então é preciso que a gente seja capaz de compreender esse ambiente das relações familiares numa perspectiva que traga em conjunto a construção histórica da domesticidade como elemento do feminino ea realidade da vida é da ampla maioria das mulheres que não foi nem é é a de que a saída de casa significa encontrar a liberdade à livre escolha a livre construção das suas vidas [Risadas] [Música] embora a temática da família ela tem a relação direta com vários capítulos do livro é o capítulo sobre divisão sexual do trabalho capítulo sobre o cuidado capítulo sobre aborto direitos sexuais
é eu quis tratá las separadamente porque eu entendo que ela é chave para se compreender tanto às demandas históricas dos movimentos feministas quanto uma problemática recente com a qual talvez quem não trabalhe com esse tema tenha s surpreendido é que aparecesse aí com tanta força no debate público recente que é a defesa da família então lidar com a temática da família me permitiu no livro discute ao mesmo tempo como é que a família vem sendo abordada no debate feminista e como é que a família entra na reação conservadora ao feminismos hoje como uma peça central
família é um espaço de relações marcadas historicamente pela opressão das mulheres com isso não quer dizer que a família não possa ser o espaço de amor de afeto um espaço extremamente relevante é para a constituição das identidades das pessoas mas sim que nós temos conhecimento suficiente sobre o modo como relações violentas é e mesmo restrições às vidas das mulheres se estabeleceram a partir de determinados padrões de organização da vida familiar eu acho importante ter isso em mente ao mesmo tempo que compreendemos que não se trata simplesmente de entender que a libertação das mulheres é uma
saída do ambiente familiar em direção a uma vida concorrencial nas relações de trabalho é nós temos é no feminismo socialista marxista e entre as feministas negras é discussões bastante importantes sobre o quanto é preciso conectar a posição das mulheres na vida doméstica e sua posição nas relações de trabalho com fatos que vão além das opressões degenere como racismo é ea exploração do trabalho da ampla maioria das mulheres não apenas pelas suas famílias por homens no espaço doméstico mas também no espaço das relações de trabalho remunerado no espaço do mercado o discurso da libertação das mulheres
da vida doméstica ele foi muito importante para alguns setores do feminismo historicamente e há muita muita razão para isso nós precisamos nos lembrar que até muito recentemente do méxico foi codificado como um espaço do feminino embora na experiência da maioria das mulheres não tenha havido a possibilidade de viver o doméstico como uma forma de proteção seja de proteção de agressões seja de proteção de relações de trabalho que envolve em exploração bastante aguda é dos seus corpos a sua energia de trabalho há muitas razões e o feminismo negro tem apresentado isso de maneira muito clara no
entanto para que a gente conclua ainda que o espaço doméstico ele pode ser um espaço de vivência e acolhimento é de vivência segura e de acolhimento para mulheres que nas relações de trabalho remunerada numa esfera pública racializada é ver em seus corpos ea sua força de trabalho sendo é explorado estigmatizados então é preciso que a gente seja capaz de compreender e se esse e em ambiente das relações familiares numa perspectiva que traga em conjunto a construção histórica da domesticidade como elemento do feminino ea realidade da vida é da ampla maioria das mulheres que não foi
nem é é a de que a saída de casa significa encontrar a liberdade à livre escolha a livre construção das suas vidas é fora de casa as relações de trabalho marcadas pela exploração eo racismo constituem as experiências de de muitas mulheres eu diria num país como o brasil que dá ampla maioria das mulheres o ideal da maternidade é um aspecto importante da ideologia do familismo que a ideologia do familismo é o entendimento de que as famílias são é o suporte possível numa sociedade em que a vida é vivida em constante insegurança em que os riscos
aparecem continuamente então a família seria esse espaço de segurança esse espaço de acolhimento e ao mesmo tempo a unidade a partir da qual uma ordem moral e social adequada se estabeleceria nessa ideologia do familismo e maternalista desempenha um papel central trata se não apenas de valorizar as famílias mas de situar o lugar das mulheres como mães como um lugar especial na construção de uma ordem familiar que é aí então a base para uma ordem social o mais amplo é importante observar que a maternidade é uma experiência fundamental é importantíssima para muitas mulheres e não se
trata de negar a relevância da maternidade mas sim de perguntar a quem serve a idealização da maternidade o maternalista não traz simplesmente uma valorização da maternidade ele traz uma fusão entre mulher e maternidade que reduza as mulheres a um papel e o faz de maneira legalizada é como se de um lado a natureza feminina fosse a dedicação aos filhos né fosse feita nesse fluxo para a maternidade o maternal e de outro lado como se as mulheres vivenciar sem a maternidade em condições muito adequadas e cuidar bem ou não de filhos fosse algo que pudesse ser
escolhido por elas então o ideal da maternidade não permite que a gente lhe de fato com as condições reais do exercício da maternidade para que as condições reais do exercício da maternidade existam é preciso que a gente consiga compreender como é que se define o caráter social da maternidade ea vulnerabilidade específica de uma parte das mulheres quando se tornam mães eu acho importante por exemplo pensar é em que medida a defesa da maternidade se estende às mulheres que no brasil perdem seus filhos assassinados pela polícia nas grandes cidades brasileiras são em sua maioria mulheres negros
que têm se organizado e atuado politicamente é de modo a trazer para a cena pública uma maternidade que pouco tem a ver com esse ideal daqueles que defendem é a família como esteio de uma ordem moral social e muitas vezes defendem exatamente as dinâmicas repressiva c as formas de violência que atingem diretamente os filhos dessas mesmas mulheres é como é que a gente conecta então uma eternidade estado de direito como é que a gente conecta maternidade justiça social são essas as perguntas né não é por meio do ideal da maternidade não é por meio da
idealização romântica do que é a o exercício da maternidade pelas mulheres há também uma conexão aí bastante é cruel é entre a defesa da maternidade compulsória isto é a oposição ao direito ao aborto e uma baixa preocupação com as condições em que as mulheres reais esse é a maternidade cuidam dos filhos que tem é preciso me parece é e as feministas negras têm feito isso no brasil há décadas colocar o problema da autonomia reprodutiva como alvo que tem relação com o exercício da maternidade pelas mulheres que desejam ser mães a experiência das mulheres negras no
brasil a experiência das mulheres indígenas na américa latina é a de uma recusa é a possibilidade de que possam exercer a maternidade com segurança é também a de política de esterilização que lhes recusam a possibilidade de que sejam mais ao mesmo tempo nós temos é e contextos em que é o conservadorismo se estabelece é de maneira bastante aguda é uma recusa a possibilidade de que as mulheres tenham o direito de decidir se e quando querem ser mães é que aparece na forma na criminalização do direito ao aborto então como é que a gente pode é
conectar o problema dos limites ao exercício da maternidade ao problema da recusa ao direito a decidir se seremos ou não mães e quando seremos ou não mães é preciso olhar para o estado e entender quais são os atores que conseguem incidir é no âmbito do direito em países como o brasil e outros países latino americanos nos quais essa problemática se estabelece de fato conjuntamente a gente tem um estado altamente repressivo é uma legislação é que retorna à maternidade algo compulsório e ao mesmo tempo políticas que seguidamente demonstram o caráter racista do estado e o modo
como as vidas de mães reais existentes e seus filhos são tratadas de maneira que pouco tem a ver com qualquer tipo de defesa da família é com qualquer tipo de indenização do papel das mulheres como mais a sociedade eu sou flávio biroli sou professora de ciência política da universidade de brasília e autora do livro gênero desigualdades limites da democracia no brasil sobre o qual eu falo nessa série de vídeos produzida pela boitempo