Massacre do Carandiru - Entrevista com Dr. Dráuzio Varella

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Moduspod
~~~ MODUS OPERANDI é um podcast sobre true crime feito por Carol Moreira e Mabê Bonafé. Aqui no Yout...
Video Transcript:
Olha eu sou a Carol Essa é a ma b e a gente tem o modo os Operandi que é o nosso podcast de crimes reais que é o maior podcast de crimes reais do Brasil Então nós estamos assim muito felizes de ter o senhor aqui com a gente hoje estamos assim vocês e segundo não me chama de Senhor e terceiro Episódio [Música] obrigada de verdade por ter aceitado esse papo com a gente é um sonho que a gente tinha de conversar com você então a gente faz muito tempo né Carol que a gente comentava sobre
isso então vai ser muito especial para gente e para os operandos também acho que a galera vai ficar muito feliz então vamos lá a gente queria muito saber o que que o senhor é não vou conseguir o que que você mais gostou da experiência de trabalhar no Carandiru Olha é difícil dar uma resposta desse tipo né porque são tantos anos que eu frequento cadeias como médico voluntário só no Carandiru foram 13 anos mas eu depois continuei para penitenciária do estado aí fui para um CDP ou CDP Vila Nova Independência aqui novamente São Bernardo aí depois
voltei para penitenciária quando elas transformou em feminina e foi em 2006 em 2006 até agora eu tô na previdenciária feminina agora eu tô indo para um novo CDP e vou ficar entre a penitenciária feminina e muito provavelmente entre no CDP de do Belém Então é isso marcou minha vida de um jeito tão tão forte que fica muito difícil você dizer o que aconteceu com você nesse período todo porque são 30 eu não seria a pessoa que eu sou Hoje seria podia ser muito melhor eventualmente Mas não seria quem eu sou mas foi essa experiência mudou
minha forma de ver a vida de entender o Brasil de compreender a sociedade que eu vivo e especialmente de penetrar de um jeito um pouco mais profundo nas paixões humanas né amor ódio Esperança generosidade para si mesmo a si mesmo né nas paixões humanas que tem repertório limitado mas que na cadeia se acentuam e são e aparecem assim de uma forma muito mais exuberante ainda falando sobre as boas experiências que você teve lá você teve uma iniciativa que acabou se transformando na HQ ou vira-lata que era distribuída gratuitamente no Carandiru você pode contar um pouco
sobre essa ideia olha lá tá falando das boas coisas que eu consegui fazer na cadeia pelo seguinte eu peguei a epidemia de AIDS na cadeia peguei epidemia no pior momento de todos e você tinha AIDS naquela época a própria imprensa tratava como peste gay o que foi péssimo porque se você diz que tem uma peste gay você as mulheres não sentiam em risco os homens heterossexuais também não os usuários de drogas injetável achava que o problema Não era com eles e a doença se disseminando como agora você cansou de ver você vai eu não sou
do grupo de risco para o coronavírus E aí os jovens saindo aglomerando em bar e ficando doente então essa coisa de grupo de risco eu acho que na próxima epidemia que nós tivemos tem que ser proibido falar nesse termo aí porque se existe um grupo de risco que não pertence a ele está seguro numa epidemia ninguém tá seguro numa epidemia e então eu todo trabalho que eu comecei fazendo lá foi esse foi de prevenção não tinha ideia de ficar atendendo doentes na cadeia isso veio depois meses depois mas a ideia era prevenção então nós começamos
fazendo um estudo de prevalência lá que nós colhemos o sangue de 1492 presos e testamos para HIV eram 17,3% positivos porque em 1492 porque eram todos os que receberam visita a gente mas eu queria mostrar que não tinha cabimento um estado jogar lá dentro mais de mil mulheres todo fim de semana sem dar elas nenhuma orientação e nem acesso às preservativos essas mulheres se infectavam na cadeia com muitas infectaram E essas crianças depois não pai nem mãe porque perdeu os dois lá eles era uma doença uniformemente Imortal nessa época então para essa campanha educativa como
é que a gente tinha que fazer eu fui um Congresso Internacional e tinha lá pilhas e pilhas de cartazes bonitos bem feitos sabe papel brilhante tal patrocinados pela Organização Mundial da Saúde E eu então peguei uma dessas pilhas enorme nem um trabalho desgraçado para trazer para o Brasil mas trouxe distribuí na cadeia e era bonito sabe que os desenhos como é que pega como é que não pega muitas coisas explicadinhas tinha muito texto eu achei que já achei que não ia dar muito certo mas no caso eu tinha trazido distribuir aí passado alguns dias eu
fui pegar o pessoal da Faxina de vários pavilhões falei escuta quanto aparece muito desse desse folhetos aparecem muito esse aparecem muito no lixo eles pegam dá uma olhadinha assim no lixo falei Não é esse o jeito que isso aí é feito porque gente que tá lá sentado em Genebra atrás de uma escrivaninha e eles fazem um cartaz eles acham que usam publicitários para fazer cartazes que não tem noção do que é uma cadeia aí eu por outro lado tinha um lugar na Detenção que era chamado Amarelo o amarelo para o amarelo iam aqueles Marcados para
Morrer aqueles que tinham b11 internos lá eram eram condenados à morte e eles ficavam trancados o dia inteiro não quer a cadeia obrigar essa direção nada eles iam porque era o único lugar que eles podiam ficar sem correr risco de morte eu via que ficava assim sabe era Marcela acho que tinha três por quatro e ficavam sete oito nove presos ali o dia inteiro trancado sem sair sem nada não podiam sair meses consecutivos até conseguir transferência para outra cadeia que podia demorar muito e eu vi aqui às vezes via pelo bichozinho porque não era de
grade não era uma porta de ferro e tinha aquele guichê eu via pelo guichê que às vezes eu não via ninguém ler nada mas vi alguns lendo Gibi falei olha o gibi eles nem então pode ser que o gibi seja a seja a forma correta de fazer essa seja a melhor forma de fazer essa essas campanhas educativas já tinha um amigo que era o Paulo Garfunkel que tinha feito um Gibi aliás eu conheci depois que ele fez chamava vou virar lá tem vira-lata era um herói que filho ele não sabia quem era o pai dele
porque a mãe dele tinha transado com um japonês um português um espanhol é um Paraguai não né um negro e um índio Então ele era uma mistura mais ou menos a mistura que deu origem a sociedade brasileira e a força dele era Justamente a miscigenação o fato de ser um vira-lata aí que tava super poderes dele e ele andava pela cidade sabe embaixo dos viadutos ele andava no meio da ralé mesmo mas da marginalidade e eu achei que essa linguagem especialmente esse personagem poderia poderia transmitir essas mensagens falando de igual para igual com os presos
aí chamei Magrão encontrei com ele conversamos e quem tinha feito a ilustração era o líder uma lavoura que até hoje ilustra os meus artigos da minha coluna na folha todas as ilustrações desde o começo mais de 20 anos foi ele que ele que tem feito E aí nós conversamos e falei olha se pegar um herói esse herói e caracteriza-lo como ex-presidiário já liga ele direto com a população da cadeia e ele vai a volta à cadeia E aí fica sabendo de problemas que os presos estão vivendo na rua e sai para a rua para resolver
essas esses problemas que na verdade viram aventuras e ele mas é muito importante que ele tenha duas características desculpa além dessa lealdade aos companheiros e esse companheiros ele tem que ser o gibi tem que ser um Gibi de cenas de sexo forte mesmo explícito como era os do de um autor que da minha juventude fazer um sucesso com a meninada que era o Carlos é filho vocês devem falar o teu ouvido falar porque depois ele virou Cult mais tarde e aí e a segunda característica dele ele era sujo com droga na veia ele não fazia
nenhuma proselitismo contra as drogas mas na veia não sabe na veia ele era sujo porque esses caras pegam AIDS vão infectar as nossas irmãs as nossas mães os nossos parentes na Vila onde a gente mora e aí fizemos um primeiro GB e eu escrevi um texto também nesse primeiro Gibi curtinho no final e foi um sucesso Gibi você ia distribuindo porque tinha que distribuir de noite na cadeia aquele dia Cada um passa um pega 10 outro fica sem então a gente esperava fechar juntarmos um grupo de amigos e alguns funcionários E íamos para um carrinho
levando aquele mundo de gibis Quantos são aí 8 e aí 3 e aí 18 tinha as células assim e você distribui Às vezes a gente se confundiu um pouco fala será que a distribuir aqui ou não era só voltar que você vê onde estava tinha chegado do GB eles estavam lendo então ele foi um sucesso de comunicação sabe um sucesso nós chegamos a fazer 10 exemplares do Gibi 10 números do Gibi que hoje estão publicados aí com um livro Só eu acho que é uma forma de comunicação muito interessante especialmente para essa de populações marginalizadas
e Vocês pegaram da depois do Gibi como ficou a epidemia olha o que a gente foram duas estratégias uma foi o gibi e a outra foi umas palestras que eu comecei a fazer as palestras eram feitas num cinemão que tinha na casa de atenção destruído numa rebelião então era um cimentado assim era grande tinha um Palco eu consegui que na UNIP na Universidade Paulista tem que me emprestasse um projetor de filme Um telão um equipamento de som e a gente organizava palestras agora não é fácil cadeia nada é fácil não é fácil porque porque você
não pode fazer uma coisa dessa e deixar aberta para quem quiser ir porque um dia lota no outro dia não vai ninguém segundo como é que você tem segurança que aquele Pavilhão foi a palestra depois tem outro detalhe importante os presos quando se morreram de um Pavilhão para o outro e um Pavilhão dele tava no outro ele podia morrer porque podia encontrar o inimigo então é muito delicado e se morresse um acabava o projeto porque a direção da cadeia não ia aceitar uma coisa dessa Então olha como é complicado primeira coisa a logística eu tinha
um funcionário lá que foi começou a ser meu auxiliar nesse projeto e continua Até agora ele infelizmente faleceu de covid no final não no começo deste ano e Valdemar Gonçalves era o nome dele o cara tinha uma barba branca ele parece no documentário né parece a sua vida na cadeia a vida a vida dele era cadeia e ele me ajudou muito porque ele sabia tudo de cadeia tinha uma popularidade grande entre os presos porque ele chefiava o departamento de esportes E ele disse olha vamos fazer o seguinte nós vamos primeiro de tudo conversar com as
lideranças e na Detenção a liderança era o pessoal da Faxina porque a faxina era o grupo mais forte mais numeroso que cuidar de tudo toda limpeza da cadeia toda a distribuição lavava os corais os corredores as escadas tudo e o chefe da Faxina daquele Pavilhão mandava no pavilhão ele era autoridade Supremo eu fui conversando com um por um explicando o projeto como era tal e que não podia acontecer nenhum acidente esse houvesse algum acidente acabava o projeto e todos me garantiram produtor pode ficar tranquilo que não vai acontecer nada aí você podia tirar os presos
de um Pavilhão e levar para o outro mas veja o seguinte se a cadeia tivesse aberta e você pegasse 300 presos que havia 300 400 Lá fácil uma vez não temos mil ele se você pega 300 presos 400 e é isso que estão soltos também não vão entrar no meio então para aí como é que você sabe enfim assistiu uma vez se não assistiu Então ela tem que fazer assim tem que ser com a cadeia fechada de manhã Cadê abre às 8 horas da manhã às 8 horas da manhã a gente pega o setor lá
vamos pegar estas selas aqui do Pavilhão 8 estas aulas 300 400 pesos sei lá deixa tudo fechado a cadeia inteira fechada esses 300 ou 400 se deslocam para o Pavilhão 6 que ano ficava localizado o sistema o cinema então indo para lá depois abrir a cadeia para os outros Agora pensa o seguinte você tirava vagabunda da cama é a coisa mais difícil que existe como é que você vai chegar às 7 horas da manhã vai ter uma palestra de AIDS falei para você mas não vai funcionar isso como é que o cara vai acordar falou
hoje eu tenho que assistir uma palestra de AIDS e vai lá de bom grado tá preso não faz média com ninguém né que tá preso nós temos uma saída a gente faz o seguinte vai estar com todo o equipamento lá a gente faz a palestra já chega e era assim eles vêm e começar a passar uns vídeos de cantores populares E aí depois eu começava a palestra falava um pouco sobre Aids explicava passava um vídeo de AIDS que nós temos feito E aí depois eles faziam perguntas eu descia no meio dele sentados lá e eu
fazia as perguntas só o fato de estar no meio deles um médico no meio deles andando no meio dele já quebrava esse distanciamento e terminar da palestra terminadas as perguntas eu ia para o palco dava mensagem final e saía para ele terminou a mensagem sai e vai embora da sala E aí eu passo um filme de sacanagem para isso Falei pô Valdemar esse cara vão chegar na hora do filme não não é um pacote o cara entra no começo e aí ele pode assistir ao filme se ele eu fecho a porta se alguém tiver uma
necessidade que precisa sair eu vou lá abre e tranco de novo e aí eles podem assistir ao filme foi um sucesso Olha nós passamos umas 10 vezes a população inteira da casa de detenção em vários anos dessas palestras não que demais né encontrar uma forma dentro do que vocês precisavam passar mas falando da linguagem deles é muito muito criativo muito genial assim que um detalhe o médico que sair da sala O médico não pode perder o resto tem um respeito pelo médico que eu respeito o grande sabe não um cara ali falando não respeito o
seu médico fica numa hora dessas acabou a respeito dele né teve algumas amizades que o senhor fez lá no Carandiru seja de detento seja da dos carcerários da galera que trabalhava olha por incrível que pareça o Carandiru eu digo que foi lá que eu aprendi a tomar pinga não bebia cachaça tomava cerveja vinho essas coisas e lá no Carandiru quando terminava eu saía tarde demais Sabe que chegava lá pela 1 hora por aí e saía às 7 horas 7:30 chega a sair 9 tanto da noite de lá e na saída a gente pegava os carcereiros
que também tavam de saída e formamos um grupo ali que foi se formando espontaneamente e a gente ia para um bar de perto tomar cerveja aí tomar uma cerveja que tem uma coisa engraçada com carcereiros né que foi polícia a razão pela qual livro todo mundo que trabalha em Cadeia assim funcionários de fazer comigo também mesma coisa você não conta as histórias que você viveu na cadeia Nacional em casa para sua família não conta nem eu não contava nunca contei chegar em casa fala para minha mulher pô Hoje Mataram um cara não tem obrigação de
viver uma coisa dessa ela não optou eu que optei por esse tipo de trabalho por outro lado quando você tá num ambiente social uma festinha um amigo e tal se você começa a contar as histórias que você ouviu você vira o centro das atrações ninguém mais fala nada porque fica todo mundo olhando imagina a violência cega as pessoas né E aí você tá entre os amigos e vai ficar falando você e os outros prestar atenção em você eu quero ouvir o outro né então eles não comentam em casa não comentam com os amigos ocasionalmente e
também tem coisa que você nem pode comentar porque os outros não vão entender mas quando a gente se junta aí eu conversa é essa começa falando de cadeia de bandidagem de crime de assalto de rebelião do diabo e não para mais então parece que é uma válvula de escape aqui e ficou assim a gente foi se juntando toda semana nós fazemos a mesma coisa quando acabou o Carandiru eu disse olha agora nós vamos separar e entre Essas pessoas aí Alguns estão entre os meus melhores amigos O Valdemar é um exemplo típico uma pessoa que eu
tinha uma amizade praticamente um parente meu amizade de pegar ele fazer um amor levar para o almoço da minha família o almoço de Natal Esse é o primeiro Natal que ele não vai agora em vários anos e eu tinha lá vamos agora nos separar porque cada um vai para um lado mas nós vamos manter esse ritual não vai dar para ser toda semana mas vamos manter de duas em duas semanas e nós mantivemos por anos em duas em duas semanas passamos para três a quatro semanas nos últimos dois ou três anos depois veio a covid
aí nesse período a gente parou mas um mês atrás nós fizemos outra reunião dessa e foi muito muito divertido eles agora estão mais velhos né eu também claro mas mas é eu adoro tá com ele e a bandidagem às vezes encontro na rua e é facílimo reconhecer porque o cara chega primeiro fica me olhando mas tudo bem eu apareço na televisão bastante tem gente que me olha assim quando entrou na rua e mas quando ele chegam perto eles falam E aí doutor tudo bem eu tive lá eles não falaram tive na cadeia eu não tive
lá quando eu estive lá 100% de chance de ter sido no Carandiru é muito gostoso quando eu encontro porque aí eu pergunto do período aí começa uma conversa e você vê que muitos deles largaram do crime então levando vida de trabalhador é difícil que eles conseguiram emprego que tem muito entre eles são esses guardadores de carro na nas ruas a que ficam ali é o que o trabalho que eles conseguem fazer né E se você fosse coisa que você apagaria assim da tua experiência Você acha que tem alguma coisa que você apagaria disso também é
difícil porque a experiência é uma experiência toda né Por exemplo as imagens que eu tenho dos corpos que eu examinei na cadeia porque quando você quando alguém era assassinado na cadeia tive que para o Instituto Médico Legal Obrigatoriamente né mas antes mas tinha que provar que isso é o morto da da cadeia então o médico que chamava o médico para fazer um atestadozinho sumário um pequeno exame de corpo de delito para dizer Olha foram tantas facadas foi assim chegou morto chegou vivo na enfermaria morreu em tanto tempo uma descrição sumária e mais fortíssima ser humano
nenhum esquece delas porque você vê aqueles corpos de jovens perfurados de faca teve um menino que chegou na enfermaria ainda vivo ele tinha mas assim os instrutores finais né eu comecei a contar as facadas que ele tinha tomado quando chegou na quinquagésimo sexagésima eu me perdi Achei melhor parar porque eu ia começar a contar algumas duas vezes isso é uma cena que você nunca mais esquece que ela te invade nos momentos mais inesperados não sabe no aniversário de uma neta no dia que você tá entre os amigos à noite na cama você não consegue esquecer
uma imagem dessa parece também faz parte do conjunto geral não dá para dizer isso aqui eu queria pagar e ficar só com o resto porque faz parte do resto e uma parte muito importante né que é a presença da Morte né que você a qual você é obrigado a conviver nas cadeias como que foi para o senhor descobrir sobre o massacre né vive ndo pela ação tão próxima lá olha eu fiz um trabalho entre os travestis na cadeia porque eu sempre fiquei muito chocado com a com com os travestis por uma razão muito simples você
imagina as travestis são em geral dentro da classe social mais pobre né Você pode ter uma drag queen né mas tudo bem a Raridade né tão grosso das travestis vem das classes sociais mais pobres tanto que você tem amigos homossexuais que vão na sua casa tem homossexuais na família travestis travestis não travestis São a sociedade execra as travestis a polícia para na rua uma travesti prende você você não fala nada porque você fala alguma ela aprontou é travesti na hora que é travesti põe o pé na rua ela tá sujeita a agressão da polícia e
a agressão desses malucos que que são Psicopatas e que batem nelas e atiram às vezes matam e na cadeia a travesti tem uma uma posição que é muito interessante você imagina você pega uma travesti que é tá na rua fazendo ponto na rua e é presa porque roubou um celular ou porque sei lá assaltou o cliente enfim Ela é presa ela tá com roupa de trabalho uma saia curtinha bustier sabe um top cabelo grande pintada cílios postiços e ela sai de lá vai para onde vai para delegacia e na delegacia ela é colocada numa cela
que tem às vezes 20 pessoas imagina eu como homem chega no lugar desse eu vou ficar com medo do que pode acontecer comigo ali no meio de tanta gente né como é que uma pessoa que chega nessas condições entra desenvolve uma estratégia de sobrevivência e consegue ser respeitada nesse ambiente não vai ser estuprado de jeito nenhum Olha que força que tem a travesti que força para conseguir resistir a esse tipo de situação naquele estranges em que ela se encontra ela chega lá vestida de mulher ela é uma mulher naquele momento E então fiz um trabalho
longo com elas primeiro eu comecei testando as travestis nós testamos agora não vou lembrar o número total eu não vou lembrar o número total mas acho que eram 88 se eu não me engano 88 78% delas era HIV eram HIV positivo 78% das que estavam presas a mais de 6 anos e que eram não vou lembrar o número não quero chutar mas acho que estavam precisar mais de 100 anos 100% positivos todas infectadas eu não conhecia antes nem conheci depois um trabalho científico que você deve tivesse uma superpopulação com 100% de infecção pelo HIV então
eu comecei fazendo uma série de de palestras para elas e tudo até aprendi uma coisa que a gente sempre quando começa a ficar muito muito senhor disse faz muita besteira também né Tava fazendo uma palestra para elas um dia atrás do cinema no fundo do cinema ali e aí explicando como era a AIDS Como pega como não pega Como não sei o quê e tinha uma delas sentada assim do meu perto de mim eu em pé ela do meu lado deixando a unha o tempo inteiro e achei que ela não tava nem aí não tava
prestando atenção quando eu acabei de falar Tem alguma dúvida alguma pergunta vamos vamos discutir é doutor Olha o senhor tá falando como pega como não pega o senhor explica bem mas todas nós somos cansadas de saber como pega que não pega porque nós precisamos de camisinha sem camisinha que que adianta a gente saber como pega eu fiquei com cara de idiota né Eu tô aqui dando uma aula né para o médico que chega o dono do saber e tô falando para aqui para pregando para para pessoas que estão me achando um idiota E aí nós
a briga começou toda de tentar conseguir preservativo o que levou anos para conseguir nesse dia que eu tava fazendo essa palestra de repente aparece o diretor da cadeia lá atrás falou Doutor drauz Me disseram que o senhor tava aí então Pois é tô aqui fazendo uma aula ele disse ah faz o seguinte na saída passa na minha sala para gente conversar um pouco o diretor chamava José Ismael Pedrosa não eu fiz isso terminou mais ou menos meio-dia eu fui para sala dele ficava lá na frente da cadeia na entrada da cadeia comecei a conversar ele
começou a me contar uns casos que tinha acontecido Olha quando você pega uma pessoa uma pessoa assim de cadeia Se você deixar você passa 12 horas escutando as conversas que é uma história mais incrível do que a outra deve ficar me conversando você quer as tantas eu falei outro Pedroso eu preciso ir embora porque uma hora eu tinha que estar no Sírio Libanês tem que estar pronto tenho que ir para o hospital e além do que tô aqui também tomando seu tempo aí ele me disse olha não se preocupa Hoje é um dia tranquilo na
cadeia mas sexta-feira sexta-feira é o dia que eles estão aí lavando as costelas limpando e tal para receber as visitas íntimas no fim de semana então hoje é um dia que não acontece nada na cadeia foi embora eu tava organizando um Congresso Internacional de biotecnologia aqui em São Paulo e aí eu fui embora fui para UNIP que a quem tava patrocinando o congresso e chego lá umas três da tarde Nossa tá tendo uma rebelião lá no Carandiru falei não tá tendo rebelião nenhuma saí de lá agora deve ser na penitenciária do estado que a penitenciária
do Estado ficava atrás do Carandiru E aí ele falou não é no Carandiru não é na penitenciária não ninguém teve a televisão e aí o que aconteceu lá eu saí de lá uma hora da tarde 3 horas tá pegando fogo né polícia aquela confusão toda E aí começou e aí começou era cenas iniciais que terminaram numa Sacra um acontecimento absolutamente desnecessário ali naquela época não tinha PCC o que tinha era os grupos se formavam em função da localização geográfica na cidade então você tinha um pessoal da Zona Leste o pessoal da Zona Sul a turma
da zona norte era assim que funciona e tava vendo uma discussão entre o pessoal da Zona Leste o pessoal da zona sul eles viu se estranhando já há algumas semanas e eu tava acompanhando a distância que os presos me contavam é o ambiente não tá bom assim ainda vai acabar dando briga vai dar problema E aí estavam foram para o campo de futebol tinha um campo de futebol ali estavam jogando no campo de futebol começaram os desentendimentos e começou uma briga no campo essa briga veio para dentro para um Pavilhão 9 Pavilhão 9 era o
Pavilhão para onde iam os principiantes toca fitas na época essa moda de ladrão de toca-fitas roubava um toca-fita num carro era preso e ia não tinha nenhuma passagem nada aí o outro roubou você uma mulher saiu correndo Fabiano aí o cara chegava outro que tinha oito crimes nas costas Pavilhão oito não ia para o nove e foi assim era molecada era molecada que não conhecia muito bem as regras de cadeia cadeia tem um procedimentos né Tem procederes como eles chamam né Muito bem essa briga foi para dentro e morreram alguns ali ninguém sabe dizer exatamente
quanto por razões óbvias alguns morreram nessa briga entre eles mas qual foi a primeira medida deles o que mostra inexperiência Total puseram os funcionários para fora do Pavilhão você não faz isso imagina eu que nunca tive preso naquela época ele tava cansado de saber a segurança de quem organiza de uma hora de bagunça dessa Qual é você segurar os funcionários para dentro que ninguém vai invadir com funcionários presos lá né Isso é tradicional nas cadeias os idiotas ao contrário puseram para fora e ficaram sozinhos lá uma situação como essa é facílimo de resolver qualquer um
resolve ou quando o avisar o Dr Pedrosa que era um século diretor da cadeia ele falou deixei lá vou conversar com eles que que eles faziam nessa situação eles trancavam a cadeia tava trancada trancavam a cadeia eles cortavam a luz cortavam a água e cortavam alimentação Então você imagina você fica num Pavilhão Pavilhão 9 tinha uns 1.200 1300 presos não tem vez certeza nessa época que variava muito fica aquele bando de homem não tem água não tem luz e não tem comida você quem teria acontecido aquilo Eles teriam destruído todo teriam feito a bagunça que
queriam fazer alguns iam morrendo de fato já tinha morrido e no dia seguinte de manhã chegava lá o diretor e dizia com quem eu converso aí aí desci a liderança e negociava com a liderança como resolver aquele problema mas na Muralha ficava a Polícia Militar hoje não fica mais ficou ficou funcionários mesmo de cadeia um grupo especial O PM que tava na Muralha avisou o Batalhão que era ali embaixo que tava vendo uma rebelião era uma antevéspera ou véspera de eleição E aí um pelotão de choque foi para lá e quando pilotando de choque foi
o diretor ainda tentou foi até a porta do programa não entra deixa que eu resolvo eu seguro isso a gente tem experiência com esses casos enquanto ele tava esperando isso me contado por ele pessoalmente mesmo Enquanto ele tava tentando entrar de repente veio uma ordem para invadir E aí eles entraram Agora pensa assim primeiro você manda invadir um Pavilhão as escuras com colchão pegando fogo no meio da fumaça por policiais que não conhecem a cadeia por dentro é um pênis estavam trabalhando na rua perguntando choque e outros né que não conhecem a cadeia dá um
cachorro na mão de cada um E dá uma metralhadora na outra você acha que vai acontecer o quê claro que o governador do Estado Tomou essa concordou com a tomada dessa decisão vocês não podem ter sido secretário da segurança e o secretário da segurança ia tomar e assumir essa responsabilidade numa véspera de eleição sozinho sem falar com o governador esquece a ordem final veio do governador eu não tenho qualquer dúvida eu não tenho como provar Claro mas eu não tenho nenhuma dúvida E aí eles entraram e entraram uma arregaçando e tudo que se movie no
que não se movia porque aí eles diz não mas os presos reagiram os preços para como reagir vocês que os presentes são idiotas você imagina você tá lá preso Você tem uma faca na mão faca eles têm muitas é uma faca na mão e aí aparece na ponta da galeria aparece um pelotão de policiais militares com metralhadora na mão e um cachorro você faz o que nessa hora você vai para sua sela esconde a faca e se esconde dentro da célula não tem nenhuma possibilidade de você enfrentar então não houve enfrentamento tanto não houve nenhum
enfrentamento que não morreu nenhum policial militar nenhum zero e morreram 111 presos e como que o senhor aí o senhor ficou sabendo disso no na televisão e aí ficou acompanhando o senhor quis ir para lá Como que foi a sua reação Olha eu a primeira coisa que eu fiz é lógico naquele momento não tinha o que fazer toda essa confusão imprensa lá Imprensa internacional a porta da cadeia convencionada pelos parentes dos presos pelo jornalistas eu esperei as coisas acalmarem um pouco e tentei falar com o diretor mas ele tinha sido afastado E como que você
percebeu a realidade dos presídios depois do massacre assim mudou muito isso impactou deve com certeza deve ter impactado mas como que foi a Sua percepção em relação a isso o sistema penitenciário Paulista e acho que o brasileiro tem um divisor de águas divisor de água foi o massacre foi ali que o estado perdeu o controle das cadeias até ali o estado não tinha o controle Total mas é o estado que ditava as regras a partir daí foi a bandidagem sempre houve facções nas cadeias eu já fiz uma enquete particular perguntando para todos os carcereiros que
eu conheci se eles trabalharem uma cadeia que não tivesse facção nunca conheci um que dissesse não na cadeia que eu trabalhava tinha mas qual era a diferença é que essas facções nenhuma delas tinha tinha a superioridade em relação a todas as outras e os funcionários o que faziam era um pessoal muito esperto né eles têm uma malandragem o negócio deles qual era começava uma passar uma crescer muito transferir o líder para outra cadeia uma começava a querer criar problema eles espalhavam pelo sistema e conseguiu dessa maneira impedir que uma delas assumisse o controle geral Quando
aconteceu o massacre o estado perdeu o controle eu vi funcionário sair escoltado por preso da cadeia ela tá trabalhando no pavilhão 8 que era no fundo da cadeia e um preso que era Líder ali deu seu legal com a gente vamos deixar o senhor sair sozinho não te contava até a portaria para que não acontecesse nada com ele olha a inversão de valores isso durou bastante tempo desse jeito e a partir daí é lógico que as facções competindo aí é um processo darwinniano né uma delas estava na cara que adquiriu o controle total e a
sobrepujar as demais e é essa é a história assim começou o PCC Se você olhar o estatuto do PCC você não precisa tem dois artigos o que que eles dizem por que que ele foi criado o PCC foi criado para acabar com a violência do Estado contra a população presa primeiro lugar segundo lugar para vingar o massacre do carangueiro tá escrito no estatuto isso não sou eu que tô inventando E como você vê porque o Senhor já falou isso em algumas entrevistas que o controle do PCC tem um lado positivo também nos presídios hoje em
dia né Olha tudo tem um lado positivo na vida ou quando chegou o craque na cadeia em 1992 acabou a cocaína injetável um pouco pelas pelo movimento que nós fizemos Mas um pouco também foi porque o cara que substitui e o primeiro estudo Como eu disse foi feito com os presos tinha 17,3% dos presos infectados no ano 2000 nós repetimos Esse estudo durante 11 anos mais tarde encontramos 8,2 8,1% Se não me engano olha o que aconteceu Disse até o crack que tem um lado bom porque você não transmite o craque pela veia Você craque
é fumar e o PCC como eles como eles conseguiram dominar praticamente todos têm a penitenciário de São Paulo todas as cadeias há uma outra só que se encontra Sobre o domínio deles Vão colocar uma ordem qual é o problema que você tem na cadeia qual é o grande problema na cadeia não é o estado que cria quem cria cria os grandes problemas são os próprios presos uns com os outros é uma situação do Carandiru Qual era um comprava cocaína do outro o crack não pagava chegava o fim de semana dizia que ia pagar não pagava
no outro também não pagava o cara que tem o traficante tem que tomar uma atitude numa situação dessa porque senão ninguém mais paga ele se ele deixa ninguém mais paga e quem deu a droga para ele vai querer receber e vai usar o mesmo critério se eu perdoar ninguém mais Me paga por isso é que dava tanta morte primeira Providência do PCC Vamos acabar com o crack não pode ter Craque na cadeia porque se tiver Craque na cadeia vai ser assim é droga compulsiva o Carandiru chegou um tempo Carol que eu quando eu perguntar para
um preso se fumar craque ele dizia não eu achava que ele tava mentindo a cadeia inteira fumava Lógico que eu devo ter cometido injustiças né mas foram raras porque todo mundo fumava era mais fácil acertar não existe mais eu achei que nunca mais o sistema penitenciária ia ficar livre do craque e ia ser se morticínio generalizado o tempo todo não eu errei acabou o craque completamente dentro das cadeias eu tive nessa época a impressão eu falei olha como acabou a cocaína injetável vai acabar o craque também na periferia mas eu tava errado rapidamente assim quando
pensava em seguida eu atendia uma menina feminina já tá enganado na rua se eu quiser ganhar dinheiro você tem que vender craque vender cocaína mercado é muito pequeno craque é mais barato e aí o que tiver vende na hora mas o PCC conseguiu isso o PCC conseguiu estabelecer uma ordem você não vê morte nas cadeias mais não vê olha eu tô na penitenciária feminina desde 2006 é muitos e muitos anos morte de facada eu não vi nenhuma eles contam histórias que às vezes fazem coca-cola com a dose letal de cocaína obriga a tomar e tal
eu não sei isso não sei até que ponto isso é folclórica até que ponto ocorre mesmo mas se ocorrer uma coisa muito ocasional muito ocasional eles conseguiram estabelecer regras na cadeia por exemplo você na cadeia dominada pelo PCC Você tem uma amiga tá e você é uma belas estão presas e aí você ela te conta uns ela fala faz alguma observação para vocês falaram Cala a boca tá perdida não pode fazer isso você vai ser cobrada vão te chamar atenção você não pode falar cala a boca você tem um código de procedimentos que tem que
ser obedecidas ai de um preso que num dia de visita olhe para uma mulher que passou Coitado dele ele pode ter um parceiro que foi criado com ele na rua era companheiro de assalto na rua ele um domingo de visita ele vai tá lá o amigo com a mãe e com a irmã que são pessoas que ele conhece desde criança ele não pode se aproximar se o companheiro não chamar não pode fazer isso ele não pode chegar lá oi como vai a senhora dona fulana como é que você tá Como é que tá de jeito
nenhum ele tem que parar meio perto longe eu olhar e se eu acompanhar fala vem cá aí tudo bem sem Essa ordem ele não se aproxima por exemplo você pode no dia de visita fazer assim como eu estou com esse botão da camisa aberto agora andar assim por segundo botão aberto não pode e se você pergunta por que que não pode eles falam porque tá errado na lei do crime tem o certo e tem um errado e não tem atenuantes não é com as nossas leis que você comete um crime aí contrata um bom advogado
e tem uma zona cinzenta na lei Entre o certo e o errado que dá para manobrar lá não não isso não existe então você tem o certo e tem o errado se você tá errado você vai pagar por esse erro e vai pagar depressa não é que você vai pagar um dia no futuro um julgamento que vai acontecer 10 anos depois do crime cometido não é direto por isso que a perna é a pena de morte funciona na cadeia e por isso que não funciona na sociedade não tem um país que adotou a pena de
morte em que a criminalidade diminuiu por quê Porque a sociedade não pode pegar o cara e matar na hora tem que dar ele toda a chance de provar inocência e isso dependendo dos recursos que o assassino tenha isso pode levar anos e anos então o que acontece nos Estados Unidos eles vão executar preso 15 anos depois que cometeu o crime aí qual é ninguém mais lembra do que crime que foi cometido mas não tem nenhum aspecto didático na lei é só uma Vingança do Estado em cima daquele que cometeu o crime na cadeia não na
cadeia você comete um erro grave você morre hoje amanhã o mais tardar no fim de semana na semana que vem e aí Quem tá perto falou Parque isso aí é grave né não posso cometer esse erro não posso dar essa mancada e depois o senhor Continua trabalhando nos presídios né Depois do Carandiru e o senhor contou muito no livro prisioneiras a diferença né que tudo que você sabia do presídio masculino você chegou lá no feminino e falou nossa esquece joga tudo que eu aprendi fora que a dinâmica é outra né as relações a dinâmica com
as famílias entre elas né O que que marcou mais nessa mudança para você eu acho que até difícil dizer o que mudou mais porque é o que você falou eu senti que eu tinha que começar tudo de novo aqui eu vou ter que aprender humildemente porque essa bagagem que eu trouxe para cá não vai ter utilidade você tem um homem preso Chega no fim de semana vai uma mulher visitar ou várias é a mãe é a irmã é avó é a prima é a vizinha é a que foi colega dele na escola você vai você
pega mulher presa ninguém vai visitar não vai visitar a irmã não vai visitar a mãe não vai visitar não vamos visitar os amigos de jeito nenhum o namorado esquece o marido vai dois três domingos e nunca mais Essa é a realidade da mulher presa a mulher abandonada a prisão da mulher envergonha a família e os amigos muito mais do que a prisão de um homem porque tem mais pressão a pressão social né Muito mais brutal é mais vergonhoso para família sabe se seu irmão é traficante tudo bem é homem ou cada traficante que absurdo e
tal você é traficante primeiro que já tem uma conotação sexual em cima das mulheres o cara é traficante ninguém se tem preocupação com a vida sexual dele não vem ao caso né a mulher não ah mas se ela é traficante ela deve ser dessas que dá para todo mundo ela deve ser mulher fácil né já tem essa essa pegada depois porque a mulher em geral tem menos poder que o homem mesmo né o homem dentro da cadeia se vira para conseguir dinheiro com mais facilidade do que a mulher tem mais oportunidades para isso do que
do que a mulher depois porque a solidão da mulher na cadeia é devastadora as mulheres têm menos resistência eu acho que a esse tipo de pressão psicológica os homens suportam melhor não sei explicar bem porque talvez nem seja verdade assim mas a mulher sofre mais com a solidão eu acho do que com Então o que acontece você tá lá presa não tem contato nenhum então o namorado teu amigo o teu marido te abandonou você a mulher tem filhos isso faz muita diferença você vai dizer não mas o homem também é o homem tem filhos mas
ele sabe que vai ter uma mulher cuidando dos filhos dele a companheira mais esposa uma avó tia prima a irmã alguém vai cuidar dos filhos dele a mulher sabe que ela pode os filhos poderão até ser cuidados por uma dessas pessoas da família mas que o os cuidados dela são insubstituíveis o amor que ela tem pelos filhos nenhuma daquelas pessoas vai ter isso deixa as mulheres presas muito angustiadas muito sabe Cadê você evita de chorar mas perder a conta de quantas mulheres começava a falar dos filhos correr lágrima nos olhos o tempo inteiro Cadê ele
homem eu vi isso uma duas vezes em tantos anos né então esse problema da Separação dos filhos é terrível e muitas vezes esses filhos vão recorrer o crime também né olha são gerações eu encontro meninas lá na feminina o Dr Drauzio conhece o senhor desde criança como é que você me conhece Ah o meu avô sou trator do meu avô no Carandiru e depois seu trator do meu pai e aí o seu trator da minha mãe aqui na feminina gerações indo para cadeia nós nós colocamos uma parte da sociedade brasileira tão marginalizada que você a
cadeia passa a fazer parte da vida social passa um tempo aí na favela não usando de repente vão presas ou presos depois voltam para favela mais um tempo voltam para cadeia e assim é a família também né familiares a gente quer classe média você não faz parte da nossa da nossa do nosso histórico ter familiares presos não faz parte na periferia entre as pessoas mais pobres é parte do dia a dia o meu primo foi preso não sei o quê sais prima Ah agora minha prima agora minha tia que foi presa faz parte é uma
realidade muito triste e muito difícil a sociedade conseguir quebrar esse tipo de Elo com a organização social que nós temos antes de encerrar a gente queria fazer uma última pergunta e enfim já agradecer pelo tempo do Senhor pelo seu tempo que foi muito especial para gente ter você aqui contando e acho que complementando tudo que a gente trouxe aqui nesse Episódio Mas pela visão de alguém que tava lá que viveu e hoje tantos né tantos anos depois tem assim afastamento aí para conseguir falar melhor ainda sobre do que aquele momento que estava vivendo e a
gente queria perguntar sobre o porque você conheceu Racionais no Carandiru Se não me engano certo é porque tinha um grupo lá que chamava meu Deus tá dando um branco agora não vou conseguir lembrar enfim era um grupo de rap também eu não conhecia tinha um dia tô falando dos anos 80 eu estou saindo da cadeia escuta uma música que eu nunca tinha ouvido um ritmo que eu nunca tinha e me aproximei deles e Tinha dois caras eu lembro bem que era o Flavinho e o carioca quero um bandidaços e tinha montado esse efeito esse grupo
e população carcerária e aí e faziam e fazia o rap eu fiquei ali ouvindo e eles para onde você gosta eu tô gostando de ouvir vocês cantarem eu não conheço Ah não eu comecei fazer amizade com eles fiz amizade ficamos amigos eles eram muito amigos do Valdemar também desse meu nesse meu assessor E aí eu conheci o rap aí e eles me disseram Olha se você conhece se você gosta dessa música tem que ouvir Racionais Os cara são demais e eu fui atrás do Racionais que ela não tinha internet né então foi procurar nas lojas
de disco encontrei Mas também você não achava em qualquer Mas sabe loja de shopping não você acabei achando na cidade e peguei o primeiro cd dos Racionais que é louco acho que eu vi mais de 50 vezes CD ainda escuta até sobrevivendo no inferno depois que amigo do Mano Brown e o mano brown amigo que eu gosto muito que eu gosto muito e aí aprendi um pouco mais de rap com ele acho que é isso Doutor muito obrigada a gente está muito feliz Acho que os operandos também vão amar assim ter a presença do Senhor
aqui esse é o nosso Episódio 100 então acho que não tinha nada mais legal para coroar né o nosso centésimo Episódio do que sua presença e queria falar que eu já li Estação Carandiru umas 15 vezes é sério e falta de imaginação Cara eu amo reler Eu amo e é isso muito obrigada E a gente tá muito feliz muito obrigado Carol muito obrigado uma benção tá com tá com vocês aqui viu muito bonito esse trabalho de vocês e olha parabéns viu quem faz Internet sabe que você fazer sem programas de uma dedicação grande e um
trabalho enorme nos faz assim na brincadeira não [Música]
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