O menino faminto encontrou a carteira de um advogado, cheia da grana, e fez o homem chorar quando pediu que a chuva caía torrencialmente e encharcava o tênis de Bruno, um garoto de apenas 9 anos, que já estava acostumado à dura vida nas ruas de Ouro Preto, Minas Gerais. A cidade das ladeiras se tornava especialmente escorregadia quando chovia com aquela intensidade. Como sempre, Bruno enrolava para voltar para casa, pois não tinha conseguido vender todas as balas que seu padrasto lhe havia entregado pela manhã.
Certamente ele levaria uma grande bronca por não ter vendido tudo. E, para piorar, ele tinha comido algumas balas para tentar acalmar seu estômago, que urrava de dor pela fome. Enquanto tentava se esconder da chuva na Praça Tiradentes, Bruno avistou um homem bem arrumado, caminhando com uma garotinha também bem arrumada.
O senhor, com sobretudo refinado, dizia para a garota, que devia ter a mesma idade de Bruno: “Veruca, meu bem, o papai não pode ir comprar seus chocolates agora. Está chovendo muito e precisamos ir para a casa da sua avó. ” A menina estava emburrada e batia os pés no chão, sem se importar com a água que voava para todos os lados.
Quando fazia isso, ela gritava com um tom desafiador para seu pai: “Papai, eu quero meus chocolates! Não vou a lugar nenhum, nem queria ter vindo para cá! ” Identificando uma oportunidade de negócio, Bruno atravessou a praça, mesmo com a terrível chuva que caía, e se aproximou de pai e filha.
O homem se assustou quando viu aquele garotinho maltrapilho se aproximar. Bruno logo o tranquilizou, mostrando sua caixinha de balas e dizendo: “Senhor, ouvi que sua filha queria chocolates. Eu tenho balas para vender, se desejar comprar.
” Veruca olhou desconfiada e disse: “Mas balas não são chocolates! ” Bruno então retrucou: “Eu tenho balas com recheio de chocolate. ” A garotinha, pela primeira vez, esboçou algo semelhante a um sorriso e disse: “Hum, até pode ser!
” O homem, que se chamava Gabriel, respirou aliviado e disse para o garoto: “Se minha princesa quer essas balas, então eu compro tudo. ” Olhando para Veruca, Gabriel acrescentou: “Vou comprar as balas para você, mas depois temos que ir para a casa da vovó. Afinal, ela está doente e viemos até Ouro Preto só para vê-la.
” A mimada garotinha concordou com um balançar de cabeça. Gabriel sabia que, provavelmente, ela faria mais alguma birra ao longo do dia. A chuva parecia engrossar e Gabriel lutava para manter o guarda-chuva em mãos, enquanto pegava o dinheiro para pagar pelos doces de Bruno.
Com pena do garotinho, ele pagou muito mais do que a caixinha de balas custava. Assim que Veruca pôs as mãos na caixa de balas, começou a devorar os doces tal qual um animal selvagem na natureza. Gabriel, que estava com pressa, pediu uma informação de endereço para o garotinho e, com bastante pressa, puxou a filha pela mão, correndo na direção indicada.
Somente quando Gabriel e Veruca já estavam distantes, Bruno se deu conta de que aquele homem tão chique havia deixado sua carteira cair, provavelmente por estar com pressa e desajeitado segurando o guarda-chuva. Bruno pegou a carteira e guardou como pôde embaixo de sua camisa para se proteger da chuva. O garotinho se escondeu embaixo de uma cobertura para evitar que a chuva o molhasse mais.
Ele contou o dinheiro que Gabriel lhe deu como pagamento pelas balas e percebeu que poderia ficar com uma parte para si; seu padrasto nem perceberia. O garotinho já sabia o que iria fazer com aquele dinheiro: ele compraria algo para sua mãe, Isabela, comer. Jairo, seu padrasto, era muito mal com os dois.
Ele tratava bem apenas seu filho com Isabela, Joaquim, de 5 anos. Mesmo pequeno, o irmãozinho de Bruno já era um menino cheio de vontades, um tanto parecido com Veruca. Bruno não gostava desse tipo de criança, mas para ele o que importava era ter vendido aquelas balas e poder comer algo com sua mãe mais tarde.
Enquanto pensava sobre essas coisas, o menino se lembrou da carteira que estava escondida embaixo da sua camisa. Curioso, ele decidiu olhar. Qual não foi a surpresa do menino quando ele viu que a carteira estava cheia de dinheiro, notas e mais notas!
Além disso, havia alguns cartões que, bem provavelmente, faziam pagamento por aproximação. Por alguns segundos, Bruno sentiu-se tentado a ficar com aquele dinheiro para si. No entanto, ele refletiu e chegou à conclusão de que não valia a pena fazer isso, pois seria apenas se desviar de quem ele sempre foi.
Mas, mesmo sabendo que não era desonesto, era difícil para ele não ser curioso. Assim, ele começou a observar os itens que estavam dentro daquela carteira. Um dos documentos chamou a atenção do garoto: era uma carteira de identidade da OAB, a Ordem dos Advogados do Brasil.
O menino começou a refletir que precisaria encontrar Gabriel para devolver a carteira. Porém, como ele faria isso? Ele se lembrou da informação que o homem lhe pediu e percebeu que tinha como ir até aquele endereço; não era tão longe dali.
Contudo, sabia que acabaria se atrasando para voltar para casa. Mil pensamentos passavam pela sua mente inquieta. Se ele chegasse em casa com aquela carteira, provavelmente Jairo veria e não pensaria duas vezes antes de ficar com a bolada para si.
Era importante devolver logo. Bruno então se pôs a caminhar na direção de Gabriel e Veruca. Quando chegou à rua que Gabriel havia perguntado, o menino se deu conta de que não sabia qual era o número e havia muitas casas.
Após bater em diversos portões e perguntar por pai e filha, Bruno chegou à conclusão de que não conseguiria cumprir a sua missão naquele dia. Ele então decidiu ir para casa. Antes de entrar, ele daria aquela carteira num cantinho do jardim que só ele conhecia.
Dessa forma, seu padrasto não veria. Foi exatamente o que ele fez. Bruno entregou.
O dinheiro das vendas foi para Jairo, e ele conseguiu guardar a comida que comprou para si e para sua mãe sem que o homem visse. Dentro da casa simples em que vivia com a mãe, o irmão e o padrasto, Bruno ouviu Joaquim fazendo birra para tomar banho. Isabela falava de um jeito cansado com o filho desde que viu a carteira da OAB daquele homem que havia perdido a carteira.
Bruno só conseguia pensar no que sua mãe sempre falava sobre o pai que ele nunca conheceu: "Gabriel é nome de anjo. Seu pai está com eles agora". O pai de Bruno havia falecido antes do seu nascimento, e ele sempre quis saber como era ter uma figura paterna.
Quando Isabela se envolveu com Jairo, Bruno era muito pequeno, mas nunca viu aquele homem como um pai em potencial. Do outro lado da cidade, Gabriel descobria, finalmente, que havia perdido a sua carteira. Isso aconteceu quando ele foi pegar dinheiro para pagar uma despesa com remédios de sua mãe, Maria Helena.
Desconcertado por estar sem a carteira, ele perguntou ao entregador de remédios se ele aceitava pagamento por Pix. Para a sorte de Gabriel, o entregador aceitou essa forma de pagamento, e ele não precisou comprar os remédios fiado. Por já ter morado em Ouro Preto há muitos anos, Gabriel sabia que poderia pendurar a dívida para pagar depois, mas sua mãe ficaria horrorizada com essa possibilidade.
Maria Helena sempre foi uma mulher de posses; porém, quando Gabriel era adolescente, percebeu que a mãe ostentava um estilo de vida que não combinava com sua conta bancária. O pai de Gabriel, que já era falecido, havia perdido boa parte da fortuna da família nas mesas de jogos clandestinas promovidas por falsos amigos. Acostumada a fazer parte da alta sociedade e estar sempre rodeada de empregados, Maria Helena não teve escrúpulos em promover uma aproximação entre o filho e Cláudia, a herdeira de uma família proeminente de São Paulo.
Mesmo apaixonado por outra mulher, Gabriel se casou com Cláudia, a mãe de Verônica, a garotinha mimada carinhosamente chamada de Veruca. Nem toda a fortuna de Cláudia foi o bastante para ajudá-la a evitar que o pior acontecesse. De saúde muito frágil, Cláudia ficou muito doente dois anos após dar à luz a Veruca e faleceu.
Desde então, Gabriel se dedica à sua carreira de advogado, a gerir os negócios herdados de Cláudia e a cuidar de Veruca. O homem se culpa por sua filha ser tão mimada, mas ele não pode evitar dar a ela tudo o que queria para tentar suprir a falta da mãe. Agora, lá está Gabriel visitando Maria Helena, sua mãe, que se encontra muito doente e acamada.
Gabriel entrou no quarto da mãe com cuidado para não fazer barulho, mas como tem sono leve, ela acordou. Com a voz fraca, Maria chamou pelo filho para perto de si e perguntou: “Está tudo bem com você e Verônica? ” Com um sorriso na voz, Gabriel respondeu que estava tudo bem com ele e com a filha.
Ele sabia que a mãe queria saber, na verdade, quem pagaria pelas despesas médicas. Então Gabriel disse para a mãe acamada que não se preocupasse, pois tudo o que fosse necessário ele providenciaria. Algo de que Gabriel se orgulhava era ter vencido na vida; sim, ele podia manter as despesas da mãe em dia graças ao seu trabalho duro como advogado.
O dinheiro que Cláudia deixou estava muito bem guardado para Veruca. Assim que saiu do quarto da mãe, Gabriel pensou na grande dor de cabeça que seria refazer todos os documentos e cancelar todos os cartões. Com uma dor de cabeça lancinante, ele decidiu que resolveria essas questões no dia seguinte.
O cancelamento dos cartões podia esperar porque havia um limite diário de gasto e ele já havia utilizado bastante aqueles cartões. Muito cansado, Gabriel desabou no sofá da sala. Veruca já estava dormindo há muito tempo; ela comeu todos aqueles doces que ele comprou daquele garotinho.
Um pensamento então passou pela mente de Gabriel: teria sido aquele menino quem roubou sua carteira? O advogado ficou triste em pensar que talvez tivesse sido isso o que aconteceu, mas, se tivesse sido, ele podia imaginar a fome que afligia o garoto. No dia seguinte, Bruno acordou cedo para dar início à sua jornada de venda de balas.
Já fazia algum tempo que ele não frequentava a escola. Isabela sofria muito ao ver seu filho mais velho ser tão maltratado pelo padrasto, mas o que ela podia fazer? Jairo era o pai de Joaquim.
Isabela se surpreendeu quando Bruno a chamou discretamente para o lado de fora da casa. Lá, ele esperava a mãe com um sanduíche. O menino explicou que queria ter lhe dado ontem o lanche, mas não teve oportunidade.
Isabela sentiu seus olhos encherem d'água e chegou a oferecer o sanduíche para o filho. Bruno lhe disse que o dele havia comido antes de voltar para casa. Preocupada em como o filho tinha conseguido comprar aquele lanche, ela o questionou.
Bruno, então, comentou que um homem que passeava com sua filha comprou sua caixa de balas e pagou mais por ela. Isabela agradeceu secretamente aquele homem que havia feito tão bem para ela e para seu filho. Bruno então saiu e discretamente pegou a carteira de Gabriel, que havia escondido.
Ele estava decidido a encontrar o homem para devolver. Gabriel saiu cedo da casa da mãe para ir ao mercado fazer compras. Era impressionante como Maria Helena não usava o dinheiro que ele sempre mandava para fazer supermercado; não tinha nem pó de café na casa dela.
Somente quando já estava no mercado, ele se lembrou de que havia perdido a carteira e, novamente, teria que pagar por Pix. Nesse momento, ele decidiu dar uma conferida no extrato dele para saber se a pessoa que encontrou sua carteira estava usando seus cartões. Gabriel achou estranho porque não havia nenhuma movimentação além daquelas que ele mesmo tinha feito no dia anterior.
Talvez não tivesse dado tempo ainda de usarem seus cartões; ele precisaria fazer o cancelamento. Carregando várias sacolas de compras, Gabriel desceu à ladeira da rua de sua mãe; com dificuldade, ele nem reparou naquela figura pequena e esguia que caminhava do lado oposto, a alguma distância dele. Bruno viu, sobretudo, e então reconheceu o homem elegante para quem vendeu aquelas balas no dia anterior.
Correndo como podia, ele tentou alcançar Gabriel; apressado, o advogado quase corria. Bruno pensou que aquele homem estava sempre muito apressado. Mesmo à distância, ele conseguiu ver onde Gabriel entrou e então se apressou para bater no portão.
Alguns minutos depois, uma senhora idosa, sentada em uma cadeira de balanço no jardim da bela casa, com mau humor, lhe disse: "Saia daqui, moleque! Não tem nada para você aqui! " Bruno se apressou em dizer que não queria nada da casa, apenas devolver a carteira do moço elegante que tinha entrado.
Desconfiada, Maria Helena voltou a repetir que não queria saber daquele papo furado e que era melhor ele tomar o rumo dele para bem longe; ela não hesitaria em chamar a polícia. Com medo, Bruno decidiu ir embora momentaneamente. Em algum momento, aquele homem voltaria a aparecer no portão da casa e ele poderia entregar a carteira.
Ouvindo a mãe gritando com alguém, Gabriel se apressou para sair da casa e questionar o que estava acontecendo. A mulher respondeu apenas que o moleque de rua estava pedindo esmolas no portão, mas que ela o mandou embora. Gabriel disse para a mãe que ela podia ter ajudado a criança; o garoto provavelmente só estava com fome.
Nesse momento, ele se lembrou do menino do dia anterior e seu coração ficou apertado. Gabriel passou a torcer para que o menino tivesse mesmo pego sua carteira e que usasse aquele dinheiro para comer. Mais tarde, Gabriel decidiu sair para dar uma volta pela cidade.
Ele convidou Veruca para acompanhá-lo e conhecer a cidade natal dele, mas a menina estava mais interessada em um novo jogo de celular e recusou o convite. Precisando espairecer, Gabriel saiu sozinho de casa, mas não ficaria sem companhia por muito tempo. Assim que ele começou a descer a ladeira, foi avistado por Bruno, que havia ficado escondido o esperando.
O menino aproveitou para tentar vender suas balas naquela rua, mas logo percebeu que as pessoas ricas têm menos tendência a comprar balas. Sem tempo a perder, Bruno saiu correndo e, dessa vez, gritou: "Senhor! Senhor!
Senhor! " Gabriel demorou alguns segundos para entender que era com ele aquela interação. Então, ele olhou para o menino e reconheceu o garotinho faminto do dia anterior.
Sem entender, ele disse: "Oi, como você está, amiguinho? " Bruno, que finalmente pode parar de correr, recuperou o ar e, com um gesto quase abrupto, tirou a carteira de debaixo da sua e a estendeu para o advogado. Gabriel não podia acreditar que o menino estava lhe devolvendo a sua carteira.
Assim que pegou a carteira nas mãos, ele percebeu que ela tinha sido mexida. O homem imaginou que o menino teria pego dinheiro ou os cartões; com a aproximação, percebendo que esse questionamento passava pela mente do homem, Bruno se apressou em dizer: "Senhor, não tirei nada da sua carteira, mas admito que sou curioso e olhei. " Bruno ficou vermelho ao admitir seu pecado de curiosidade.
Gabriel o olhava sem saber o que dizer. Bruno lhe disse então: "Pode olhar, confere que tá tudo aí dentro. " Como parecia importante para o menino, Gabriel conferiu o conteúdo da carteira e realmente estava tudo lá dentro.
Ele então retirou duas notas altas da carteira e estendeu para Bruno. O menino perguntou se ele queria comprar outra caixa de balas. O homem respondeu que não; aquele dinheiro era o pagamento pela devolução da carteira.
Confuso, Bruno perguntou: "O senhor quer me pagar por eu devolver algo que é seu? Isso não faz sentido. " O garotinho riu e já se preparava para ir embora quando Gabriel lhe disse que queria recompensá-lo de alguma forma.
Afinal, ao devolver sua carteira, lhe evitou um grande transtorno de ter que cancelar cartões e fazer novos documentos. O menino então sorriu e disse que havia algo que aceitaria como recompensa. Dessa vez, foi Gabriel quem ficou curioso para saber o que aquela criança desejava.
Bruno pediu, um pouco sem jeito, se Gabriel poderia levá-lo ao parque que estava na cidade. O garotinho prosseguiu dizendo que havia sobrado um pouco do dinheiro que Gabriel lhe deu a mais no dia anterior, então ele não precisaria nem pagar a entrada. Bruno explicou que somente poderia entrar com um adulto; Gabriel só tinha que ir à bilheteria e comprar os ingressos.
O homem podia entrar com ele e sair logo em seguida. Ele queria muito ir àquele parque, mas sua mãe nunca podia levá-lo porque não tinha dinheiro e nem tempo. Sem um adulto, ele não poderia entrar.
Gabriel percebeu o quanto aquela criança era solitária, triste e sofrida. Lágrimas começaram a rolar pelo rosto do advogado, que pensou que tudo o que desejava era que sua filha Veruca fosse um pouco como aquele menininho. Bruno perguntou por que ele estava chorando.
Gabriel lhe disse que chorava pela emoção de encontrar um amigo com quem ir no parque. Os dois então foram ao parque e, claro, Gabriel deu as entradas para que o menino aceitasse. O advogado lhe disse que, na verdade, ele queria muito ir ao parque.
Ao longo de duas horas, os dois se divertiram muito nos brinquedos, além de comerem cachorro-quente e algodão-doce. Quando começou a escurecer, Bruno se lembrou que precisaria voltar à sua dura realidade. Gabriel se ofereceu para levá-lo de carro para casa, mas o menino recusou, pois sabia que levaria uma grande bronca de Jairo se fosse visto acompanhado.
Nesse momento, o garotinho olhou para sua caixinha de balas e pareceu se lembrar que não tinha vendido quase nada. Pela expressão no rosto da criança, Gabriel entendeu que algo ruim. "Lhe aconteceria se voltasse para casa sem ter vendido os doces?
" Então ele disse: "Nossa, saí para comprar doces para minha filha Veruca e acabei esquecendo. Será que posso comprar sua caixa de balas? " Com um suspiro de alívio, Bruno perguntou: "A caixa todinha?
" O homem sorriu e disse: "Sim, a caixa todinha, inclusive se amanhã você for vender novamente essas balas, peço que venha até a casa da minha mãe, pois vou comprar novamente. " Bruno respondeu: "Então aquela senhora tão mal-humorada é a sua mãe? " Ele apressou-se em dizer isso assim que terminou a frase.
Ele percebeu que tinha sido bastante indelicado com Gabriel, mas o homem não se ofendeu; ao contrário, ele começou a rir. Então, em meio às risadas, ele disse: "Sabe que é verdade que minha mãe se parece com minha filha? E agora eu sei que era com você que minha mãe estava brigando mais cedo.
Pode deixar que eu mesmo atenderei o portão. " Ao chegar em casa, Bruno entregou a Jairo o dinheiro da caixa de balas. O homem achou estranho que, pelo segundo dia consecutivo, aquele menino tivesse conseguido vender tudo; algo estava estranho naquela história.
Era sempre tão difícil emplacar tantas vendas em sequência. Secretamente, Jairo esperava que Bruno não conseguisse vender todas as balas, para que tivesse um motivo para brigar e bater nele. Ao simplesmente imaginar que algo de que poderia tirar vantagem estava acontecendo sem seu conhecimento, Jairo decidiu investigar.
Ele trabalhava por conta própria, mas mais enrolava do que trabalhava de verdade. Sendo assim, ele tinha muito tempo livre para ir atrás daquele garoto e, se descobrisse que Bruno estava aprontando, teria a desculpa perfeita para brigar com ele de um jeito que nunca tinha brigado antes. Aquela possibilidade no horizonte deixava aquele homem, tão mal-humorado, feliz.
Bruno saiu cedo com sua caixa de balas rumo à casa de Gabriel. O garoto estava feliz de poder passar mais um tempo com aquele senhor tão elegante. O menino decidiu que faria de conta que Gabriel era seu pai, só um pouco.
Talvez Veruca nem se importasse porque não parecia gostar tanto assim do seu pai. Jairo seguiu o garoto sem que ele percebesse e se surpreendeu quando percebeu que Bruno não ia para o lugar de sempre vender suas balas. O padrasto viu quando o menino bateu no portão daquela casa elegante e um homem muito alinhado abriu o portão para que ele entrasse.
No jardim da casa estava uma senhora idosa e uma garotinha; nenhuma das duas parecia contente com a visita. O homem sorria para o menino e conversava animadamente com ele. Jairo decidiu que ficaria espiando o dia todo para descobrir o que estava acontecendo.
Ao entrar, Bruno percebeu que a senhora mal-humorada estava para caminhar pelo jardim e correu para ajudá-la. A mulher levou um susto com o menino indo em sua direção, mas ele venceu sua resistência quando a deixou se apoiar nele. Veruca reconheceu o vendedor de balas daquele dia de chuva e perguntou se ele tinha mais daquelas balas de chocolate.
Lembrando-se de que estava ali a negócios, o menino disse que sim e fez um sinal de cabeça para que ele entregasse os doces para sua filha. A menina sentou-se no jardim e começou a devorar as balas. Bruno não pôde deixar de reparar como aquela menina, tão bem arrumada, podia ser tão mal-educada.
O garotinho temia que, ao vender todas as balas, tivesse que ir embora, mas se acontecesse isso não poderia reclamar; afinal, ninguém era obrigado a gostar dele ou conviver com ele. Assim que Gabriel o pagou, lhe perguntou se agora que tinha vendido todas as balas ele poderia ficar ali o dia todo para ajudar em algumas tarefas. "Claro que ele receberia por isso!
" O menino sorriu e disse que, claro, que podia ficar para trabalhar. Assim que ajudou Maria Helena a se sentar, Bruno correu até a vassoura que estava encostada em um canto do jardim e se pôs a varrer as folhas. Disse para o menino que não era esse o trabalho dele, que na verdade desejava que ele o ajudasse a organizar algumas coisas dentro da casa.
Bruno respondeu que podia terminar de varrer e ajudá-lo em seguida; faria por merecer o pagamento no final do dia. Gabriel passou a admirar aquele menino. Naquela pouca convivência que tiveram no decorrer do dia, os dois arrumaram algumas coisas na casa de Maria Helena.
Em seus pensamentos, Bruno fazia de conta de que Gabriel era seu pai e aquela a casa de sua avó. No meio da tarde, Gabriel disse que iria até a padaria comprar pão e pediu que Bruno fizesse companhia para Maria Helena no jardim. A senhora passou a simpatizar com o garoto porque ele lhe lembrava o próprio filho quando criança.
No meio de uma conversa sobre nomes, Bruno disse para Maria Helena que "Gabriel" era um nome bonito; ele gostava especialmente por ser o nome do pai dele. A senhora então perguntou o que o pai do menino fazia e ele respondeu: "Infelizmente, ele faleceu antes de eu nascer. Minha mãe sempre diz que ele tinha nome de anjo.
" Maria Helena não pôde deixar de se lembrar de como, há 10 anos, havia mentido para uma jovem muito inocente e pobre que seu filho havia falecido. A moça disse que estava grávida e tudo o que Maria Helena fez foi lhe oferecer um punhado de trocados para que ela não morresse de fome. Se aquela mulher miserável conseguisse dar à luz a criança, teria a mesma idade que Bruno.
Uma ideia passou pela cabeça de Maria Helena, mas ela logo deixou que esse pensamento fosse embora. Bastante irritado com a audácia daquele menino de esconder que estava trabalhando para uma família rica, Jairo decidiu abordar o homem que havia contratado seu enteado. Aquele cara, todo arrumadinho, tinha saído e agora voltava cheio de sacolas.
Bruno se achava muito esperto, mas veria o que iria lhe acontecer. Jairo abordou Gabriel de um jeito bastante r rude e perguntou: "O que você quer com aquele moleque? Ele trabalha para mim e, se vai trabalhar para mais alguém, então o dinheiro tem que vir para mim.
" Gabriel olhava para aquele homem com desprezo e conseguia entender de onde vinha todo o sofrimento do menino. Decidido a brigar por Bruno, Gabriel deixou suas compras no chão e perguntou: "Por acaso você é o pai do garoto? " Ele sabia que não, pois Bruno havia lhe dito que seu pai havia falecido.
Jairo respondeu que não, mas que era casado com a mãe dele. Gabriel retrucou que isso não lhe dava direito de fazê-lo trabalhar sem parar, até mesmo em dias de chuva, quando o menino ia à escola. Jairo disse que isso não era da conta de Gabriel e, então, tentou lhe dar um soco.
Mas, para sua surpresa, seu oponente, mesmo com um sobretudo elegante, sabia lutar. Segurando o punho do homem no ar, ele empurrou Jairo até o chão. Logo, a briga gerou grande comoção na rua e, então, Maria Helena e Veruca foram ao portão para olhar.
Bruno, que viu as duas no portão, também ficou curioso e foi olhar o que estava acontecendo. Ele então viu que Gabriel estava brigando com seu padrasto. Com medo, o garotinho correu para dentro da casa.
Após ser imobilizado, Jairo decidiu que era a hora de ir embora, mas antes ele gritou para que Bruno ouvisse: "Quando você voltar para casa, você vai se ver comigo! " O garotinho ficou aterrorizado dentro da casa; era muito claro para Bruno o que aquela frase significava: ele enfrentaria uma grande fúria quando retornasse para a casa da mãe. Gabriel entrou em casa e foi conversar com Bruno.
Entendendo que o garoto era maltratado pelo padrasto, disse que o levaria até em casa para conversar com sua mãe. Bruno, ao mesmo tempo que ficava feliz, também tinha medo de como eles seriam recebidos pelo padrasto. Gabriel cumpriu com sua palavra e foi até a casa de Bruno com o menino.
Ele morava em um lugar bastante simples. Ao chegar no portão da casa, Gabriel bateu palmas para que alguém o atendesse. Ele esperava que a mãe do menino estivesse sozinha em casa.
Enquanto batia palmas, ele perguntou ao garoto: "Qual é o nome da sua mãe? " Porém, antes que Bruno pudesse responder, Gabriel disse: "Isabela. " O menino ficou confuso e perguntou como ele sabia o nome da sua mãe.
Antes que ele dissesse, somente então Bruno percebeu que sua mãe havia aparecido na porta de casa, chorando e com um olho roxo. O menino sentiu-se muito culpado, pois acreditava que a culpa era dele pelo acesso de fúria do padrasto. Isabela, que segurava no colo o filho mais novo de 5 anos, olhou para o que estava vendo e seria um fantasma.
Gabriel olhou, sem acreditar que aquela mulher diante de si era o grande amor de sua vida, a mulher que simplesmente desapareceu sem dizer nada há 10 anos. Por sua vez, Isabela não entendia como alguém que estava morto podia estar ali parado, diante do seu portão, com seu filho mais velho. Passado o choque, Isabela e Gabriel contaram que Maria Helena havia promovido entre eles; não foi difícil para que os dois entendessem que a mãe de Gabriel fez de tudo para separá-los por querer que ele se casasse com Cláudia, a rica herdeira de São Paulo.
Como não recebeu nenhuma notícia de Isabela, Gabriel pensou que ela o havia abandonado; ele se deixou consolar pela vida com Cláudia. Num dado momento da conversa, Gabriel fez a pergunta que mudaria tudo: "Bruno é seu filho? " Isabela lhe contou a verdade: que sim, aquele menino tão maravilhoso era realmente seu filho.
Pronto para mudar a vida de sua amada, Gabriel disse que ela e seus dois filhos iriam embora com ele naquele instante. Porém, Jairo, que havia ido a um bar perto de casa, voltou e ficou muito irritado ao ver aquele homem que o humilhou em sua casa e cheio de intimidade com sua esposa. Sabendo que Gabriel era bom de briga, Jairo pegou uma faca que estava na cozinha e partiu com tudo para cima do advogado, mas ele não contava que o pé de Bruno estaria no caminho.
Ao tropeçar, Jairo caiu com a faca em mãos e se cortou; nada grave, mas um pouco de sangue passou a escorrer do seu braço. Gabriel disse, então: "Se você não nos deixar ir embora em paz, eu vou chamar a polícia. Você pode ser implicado pela lei Maria da Penha e também por maus-tratos a uma criança.
" Com medo de ser preso, Jairo decidiu que era melhor deixar a esposa ir embora por hora, mas no futuro ele pretendia incomodar muito aquele homem. Quando Gabriel chegou em casa com Isabela e as duas crianças, sua mãe levou um susto. O advogado disse para a mãe que precisava conversar muito seriamente com ela, porque ela tinha se empenhado tanto em lhe fazer mal.
A mulher chorou e disse que se arrependia de não ter ajudado Isabela ao saber que ela estava grávida, mas que não se arrependia de ter arranjado o casamento para o filho. Gabriel sabia que seria um longo caminho até a mãe admitir que havia agido mal; era inevitável para ele pensar em como, ao chegar à cidade, se sentia tão solitário e agora tinha uma família completa. Veruca finalmente aprenderia a ser menos egoísta; tendo dois irmãos poderia ser bem positivo.
Gabriel tinha consciência de que não seria nada fácil para eles se livrarem de Jairo, mas ele estava disposto a fazer de tudo para ser feliz com a família que a vida lhe deu ou lhe devolveu. No fim, o maior desejo de Bruno, que Gabriel fosse seu pai, se tornou realidade. O garoto não podia acreditar quando sua mãe lhe contou toda a história e, ao contrário do que se pode imaginar, ele demonstrou que sentia amor.
Pela avó, mesmo ela tendo sido decisiva para seu sofrimento nas mãos de Jairo, Veruca e Joaquim tiveram uma identificação instantânea. Os dois fazendo birra para que Bruno os acalmasse de um jeito curioso, todos foram felizes desde então. A felicidade que a vida real nos permite, a verdadeira riqueza, não está no que possuímos, mas nas conexões que criamos e nas ações que refletimos, o melhor de nós mesmos.
Bruno, apesar de suas circunstâncias difíceis, escolheu a honestidade ao devolver a carteira. Seu ato de bondade inesperada tocou o coração de Gabriel, revelando que, independentemente das dificuldades, nossos valores e nossas ações têm o poder de transformar vidas e criar significados. Essa história nos ensina que muitas vezes a maior recompensa não vem do material, mas das relações e da integridade com que conduzimos nossas vidas.
Espero que você tenha gostado desta história cheia de reviravoltas e emoções. Se você curtiu e quer mais narrativas emocionantes como essa, não se esqueça de dar um like e se inscrever no canal "Vivências Narradas". Aqui, cada história é uma nova aventura e estamos sempre prontos para te surpreender.
Deixe também o seu comentário sobre o que achou da história e sugestões para futuras narrativas. Até a próxima!