O que é ser Pardo essa polêmica foi levantada recentemente depois da USP ter negado a matrícula de alguns alunos autodeclarados pardos que tentaram ingressar na universidade através de cotas étnico-raciais pelo menos dois desses alunos processaram a universidade e esses casos acabaram ganhando grande repercussão enquanto grandes mídias burguesas e políticos de extrema direita estão se aproveitando da situação para atacar a política de cotas étnico-raciais dizendo que só deviam existir cotas sociais e também atacando As bancas de heteroidentificação chamando elas pejorativamente de tribunais raciais muitas mídias alternativas que pautam questões raciais começaram a debater O que é
ser Pardo ou voltaram a debater sobre isso né O que é ser Pardo O que é ser negro e eu enquanto estudante de Ciências Sociais na USP há poucos meses de me formar eu queria contribuir um pouco aí com esse debate eu já aviso mano não é nada simples é muito complexo a minha maior motivação para fazer esse vídeo foram algumas mensagens que eu recebi nessas últimas semanas de seguidores meus questionando se eles seriam brancos negros pardos ou outra coisa Eu geralmente não respondo essas perguntas porque a identificação racial é um bagulho que parte de
muitos fatores tá ligado mano inclusive fatores íntimos e nem sempre eu vou estar capacitado para fazer essa avaliação só que um caso específico chamou minha atenção e ele foi o maior responsável por resolver fazer esse vídeo aqui um seguidor meu que mora na periferia de São Paulo tinha me mandado no começo do mês uma mensagem dizendo que ele passou na USP através da Fuvest menos de duas semanas depois depois ele me mandou outra mensagem dizendo que tinha se candidatado a uma vaga reservada a pretos pardos ou indígenas mas que a banca de é identificação tinha
recusado a autodeclaração dele como pardo eu me surpreendi porque desde o primeiro momento que eu vi o Instagram dele eu tinha lido ele como uma pessoa branca e então eu respondi que de fato ele não é pardo tá ligado E aí nós começou a trocar uma ideia sobre isso ele me disse que sempre se considerou Pardo por conta de alguns motivos como por exemplo ter uma bisavó Negra ter crescido na favela ter sido criado entre muitas pessoas negras vir de uma família pobre serenado ter o nariz Largo ter lábios que não são finos e ter
o cabelo ondulado o que eu falei para ele mano é que esses quatro primeiros fatores não dizem absolutamente nada sobre a raça de alguém a sua raça não é definida pela raça da sua bisavó e nem pelo meio em que você foi criado isso é um ponto nos Estados Unidos Por exemplo historicamente as classificações raciais Foram sim construídas com base nesses fatores então lá Existiam os bairros de brancos e os bairros das pessoas de cor todas as pessoas que cresciam nesses bairros é porque elas tinham pelo menos uma mãe uma avó um bisavô não branco
e por isso Elas seriam consideradas também pessoas de cor tá ligado até os anos 80 em muitas partes dos Estados Unidos existiu um princípio social e jurídico de classificação racial conhecido como regra da uma gota ou Lei da uma gota que determinava que pessoas com qualquer grau de ancestralidade não bran Branca Independente da sua aparência tá ligado Elas seriam classificadas e tratadas juridicamente como pessoas de cor Ou seja a pessoa podia ter a aparência da Angélica por exemplo que se ela tivesse uma tataravó negra ela seria considerada uma pessoa de cor esse tipo de classificação
racial nunca existiu no Brasil lá nos Estados Unidos ele foi possível porque a população negra sempre foi relativamente pequena assim como a missena dela com brancos muitas séries famosas dos Estados Unidos como todo mundo o Cris e the Gate Down retratam essa divisão de bairros e escolas de negros e brancos a predominância de casais negros ao invés de casais interraciais e até mesmo a forma como pessoas de pele clara são ainda assim consideradas negras sem questionamentos já aqui no Brasil mano toda a nossa história foi marcada por muita missena e não isso não é uma
coisa admirável t em vista que durante os mais de 300 anos de colonização e quase 400 Anos de Escravidão essa mistura racial aconteceu principalmente através do estupro de mulheres negras e indígenas pelos colonizadores europeus brancos desse jeito quando a escravidão foi oficialmente abolida a população não branca era a maioria do Brasil no Censo de 1890 pretos pardos e indígenas somavam 56% dos brasileiros paraa elite branca isso era um problema tá ligado intelectuais e políticos da época eles falavam que se o Brasil não diminuísse sua população não branca e não aumentasse a sua população branca ele
jamais iria se desenvolver e se tornar um país civilizado por isso seria necessário embranquecer a população incentivando que ela se missasse para que os seus descendentes nascessem cada vez mais com a pele clara Nesse contexto fica Impossível falar que todas as pessoas com ancestrais não brancos são também pessoas não brancas porque no Brasil a maioria da população é mestiça e tem antepassados negros brancos e indígenas assim mano no Brasil o que define alguém como Branco negro ou Pardo São apenas os seus traços fenotípicos ou seja sua aparência racial inclusive isso independe do que tá escrito
na sua certidão de nascimento viu no caso dos indígenas é diferente entre eles sim o que conta é a ascendência é você descender de um povo e ter o reconhecimento dele de que você pertence a ele agora eu vou falar um pouco sobre o uso histórico da palavra Pardo aqui no Brasil posso Enquanto algumas pessoas acreditam que Pardo é a mesma coisa que mestiço e não é outros dizem que Pardo é papel pardo não existe ou que todo Pardo na verdade é negro de pele clara na realidade mano O Primeiro Registro que se tem do
uso da palavra Pardo no Brasil vem de 1500 da carta que Pedro Vas de Caminha enviou pro rei de Portugal durante a invasão de Pindorama onde ele usa Pardo para se referir aos indígenas durante todo o período colonial o termo Pardo foi usado para se referir a indígenas e caboucos filhos de indígenas com brancos como mostra por exemplo a historiadora Maria Leônia Chaves na sua tese de doutorado já a historiadora Ed Matos ela mostra que o termo Pardo foi usado também para classificar negros Livres independentemente deles serem mestiços Ou seja é como se o termo
Pardo fosse uma classificação social que afastava afrodescendentes da condição de escravos os negros que ainda eram escravizados eram classificados geralmente como pretos ou como criolos enfim mano depois da Abolição da escravidão o termo Pardo ficou mais confuso ainda como mostra a historiadora Lilia shivar no seu livro nem preto nem Branco muito pelo contrário cor e Raça na sociabilidade brasileira nos censos demográficos realizados entre o final do século X e a segunda metade do século XX Pardo foi usado como um termo guarda-chuva para abrigar todas as pessoas que não se declaravam nem pretas nem brancas e
nem amarelas ou seja entrava no grupo de pardos também o indígenas e os autod declarados mulatos caboclos cafuso mestiços mamelucos etc no Censo de 1976 a população deu 136 classificações de cor ou raças diferentes mano todas que não foram branco preto ou Amarelo entraram como Pardo Lília diz que o termo Pardo surge como a sobra do censo como um coringa tudo que não cabe em outros lugares encaixa-se aqui é como se fosse uma opção do tipo nenhuma das anteriores abre aspas um sistema classificatório que na impossibilidade de definir tudo cria um novo termo para dar
conta do que escapa da seleção fecha aspas a historiadora diz que Pardo é um termo paradoxal e de difícil tradução e ao contrário do que repetem muitos ativistas e militantes do movimento negro o IBGE nunca definiu que negros são a soma dos pretos e pardos quem sugeriu isso mano foi o estatuto da Igualdade racial de 2010 e eu acho isso bastante equivocado porque nem todos os pardos são negros ou tem ascendência negra na realidade o IBGE define pardos como abre aspas pessoas que se identificam com mistura de duas ou mais opções de cor ou raça
incluindo Branca preta parda e indígena fecha aspas isso no senso de agora de 2022 de fato Pardo é um termo de difícil tradução mano e se hoje a gente tá vendo esses problemas com As bancas de hetero classificação é porque pardo não é uma classificação objetiva na verdade nenhuma é as raças são invenções sociais culturais e políticas elas não foram definidas pela natureza ou pela biologia como se acreditava antigamente é por isso que no caso do IBGE a raça é apenas autodeclarada você pode falar que você é o que você quiser Porém para acessar políticas
públicas como as cotas étnico-raciais a autodeclaração não é suficiente e não é porque Infelizmente existem muitas pessoas brancas desonestas que começaram a se autodeclarar pardas só para usar as cotas exatamente com a justificativa de que tem um avô negro de que tem o cabelo cacheado por isso As bancas de heteroidentificação definem critérios para avaliar se uma pessoa pode ser considerada preta ou parda no caso dos autodeclarados Pretos não costuma ter muito problema né porque a cor da pele escura geralmente é suficiente mas para nós pardos outros fatores são analizados em 2017 o Supremo Tribunal Federal
STF num ação declaratória de constitucional ade recomendou que as características consideradas pelas bancas avaliadoras em concursos e processos seletivos como vestibulares sejam textura do cabelo crespo ou cacheado nariz Largo cor da pele preta ou parda e lábios grossos e amarronzados esses são os critérios usados por exemplo pela USP porém esses traços fenotípicos são mais Associados aos paros descendentes de negros podendo excluir par dos descendentes de indígenas que tenham cabelo l e o nariz não tão Largo assim por exemplo no caso das polêmicas recentes aí né envolvendo aqueles dois alunos que processaram a USP o parecer
da comissão que barrou um deles disse que ele abre aspas tem pele clara boca e lábios afilados e cabelos lisos não apresentando o Conjunto de características fenotípicas de pessoa negra fecha aspas reparem então que o que a banca de heteroidentificação da USP avalia é se o candidato é negro isso tá lá no edital da Fuvest mano o que diz lá é abre aspas para ter direito à ação afirmativa os candidatos selecionados que concorrerem as vagas reservadas aos autodeclarados pretos pardos ou indígenas e que independentemente da renda temam cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas
deverão possuir traços fenotípicos que o caracterizem como negro de cor preta ou parda ou no caso dos indígenas não registrado civilmente como indígenas apresentar o Rani fecha aspas o guia de heteroidentificação da Fuvest 2023 também disse claramente que abre aspas a comissão de heteroidentificação seria exclusivamente destinada a pessoas negras entre parênteses pretos e pardos fecha parênteses e fecha aspas ou seja a USP aqui Muito provavelmente tá se baseando no Estatuto da Igualdade racial que estabelece que a população negra no Brasil seria formada pelo conjunto de pessoas que se autodeclaram pretas e pardas Mas como eu
já expliquei essa definição é problemática e apaga os povos indígenas na minha visão mano enquanto sociólogo e estudioso de questões raciais mas também enquanto uma pessoa parda que se considera Negra a gente não pode nem falar que pardo não existe que todo Pardo é negro ou que todo mío é pardo Pardo é um grupo muito amplo e muito diversificado de pessoas com diferentes traços e origens raciais pardos com ascendência negra e traços negros como eu mano Brau tasha Tracy L7 A gente pode se considerar negros assim como pardos com ascendência indígena podem se denominar caboclos
ou se eles estiverem num processo real de descoberta e reconexão com o seu povo podem se dizer indígenas em retomada como o rapper chaman por exemplo assim como existem muitas pessoas que são pardas mas que não se encaixam nem no grupo dos negros e nem no grupo dos ind indas são os casos aí por exemplo do Ministro Flávio Dino e da cantora Pablo vitar fato é que em todos os casos o ser Pardo dessas pessoas tá expressado nitidamente na sua cor ou nos seus traços que indicam claramente a miss gerer nação como eu falei a
realidade brasileira é bastante diferente da realidade dos Estados Unidos mano e a gente não pode simplesmente querer copiar ou importar o debate racial de lá para cá dizendo que só existem bran e negros ou que quem tem algum parente não branco também não é branco eu espero que esse vídeo possa ter ajudado de alguma forma mas eu sei que muitas pessoas vão sair dele confusas e sem a resposta que queriam mas fiquem em paz que a sua autodescoberta é um processo que pode levar anos eu mesmo sempre ouvi na favela que eu era branco com
16 anos passei a me declarar pardo e mesmo assim eu não me senti à vontade na época do vestibular para usar cotas raciais quando eu entrei lá na USP em 2018 foi só lá dentro a partir de estudos e vivências que eu comecei a me declarar negro e hoje eu tô em busca da minha ascendência indígena entendendo minha mãe como uma mulher cabua e tentando descobrir aí de qual povo que a gente descende enfim é um processo Tenha paciência e aprenda o máximo que você puder ao longo dele valeu