olá tudo bem vamos falar então Mais especificamente do livro O Quinze essa publicação tão marcante de 1930 o 15 publicado em 30 Mas ele tem esse nome por causa da grande seca pela qual o Ceará passou em 1915 [Música] Sem dúvida foi uma grande surpresa essa obra nas letras nacionais porque afinal de contas foi publicado por uma mulher uma mulher adolescente e um livro que veio para dar uma chacoalhada nesses romances de seca dessas histórias falando da miséria em decorrência da seca porque já tinha sido publicado o livro A bagaceira em 1928 José Américo de
Almeida nesse livro você encontra com certeza a vida sofrida sobre humana dos retirantes Porém você tem lá uma espécie de triângulo amoroso Dagoberto o filho Lúcio e Soledade esse triângulo ele acaba se fechando muito nele mesmo e tirando um pouco do peso das atrocidades que a seca pode causar e de repente vem o 15 escrito por como nós já dissemos uma mulher e uma mulher jovem a gente sabe que as mulheres sempre passaram por um processo de segregação silenciamento aconteceu por exemplo com Júlia Lopes de Almeida Lopes de Almeida foi uma das idealizadoras da Academia
Brasileira de Letras mas quando a academia foi fundada em 1896 ela não pode entrar decidiu-se que seriam apenas homens e entre o marido dela e ela não parece que a partir dessa recusa a literatura dela também vai caindo no ostracismo vai ficando de lado sendo que durante o século 19 na segunda metade do século 19 ela alcançou uma projeção muito interessante por causa da literatura das falas ela era também uma palestrante então a mulher sempre um pouco deixada de lado ou muito e de repente uma mulher totalmente desconhecida e muito jovem vem com uma obra
impactante e a gente percebe mais intensidade em relação ao que pode acontecer em decorrência da seca Você até tem um relacionamento amoroso na história temos um núcleo que é o núcleo da Conceição Talvez o núcleo mais importante O mais importante da narrativa Conceição Pode ser aí a nossa protagonista e ela flerta com um rapaz chamado Vicente porém Os dois estão completamente inseridos no sertão inseridos nas coisas que dizem respeito ao Sertão Ou seja a seca não há um desligamento com muitas vezes a gente sente na bagaceira a Conceição mora em Fortaleza porém Vem passar as
férias na fazenda da família onde mora sozinha a avó então ela sente o que tá acontecendo ali Em volta dela toda a secura da região e o Vicente e O Vicente é um fazendeiro a família dele possui uma fazenda né o pai dele é um latifundiário e ele vai lutar praticamente sozinho contra os efeitos da seca na fauna na Flora além disso a relação dos dois o flerte deles não vai ganhando força no caminhar da trama pelo contrário vai perdendo que afinal de lá em Fortaleza a Conceição ouve falar que o Vicente tá se engraçando
com amor com a boca ali da região e ela então fica desencantada eles vão se afastando nós não temos aí um final feliz Lembrando que o 15 tem um aspecto que é chamado pelos estudiosos de neo-realista e os livros realistas se você pensar bem não são como os românticos nos Livros românticos ainda que o final seja infeliz vão pegar Inocência ambos morrem no final eles morrem mas o amor é eterno amor permanece vai se engana quem acha que Raquel de Queiroz aplica a escrita dela uma intensidade exagerada não é nem para mais nem para menos
o Augusto Frederico Schmidt que foi uma grande figura das nossas letras do mundo editorial brasileiro quando leu o 15 sim empolgou tanto que foi obrigado a escrever um pequeno artigo e ele diz que tudo é na medida certa é impressionante a consciência que aquela jovem de 19 20 anos tinha ela não força a barra nem para mais nem para menos ela mostra simplesmente Os horrores em decorrência da seca como a coisa de fato aconteceu havia lá em 1915 no Ceará vários acampamentos eram concentrações públicas em que as pessoas podiam ficar para ganhar alguma assistência fugiam
da seca iam parar nesses campos de concentração e lá então tinham alguma comida tinham alguma água problema é que tudo era muito escasso em torno de 150 pessoas morriam por dia nesses Campos Então tudo aquilo que ela traz na história é absolutamente verossímil ao que acontece sem contar que ela consegue também trabalhar uma linguagem que harmônica com essa sobriedade para falar dos fatos ela tem uma linguagem enxuta Econômica traz o linguajar típico do morador lá do Sertão também sem exageros parece que a gente tá vendo o mestre Graciliano Ramos escrever Vidas Secas ou São Bernardo
já sendo Ramos Vai publicar as suas obras-primas depois da Raquel de Queiroz então é um livro extremamente literário porque quando você tem um trabalho uma preocupação especial com a linguagem não só com o que você escreve mas também como as coisas são ditas aí você tem alguém se esforçando para fazer literatura bom então um motivo é exato a linguagem também se esforça para ser e para mostrar para a gente tudo isso desse jeito ela vai jogando também com um conflito entre o interior e a cidade me lembrei aqui daquela fábula O ratinho do campo e
o Ratinho da cidade não sei se vocês conhecem Campo cidade ser tão eleitoral isso aí vai percorrer também toda a narrativa breve porque é um livro relativamente curto o 15 já começa pela personagem Conceição como nós já comentamos uma professora do Ceará de Fortaleza melhor dizendo que vem passar as férias na casa da família com a avó vão morar sozinha então aí você já tem esse contraponto entre os dois espaços depois ela leva a vó para morar com ela então novamente esses deslocamentos todos lá na cidade que que a Conceição faz ela trabalha num campo
de concentrados num campo que recebe os retirantes ela continua ligada ao Sertão e a gente continua nesse jogo de espaços outra questão que nós podemos levantar em relação ao interior e a cidade é sobre a família do Chico Bento que seria o segundo foco não é foco narrativo que seria o segundo núcleo importante aqui dessa história Chico Bento e a sua esposa cordolina eles têm cinco filhos e são obrigados a deixar a fazenda onde eles viviam em Quixadá porque a dona não aguentou segurar mais a fazenda naquela seca terrível solta a criação solta o gado
a Deus Dará e não tem como manter os seus empregados E aí Chico Bento cordolina e cinco filhos fazem uma caminhada seguem a sua saga do Sertão até Fortaleza chegando lá eles vão para esse abrigo onde trabalha voluntariamente Conceição Conceição reconhece a família inclusive ela era madrinha do mais novo o Manuel o Duquinha pega o menino para criar e a família ela tem algumas perdas o filho mais velho simplesmente some o filho do meio vai comer uma mandioca brava crua e acaba falecendo durante a caminhada e olha só Campos cidade novamente quando eles estão lá
em Fortaleza Depois dessa peregrinação sofridíssima deles Conceição dá uma dica por que que vocês não vão embora para São Paulo porque aí a situação estava difícil mesmo em Fortaleza as possibilidades eram muito pequenas de trabalho de uma renda de alimentação e aí ela dá essa dica consegue uma passagem para eles e eles embarcam para a cidade mais por causa do Brasil naquela época São Paulo tava crescendo Mas aí você já percebe que esse movimento dos retirantes para lá já vai começar no início do século 20 tudo é contado para a gente em terceira pessoa temos
um narrador onisciente que aquele que conhece pensamentos sentimentos das personagens inclusive é um livro que tem um lado de pensamento lado psicológico muito forte nós temos um fora mas também nós temos um dentro nós temos a essência dos seres A Essência dos personagens nós temos um fora que a natureza hostil vai haver uma luta inclusive entre o homem e a natureza o tempo todo isso principalmente representado pelo personagem Vicente que é uma figuraça porque afinal de contas a família acaba desistindo acaba saindo da fazenda do Sertão indo para localidade de Quixadá para cidade de Quixadá
e ele fica ali tentando fazer com que o gado sobreviva ele gosta na verdade dessa vida rústica do Sertão ele tem um pé atrás ele tem um ranço vamos usar uma palavra contemporânea em relação a tudo que é muito acadêmico ele tem inclusive um irmão que mora na cidade que é advogado a família sempre comparou muitos dois então isso aí auxilia também com uma certa hojeriza que ele tem em relação a vida urbana em relação a universidade ele achava o mundo acadêmico bastante quando ele Conceição se desentendem isso acaba vindo à tona porque Conceição era
o oposto Conceição era uma moça Que adorava ler uma moçaculta de 22 anos de idade professora Podemos até associá-la a própria figura da Raquel de Queiroz e com vocês são tinha um aspecto que lembra muito o feminismo nas suas posturas não era aquela pessoa que pensava em casamento que pensava em marido ela se vê muito alto suficiente ainda que jovem já se se coloca como uma solteirona na sociedade tinha ideias também progressistas socialistas quando era Vicente se afastam depois ela ouve falar que ele tá tendo um caso um relacionamento aproximação com uma menina ali do
interior ela começa a pensar que até foi melhor porque afinal de contas ele para ela acaba sendo muito matuto não Lia não se instruía uma relação entre os dois e a ser algo muito distante essa postura de enfrentamento Diante do conservadorismo da sociedade da época que a concessão empreende vai de encontro ao que acreditava a avó dela que é a Dona Inácia apesar de ela se darem bem se respeitarem mutuamente Dona Inácia algumas vezes questiona durante a narrativa o fato da moça não pensar em casamento não pensar em marido estudar muito querer escrever então nós
temos aí conflito de gerações representado por Conceição e Dona Inácia fica muito interessante a relação das duas mais Dona Inácia não consegue de segurar a gente pode pensar que com isso O livro tá trazendo para gente que as mudanças que as transformações são inevitáveis e o Brasil passava por grandes transformações durante os anos 30 nós vamos ter politicamente falando o governo Vargas que inclusive trouxe vários problemas para muitos artistas brasileiros a própria Raquel de Queiroz durante o estado novo acaba sendo presa então o Brasil passava por diversas mudanças políticas urbanísticas culturais e aí entra também
essa questão do papel da mulher na sociedade que inevitavelmente vai sofrendo transformações e a nossa professora cearense mostra isso tanto a personagem quanto a autora Raquel de Queiroz que também se coloca como uma mulher diferenciada na sociedade do seu tempo tá bom gente valeu um abraço