deslizamento na Serra do Mar árvores caindo em Campinas chuvas e secas cada vez mais intensas o que esses eventos têm em comum e por que estão se intensificando para Aílton krenak o transtorno ambiental decorre de uma forma de ver a natureza como mercadoria e do descolamento do ser humano com as outras formas de vida na Terra olha basta raciocinar para a gente ver que a equação entre o que a vida e a natureza a terra nos dá e o que a gente saca tá desigual renak uma das maiores lideranças indígenas do Brasil intelectual e ativista
ambiental esteve na Unicamp em março para uma conferência durante muito tempo gente a Europa não tinha guerra já vinham até tirado do Repertório a ideia de uma guerra interna na Europa guerra na periferia do mundo imagina a decepção dos finlandeses noruegueses Holandeses vê a guerra no quintal da casa deles entrevista para o jornal da Unicamp ele fala sobre eventos extremos economia política e aponta situações extremas ligadas com o clima vamos obrigar a repensar como habitar [Música] esses eventos eles estão interligados Só que alguns são apavorantes e outros são assimilados o terremoto na Turquia Por Exemplo
foi assimilado apesar de toda a tragédia a dramaticidade de um terremoto Teve gente que falou não é porque eles constroem os prédios deles com uma tecnologia precária porque se eles fizessem de concreto e ferro não caia à toa Isso é uma desculpa parecida com a desculpa de cortar as árvores quando a gente consegue desenvolver uma visão sistêmica sobre esse evento das mudanças climáticas a gente consegue entender algumas situações que envolve a decisão de manutenção da infraestrutura o cuidado com a cidade arborização da cidade a criação de jardins e outras escolhas que nós fazemos sem levar
em conta que vai acontecer depois e é claro que essas coisas estão todas ligadas inclusive com a nossa escolha de viver em Metrópole dizem que São Sebastião em show que muita gente que vive em São Paulo resolveu comprar casarões ou construir casarões na Serra do Mar a serra não é para isso ela desmorona só encostas a outra coisa que acontece muito no nosso país principalmente aqui no sudeste é que quando chove muito é uma série de tragédias mas isso já foi integrado como chuvas de verão não aqui no verão Chove muito o pessoal constrói nos
Barrancos e a casa cai esses eventos que já estavam naturalizado para quase todos nós que a partir de uma situação local com as árvores que começam a tombar e de repente a Prefeitura de si já é só fazer a poda das árvores que o problema está resolvido ele está sendo naturalizado assim como os outros eventos então estamos vivendo dentro de uma experiência em que as chuvas as situações extremas ligada com o clima vão nos obrigar a repensar como habitar Como morar houve um reclame muito grande acerca da necessidade do Brasil pensar moradias pensar por exemplo
como é que as pessoas que moram pendurados em lugares que vão com as chuvas sofre dando como é que pode resolver isso aí que já estão dizendo que tem que fazer um planejamento Urbano que tem que resolver questão de saneamento mas esse é um problema velho ele não nasceu agora não foi nessa chuvas ele é uma falta de planejamento e de uma disposição das nossas administradores urbanos aqueles licenciamento de pensar a qualidade de vida de pensar a qualidade ambiental como coisas que são articuladas quando a gente consegue atinar com o pensamento sistêmico tanto o fato
de uma árvore despencar sobre os automóveis e as pessoas na chuva e que explicado assim com simplicidade tipo não é porque as árvores estão velhas mas é que nós estamos mesmo vivendo uma situação de transtorno ambiental o tempo inteiro a gente deveria estar prevendo novas adequações senão a gente vai continuar tendo surpresa que vai desde cair uma parte da Serra do Mar em cima de São Sebastião até cair as árvores aqui em cima de uma casa de uma via pública matar pessoas a gente não pode naturalizar isso e dizer ah não tem mudança climática nós
sabemos que a ideia de negar os eventos climáticos faz parte da dinâmica toca a vida Isso é um problema passa logo conseguindo a gente não pode fazer uma transferência de um modo de viver sustentável habitar a terra com cuidado se reproduzir em outro ambiente onde o descuidado já está presente as nossas cidades elas são inviáveis e nós não queremos pensar nisso a gente quer deixar ela continuar existindo e se expandindo primeiro é uma cidade depois vira O entorno da cidade depois vira uma área contínua daqui a pouco São Paulo e Campinas vai ser uma megalópole
[Música] e o que que nós estamos fazendo por isso não acontecer eu tenho muita dificuldade de viver em um mundo de concreto e as nossas cidades elas estão Produzindo um mundo de concreto onde as árvores não tem mais lugar a cidade tem a árvore não e quando eu falo da do modo de habitados Guarani que estão ali na Serra do Mar essa esse bioma da Mata Atlântica a compreensão daquele ecossistema em si é um lugar que produz oxigênio umidade Floresta isso é aquele ecossistema Quando você começar a erguer você vai começar a criar confusão e
não adianta botar a culpa no prédio somos nós que escolhemos ou habitamos um lugar saudável ou criamos ambientes artificiais para a gente continuar imune sem chuva sem perturbação ambiente controlado e isso são as nossas cidades viver na cidade é isso quase que é um contraponto entre você viver ao gosto da natureza e querer viver ao seu gosto se você vai viver o seu gosto você vai ter que aguentar as intempéries depois nós estamos nessa nesse encaixe onde ou todos se salvam a todos se dão há muito tempo nós passamos a observar a água como recurso
os nossos avós os nossos antepassados não precisa de muito longe não seu bisavô seu avô o meu eles não imaginavam que um rio era um recurso eles entendiam que um rio é um organismo entende dinâmica ele tem enchente ele tem Vazante aí ele Descobriram que podiam fazer barragens para controlar a dinâmica das águas depois eles descobriram explorar essa dinâmica desde fazendo hidrelétricas E outros usos e ultimamente uns intensivo na atividade industrial e na atividade da Agricultura também comercial se nós estamos precisando dos rios e do uso da água de uma maneira intensiva vai chegar uma
hora que a água vai acabar como um bem disponível comum para nós todos ele vai passar a ser uma commodity e vai passar a ser uma coisa privada eu já Participei de um movimento há mais de 20 anos atrás contra a privatização da água mas é uma tendência de vez em quando volta essa tendência eu me lembro que no governo passado houve uma movimentação da coca-cola da Nestlé e de outras corporações para conseguir se apropriar do Aquífero Guarani que é um dos últimos reservatórios de água significativa que ainda não estava sendo apropriado no meio do
caminho Fiquei sabendo que estão fazendo retirada de água do Aquífero de maneira clandestina construindo poços artesianos e já estão contaminando a água do Aquífero quer dizer nós estamos contaminadas águas de superfície as águas dos Córregos das Nascentes muitas nascentes já desapareceram além do da violência de tapar os Córregos e tapar as Águas no perímetro urbano na área urbana os rios com todos debaixo da da pista naturalizado nós também estamos atacando agora as águas subterrâneas isso é muito grave quer dizer a gente não tem limite a gente não tem um parâmetro sobre o que nós podemos
movimentar como mercadoria e o que precisa ser preservado como patrimônio natural bem comum a própria ideia de bem comum tá cada vez mais porque a ideia é proprietária particular de tudo ela pega as águas o solo os espaços todos e vai reduzindo muito o nosso próprio contato com aquilo que a gente chamava de natureza né agora a gente está produzindo uma outra natureza impregnada da nossa própria engenharia né da nossa mexida na terra nós estamos agora dentro de um dilema que é o de viabilizar governança no sentido político e os compromissos que essa viabilidade implica
a própria composição do governo a gente sauda a experiência de ter conseguido criar uma proposta alternativa ao passado recente mas ela não é ideal ela vai ter que conjugar os prejuízos com as soluções é assim que eu tô vendo ao mesmo tempo embalar uma narrativa de compromisso sócio ambiental e implementar os interesses econômicos que são contraditórios com a proposta por exemplo de uma Economia mais equilibrada de Baixo Carbono né se a ministra Marina Silva que é uma economia de Baixo Carbono ela vai ter que convencer os colegas ministros dela que querem bombar O agronegócio ou
os outros setores que querem que a mineração seja regulamentada nessa história de regulamentar a mineração tem gente que quer inclusive regulamentar o garimpo são coisas incompatíveis os rios estão poluídos como Mercúrio e o garimpo deveria ser banido da Amazônia presidente disse que não vai ter carinho por terra indígena mas o garimpo em qualquer lugar deveria ser posto em questão tinha que suspender as licenças que já são muitas para abrir novas frentes na Amazônia isso aí já é um contradição de cara já tá posta e outros vão aparecer ao longo dos próximos anos que vai ser
um desafio muito grande para esse governo composto com várias frentes possa seguir até concluir uma data com o mínimo de comprimento das promessas feita para eleger o governo né agora mesmo nós ouvimos que no planejamento desse período de governo agora foi uma Eleita algumas prioridades com relação a saneamento a ideia de Meio Ambiente e a ideia de infraestrutura Estão dizendo que vão melhorar ampliar os investimentos em infraestrutura você não tenha dúvida que vão implementar novas redes malhas malha Viária que vai estar conectada com essa coisa das hidrovias que eles vão restabelecer de novo a ideia
de uma infraestrutura voltada para escoar produtos de algumas regiões como Pantanal por exemplo mas também do Cerrado todo provavelmente chegando até o Tapajós né porque a gente sabe que aquela região da Amazônia também tá no mesmo desenho de infraestrutura ferro grão essas coisas então minério e grãos Parece que vão ser o que vai ditar a infraestrutura que implica em alinhamento do corpo da água as bacias hidrográficas tudo isso sendo já incorporado como serviço pensando o Brasil no contexto amplo da América Latina e Global o Brasil não tem opção ele é um país megadiverso Ele tem
muita água tem muita Floresta tem muito território e são todos acervos que vão sofrer assédio para virar mercadoria para entrar no mercado Eu já ouvi mais de um especialista dizendo que agora é a hora do Brasil se inserir com relevância no mercado de carbono no serviço ambientais e a própria ministra Marina Silva diz que é favorável a pensar um programa amplo para Amazônia que ela chama de bioeconomia articular a tecnologia investimento e uma espécie de Nova colonização da Amazônia com novos instrumentos porque teve uma né no século 20 que todo mundo reclama que ela foi
insuficiente ela não conseguiu promover bem-estar social não conseguiu promover acesso para a população da Amazônia a serviços essenciais como saneamento saúde alguma qualidade nos centros urbanos de vida a precariedade seria por falta de investimento e isso justifica numa boa a predominância de um cálculo econômico em desvantagem do meio ambiente entendeu Quando você pensa em bioeconomia para desenvolver Amazônia você tá propondo a colonizar a Amazônia a gente não vai ser julgado por isso ah 20 30 anos esses caras queriam botar bioeconomia na Amazônia esse episódio envolvendo o ex-ministro com muito poder político com muita influência em
vários governos pensar a personalidade não só o vulto político mas a personalidade quando no final da ditadura os militares diziam que os indígenas que viviam em região de Fronteira no norte da Amazônia tinha que ser vigiados que eles eram perigo para segurança nacional da fronteira do Brasil com a Venezuela era uma garantia para a soberania brasileira naquela região porque eles viviam lá dois mil anos e foram eles que fizeram aquela região ser Brasil foi o ministro que falou isso e foi ele também um voto decisivo para que no governo do presidente Collor foi feito o
decreto de demarcação da Terra e no nome já os passarinhos foi decisivo para dizer que os yonomami tinham direito a esse reconhecimento e que eles eram um elemento decisivo para que aquela Fronteira fosse brasileira assim como os outros povos indígenas que estavam na raposa Serra do Sol aqueles que estão na fronteira com a Guiana e é interessante olhar as várias facetas de uma personagem dessa para não ficar fazendo só um jogo Branco e Preto né Eu não tenho nenhum motivo para fazer a defesa de uma homenagem a uma pessoa como ele é um personagem público
como ele a não ser o fato dele ter honestidade intelectual e se ele pudesse explicar para gente que durante a ditadura ele tava imerso Naquela vida política porque ele achava que ele podia evitar genocídio 50 60 anos depois tem muita gente que resgata um sujeito que viveu lá na Alemanha ou na França durante a o nazismo e que salvou milhares de ciganos judeus pessoas que seriam exterminadas pelo nazismo mas as pessoas alguns deles estão vestindo uma farda e eles estão sendo lembrado com pessoas que fizeram bem para a humanidade Às vezes a gente se apressa
muito em julgar os personagens históricos uma outra personagem que viveu a mesma época que se distingue de maneira diferente ele foi ministro da Indústria mas todos nós gostamos porque ele conseguiu se distinguir Como um cidadão que era capaz de discordar daquilo publicamente a estratégia dele era discordar publicamente tanto que ele largou o ministério da Indústria e Comércio e foi cuidar da vida dele foi ser senador ajudou muito na campanha para demarcação da Terra e no mami aí de frente dois ex-ministro da ditadura ajudaram a demarcar a terra e anomali certa maneira a questão a questão
ianoma e a questão indígena é um paradigma para a gente saber quem são essas personagens né o Color por exemplo ele sofreu um impeachment Mas ele foi o único presidente que teve coragem de assinar o decreto de demarcação da terra [Música] quem tem menos de 50 anos passou por uma experiência de formação formativa seja na escola pública ou na escola privada para instituir uma personalidade um indivíduo e se equipar com conhecimento para competir ali pelos anos 90 todo jovem que estava saindo das universidades era estimulado a concorrência subir não pode ficar lá em cima tinha
Inclusive a produção daqueles up jovem de 30 anos estavam ricos é dessa turma que veio esses donos do Facebook é dessa turma que veio esses caras tipo dono da Tesla esses caras Eles foram Detonados foram acelerados para ter sucesso alguns conseguiram se sobressair São donos do mundo mas a grande maioria deles só ficaram com a ideologia da mercadoria são eles que vendem planos de Vida plano de seguro plano de tudo mas se ele tivesse sido bem sucedido ele nem tava vendendo isso ele tava vendendo o planeta então a gente podia dizer ainda bem que nem
todos conseguiram Se todos tivesse conseguido a gente tava Frito Se isso foi educado Se isso foi treinado Três Gerações de pessoas para pensar desse jeito imaginar uma manobra de saída do mundo da mercadoria respirar e pensar vou buscar outra maneira de me realizar seria apostar numa alternativa que ainda é muito residual de pessoas que foram bem sucedidas no mundo da mercadoria por isso inclusive criaram base financeira para sair dos grandes empregos em Washington em outros países em outros lugares e morar na Serra da Mantiqueira Eu conheço um punhado todos que foram morar no litoral sul
da Bahia no nordeste na Amazônia porque agora querem viver outro tipo de experiência que não é da mercadoria Mas você tá vendo que eles tiveram que se capitalizar para poder fazer isso Eles continuam cumprindo aquilo que Conceição Evaristo falou eles também acham mais fácil Acabaram o mundo do que acabar o capitalismo ele se beneficiam disso que interessante é como nós nomeamos as coisas né Por que que a gente continua a chamar a ciência de academia a gente deveria buscar outros termos para a gente nomear esses espaços de produção de conhecimento e que resulta numa constante
atualização tanto do ponto de vista tecnológico quanto daquilo que a gente chama de ciência ciência da saúde né ciência da terra a gente podia ser mais naturalista eles investiram muito para que existisse uma ideia de um de uma academia separada da vida talvez a gente deveria se recuperar o sentido de conhecimento ciência ao invés de ficar carimbando as coisas como não Aquilo é academia eu acho que quem sempre fez Ciência continua fazendo ciência e se alguém não é daquele lugar e consegue pensar e produzir conhecimento Ele também é um cientista confira também a edição 683
do jornal da unicamp.br [Música]