O tema de hoje é a Revolução Farroupilha. Essa fabulação literária, que foi fabricada cem anos depois dos reais acontecimentos, mas que, pelo menos, provou pro mundo inteiro que gaúcho é tudo macho! Eu sou o Eduardo Bueno e tô aqui pra falar sobre mais um assunto que, com certeza, "Não Vai Cair no Enem!
". A não ser, claro, que caia na prova de Literatura! Porque em História não vai cair, a Revolução Farroupilha.
[Hino Rio-Grandense] Claro que a história é feita com base documental, né? E em base em pesquisa. Mas a verdade é que quem conta, edita.
Aquele que escreve sobre o passado, acaba revelando mais sobre o presente, no qual ele escreveu, do que sobre o passado que ele quer retratar. E esse é o caso exemplar da Revolução Farroupilha. Eu sei que, né?
A gauchada vai ficar brava, tal, MAS EU SOU GAÚCHO, CARA! Então, se eu quiser falar mal de gaúcho, eu falo mal de gaúcho! Quem não vai falar mal de gaúcho é essa gentalha paulista, carioca, nordestino, cara do Norte.
Esses que fiquem quietos! Agora, eu sou gaúcho, vou falar mal da gaúcho. Não é falar mal de gaúcho.
É piada, né? Mas a verdade é o seguinte: É muito estranho que, por exemplo, hoje, em Porto Alegre, no dia 20 de setembro. ♪♪ Foi no 20 de setembro ♪♪ Né?
O limiar da humanidade. A humanidade se inicia, todo mundo sabe, no dia E no dia 20 de setembro, que é a data nacional [risos] gaúcha, né? Em Porto Alegre, há uma super festa, se inicia a Semana Farroupilha, né?
E é uma incongruência absurda, porque Porto Alegre sempre ficou contra os Farrapos. Os Farrapos, os rebeldes, revolucionários, supostamente separatistas e republicanos, que deflagaram a chamada Revolução Farroupilha, em 1835, eles nunca conseguiram conquistar o apoio das cidades gaúchas. Das grandes cidades.
Porto Alegre - especialmente, a capital, que é chamada até hoje a "Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre". De onde é que vem esse título? Vem do D.
Pedro II, que deu esse título a Porto Alegre por ela sempre ter resistido ao assédio, à tentativa de invasão dos Farrapos. Pelotas e Rio Grande, a mesma coisa. Os Farrapos ficaram circunscritos à metade sul do Rio Grande do Sul.
Não por acaso, ainda hoje, a menos desenvolvida do estado - e tiveram a sua capital em Piratini! República do Piratini. E.
. . Cara, todos os episódios envolvendo ah.
. . as visões que se tem da Revolução Farroupilha foram forjados, foram fabricados por uma memória por uma fabricação da História.
Que é legal, porque deu ao gaúcho uma identidade, porque deu ao gaúcho uma certa revolta contra o. . .
o rapinismo da Corte, né? Porque o Rio Grande do Sul realmente era prejudicado pela Corte no Rio de Janeiro. Tanto é que o seguinte, na verdade, a Revolução Farroupilha é quase uma revolta tributária.
Por quê? Porque o charque produzido no Rio Grande do Sul pagava 25% de imposto quando chegava no Rio de Janeiro. E o charque uruguaio, que, além de tudo, era melhor, pagava 4% de imposto!
Então, os estancieiros gaúchos se revoltaram, THIS IS SPARTA tentaram uma composição, tentaram um acordo no Senado, não conseguiram, E só então declaram guerra, né? Virou uma guerra, declaram uma revolta que acabou virando uma guerra que durou 3. 466 dias.
Foi a mais longa de todas as várias revoltas provinciais - como se chamam as revoltas que eclodiram durante o período da regência porque o D. Pedro I abdicou em 1831, e só em 1840 quando o D. Pedro II, aliás, inconstitucionalmente, assume a chefia do Império, estouraram várias revoltas pelo Brasil inteiro: Balaiada, Sabinada, Cabanagem, Praieira que, inclusive, veio depois e a Farroupilha.
A mais longa foi a Farroupilha. A mais sangrenta, de certa forma. Não.
Não foi a mais sangrenta. NÃO FOI A MAIS SANGRENTA! Morreram 3.
000 pessoas contra 30. 000 pessoas que morreram na Balaiada, entendeu? E foi uma revolta liderada por estancieiros.
Não foi uma guerra com ideal, não foi uma revolta libertária. Eles em nenhum momento, de fato, prometeram a libertação, o fim da escravidão. E eles viraram republicanos quase que por acaso.
Agora, o que interessa é que essa visão que nós temos da Revolução Farroupilha e que se cultua até hoje da Revolução Farroupilha foi uma versão que se inicia quando o Partido Republicano Riograndense - o PRR, começa a articular politicamente um movimento pra ajudar na derrubada do Império - isso em 1880! O Império acabaria caindo em 1889, com a Proclamação da República, e os gaúchos tiveram muito a ver com isso. E, em 1930, quando esse Positivismo Caudilhista Gaúcho chega ao poder no Brasil com Getúlio Vargas, ele faz renascer a memória dos grandes heróis farroupilhas.
O Bento Gonçalves, né? Especialmente, Bento Gonçalves. E também o Garibaldi, que era italiano, que era realmente um revolucionário CARBONÁRIO italiano, né?
E resgata a memória desses caras e cria com a ajuda de escritores e de folcloristas e de autores literários essa memória farroupilha, que o Rio Grande do Sul hoje tanto cultua. É legal que o Rio Grande do Sul cultue essa imagem e é legal que a geral do Grêmio - a melhor torcida do mundo - cante o Hino Gaúcho em cima do Hino Brasileiro. Tudo isso é folclórico e é legal.
Só que é o seguinte: não é verdadeiro! Então, o seguinte, se você quiser continuar cultivando a memória farroupilha, o faça! Mas tenta descobrir qual foi a real dessa guerra, né?
Não foi uma guerra limpa, uma guerra com ideal. E é o seguinte, os farrapos eram farrapos antes na Bahia! Na Bahia, hein?
Imagina que horror pro gaúcho! Mas é verdade! Primeiro farrapo, primeiro farroupilha foi o Cipriano Barata, o revolucionário baiano.
Líder da Conjuração Baiana de 1798, ele também participou da Revolução Pernambucana de 1817. Depois de várias prisões, se elegeu deputado e membro das Cortes em Lisboa. Então, passou a circular pelas ruas de Portugal com chapéu de palha e roupas esfarrapadas só pra provocar os conservadores.
Mas a origem da expressão "Aos Farrapos" vem de "Sans Culote" ou "Sem Calção", como eram chamados os revolucionários franceses de 1792, que usavam calças listradas só pra afrontar o calção curto vestido pelos coxinhas. . .
E os revolucionários gaúchos não estavam em farrapos! Eram ricos! E os soldados índios e negros que lutaram não receberam nada do que lhes foi prometido!
Inclusive, foram mortos num dos episódios mais nefastos da história, mais canalhas, mais infames da história brasileira. O massacre dos Lanceiros Negros, em Porongos, em setembro de 1845, quando a guerra já 'tava chegando ao seu final. Houve a assinatura - talvez nem tenha havido, mas se diz que houve assinatura de um tratado de paz honrosa - o chamado Tratado de Ponche Verde que não foi exatamente assim.
Tá aqui a prova incontestável! Aprendam com quem sabe! Mas, na verdade, a piada boa é essa: a Revolução Farroupilha é a guerra que vocês - Nós!
- gaúchos perdemos, fingimos que empatamos e festejamos como se houvéssemos ganho. Mas que barbaridade! Cês tão louco, ó seus ignorante!
Não perdemo coisa nenhuma! Eu sou o Eduardo Bueno e essa é a Revolução Farroupilha de um jeito que, com certeza, "Não Vai Cair no Enem". Ainda bem, né?
O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo. Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram, então, você vai ter que ler.