เฮ [Música] Temos tecnologias que vão vivendo a vida no nosso lugar. Até que ponto essa inteligência artificial pode ser benéfica ou maléfica? o brilho da tela, a velocidade da conexão, o acesso instantâneo à informação.
É tudo isso é muito sedutor e realmente a gente entra numa espécie de trânsito. A virtualidade é aquilo sem o qual a gente não tem mais como viver, mas que ao mesmo tempo não nos deixa viver. Uma vida hiperconectada, de uma hiper exposição, de um culto à imagem a inteligência artificial, traz a evidência que o ser humano tem a dificuldade de lidar com os próprios sentimentos.
O excesso de filtro impede que eu encontro no ser humano verdadeiro como aplicativo. Será que tudo isso tão bom, tão benéfico como parece? Gozai por nós, a inteligência artificial entre nós.
Tema desta série do café filosófico. O campo da inteligência artificial tem dominado o debate nas mais variadas esferas do conhecimento. Não apenas nas ciências da computação, mas as ciências humanas e biológicas.
também tem se dedicado a entender como funciona e quais os efeitos emocionais, psíquicos e sociais que podem surgir em uma sociedade mergulhada na chamada IA. Até onde a inteligência artificial é capaz de ir e nos afetar? Parece que essa tecnologia tem avançado a ponto de mexer com emoções, vivências com a nossa subjetividade.
A tecnologia tem evoluído tanto que além de pensar e fazer coisas por nós, ela está começando a fazer coisas que a gente não sabe direito sequer. Ela começa a escolher nossos caminhos, escolher o antibiótico que o médico vai dar pra gente, né? Escolher a pessoa com quem a gente vai ficar, mais que isso, dizer para você a pessoa por quem você vai se apaixonar e com muita porcentagem de acerto.
Talvez daqui a pouco tenhamos os aplicativos de separação. Você vai ter um um programa que vai ter uma DR por você, né? Você vai se separar sem todo o sofrimento de uma DR.
Isso é claro do ponto de vista de quem quer se separar, né? Porque do ponto de vista de quem está sendo separado, a angústia não tem economia. Será que nós queremos mesmo isso?
Então, como é que essa história começa? A tecnologia pra gente sempre foi um meio de viver melhor. A gente inventou tecnologia para viver bem.
A gente foi inventando coisas para substituir os nossos músculos. Inventamos a roda, domamos os cavalos, tudo isso é tecnologia. Tecnologia não é só uma coisa.
Saber domar um cavalo é tecnologia, né? É um saber. Depois, mais para frente, a gente desenvolveu tecnologias que substituíram nossos sentidos, né?
Um óculos, um telescópio, um binóculo, né? Na medicina um estetoscópio, né? Depois inventamos o computador para fazer conta, para memorizar, raciocinar por nós, né?
O po o próximo passo disso é quase óbvio ou não? Primeiro, uma substituição física muscular, depois uma substituição eh sensorial, depois uma substituição cognitiva racional. Qual vai ser o outro?
É evidente, a vida emocional, né? Então, nós começamos a ter hoje tecnologias que apontam nesse sentido. Não são muitas ainda, não é?
Mas temos tecnologias que vão vivendo a vida no nosso lugar. Então, quando você tem uma tecnologia que começa a viver no seu lugar, daí falamos então de subjetividade artificial. Se você pensar assim que tem o reino da inteligência artificial, no extremo desse reino começa um outro reino, o da subjetividade artificial, onde seres de que não são feitos nem de carne, nem de osso, são feitos de luz e energia sobre tela, né?
começam a substituir a nossa vivência, a nossa emoção. Se tiver uma coisa que vai ficar triste e angustiado no meu lugar, eu vou querer. Pense você, um dia morre alguém que é muito querido para você.
Imagine que você tenha um brinco chipe, que basta você fazer assim e este chipe aqui vai processar no seu lugar aquela angústia e aquela tristeza. E mais, no final vai te entregar o aprendizado que uma dor entrega. Porque se for só para evitar a dor, isso não é isso.
Isso chama-se fuga, né? Mas nós estamos falando aqui de uma possibilidade de algo que vivencie, que processe e que me entregue a sabedoria que um mau momento traz na vida. Tecnologia da subjetividade artificial mesmo não vai roubar completamente a vivência, vai modular toda vez que eu tiver uma tecnologia modulando as os meus pensamentos, as minhas emoções, o meu interior, vou chamar de subjetividade artificial.
Mas aqui é importante que a gente separe o que é subjetividade artificial e de subjetividade do artificial. O que eu quero discutir hoje é a subjetividade humana modulada por alguma tecnologia e aí a gente chama de artificial, não no sentido de fake, né, no sentido de que ela é moldada por algum aparato tecnológico, tá? Então esse é o conceito.
Esse é um conceito novo, de um fenômeno que é novo. Será que ele existe mesmo? Ou isso é mera invencionice dos intelectuais, dos filósofos?
do povo de ciências humanas que ficam pensando sobre a realidade, inventando conceitos, né? Porque a gente tá numa num limite, né, entre a realidade e a ficção. Como é que vai ser imaginar uma um chipe que vai sentir tristeza no meu lugar e eu vou fazer o que enquanto ele sente tristeza?
E eu, mas que verbo eu vou usar? Ele vive por mim. Tem coisa que a gente só faz em primeira pessoa.
Nascer, morrer, sofrer. Sofrer. Acho que daqui a pouco vai.
Se essa história for verdadeira, tem coisas que a gente faz em primeira pessoa, só pode ser feito em primeira pessoa que vai mudar. As tecnologias atuais são transhumanas, são inumanas paraa nossa alma paleolítica e para nosso corpo. A nossa alma e o nosso corpo não combinam em dois jeitos com a tecnologia, que é a velocidade e a escala.
Por exemplo, sempre houve fofoca, sempre houve ódio, mas o que nós temos hoje nas redes é um volume enorme desse ódio, né? sempre não tem nada de novo se você pensar assim, se fosse dado a você o direito e a capacidade de criar uma nova emoção pro ser humano, qual emoção você ia criar? Pense um pouco.
Talvez você esteja assim: "Não, mas não se cria emoção assim do nada do ser humano. Tem coisas que são básicas. O que a tecnologia fez é assim, continuamos com medo, mas com medo, raiva, desejos, basicamente as mesmas coisas, mas numa escala enorme, né?
num tempo que é muito veloz. O tempo da tecnologia não é um tempo humano. A gente não dá conta.
Então, os dois tópicos que gente, que eu penso que nos ultrapassam, que ultrapassam e que impactam o nosso corpo e nossa alma, né, paleolítica, é a velocidade da tecnologia e a quantidade, a escala. Hoje você tem opiniões demais, né? Tudo é demais e muito rápido.
Isso definitivamente não é nosso. No próximo bloco, o Ramle Pós-Moderno é alguém que pega o celular assim e fala assim: "Ligo ou não ligo? Toca ou não toca?
Se é o ser ou não ser? O Hamlet era uma caveira, não era? [Música] A IA tem entrado em nossas vidas, sendo utilizada no dia a dia, no trânsito, no trabalho, lazer.
e por pessoas de todas as idades. Essa espécie de invasão tecnológica fez com que não tivéssemos tempo para pensar e estruturar a melhor maneira de lidar com o novo modo de viver que essa invasão vem gerando. Como estamos percebendo diversos efeitos da IA, fica evidente que precisamos também falar sobre limites.
nosso discurso sobre a tecnologia. Enquanto o pessoal de ciência se encanta e fala das grandes vantagens da IA, nós tomamos como responsabilidade, talvez tenhamos mesmo nós da humanidades, de refletir sobre a questão ética, sobre a questão eh o impacto disso na vida da gente, né? Então, a gente tem dois dois pontos nos quais nós somos mestres em declarar emergência e que precisa tomar cuidado.
O impacto da tecnologia nas crianças e no amor. Nas crianças ficamos fal isso não vai dar certo, essas crianças vão ficar burras, vão ficar isso, vão ficar aquilo, né? Será?
Vamos ver, né? E no amor é falar mal do amor pós-moderno, não é? Então, nós somos muito bons nisso.
Apontamos como as coisas vão mal. Agora, a gente precisa ir ao segundo momento. Qual é o segundo momento?
O entendimento. Estou aqui na trilogia lacaniana dos tempos. Um tempo de ver, um tempo de conhecer e um tempo de fazer.
O tempo de ver estamos indo muito bem, mas o tempo de conhecer não estamos. Porque às vezes a gente fica tão assustado com isso que a gente não se permite ver o positivo. Claramente nós na educação não estamos aproveitando nenhum terço do encanto que a inteligência artifirtual que as telas têm para na educação.
A gente não tá aproveitando para estudar a subjetividade artificial, nós temos que e é o momento dois do tempo de entender também. Nós fomos salvos na pandemia pela tecnologia e pelo virtual. Não fosse fazer live, trabalhar, eh nós teríamos tido uma epidemia de depressão e de ansiedade e não tivemos, viu?
Posso afirmar isso tanto do ponto de vista teórico como de alguém que pratica isso e que fala e trabalha com com muitos psicólogos. Não tivemos, pelo contrário, tivemos um uma valorização enorme da psicologia. Que história é essa de falar isolamento de quarentena?
Você não ficou isolado. Isolamento onde você podia falar com sua mãe, com seu filho, que você podia namorar, que você podia fazer sexo virtual. Isolamento mesmo deve ter sido o povo lá em 1914, na gripe espanhola, aqui eles estavam isolados.
Nós não ficamos. Então, talvez a gente precise ter uma atitude um pouquinho ambivalente para poder conhecer antes de ver o que vai fazer. Se uma máquina que vai sentir tristeza e angústia no meu lugar, seguramente eu vou querer amar.
Então eu não vou querer que amem no meu lugar, vou querer amar. Como é que eu vou falar de algo que experiencia por mim? Se experiência sempre sou eu, né?
O que que é a singularidade nossa? Quando a gente vive uma coisa, a gente não sabe direito o que a gente vai sentir. Às vezes a gente pensa que vai sentir uma coisa e na hora sente outra, não é isso?
Então essa singularidade nossa não é uma racionalidade, não é o que você acha de vocês, embora não exista em singularidade, é o é uma propriedade emergente de vários processos que a gente não sabe. Eu não consigo imaginar isso, mas totalmente dentro da minha proposta de ambivalência te mostrando, né? Não cons eu eu não consigo mesmo nem imaginar.
Não é que eu não queira. É difícil imaginar, eu não tenho nem qual é a qual é o verbo que eu vou usar para que algo vivencia por mim. Bom, se vivencia por mim, eu não vivencio.
Então, para estudar isso, a gente precisa de um modelo teórico. Então, o que eu vou falar aqui chama-se paradigma Dorian Grey. Dorian Grey foi um nobre que encomendou seu retrato como forma de eternizar sua beleza.
Na história, ele deseja vender sua alma de modo que o retrato se deteriorasse com o tempo e não ele mesmo. No passar dos anos, Dorian Grey não envelhece e enquanto ele se mantinha belo e jovem, a figura do retrato se tornava velha, o que seria o seu verdadeiro eu. [Música] O retrato de Dorian Grey, que envelhece no lugar dele, que se angustia no lugar dele.
Esse é o paradigma que a gente pode usar para pensar se uma tecnologia é ou não subjetividade artificial. Quanto mais uma tecnologia se parecer e ocupar esse espaço, né, na existencial, mais ela seria subjetividade artificial. Será que um celular, por exemplo, ocupa esse lugar?
Ele me defende algumas coisas. Eu posso bloquear pessoas. Notem que o Dorian Grey também se questionou sobre isso.
Ele também estranhou. ele não foi embora vivendo e, né, tipo, e for, ele próprio se questionou. Então, né, esse é para mim, esse é o paradigma que a gente pode usar.
Agora, já existe um remédio que faz uma subjetividade artificial, especialmente os antidepressivos. Os remédios mais iniciais, os antipsicóticos, não fazem uma subjetividade artificial porque eles prendem, né? Os antipsicóticos deixavam as pessoas os verdadeiros zumbis.
Mas os antidepressivos não modifica tão grosseiramente. A modulação que esta química faz é da ordem bem subjetiva mesmo. É assim, ele tira o desespero.
Não é que a pessoa não sente que ela não virou um zumbi, ela não virou um robô. Ela está modulando aquilo. Então esse é o exemplo número zero de como uma tecnologia modifica a subjetividade humana.
E olha aqui esses esse aspecto. Quem toma antidepressivo sonha diferente. Uma substância química, uma tecnologia, portanto, não é virtual, não é uma IA, né?
Mas é uma tecnologia que modifica algo tão íntimo quanto os sonhos. Os psiquiatras levam isso em conta, que estão dando o remédio que muda o conteúdo dos sonhos dos seus pacientes? E os psicanalistas, nós psicanalistas levamos em conta isso quando vamos analisar o sonho dos nossos pacientes?
Será que vale todo o arcabolso teórico e técnico que o Freud propôs de recalque, de conteúdo para analisar? O psiquiatra não se preocupa com o conteúdo. Nós psiquiatra nos preocupamos com a quantidade do sonho, com o efeito do sonho no sono, se ele produz ou não um sono eh reparador e se ele se o paciente sonha muito ou pouco, porque às vezes nós temos que trocar o remédio porque o paciente fala assim: "Não aguento isso, né?
" Mas raramente um psiquiatra pergunta: "E, mas o que exatamente você sonhou? " Agora nós psicanalistas, bom, a maioria não pergunta e não e não sabe nem essa informação de que o som, que o antidepressivo de fato modifica a quantidade e o conteúdo dos sonhos. Quantidade aumenta muito, conteúdo é um sonho esquisito.
Essa é a palavra que os pacientes usam. Não é um pesadelo, é um sonho esquisito. Esse é o exemplo zero de uma tecnologia modificando a subjetividade.
E o modelo é o do Dorian Grey. Dorian Grey era ficção. Este é a realidade.
Então essa esse estudo da subjetividade artificial procura ser um pouquinho, pelo menos nesse discurso do entendimento, o que significa uma certa ambivalência. Essa ambivalência assim nos coloca no lugar do Hamlet pós-moderno. O Hamlet pós-moderno é alguém que pega o celular assim e fala assim: "Ligo ou não ligo?
Toco ou não toco, né? Esse é o ser ou não seu. Somos o Hamlet mais moderno, né?
Com várias tecnologias. Nós olhamos pra tecnologia, não só no celular, eu tenho muitos remédios psiquiátricos. Então, em vez de botar o celular na mão, você botar o remédio, toma ou não toma, né?
Então, nós estamos olhando paraa tecnologia e eu acho que talvez, pelo menos momentaneamente, talvez seja interessante a gente assumir esse momento Humlet. No próximo bloco, será que eu sei se eu tô falando com um sujeito, um uma tecnologia ou um ser humano? Essa pergunta é obsoleta, você não sabe mais.
[Risadas] A discussão no campo da inteligência artificial coloca em pauta algo que seria fundamentalmente humano, a subjetividade, a forma como o sujeito percebe e interpreta o mundo. Subjetividade abrange sentimento, pensamento, desejos, valores e tantas perspectivas individuais. Como então pensar a subjetividade no campo tecnológico?
Afinal, é possível a Iá tornar-se propriamente um sujeito ou tornar-se sujeito em nós por nós? Toda tecnologia tem duas funções, uma função de uso e uma função de gozo. Função de uso é a utilidade que uma tecnologia tem e função de gozo é o prazer que ela dá.
Não é só a tecnologia. Função de uso e função de gozo é uma maneira de analisar as coisas baseada na teoria psicanalítica do Freud das pulsões. Aqui eu só tô dando nomes um pouco mais pragmáticos de falar de função de uso, função de gozo, que parece mais adequado pra gente analisar, né, as tecnologias.
E aí certas funções psíquicas que tenham utilidade prática começaram a ser vivenciadas pelo puro prazer. Deu no que deu. Nostalgia, uma doença do ser humano, mas uma doença que às vezes a gente, né, porque o ser humano não vive apenas, a gente vive várias vezes.
Você se recorda do que você viveu de bom ou se lamenta. Nós temos essa característica, né? Mas enfim, aqui eu quero mostrar essa ideia da função de uso e da função de gozo para a tecnologia.
Você fala assim: "Ah, o celular começou como uma função de uso, tinha uma praticidade, tinha um valor prático, né? Mas hoje em dia, quanto tempo a gente gasta no celular? Por puro prazer?
" Então, na escola talvez a gente esteja, a gente reclama que os alunos têm muita função de gozo com os os celulares, né? Ficam só lá se divertindo, jogando, jogando. A gente não está conseguindo transformar essa função de gozo em função de uso, né?
Os economistas sabem disso. Olha, tem um ramo da economia que chama economia de tentação, que é a economia das da dos produtos que não servem para nada, que é por puro gosto, por puro prazer, por puro impulso. Qual é o grande modelo da economia de tentação?
Drgas. Então, além da função de uso, da função de gozo, tem uma outra categoria que vai ajudar a gente a entender essa história. A subjetividade virou sujeito, não é?
A gente mal se acostumou com usar a tecnologia para se comunicar com o outro, né? Começamos com a carta, com telégrafo, com telefone, com celular, com vídeo. A gente a gente mal tá se acostumando, né, nesse usar a tecnologia como um meio.
Aí estamos descobrindo constrangidos e tímidos que eu estou me relacionando com a tecnologia. Não estou só me relacionando através da tecnologia com o outro. Eu começo a me relacionar com a tecnologia, eu faço perguntas, eu respondo paraa tecnologia, eu faço perguntas e escuto as orientações.
Essa ideia de que a tecnologia está virando um sujeito. O que é um sujeito, né? Talvez a tecnologia não esteja completamente virando um sujeito, mas ela ocupa um lugar de sujeito para outro sujeito.
Essa frase é uma paráfrase da do conceito lacaniano de sujeito, que sujeito é o que um significante representa para outro significante. Aí aqui estamos dizendo que a tecnologia representa para um ocupa para um sujeito um lugar de sujeito. O que que é o lugar do sujeito?
É o lugar do outro. Um outro a quem eu endereço, né, sentimentos, perguntas, demanda, mas será que este ser virtual, né, tecnologia um ser virtual, um chip, um sistema, tal, primeiro aquela questão, será que eu sei se eu tô falando com um sujeito, um uma tecnologia ou um ser humano? Essa pergunta é obsoleta, ingênua, você não sabe mais.
Essa ideia de se você é capaz de identificar se o ser virtual é ou não humano, isso é bobagem, ingenuidade. Isso chamava teste de Turing, que era lá no começo do século, quando começaram os autônomos. Essa era a questão.
O teste de Turing agora mudou, porque isso não tô dizendo, não tem mais diferença. É a questão do outro. é se você é capaz de fazer transferência com o ser virtual.
Se você começar a transferir para um ser virtual, aí sim ele virou um sujeito, né? Esse sujeito, ele não tem um corpo, ele é só luz ou é só uma informação, né? Mas será que precisa mesmo de um corpo para ser sujeito?
E às vezes parece que é novidade tudo isso que a gente tá falando, né? Mas Freud já em 1919 escreveu um texto chamado o estranho. Que que eu quero dizer com isso?
A gente quando tá diante de um ser virtual, a gente sente uma coisa meio estranha. Não, mas isso aqui é estranho. Mas ao mesmo tempo você fala assim: "Não, mas isso parece familiar, que é o estranho familiar, né?
" Então isso traz uma questão do duplo, né? Nós começamos porque esse outro virtual pode ser um outro outro, né? Pode ser.
Eu sei se eu estou eh essa pessoa com quem eu tô falando, se ela é de carneço ou se ela é virtual, mas e a ideia de que eu posso falar com outro que é a minha cópia, que é o meu o meu avatar. [Música] que essa coisa pela qual os seres humanos se apaixonam ficando muito parecido com a pessoa mesmo. Ela responde, ela interage.
Quando eu estou numa posição de defender que o que o a tecnologia virou um sujeito, aí me lembram que esse sujeito tem uma grande diferença dos sujeitos, dos outros sujeitos. Qual não é um sujeito desejante e que isso faria toda a diferença do mundo. Será?
O outro virtual tem várias características. A primeira dela, esse outro tem baixa fisicalidade, ele não tem corpo físico, ele é um ser de luz sobre tela, na verdade, de energia, percorrendo circuitos, que é o coração do serual, é o chip por enquanto, né? E a presença dele se dar em luz sobre tela, tá?
Então esse é um é um limite. Quando a gente conseguir ultrapassar este limite da baixa fisicalidade, muita coisa vai mudar. Por exemplo, se comunicar com alguém, assistir palestra, falar, você tem a imagem e o som, não é?
Você tem a comunicação, você tem a voz. O que é que você não tem? Toque e fato, né?
Quando a tecnologia for capaz de despertar a experiência tátil e olfativa, nós daremos um salto neste outro. Ele não ter corpo, como eu tava dizendo, faz muita diferença, né? Que diferença fez ter a presença física ou não?
Este outro no outro virtual é um outro imaginário, tá certo? Ah, bom. Tá vendo?
Então, essa é uma super diferença com o outro real. Será quando você se relaciona com o outro real e aí acontece alguma coisa, você vira pra pessoa e fala assim: "Eu nunca imaginei que você fosse fazer isso comigo". É você que não imaginou.
Eu sempre fui assim, você nunca me viu. O que que o Lacan ensinou pra gente? Que o encontro nunca é entre R$ 2 Não há um encontro.
Você não se encontra com o outro. você se encontra com o imaginário que você tem do outro. É ou não é?
É por isso que o amor a gente sofre tanto, porque você cria uma imagem do outro que o outro preenche durante algum tempo ou que você enxerga durante algum tempo que a a imagem fica única durante um tempo, chama paixão. O fim da paixão é quando você enxerga que tem um que você imaginou e que o outro. E quanto mais essa distância vai, mais você sofre, mais você fica bravo, mais você Se o outro é sempre um outro imaginário, que diferencia faz se é um imaginário, já que é que é virtual mesmo?
Por que que o divan funciona na psicanálise? Porque você permite ou facilita que o paciente entre no mundo do imaginário dele, inclusive em relação ao analista que ele desenvolve. Por que que o analista é tão neutro?
Não conta quem é, quantos filhos tem, quantos por quê? Porque o que nos interessa não é o o que o analisando pensa da pessoa do analista real, é o que ele pensa dessa, quem é essa pessoa que ele construiu, esse outro é sim valor de outro o ser virtual, desde que você faça transferência para ele ser um verdadeiro outro, é se a pessoa faz transferência e se ele é um sujeito desejado. Hoje, né, os sujeitos eles têm muitas possibilidades e nisso vem a angústia.
o que eu escolho, o que é melhor para mim. Então, delegar essas escolhas, né, fugir dessa angústia que o próprio desejo traz, claro, eh terceirizar esse desejo paraa subjetividade artificial, né, e deixar a tecnologia gozar lacanianamente, né, prazer e desprazer da sua própria escolha. Eh, sem esse desejo, sem esse gozo, sem a falta que nos move, como o sujeito vai sustentar uma existência apática ao desejo?
Primeiro, a Juliana traz essa frase de terceirização da subjetividade, né? Eu eu acho essa uma frase interessante. A gente tá terceirizando a subjetividade, né?
E sim, eu acho que esse é um ponto de medo, de incômodo mesmo pra gente, né? O que é que vai ser desse ser humano? quando tiver algo gozando por ele, né?
Quando surgiu a escrita, uma das angústias é que isso ia acabar com a memória humana, porque você não ia precisar mais de memória, já que tinha uma memória na pedra, registrado, né? Então, esse medo que a gente tem, que a tecnologia vai acabar com algo nosso, eu acho que ele é real. Será que a gente vai ser seres apáticos?
Eu penso que não. Baseado no quê? Ser humano fica inseguro até com a felicidade.
É ou não é? Se você tá feliz com coisa, você começa a ter medo de perder aquilo. Eu fico pensando que a falta é tão estrutural na gente que mesmo quando a gente completar vai dar um jeito de é como se fosse um um um uma tampa que não tampa completamente, tem sempre um escape.
Eu desconfio que, infelizmente nem isso vai nos livrar da angústia total. Mas talvez diminua, eu acho. E aí, o que é que vai ser?
Vamos ficar apático ou vamos inventar as nossas faltas, né? Certo. Ó que história.
Vamos começar a inventar a falta porque eu não sei conviver sem ela. Uma formulação bem lacaniana, né? Você dá nó em Pingo d'água.
E aí isso nos leva a pensar na influência da tecnologia e da inteligência artificial no amor, né? Quando a gente pesquisa essa questão do amor, uma coisa que foi ficando claro é que a tecnologia aproxima os que estão distante e afasta os que estão próximos, né? dentro daquela ideia de ter um discurso menos eh de denúncia e mais de compreensão, eu acho que esse é um campo que falta a gente entender um pouco melhor o papel da tecnologia no amor.
Nós temos má vontade porque nós nos apaixonamos por Balman quando descreveu que o amor ficou líquido, né? E nós só enxergamos quase coisa ruim no amor pós-moderno. Só tô querendo dizer como é que seria esse momento dois, sair do tempo de denúncia para um tempo de entender.
Talvez seja mesmo. Talvez o nosso amor moderno seja um fracasso, né? Se o Bal mantiver certo e tudo foi uma decadência das relações amorosas, né?
Que as nossas relações amorosas hoje são mais superficiais, mais descompromissadas, significa o seguinte. Você acha que o seu amor é mais superficial do que o da sua avó? O seu amor é mais descompromissado?
Mas só pense nisso. A sua vida amorosa é mais pobre do que da sua avó. No próximo bloco, a ideia de que a tecnologia é um é uma coisa que o homem fez e, portanto, pode desfazer é enganosa historicamente, antropologicamente.
[Música] Desde sempre lidamos com a tecnologia e das mais variadas formas, da invenção da roda ao computador, criamos tecnologias com o propósito de nos fazer viver melhor, mas por diversas vezes o mau uso delas deixa de servir ao progresso, se tornando um perigo. Para pensar sobre limites, talvez seja preciso antes pensar sobre humanidade e nossas escolhas. Será que nós temos força para controlar a tecnologia?
Como a gente pensa assim: "Ah, não, o homem fez a tecnologia, então eu posso desfazer". Você conhece na história alguma sociedade que desistiu da roda? A ideia de que a tecnologia é um é uma coisa que o homem fez e, portanto, pode desfazer é enganosa historicamente, antropologicamente.
Nós podemos ser só uma da uma das peças nessa engrenagem. nós não somos os autores. E aí tem esse grande fantasma de uma tecnologia que começa a ser autônoma, né?
Então, eh, a impressão que eu tenho é com essa ideia de será que a gente pode controlar, será que a gente quer, né? Eu acho que a tecnologia tá hoje em dia, para nós humanos, é aquele filho adolescente que começa a fazer coisa que você não queria. Será que nós vamos ter este controle de um processo histórico que pode ser transumano?
Esse processo é mais do que um desejo que a gente realizou. Se eu não controlo, o que é que vai acontecer? Talvez também não seja nenhum fim de mundo.
A gente sempre achou que o domínio da tecnologia sobre o homem viria de fora, como se fosse o planeta dos macacos, sendo dominados pelos robôs. Nós estamos descobrindoos apavorados. que ele virá de dentro.
A relação do ser humano com a tecnologia tem quatro fases. Primeira fase, a tecnologia é um instrumento. Depois a tecnologia é um meio como celular ou como computador, né?
Depois a tecnologia é um outro com quem eu me relaciono. E a e a próxima fase, a quarta é quando a tecnologia embarcada no ser humano. É porque nós teremos um chip me modificando.
A quarta fase nós vamos ser, vamos ter um, no meu íntimo, algo tecnológico que faz algo por mim e que se confunde, que se mistura, que eu já não separo mais o eu do não eu, né? Então é de uma tecnologia, de uma subjetividade que é e não é minha. A tecnologia virou um vício.
Em todo lugar que vamos, vemos pessoas de olho na tela de um celular. A pergunta da Paula é: futuramente, qual o tratamento ideal para se livrar desse vício? Todo vício é tratado com um primeiro movimento de abstinência, né?
Então, de interrupção do uso. Eu acho que a gente vai demorar ainda para tratar desse vício, porque nós temos muitos, muitos ganhos com esse vício, né? Vamos ter que diferenciar o uso de vício.
Tem gente que usa muito, tem gente que é viciado. Para ser vício tem que ter três características: qualquer vício, tá? Internet, jogo, cocaína, aposta.
amor quando a gente é viciado no outro, qualquer tem que ter uma incapacidade de de parar. Pessoa tenta parar e não consegue. Dois, a atividade passa a ser um ponto central na sua vida.
Você organiza tudo em função daquilo. E três, você precisa de doses cada vez mais altas da coisa para fazer o mesmo efeito. Eu acho, Paula, que a gente usa exageradamente a ideia do vício internet, né?
Nós temos vícios, sim, são pessoas e adolescentes com vícios dos jogos. No paraa maioria das pessoas não é um vício, é uma fuga que é diferente da ansiedade. Quando você percebe que tá fazendo muito uma coisa, comendo, fumando, falando, transando, comprando, você simplesmente pare.
Aí você vai parar de fazer aquilo e vai vir a coisa da qual você tá fugindo. Aí você descobre se você tem que continuar fugindo, você já pode enfrentar. Se a inteligência artificial pudesse ensinar o significado da vida ao passar pela dor em seu lugar, a experiência de viver perderia seu valor?
Em um futuro, onde a tecnologia pudesse nos substituir emocionalmente, o que nos diferenciaria das máquinas? Será que somos mais que os nossos sentimentos? O significado da vida, a gente pode experimentá-lo de dois jeitos, um que é dado e o outro que é vivenciado, experimentado.
Um que nos é dado de fora, né? Aprendemos o significado da vida dos pais, da religião, da é um significado fraco que a gente às vezes até quer adotar, mas muitas vezes a gente adota por um tempo, depois aquilo perde, porque foi é o significado do superego, né, do incorporado. Existe o significado, vamos dizer assim, que vem da do experienciar.
Você não sabe qual é o significado. Não é você que dá um significado. Você não escolhe o significado.
Ele brota em você. Se aí há o, vamos dizer esse chip que ficou triste por mim, né? Vai me ensinar alguma coisa do significado da vida, pode ser.
Mas a grande questão é vai ser como é que eu vivo essa experiência de ter algo que experiencia por mim, que o significado da vida é descoberto na experiência, ele não é dado, ou pelo menos o significado forte, né? E aí que não vai ter problema. Se uma e a vivencia por mim, eu vou vivenciar o que ela me disser essa relação e o significado não vai se perder, né?
O significado vai sempre brotar. Ele é mais do que um desejo. Ele vem do inconsciente, do Então, mas essa é uma resposta teórica.
Nós deixamos de escolher muitas coisas das quais desfrutamos hoje em dia, não é isso? Você tá lá na televisão, aparece, achamos que você vai gostar desse filme. Os aplicativos de encontro, achamos que você vai gostar desse homem, achamos que você vai gostar dessa menina, não é isso?
Isso é uma substituição de uma função que antes a gente fazia. O modelo antigo era na pracinha da cidade do interior. Os meninos ficavam em pé em volta da praça e as meninas com as amigas passeando e os meninos escolhendo, né?
pel as meninas e eu, né? Hoje isso não tem mais, você já vai direto ao alvo e dá certo, né? Quantos casamentos, quantos da met.
Então, a eficácia da escolha funciona. Mas a pergunta é: o que é que você perdeu ao pular o processo da escolha? Você perdeu o quê?
Ao deixar que o aplicativo escolha a pessoa? Você pulou a fase da escolha. Será que perdemos?
Eu, a minha resposta que é sim, devemos ter perdido alguma coisa, essa escolha, aquela angústia, o alívio, o encanto de falar assim: "Nossa, é essa". Será que tem? Nesse sentido do significado, eu acho que a gente vai sempre pelo processo vivencial dar algum significado.
A outra pergunta foi: num futuro, onde a tecnologia pudesse nos substituir emocionalmente, o que nos diferenciaria das máquinas? Nós nos debatemos com essa questão e até agora o nosso debate está no seguinte ponto. Não é verdade que a máquina não morre?
Ela morre porque ela pode ser desmontada, tal. A diferença, então, que ele pergunta aqui, qual é a diferença entre a gente e a máquina? É a consciência da morte, porque nós sabemos que podemos morrer.
O computador e a inteligência artificial não sabe. Não é que ela não morre, ela morre, mas ela não sabe. E como sabemos, saber certas coisas dá muita angústia.
A grande diferença é essa, a consciência da morte, diferença da da gente paraa máquina. A última pergunta, se somos mais que nossos sentimentos. Bom, eu não preciso de tecnologia para isso.
Basta ser psicanalista para responder que sim. Claro que somos. Temos uma coisa chamada inconsciente, porque sentimento supõe consciência, certo?
Aquela ideia de sentimento inconsciente é um é um problema de uma frase do Freud, aliás, num texto que está fazendo 100 anos, economia do masoquismo. O problema da economia do masoquismo tá completando 100 anos. E nesse texto o Freud fala assim: "Esse negócio de culpa inconsciente".
Como culpa inconsciente? Se é culpa, tem que ser consciente. Aí o Freud fala: "É claro que isso aí não é possível falar em sentimento inconsciente, porque psicologicamente isso está errado.
Culpa inconsciente não é bem isso que eu quis dizer. Eu quis dizer necessidade de punição, né? Então sim, nós somos muito mais que os nossos sentimentos, né?
Até que ponto podemos confiar em tecnologias de subjetividade artificial para lidar com aspectos profundamente humanos, como o luto ou o amor? Você mencionou que a tecnologia pode modular emoções, mas existem limites éticos ou psicológicos que deveríamos impor ao seu uso em áreas tão delicadas? Sim, eu acho que a gente tem que colocar limites éticos, porque se somos nós, não faz não fazemos coisas só porque podem ser feitas, ficamos tentados.
sempre, mas, né, se eu disse que nenhuma sociedade desistiu da roda, né, do arco e flecha, mas a gente eh cria conceitos como, por exemplo, crime de guerra e e crime que não é de guerra. Nós nós o ser humano é ético. Não tô dizendo que ele é de uma ética boa só, mas nós temos uma preocupação com a ter com colocar um freio ético, o um freio de qualquer natureza.
O primeiro freio que a gente pode colocar na tecnologia é a força bruta, que é puxar a tomada. Mas esse puxar a a força bruta não vai resolver a maioria dos problemas da IA, porque já já ela vai ter bateria. Ela fez uma programa, tem o filme lá, o 2001 no espaço que não deixa desligar, né?
Porque aqui trata-se de quem está no controle, né? Quero chamar para esta conversa. A gente chama sempre muito Freud aqui, mas eu queria chamar Marx para essa conversa.
Marx tinha muita esperança na tecnologia. Ele achava que a tecnologia ia tornar a nossa sociedade mais igualitária, especialmente se a tecnologia estivesse na mão das classes trabalhadoras, né, ou operárias ou de quem produz. Por um lado, a tecnologia parece que democratizou, né?
O Tom Cavalcante, ele conta a história, ele chegou aí, ele ia na televisão e mostrava a fita dele e assim e não conseguia ninguém que acreditasse nele e não sei, né? Era difícil para ele chegar no palco, né? O Winderson Nunes fez isso pela rede social, foi alguém que então parece mais democrático, não parece?
E é um pouco nesse acesso, mas depois não é mais, porque quem domina essas redes sociais que o Nunes ocupa, elas não são tão democráticas assim. Primeiro que elas têm dono. E aí que o que o Marx deve deve estar infeliz, porque a tecnologia não diminuiu.
Tem coisa que a tecnologia fez, tem coisa que ela não mexeu. Desigualdade social não mudou. Política.
Aí você pensa assim, as bigtechs, que são as donas desse das mídias, porque você acha que você faz o que você quiser no Google ou no WhatsApp, não faz. Isso tem sistemas controlando. As bigtecs são os novos latifundiários.
É a nova elite. Nova não, né? É a mesma elite que foi proprietária de terra, foi proprietária do capital, é a proprietária não mudou nada aí, né?
Entender e debater sobre IA, pensar sobre a possibilidade da subjetividade artificial inserida em nossas vidas. Compreender a necessidade de colocarmos limites e de priorizarmos o entendimento de nós mesmos. Tudo isso é essencial para analisarmos a forma como vivemos hoje, para onde estamos indo e como construir um futuro ético.
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Isto é uma covardia existencial ou é um jeito pós-moderno de existir? Eu não sei. Acho que a gente deve continuar como Hamlet, perguntando, como eu disse no tempo lacaniano, de entender, de concluir.
Não temos tempo de concluir ainda.