Queridos irmãos, eu queria hoje fazer uma introdução geral às leituras da Quaresma nos dias de semana, porque o tempo quaresmal é um tempo muito especial. Uma das coisas mais interessantes sobre a Quaresma é que ela é o único tempo em que, para cada dia, a Igreja compôs uma missa inteira com orações próprias de cada dia, com bênçãos, a uma oração sobre o povo, muito tradicional, que é feita no final da missa antes da Bênção final, que agora, na terceira Edição do Missal, foi colocada, graças a Deus. As leituras são próprias de cada dia, tendo a ver com os textos da missa que se celebra.
Nós poderíamos perguntar um pouco: qual foi o critério que levou à escolha dessas leituras para os dias de semana do tempo quaresmal? Ora, nós podemos dizer que a Quaresma se divide em dois tempos ou em duas partes. No que diz respeito ao que nós estamos falando, até a quarta semana, digamos, o tema das leituras gira em torno da nossa reforma moral e espiritual, ou seja, tem um caráter mais ascético.
As leituras nos chamam à conversão, nos chamam a fazer a escolha certa e a recorrer aos meios certos para chegarmos ao fim a que nos propomos. A primeira semana da Quaresma, que será a semana que vem, se concentra sobre os meios. Então, nós ouviremos sobre a esmola, ouviremos sobre a oração, ouviremos sobre o jejum.
Novamente, na segunda semana, os textos nos exortam à luta contra o pecado e aqui buscamos a santidade. Os textos dos Profetas vão na linha da denúncia ao pecado. O Senhor nos falará no evangelho sobre a importância de largarmos a má conduta.
Na terceira semana, é como se aprofundássemos na necessidade de reforma interior, ou seja, a conversão não pode ser apenas externa; ela tem que regenerar por dentro. Então, na quarta semana, os nossos olhos já se voltam para Cristo de maneira total. Nós meditamos sobre como o mistério da nova aliança, o seu sacrifício, a sua entrega.
Nós começamos a ler os textos de São João durante a quarta semana. Na quinta semana, que é a primeira semana do tempo da paixão, que é quando nós cobrimos as imagens, então ali nós já nos voltamos para Cristo, que se encaminha para a paixão. E aí nós chegamos na Semana Santa, em que vamos considerando o mistério da traição do Senhor, da negação do Senhor, da entrega do Senhor aos seus inimigos, até chegarmos à Instituição da Eucaristia, ao sacrifício da Cruz, à Sepultura e à ressurreição do Senhor.
Portanto, as leituras do tempo da Quaresma, nessa primeira fase, vão nos fazer olhar muito para dentro de nós, para vermos o que há ali, o que precisa ser mudado, onde se deve dar a nossa real conversão. E, portanto, nós teremos hoje, logo depois da Quarta-feira de Cinzas, duas leituras: uma do Deuteronômio, em que Moisés propõe ao povo a vida ou a morte, a bênção ou a maldição, os dois caminhos, e exorta o povo, dizendo: "Escolhe, pois, a vida, para que vivas. " [Música] Escolhe, faz uma escolha, porque nós não podemos ficar neutros.
Nós precisamos tomar posição. É claro que somos pecadores; pecamos, ofendemos a Deus, mas como é diferente alguém que peca, se arrepende, se confessa e volta a lutar! Vejam a nossa opção, como dizem os moralistas: a opção fundamental, aquela mais profunda, aquela que é o fundamento de todas, tem que ser a opção correta.
E é por isso que Jesus, no evangelho, diz: "Se alguém me quer seguir, negue-se a si mesmo. " Se alguém me quer, Ele não impõe; Ele não se coloca de um modo inevitável, inexorável; Ele solicita o consentimento da nossa vontade. Ora, há uma diferença muito grande entre quem escolheu a Cristo e quem ainda se mantém numa posição distante, talvez não muito distante, mas é aquela posição em que a pessoa anda 100 metros, depois volta para trás.
Um domingo falta na missa, aí depois volta, fica um tempo sem se confessar, depois vem e se confessa. Ou seja, não há uma ruptura real com o caminho da maldade, o caminho do pecado. Nós temos que pedir a Deus a graça de termos uma ruptura real.
Quantos de nós podemos ter pecados de, entre aspas, estimação, que nós não largamos, nós cultivamos aqui e ali, que nos custa deixar de lado? É aquela pessoa que nós precisamos bloquear na nossa lista de contatos porque só nos leva para a perdição, aquele canal que nós precisamos tirar da nossa televisão, que não nos leva para Deus. São aquelas leituras perigosas, aquelas amizades inconvenientes, aquelas circunstâncias que nos retiram de Nosso Senhor.
Quantos, por exemplo, querem um caminho misturado: eu sou de Cristo, mas eu também sou de outros deuses, de outros cultos e misturo o Evangelho com um monte de crendices. Eu preciso escolher; Deus não escolhe por mim. Há um mistério aqui: a graça nos induz, nos constrange, nos convida, nos acedia, suscita um certo afeto no nosso coração, mas a decisão da vontade é inteiramente nossa, porque Deus não nos tira a nossa liberdade.
No Salmo, nós lemos: "Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos" e, depois: "Feliz de quem anda no caminho do Senhor; ele é semelhante a uma árvore que, na beira da torrente, está plantada. " Mas outra é a sorte dos perversos; eles são como a palha seca, espalha, dispersada. Mas o salmista conclui, dizendo: "Deus vigia o caminho dos eleitos.
" Deus vigia o caminho dos eleitos. Quem é eleito? Os escolhidos de Deus são aqueles que, ao mesmo tempo, escolheram a Deus.
Esses são acompanhados pelos olhos amorosos do Senhor e nunca serão abandonados ao seu próprio erro. Deus falará em sua consciência, os moverá ao arrependimento, a uma conversão verdadeira. Que o Senhor nos permita nunca trocarmos a nossa opção por Jesus Cristo.
Que essa escolha. . .
Seja renovada cada dia, que nós nunca voltemos atrás. E então, queridos irmãos, nós entenderemos que quem escolheu o Senhor não perdeu nada negando-se a si mesmo. Aquele que de fato aceitou Cristo tem em seu coração a melhor versão de si mesmo.
Que o Senhor nos faça entender esse mistério e que nos leve a uma entrega radical, a uma entrega que não conhece regate, negociações. Há uma entrega que chega até a morte.