História da Educação Clássica [VIII CEUC] - Prof. Marcelo Andrade

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Nessa palestra do VIII CEUC - Educação Católica Clássica, o professor Marcelo Andrade comenta sobre ...
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[Música] Christus Christus vna krus krus [Música] Bom, bom dia a todos! O áudio tá bom? Não teremos PowerPoint. Eu sou brigado com PowerPoint e o PowerPoint também é brigado comigo, então tá bom. Então, nós vamos falar sobre a história da educação clássica, né? Quando se fala em educação clássica, pode ser vista por dois ângulos diferentes: um que o André Melo falou e o outro relacionado àquela ideia que os gregos começaram a formular, que se culminou no tríon e no quadrel. Aliás, a ideia de tríon e quadr, dos gregos, o nome foi dado depois por
Marciano Capela, mas o esquema já estava lá com os gregos, né? Então vamos começar com uma visão panorâmica da história da pedagogia. E como sempre, as coisas começam na Grécia antiga, né? É lógico que eu que for falar aqui vou ressaltar os pontos da Grécia. Não vou aqui exaltar o paganismo, nada disso. É lógico que lá na Grécia misturava coisas boas com coisas horríveis e do paganismo, coisas que nem dá para comentar, inclusive relacionadas à pedagogia, né? Coisas simplesmente horrorosas. Os medievais, então, aproveitaram o que era melhor da Grécia e desprezaram o que era ruim,
né? A figura boa disso é o vinho, né? Que os gregos tomavam, vinho misturado com água salgada, mau gosto. E depois da Idade Média, passou-se a tomar o vinho sem água salgada; ou seja, simbolicamente, o vinho representava a boa filosofia e a água salgada, do paganismo. Então o paganismo foi deixado de lado, se aproveitou o bom vinho da Grécia, né? A civilização como tal foi fundada no pilar da Grécia, pilar de Israel e no pilar de Roma, né? Porque nós vamos ver hoje, é lógico que a Grécia foi muito mais importante que Roma no aspecto
da pedagogia, né? Então, quando se vê os autores comentando, já recomendo o livro do Rui Nunes. É muito bom sobre a história da pedagogia, já é fácil de achar. Trata desde a antiga, medieval e tal. É excelente, é imperdível para quem quer estudar pedagogia. Também quem quiser se aprofundar, vá no "Paideia", que é um livro fininho de 1800 páginas, fácil de ler, dá para ler numa tarde. E aí esse daí seria o melhor começo. Bom, quando se diz, então, dessa educação clássica, ela durou 2500 anos. Foi extinta no Iluminismo. Na Grécia, então, assim, bem panorâmico,
os autores dividem em duas partes: a educação na Grécia, a pré-platônica, antes de Platão, que era chamada paideia arcaica, e a que veio depois de Platão, que é a paideia clássica, né? O grande nome da paideia é Platão, mais que Aristóteles, bem mais. Aliás, Aristóteles foi um melhor filósofo, claro, mas Platão, no sentido da pedagogia da paideia como iniciador, ele foi muito mais importante. Platão morreu, se não me engano, no ano 347 antes de Cristo. Então, nessa paideia arcaica, o ensino da Grécia e todo o fundamento da pedagogia era focado nos mitos, né? De Homero
e de Hesíodo. Aliás, a palavra paideia é usada aí de forma só didática, o termo não existia na época de Homero nem de Hesíodo, surgiu depois. E nessa paideia arcaica, então, se procurava ensinar os jovens gregos, principalmente na areté, que é chamada de virtude, né? Só que inclui tanto a virtude da guerra como as chamadas virtudes cardeais, né? Temperança, prudência, justiça, e faltou um... temperança, justiça e fortaleza, exatamente as quatro cardeais, né? E os gregos já começaram uma visão que difere muito da educação de hoje, né? Que educar para virtude, né? Hoje a educação não
é mais para virtude. Hoje a educação é um treinamento. Se a gente fosse diferenciar a educação clássica, em poucas palavras, da moderna, é que a clássica era para educar para virtude e a moderna é um treinamento. Então, a moderna visa apenas a treinar uma pessoa naquilo que ela não sabe. Então, o engenheiro vai fazer engenharia civil, alguém vai estudar engenharia civil. Então, vai aprender a construir casa, mas a faculdade de engenharia não tá preocupada em melhorar o aluno, em torná-lo mais virtuoso. Enquanto que a essência da educação clássica era torná-lo mais virtuoso. Pegando um outro
exemplo da minha área, que é direito, né? Então, como é que seria o foco de uma educação para virtude no direito? Seria fazer com que o aluno ficasse focado em, principalmente, duas virtudes: claro, a da justiça e da prudência. A junção das duas dá uma palavra muito bonita, que antigamente era muito cara para o direito e hoje morrendo em tudo quanto é lugar, que é jurisprudência, né? Então a jurisprudência, que é uma palavra tão bonita, hoje esquecida pelos nossos tribunais, é justamente a junção, harmonização dessas duas virtudes: justiça e prudência, né? Então, o advogado, o
juiz, o promotor, eles deveriam ter... eles deveriam sair melhores, justamente na prática da justiça e na prática da prudência. Infelizmente, não é mais assim, é só um mero treinamento. Eu vi um educador lá uma vez falando que hoje a educação tá mais próxima de treinamento de cachorro do que para formação de seres humanos [risadas], né? Então, infelizmente assim. Outra coisa da educação clássica era uma visão de hierarquia e era uma visão de qualidade, não de quantidade, eh. Então as matérias antigamente eram hierarquizadas. Então as principais seriam a teologia, obviamente, depois filosofia, tal ia descendo, né?
Hoje não, ficou tudo no mesmo nível, igualitário, nominalista, né? E outra, uma visão de qualidade, né? Então, antigamente se preocupava pela qualidade, hoje é só pela quantidade. Então, o país é bom porque forma mais número de engenheiros. Você tem mais gente matriculada na escola, pouco importando a qualidade, e essa questão de quantidade é a nossa civilização: a civilização da quantidade, né? Civilização do utilitarismo. Então é olímpica a situação, não números. Então tudo é somado em números. O melhor é o que tem mais ou que chegou mais rápido. Então é uma sociedade que não sabe mais
raciocinar em termos de qualidade, né? É tudo em termos de quantidade, infelizmente. E outra também: era a educação clássica que sabia relacionar as matérias. Então a conclusão da filosofia deveria ser igual à conclusão da biologia em determinada área, por exemplo, aborto. Então a conclusão da biologia e da teologia teriam que ser iguais nesse quesito. Hoje, no mundo moderno, tudo é dissociado, de forma que as matérias estão excessivamente compartimentadas. Elas podem ter conclusões opostas umas das outras, né? Bom, feito isso, esse aspecto está lá na Grécia antiga. Então teve uma grande mudança com Platão. E aí,
com Platão, ficou claro que a educação na Grécia tinha dois lados: o lado dos sofistas, que na época de Platão era representado por Isócrates, que se focava na fronesis, que é traduzido para o português como prudência, mas não é só prudência. Envolve retórica, envolve saber, sabedoria prática, envolve meditação, envolve experiência e envolve virtude, né? As palavras gregas, como não eram tão compartimentadas como hoje em dia, acabam tendo sentidos diferentes e difícil tradução, como, por exemplo, a frones. Não dá para traduzir adequadamente para ideia, também não dá, porque ideia significa formação da pessoa, mas também significa
tradição, cultura, memória, etc. Memória em relação a perpetuar as tradições, etc. Então, uma palavra que representa mais do que uma outra equivalente em português é mais do que cultura, como às vezes é traduzido. Também, às vezes é traduzido só como formação, e essas traduções são incompletas. A palavra música no mundo grego também está mal traduzida, porque na música, na origem da Grécia, era relativa às musas e não só à música como a gente compreende. Então, música na época da Grécia incluía história, por exemplo, porque tinha musa que era relacionada à história. Então, a história era
aprendida na Grécia tanto na música como na gramática, e hoje, para nós, parece não ter o menor sentido, né? Então, as palavras gregas não têm correspondência igual à nossa e a nenhuma outra língua, então tem que ser feita essa diferenciação. Uma questão interessante aí dos mitos gregos: tudo errado, é um paganismo e tal, mas os mitos gregos são muito melhores do que qualquer outro mito que já existiu na civilização, né? Platão, embora tenha trabalhado contra os mitos, reconheceu que Homero tinha feito toda a Grécia, né? Homero formou a Grécia. Então, todo mundo tinha que decorar
Homero. Quem não decorasse Homero não podia ser tido como sábio, como pessoa culta, etc., né? Aliás, o mundo moderno odeia decorar, né? Que é a origem da palavra; é tão bonita, porque parte é do coração, né? Então, todas essas coisas vão sendo perdidas, né? O mundo moderno é um desastre, né? Então, com Platão, então nós vemos, então, Platão e Sócrates. Então, representavam duas linhas: a linha de Sócrates, a linha da sofística, com a fronesis, e a linha da retórica, da sabedoria prática, da virtude, da memória, etc. Ah, tinha esquecido de falar das musas, né? Musas
são filhas da Mnemosyne. Vemos a memória, que aí poderia falar o que tem a ver memória com musas. Tem uma relação profunda, né? Que se perdeu porque as artes e as musas tinham que ser relacionadas à tradição. E aí, por isso que vem memória: memória do quê? Dos deuses, dos mitos. Se a gente trocar esse grande er e colocar Deus, então fica a visão medieval perfeita que as artes são uma memória relacionada a Deus, quer dizer, elas servem para Deus, né? Os gregos desenvolveram técnicas mnemônicas, e Roma também, a Idade Média também, a Idade Moderna
também, com o grande método do palácio da memória, que é aplicado até hoje em dia, impressionante, com variações, claro, né? Bom, aí o que Platão mudou em relação à fronesis? A filosofia. Então Platão começou a introduzir na academia, né? A academia era o nome da escola de Platão, ao estudo da filosofia, né? E aí tem o grande fundador da filosofia, na realidade, que é Platão, né? Ele compreendeu tantas questões das virtudes, como a magnífica tríade do bem, do belo e do certo, né? E aí, então, se ensinava na academia de Platão. Depois de Platão, os
outros seguiram nessa linha: filosofia e fronesis, né? Então, a Grécia viveu essa dualidade: uma mais prática, mas relacionada à retórica, como falar prudência e tal; e outra, não, já avançando mais nas questões mais profundas do universo, que seria, então, a filosofia, né? Aí avançando, então, no tempo de Platão já estava consolidado, né? O tríade e o quadrado, associados a Pitágoras, né? Por causa que Pitágoras tinha uma visão. Todos esses gregos tinham visão boa e visão ruim. A visão boa era lógica e compreendia o quadrado. O errado era achar que os números tinham uma visão mística
e tal, né? O quadrado: aritmética, geometria, música e astronomia, né? E aí, esse foi o... essa música incluía. Aos poucos, não era só a música. Foi só muito tempo depois que ficou só isso, porque no termo música eles usavam coisas relacionadas. Associada à poesia, né, então havia regras relacionadas aos poemas e tal, e voltava ao mito, voltava à própria história, e até mesmo a geografia entrava nessa. E é assim como a astronomia: tinha uma importância muito maior naquela época do que hoje. Só para abrir um parêntese, né, como as coisas às vezes são mal abordadas
hoje, astronomia vira uma soma de cálculos, enviar astronaves para outros planetas e tal, espaçonaves andando em volta da Terra, satélites etc. Só que antigamente a astronomia tinha uma importância vital, né, porque a astronomia é mãe do calendário, é mãe do relógio, né? Então, os gregos e romanos sabiam a época da colheita quando aparecia a estrela de Spica da constelação de Virgem. Então, quando ela aparecia, pronto, chegava o momento da colheita. A época da cheia do Nilo correspondia ao momento em que a estrela Sirius, que é a mais brilhante do céu, estava no zenite, o ponto
mais alto do céu. Então, a astronomia era o relógio do tempo antigo. Ela que dizia os tempos, né? Aí, lógico que depois a coisa sempre piora, né? E da astronomia veio a astrologia. E aí mesmo Aristóteles errou muito nisso, né, com a... Então, havia uma realidade no mundo sublunar e uma outra realidade no mundo trans-lunar. Então, as regras do mundo físico não valiam para o mundo trans-lunar, e depois o símbolo virou como causa, né? Astrologia trabalha como... confunde o símbolo com causa. Então, a estrela causaria a fartura e a estrela de Antares, que é uma
estrela vermelha no coração de Escorpião, causaria guerra e não símbolo da guerra. Então, houve uma confusão entre os símbolos, tentando associá-los, né, a causas. Bom, essa questão da fronesis e da filosofia, a visão platônica e a visão sofística foi para Roma, né? E aí chegou em Roma. Roma de fato, né, a elite romana procurava trazer gregos para ensinar os filhos, né? E inclusive, teve dois partidos em Roma no tempo do Júlio César chamado Optimates e os Populares. O Júlio César e o Pompeu eram dos Populares e tinha um outro lado que era mais da elite,
chamado Optimates. Os Optimates gostavam, a princípio, né, da filosofia e da retórica grega. Depois, a filosofia passou a ser atacada, né? O Catão disse que, assim como os vírus e as doenças atacam o corpo, a filosofia ataca a alma. É lógico, a filosofia ataca a alma, mas aí ele errou. Ele disse que foi um ataque à própria filosofia em gênero, não à má filosofia. Ele... é um povo muito prático, romano, né? Tudo bobagem. Ah, isso é bobagem. Mas depois, essas escolas acabaram sendo proibidas em Roma. Tá bom. Aí o povo romano, infelizmente, se tornou um
povo que tinha excelência, né, na infraestrutura, no direito, mas passou a não ter nenhum raciocínio filosófico, né? Um desastre essa proibição e essa visão bem errada de Roma, né? Mas até essas escolas serem proibidas, aconteceu uma coisa curiosa lá, né? Porque os Populares não tinham acesso às escolas de retórica. Eles passaram a ter acesso à escola de retórica do mundo grego e passaram a ter sucesso com a retórica, passaram a ter um grau de convencimento grande em relação a outras pessoas. E aí os Optimates ficaram preocupados e mandaram fechar as escolas de retórica, provando que
a retórica funcionava. E aí, no fim, com Cícero e Quintiliano, né, essa visão da fronesis romana foi adaptada e virou só uma questão prática, só para os tribunais, para a vida civil etc. Aquele esforço contemplativo que os gregos tinham feito, a filosofia pela própria filosofia, sem ter alguma coisa mais prática, né, acabou. Então, morrendo lá na Grécia. Esse raciocínio filosófico foi recuperado na Idade Média. A Idade Média manteve, né, a visão da fronesis e a visão da filosofia, que não se passou a usar mais dessa forma, mas sim os patrísticos usaram muito da retórica de
Quintiliano, de Cícero, né, e de outros, né? Inclusive, os Jesuítas usaram a retórica de Quintiliano até o século XVII, quando a ordem foi suspensa. Então, a retórica durou. É que a Idade Média deu uma outra dimensão para a pedagogia, sobe ordená-la melhor a Deus, né? Então, toda educação tem que servir para Deus. Então, saíram as bizarrices do mundo pagão e entrou a excelência católica e medieval. Mas o mundo medieval preservou muito da Grécia, preservou o tri quadrum, começou a se desenvolver bastante em todas essas áreas. Aí surgiram as universidades, surgiram cursos que a gente chamaria,
né, de ensino superior, né? Medicina, direito, etc. A primeira universidade foi de direito, aliás, é de Bolonha. Então, começaram a expandir os horizontes do conhecimento, mas as bases eram ainda do mundo grego, né, e atingiu a apogeu no tempo de São Tomás de Aquino e a escolástica, né? Os modernos interpretavam a escolástica não só como a filosofia e tal, mas também como uma pedagogia. Isso é interessante! Então, a escolástica, ela também foi encarada como uma pedagogia, como uma forma e um jeito de ser ensinado que seria voltado para todos, né? Também aí é uma crítica
injusta à Igreja. A Igreja nunca defendeu ensino para todos, mentira! O André Melo já comentou. Mas também havia, nos tempos, né? Uma coisa é ensinar para todos numa cidade, outra coisa é ensinar para todos no meio de guerra, no mundo rural. Então, não dá. Tem hora que não dá. Em tempos históricos, simplesmente não dá para todo mundo ter acesso ao conhecimento, não dá. É impraticável, né? Mesmo no Brasil Colônia não dá. Olha o tamanho do Brasil! Como é que você vai colocar professor no interior do Amazonas? Não dá. Então, essas acusações são injustas. Devido às
dificuldades geográficas, guerras, etc., a igreja não conseguiu alcançar as pessoas, mas o objetivo era alcançar todos. Bom, o fato é que chegou à apogeu da pedagogia, nunca teve igual na Escolástica, né? Compreensão, a ordenação perfeita para Deus, o melhor método: tentar ensinar desde criança até os doutores. E o cume desse ensino foi justamente as universidades. Só que, porém, depois da morte de São Tomás, entrou numa decadência impressionante. Logo após a morte de São Tomás, em todos os sentidos, né? As próprias universidades, ao contrário do que é pouco divulgado, em 1274, morre São Tomás. Já no
século X e no século 1300 e alguma coisa já começaram duas ordens de decadência nas universidades. Uma, óbvia e muito divulgada, foi a entrada das visões nominalistas e visões do misticismo alemão, né? Ambas as coisas acabaram pervertendo o ensino medieval. Então, o nominalismo, de Ockham na Inglaterra, e o misticismo alemão, principalmente com Eckhart, começaram a contaminar ali o pensamento. E alguns autores dizem que isso daí dão o nome de "pequeno renascimento". Achei interessante a palavra, que de fato foi um pequeno renascimento, né? Então, a outra ordem de corrupção foi da própria natureza da universidade. Isso
é pouco divulgado e triste, porque como as universidades acabaram atingindo um esplendor muito grande, acabou sendo uma honra estudar na universidade. E as universidades se tornaram feudos, né? Se tornaram feudos fortes a ponto de ter intrigas com o Papa, intrigas com os nobres locais. Uma universidade se aliava com o nobre contra o Papa, outra com o Papa contra um nobre. Então, elas se tornaram poderes políticos também, não ficaram só, ao contrário do que a gente pensa, só como um centro de estudo e para atrair pessoas que queiram se dedicar a estudar, a contemplar melhor a
Deus, a servir melhor. Não, virou uma questão de status. Então as pessoas queriam entrar na universidade para ter status e não mais para estudar. Aí, nobres passaram a indicar seus filhos para a universidade, pouco importando se eles teriam vocação ou não. Depois ficou uma obsessão pelo diploma, igual é hoje, né? A pessoa entra na universidade querendo um diploma. Aí surgiu também essa visão do diploma, então a pessoa entrava na universidade mesmo sem saber. O nobre poderoso lá bancava a pessoa, e ela ganhava um diploma: “Olha, eu sou formado, eu sou tal". Então ele tinha um
prestígio na sociedade. Isso daí acabou corrompendo essa mentalidade que havia na Escolástica, né? Bom, o nominalismo e o misticismo alemão, infelizmente, avançaram muito, né? Com outras contaminações, principalmente na Itália. Aí veio o Renascimento, a Itália virou, infelizmente, principalmente Florença, um grande centro de gnose, de hermetismo, de alquimia, de cabala, de sufismo, né? Com nomes como Pico de la Mirandola, Marcílio de Ficino, Tomás de Campanella, Agrippa, e outros. Então, difundiram para tudo quanto é lugar a gnose e suas variações, né? O hermetismo foi muito popular porque Marcílio de Ficino traduziu os livros herméticos, custeados pelos Médici.
E aí então teve uma grande fusão. Alquimia teve uma grande fusão, todo mundo praticava alquimia. O Marcílio de Ficino era propriamente um mágico; ele praticava magia mesmo, não era só teoria, ele praticava magia, né? E essas visões da alquimia, do hermetismo, “o que está embaixo reflete o que está em cima, o que está em cima reflete o que está embaixo”, moldou boa parte da história. Isso é pouco comentado, e toda essa revolução foi uma revolução. O professor Orlando disse que foi a primeira revolução, junto com o protestantismo. Protestantismo e Renascimento fazem parte da mesma lógica,
né? Com Lutero, então houve a fusão do nominalismo de Ockham com o mestre Eckhart, gerando então impacto em toda a Europa, né? Mas faltava mudar a pedagogia. Porque a pedagogia ainda estava alicerçada, embora já corrompida, nas visões medievais e do mundo grego, né? Então, faltava surgir um nome para corromper a pedagogia. Esse nome surgiu onde é hoje a Checoslováquia, essa figura horrorosa chamada Comenius. Deixa eu ver se eu notei em que ano ele nasceu. Ele nasceu em... acho que ele morreu em 1670, se eu não me engano. Acho que ele nasceu em 1592 e morreu
em 1670, ou 1650, ele nasceu em 1592. O que é interessante é o ambiente em que ele vivia, né? O melhor... Quem escreveu melhor sobre o Renascimento é a Frances Yates, né? Vale muito a pena ler. Quem tem interesse nesse tema deve ler o livro dela, que é o Jordano Bruno e a Tradição Hermética. É um excelente livro. Ela não trata só do Jordano Bruno, mas do Renascimento como um todo e fala muito de Marcílio de Ficino. Esse livro é imprescindível para entender o Renascimento, e ela escreveu vários livros. Tem outros dois bem interessantes que
eu li. Um é do John Dee, para quem se interessa do protestantismo na Inglaterra, né? O John Dee serviu na corte da Elizabeth I. O John Dee também praticava magia, alquimia, astrologia; ele era ligado a um outro fulano, ligado à magia, chamado Edward Kelley, e os dois serviram à corte da Elizabeth I. Você vê como a coisa era grave. Elizabeth, no leito da morte, achou que ia viver para sempre, que o John ia aparecer com o elixir da longa vida e que ela ia viver para sempre. Está? O delírio que chegava. Magia nesses ambientes, né?
Normalmente, você fala que, depois do Renascimento, veio o que é chamado de Revolução Científica, que começou com Copérnico, né? E teve como principal expoente Newton, né? O que não se fala dessa Revolução Científica é que ela era totalmente pautada por visões esotéricas, pelo hermetismo. O Copérnico, no livro dele, fala do hermetismo claramente; ele ter colocado o Sol no centro do universo está errado. O Sol não está no centro do universo e, também, as órbitas não são circulares, deviam mais ao hermetismo do que a cálculos astronômicos. Kepler também era ligado por isso; a mãe do Kepler
foi processada por bruxaria. O Newton, então, um dos maiores, assim, o maior físico da história, era totalmente ligado à alquimia. 80% do trabalho do Newton era ligado à alquimia, maneira de prever o fim do mundo e tal. Só que o que é esquecido, e aí que é o outro livro muito bom da François Atés, é o movimento Rosacruz, que pouquíssimo a gente comenta. O movimento Rosacruz teve uma importância enorme no século XVI: era um movimento muito parecido com o Renascimento; os mesmos princípios da Cabala, do hermetismo, da alquimia, tá a mesma coisa. Só que, no
século XVI, ele teve muita força. Ele quem pertenceu foi Comenius; por isso que eu lembrei, foi o Francis Bacon, o mentor do método científico, e também o Jacó, né, que influenciou muito o idealismo alemão. Então, foi um movimento importante que teve figuras que impactaram todo o pensamento, totalmente esquecido, porque nessa divulgação querem colocar de escanteio hermetismo, alquimia e da ideia de que esses autores, como Francis Bacon e Comenius, trabalharam de forma racional por princípios corretos etc. E, como a irmã Ana Maria comentou, o grande centro dessa época de esoterismo era a cidade de Praga. O
Rudolfo I então instalou um centro lá completamente hermético, parece a Florença da época do Renascimento. Então, o grande, na corte dele, tinha lá o grande assessor dele, que era um judeu cabalista, né? Esqueci o nome dele. Então, funcionava essas coisas lá à luz do dia, não era assim, coisa escondida, então funcionava. Viu? E o Comenius é fruto desse movimento Rosacruz, fruto dessa gnose que tinha lá na, hoje, que a gente chamaria Tchecoslováquia, que nem existe mais, né? Agora é República Tcheca e Eslováquia, né? Ele morava onde hoje é a República Tcheca, na Boêmia, que era
outro centro também cheio de loucura, né? Desde de Méia lá, é um centro de loucura. O Jean Rus era de lá, então tinha os irmãos da Boêmia, que tinham um protestantismo totalmente esotérico; ele era dessa linha, né? E o Comenius teve contato com os trabalhos do Francis Bacon, encontrou pessoalmente com Descartes, também outra pessoa que provavelmente teve ligação com o rosacrucianismo, né? Então, ele era um homem que era profundamente influenciado por essas coisas herméticas e alquimistas, né? Ele dizia que conversava, ele dizia que conversava com anjos, então que os anjos eram importantes na transmissão do
conhecimento. Tô rindo para não chorar! E nos sonhos eram importantes porque os anjos falavam para os homens por meio dos sonhos. Então, esse é o tipo de delírio. O Comenius é tido como pai da pedagogia moderna; a ONU reconhece ele como o pai da pedagogia moderna. Teve um grande encontro. E aí que é interessante, né? Porque, se a gente for interpretar o que ele ensinava à luz desse movimento, ficam umas coisas claras, né? Porque ele dizia que queria ensinar tudo a todos, então parece uma coisa bonita, né? Caridosa. Vamos ensinar tudo para todo mundo. Democrática,
né? Aquela imunda Idade Média, só para os sábios saberem? Não! Vamos para todo mundo. Mas é que isso aí tem um sentido, né? Gnóstico, claro. A gnosia é cheia dessas coisas dialéticas: ou é nada, ou é tudo, ou ninguém sabe nada ou todo mundo tem que saber tudo. E depois ele defendia claramente a pansofia. O que é pansofia? Pansofia, como a própria palavra diz, é sabedoria de tudo. Ou seja, é o conhecimento, a velha gnose, claro, né? Então, era um conhecimento misterioso que você teria acesso com determinados caminhos, né? Ele desenvolveu então um caminho para
chegar. Isso, lógico que não usa esse termo. Isso é uma interpretação, mas é bem assim, né? Porque, se a gente for ver bem, por que esses cientistas como Newton, Francis Bacon, Kepler, Galileu e outros, se eles eram tão ligados à alquimia, ao hermetismo, à gnose, à Cabala? Por que que eles estavam preocupados em fazer ciência? Parece ser tão posto, né? Racionalismo e tal. Não, é que isso daí é um princípio da alquimia, do hermetismo, da gnose e da Cabala, né? O que tá em cima, o que você aprende em cima, aprende embaixo, aprende embaixo, aprende
em cima. Então, se eu quiser alçar a divindade escondida, o Deus escondido da gnose ou da Cabala, tanto faz, eu tenho que conhecer bem esse mundo, porque aí, por uma visão dialética, eu vou compreender o mundo do além, né? Então, é por isso que eles gostavam da ciência e tal. E o Comenius é bem essa linha, porque ele tinha ódio da escolástica, né? Então ele foi, deu o primeiro rompimento com a escolástica. O golpe final vai ser no Iluminismo. Então, ele odiava escolástico, odiava São Tomás, odiava Aristóteles. E ele queria ter o conhecimento empírico. Ele
tinha sido muito influenciado pelo Francis Bacon. Francis Bacon era ligado a sociedades secretas. Ele tem um texto muito interessante chamado "Nova Atlântica"; muito do mundo moderno tá lá no "Nova Atlântica". É bem interessante, então ele ficou muito influenciado por essas visões do Francis. Bacon: Então, você entendendo esse mundo, dominando esse mundo, você vai ter acesso ao outro mundo, né? A própria visão da alquimia, o pessoal fala: "Ah, alquimia, todo mundo só queria saber de ganhar dinheiro, que era transformar metais em ouro." Aliás, o Lutero comenta isso, né? No livro, falei, o Lério elogia a alquimia,
falando: "Não, mas a gente tem que ver a alquimia por outro ângulo, não é só para ganhar dinheiro." O Lutero comenta, ele fala que o Quimera é um conhecimento profundo. Ele também comenta sobre a Cabala, também o Lutero. Então, mas o que eu quero dizer é que a alquimia não visa só uma coisa financeira, transformar metal em ouro. Lógico que isso não existe, né? Tinha um monte de falsários que pintavam os metais e vendiam pros trouxas, falando que ia transformar em ouro. Bom, mas era transformar o homem em Deus, né? Então, o conhecimento da matéria
vai levar ao conhecimento do mundo, do Alen. Daí nasceu o método científico, né, que era focado principalmente na indução e não na dedução. Eles tinham horror à dedução, né? O Comenius odiava a dedução. Não que o raciocínio indutivo seja incorreto, mas não por esse ângulo, claro. E não é só o conhecimento indutivo que tá certo, né? O dedutivo também tá certo, só que eles tinham horror ao conhecimento dedutivo, né? Porque a coisa tinha que sair da matéria, tinha que sair alguma coisa da matéria que você pudesse compreender. E o Comenius dizia que o professor... Ele
criticava demais: "Professor, bando de nutes," e tal. Que o professor era só um orientador, era o aluno que tinha que autocompreender as coisas. Tá tudo na matéria, a matéria ensina, a experiência ensina. O professor é só um guia, né? O professor é só um guia. E esse, então, foi o grande momento da Ribeira, a volta aí do ensino, né? Que a gente poderia chamar de primeira revolução do ensino, da pedagogia, melhor dizendo. Foi aí com Comenius que já começou um ataque violento à Escolástica, né, e ao trí e o quadr. Aí a coisa ficou enfraquecida
até o Iluminismo, né? Então, no século seguinte, século XV, houve um trabalho muito bem orquestrado, porque surgiu a maçonaria em 1717. Ela conseguiu estabelecer umas redes de atuação bem fortes, né, no intuito de atacar. Então surgiu o Iluminismo, então, no intuito de criar um mundo novo, né? Essas coisas relacionadas a mundo novo, milenarismo, utopia sempre remetem a Joaquim de Fiore, né? Das três idades. Aí tem mais ou menos duas divisões, aí, grosso modo, né? Utopia e milenarismo. Mas tem, interior, também, uma outra subdivisão que a gente pode fazer, que é diferenciar um pouco o Iluminismo
dessa visão que veio com Joaquim de Fiore do Renascimento. Do Renascimento, eles também queriam criar um mundo novo, mas recuperando uma tradição antiga, das priscas eras, como era conhecido. Então, desde o primeiro homem, havia um conhecimento correto, e esse conhecimento correto foi pervertido pela Idade Média, pela Igreja. Sempre tem a Igreja para ser atacada. Aí se perverteu, e os renascentistas queriam recuperar esse verdadeiro entendimento, essa verdadeira filosofia perene, né? Que foi tumultuada pela Idade Média. Então, os renascentistas queriam criar uma terceira idade, um mundo joaquimita, mas recuperando um conhecimento antigo. Os iluministas também queriam uma
terceira idade, mas algo completamente novo, ou seja, tudo que é do passado não vale mais nada. Tem que ser zerado, acabou, não interessa. Rosa Cruz não interessa, Renascimento muito menos, da Igreja, tem que ser zerado. É, e esse aqui não, tem que passar uma régua pra lá, não serve pra nada. E nós vamos criar tudo do início, acabou. Era bem essa a visão iluminista, né? culminou na Revolução Francesa, por isso que é iluminismo, né? Uma nova revelação. Chegamos à iluminação como tal, né? O Diderot falava: "Temos que inaugurar uma nova era completamente diferente de tudo
que foi." Por isso que ele escolhe, escreveu a Enciclopédia. Tudo aquele ensino para trás, joga no lixo. Agora tem enciclopédia, ensino novo, né? E a Revolução Francesa, inclusive, quis mudar o nome dos meses, ano Z, ano um da revolução, criou o metro, tudo do zero. Direitos do Homem, agora o homem vai ter os direitos dele. Antes, não tinha. Foi tudo uma construção. Então, e aí, eles queriam mudar tudo. E aí, nós vamos ter então o segundo grande momento da pedagogia, de revolução, que vai enterrar, né, o trí e o quadr. Vai acabar. Então, no século
XV, a coisa foi progressiva, né? O Marquês de Pombal, ele foi iniciado na loja maçônica lá em Londres, né? E aí voltou para Portugal e começou a fazer uma reforma no ensino. Na Espanha também aconteceu, na França, aconteceu em dois momentos: um pré-Revolução Francesa e outro durante a Revolução Francesa. O Robespierre falou: "Não, temos que mudar totalmente o ensino." A Comenius mudar totalmente, só que tinha um grande adversário nessa história toda. Aliás, desde o Renascimento, tinha um grande adversário: os Jesuítas. A última muralha da cristandade, ela tinha que ser destruída, porque senão, não dá para
triunfar o Iluminismo. O grande adversário do Renascimento eram os Jesuítas, o grande adversário do Rosacrucianismo eram os Jesuítas, o grande adversário do Iluminismo eram os Jesuítas, porque os Jesuítas controlavam boa parte das escolas, né? Brasil, até na China, eles tinham escolas. Eles tinham um método deles, que era Ritus Studiorum, cuja sistematização ocorreu em 1599. Bem interessante o Ritus Studiorum. Fala lá que tem que ensinar São Tomás de Aquino e tal. Eles davam um bom reforço na retórica e tal. E então, muitos dos Jesuítas eram conselheiros de Reis. Então, não dava para avançar o projeto iluminista
sem os Jesuítas. Não dá, os Jesuítas têm que ser eliminados da face da terra. E aí, então, por... Isso que foi eliminado primeiro em Portugal, depois na Espanha, depois na Áustria, depois na França, até que o Papa suspendeu. Então a ordem foi um desastre para a educação em todos os locais. Né, em Portugal, o número de alunos inscritos e de universitários só foi recuperado 100 anos depois. Foi um desastre. Como no Brasil, foi um desastre; na China, foi um desastre. É uma tragédia. O Iluminismo enterrou… já estava decadente, né? Bem decadente, né? Mas o Iluminismo
enterrou, acabou. Morreu o ensino como tal e conseguiram piorar, né? As coisas sempre pioram. Por quê? Porque vem a Revolução Industrial também, né? Revolução Industrial, Iluminismo e Revolução Francesa têm que ser interpretados como parte do mesmo processo. Aí eu poderia perguntar: o que tem a ver a Revolução Industrial com pedagogia? A coisa é bem mais profunda do que parece. Por quê? Porque até o tempo da Revolução Francesa, como a Revolução só começou na Inglaterra, a técnica, por exemplo, saber construir uma casa, saber construir um arreio, trabalhar com metais, trabalhar com isso e com aquilo que
a gente chamaria assim de indústria informalmente, era ligado às corporações de ofício, né? Então não havia uma universidade para ensinar a pessoa a fazer tal coisa. Isso era aprendido nas corporações de ofício, né? Então era aprendido com… era TR, um artesão. Depois, esse artesão, se fosse o caso, virava um oficial, né? Oficial vem de ofício, né? E depois, se fosse o caso, ele chegava a mestre, né? Então ele aprendia a fazer um bolo dentro de uma corporação de ofício. Ainda na França, na Alsácia, regiões da Alemanha, ainda se preserva ainda alguma coisinha por tradição dessa
coisa bonita das corporações de ofício, né? Então toda essa estrutura da corporação de ofício, que foi a melhor relação de trabalho que já teve na face da Terra, né? Pessoas, às vezes, esquecem de comentar isso. As corporações de ofício eram análogas ao que havia nos mosteiros. Análogas ao que havia na sociedade, a universidade, na realidade, era uma corporação de ofício, uma corporação de ofício de alunos e professores. Ela nasceu dentro de uma conceituação de corporação de ofício. O termo mestre não foi adaptado do… Não foi… o termo mestre já tinha antes, nas corporações de ofício.
O cara era o mestre desse saber, mas antes já tinha mestre dos campos de guerra, mestre de fazer colchão, por exemplo, mestre, orives, mestre em fazer instrumento musical, mestre carpinteiro. Então, ao contrário, não foi: "Ah, os carpinteiros se reuniram. Ó, como é bonito esse título de mestre da universidade, vamos adaptar". Foi o contrário que aconteceu. As universidades é que nasceram do conceito da corporação de ofício. O mestre já tinha antes, né? Usava tanto pra guerra como pra professor universitário. Você vê como a coisa era orgânica, humilde, né? A ponto de vista de um carpinteiro ter
o mesmo título de um professor universitário. Eles tinham o mesmo título: dois mestres. Acabou. E mais, eles eram juízes, né? Então, o poder judiciário na época não era feito por juízes que não tinham ligação com a função, eram feitos por juízes que eram ligado às funções. Em Lisboa, tem a Casa dos 24, que reunia dois pares de juízos para 12 classes de corporações de ofício. Então, se alguém caísse do cavalo porque o arreio não era bom e fosse processar uma corporação de ofício, ele era julgado dentro da Casa dos 24, não por um outro juiz
que não tinha ligação com essa função. Então, as coisas eram muito mais orgânicas. As corporações tinham representação nas cortes, né? E junto do rei. Então era uma estrutura de organização de trabalho muito mais eficiente, mais proporcional ao homem, como nunca teve. Aí, a Revolução Industrial e a Revolução Francesa colocaram um fim nisso. Acabou. E aí se criou a figura do patrão e operário. Saiu da qualidade pra quantidade. Tem um autor muito bom que trata disso, que é o Werner Sombart. O Werner Sombart era amigo do Max Weber, só que muito melhor que o Max Weber.
Esqueça o Max Weber. Vamos ler o Werner Sombart. Werner Sombart interpreta a Revolução Industrial como ninguém. E ele comenta lá que aí começou um processo de coisificação. Não no sentido do Marx, né? Que então os homens começaram a ter relações com as coisas e não mais com as pessoas. No comércio, o que significa isso? Por exemplo, dá um exemplo de alfaiate que também tinha título de mestre até hoje, né? No interior, quem faz calça e não é o dono da alfaiataria é chamado de oficial, até hoje aqui no Brasil eu chamo de oficial. Então, se
for fazer calça com alfait, você vai conversar com o alfaiate, ele vai te medir e você vai ter uma relação pessoal com quem fez sua calça, seu terno, sua camisa, etc. Você tem uma relação pessoal com ele. Depois do advento da Revolução Industrial, você vai numa grande loja comprar uma calça. Você não sabe quem fez. Você só tem ligação com a coisa. Por isso que o Werner Sombart fala da coisificação: sai de relações humanas pra relação a homem-coisa, né? Que agora tá em tudo. Então ninguém vai mais ao banco. Chegar num caixa de banco, você
tem um caixa eletrônico. É coisa, não tem mais relação com um ser humano. E assim vai. Na Escócia, quando teve um modelo de free banking, era proibido ter banco com o nome de marca. Era o nome da pessoa. Então, antigamente tinha até essas coisas e no interior ainda é assim, pequenas lojas no interior, você não fala o nome fantasia, você fala o nome do dono do lugar. É claro, é a casa do Zé, é o artesão do outro, o cara. Que tá lá é o Ferreiro João, é o alfat, e tal, não tem o nome
fantasia. O nome fantasia é uma criação da Revolução Industrial, né? Então, a Revolução Industrial fez a coisificação. Poderiam falar o que isso tem a ver com pedagogia? Tem a ver que começou-se a fazer universidades para formar a pessoa para ter funções na indústria, né? Então, a pessoa não vai ser mais formada para contemplar Deus, para amar, para conhecer a coisa pelo valor em si mesmo, para virtudes; ela vai ter uma função prática. São para funções práticas: trabalhar para ganhar dinheiro, né? Essa visão de se formar na universidade para ganhar dinheiro é do Iluminismo; é uma
visão individualista do Iluminismo. Você tem que ser formado na universidade para ganhar dinheiro e para servir algum tipo de indústria, tá boa? Essa daí que é a função. Então, o Iluminismo passou a dar muita ênfase para as ciências naturais. Tudo era ciências naturais; ciências humanas começaram a ser desprezadas, coisa de gente ultrapassada e tal. Começou a dar muita ênfase à ciência naturalista. Inclusive, José Bonifácio de Andrada era formado em mineração, né? Então, muitas dessas coisas práticas, muitas coisas da matéria, da natureza em si, foram um ensino materialista, um ensino prático e um ensino individualista para
ganhar dinheiro. O século XIX foi inteiro assim e sobrevive ainda hoje, né? Hoje, a pessoa vai entrar na faculdade para ganhar dinheiro, ponto final. Vai ter um outro lado da questão que eu vou abordar agora, porque sempre dá para piorar mais. Depois de São Tomás que a gente vê, sempre um piora; o outro consegue piorar mais. Aí, quando tava tudo enterrar, o século XIX foi uma desgraça, inclusive para historiografia, né? Foi no século XIX que começou a se contestar a existência de Cristo como figura histórica, né? Que nunca ninguém tinha contestado; até os inimigos da
Igreja iam contestar! Começou-se a contestar, a revirar a volta na historiografia, começou a se perverter completamente a historiografia. A pedagogia foi piorando nas bases iluministas, começou a se ignorar mais ainda. O trívia quadril já tava morto, mas o que restava, né? Por exemplo, dissociações entre a organologia de Aristóteles e a gramática que tinha uma forte relação no mundo grego foram sendo perdidas, né? Mas, como eu falei, sempre dá para piorar mais, né? Então, como é que dá para piorar ainda? O Iluminismo dá com a Revolução Russa, né? Então, com a Revolução Russa, com base no
Marxismo, teve, então, o início do chamado ativismo coletivista na pedagogia. Então, os trabalhos do Lênin, ele encarregou Lunacharski para fazer a reforma educacional lá na União Soviética, né? Quem era o Lunacharski? Ele era maçon, estudioso de religiões e marxista fanático, né? Então, ele também era obcecado com coisas de Conté e da Revolução Francesa. Então, ele queria criar na União Soviética a religião materialista; ele disse que a grande religião da humanidade era o materialismo dialético. Então, ele queria fazer templos materialistas dialéticos. Não conseguiu porque depois o Lênin morreu e ele foi defenestrado pelo Stalin. Mas aí
então ele iniciou um processo pedagógico baseado na quantidade. Então, não importa a qualidade; temos que formar o maior número possível de profissionais na União Soviética e eles têm que ser ativistas, ou seja, têm que trabalhar em prol do Marxismo, né? O ativismo... o termo ativismo pedagógico não foi criado por ele; foi adaptado por ele. Foi um inglês, que agora me fugiu o nome, John, John de alguma coisa, que criou esse ativismo pedagógico, mas aí foi adaptado pelo Lunacharski como ativismo comunista de fomentar. Então, para entrar no que a irmã Maria comentou do novo homem, claro,
né? Então, era expresso na pedagogia do Lunacharski criar um homem novo. Claro, o homem soviético é um homem novo, assim como os sionistas de Israel também queriam criar um homem novo, ou seja, sem o pecado original. Aí, quando lá os judeus viram que não, todo mundo continuou nascendo com pecado original, as crianças continuavam fazendo malvadezas e tudo. Aí falaram: "Então, não funcionou esse negócio". Sério, foi assim mesmo. Eles esperavam que iam ser crianças diferentes e tal; uma loucura desse povo! É um delírio completo dessa turma. O Che Guevara falava em "homem novo", não homem cubano;
é um homem novo, um homem revolucionário, um homem novo, né? Ele não vai ter mais esses vícios capitalistas, esses desvios. Então, todo o ensino soviético foi em torno do homem novo, do ativismo e do coletivismo. Então, é materialista ainda, igual à visão iluminista, só que não é mais individualista, né? Vai ter esse jogo dialético típico do mundo. Aí sai do individualismo para o coletivismo. Então, a pessoa, o homem soviético, tem que trabalhar pela coletividade. Como é que isso foi feito lá na prática? Por exemplo, no ensino de medicina. Então, os números lá da União Soviética
estavam formando poucos médicos; temos que formar mais médicos. Como é que a gente faz? Simples: vamos diminuir o número de anos e vamos passar todo mundo! Sério, foi feito isso. Então, os números, a União Soviética chegou a ser, em alguns anos, no anos 50, o país que mais formava médicos no mundo. Então, no número tá bonito, né? Nossa, funcionou, que maravilha! Só que a qualidade despencou a ponto da expectativa de vida. O único país que teve a expectativa de vida que diminuiu na Europa foi a União Soviética. 50 prós. Anos 80, só quem não ia
no médico ou quem pagava por fora, né? Porque sempre tinha a lista, tem um entre os ruins e os bons, é lógico. Agora, os bons exigiam gorjeta por fora. Então, quem queria ter tratamento bom na União Soviética tinha que pagar os bons médicos que lá haviam, uma minoria, por fora, né? Então, era assim que funcionava. Então, foi um ensino de quantidade. Então, você vê o método aqui do Brasil de formar o maior número de pessoas por ano. É um método soviético de dar escala industrial, assim como eu. Tem que produzir mais geladeiras por ano, tem
que produzir mais formandos por ano, claro. Então, essa é a mentalidade soviética. E não basta o aluno servir ao Estado como um escravo, ele também tem que ser ativista, né? Aí, fala: "Ah, então não dá para piorar mais." Sempre dá para piorar um pouquinho mais. Aí, vieram os anos 1960, né, com a Revolução Marxista. Então, era o mesmo método ativista, só que invertido dialeticamente. Então, para Marx, a infraestrutura - quer dizer, toda a relação econômica - gerava a superestrutura. Então, tudo que não é economia pertence à superestrutura. Economia é a causa de tudo. Então, direito,
moral, religião, arte, cultura, qualquer coisa que não seja economia, até o próprio Estado, é causado pela infraestrutura. Então, tudo é em relação à economia, tudo é produção industrial, tudo é relação industrial. Mudando isso, coletivizado, tudo vai sair um novo homem, vai sair uma nova civilização, o Estado vai desaparecer, as nações vão desaparecer e tal, né? Aí, Gramsci, Lukács e a Escola de Frankfurt resolveram interpretar, inverter dialeticamente. "Não, nós nunca vamos fazer uma revolução pela infraestrutura. O operariado não está interessado em revolução. Isso não dá certo." Isso é uma visão antiga, isso é uma visão fordista.
Ele usava a expressão fordista. Tem que inverter, temos que atacar nas escolas. A escola típica técnica do Gramsci, né? Então, tem que atacar na área da cultura. A Escola de Frankfurt fez um verdadeiro ataque, uma desconstrução na cultura, né? O Marx trabalhava: "Não, não podemos estimular só o ódio entre patrão e empregado. Temos que estimular o ódio entre homem e mulher, entre negros e brancos, entre qualquer coisa na sociedade. Nós temos que estimular a dialética e o ódio para promover a revolução." E o ensino tem que ser ativista nessa área cultural, né? Então, aí é
a mesma lógica ativista do Luna Schark, só que em vez de ser na área econômica, virou na área cultural, né? Então, o ensino tem que ser ativista, defender as supostas minorias identitárias e defender uma nova cultura, né? Nos anos 1960, se falava da contracultura, né? Então, nos anos 1960, o trabalho do Adorno e do Marcuse fizeram a desconstrução da sociedade, o esvaziamento da sociedade. Isso daí é bem cabalista, né? O Adorno vai dizer expressamente que o que sustenta o materialismo é a teologia, né? Então, qual que é a razão gnóstica balista para isso? É que
a divindade está escondida, esse mundo não tem nada a ver com aquela divindade. Então, para nós termos acesso a essa divindade, o verdadeiro mundo, nós temos que destruir esse mundo. Então, era isso que eles queriam fazer. Daí que veio a teoria de criticar tudo, reduzir tudo a pó. Isso aqui não vale nada, não tem nada bom. Tem que ser tudo, se possível, tentar achar o terço. Um cuida dos gnósticos e acabou, tá bom? Então, para eles, nada era a dialética. A Deamento estava errada. É pouco. O Marx estava certo em umas coisas, mas também errou
em outras. Descriticavam tudo. Acabou reduzindo tudo a pó, né? O trabalho máximo nessa área, se não me engano, é do Adorno. A dialética negativa, impressionante. Essas figuras do niilismo, do Nietzsche, do Schopenhauer e de outros, que às vezes são interpretados de modo superficial, é visto pela gnose como isso, né? A destruição do mundo. A negação completa desse mundo nos faz conhecer a verdade, né? Por esses jogos dialéticos e tentando achar aquele mundo escondido que nós temos. Assim, então, aí quando se operou a Revolução Marcana, né? Não foi só por causa dele, foi do Adorno e
de outros, né? Mas também dos estruturalistas e pós-estruturalistas. Também diziam que tinha que destruir a linguagem, também, né? Que a linguagem é uma coisa opressora. Então, tem que destruir a linguagem. Novas formas e tal. Por isso que o Adorno também era obcecado com música, porque música não tem linguagem, né? Então, ele achava a coisa mais etérea, a coisa menos material, a coisa que estaria no mundo dos símbolos e que poderia ter um contato com o mundo perfeito, né? Mais ou menos como Marcílio de Ficino, que também ficava ouvindo músicas para ter acesso a esse mundo,
né? Curioso, as coisas vão sendo só requentadas e mudadas, né? Então, o nosso ensino, hoje, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, é um ensino ativista, né? Fruto dos anos 1960, fruto do Marxismo cultural, e convive junto com ele, né? A mentalidade é iluminista de estudar para ganhar dinheiro. Então, tem os dois no mundo inteiro, esses dois lados: a visão iluminista e a visão marxista. Um é estudar para ganhar dinheiro, visão iluminista, e o outro é o ativismo coletivista, identitário, revolucionário, que quer perverter. E esse ensino que nós estamos vivendo agora é fruto, então,
de toda essa decadência que começou lá atrás, né? No pequeno renascimento do século X, se a gente for ver aqueles princípios do ora et labora dos escolásticos. Então, até hoje, aqui em dia, na linguagem vegana, tem muito nominalismo, né? Então, isso aqui é só uma visão panorâmica. [Aplausos] [Música] né?
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