A minha vida sempre foi meio parada. Na verdade, nunca gostei muito de sair por aí, de boate, de festa, essas coisas. Já passei da fase de rodar pelas noites do Rio, buscar aventura.
Agora, prefiro mais é curtir a paz do meu apê no subúrbio, longe do tumulto. Só que, às vezes, por mais que a gente tente fugir da confusão, ela acaba batendo na nossa porta, literalmente. A história começou quando o apartamento ao lado do meu ficou vazio.
O antigo vizinho, o seu Nestor, tinha se mudado para morar com a filha, lá pra Baixada, e eu fiquei sem ninguém naquele lado do corredor. Não vou mentir: foi um alívio! O velho passava o dia me espiando toda vez que eu saía de casa.
Parecia que ele estava ali de prontidão, esperando para puxar assunto. E pior, com aquele bafo de café velho! Que Deus me livre!
Enfim, o apartamento ficou vazio por um tempo, até que numa sexta-feira à tarde eu ouvi o barulho, aquela movimentação de mudança, sabe? Gente subindo e descendo escada com caixas, falando alto, o som da porta batendo. Fiquei curiosa.
Claro, quem será que ia morar ali agora? Esperei umas horas até o barulho diminuir e fui fingir que estava indo tirar o lixo, só para dar uma espiada. Quando abri a porta e botei o pé no corredor, dei de cara com ele, o novo vizinho.
Ele estava lá parado em frente à porta do apê dele, todo enrolado com umas caixas. Um cara novo, devia ter uns 20 e poucos anos, bem mais jovem que eu. Tinha aquele jeito meio desengonçado, cabelo bagunçado, camiseta velha de banda.
Não parecia mal, mas também não era o tipo de homem que você olha duas vezes. Só que o jeito dele. .
. Ah, aquilo me chamou atenção. “Oi”, falei com um sorriso, “parece que você tá precisando de uma mão aí, né?
” Ele me olhou meio perdido, como se não soubesse direito o que responder, coçou a cabeça e sorriu sem graça. “É, acho que tô meio enrolado mesmo. Valeu, mas acho que consigo.
” Ele olhou para as caixas de novo, como se não tivesse certeza se conseguia mesmo. “Relaxar, vizinho! Se precisar de ajuda, só chamar.
Eu moro aqui do lado! ” Claro, estendi a mão e ele ficou uns segundos parado antes de apertar. “Lucas, prazer.
” O aperto de mão dele era fraco, meio inseguro. Eu ri por dentro; era visível que ele estava desconfortável, mas essa era a graça, né? O moleque estava claramente deslocado.
Talvez fosse a primeira vez morando sozinho. Deu vontade de brincar com a situação. “Então, Lucas, você vai morar sozinho?
” perguntei casualmente. “Vou, sim! Quer dizer, é a primeira vez, né?
Nunca morei fora da casa dos meus pais. ” Ele deu uma risada nervosa. Aí eu saquei.
Tava explicado o jeito dele: filho de mamãe, provavelmente. Nunca precisou lavar a própria roupa, mal sabe fazer um miojo. Tava acostumado com tudo na mão e, agora, de repente, jogaram ele nesse prédio no subúrbio pra se virar sozinho.
Senti um misto de pena e vontade de rir da situação. “Ah, vai dar tudo certo! ” Dei um tapinha no braço dele.
“Qualquer coisa, tô aqui do lado. Se precisar de açúcar, café ou alguém para conversar. .
. ” Ele riu de novo, ainda meio nervoso, e eu entrei de volta para meu apê, satisfeita com a minha pequena inspeção. Desde aquele primeiro encontro, passei a reparar mais nele.
Sempre que eu saía ou chegava, ele estava por ali, mexendo nas caixas ou no celular, andando meio devagar pelo corredor. Tinha algo nele que me fazia querer provocar. Talvez fosse a timidez dele, aquele jeito de quem não sabe direito o que fazer quando tá perto de uma mulher.
Ou talvez fosse o fato de que ele parecia tão fácil de se ler, previsível, mas interessante. Um dia desses, estava na hora do almoço e eu esbarrei com ele de novo na portaria. Ele tava de cabeça baixa, enfiado no celular, quase trombou comigo.
“E aí, vizinho distraído! ” brinquei, rindo. Ele deu um pulo, como se eu tivesse pegado ele no flagra.
“Ah, foi mal, eu tava distraído mesmo. ” Ele enfiou o celular no bolso, sem jeito. “Tava só vendo umas coisas do trabalho.
” “Trabalha com o quê? ” perguntei, querendo puxar mais conversa. “Tô começando agora num escritório de contabilidade, mas ainda tô meio perdido, sabe?
Primeiro emprego de verdade. ” Assenti como se entendesse exatamente o que ele tava sentindo. “É normal!
No início tudo parece confuso, mas daqui a pouco você pega o jeito. E, de novo, qualquer coisa que você precisar é só bater aqui! Se precisar de uma companhia para relaxar depois do trabalho, também tô sempre por aqui.
” Eu vi o rosto dele ficar vermelho, as orelhas queimando. Era engraçado como ele reagia a qualquer coisa que eu dizia; eu me divertia com isso. Claro, não tava exatamente interessada nele, mas o jogo de poder, a forma como ele ficava sem jeito perto de mim, era irresistível.
Os dias foram passando e a gente foi esbarrando um no outro com mais frequência. De vez em quando, eu ia até a portaria na hora que ele saía para trabalhar, só para dar um oi e ver como ele reagia. Outras vezes, eu o via chegando do trabalho, sempre com a mesma cara de exausto, mas ele sorria quando me via, ainda que fosse um sorriso tímido.
Até que chegou um dia que ele finalmente aceitou uma das minhas propostas. Eu tinha acabado de voltar da rua e vi ele sentado na escada com uma sacola de mercado na mão. Parecia que tinha acabado de chegar, mas não queria entrar no apartamento ainda.
“Tá de bobeira aí, Lucas? ” perguntei, me apoiando no corrimão. “Não, tava só pensando na vida.
” Ele riu, mas era aquele riso nervoso de sempre. “Que tal pensar com uma cerveja? Tenho umas geladas lá em casa,” eu falei, casual, como quem não quer nada.
Mas sabia exatamente o que tava fazendo. Ele hesitou; eu vi no rosto dele que estava lutando contra a própria cabeça, querendo dizer sim, mas com medo do que poderia acontecer. Eu adorava aquele tipo de reação.
— Ah, não sei, acho que não seria uma boa ideia. — Qual é, Lucas? É só uma cerveja, não vai doer.
Eu ri, descendo mais um degrau da escada. — Ou você vai ficar sentado aí sozinho o resto da noite? Depois de uns segundos, ele finalmente cedeu.
— Tá bom, só uma. Ele levantou e me seguiu até a porta do meu apartamento. Dentro do meu apê, a atmosfera era completamente diferente da do corredor; minha sala tinha uma iluminação suave, aconchegante, e o ar carregava um cheiro doce de incenso.
Eu fiz questão de manter o ambiente acolhedor. Ele sentou no sofá, meio sem jeito, enquanto eu pegava as cervejas. — Aqui, pega.
Entreguei a garrafa para ele e sentei do outro lado do sofá, cruzando as pernas. — Então me conta, como tá sendo essa vida de morador novo? — Ah, é meio estranho ainda, né?
Tô me acostumando. Ele abriu a cerveja e tomou um gole, claramente ainda desconfortável. — No começo é assim mesmo, mas daqui a pouco você já vai estar mandando em tudo aqui, — falei com um sorriso, tentando deixá-lo mais à vontade.
A gente conversou por um tempo, e eu fui percebendo que, apesar da timidez inicial, ele era gente boa. Só que o jeito dele, sempre nervoso, sempre inseguro, me fazia querer provocar cada vez mais. Não conseguia evitar; era como um jogo para mim, e quanto mais ele corava, mais eu queria ver até onde conseguia ir.
— Sabe, Lucas, você devia relaxar mais; tá sempre tão tenso, — falei depois de uma pausa na conversa. Ele riu de novo, aquele riso que eu já conhecia bem. — É, acho que é só o jeito que eu sou.
Quem sabe não é hora de mudar um pouquinho esse jeito, né? Perguntei, inclinando-me um pouco na direção dele, só para ver a reação. Ele ficou vermelho na hora e desviou o olhar.
— Ah, eu. . .
— ele gaguejou, sem saber o que dizer. — Calma, só tô brincando, — ri, voltando a me encostar no sofá. A verdade era que eu gostava desse joguinho; não era algo sério nem profundo, eu só queria ver até onde conseguia levar as coisas.
E ele, bom, ele estava claramente perdido naquele novo mundo, sem saber direito como agir. Isso me dava ainda mais controle, e eu adorava isso. Depois daquela noite em que Lucas finalmente entrou no meu apartamento, eu sabia que tinha plantado uma sementinha na cabeça dele.
O garoto estava intrigado, curioso, mas ao mesmo tempo completamente perdido. Era claro que ele não sabia o que fazer com o que estava sentindo, e para ser sincera, isso só tornava o jogo mais divertido para mim. Os dias foram passando, e a gente começou a se esbarrar mais vezes no corredor, na portaria e até no mercadinho da esquina.
Ele sempre me cumprimentava com aquele sorriso tímido, meio sem graça, mas eu percebia que algo estava mudando. Lucas já não desviava tanto o olhar, já não gaguejava tanto; parecia que, aos poucos, estava se acostumando com a minha presença, ou melhor, estava tentando entender qual era a minha. Num desses encontros no mercadinho, ele estava lá, enrolado com umas compras, tentando equilibrar uma melancia e umas sacolas.
Eu estava ali, só comprando umas besteiras, quando vi ele se atrapalhando. — Pô, vizinho, tu tá precisando de um carrinho, hein? — brinquei, rindo.
Ele olhou para mim, riu também, mas foi aquele riso nervoso de sempre. — Acho que exagerei. Ele balançou a cabeça, meio envergonhado.
— Achei que dava para levar tudo de uma vez. — Deixa de ser bobo! Me dá essas sacolas aqui, vai, te ajudo a levar até em casa.
— Não precisa, sério, eu dou conta. — Ah, Lucas, larga de ser teimoso! Vai ficar derrubando coisa no meio da rua, — falei, já pegando as sacolas da mão dele, sem esperar resposta.
Ele meio que suspirou, derrotado, e acabou aceitando a ajuda. Fomos caminhando de volta pro prédio lado a lado, com ele claramente sem saber o que dizer e eu, claro, aproveitando a situação. — E aí, como tá se virando na vida de solteiro no subúrbio?
— perguntei, tentando deixar o clima mais leve. — Tô indo, né? Ainda me acostumando com a rotina e tal, — ele respondeu, sem muito entusiasmo.
— Ah, moleque, para de drama! É só aprender a lavar umas roupas e fazer uns rangos básicos que já tá tudo certo. Ou você tá achando que aqui tem alguém pra te mimar?
— falei, rindo, cutucando o braço dele com o cotovelo. Ele corou de leve, mas sorriu. Eu sabia que o comentário tinha atingido alguma coisa ali dentro; era meio óbvio que ele ainda estava acostumado com a vida na casa dos pais, onde não precisava se preocupar com essas coisas.
— Tô tentando, juro, só que às vezes dá uma saudade, né? Lá em casa era tudo mais fácil, normal. Mas faz parte do aprendizado.
Agora você tá por tua conta e, como diz o ditado, quem não aprende pelo amor, aprende pela dor. — Dei uma piscadela, e ele riu, mas ainda meio sem jeito. Chegamos no prédio e eu ajudei ele a levar as coisas até o apartamento.
Quando coloquei as sacolas no chão da cozinha dele, dei uma olhada ao redor; o lugar tava meio bagunçado, mas nada demais, um típico apartamento de quem ainda tá aprendendo a se virar. — Vai dizer que ainda não aprendeu a fazer nada nessa cozinha, Lucas? — perguntei, apontando pro fogo impecável, claramente sem uso.
Ele olhou pro fogão, depois para mim, e coçou a cabeça. — Tô aprendendo. — Mas ainda prefiro o delivery, — ele disse.
Eu ri alto, balançando a cabeça. — Moleque, tu não vai sobreviver assim! Vai ter que aprender a fritar pelo menos um ovo.
Senão, daqui a pouco tá falido com tanto delivery! — falei, já abrindo a geladeira dele. Pedir licença.
. . Ó, tem ovo aqui!
Vou te ensinar um truque. Ele me olhou surpreso enquanto eu pegava uma frigideira e ligava o fogo. — Sério?
Você vai me ensinar a fritar ovo? — Claro, meu filho! Não vou deixar você morrer de fome.
Não fica vendo. Comecei a preparar o ovo enquanto explicava o processo básico para ele, tudo com aquela leveza de quem já sabia que estava no controle da situação. Lucas ficou do meu lado, observando, mas claramente mais interessado no que eu estava fazendo do que no aprendizado em si.
— Tá vendo? Fácil demais! Só não vai deixar queimar, hein?
— falei, jogando o ovo frito no prato e entregando para ele. — Valeu, Clara, de verdade! — ele disse e, pela primeira vez, parecia realmente à vontade.
— Relaxa! Mas ó, não vai pensar que eu vou ficar te mimando sempre, hein? — pisquei, brincando.
Ele riu, meio sem jeito, mas já estava mais solto. Acho que o fato de eu ter entrado na cozinha dele, feito o rango e agido como se fosse a coisa mais normal do mundo deixou ele mais confortável, e isso era exatamente o que eu queria. Saí de lá com a sensação de que o jogo estava começando a esquentar.
Lucas estava começando a baixar a guarda, e eu gostava de ver isso. Não era só sobre a comida nem sobre a ajuda com as sacolas; era o poder que eu estava exercendo, a maneira como ele reagia a mim. Eu via o conflito interno nele, aquela mistura de desejo e insegurança, e isso me dava mais gás.
Nos dias seguintes, a gente começou a se ver com mais frequência. Ele passou a bater na minha porta de vez em quando, pedindo ajuda para coisas simples, como arrumar uma lâmpada ou entender como funcionava a máquina de lavar. E eu, claro, sempre disposta a ajudar.
A verdade era que eu estava criando uma situação em que ele dependia de mim, e quanto mais ele vinha pedir ajuda, mais eu sabia que estava no controle. Numa dessas vezes, ele apareceu lá em casa já à noite com um problema na TV. — Clara, foi mal te incomodar essa hora, mas eu acho que a TV queimou — ele falou, coçando a nuca.
— Ia? Queimou nada, deixa eu ver isso aí. — Peguei as ferramentas e fui com ele até o apartamento.
Chegando lá, vi que não era nada demais, só um cabo mal conectado. — Tá vendo? Coisa boba!
— conectei o cabo e a TV voltou a funcionar. — Agora, já que tô aqui, vou aproveitar para ver se essa sua geladeira ainda tem alguma coisa que preste. Ele riu e eu percebi que dessa vez estava mais relaxado.
Não era mais aquele garoto nervoso que mal conseguia falar direito. Claro, ainda tinha um pouco daquela timidez, mas ele estava se soltando mais, e era justamente isso que eu queria. A gente acabou sentando no sofá e bebendo umas cervejas.
O papo foi fluindo de um jeito natural, falando sobre a vida. — De verdade, você parece tão tranquila, sabe? Como se nada te abalasse — comentou, depois de um tempo.
— Eu? — balançando a cabeça. — Gente, deixa eu te contar um segredo: quanto mais você mostra que tá no controle, mais as pessoas acreditam.
O segredo é esse. — Faz sentido — ele disse, pensativo. — Acho que eu nunca fui muito bom em fingir.
Isso sempre me deixa nervoso. — Sei lá, isso eu já reparei! — brinquei, dando um tapinha no braço dele.
— Mas olha, isso muda com o tempo. Você aprende a lidar com essas coisas. Só não pode se esconder do mundo, tem que enfrentar!
Ele assentiu, parecendo refletir sobre o que eu tinha dito. Eu sabia que, de certa forma, ele estava buscando algum tipo de orientação, tentando entender como ele podia se soltar mais, ser mais confiante, e claro, eu estava disposta a ajudar do meu jeito. Naquela noite, antes de eu ir embora, ele ficou em pé na porta, meio hesitante.
— Clara, valeu, sério! Eu sei que eu sou meio perdido, mas é bom ter alguém por perto — ele disse, com um sorriso tímido. Eu sorri de volta.
— Relaxa, Lucas! Eu tô por aqui sempre que precisar! Eu sabia que aquela frase tinha um peso maior do que ele talvez percebesse naquele momento.
Sempre que precisar. Não era só sobre as pequenas ajudas do dia a dia; era sobre o que estava acontecendo entre a gente. Aquela tensão crescente, aquela curiosidade mútua, e eu sabia que ele ia voltar a me procurar.
As semanas foram passando e eu fui percebendo que o Lucas já não era mais o mesmo garoto envergonhado que esbarrou comigo no corredor. Aos poucos, ele estava se soltando, se acostumando com a minha presença e com o jogo que a gente tinha começado, mesmo que ele, talvez, nem tivesse noção de tudo que estava acontecendo. Para mim, estava claro: o moleque estava na minha mão, só faltava o empurrão final para ele ceder de vez.
Eu já tinha percebido que ele estava mais à vontade em me chamar para conversar, para beber uma cerveja depois do trabalho. Várias vezes, ele aparecia na minha porta sem nem ter um motivo concreto; era sempre uma desculpa: o controle da TV que não funcionava, uma tomada que dava choque, até o gás do chuveiro que ele não conseguia regular. Eu sabia que ele não precisava da minha ajuda de verdade, mas deixava rolar.
Era bom vê-lo assim, cada vez mais dependente da minha presença e, de certa forma, mais confortável em me ter por perto. Numa sexta-feira, depois do trabalho, ele bateu na minha porta de novo, dessa vez com um sorriso mais confiante do que o normal. Eu estranhei de cara.
— E aí, vizinha? Tá ocupada? — ele perguntou, meio casual.
Mas eu sabia que tinha algo diferente no jeito dele. — Tô aqui de bobeira. Por quê?
— Você precisa de ajuda para fazer a janta hoje? — brinquei, rindo. — Nada disso!
Só queria saber se você topa uma cervejinha. Trouxe umas latinhas, achei que a gente podia beber junto. Olhei para ele e vi que, dessa vez, não era o moleque tímido que estava ali na minha frente.
Lucas estava começando a pegar confiança, e isso me divertia. Eu dei de ombros, fingindo desinteresse, mas por dentro sabia que aquele momento ia ser o ponto de virada. Ah, pode ser, né?
Vamos beber um pouquinho então. Entra aí. Ele entrou com as cervejas na mão e se jogou no sofá como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Eu fui buscar os copos e, quando voltei, vi que ele estava mexendo no controle remoto, procurando algo para colocar na TV. "A vontade, né? " brinquei, rindo.
Ah, você disse que era para ficar à vontade, então tô obedecendo. Ele deu uma risada, já abrindo a primeira lata. A gente foi conversando, bebendo, e o clima foi ficando cada vez mais descontraído.
O papo estava solto, leve, mas tinha aquela tensão no ar, a mesma de sempre. Só que agora, diferente das outras vezes, Lucas estava mais próximo, mais envolvido. Era como se ele estivesse finalmente tomando as rédeas do que ele queria, e eu gostava disso; adorava, na verdade.
"Sabe, Clara, eu tava pensando," ele começou, depois de uns goles de cerveja. "Desde que me mudei para cá, você foi a única pessoa que me ajudou de verdade. Nem meus amigos de antes ligaram para saber se eu estava bem, se eu precisava de alguma coisa.
" Eu sorri, bebendo mais um gole. "Ah, Lucas, faz parte! Gente nova na cidade vizinha tem que cuidar, né?
" falei, tentando manter o tom leve, mas já sentindo que o papo ia para outro caminho. "É, mas não sei se é só isso. " Ele me olhou de um jeito diferente, mais direto do que nunca.
"A verdade é que, sem você, eu ia estar bem perdido. " Eu coloquei o copo na mesa, encarando ele de volta. "Perdido por quê?
Tu já é grandinho, Lucas. Se vira bem sozinho, tá aprendendo," falei, mas sabia que ele estava tentando dizer algo além. "Sei lá, acho que me acostumei demais a depender dos outros, mas contigo é diferente.
Você me ensinou umas paradas, mas não só sobre a vida. Acho que me ensinou a ficar mais de boa. " Ele tomou outro gole, meio nervoso.
"Ah, garoto, relaxa! Tu tá se saindo melhor do que pensa, não fica se preocupando tanto. A vida é assim mesmo, cheia de aprendizado.
E você, Clara? " Ele perguntou de repente, me pegando de surpresa. "Você sempre parece tão segura de tudo, não se sente sozinha?
" Não. A pergunta me pegou desprevenida, mas eu não demonstrei. "Às vezes sim, mas já me acostumei com a vida assim.
A gente aprende a ficar de boa com a própria companhia, sabe? " Lucas ficou em silêncio por uns segundos, me encarando. E, aí, sem aviso, ele se inclinou um pouco na minha direção.
"Eu acho que a tua companhia é melhor do que a minha," ele disse, a voz meio baixa, mas cheia de intenção. Olhei para ele e vi que finalmente o garoto estava tomando coragem. Eu podia sentir o calor no ar, aquela tensão que vinha crescendo a cada encontro; já não tinha mais volta.
E eu sabia que ele estava pronto para cruzar a linha. Lucas tinha mudado; ele estava mais confiante, mais certo do que queria. E eu, bom, eu estava só esperando por isso.
"E o que tu vai fazer sobre isso? " Lucas, perguntei com um sorriso provocador. Ele hesitou por um segundo, mas então, antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele se inclinou e me beijou.
Foi um beijo meio desajeitado no início, mas logo ele se soltou, como se tivesse se livrando das últimas amarras que ainda seguravam ele. Eu retribuí o beijo, puxando ele mais para perto, sentindo o calor do corpo dele se misturar com o meu. Lucas, o moleque tímido e perdido, agora estava ali, tomando iniciativa, finalmente se permitindo.
E eu adorava cada segundo disso. A gente continuou se beijando por um tempo e eu percebi que ele estava mais à vontade do que eu esperava. Lucas já não era aquele garoto inexperiente, pelo menos não mais.
Claro, ainda tinha um pouco de insegurança nos movimentos dele, mas era visível que ele estava se entregando sem medo. Quando nos separamos por um instante, ele me olhou com a respiração acelerada, mas sem aquela timidez que eu conhecia tão bem. "Acho que.
. . acho que tô entendendo melhor as coisas agora," ele disse, com um sorriso meio torto.
"Tá, e o que que tu tá entendendo? " perguntei, provocando. "Que eu queria isso faz tempo, só tava esperando a coragem chegar.
" Eu sorri satisfeita. "Demorou, mas chegou, né? " falei, antes de puxá-lo para mais um beijo.
Aquela noite foi diferente de todas as outras. Não era mais só sobre o jogo de poder, sobre a tensão que a gente vinha alimentando; era sobre ele finalmente assumindo o controle da própria vontade, tomando as rédeas do que ele queria. E eu, eu tava ali curtindo cada segundo, vendo o garoto tímido se transformar diante dos meus olhos.
A gente ficou junto por mais um tempo e, no final, Lucas estava jogado no sofá, com um sorriso satisfeito no rosto. Ele parecia outra pessoa, mais leve, mais tranquilo, como se finalmente tivesse se livrado de um peso que carregava há tempos. "Tá se sentindo bem agora?
" perguntei, sentando ao lado dele. Ele me olhou, ainda com aquele sorriso. "Melhor impossível.
" Eu ri, balançando a cabeça. "Tá vendo? Era só se soltar.
" Ele assentiu, ficando em silêncio por uns instantes, como se estivesse processando tudo o que tinha acontecido. "Valeu, Clara, de verdade. Acho que eu precisava disso.
" "Relaxa, Lucas, era só questão de tempo," falei, dando um tapinha no braço dele. A verdade é que, por mais que eu tivesse iniciado o jogo, agora ele. .
. Tava jogando também, e isso me deixava satisfeita. Ver ele crescer e se transformar foi parte do que fez tudo isso tão interessante.
Eu sabia que, de certa forma, tinha sido eu quem abriu essa porta para ele, mas agora que ele tinha cruzado o caminho, era dele. E, honestamente, eu não tinha ideia de onde aquilo ia dar. Mas uma coisa era certa: o Lucas que estava sentado ali no meu sofá não era mais o garoto tímido que um dia tropeçou nas próprias palavras ao me cumprimentar no corredor.
Ele tinha mudado, e eu sabia que, de alguma forma, também tinha mudado junto com ele. O jogo que a gente começou não tinha mais as mesmas regras. Agora, as coisas eram diferentes, e pela primeira vez, eu não sabia exatamente o que esperar.
E, sinceramente, eu gostava dessa sensação.