Nesse vídeo, eu vou falar sobre o efeito colateral perigoso de um tipo de remédio para dor que é cada vez mais usado no Brasil. São remédios que mataram cerca de 68 mil pessoas em 2020 nos Estados Unidos e que podem viciar. Será que você conhece alguém que usa ou será que é você que costuma tomar remédio pra combater a dor no dia a dia está em risco?
Comenta aqui embaixo qual remédio contra dor faz parte da sua lista, antes de ver o vídeo todo. Felizmente já existem muitas opções de remédios contra dor. Mas nem sempre foi assim.
A história do nosso remédio controverso, começou há milhares de anos, com uma planta medicinal. A raiz de tudo, literalmente, está em uma planta chamada papoula. Ela parece inofensiva e tem uma flor tão bonita que você até poderia usar em casa como decoração… se não fosse por um detalhe.
A papoula guarda por trás dessa beleza uma seiva que, quando consumida, gera uma estranha combinação de anestesia, relaxamento e euforia. A seiva da papoula foi chamada de ópio, uma substância que, ao longo da história, foi usada como droga de abuso, por causa do relaxamento e da euforia que ela dá. Mas o ópio também teve seu papel medicinal, usado como tratamento para tudo quanto é problema de saúde: de asma a ferimentos graves.
Mas para quem estava interessado só em aliviar a dor, ela era bem inconveniente, já que deixava a pessoa aérea e eufórica a ponto de mudar o seu comportamento. Isso mudou em 1805, quando um cientista alemão chamado Friedrich Sertüner conseguiu extrair do ópio uma das substâncias responsáveis pelo seu efeito analgésico, que combate a dor. Ele chamou essa substância de morfina, que até hoje é uma das substâncias mais potentes disponíveis contra dores muito fortes.
Com o passar do tempo, os cientistas descobriram outros analgésicos naturais, como a codeína, que também está presente no ópio, mas que causava um efeito mais leve do que o da morfina. Foi um avanço enorme no tratamento da dor porque não era mais necessário usar a seiva inteira da papoula como remédio. Dava para isolar as principais substâncias para ter só o efeito analgésico.
Os analgésicos naturais do ópio serviram de base para dezenas de outros remédios para dor que juntos são chamados de opioides. Esses remédios são eficazes contra dores moderadas a intensas que aparecem depois de uma cirurgia e por causa de doenças como câncer avançado. Eles são a solução para dores que não se resolvem com remédios comuns, como o paracetamol.
Por incrível que pareça, os opioides funcionam porque se ligam perfeitamente a receptores importantes do nosso corpo. Mas como isso é possível? Seria obra do destino ou, quem sabe, do acaso que o corpo responda tão perfeitamente a essas substâncias poderosas encontradas na natureza?
Se você mete o dedinho do pé na quina da mesa, ai, os neurônios do seu dedinho enviam sinais que chegam ao cérebro para gerar a sensação que você entende como dor. Por mais desagradável que seja, você precisa sentir dor para não sair por aí desatento batendo o pé em tudo quanto é coisa. Mas o sinal de dor não pode durar para sempre.
E o organismo tem moléculas que fiscalizam os neurônios para garantir isso. Essas moléculas fiscais podem desativar os sinais da dor através da ligação a receptores que ficam na superfície dos neurônios. É aqui que entram os opioides.
Eles têm uma estrutura parecida com essas moléculas fiscais e se ligam aos receptores delas para bloquear qualquer sinal de dor. Quando os opioides se ligam aos receptores, os neurônios simplesmente não conseguem levar mais o sinal de dor até o cérebro com a mesma eficiência. É um mecanismo diferente e mais potente do que os remédios comuns para dor de cabeça que eu expliquei nesse vídeo aqui.
O problema é que os opioides fazem mais do que só aliviar a dor. Eles também agem diretamente no cérebro, o que pode gerar um efeito colateral muito perigoso. Quando a pessoa toma um opioide, ele bloqueia momentaneamente a capacidade do cérebro de controlar sinais de prazer e bem-estar.
O resultado desse descontrole é que o cérebro libera grandes quantidades de dopamina, que muita gente conhece como o hormônio do prazer e do vício. A dopamina gera euforia, bem na hora em que a pessoa está sentindo o efeito analgésico do opioide. Ela fica como se estivesse flutuando.
Tem gente que sente uma “brisa” mesmo. Só que sentir prazer 100% do tempo não é bom, assim como deixar de sentir dor totalmente também não faz bem. O controle dessas sensações te ajuda a diferenciar as situações negativas, neutras e positivas.
À medida que a pessoa continua tomando o remédio diariamente, o organismo tenta retomar o controle da situação. Ele vai diminuir a quantidade de receptores disponíveis para ligação na superfície dos neurônios. Na prática, parte do opioide que a pessoa toma não tem mais onde se ligar para gerar seus efeitos.
Agora, aquela dose que a pessoa tomava começa a ser insuficiente para aliviar a dor e não gera mais prazer. A pessoa precisa de doses cada vez mais altas para ter o mesmo efeito de antes. Nesse ponto, parar de tomar o remédio gera um mal estar intenso porque o organismo se adaptou para trabalhar com o remédio ali.
É a chamada dependência física. É como se o corpo precisasse do remédio para funcionar. A pessoa tem agora 2 motivos para aumentar a dose de opioides.
Ela quer acabar com os sintomas de dependência e aliviar a dor. Aos poucos, a dependência física altera regiões do cérebro ligadas ao controle de impulsos, gerando a dependência química, que aí sim nós chamamos de vício. Se a pessoa tiver acesso ao remédio, ela começa a exagerar nas doses sem pensar nas consequências.
E eu estou falando aqui, galera, de uma doença. A pessoa não decide tomar mais remédio porque é irresponsável. Ela simplesmente não consegue evitar.
E o pior é que nem todo mundo sabe desse risco que remédios como Codex, Tylex, Durogesic e outros comuns podem causar. No final, eu vou falar mais então deixa o seu like aqui para esse vídeo chegar mais longe e alertar o máximo de pessoas possível porque o abuso de opióides é um problema sério. O vicio em opioides levou cerca de 68 mil norte-americanos à morte em 2020.
E eu falo deles porque é onde tem os estudos mais robustos. A pessoa começa a tomar por conta de uma fratura grave, uma enxaqueca ou pela dor insuportável de uma pedra no rim. E aí quando o tratamento termina, a pessoa continua tomando o remédio por conta própria e vai aumentando a dose, não mais para tratar uma dor, mas em busca de relaxamento e prazer.
Pessoas que fazem tratamento para dor crônica ou durante muito tempo como no caso de um câncer também têm que tomar cuidado com isso. Doses muito altas de opioides afetam várias funções do organismo. Já no caso de pessoas que abusam de doses muito altas de forma pontual, isso também é um problema.
O opioide se torna um verdadeiro veneno e causa a famosa overdose, que leva a problemas como convulsões e coma. Se a pessoa não for atendida a tempo, o caso evolui para uma parada cardiorrespiratória e até morte. Hoje, o principal culpado nos Estados Unidos é um opioide chamado fentanil.
Esse é o nome do princípio ativo, mas os medicamentos podem chamar Durogesic ou Fentanest ou até outro nome. O fentanil é até 100 vezes mais potente que a morfina e geralmente é indicado para pessoas com câncer que sofrem de dores incapacitantes. Só que ele conquistou o mercado ilegal.
Pessoas já dependentes de opioides e até quem nunca teve indicação médica para tomar opioides consegue comprar sem receita. E o Brasil, pessoal, corre o risco de ir pelo mesmo caminho. Em 6 anos, as prescrições subiram de 1,6 milhão em 2009 para 9 milhões em 2015 e os especialistas não sabem ao certo o porquê.
Os principais opioides vendidos no Brasil são os derivados da codeína, como o Codex e o Tylex; os derivados do fentanil, como o Durogesic e Fentanest; e a oxicodona, também chamada de OxyContin. Você já tomou algum desses? Me conta aí embaixo.
Isso para prescrições, que é quando a pessoa toma o remédio com recomendação médica. Um estudo da Fiocruz mostrou que, em 2015, 3 % da população já tinha tomado opioides sem recomendação médica. Número 3 vezes maior que o de pessoas que declararam uso de crack e 10 vezes maior que os que declararam uso de cocaína.
Esse é mais um sinal de alerta. Nos Estados Unidos, depois do aumento nas vendas de opioides, teve um aumento também no uso ilegal deles. Quando os órgãos reguladores decidiram tomar providências, já tinha muita gente viciada e morrendo de overdose.
Será que vamos ter uma epidemia de abuso de opioides, também aqui no Brasil? Eu espero que não. A verdade é que o acesso a opioides no Brasil é mais difícil do que nos Estados Unidos.
Nos dois países, esses remédios só são vendidos na farmácia mediante prescrição médica. Mas no Brasil, nós temos uma regulação rigorosa para evitar abusos e diminuir o risco de vício. Os nossos médicos são historicamente mais cautelosos e seguem uma escala recomendada pela OMS e pelo Ministério da Saúde, onde cada tipo de remédio é indicado para diferentes níveis de dor.
Para dores de intensidade baixa, nós temos remédios muito eficazes como paracetamol e dipirona, que você pode comprar sem receita. É só para dor moderada a intensa, se não tiver outro remédio adequado, que os opioides são usados. Os opioides são essenciais para melhorar a qualidade de vida de quem sofre com as dores intensas ou constantes de um herpes zoster ou de um problema na coluna.
Eles também fazem parte dos procedimentos chamados cuidados paliativos, usados quando a pessoa tem uma doença grave em que a dor é debilitante, como alguns cânceres avançados e lúpus. Mas fica tranquilo, desde que usados adequadamente, seguindo à risca as recomendações do médico sobre a dose, a data de início e a data de término do tratamento, você não vai ficar viciado nem ter uma overdose de opióide. Mas nada de tomar por conta própria e nada de compartilhar o remédio com o vizinho só porque ele apareceu com uma dor na lombar, que eu sei que vocês adoram compartilhar receitas médicas.
Se você quer compartilhar alguma coisa que realmente vai fazer bem, assista e compartilhe esse vídeo aqui, onde eu falo sobre os verdadeiros benefícios de alimentos probióticos como iogurtes e leite fermentado. Um grande abraço, não tome remédios sem receita e eu te vejo no próximo vídeo. Tchau.