E aí pessoal beleza bem-vindos a mais um vídeo do canal errances aqui no YouTube um canal dedicado à literatura política e psicanálise eu sou franco e hoje eu queria falar com vocês de um livro que é esse livro aqui ó ele chama o trato dos viventes dois pontos formação do Brasil no Atlântico Sul e é do luí Felipe de Alen Castro ele foi publicado pela companhia das Letras no ano 2000 e é a primeira edição ainda né Eu comprei esse livro esse ano e ainda é a primeira edição eh tô gravando esse vídeo em 2024
para quem não sabe e é um livraço é é um belíssimo livro eh sobre história do Brasil eh sobre a formação do Brasil Então tem um lastro histórico mas articula análises econômicas e sociológicas e o o Além Castro Ele defende nesse livro uma hipótese e muito interessante e muito pouco discutida na na na vulgata né assim nos meios populares assim que é a perspectiva segundo a qual elementos decisivos paraa formação do Brasil eh tão são externos ao território brasileiro conforme a gente conhece ele hoje ou seja que o Brasil se define enquanto eh unidade sócio
político geográfica em função de uma conjuntura que se dá no entorno dele e na verdade esse é o argumento do Alen caspro e no contexto eh do do do circuito do mercado mundo como ele chama no Atlântico Sul então no Atlântico né o Oceano Atlântico na na na na parte de baixo aqui ó eh e aí então particularmente né Ele tá preocupado com a relação entre o a a banda oeste do continente Africano e a Banda Leste do da América e o que ele vai sinalizando nesse livro é que a Constituição do Brasil como uma
colônia com uma marcação de recurso sistemático e massivo de mão deobra escrava trazida do continente africano e com uma ênfase na busca por minérios e no o cultivo de monocultura eh isso se deu em função de uma conjuntura então não foi um plano deliberado que a monarquia portuguesa cozinhou ali né no salões a portas fechadas ou o rei tava ali cagando e pensando na vida E aí pensou ah sabe o que eu vou fazer com o Brasil vou fazer um território inteiro de monocultura vou pegar um monte de gente da África vou tacar lá para
escravizar todo mundo e fazer o negócio daquele jeito e não não não teria se dado assim e Óbvio ninguém fala desse jeito escroto que nem eu tô falando mas eh a gente pouco olha pro pra conjuntura em meio à Qual foi se constituindo esse padrão de uso e Abuso do território que hoje a gente chama de Brasil inclusive ele ao longo do livro inteiro chama de terra de Santa Cruz Porque é Ou ou é é a a Lusitânia brasílica acho que é assim que são expressões da época assim eh para se referir ao que hoje
a gente chama de Brasil né é a a a ideia de se referir ao Brasil como uma entidade única isso é posterior é claro que eventualmente isso aparecia em correspondências em reuniões diplomáticas etc mas não tinha esse tipo de olhar pro território inclusive tinha uma certa dispersão né da maneira como isso tudo Eu tô me baseando no livro dele tá isso não tô falando do Brasil exatamente tô falando do livro tô falando do argumento dele né E aí ele vai apresentando como não tinha inclusive nenhum senso de unificação entre os vários pontos de apoio pros
esforços de colonização das populações europeias no território atualmente chamado de Brasil eh esse esses esses pontos não eram articulados entre si então em entre Recife Salvador e as terras de São Vicente né Depois passou a ser chamar de Rio de Janeiro o o o São Paulo né então a a a capitania de São Vicente propriamente e ali São Paulo né Piratininga e o sul eh tinham particularidades e tinham dinâmicas de poder de negociação próprias Ainda que houvesse o vice-rei a partir de um dado momento ali não sei se no final do 16 no começo do
17 e tinha um vice-rei de Portugal no Brasil e essa articulação era uma articulação feita através do Oceano Então ela era Atlântica né a relação entre Recife e Rio de Janeiro por exemplo ela se dava através do Atlântico inclusive o Alen Castro fala nunca tinha ouvido falar disso mas confiei nele é um cara que assim um pesquisador tudo muito documentado é um livro muito bem feito assim eh ele vai mostrando que para muitas das viagens internas eh ao Território que hoje a gente chama de Brasil o que se fazia era ir para Portugal e ir
pro outro lugar então por exemplo eu não lembro exatamente mas ele faz uma análise das correntes marítimas e antes do uso né de navios a vapor que é lá pro pro comecinho do 19 Não tinha eh outra alternativa que não fosse contar com as forças marítimas para facilitar a navegação né então era mais fácil e e e mais rápido você ir paraa Lisboa ou ir pro pro pro cabo da mina ali e na África né e de lá ir pro outro lugar onde você queria ir no Brasil do que tentar ir furando a a maré
na cont Contramão né então se você vai aí vou chutar exemplos aqui eu de fato não lembro os detalhes né mas se você vai de São Paulo para Recife talvez fosse mais fácil você ir pra África e de lá ir paraa Recife se você vai de Recife para eh pro Pará né Grão Pará e Maranhão era mais fácil ir para Portugal e de lá descer e isso eu lembro bem porque achei bem impressionante assim de Recife pro Pará não dava para ir e porque a viagem Ficava muito muito longa o navio Ficava muito tempo parado
com com o povo ali remando para não voltar para trás e tinha que esperar um período muito específico do ano e e momentos específicos do dia para conseguir correntes ou ventos favoráveis para conseguir chegar então era mais seguro e mais rápido e mais prático ir para Portugal e de lá descer por conta disso então esses elementos e ele traz muitos outros e um livro de erudição inclusive né muita massa de informação que ele maneja com muita leveza com muita tranquilidade Inclusive eu particularmente Fiquei boiando numa parte que ele táa falando lá das famílias dos duques
de Portugal aí num dado momento ele vai falando sobre as tretas entre os vários reinos e dinastias dentro do território africano e eu ainda que tenho estudado um pouco dessas coisas eu sou esse leitor que vocês já estão vendo né um tanto voraz e afoito assim então eu pego as coisas por acúmulo mas eu não dou conta de acompanhar um debate nesse grau de minúcia que nem ele faz mas ainda assim eu acho bonito de ver eu acho bonito de ver assim o cara é bom no que ele faz então ele tem um lance de
escrita também que é impressionante porque ele ele articula um português que ele é palatável na medida do possível né pro leitor contemporâneo mas ele tá pautado no uso do português do das fontes com as quais ele dialoga então tem uma fluidez muito maior do que a fluidez que a gente costuma encontrar em livros de história em que você tem ali o cara falando uma espécie de português empolado E aí de vez em quando ele Cita alguma fonte E aí é uma outra linguagem totalmente porque no fundo é outra língua né o português do século X
não é o nosso português é outra língua o nome é o mesmo mas é outra coisa e ele faz uma espécie de articulação assim eh então o livro o tempo inteiro ele causa um certo estranhamento do ponto de vista do fluxo porque ele usa algumas expressões que depois pra gente né foi virando palavrão oou jargão coloquial mas que são coisas que vê né do do dos antigamentes assim então de vez em quando ele fala ah e aí o rei deu um Pitaco e ele puxa uma nota de rodapé para dizer que Pitaco era uma palavra
que se usava na época e aí ele faz isso com várias palavras é muito interessante assim e e é é impressionante né pela erudição e pela dedicação do cara para fazer uma obra robusta e E aí no meio disso tudo então ele puxa né então elementos das cartas de navegação que nem o exemplo que eu dei elementos eh das articulações entre as dinâmicas dos vários países né num contexto sociológico ou o que quer que seja e vai eh costurando isso tudo em benefício dessa hip que é a hipótese central do livro que é o Brasil
se forma no Atlântico Sul então a formação do Brasil no Atlântico Sul é a hipótese do livro O Brasil não se forma enquanto Brasil através de acontecimentos internos ao seu território ele se articula enquanto entidade né enquanto unidade a partir de circunstâncias que e são e eh que corre no campo amplo das negociações humanas eh no no Atlântico Sul então envolvendo a África envolvendo a América e envolvendo os interesses né da das potências europeias no uso do Atlântico Sul para fins de imperialismo e e e tudo mais né espol Eh então ele vai mostrando esse
tipo de articulação e E aí isso eh eu eu achei muito instrutivo né achei edificante vai usar uma palavra meio brega aqui mas eu achei edificante a leitura porque ela me e inscreve num debate muito sofisticado muito especializado e e nesse contexto vai me mostrando que muitas coisas que eu tinha como pressupostos né talvez nem tivesse consciência mas coisas que eu tinha como pressupostas são falsas historicamente eh Então essa essa ideia né da da da unidade nacional isso eu já tinha mais ou menos em mente por conta de um outro livro que eu gosto muito
que é o comunidades imaginadas do benedict Anderson eh mas o benedict Anderson que fala sobre isso né da articulação das unidades nacionais eh ele ele vai mostrando o movimento do Brasil no século 19 e o Alen Castro ele tá estudando o movimento do Brasil ao long longo dos séculos x e 1 e aí ele vai mostrando como as articulações entre os vários impérios e dinastias e forças na África articuladas com o o modo como estavam se estabelecendo pequenos pontos ali de exploração no território né do do do Leste americano né do da América portuguesa eh
e a maneira como estavam se dando as negociações os conflitos de interesse e as disputas as as conciliações dentro da das potências europeias entre as potências europeias como isso vai articulando o campo dentro do qual a ideia de uma eh uma articulação interna dos modos de espoliação do território brasileiro em benefício da do império Português foi se costurando eh e e isso de fato se dá a partir de muitas de muitas composições de forças então entre os entrepostos litorâneos na África a consolidação de um privilégio à negociação de mão de obra escrava que é uma
coisa que foi se articulando ali a partir dos impérios que tinham uma hegemonia na faixa Costeira né do Oeste africano E aí isso e permitindo a sistematização de um um mercado mesmo e de relações mercantis né entre as potências europeias e portug Portugal em particular e eh as riquezas da África o uso sistemático massivo da mão deobra escrava como moeda foi se impondo a partir de circunstâncias Então os o os eh feitores né aqueles que estavam ali no litoral foram eh aprendendo a a negociar com os impérios potências e dinastias da faixa Litorânea da África
e foram eh estabelecendo aos poucos uma dinâmica de trocas um fluxo Mercantil dentro do qual a eh compra e venda de mão de obra escrava funcionava como um articulador era a Grande engrenagem e era também o óleo da máquina e aí por conta disso eh se articula um uso massivo de de obra escrava também nas e feitorias nessa faixa na faixa leste da América portuguesa e aí com isso reposiciona o contexto da escravização maciça de eh povos originários né de povos indígenas Eh que que que vai caindo um pouco para segundo plano em benefício desse
uso porque o mercado africano fica aquecido com a compra e venda de Africanos e o uso de africanos no contexto das monoculturas no litoral articula um regime de trocas que aí permite a fixação dos Colonos no território permite a o o azeito né do regime de trocas em geral e vai eh permitindo a a consolidação daquelas eh instâncias sociopolíticas que nesse contexto vão se enraizando ali e aí elas passam a ter agenda própria PR então ele vai mostrando como os feitores africanos às vezes estavam em consonância com os interesses dos reinóis né dos portugueses instalados
ali na no no no continente europeu às vezes não às vezes eles inclusive sabotava iniciativas dos reinóis porque o interesse deles ia na contramão a mesma coisa acontece entre os feitores em território africano e os feitores em território americano às vezes Tinha uma consonância às vezes Tinha divergência podia ter conflitos podia ter articulações muitas articulações vinham no interesse de uma agenda própria então monta-se por exemplo tem um episódio que ele Analisa com detalhe que é uma expedição que se monta com uma hegemonia de forças eh eh constituídas ali no território americano então indígenas que são
convocados africanos que são convocados colonos que são convocados E aí contratam Mercenários ali tanto da América espanhola quanto portugueses E aí eles montam uma Frota que vai pra Angola PR e derrubar um determinado reino e rearticular o sistema de forças ali porque eles estavam querendo derrubar intermediadores que estavam encarecendo muito a mão de obra num contexto em que muita mão de obra tava indo acho que pra Holanda se eu não me engano para pras colônias né holandesas no caso e isso tava prejudicando o mercado então eles vão lá para derrubar o intermediador e fazer uma
espécie de dumping assim né mas um dumping violento massacrando gente fazendo genocídios e tudo então eles entram ali maciçamente vindos da América não Porque Portugal mandou mas porque era do interesse deles e aí ele vai mostrando e tem esse argumento que é muito interessante assim então Eh as pessoas nos livros de história costumam aprender que a gente tinha o sistema triangular né e o sistema triangular de comércio ele foi o modo através do qual as potências europeias h articularam o sistema colonial no no no entorno ali do Atlântico então e manufaturados né bens beneficiados bens
de comércio beneficiados saíam da Europa eram trocados por africanos na no litoral africano E aí os africanos eram vendidos no continente americano ou no Caribe E aí dali saíam insumos para comprar mais africanos e voltava dinheiro uma cacetada de dinheiro voltava pra Europa com ouro com prata com tudo que saía né e Cacau açúcar tudo que saía da América ia lá para também e eh produzir né o e o acúmulo primitivo de Capital Como diria o Marx na na Europa e aí que o Alen Castro sinaliza é não que isso não tenha acontecido mas isso
é uma simplificação nisso A impressão que dá é que todo todos esses essas massas continentais são uma espécie de maquineta que meia dúzia de europeus estão manejando ali puxando a alavanca e fazendo tudo acontecer vão lá e pega isso aqui pega aquilo ali e devolve para cá e aí e aí vai fazendo isso né e e o que o Alencastro mostra é a situação é mais complexa do que isso isso não serve obviamente se alguém tiver me entendendo mal aqui isso não serve para desresponsabilizar ninguém tá então eh o o O Massacre da potência da
do do do do campo sociológico instalado em continente Africano continua sendo um absurdo inaceitável pelo qual as potências europeias têm que ser responsabilizadas Certamente ele não tá passando pano para ninguém nisso eh mas o que ele tá mostrando é que tem agentes interessados em todos os pontos a ideia aqui é a gente tratar né os os antigos não como crianças ou como uma espécie de de rascunho do mundo contemporâneo mas como um mundo por sua própria conta com sua própria complexidade onde tinha sim gente inteligente gente bem posicionada gente estrategista gente usando recursos táticos e
você tinha ali um Game of Thrones próprio acontecendo né então os interesses de colonos na América eh Portuguesa os interesses de colonos na África portuguesa as composições desses colonos portugueses com outros colonos as relações deles com contrabandeados seja piratas seja corsários de potências estrangeiras eh os interesses deles nas relações entre si então aquele cara E aí ele até fala o nome do cara tem um cara específico que tenta forçar a mão ali diplomaticamente para impor uma agenda que era do interesse dele que era de desprestigiar o comércio de Africanos escravizados da África para para e
América portuguesa em benefício da América espanhola e aí ele fica ali chavecando os portugueses para dizer cara tem muito mais Ouro e Prata na América Espanhola não tem para que vocês ficarem comprando açúcar aqui para depois ficar comprando ouro dos espanhóis mano tipo vende os Car para lá e aí deixa os Car que você vire para fazer açúcar do jeito que eles fizerem Sei lá chama a mãe para fazer a E aí ele tinha uma agenda própria e ficava forçando a mão em relação a isso e era um cara poderoso mas isso por quê Porque
ele tinha parente na América Espanhola Então se esse sistema se implementa ele tá dos dois lados da mesa e aí o cara enriquece em cima disso obviamente ele quer poder né então o Além Castro vai mostrando essas coisas com esse tipo de familiaridade que ele tem uma impressão que dá é que ele tá falando dos vizinhos dele assim quando ele fala né ele tem uma intimidade com os arquivos que é um negócio impressionante e ele vai mostrando pra gente é a riqueza a complexidade a sutileza a nuance em meio a qual vieram a se constituir
as linhas de força principais que implementaram as escolhas estratégicas pro espólio paraa espoliação sistemática do território nacional pelas potências interessadas E aí tanto holandeses quanto colonos africanos quanto colonos brasileiros né assim Luso americanos quanto os portugueses eles mesmos então ele vai mostrando isso tudo e eu acho de fato uma aula de Brasil a gente perceber que o Brasil é definido desde fora desde sempre e isso não é novidade né assim nos últimos tempos a gente vê que os bilionários eh eh têm interesses e vão tentando saquear as potências e vão tentando dobrar as circunstâncias sociopolíticas
nacionais em função dos seus próprios interesses e vão ganhando na ida e na volta porque eles fazem o possível para compor o jogo de uma maneira tal que eles estejam dos dois lados da mesa de negociação né Isso é clássico e eh o lance do além casp é perceber de quão longe isso vem e quão complexo é o debate pra gente entender né Eh as raízes do escravismo para além né da condenação moral não que a condenação moral não tenha lugar eu acho que ela tem lugar sim mas acho que a gente consegue mais do
que isso além de condenar moralmente a gente consegue tentar analisar de onde isso vem como isso se constitui quem tem interesse nisso e como pode que isso isso tenha sido tão basal na Constituição do país então é é um livro que é realmente uma aula pra gente entender a determinação do país sinalizei o lance né do do do escravismo e do racismo porque é o que me interessa particularmente atualmente é o que eu tô pesquisando mas para quem quer entender o Brasil no geral esse livro é muito e fortemente recomendável então fica aí a dica
espero que vocês tenham gostado do vídeo quem eventualmente leu leu o livro ou quem já fez curso Alé Castro Dá uns cursos online também quem fez curso e quiser comentar quem quiser indicar alguma outra coisa do mesmo tema fica à vontade usa os comentários aí viu gente e e é isso a gente se vê em breve numa próxima errância um abraço