Carlos Augusto Monteiro: o epidemiologista que cunhou o termo “ultraprocessados” | Festival piauí 23

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revista piauí
Na mesa “Conversa com a Fonte” do Festival piauí de Jornalismo, o epidemiologista Carlos Augusto Mon...
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[Música] [Aplausos] pessoal boa tarde estamos aqui com o professor Carlos Augusto Monteiro eu vou abrir a entrevista da gente contando uma historinha para para para vocês o Carlos Augusto Monteiro É hoje professor emérito da faculdade de saúde pública da durante décadas ele foi muito respeitado na área dele a epidemiologia nutricional por causa de um trabalho Pioneiro no Brasil com desnutrição infantil mas aí a partir de 2019 ele foi virando assim outra coisa ele promoveu uma explosão poderosa e Luminosa que passou a influenciar no mundo inteiro a maneira como a ciência estuda a coisa mais mais
importante da vida da gente a alimentação e mais ele mostrou que a alimentação em quase todo mundo tá ficando toda errada porque o tipo de comida mais consumida em vários lugares tá causando doença nas pessoas e mais ainda ele acabou mostrando que isso é culpa das grandes companhias da indústria alimentícia e onde é que tá o pulo do gato da da da hipótese científica dele porque a gente intuitivamente sempre soube mais ou menos o que é uma comida Trash que o saquinho de chitos não é a mesma coisa que uma fruta o o que aconteceu
o seguinte aqui no Brasil a partir da sala dele ele fez uma proposta assim se os alimentos deixassem de ser analisados pelo valor nutricional como tá todo mundo acostumado a fazer e Passarem a ser estudados pelo grau de processamento que que acontece nessas Ele criou uma classificação chamada nova é como se fosse assim uma régua que começa com os alimentos em Natura e chega até a palavra que ele criou que revolucionou a área de conhecimento dele os Ultra processados daqui a pouco ele vai explicar melhor pra gente o que que é esse esse palavrão o
Carlos Monteiro é o inventor desse termo cada vez mais usado no planeta e ele hoje é um dos cientistas brasileiros mais influentes e reconhecidos pelo mundo afora por causa da mídia internacional que não para escrever sobre esse achado dele e sobre as consequências desse achado dele e também porque a ciência Mundial não para de tirar do Forno mais e mais pesquisas que vão mostrando os efeitos devastadores dos Ultras processados no corpo humano eles vão sendo Associados a mais e mais e mais tipos de doença Hoje ele tá aqui para contar pra gente como é que
foi a jornada dessa hipótese científica revolucionária que nasceu no Brasil portanto bem longe dos centros riquíssimos de pesqu pesquisa pelo mundo como ela causou uma confusão dos diabos Porque a indústria alimentícia tentou de todas as formas desacreditá-lo eu queria agradecer muito a a a presença do Professor Carlos Monteiro foi um golpe de sorte a gente conseguir trazê-lo hoje aqui porque ele tem uma agenda hoje de prêmio Nobel a gente fez um perfil dele na na Piauí e eu lembro que para conseguir marcar a primeira entrevista com ele foi assim uma travessia no deserto foi uma
coisa de sentar no asfalto e falar E aí eh eh eu queria fazer uma primeira pergunta meio turbinadão aquela pergunta comentário uma pergunta Ultra processada porque eu acho que pra gente que tá aqui nesse ambiente jornalístico eh o trabalho dele tem uma bossa mais não só pelos resultados mas porque em certo sentido respeitando todas as diferenças de tempo e de método da ciência lembra muito tem muita semelhança com Jornalismo e jornalismo de dados a maneira como ele achou essa ideia com a perspectiva dele de saúde pública ele tinha uma pergunta ou uma pauta ele ficava
lá esse cara funch os dados de de de de saúde pública e se chegou na seguinte pergunta por que os brasileiros estão ficando obesos mas ele não tinha dados específicos para mostrar isso porque a epidemiologia trabalha com sérias históricas o que fez o nosso grande cientista brasileiro foi procurar dados ele tinha um amigo que trabalhava no governo que já tinha passado para ele uns dados que foram produzidos para outra coisa para mensurar custo de vida que tinham sido censurados pela pela ditadura militar mas que ali dentro tinha um pouco uma uma uma coisa que podia
ser interpretada como inquérito alimentar e ele cruzou isso com os outros dados disponíveis nas bases públicas como a pesquisa de orçamentos familiares até chegar nessa ideia então para para iluminar o o o trabalho da gente aqui eu vou pedir para ele contar essa jornada desde o comecinho como é que foi essa procura pelos dados antes assim avisando que que as perguntas já estão abertas vocês podem passar para pra Débora Se alguém puder perguntar para ele se leite condensado é Ultra processado faça por mim porque eu quero perguntar mas estô com vergonha de botar o meu
interesse acima do do do do do jornalismo Professor então só para todo mundo entender desde o comecinho o senhor podia falar rapidamente pra gente como eram esses dados O que exatamente o senhor foi cruzando e o que que o senhor percebeu então bom bom dia a todos eh prazer est aqui e eh Angélica fez um acho que um resumo já bem bem interessante né Eh mas eu concordo com isso a gente tem eh a a a epidemiologia que é a minha área de estudo não é ela basicamente procura encontrar relações causais né O que que
leva o quê né então na área de nutrição como alimentação produz doença ou produz saúde Qual é essa Qual é esse nexo essa relação né e e e uma das eh perguntas que a gente passou a ter eh foi diante desse do aumento da obesidade que a gente que que já na realidade Então os países ricos desenvolvidos eles têm estatísticas e TM dados tem uma tradição não é de produção Inglaterra por exemplo tem uma tradição de estatísticas vitais né o Brasil não é ruim nisso até razoável mas nessa área de obesidade de a gente não
tinha muita informação então em 89 a gente faz o primeiro inquérito nacional que esse meu amigo que era do do que era do ipia que tava na na no Ministério da Saúde aí ele organiza E aí se faz um primeiro inquérito Nacional sobre idade mas a gente não tinha uma informação anterior então tinha aquela de 1989 aí nós descobrimos que tinha um inquérito lá em 75 na época dos militares e que era uma pesquisa de orçamentos familiares e que as pessoas eram pesadas em medidas não para saber o peso e a altura delas mas simplesmente
para você calcular quanto de alimento as pessoas precisam né as pessoas maiores precisam comer mais enfim então e foi feito esse levantamento mas nunca foi utilizado então a gente descobriu que tinha essa informação e a gente conseguiu ver que a obesidade tinha dado um salto muito grande ainda não havia tantos obesos aqui como nos Estados Unidos mas a velocidade era era muito importante então a pergunta foi o seguinte bom mas em que medida o que que tá levando ess Esse aumento da obesidade aí a gente verificou que esse mesmo inquérito que eh eh tinha o
peso e altura das pessoas as pessoas também informavam o que que elas compravam de alimentos né Eh as famílias eh informavam o que que elas a lista de compras de alimentos e aí a gente passou a ter pela primeira vez essas duas informações eh em conjunto Ou seja a informação mostrando o aumento da obesidade e a informação mostrando como o a alimentação tinha variado naquele mesmo período né E aí a gente tentou colocar essas duas coisas juntas e teve aí algumas ideias né e o que que o senhor olhou Exatamente porque o Senhor lembro que
você que o senhor falava aqui as famílias brasileiras compravam menos sal açúcar o que que que então quando a gente começa a olhar essas listas de compras a gente tem um choque né porque a gente a gente começa a ver que a principal eh que chamava mais atenção né você põe a coluna aqui de 75 ou de 89 enfim e aí a gente olhava eh a primeira coisa era o sal não o sal as pessoas compram muito menos sal agora né quilos por pessoa tal caiu muito açúcar também o óleo também e e e Essas
eram alimentos que a gente falou Poxa mas são os alimentos que são problemáticos né sal açúcar gordura e ao mesmo tempo talvez tivesse sido bom se eles tivessem diminuído mesmo não é eh então isso foi um primeiro e e pro cientista né quando você tem uma hipótese e os teus dados eh começam a mostrar uma outra coisa é onde você tem a onde você tá no caminho certo porque eh Aí talvez você possa descobrir alguma coisa diferente e aconteceu isso a gente olhou viu que esse eh as pessoas realmente estavam comprando menos sal açúcar e
gordura mas ao mesmo tempo a gente viu que a a a o total das compras alimentares não tinha menos sal menos gordura e menos açúcar tinha mais então a gente mas então o sal açúcar e a gordura a pessoa não tá colocando na sua comida né E aí a gente verificou que eh havia alguns produtos esse sim eh com compensavam mais do que compensavam a redução na compra de sal gordura e açúcar porque esse sal e essa gordura o açúcar tava nesses produtos né E que produtos eram esses eram eh biscoitos eram macarrão instantâneo era
lasanha congelada eram refrigerantes eram sobremesas industrializadas né E aí a gente começou bom mas e como é que a gente chama esses essas coisas todas né porque do ponto de vista eh tradicional da classificação você tinha aí coisas que eram baseadas em carboidratos outras em gorduras outras em proteína E então eles não tinham uma uma unidade do ponto de vista de nutrientes Mas eles tinham uma unidade do ponto de vista de processo eles eram todos eh produtos prontos para consumo você não precisa cozinhar preparar essas coisas né Eh e eles têm uma quantidade muito grande
de gordura de sal de Açúcar né Então aí a gente acabou chamando esse de alimentos ultraprocessados bem mais paraa frente né porque isso esse E aí a gente percebeu isso que a a gente foi um pouco mais em detalhe das pessoas não só tão comprando menos sal açúcar e gordura mas também menos arroz e feijão que é a alimentação básica do Brasileiro né E e aí a gente começou a não as pessoas estão com cozinhando menos elas estão comendo menos alimentos preparados nas cozinhas né e comendo Mais Alimentos preparados nas fábricas né então é é
essa aparentemente é a grande diferença que a gente tem essa e que corresponde a esse período de aumento da obesidade né enfim aí a gente começou a pensar que a gente precisaria fazer uma classificação não não a tradicional IBGE na verade eh a gente sempre trabalha muito com o IBGE né na na no nosso no nosso núcleo e nós fazíamos os relatórios para eles usando a classificação tradicional deles né onde a gente tinha lá por exemplo um grupo de cereais onde entrava o arroz entrava o pão de forma entrava enfim era a classificação que eles
usavam e a gente chegou a fazer algumas dessas né mas a gente chegou o momento falou assim a gente quer fazer um pouco diferente né e quando a gente começou a fazer um pouco diferente a gente começou a conseguir entender a explicação para aqu ele aumenta da obesidade porque esses alimentos prontos para consumo eh que são feitos por essas indústrias eles não saciam né é diferente do arroz e feijão a pessoa come as calorias que ela precisa comer e ela continua com fome e na realidade e isso não é uma vamos dizer assim não é
uma coincidência Esse é um plano deliberado né então o alimento ultraprocessado ele é um alimento tem duas características primeiro ele é extremamente lucrativo né porque você faz ele com comodities né você faz ele com óleo de palma óleo de soja amido de milho proteína da soja não é então são ingredientes de muito baixo custo e e eles não saciam como saciam os alimentos de verdade então a indústria ganha duas vezes né porque ela consegue fazer um produto P macarrão instantâneo por exemplo né o custo é baixíssimo né é um é um custo é quase zero
o custo de ingredientes né só que a pessoa paga como se tivesse comprando macarrão ela ela paga o preço que paga quando ela come o alimento de verdade agora Professor voltando só um pouquinho porque daqui a pouco a gente explora mais o que que é esse bicho ruim Ultra processado na ção nova explica pra gente o que que é essa ruinha alimentos em Natura alimentos não sei que alimentos só pro conceito básico ficar bem explicadinho aqui é então assim a gente de de de viu o seguinte que e eh os alimentos tinha esse grupo que
era meio estranho que ninguém chamava nada ainda enfim que a gente deu esse nome de ultraprocessado e tinha um arroz de feijão aqui né tranquilo aqui na na o alimento natural que é o alimento que é produzido na natureza e que que você faz com o arroz quase todos os alimentos são processados veja o arroz é processado né você não pega o arroz da da da da do campo e leva pra sua cozinha né alguém Pega aquele arroz seca aquele arroz embala aquele arroz é um processamento mas é o que a gente chama de processamento
mínimo Esse é o primeiro grupo não é o arroz o feijão a carne o leite a batata as verduras alguns não são processados tipo as verduras por exemplo e outros são minimamente processados Esse é o primeiro grupo né Eh o quarto grupo Eu já falei qual que é agora tem mais dois aqui interessantes né um eh que é o segundo grupo é o de ingredientes culinários então isso também foi uma uma revolução que a gente fez porque eh nas pirâmides alimentares né Essas tradicionais da alimentação saudável o o sal o açúcar e a gordura fica
lá no topo da pirâmide é uma coisa que você deve usar de vez em quando ou coisa assim só que a gente se deu conta assim não se você consumir arroz feijão verdura você precisa de sal gordura e e mesmo açúcar né Alguns alguns alimentos você vai fazer algumas Preparações que vão aç Então a gente criou esse outro grupo que é o dos ingredientes culinários que é o grupo dois e aí a gente percebeu Esse foi o último desenvolvimento que além do grupo um que é o Natura e minimamente processado o ingrediente culinário e ultra
processado tinha um no meio ali esse no meio que que é esse é o alimento processado tradicional Esse é o queijo Esse é o pão Esse é a conserva né esses são os alimentos que que a gente processados que a gente consome a séculos a milênios né Então aí aí a gente fechou a classificação que são os quatro grupos né e e o que a gente vê que uma alimentação saudável ela é feita do grupo um o grupo um não pode ser o grupo dois e o três tem que ser o grupo um tem que
ser o alimento natural mas com o grupo dois porque você tem que preparar esses alimentos tem que transformar ele em em refeições em coisas gostosas que você vai consumir e e o processado que ele vai complementar então a alimentação saudável é grupo um mais dois e TR e o grupo Quatro A gente não precisa dele né só que como você falou esse grupo Quatro por exemplo é 60% das calorias nos Estados Unidos na Inglaterra quer dizer países inteiros que hoje não comem isso que vocês chamam muito também de comida de verdade exato que não a
comida eh nesses países eh eh a maior parte das calorias que as pessoas consomem é feita nas fábricas é de São de produtos feitos nas fábricas não são mais feitos na cozinha né E essa mudança ela é uma mudança eh que não foi percebida nesses países né então você tem porlo nos Estados Unidos eu tenho hoje 40 e 4% da população obesa para cada dois americanos um é obeso e e e e e o outro tá bem próximo já de Dee obeso então eh eh eles não perceberam isso e porque em algum momento nos Estados
Unidos as pessoas comiam comida de verdade a gente não sabe exatamente quando porque você você não tem essas estatísticas muito antigas né mas eh nos Estados Unidos como em outros países as pessoas comiam enfim comida de verdade né comi Unos alimentos com uma parte dos processados é é esse processo é foi muito depois da segunda guerra mundial né Na realidade depois da segunda guerra mundial é que a indústria eh de ultraprocessados começa a se desenvolver né primeiro nesses países passa a dominar o sistema alimentar e o o que a gente vê hoje na realidade é
que essas mesmas indústrias onde elas estão tão na Ásia na África na América Latina porque os mercados nesses países estão saturados né E tem uma coisa que o senhor também tava me explicando quando a gente fala que o professor até chamou atenção que não tem um nome para isso no Brasil né o máximo que tem é as avós da gente falando para de comer porcaria mas a comida trecheiro junky food não tem uma uma expressão típica aqui né e o senhor tava me explicando a a diferença exata entre a a comida trecheiro e o Ultra
processado que no fundo é uma coisa muito sofisticada né é essa e e no nos Estados Unidos até hoje algumas pessoas alguns jornalistas assim perguntam Mas qual a diferença do junk food e ultraprocessado né então assim primeira diferença é o seguinte o junk food não tem definição é é um termo coloquial que não existe uma definição Então você não vai encontrar nenhum estudo sobre junk food por quê Porque não tem definição né Eh mas ele tá associado a uma coisa mal feita é uma coisa mal feita uma coisa não padronizada uma coisa que tem a
A mesmo às vezes contaminada às vezes se confunde comida de rua por exemplo né ah as frituras ali na rua as pessoas fazendo aquilo sem gen então é uma é uma coisa e é um termo que se o usa para má qualidade né e o alimento ultraprocessado é uma é na na realidade ele é uma tecnologia poderosíssima né porque ele eh eh pega o macarrão instantâneo por exemplo você vê quer dizer como é que você transforma aquele óleo de palma e ele vira uma coisa que parece um macarrão né Eh a questão dos Sabores por
exemplo então esses produtos ultraprocessados eh eles têm uma característica que é todos eles eles têm os aditivos que eles têm eles não estão ali para preservar o alimento porque em geral ess alimentos têm uma vida longa por si porque eles não têm alimento né então eles duram eles duram muito tempo os aditivos ali o principal finalidade deles é dar para esses produtos de muito baixo custo aroma textura cor gosto que são e eh eh irresistíveis né então o hoje a a indústria que aliás é uma indústria são pouquíssimas indústrias no mundo que produzem essas eh
essas esses aromas essas esses esses aditivos que dão gosto né aliás tem uma coisa interessante eu vi recentemente eh um um dirigente dessa indústria de tabaco eh lá nos anos 60 70 e e ele dizia assim a minha indústria é uma indústria de aromas a gente não produz tabaco a gente produz aromas a gente produz aromas que conquistam as pessoas e e e e e e viciam as pessoas nesses aromas né E aí tem uma coisa muito interessante que é assim quando começa o tabaco a reduzir o consumo por conta da saúde pública e da
regulação que você passa a ter a Philip Morris e outras empresas que que elas fazem Elas começam a investir nos ultraprocessados e os engenheiros que produziam os aromas eh do cigarro passam a levar essa tecnologia paraa Indústria de Alimentos eh porque o que a gente gosta muito quando é é interessante isso o aroma é muito mais importante que o gosto Você gosta das coisas pelo aroma a gente eh tem muito mais sensores que identificam aromas do que gosto e e eles levaram essa tecnologia Então quando você tem um você pega um pega um chocolate desse
um kit kat por exemplo Vocês tiveram já a chance de comer isso e tal é bom o negócio é bom agora ele dando ele ele ele é trash né no sentido que é péssimo pra saúde mas você não vai achar ele ruim e por que que você não acha ele ruim porque você consegue sintetizar esses aditivos esses aromas que dão para ele uma coisa muito parecida com o chocolate mesmo que é o chocolate que você gosta né desculpa interrompê-lo mas é porque eu queria emendar numa coisa porque aí a gente começa a entrar na parte
da emoção aqui da montanha russa que que que a partir dessa dessa do momento em que em que o professor chegou nesse conceito quando essa ideia foi pro mundo teve vários tipos de reação o Sen falou que nos congressos até hoje as pessoas perguntam Por que que essa ideia nasceu no Brasil e teve muita reação da indústria alimentícia contrária né tipo essa ideia não pode se espalhar né então fazendo aqui a famosa pergunta combo Por que que que que nasceu no Brasil e como é que se deu esse Lobby contrário a o combate à ideia
por exemplo no caso do tabaco tem histórias conhecidíssimos de cientistas que pensavam a a soldo financiados pela indústria do tabaco eles iam para embate para desacreditar qualquer pesquisa que mostrasse que aquilo levava câncer né então voltando um pouco por que no Brasil então você falou no começo né o nosso grupo trabalhou durante muito tempo com desnutrição infantil eh eh e fazendo uma coisa parecida e tentando entender por exemplo a relação das diarreias infantis com o a retado de crescimento questão da anemia e tal e nós nunca tivemos nenhum problema de de de nenhuma vamos dizer
assim eh eh Nenhuma crítica eh ao nosso trabalho né ao contrário assim um trabalho muito elogiado e quando a gente começou a trabalhar nessa área de doenças crônicas e com alimentos ultraprocessados a gente começou a receber muitas críticas né E aí a gente percebeu por quê Porque a o Como eu disse o alimento ultraprocessado ele é extremamente lucrativo então a indústria de alimentos ela conseguiu ela subiu de patamar quer dizer quando ela passou a ultra processar os alimentos em vez de só processar a margem de lucro dela aconteceu com um cigarro parecido aumentou muito né
então obviamente a indústria quer continuar fazendo isso porque é um modelo de negócios extremamente bem sucedido né então e essa é a questão que surge de de da indústria não gostar muito dessas dessas ideias né bom mas por que que por que que surge isso no Brasil quer dizer por que que esse conceito porque teria muito mais sentido esse conceito ser descoberto enfim nos Estados Unidos onde é a origem do do problema né o que acontece é que eh no no caso do Brasil as a pesquisa onde é feita no Brasil não nas universidades públicas
né E algumas poucas privadas que são tem um Jeitão de pública né Na realidade são financiadas inclusive pelo setor público eh nos Estados Unidos é diente diferente né e e Inglaterra cada vez mais também eh as Universidades são financiadas pelo setor privado né em todas as áreas inclusive na área de nutrição principalmente na área de nutrição pela Indústria de Alimentos Então você tem a indústria de alimentos dentro da Universidade né Eh Ou seja essa descoberta que é uma descoberta que eh eh tá criando vários problemas porque agora por exemplo vários países começam a achar os
alimentos ultraprocessados com impostos né Eh vários países começam a proibir a propaganda desses produtos como no caso do cigarro né então a lucratividade dessas empresas começa a reduzir muito então é claramente uma descoberta que não interessa para essa indústria né e no Brasil felizmente a área de investigação de pesquisa é feita na universidade pública com financiamento público né então o nosso grupo por exemplo a gente nunca teve eh nenhum financiamento da Indústria de Alimentos porque você não pode estudar um tema que é tanto do interesse do financiador né quer dizer como é que qual é
a liberdade que você vai ter para fazer esse tipo de estudo então acho que em parte eh uma das explicações é a autonomia que tem a universidade pública o nosso grupo e vários outros grupos tem no Brasil eh isso talvez seja uma e e também um pouco de sorte um pouco de curiosidade um pouco enfim a c ela ela não é ela nem sempre a gente consegue entender exatamente e e a outra pergunta do do do super combo turbinado eh a a reação da da da da indústria alimentícia teve cientista colocando a cara para para
para tentar cancelar essa essa essa hipótese assim no início assim isso veja primeiro artigo que o nosso grupo escreve é de 2009 Então já tem enim 14 anos né eh e e foi um comentário né publicado numa revista e teve uma repercussão muito pequena eu diria que até mais ou menos 2014 assim durante uns 5 anos a gente ficou pregando no deserto assim né a gente ficou enfim você manda trabalho pros congressos etc mas ninguém dá muita bola e aí que que acabou acontecendo essa foi uma coisa muito importante eh universidades da Europa outra vez
a questão pública da França sobretudo né Eh um grupo da França se interessou muito nessa nessas hipóteses que a gente estava eh trazendo tem uma de leite condensado ótima aqui e E então esses grupos porque assim para você estudar porque aí nó a gente não falou disso ainda né Eh o alimento ultraprocessado o jeito que ele é feito ele é eh eh o que a gente chama de intrinsecamente problemático porque você imagina um alimento que não sacia não é um alimento que tem esses ingredientes de baixo custo que não tem os enfim os nutrientes que
você precisa ele tem um potencial de criar doença eh mas para você demonstrar isso você tem que fazer um estudo que a gente chama estudo eh longitudinal Então você tem que pegar 10.000 20 30.000 pessoas acompanhá-las durante 5 anos no mínimo 10 anos e você verificar em função da alimentação dela Quais são as doenças que ela ven a desenvolver ou não nós não tínhamos essa informação aqui nós não tínhamos um um estudo desse tipo porque você precisa começar antes né Eh a França tinha a Inglaterra tinha a Espanha tinha a a os Estados Unidos tinha
vários países tinham mas na França eles começam a fazer o primeiro estudo e começam a ver que as nossas hipóteses confirmavam as pessoas tinham as mulheres tinham mais câncer de mama as pessoas tinham mais doença cardiovascular tinham mais diabetes eh mais recentemente tem doenças mentais depressão Isso é uma uma uma uma área Super Interessante de pesquisa agora porque esses eh aditivos que você tem nesses ultraprocessados eles comprometem a o microbioma né as bactérias que a gente tem no intestino e a gente hoje sabe que essas bactérias TM uma função importantíssima em relação a produzir eh
substâncias que vão até o cérebro e tem um eixo cérebro intestino que é muito importante enfim eh e e com essas descobertas todas aí sim você começa a ter o a a hipótese tendo levada mais a a sério né e e e se confirmando Então e e hoje a gente tem essa essa toda essa perspectiva de regulação de Imposto de proibição de Publicidade em função de que as evidências hoje ainda não estão no nível que estão no caso do tabaco mas estão muito próximas eu eu queria só perguntar de novo porque eu acho que o
meu combo obviamente de dá uma uma uma diluída uma fragmentada nessa nesse nesse detalhe de quando uma ideia dessa vai pro mundo e entra o método do Lobby contrário o Lobby da indústria alimentícia queem muito se assemelha ao do tabaco ou dos que contestaram as mudanças climáticas né e e como é que funciona isso na própria ciência o senhor tava me falando que tem dois tipos de de de de cientistas que até hoje se opõem né É É Então a gente vê dois tipos de reação a as primeiras reações foram eh alguns professores aposentados geral
eh pessoas que perderam também já o já não tão mais na Nativa né não estão trabalhando mais mas viram Consultores dessas indústrias de alimentos né então tem alguns três ou quatro desses assim que começaram a escrever comentários cartas etc criticando esse esse essa essas ideias que a gente tava trazendo ideias novas né E aí claramente você tem eles são pessoas pagas mesmo né eles são eh são os Mercadores da da dúvida né são eles são pagos para levantar dúvidas e e e aí são vários tipos de de dúvidas e e e e desonestos mesmo é
uma argumentação desonesta a outra reação que você tem é o establishment né porque quando você tem uma uma quebra de paradigma você propõe uma uma uma nova explicação para alguma coisa você tem os pesquisadores eh que eh desenvolveram a o paradigma anterior e eles se aferram àquele paradigma anterior né é natural isso então então você acaba tendo um debate também que eh eh E que esse é totalmente legítimo né Eh que são as pessoas que eh eh acreditam que o paradigma anterior é mais do que suficiente não é necessário esse novo Paradigma e começam a
tentar eh eh interpretar toda a evidência nova dizendo não isso aqui a gente já conseguia explicar você não precisa disso né mas aí é o debate interessante esse esse é o que a gente gosta de fazer né professor e uma outra coisa o senhor como como como o senhor vê a a a a sua profissão pela lente da saúde pública O senhor é um cara da taxação que chega e fala não adianta ficar enchendo o saco do cara que vai no supermercado comprar chitos e comprar coca-cola a gente resolve isso na coletividade taxando agora Inclusive
a taxação de ultra processados este conceito que mais uma vez saiu da salinha do professor quase entrou na reforma tributária acabou saindo ali mas ainda tá em discussão né Por que que a taxação que resolve Então porque essa questão e esse é o que torna o Ultra processado muito problemático porque como eu disse ele é basicamente é uma tecnologia de redução de custo né que é uma tecnologia que há 50 anos atrás a ciência não permitia fazer você não tinha por exemplo esses aditivos você não conseguia ter esses aromatizantes hoje você tem no mercado Então
você tem a condição de reduzir o custo né A hora que você consegue reduzir o custo você faz duas coisas você consegue cobrar esse alimento vender esse alimento por um preço menor que o alimento de verdade né você pega o o macarrão instantâneo outra vez né e e eh eh eh ele acaba sendo tem um custo menor tem a praticidade a conveniência né que você tem e e com isso as pessoas e quando como é que o que que as pessoas levam em conta pra decisão de compra de um alimento o sabor o gosto o
preço a conveniência né então e como esses alimentos eles não são taxados eles são taxados como se fosse uma maçã um arroz um feijão o que acontece a indústria consegue vendê-los a preço muito competitivo se você coloca como no caso do cigarro se você coloca ou a bebida alcoólica né se você coloca um imposto eh eh seletivo nesse produto aquela vantagem que a indústria tem ela perde ela já não consegue vender aquilo tão barato né agora isso é só uma das soluções né porque eh a gente PR a publicidade eu acho que é extremamente importante
porque vários ultraprocessados eles não são mais baratos eles são mais caros né Eh toma um refrigerante por exemplo vê o custo de uma latinha de refrigerante você compara com o leite eh obviamente que o leite é tem um custo muito maior né Para você fazer um o leite você precisa comprar o leite de um agricultor você precisa produzir esse leite o o o que que é o refrigerante é água o custo é irrisório é açúcar que o é a caloria mais barata que tem e São corantes e aromatizantes que tem um custo muito baixo não
é então então se você não tiver um imposto seletivo eh o o que que a indústria consegue fazer ela faz isso ela faz essas embalagens enormes de refrigerantes e aí sim o custo começa a ficar muito baixo né você não compra um 5 l de leite tá certo mas você pode comprar 5 l de um refrigerante né Uhum gente muita muita pergunta aqui muita pergunta legal não não vai dar tempo então eu tô deixando aqui de lado as que o professor acabou já já já já respondendo tem muita coisa assim muita pergunta eh tem uma
aqui qual é o papel a é da Gabriela da Costa qual é o papel de educarmos as crianças sobre alimentação saudável eh eh O que que o senhor acha dessas iniciativas no Rio de Janeiro literoi para proibir a venda de de de ultraprocessados em escolas Ah isso é uma coisa bem bacana porque assim a sociedade civil brasileira ela é é muito ativa né é muito ativa esse exemplo de Niterói é incrível assim eu acompanhei esse esse esse exemplo eh eh eles conseguiram fazer com que as escolas né de Niterói e agora do Rio de Janeiro
também né com a Câmara dos Vereadores porque é complicado isso que a regulação depende sempre da aprovação da instância política né acontece seguinte no Congresso nas câmaras de vereadores etc você tem os interesses econômicos né os os os deputados vereadores eles são eleitos eles fazem campanhas eles recebem doações etc Então mas se a sociedade civil se organiza e o que eles conseguiram fazer isso em Niterói eles conseguiram fazer isso eh eh regular a a questão das cantinas do alimento que vende nas cantinas eh da da alimentação escolar né que o Brasil tem um programa muito
interessante de alimentação escolar Então se se avançou bastante em em relação a isso a gente gostaria muito que esse exemplo de Niterói eh eh e do Rio de Janeiro agora se espalhasse em todos os municípios do do Brasil porque porque essa eu falei essa o imposto é uma coisa né A gente nunca vai conseguir um imposto sobre ultraprocessado no nível que tem do cigarro vai ser muito difícil né mas se você tem um pouco de imposto se você restringe a publicidade por exemplo para crianças né se na escola você considera que a escola é um
ambiente que tem que ser protegido ultraprocessado não pode estar lá dentro da escola né pode estar vendendo lá na na fora da escola mas na escola não pode ter ultraprocessado né então Eh são várias eh várias ações que podem ser feitas e elas dependem muito da sociedade civil né organizada e a gente conseguiu esse exemplo de Niterói é fantástico tem quatro perguntas aqui que pincelam um pouco qual é o papel do do do do do estado qual é o papel do governo nisso eu queria emendar nisso Em outro momento altamente emocionante digamos assim dessa dessa
jornada desse conceito que foi o guia alimentar de de eh eh 2014 eu queria que que o senhor explicasse para as pessoas o que é o Gui alimentar para que ele serve como ele foi recepcionado no mundo e por que ele causou tanta confusão especialmente no no no governo bolsonaro é verdade eh Então porque assim eh eu falei em 2009 a gente fez esse primeiro artigo aí nós vivos a classificação nova aí a gente começou a fazer as pesquisas para relacionar a alimentação com a saúde aí outras universidades no mundo começaram a fazer eh eh
pesquisas parecidas eh e aí em 2012 na realidade né Eh eh o Ministério da Saúde resolve eh revisar um guia alimentar que existia já um guia razoável que existia Antes desse 2014 eh e aí há uma aí na realidade uma colega do departamento professora Patrícia Jaime ela vai trabalhar com a Dilma eh para coordenar a área de nutrição e aí ela encomenda esse eh o uma versão do guia alimentar e E aí ela se aproxima porque ela não trabalhava exatamente com o mesmo grupo Nosso ela por vocês não tentam transformar essas ideias aí em recomendações
PR as pessoas então a gente parou um pouco as pesquisas e começou a construir Esse instrumento porque tem a coisa da oportunidade né você fala bom qual é a outra vez que a gente vai ter essa chance de fazer isso né E aí a gente fez isso foi uma uma experiência muito interessante porque não foi só o nosso grupo né Nós tínhamos pessoas de vários lugares do Brasil trabalhando conseguimos antropólogos enfim a experiência do guia alimentar é uma coisa muito bacana em 2014 A gente lança o guia alimentar né com a resistência muito grande da
indústria né Na realidade no dia do lançamento o ministro do PT né é obrigado a adiar porque a Casa Civil a indústria a gente esse guia alimentar né E tinha havido consulta pública o processo levou 3 anos etc teve 3.000 sugestões de modificação enfim mas eles tinham poder suficiente para brecar então no dia da do lançamento do guia eh a gente ia fazer uma comemoração à noite etc foi cancelado tudo eh mas aí levou mais uma mais uns 10 dias aí o ministro criou um grupo enfim o guia acabou sendo lançado né Eh durante o
governo bolsonaro Houve várias tentativas de eh a gente achava que as chances eram muito pequenas né de mas outra vez a sociedade civil se mobilizou e e não e o guia se Manteve né a porque eles eles via Ministério da porque é isso quando não consegue ir por um ministério vai pelo outro ISO fo via Ministério da Agricultura Eles tentaram mobilizar a revisão do guia alimentar e teve grita de cientista do mundo inteiro defendendo o guia alimentar que foi saludado lá fora como uma coisa revolucionária e inspirou vários países com seus próprios dias não isso
uma notícia uma coisa interessante Então na realidade era um era um documento dentro do Ministério da Agricultura de de dois Consultores e que propunham a simplesmente a anulação do do guia alimentar né então eh só que alguém do Ministério da Agricultura vazou esse documento né então a gente teve acesso a esse documento com essas críticas e uma das críticas era esse é interessante que tem a ver com a imprensa uma das críticas era de um artigo que teria dito que o guia alimentar brasileiro era um dos piores do mundo né eh e e e e
isso tava eh eh eh vamos dizer assim eh eh eh sustentando essa crítica eh do guia alimentar só que esse e essa esse artigo que era citado ele ele fazia uma crítica porque a gente tinha resolvido não estabelecer uma quantidade de carne específica uma meta de Carne porque o guia alimentar ele é mais qualitativo ele não tem a gente acha que a alimentação não é que alimento não é remédio Então não é para tomar em miligramas em gramas né você tem faixas e Enfim então a gente não optou por fazer isso E aí Aí tinha
uma crítica de porque nesse trabalho eles faziam uma revisão sistemática e viam quantas gramas de carne cada guia recomendava e e o Brasil ele recomendava que fosse uma refeição em três ele não tinha um número assim né mas enfim aí eles eles citam isso aí a gente conseguiu falar com a folha com o estado eh passou essa notícia aí os jornalistas foram entrevistar os autores do trabalho na na Inglaterra e que disseram não o guia brasileiro é um dos melhores do mundo ele tem esse problema da quantidade Mas essa é uma questão específica que nós
não fizemos isso a ao contrário o nosso trabalho foi mal utilizado um caso de desinformação aqui um dos temas da desse festival aqui e E aí a ministra muito inteligente que que ela fez Depois disso ela falou não eu eu eu esse processo tá encerrado nós vamos rediscutir isso E aí a ministra da Agricultura decidiu ela mesmo interrompu o processo né uma pergunta muito bacana aqui da Miriam Clara os aditivos que o senhor menciona precisam ser aprovados pela Anvisa o senhor acredita na Anvisa como ficam as agências reguladoras dos demais países porque é uma questão
mesmo né o negócio é é é tão ruim como é que tá na gôndula né não é é é essa questão dos aditivos ela é crucial isso na realidade começa com o Reagan nos Estados Unos o os Estados Unidos tem o fda que é uma das melhores agências eram era uma das melhores agências regulatórias tipo uma Visa lá né e e todos os países inclusive seguiam os Estados Unidos porque eles eram tão rigorosos que aí você seguia Aquela aquele mesmo processo o que que eles conseguiram na época do Reagan foi eh desregulamentar a o fda
Então em vez das das Indústrias realmente terem que demonstrar que os aditivos eram Seguros a a a bastava a indústria dizer que ela tava bastante que ela confiava nos aditivos né que eles eram que eles eram Seguros e que ela tinha os se fosse necessário ela apresentaria os dados etc mas eles deixaram inclusive de eh eh de ser necessário apresentar as pesquisas de e inocuidade desses aditivos né e e e o que é pior é que na realidade Então em vez de como eu falei eh hoje a indústria de aditivos ela é muito mais complicada
porque antes os aditivos você tinha medo que o aditivo podia dar câncer Então você fazia um um teste toxicológico com animais para ver se ele não era cancerígeno né mas hoje o que que os aditivos fazem eles fazem você comer mais do que você precisa né então é outro tipo de avaliação que você tem que fazer em relação aos aditivos e essa não é feita Então nem é feita nos Estados Unidos agora com o biden começou a melhorar um pouco pouco né eles começaram a melhorar um pouco e agora vários a Califórnia agora tirou inclusive
eh vários corantes que estavam sendo utilizados Eles foram proibidos e a e e o o o fda começa agora com o governo do biden ele começa recuperar um pouco essa essa capacidade que ele tinha de regular a Anvisa assim ela não ela ela eh tem muito poucas condições de eh eh de dar conta da demanda que ela tem né mas tem técnicos bons na Anvisa né problema é que a Anvisa é ela a nomeação dos diretores é feita eh pelo presidente da república né então a gente teve algumas trocas de diretores na Anvisa no governo
bolsonaro muito complicadas né e e agora a gente espera que enfim essa Mas eles T mandatos né então na realidade você é uma agência que tem mas é uma agência importante e os técnicos da Anvisa são muito competentes uma outra pergunta muito boa aqui existe a justificativa de que o consumo de ultraprocessados cresceu por causa da desigualdade social já que muito desses produtos são mais baratos que o senhor concorda com essa visão Então isso é interessante essa visão nos Estados Unidos é perfeita nos Estados Unidos as pessoas Inglaterra também as pessoas mais pobres são as
que mais consomem ultraprocessados no Brasil é exatamente o oposto né Por quê Porque nós consumimos essa entrada do processado aqui é mais recente né tem uma ideias das eu falei 60% das calorias nos Estados Unidos é de ultraprocessado no Brasil é 20 é 1/3 disso né E quem consome mais ultraprocessado no Brasil são as pessoas mais ricas não são as pessoas mais pobres agora isso tá mudando muito rapidamente por quê Porque a indústria tá conseguindo reduzir a o preço de ultraprocessado pela questão da escala e hoje você começa a ter o que eles chamam de
uma linha AC d de ultraprocessado né é o o o o sorvete super Trash o o chocolate super Trash e e e que aí tem preços menores então assim por isso que é muito importante a regulação e o imposto agora Porque a indústria tá exatamente nesse momento de conseguir reduzir o preço então aquilo que ainda não é um grande problema né porque quando o ultraprocessado começa a custar muito mais barato do que o alimento de verdade realmente você você cria um problema num país com as desigualdades que a gente tem no Brasil que é que
é terrível né mas por isso que a que a taxa ação tem que chegar antes disso né Essa não é uma realidade felizmente ainda no Brasil tem muita pergunta prática aqui das pessoas querendo saber mais o que que é outra Como reconhecer mas antes de chegar lá depois a gente podia encerrar fazendo um batebola bem rápido aqui tem três tem quatro PSS com leite condensado aqui mas é é o seguinte uma uma pergunta que eu queria fazer qual foi a importância da Imprensa principalmente a Imprensa internacional nisso que o senhor chama sempre de disputa de
narrativas a indústria querendo derrubar essa hipótese científica e a imprensa não a imprensa eh e e porque tem isso também né na ciência eh a ciência eh enfim eh como outras coisas ela tá concentrada nesses países mais ricos mais influentes né então se a sua hipótese se a tua teoria ela não é considerada nos Estados Unidos na Inglaterra na Europa não não vai dar certo né então foi muito importante assim a imprensa eh internacional né o Guardian é um desses jornais incríveis que tem uma pegada assim de jornalismo mais investigativo e tal e eles fizeram
várias matérias interessantes inclusive cobrando desses pesquisadores ligados à indústria a questão dos conflitos de interesse né agora na Inglaterra por exemplo teve uma uma uma uma movimentação assim desse tipo mas para você ter uma ideia da o Washington Post Por exemplo agora tem eh ele tá fazendo uma série de matérias eh eh de de inclusive de denúncia que uma das coisas mais chocantes que eu vi é é assim é a indústria contratar ah os blogueiros os influenciadores eh e que são médicos e de nutricionistas e que produzem matérias eh eh eh Preparadas pelas indústrias agora
recentemente o aspartame Ele entrou na lista de um de uma categoria de aditivo né que que poderia ter um efeito cancerígeno eh então a indústria que utiliza muito o aspartame ficou em pânico né porque isso significa que vendas vão cair etc o que que eles fizeram eles conseguiram eh que esses influenciadores passassem a divulgar notícias criticando essa essa determinação da da OMS de considerar o aspartame com potencial cancerígeno né Eh com matérias totalmente prontas né então Essas matérias são feitas pela indústria e são plantadas ali e E essas eh pessoas não sequer eh eh referem
que aquilo é financiado que aquilo é uma matéria paga E aí o fda começou a trabalhar nisso agora e começou a mandar por quê Porque o Washington Post fez uma uma matéria sobre isso denunciando esses eh famosos influenciadores dizendo que eles estavam recebendo recursos que eles não estavam sequer informando o leitor que aquilo tava sendo financiado e o fda agora Tá exigindo que eles se retratem e que reconheçam isso e tal então e e e o e o outra coisa importante do Washington Post é que assim o guia alimentar americano que tá sendo discutido agora
para 2025 2030 ele eh tem uma das questões que foram estabelecidas a priori é se a deveria haver uma recomendação para evitar alimentos ultraprocessados e o Washington Post tá fazendo um trabalho Super Interessante com eh eh divulgando as pessoas que fazem parte do comitê etc divulgando as as as as reuniões que têm acontecido Ou seja a ema ali prestando atenção no que tá acontecendo isso faz com que os membros da comissão saibam que as pessoas estão olhando o que eles estão fazendo né muita pergunta aqui que a gente que dá para resumir como é que
eu reconheço ultraprocessado como é que a gente reconhece no supermercado então quando isso foi interessante porque a gente desenvolveu a classificação como eu falei para fazer pesquisa então aí você tem que critérios de ultrapress e que a gente utiliza quando você tá fazendo uma um trabalho de investigação e mas pras pessoas eh então por exemplo uma coisa importantíssima do ultraprocessado é que ele não tem alimento na realidade a gente não deveria nem chamar de alimento porque ele é uma formulação de substâncias que você retira do alimento né amido proteína gordura porque o alimento é mais
do que essas esses nutrientes né o alimento é uma estrutura inteligente né na verade o alimento é um pacote de compostos químicos inteligente desenvolvido na natureza é uma coisa assim é eh é uma coisa muito próxima da complexidade da vida né a nutrição é a vida né e é é você utilizar os alimentos para produzir vida eh mas isso é muito complicado para você falar para um consumidor ó veja se tem a Matriz do alimento ele não vai ter essa informação então o que que a gente tem por lei todos os alimentos comercializados no Brasil
tem que ter uma lista de ingredientes essa lista de ingredientes Ela traz do primeiro até o último em ordem de quantidade e o que que tem naquele produto né e e a orientação que o guia alimentar dá é o seguinte Olha a lista de ingredientes se na lista de ingredientes você tiver coisas que você tem na sua cozinha tá certo então cebola alho óleo açúcar sal ah carne se são essas as coisas esse não é um alimento Ultra processado pode ter açúcar pode ter sal né mas ele não vai ter eh xarope de frutose ele
não vai ter eh e gordura hidrogenada ele não vai ter isolado proteico ele não vai ter corante caramelo ele não vai ter aroma sabor de picanha né Eh que é o que você tem né num salgadinho aroma sabor de picanha é isso e ele tem é um aroma sintetizado idêntico ao aroma que dá o o aroma da da da Picanha né então então essa é a forma de reconhecer um Ultra processado se na lista de ingredientes você tiver eh ingredientes que você não tem na sua cozinha né Eh Ou até que você não pode fazer
um alimento que você não não pode fazer na sua cozinha você não consegue fazer aquilo você não consegue fazer macarrão instantâneo aliás Outro dia eu vi num num desses dessas redes sociais uma pessoa tentando fazer um macarrão instantâneo então assim ela leva umas 15 horas mais ou menos era uma um tecnólogo de alimentos e tal e aí ele fala não eu não consigo fazer não adianta não não tem jeito né e uma das grandes discussões é como como comunicar isso no rótulo né e como é que é essa essa essa discussão de novo do ponto
de vista de algum tipo de de regulação ali é então o a gente conseguiu vocês devem ter visto já né no nos mercados é só olhar a a lupa ali da Anvisa Não Era exatamente aquilo que a gente queria mas é uma coisa que já tá na linha importante então hoje no Brasil se você tiver eh uma quantidade muito grande de açúcar ou de sódio ou de gordura saturada no alimento você já tem uma divertência ali pro consumidor né E isso não quer dizer que ele é Ultra processado mas é quase certeza que ele é
ultraprocessado a maioria dos ultraprocessados tem esse excesso de gordura de sal e de Açúcar Então isso é uma coisa importante o que se discute Hoje é a ideia de que a gente tenha além desses nutrientes a gente tenha ou uma advertência dealimento é ultraprocessado ou se isso não for viável que tenha uma advertência de que esse alimento ele contém corantes ou aromatizantes eh eh artificiais né Ou seja que a cor que aquele produto tem aquele salgadinho aroma picanha Não tem picanha ele tem na realidade Um aditivo que é que tem uma composição química semelhante ao
que a a picanha um elemento lá da Picanha dá aquele então é essa essa essa é uma uma uma uma luta que a gente tá começando agora é essa de que você mantém os nutrientes ali que é importante saber mas Além disso você colocar também essa questão dos aromatizantes dos corantes e dos adoçantes artificiais Professor tem cinco perguntas de gente querendo saber como é a sua dieta pessoal o pessoal tá querendo saber se o senhor toma uma coca-c de vez em quando assim escondido da madrugada não mas veja é aí isso é uma coisa super
importante porque e nós estamos falando de Publicidade eh eh é incrível assim a capacidade do marketing hoje o marketing neuronal né que tem ele cria uma situação de que você estaria fazendo eh eh que você tem que fazer um sacrifício para não tomar coca-cola e então você cria uma necessidade não é eh você cria uma você cria um glamur inclusive nãoé então na realidade eu não sinto falta nenhuma de refrigerante quer dizer eu eu não não nunca tive essa sorte né Acho que não foi porque na verdade o o refrigerante ele é feito para viciar
né ele tem uma composição a coca-cola claramente assim você tem a cafeína é é uma coisa viciante né então na realidade eh eh eh eh e eh veja então como é que é a minha dieta por exemplo que você falou quando eu tenho que comer um chocolate em vez de comer um KitKat ou ou ou melhor em vez de comer 10 barrinhas de KitKat eu como um pedacinho de lindet entendeu que é um chocolate de verdade que é um chocolate que tem chocolate mesmo né então Mas é interessante isso porque o marketing Ele criou a
ideia de que você vai ter um prejuízo enorme na sua vida se você deixar de consumir alimento ultraprocessado mas é é uma é uma é uma criação isso é uma coisa que não não tem nada de de se você dissesse assim ó você não vai poder mais comer chocolate na sua vida aí você vai perder alguma coisa realmente né agora você não vai poder comer uma marca péssima de chocolate que que tem 60% de gordura e de de Açúcar que que você tá perdendo né então mas enfim mas e a o o o guia alimentar
Porque tem uma outra coisa que a gente não falou aqui agora né que eu falei aquela coisa do do alimento como remédio a gente nem acredita que a alimentação tenha que ser de alimentos ultraprocessados e nem a gente acredita que a alimentação tem que ser entendida como um uma coisa para você não ficar doente né a gente não come para não ficar doente você come por uma série de razões né eh e e e e talvez a principal é o prazer da da alimentação do convívio da enfim da cultura dessa coisa toda então o guia
alimentar não tem essa pegada por isso que eu falei da da restrição né você tem guias 18 g de carne por dia não não a carne não é assim né Não não pode ser assim alimentação não pode ser E então a gente tem essa coisa de de eh entender e eh se você tirar ultraprocessado da sua dieta tipo assim pode tudo né com aí proporções com bom senso etc né mas assim nós nunca defendemos essa ideia de que alimentação alimentação prescritiva né Essa coisa assim não o que que eu e isso é muito interessante nos
Estados Unidos você pergunta paraas pessoas 2 ter das pessoas estão fazendo dieta o tempo todo né não existe isso quer dizer esse termo dieta já é um horror né então Claro se você tem uma doença que você tem que tratar e tem que tirar alguns alimentos você ter intolerância a alguns alimentos aí outra coisa aí é uma é uma questão médica que você tem mas a maior parte das pessoas pode ter uma alimentação bastante diversificada e prazerosa e compatível com a saúde né então enfim e a minha alimentação é é um pouco igual de todo
mundo imagino eh Professor eh então leite condensado não é Ultra processado Pelo que eu entendi né então e você até teria que olhar as marcas né porque se você tiver ali algum aromatizante você tiver algum tipo algum tipo de corante agora se você tiver só Leite um monte de Açúcar ele não é Ultra processado ag não quer dizer que ele é bom né porque eh eh porque é é é é é essa é outra coisa né Na realidade assim é você tem dentro dos não ultraprocessados você tem alimentos diferentes tipos né e e e o
segredo é a é a composição é você combinar diferentes tipos de alimentos né para algumas sobremesas você precisa de leite condensado eventualmente para você você fazer mas agora tem que olhar a composição para ver se você não tem ali soro de leite né porque aí tem aqueles leite condensado que não são nem de verdade né Tipo leite condensado e última pergunta agora o senhor pessoalmente sofreu muita pressão então veja eu acho que assim a pressão de de porque na na universidade eu acho que assim o o que o que alguns setores da indústria né tem
essas essa a como é que chama é a Bia né é uma Associação Brasileira de indústria de alimentos o presidente é uma pessoa desqualificada né é um é um sujeito grosseiro inclusive V no Congresso outro dia falando ele enfim é uma pessoa grosseira que não Nem vale a pena eh mas aí mas fica aquela coisa assim boba de de falar e e a gente ignora né não não não o que eles fazem Sim Isso sim é financiar alguns grupos né alguns pesquisadores que são menos eh enfim eh cuidadosos ou que são menos corretos né E
E que esse sim eu acho que através as críticas quando vem vem de algum outro grupo não diretamente da própria a não ser essa pessoa que é um infeliz né esse Maravilha Professor muito obrigada obrigado r [Música]
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