Nem Tudo é Autismo - 5 Diagnósticos que Podem Ser Confundidos com TEA

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Lygia Pereira - Autismo Feminino
Nem toda dificuldade de comunicação leva ao diagnóstico de autismo e nem todo comportamento restriti...
Video Transcript:
Hoje, nós vamos falar sobre cinco condições que podem ser confundidas com o autismo e que demandam mais tempo, mais energia e um raciocínio mais profundo para que nós possamos diferenciá-las. Inclusive, na prática clínica, nós chamamos esses diagnósticos de diagnósticos diferenciais, ou seja, eles são diagnósticos possíveis que precisam ser investigados ao longo da nossa avaliação, para que nós possamos conferir as diferenças e as semelhanças, e para que depois o profissional ou a equipe consiga decidir o que parece mais razoável: fechar, né, concluir a avaliação com o diagnóstico ou mais diagnósticos. Antes de nós entrarmos aqui precisamente nesse assunto, seja muito bem-vinda, seja muito bem-vindo à nossa comunidade!
Aqui, nós falamos sobre o autismo, principalmente autismo em adultos nível um de suporte, mulheres autistas, né, a apresentação feminina do autismo. Então, se você é autista ou se você ama uma pessoa autista, trabalha nessa área, já deixa seu like e se inscreva no canal para receber todos os vídeos em primeira mão. Aliás, agora eu tenho publicado duas vezes por semana e vai ser ótimo ter você comigo aqui nos estudos.
O primeiro diagnóstico diferencial é o mutismo seletivo. Então, no mutismo seletivo, o desenvolvimento precoce não costuma ser acometido. Essa é uma das diferenças possíveis: a criança tem o neurodesenvolvimento típico, compatível com o da sua idade, mas eventualmente ela para de falar em alguns ambientes ou em vários ambientes; daí o nome, né, mutismo seletivo.
Ela seleciona onde vai falar e, às vezes, fica um tempo mesmo sem falar nada. A criança que é afetada normalmente vai ter as habilidades de comunicação preservadas. Ela vai conseguir ser recíproca nos ambientes em que decidir falar, vai conseguir ser efetiva na sua comunicação, vai perceber as pistas sociais e vai ter a reciprocidade do afeto também.
Tem uma história, inclusive, que é interessante e pode exemplificar, né, pode ilustrar esse comportamento diferente. A Maya Angelou, aquela poetiza americana fantástica, passou por um trauma de infância, um trauma muito forte, e, por uma certa culpa, um receio, trauma mesmo, ela deixou de falar. Ela conta que, mesmo não falando, mesmo não se expressando verbalmente, decidiu que iria ler todos os livros da biblioteca do bairro dela.
E ela fez isso! Ela leu todos os clássicos nesse tempo, meses em que deixou de falar, e teve um desenvolvimento intelectual muito grande. Durante esse tempo, ela aceitava o carinho da família, estava presente nas ocasiões, brincava com as outras crianças, mas não falava.
E ela lia muito. Então, ela mesma conta, né? Hoje, ela é falecida, mas contava que, quando decidiu abrir a boca, tinha muito a compartilhar.
E foi uma professora brilhante, fantástica! Quer dizer, ela decidiu não falar, passou um tempo sem se expressar verbalmente, mas tinha as suas habilidades, tanto na interação quanto na comunicação social, e não apresentava os comportamentos repetitivos e restritivos. Então, essa é outra grande diferença: a criança, às vezes, tem uma dificuldade na fala ou tem esse mutismo em determinados ambientes e contextos, mas quando a gente vai investigar, além de ser recíproca e de compreender as interações, de iniciar suas interações e brincar com as outras crianças, não ter alterações no comportamento não verbal, se ela não tiver também os comportamentos repetitivos e restritivos, não vai ser autismo.
Então, os profissionais vão fechar o diagnóstico apenas de mutismo seletivo. Pode ter as duas condições juntas, sim, pode ter. Por isso, demanda mais tempo e maior observação para saber se, ah, precisa ter os dois diagnósticos.
A segunda condição que pode ser facilmente confundida com o autismo é o transtorno alimentar restritivo evitativo, ou TARE, como nós chamamos na clínica, para ficar mais enxuto. E, como o próprio nome já diz, no TARE, a pessoa vai restringir sua ingesta calórica e evitar os alimentos. Isso pode ter consequências muito sérias, porque a pessoa evita muitos alimentos e, com isso, fica desnutrida, perde peso; em alguns casos mais extremos, precisa de alimentação parenteral, perde habilidades.
E por que essas duas condições podem ser confundidas? Porque a pessoa tem a aversão a alguns alimentos, naturalmente, ou consequentemente vai evitar alguns ambientes. Por quê?
Porque em quase todo evento social nós temos os alimentos: nas celebrações de Natal, celebração de ano novo, festas de aniversário, reuniões de trabalho, na escola. Se ela não tolera o cheiro ou, às vezes, até visualizar os alimentos, ela vai rejeitar, evitar, esquivar-se e restringir também seu comportamento social. Com isso, não tem treino de habilidades sociais e pode parecer uma pessoa autista.
Mas a investigação precisa ser mais profunda; nós precisamos avaliar o neurodesenvolvimento, os marcos de desenvolvimento na infância. Então, se não houve atraso de fala, se não tem dificuldade na reciprocidade social, se brinca naturalmente com as outras crianças, não tem o comportamento não verbal diferente ou atípico, se ela compreende o início das interações sociais, se sabe cultivar as amizades, está bem com os coleguinhas e apresenta a seletividade alimentar, então o raciocínio clínico vai tender mais apenas para o TARE. Mas nós precisamos saber que é uma das comorbidades mais frequentes do transtorno do espectro autista.
Para fechar o diagnóstico de transtorno do espectro autista, nós temos que perceber não apenas os padrões restritivos e repetitivos de comportamento. A seletividade alimentar pode aparecer tanto pela inflexibilidade mental quanto pela hiperreatividade aos estímulos sensoriais, e os alimentos, claro, são cheios de estímulos sensoriais: textura, sabor, cheiro, e tudo. Então, se ela apresenta outros padrões restritivos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, e, além disso, tem alterações na comunicação e na interação social, aí o diagnóstico de autismo será fechado.
E se ela tiver o tar muito forte, esse componente da seletividade alimentar muito forte, os dois diagnósticos vão ser dados. A terceira condição que pode ser confundida com o transtorno do espectro autista é o transtorno da personalidade esquizoide. E os transtornos da personalidade, nós sabemos que são fechados no início da fase adulta.
Às vezes, no final da adolescência, já pode-se pensar sobre isso. E esse, então, é um ponto quando se investiga a infância e não se percebe alterações, mas a pessoa vai ficando mais embotada emocionalmente, pouco reativa, pouco recíproca e não tem interação, apresentando uma aparente indiferença social, né? As pessoas, o afeto, interesse por relacionamentos e tudo.
Aí a pessoa, né, o médico, os profissionais, eles vão pensar mais em um transtorno de personalidade. Acontece que o autista também tende a ter, ele pode ter essa aparente indiferença social. E aí, como se fazer o diagnóstico diferencial?
Como saber se é um ou outro? Bom, no caso do transtorno do espectro autista, nós vamos observar que existe também, além das dificuldades na interação e na comunicação social, ou essa indiferença, ou a pessoa não consegue se expressar, né? É mais um não consegue.
No autista, no caso da pessoa com o transtorno de personalidade esquizoide, é a falta de interesse mesmo. Isso pode, sim, acontecer no autista, mas para fechar o diagnóstico de TEA, nós precisamos do critério B, então, dos componentes ou dos padrões repetitivos e restritivos de interesse, comportamento e atividades. E aí fica um pouco mais simples raciocinar se é um ou outro, mas é algo difícil, sobretudo quando os casos são mais leves, né?
Nível um de suporte no TEA e esse grau mais leve do transtorno de personalidade esquizoide. E, como nós falamos aqui do transtorno de personalidade esquizoide, vamos falar agora da quarta condição: o transtorno de personalidade esquizotípica. Então, mais uma vez, como um transtorno de personalidade, antes de tudo, né?
Personalidade, a personalidade é um modo de funcionar, é um jeito de ser. Mas os transtornos de personalidade tendem a ser diagnosticados novamente no final da adolescência e início da fase adulta. E onde essas duas condições, né, o TEA e a personalidade esquizotípica, podem coincidir?
Quais são as semelhanças, né? Quais são os pontos de interseção? Bom, nos dois casos, nós vamos perceber que existem, às vezes, experiências sensoriais incomuns, pensamentos diferentes, atípicos ou estranhos.
O próprio DCM usa esse termo, né? Fala estranha. Se a gente for ver, nas avaliações, são falas idiossincráticas, afeto restrito, às vezes ansiedade social, não tem amigos íntimos, não tem laços fortes, a pessoa não forma vínculos.
Além disso, o comportamento dela pode ser bastante atípico ou excêntrico. A excentricidade, às vezes, é o ponto mais marcante da personalidade esquizotípica. E muitos autistas falam isso, né?
Que receberam o rótulo de pessoas excêntricas, diferentes, exóticas. Agora, como nós vamos fazer a diferença? Então, quais são os pontos que levam para um diagnóstico ou para outro?
No caso do autismo, observando desde a infância, então novamente precisa ser avaliado o neurodesenvolvimento. Então, se são observadas as dificuldades na interação social e na comunicação social desde cedo ou quando as demandas sociais se elevaram. E, além disso, existem os padrões repetitivos e restritivos de comportamento.
Pronto! Então pensa-se em autismo. Mas se a pessoa tem, às vezes, esse embotamento emocional afetivo ou tem a dificuldade de fazer laços sociais, ah, se tem esse comportamento mais exótico, só que não apresenta esses padrões repetitivos e restritivos de comportamento, atividades e interesses, então a gente não vai pensar em TEA.
E aí, se esses comportamentos aparecem mais na adolescência e fase adulta, pronto, aí o profissional já, né, encaminha esse diagnóstico, já vai raciocinar mais sobre o transtorno de personalidade esquizotípica. E, para fechar aqui, a quinta condição é o transtorno da comunicação social ou pragmática. E aí, quais são os pontos de semelhança nesses dois casos?
Bom, aqui, novamente, se é um transtorno de comunicação social, naturalmente, nós vamos imaginar que a pessoa tenha dificuldade nas interações dela, na comunicação, no cultivo de relacionamentos, de tudo. Então, o critério A do transtorno do espectro autista pode ser contemplado. E aqui, entre parênteses, o DCM traz pragmática.
O que significa a palavra pragmática? Uma pessoa pragmática é uma pessoa objetiva, assertiva, resolvida. Então, se falta pragmática na comunicação, quer dizer que a comunicação não vai ser tão efetiva.
Mas será que essa pessoa tem os comportamentos repetitivos e restritivos? Se ela tem, né? Infelizmente, não estou com acesso à internet para trazer as definições atuais, mas podemos inferir sobre isso.
Pode ser que sim, pode ser que não. Então, o raciocínio clínico se encaminha para o TEA. Mas se não existem esses sintomas, esses sinais, então talvez seja só um, não que seja pouco, mas um transtorno na comunicação mesmo.
E nós temos conversado aqui sobre vários desafios diagnósticos e como você pode ver, realmente, algumas condições, elas podem ter características muito semelhantes ou uma faixa de interseção muito ampla. E, por isso, é importante estudar, é importante fazer uma avaliação muito cuidadosa, porque nem tudo é autismo. E uma só pessoa pode ter um transtorno, dois ou mais diagnósticos.
E, aliás, isso é bastante frequente quando nós estamos falando, né, quando se trata de transtornos mentais. É bastante comum que haja comorbidades. No caso do autismo, 70% têm uma condição a mais, uma comorbidade, e até 40% têm mais de uma comorbidade.
Então, muito obrigada pela presença. Deixe seu like, se inscreva no canal, compartilhe o vídeo com várias pessoas, com as pessoas que você gosta. E, se você quiser saber mais sobre outros diagnósticos, outras condições que podem ser confundidas com o autismo, escreva a sua sugestão aqui nos comentários.
E aí, eu posso fazer outros vídeos sobre o autismo e diagnóstico diferencial. Grande abraço e até breve! Tchau tchau!
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