Olá pessoal eu sou o Léo sejam bem-vindos a esse vídeo e hoje a gente vai conversar um pouquinho sobre esse livro interessantíssimo e fora do comum que é água viva da Clarice Lispector Água Viva foi publicado em 1973 então é um dos livros da fase final de produção da Clarice que faleceu em 1977 nesse livro A Clarice vai fazer grandes experimentações com a linguagem coisa que ela sempre fez mas que aqui essas experimentações vão vir de uma maneira ainda mais intensa o objetivo da Clarice aqui nesse livro foi de tratar o texto como uma pintura
abstrata e o modo que ela vai desenvolver essa ideia tá muito bem expresso na epígrafe que ela escolheu escrita pelo Michel seu foco um pintor vanguardista belga e que diz o seguinte tinha que existir uma pintura totalmente livre da dependência da figura o objeto que como a música não ilustra coisa Alguma não conta uma história e não lança um mito tal pintura contenta-se em invocar os reinos incomunicáveis do Espírito onde o sonho se torna pensamento onde o traço se torna existência Então o que a gente vai encontrar aqui nesse livro vai exatamente no sentido dessa
epígrafe do seu foco e a Clarice vai buscar então uma independência do objeto que no caso aqui do livro seria uma certa independência do enredo e um livro que tem uma independência do enredo é algo muito ousado muito experimental e que só funciona em mãos muito habilidosas Como foram as da Clarice e a epígrafe do seu foco também fala em evocar os reinos incomunicáveis do Espírito coisa que a Clarice sempre fez muitíssimo bem ela sempre buscou algo que está Além das Palavras e essa busca pelo que tá Além das Palavras pelo que é anterior ao
pensamento vai mais uma vez aparecer de uma maneira muito forte aqui em Água Viva o que a gente encontra aqui então em Água Viva essa independência do objeto que no caso do livro é uma independência do enredo uma certa independência do enredo Porque existe aí micro enredo a gente pode dizer assim e também essa busca por comunicar os reinos incomunicáveis do espírito que seria então tentar transcrever em palavras o que tá muito além das palavras água viva é uma espécie de carta que a narradora que a gente não descobre o nome escreve para alguém que
a gente também não descobre o nome e essa ausência de nomes caminha no sentido exatamente dessa dissolução do objeto proposta então pela epígrafe e nessa cara tá a narradora vai deixar bem claro desde o início que ela tá tentando expressar algo que não pode ser expresso em palavras algo que tá Além das Palavras e confessa essa dificuldade que ela tem em transmitir então esses reinos incomunicáveis espírito dizendo que o que ela quer é mais ou menos como fotografar o cheiro de um perfume logo a gente também descobre que essa narradora é uma pintora que tá
tentando expressar em palavras o que ela consegue expressar na pintura mas ela tem então essa grande dificuldade de fazer essa transcrição do mundo da pintura para o mundo da escrita e isso tudo fica bem claro aqui na página 9 dessa edição um dia ela escreve estou consciente de que tudo o que sei não posso dizer só sei pintando ou pronunciando sílabas cegas de sentido e a narradora também vai Demonstrar um interesse em captar através das palavras o instante o é da de uma maneira parecida como se capta o instante no processo de uma pintura principalmente
em uma pintura abstrata em que a gestualidade durante esse processo de pintura fundamental para a composição da obra Afinal e em cada pescoço de pintura se capta então um instante e a gente pode fazer uma associação para entender isso com a pintura do Pollock que a cada pincelada a cada gesto que ele faz imprime então um instante na tela através então da pintura e mais uma vez isso fica claro em um trecho aqui na página seguinte na página 10 que diz o seguinte antes de mais nada Pinto pintura e antes de mais nada te escrevo
dura a escritura quero como poder pegar com uma mão a palavra a palavra é objeto e os instantes eu lhe tiro o sumo de fruta tenho que me destituir para alcançar cerne e semente de vida o instante é semente viva e essa ânsia em capital instante e o que tá além das palavras vão ser características que a gente vai acompanhar do início ao fim aqui nesse livro mas a captação desse instante é dificílima porque o instante está sempre virando passado e ela até usa como exemplo a roda de um carro em movimento porque em um
segundo a gente tem um pedacinho da roda do carro tocando o chão e no momento seguinte já é o outro pedaço da roda que tá tocando o chão então a cada segundo esse instante é modificado ela tá sempre nessa ânsia nessa tentativa de encostar no instante no momento presente que tá sempre virando o passado e com isso a gente consegue desvendar um pouquinho do título água viva que não se refere ao animal Água Viva mas muito mais é o fluxo da água que corre e aqui mais uma vez a gente tem a questão da incapacidade
de capturar o instante exatamente como é impossível capturar esse instante exato em que a água corre porque a cada instante essa água já fluiu já foi embora e já é outra água que tá passando por ali Acho até que dá para fazer uma associação com aquela famosa frase do Heráclito de que nunca se entra no mesmo Rio duas vezes utilizar mais ou menos assim porque a cada momento a água que flui ali é diferente e quem entra nessa água também já se modificou captando exatamente essa ideia ia dar passagem do instante e das mudanças que
acontecem a cada momento e outra coisa que a gente vai descobrindo conforme o livro avança é que a carta que essa narradora escreve está interessada para alguém que ela amou no passado mas que ela deixou de amar então esse é basicamente um pequeno enredo de água viva alguém que escreve uma carta para um amor do passado e nessa carta tentar acessar o que tá Além das Palavras e também capturar o instante e na escrita dessa carta o fluxo de consciência é Fortíssimo dando muito a impressão de uma escrita espontânea sem nenhum Retoque em que absolutamente
tudo que vem a mente é posto no papel sem nenhum tipo de e esse livro carta também não tem nenhuma divisão de Capítulos é tudo corrido do início ao fim mas tem alguns Marcos temporais dentro dessa escrita que a gente consegue perceber quando a narradora diz que vai parar de escrever naquele momento e vai fazer outra coisa e também quando ela volta e Indica então que voltou para escrever a carta e a linguagem utilizada em Água Viva é extremamente lírica tanto que tem alguns que consideram Água Viva como uma poesia em forma de prosa Por
conta desses trechos que são tão maravilhosamente poéticos e muito bonitos e a cada página desse livro A gente tem uma sensação de maravilhamento acompanhando esse fluxo de pensamentos que correm com Total Liberdade sem nenhum tipo de freio e que tenta atingir o que tá Além das Palavras em diversos momentos durante a leitura a gente vai encontrar sentimentos que a gente já teve mas que nunca conseguiu expor em palavras mas que a Clarice consegue por conta dessa longa investigação durante toda dela desse sentimentos que estão Além das Palavras então em vários momentos a gente vai ter
certos lampejos durante a leitura desse livro esse aqui é na minha opinião dos textos mais difíceis da Clarice mas ao mesmo tempo em que ler bastante difícil e também é extraordináriamente bonito esse então foi o livro de hoje e espero fortemente que vocês tenham se sentindo inspirados a Navegar por esse fluxo indescritível de água viva e para quem assim como eu gosta muito da Clarice Lispector aqui na descrição desse vídeo tem um link com uma playlist com mais vídeos sobre as obras dela por hoje então é isso gostaria de agradecer a companhia de vocês e
a gente se vê de novo em um próximo vídeo Um abraço e até lá