Capítulo 2 - Ensinar Não é Transferir Conhecimento - Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire

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Prof. André Azevedo da Fonseca
Quando o professor entra em sala de aula ele já se mantém imediatamente aberto às dúvidas, às curios...
Video Transcript:
Já nos primeiros vídeos da série nós vimos que um conceito fundamental do pensamento freireano é a ideia de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua construção ou a sua produção. O segundo capítulo vai explicar como é que esse conceito se efetiva na prática. É o que veremos a partir deste vídeo.
Na perspectiva pedagógica da autonomia, quando o professor ou a professora entram em sala de aula eles já se mantêm imediatamente abertos às dúvidas, às curiosidades e às inquietações dos alunos, e também se colocam igualmente atentos às inibições, aos silêncios e à timidez que às vezes impõem obstáculos sérios à formação de alunos participativos, críticos e questionadores. A noção de que ensinar não é transferir conhecimento não deve ser apenas aprendida pelos professores e pelos alunos nas suas dimensões éticas, políticas, epistemológicas e pedagógicas. Mas deve ser testemunhada e vivida na prática.
Não adianta falar bonito sobre pedagogia se a prática não se configura em um exemplo concreto do discurso. Ou seja, no próprio ato de falar sobre a construção do conhecimento, a aula já deve envolver os alunos na própria formulação deste raciocínio. Porque quando todos e todas realmente participam deste exercício do pensamento e se enxergam como participantes, como sujeitos desse processo, essa noção fica clara.
Agora, se o professor, em um curso de formação docente, explica aos alunos que ensinar é criar as possibilidades para a produção do conhecimento, mas ele mesmo contradiz o seu discurso ao interromper a fala dos alunos, ao se mostrar impaciente com as pausas, os acanhamentos e os embaraços que são naturais no processo de raciocínio e de aprendizagem, sua própria aula se torna inautêntica e perde a eficácia. Esse discurso bonito que não é testemunhado na prática é tão falso quanto quem pretende estimular o clima democrático na escola através de métodos autoritários. É tão fingido quanto quem diz combater o racismo, mas quando perguntado se conhece aquela profissional negra, ele diz assim: Conheço sim.
Ela é negra, mas é competente e decente. É preciso ficar claro que a conjunção "mas" naquela frase implica em um juízo falso, ideológico. Aquela afirmação sugere que, por ser negra, não se esperaria que ela fosse competente e decente.
Mas como o interlocutor reconhece a decência e a competência daquela profissional em particular, “apesar” de ser negra, a conjunção "mas" lhe pareceu. . .
natural nessa frase. É exatamente assim que se esconde um julgamento de valor ideológico sob uma linguagem pretensamente neutra. A noção de que ensinar não é transferir conhecimento implica uma postura exigente, autocrítica e às vezes penosa que temos que assumir com os outros.
É difícil, entre outras coisas, pela vigilância constante que temos de exercer sobre nós mesmos para evitar os simplismos, as facilidades e as incoerências. Por mais que me desagrade uma pessoa não posso menosprezá-la com um discurso que, cheio de mim mesmo, decreto sua incompetência absoluta. Discurso em que, cheio de mim mesmo, trato-a com desdém, do alto de minha falsa superioridade.
E por fim, Paulo Freire nos lembra que se o ato de pensar certo não tem nada a ver com as fórmulas preestabelecidas, fechadas e autoritárias, também não se pensa certo naquela atmosfera de indisciplina em que vale qualquer coisa, em que tudo que qualquer um diz está certo, ou naquele pensamento ao mesmo tempo ingênuo e arrogante que não é capaz de superar o senso comum. Sem rigor metódico não há como “pensar certo”. Neste vídeo eu gostaria de prestar a homenagem de Edmilson Rodrigues, da Edudream, aos professores e professoras da Universidade Federal de Pernambuco – terra de Paulo Freire.
E estou aqui com a camiseta da federal. Edmilson é um dos realizadores desta série e nós fizemos questão de incluir esta homenagem para expressar a sua gratidão à universidade e o seu reconhecimento a todos e a todas que participaram de sua formação. Estimulando a sua autonomia, o seu espírito de iniciativa e o seu desejo em se tornar um empreendedor criativo, ético e comprometido com a transformação da sociedade através da educação.
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