Necropolítica: entenda o que é a política da morte

se você já ouviu falar sobre política da morte aqui no programa vira e mexe o termo necropolítica surge na nossa conversa não entender do que se trata estamos com fábio luiz ferreira nóbrega franco psicanalista doutor em filosofia membro do laboratório de teoria social filosofia e psicanálise da usp e do fórum do campo lacaniano de são paulo seja muito bem-vindo fábio obrigado muito obrigado pela presença vamos começar explicando então o que que é esse termo né pro política da onde ele surge o que que ele quer dizer não temos negro política ele foi cunhado por um

filósofo camarão mesmo cientista social camaronês chamado achei bem b que recentemente foi publicado no brasil pela editora e nem menos um mês que vem sendo lido há muito tempo em outras línguas é outros termos parecidos com necropolítica já existiam com o tanto política etc mas o bebê foi responsável por ter pensado e elaborado é é conceitualmente a relação entre o poder ea morte e de forma mais aprofundada do que outros autores vinham fazendo a grande novidade trazida pelo bebê foi ter colocado no centro da reflexão política uma discussão sobre os modos e as formas pelas

quais o poder político de diferentes maneiras se apropria da morte como um objeto de gestão isto é o poder ele não só se apropria da vida das formas de vida um poder não apenas nos limita estabelece normas sobre como nós devemos viver agir e nos conduzir mas é isso que a ponta bem b o poder também decidi e toma medidas a respeito de como devemos morrer e de quem deve morrer e o que deve acontecer com essa morte com esse corpo sim porque aqui no brasil hoje é a gente fala tanto sobre negro política acho

que é uma pergunta super a afinal de contas o termo cunhado por bem b escapou da mão do bebê escapou da pena do autor e ganhou vida própria se tornando um conceito político essencial para movimentos sociais para pesquisadores para intérpretes da nossa contemporaneidade primeiro lugar creio que o brasil nós temos que colocar formas de gestão micropolítica com outras formas de gestão da vida isto é não se trata de pensar que a micropolítica é a única maneira do poder gerir as mortes de gerir os mortos a negro política no brasil ela entra devemos assim num dispositivo

mais complexo em que ela se encontra por exemplo com o racismo com discurso do inimigo interno com o neoliberalismo e com outras tantas racionalidades que compõem a lógica do poder no brasil e pensando especificamente na necropolítica no brasil bom nosso sabemos as forças de segurança no brasil são responsáveis pela gestão violenta em mortífera das populações nas periferias do nosso país podemos ver o caso de são paulo podemos ir o caso do rio de janeiro e tanto os outros né essa maneira de você administrar uma população gerindo também as formas de morrer definindo quem vai ser

morto e como vai ser morto isso é propriamente segundo bebê negro político tudo isso que você acertou é muito presente no brasil nesse momento realmente falam sobre o racismo sobre a questão da política neoliberal e tudo fica muito claro quando a gente pega o rio de janeiro como exemplo porque tem essa guerra às drogas declarada pelo governador vai ter um o que ele exerce é de facto uma a né pro política lá no rio de janeiro eu acho que sem dúvida alguma é possível ler as políticas do governador vídeo seu no estado do rio de

janeiro como tendo um caráter marcadamente no micropolítico é pegando a obra do bebê nós poderíamos pensar que ir as coisas caracterizam a micropolítica em primeiro lugar não apenas fazer morrer não apenas produzir a morte mas mais do que isso gerir condições mortiferas o que isso significa significa que trata-se de fazer com que determinadas regiões estejam submetidas permanentemente a um controle das condições necessárias para a sobrevivência em níveis mínimos a um controle dos processos de circulação marcados pelo risco permanente da morte por isso também a micropolítica quando você pensa por exemplo então na gestão da segurança

pública em certas regiões periféricas do brasil como é responsável por exercer permanentemente naquela população o medo de ser morto a qualquer momento fazendo com que o estado de exceção se transforma em norma nessas regiões para citar um outro ao torno de óleo de argan bem bom isso é de certa maneira a questão de política dessas populações em segundo lugar outra coisa que eu acho absolutamente importante para pensarmos a negro política é se tirarmos olhar apenas do estado para pensarmos como que essa gestão da morte ela se faz por meio de uma série de outros atores

que passam então a também se responsabilizar pela produção da morte em larga escala junto ou não com estado é o caso do narcotráfico por exemplo é o caso das milícias por exemplo que são a entidades que são agentes ambíguos do estado e ao mesmo tempo fora do estado mas também responsáveis pela administração dessas condições mortífera em diversas regiões do brasil marcadamente no rio de janeiro quando a gente fala de né que a política é muito relacionada à questão da segurança pública se ignora todas as outras políticas públicas que precisam ser desenvolvidas na região eu poderia

pensar que a micropolítica ela é um conceito-chave para pensarmos uma das áreas para além da segurança pública é possível dizermos por exemplo que temos uma saúde que opera necropolítica mente na medida em que de novo produz condições mortífera em determinados equipamentos de saúde em determinados serviços como o traço fundamental de administração de certas populações porque daí o que me leva a pensar é que você vai lotar o serviço público de saúde mas ao mesmo tempo você não vai investir porque você quer que aquelas pessoas que vão para o sistema morra um de fato exato exatamente

morrão ou vivam em condições tão mínimas tão limítrofes que a relação ou a distinção entre vida e morte passa a ser muito muito pequena além disso e um outro setor super interessante para pensarmos a de política para além daquilo que disse o bebê é por exemplo a gestão cimiteri ao a gestão dos cemitérios é importante lembrar que em são paulo eu vi discutindo recentemente a privatização dos cemitérios de são paulo isso parece uma pauta lá terá uma pauta sem muita importância mas a gestão cemiterial ela é uma das etapas fundamentais do processo de administração dos

corpos todos os corpos vão passar pelo cemitério sem e a depender da gestão secretarial ta dependendo da maneira como se olha a administração dos corpos você pode por exemplo produzir maior número de cadáveres não identificados ou não reclamados por exemplo e obviamente isso faz parte de uma política ou de uma necropolítica que se dá quase que de forma invisível a gente olha muito para a segurança pública fui ali a micropolíticas aparece explicitamente nas intervenções na policiais são as intervenções das milícias etc mas a e todo esse campo de gestão da morte que é muito menos

visível e muito mais silencioso por causa do cemitério como mencionei em caso de administração 12ml se o caso da administração dos necrotérios universitários todas essas situações são formas de gerir mortos e gerir populações de corpos que curioso agora quando a gente fala em política de certa forma gente tá falando nem discussões da construção de algo como eu falei micropolítica só destruição qual o objetivo disso tudo pois é um pensador francês bastante conhecido chamado michel fuco e ele insiste aqui o poder não pode ser pensado apenas negativamente isto é como um poder de destruição de silenciamento

de limitação uma vez que o poder ele também pode ser pensado e deve ser pensado produtivamente o poder ele produz efeitos o pô e ele cria coisa então a pergunta é bom o que cria o que produz a necropolítica o que cria o que produz o micropoder eu tenho utilizado o termo micro governamentalidade o termo técnico justamente para sublinhar para enfatizar essa dimensão positiva o produtiva da né pro política em que aspecto eu diria em dois aspectos em primeiro lugar a produção de cadáveres não identificados e não reclamados chamado os cadáveres desconhecidos que são ainda

devemos produzidos em larga escala isso os cadáveres desconhecidos não aparecem eles não existem todos nós temos identidade todos nós temos nomes então que existam cadáveres não identificados que isso é uma produção do poder poder produz certos corpos sem nome o poder produz e os cuja identidade é não ter identidade essa é uma produção uma segunda produção é o que eu tenho discutido como uma um efeito de melancolia ização geral da população isto é certos setores em cujos mortos não podem ser choradas certos setores cujos mortos desaparecem certos setores sociais cujas mortes não tomam nenhuma proporção

na sociedade bom essas esses grupos em alguns casos ou algumas dessas pessoas podem se identificar com uma posição melancólica isto é com uma posição de quem já não tem mais nada fazer contra esse poder uma posição de quem perdeu algo que não sabe o que perdeu que não pode simbolizar o que perdeu que não pode dizer nada sobre o que perdeu e que resta a elas se identificar com essa perda e portanto se converter a forma de subjetividade passiva e silenciosa qualquer tipo de reação também exatamente como uma política dessa receita porque só tem coisa

ruim pois é eu acho que essa política ela tem essa face mas ela tem muitas outras né como eu disse nenhum o governo ele tem uma única face meu tem leite que ele tem uma face linda cor política está vinculada à ela outras faces desse poder outras funcionalidades e outros discursos e eu insisto no brasil o discurso do inimigo interno é é muito presente e é muito potente como nós vemos nas últimas eleições presidenciais e o que diz o discurso do inimigo interno this costume interno comum alguns autores insistem é um discurso que tá organizado

e se orienta a partir de uma lógica que nós podemos chamar e tudo lógica imunológica o quê quer dizer tal como na imunologia em que uma entidade externa infectada e contamina um corpo e portanto para que eu possa manter a saúde desse corpo eu preciso eliminar as entidades externa que me infecto eu preciso portanto destruí-la a micropolítica no brasil aparece por exemplo com como durante o período da ditadura e mesmo na atualidade muito vinculada essa lógica imunológica né ou seja é preciso matar é preciso fazer com que algumas pessoas alguns grupos desapareçam para que eu

possa garantir a saúde do brasil para que eu possa garantir a saúde da nossa população então digamos em última instância o que sustentam a negro política é no fundo a sua articulação com o discurso da saúde nacional plus puxa e me parece bastante eficiente é seu problema a gente recebeu uma pergunta e aqui rapidinho das pessoas que estão acompanhando a gente pela internet você tá vendo pelo facebook youtube se quiser comentar alguma coisa mandar um comentário uma pergunta aqui para gente aqui mas letícia duram disse a senhora eu trabalho no cemitério municipal do boqueirão em

curitiba pertencente ao serviço funerário municipal curitiba tem muitos defeitos mas nossos sistema de serviço funerário exemplar guilherme santos fala assim qual a relação entre o neoliberalismo ea né pro política eu acho essas duas intervenções são super importantes em são paulo um rápido comentário acho que vale a pena em razão do que disse a telespectadora de curitiba e que em são paulo ou serviço funerário ele era municipalizado e aliás pouca gente se dedica a entender o serviço funerário mas é em larga medida o trabalho realizado pelo serviço funerário municipal era um trabalho de inclusive com e

esses corpos que chegavam como não identificados não reclamados na gestão anterior nós gestão municipal anterior foi criado inclusive por iniciativa de alguns grupos inclusive do serviço funerário uma página na internet com descrições de todos os corpos que davam entradas no cemitério municipais não identificados e não reclamados o que possibilitou que muitas famílias inclusive de fora do município pudessem reconhecer naquela descrição algum traço do seu familiar desaparecido entrar em contato com serviço funerário e finalmente localizado então importância de um serviço funerário municipalizado pensado como política pública é justamente permite que é certas formas de gestão micropolítica

dos corpos possam e posso encontrar resistência e limitações sobre a questão do neoliberalismo questão fundamental porque o neoliberalismo ele pa e a oposto da micropolítica falam de contas o discurso neoliberal se caracteriza dentre outras coisas por uma espécie de supervalorização da potência da performance da criatividade eh injunções como seja você mesmo em vista em você aumente o seu capital etc e é bom de que forma é possível pensar micropolítica e neoliberalismo e a bom acho que a a chave para pensar é a relação entre essas duas racionalidades encontra-se justamente no fato de que no atual

estágio do capitalismo e isso vem sendo discutido por vários autores se produz cada vez mais uma extensa massa de da população que não vai ser absorvida pelo mercado de trabalho seja a gente tem a produção de uma massa da população que pode ser considerada improdutiva sem por várias razões por n motivos uma massa improdutivo uma massa que não faz sem incorporar bom trabalho e bom o que fazer com essa massa como gerir essa população a antigamente se poderia pensar essa população eleger ida de tal forma que a médio prazo ela seja novamente reincorporada no mercado

de trabalho talvez esse fosse o mote por exemplo das políticas chamadas desenvolvimentista crio condições crio certas estruturas que vão permitir a médio prazo que esse grupo que esse setor da mão de obra que não tá sendo aproveitada no momento possa ser reaproveitada bem e parece que essa lógica se altera completamente na medida em que o que se faz hoje com esse setor da população e justamente gerir condições nas quais a sobrevida vai ser mantida e em alguns casos a morte vai ser produzida essas pessoas que você é se refere são esses desalentados que são essas

pessoas que estão desempregados já um tempo e que não estão procurando emprego que sabem da situação que o país passa exatamente o ou os as pessoas que estão em situação de rua em todos aqueles grupos que são considerados perniciosos perigosos improdutivos e trato olha só você que curte a tvt quer contribuir com a gente para que a nossa programação chegue cada vez mais longe se inscreva no nosso canal do youtube barra rede tvt e torne-se membro ou então faça a sua contribuição em nosso catar se é só acessar catarse.me barra tvt a gente agradece