiência de ver os seus conterrâneos no livro e a sua relação com a
seca você Graciliano para nos falar de vida numa terra esturricada inóspita de onde nada se pode tirar fala-nos de Fé coragem e amor pelo sonho de uma vida digna vida em que o homem sua família e seu cachorro possam viver em paz as ilustrações dessa vez são da artista Adriana cópio ela fez mais de 60 pinturas inéditas pro livro A gente foi visitar a Adriana para saber mais sobre o seu processo [Música] criativo o mais desafiador de tudo foi trazer toda a carga dramática do livro pras personagens pras situações porque é um livro muito intenso
por exemplo a imagem da baleia quando ela chega e traz um pra na boca e as mãos desesperadas por comida então eu quis mostrar isso sabe procurar passar essa emoção mas eu não quis fazer uma baleia como a do filme por exemplo não procurei-me até o filme quis fazer o típico viralata caramelo que é você vê em qualquer lugar [Música] as minhas referências minhas inspirações foram desde uma imagem da Nossa Senhora e que tá na casa dos meus pais os mandacarus que tem lá até as músicas que eu ouvi porque quando eu vou pintar eu
ouço música B kior Luiz Gonzaga o seu Valença eu usei a tinta acrílica sobre tela mas assim algumas poucas tinta acrílica sobre papel também eu não tenho esboços eu não faço desenho parto direto para pra tela com pincel e com a tinta Daí vão surgindo manchas e aí aparece a imagem eu queria dar uma gestualidade né pra pras ilustrações porque eu acho que o livro pede isso tem que mostrar expressão muita emoção também uma imagem que eu gostei muito de fazer foi a imagem do Fabiano visto como bicho por ele mesmo eu na verdade eu
mostrei o que se passava na cabeça dele por isso ele aparece com corpo de cabra o cabra né que eles dizem Nordeste ele tem orgulho de ser um homem valente um homem sabe que enfrenta as adversidades e ele tá bem Central na na imagem na ilustração porque é como se ele tivesse olhando no espelho Silviano Santiago Silviano Santiago e Olhem só que legal para quem estiver em São Paulo no Sábado que vem dia 24 das 14 às 18 vai ter a abertura da exposição da Adriana cio na galeria projeto Venus O endereço está aqui embaixo
na descrição do vídeo na abertura vai dar para ver as obras da Adriana copio e também adquirir o seu exemplar a exposição fica em cartaz até dia 16 de Março mas se você quer o seu Vidas Secas com o desconto da pré-venda Então aproveita porque hoje é o último dia de pré-venda O link tá aqui na descrição do vídeo já pega o seu depois o preço sobe e não cai mais lido hoje Vidas Secas continua a ser uma obra literária magistral fora que ela indica muita coisa que ainda não mudou no nosso país os temas
sociais e políticos abordados em Vida secas continuam urgentes por exemplo o direito à terra e Agricultura Familiar o número crescente de refugiados dentro do Brasil e fora dele fugindo da devastação criada pela crise climática a história criada por Graciliano Ramos não é só um retrato encarnado da seca mas mostra também tantas dimensões desse Brasil profundo sua exploração e suas injustiças me conta aqui embaixo qual a sua relação com essa obra maravilhosa da nossa literatura e a gente se vê na próxima semana com mais um vídeo tchau a