Entender a modernidade historicamente, filosoficamente, socialmente, sem entender o romantismo, é sempre uma experiência capenga. Eu vou deixar de matar porque eu não quero matar, porque se eu deixo de matar porque eu sei que eu vou ser presa, daí a motivação já tá errada. Então, quer dizer, ele pressupõe um ser puro, bom, que não existe, que não existe.
Por isso que foi colocado na caixinha do idealismo alemão, porque tem uma certa dose de um ideal que quando você chega, como que dizem, na prática, a teoria é outra, certo? E aí, Gabi, essas coisas assim, cada vez que eu ouço cara de bod, é cada vez que eu ouço essas coisas assim, tipo a palavra inovação, né? a palavra inovação, a ideia de que então a gente tem sempre que melhorar, tem que avançar.
E por que é terrível? Porque de fato tem eh eh os românticos perceberam, né, que a modernidade ela tem uma dinâmica e essa dinâmica é de você continuamente destruir o que existe, fazer alguma coisa nova, ou seja, a escravidão ao futuro. E o romantismo, ao se contrapor toda essa lógica burguesa, instrumental, racional, fria, industrial, moderna, ele volta com uma valorização da natureza.
Sim. Opa. Opa.
Isso é mais atual. Eu não tô colocando aqui, disclaimer um, o problema da crise ou não climática. Não é, não tô falando disso.
Tô falando um pouco mais de abraçar árvore, tipo, pô, a natureza, sabe? um pou, né? Uma coisa mais assim, a eu vou pra natureza que eu preciso sair da URB.
É assim, você não tem escolha, você não tem autonomia, sabe quando fala não porque a gente precisa recuperar a tradição e tal. Existe mesmo uma ruptura, existe um sofrimento, o o o movimento romântico identifica um sintoma real. Mas vai, você acha que você vai viver, segundo a tradição, no workshop, na granja, por três dias?
Ixe, malestar com a modernização. Eu tava achando que a gente ia falar de amor. É normalmente o que se pensa, né?
Inclusive quando você pergunta, "Você é romântico". Normalmente as pessoas entendem que você está me perguntando se eu acho que o amor é o mais importante, mando flores, não sei o quê. Mandores.
O romantismo é muito maior do que o amor. Olá, jobbers. Hoje nós vamos pro nosso quarto episódio da segunda temporada de uma maneira fofa.
A gente vai falar sobre romantismo. Será que a gente é romântico? Será, Pondé, que a gente é romântico?
Olha, assim como a gente vai tratar ao longo da nossa conversa, se o romantismo é uma forma de malestar com a modernização, a gente é romântico. Ixe, malestar com a modernização, eu tava achando que a gente ia falar de amor. Então, é, é normalmente o que se pensa, né?
Inclusive, quando você pergunta, você é romântico? Normalmente as pessoas entendem que você tá me perguntando se eu acho que o amor é o mais importante, mando flores, não sei o quê. Mandores.
O romantismo é muito maior do que o amor. Ao mesmo tempo, o amor romântico tem um papel importante no romantismo, como a gente vai ver. Exatamente.
Então, o romantismo é um movimento filosófico da aurora da modernidade alemão, mas não só, mas surge na Alemanha, não homogêneo, multifacetado, que tem diferentes fases. Então, a gente já começa aqui com um problemaço, que é falar do romantismo, porque ele é realmente plural, eh, como eu disse, né, multifacetado. Ele aconteceu em diversos países e em cada país ele teve uma expressão diferente para isso.
Mas a gente vai, inclusive no Brasil, inclusive no Brasil, mas a gente vai focar eh no romantismo alemão. E eu particularmente gosto muito do tema. Inclusive o meu cachorro chama Sheila, que é um dos primeiros românticos alemães.
E até onde eu sei, o Pundê gosta também. Não gosto também. Foi ele que me indicou um dos principais teóricos que a gente vai citar aqui hoje, o Isaia Burlin.
Eh, que é o maior, né? Um dos maiores, é um dos maiores estudiosos do romantismo na filosofia. Um dos maiores estudiosos.
Raízes do romantismo. Raízes do romantismo, que é um livro que assim a gente recomenda, né? E tem em português.
E tem em português. Exatamente. Três estrelas.
vai vendo, tem em português e é maravilhoso. Então o Isaia Burlin eh tem essa tese de saída, que o romantismo é um malestar com a modernidade, é uma ressaca, é uma reação ao processo de modernização. Queria que você falasse desconfiança.
É, eu queria que você falasse um pouco mais. É, inclusive a gente vai ter chance de falar dentro dessa tese dele porque que ele acha que surgiu na Alemanha, né? Mas assim, especificamente, sim.
Quer dizer, o romântico tomando, usando como um conceito, né? Porque se a gente fosse pós-moderno a gente ia falar romantismos, né? Mas como a gente romantimismo, é, não deixe isso para lá.
O romântico, a figura do romântico é alguém que teria percebido ainda na Aurora da Modernidade de que alguma coisa de negativo estava se passando. Estava pá, né, que a modernização ela não ia entregar o que ela tava dizendo. Ela tinha tinha e tem um processo, um movimento grande de destruição de todo tipo de referência anterior.
E aí, Gabi, essas coisas assim, cada vez que eu ouço cara de bod, é cada vez que eu ouço essas coisas assim, tipo a palavra inovação, né? A palavra inovação, a ideia de que então a gente tem sempre que melhorar, tem que avançar. E por que é terrível?
Porque de fato tem eh eh os românticos perceberam, né, que a modernidade ela tem uma dinâmica e essa dinâmica é de você continuamente destruir o que existe, fazer alguma coisa nova, ou seja, a escravidão ao futuro, né, e a desvalorização total de tudo que existe. E essa desvalorização, ela é estrutural. É assim, desvaloriza mesmo.
Ainda que a gente sabe que o Adorno também grande filósofo do século XX, ele desconfiava, ele tem aquele debate com Balman, né, indireto, se há ou não malestar romântico hoje, né, por adorno, o mercado já engoliu o mal romântico. Só os melancólicos. É, mas assim, tipo, tipo o Nelson Rodrigues, só os melancólicos.
É, o Nels Rodrigues era bastante romântico no sentido do tipo, é, só os neuróticos verão a deus. Exato. Só os melancólicos ainda têm esse essa esse malestar romântico.
Mas que o Balman claramente entendia que o mal-estar com o mundo líquido é herdeiro diretamente do romantismo, né? E pro a dor no romantismo, o malestar romântico, ele já tinha sido encapsulado pelo processo modernizador. E e por exemplo, se você ah se acertar X numa rádio, você ganha um final de semana longo em tirades, com vinho harmonizado, direito ao acompanhante.
Isso é um exemplo do que significa o mal estar romântico. Por quê? E tem uma coisa importante aqui, tirades, sabe?
A cidade, não a pessoa. Tiradentes. Por quê?
Porque tiradentes é uma cidade colonial, né? Na Europa, os românticos podiam recuar até a Idade Média. Olha só, né?
E de fato recuavam, né? Até a Idade Média. Inclusive, como vai aparecer o amor, a importância do amor.
Mas aqui nossa idade média é o período colonial, né? Antigo, eu quero dizer. Então você vai para Tiradentes, que é uma cidade pequena, cheia de restaurante legal, linda de fato, maravilhosamente linda para quem gosta daquele cenário, uma coisa meio bucólica, bucólica e assim e aí você tem a impressão que tá mergulhando no passado, mas você ganhou o final de semana com vio harmonizado.
Quando fala vio harmonizado é um código para você fugir, ferrou, certo? vinho harmonizado e numa pousada descolada. E você ganhou isso porque acertou o nome de uma cantora numa promoção de uma rádio que você é fiel.
Isso significa o romantismo apodrecido que eu adoro. Tirar. É, então o que eu adoro, queria dizer é essa comoditização, né?
transformação em mercadoria, porque o adorno, o grande mal-estar dele com o mundo moderno é a transformação. E por isso eu acho o adorno super romântico. Sem dúvida.
Inclusive achando que aristocrata era mais democrático. Eu não disse isso. Quando que eu disse isso?
Foi alguém parecida com você. Ah, então tá. Que era sua amiga?
Não era, né? Não sou eu. Sou sua amiga nunca foi.
É, nunca foi. Eu não tenho amigas que falam isso. É, no caso.
Então, vamos voltar. o romantismo, então, como um mal-estar em relação à modernização, uma ressaca, um uma reação em relação à modernização. Por quê?
Porque como dizia o Ponde aqui, eu vou citar o o Habermas, um filósofo chamado Habermas, no discurso filosófico da modernidade. A modernidade tem português, tem português, é, é um catatal, ferrado. A modernidade ela, vou falar no primeiro palavrão filosófico, depois vou traduzir, ela precisa, porque ela nega o passado, como o Ponder tava dizendo, ela precisa retirar a normatividade dela mesma.
O que significa isso? significa renegar toda a tradição, tudo aquilo do conglomerado herdado, do conglomerado herdado, que é uma, eu amei esse conceito, tá? É muito bom, é muito bom.
que assim que é da espécie que é nossa, que é desses 1000 anos aí, né, que estão para trás de nós, que fazem de nós, tipo dust in the wind e que a modernidade olhou e falou: "Ah, tudo isso é lixo, superstição, perceito, é, é idade das trevas, é tudo isso aí é Não, agora esclarecimento, iluminismo daqui pra frente, que ele o que ele falou, né, uma espécie de fetístico futuro, né? E então a gente não pode, quando quando o Habermas fala que a normatividade tem que ser retirada de si própria, significa que a modernidade não pode imitar o que acontecia para trás. Ela tem que inventar tudo de novo.
Cara, que tarefa que ela pegou para si, né? É. E e o Herbermans justamente nesse livro ele fala uma coisa que eu vou vou ter que citar nomes de filósofos, né, assim, mas é assim, ele acha que nesse livro que você tem dois grandes filósofos alemães, como ele né, eh, que são representam justamente essa híbris moderna, né, que é claramente uma híbris desmedida, conceito da tragédia grega, né, híbris desmedida, que que é cante e regel.
Cante seguindo o que a Gabi falava, cante porque quer refundar tudo a partir do conceito de razão. Portanto, é razão pura, é razão prática, é o juízo. Ou seja, antes não, a gente vai refundar tudo a partir da própria razão e o Hegel que vai identificar esse processo de construção da razão ao longo da história com com o espírito absoluto.
Então são duas formas da modernidade fundar tudo a partir de si mesma que você falava. E quando você olha para isso, eh, a imagem que me vê na cabeça sempre foi Rmas falando isso da falando não, escrevendo, eu nunca vi ele falar isso no livro. É, ele é a ideia de alguém que quer puxar a si mesmo para sair da movediça puxando os próprios cabelos.
É, só que tá enterrado, né? É. E você, todo mundo que eu nunca vi areia movido, mas em filme eu já vi.
Todo mundo sabe que era removidista. É não. Você tem que alguém de fora tem que tirar você.
De dentro você não consegue. Ou você tem que conseguir segurar em alguma coisa de árvore, sei lá, que aparece nos filmes. Um galho.
Al, é um galho. Tem que tá fora. E você não pode tirar.
Eu mesmo não ia conseguir fazer porque não tem cabelo, mas você não consegue tirar a si mesmo puxando pelos próprios cabelos. tem que estar do lado de fora. Na medida em que a modernização resolveu criar o mundo a partir de si mesma, como você dizia, né?
Ela ela não tem nenhum recurso no passado, na tradição, nada vale, tudo não presta. E aí a gente vê aí isso tem elementos para todo lado. Aí você vê por aí, sei lá, psicólogas lamentando que as crianças não tem limite, que a família Isso.
Meu, você tá escolhambando a família há 50 anos, tá falando que ela não presta, é patriarcal, é opressora, que que você quer? Tem que acabar, né? Aí acaba, aí você fica: "Ah, mas então onde é que vai?
" Aí vem um povo falando uma ideia que eu acho muito fofa, que é a seguinte: família tem que ser construída a partir de escolhas. Você escolhe as pessoas que vão ficar com você. É querem você escolhe desodorante.
Hum. Falando nisso, eu acho, quer dizer, falando nisso não, eu acho que então se só o exterior salva a gente, pondé, talvez a nossa única salvação seja un ETS, né? Ah, você é muito pessimista.
A Gabi é muito pessimista, de fato. É, não, mas se a gente é é assim, algumas pessoas acham que é Deus, que são os deuses e o povo que culta o ET, sem dúvida acha que espera que os ETs saibam mais, sejam mais sábios, né? É assim, é que, cara, o livro do Freud, futuro de uma Ilusão, estraga você para essas coisas.
Estraga. É claro que se fizer sentido para você, né? Estraga a vida.
É tipo a pastoral americana que a gente citou já também. Estraga a vida. Ah, esse estraga grave, muito grave, muito grave.
Causa danos irreversíveis. Porque essa história do do de que você querer resolver o desamparo fazendo movimento regressivo, né? Por si próprio.
É. E você vai buscar etes se o quê. Eu sempre costumo dizer, você quer uma religião, procura uma que tenha no mínimo 1000 anos.
Não pega uma que passou pela Califórnia de jeito nenhum, cara. Uma religião que passou pela Califórnia não serve para nada. Pega uma que tem pelo menos 1000 anos.
Eu não sou amiga dele, tá? Mas voltando ao Kant que você citou, o Burlin eh coloca, né, nessa aurora, início da modernidade que a gente tá tratando aqui, o Kant como e aí não é a ideia só da razão, mas a ideia da autonomia, sim, do eu como princípio organizador que a gente falou no episódio passado. Essa ideia é chamada na filosofia de revolução copernicana, porque a partir do Cantão é esse eu que é o princípio organizador do conhecimento.
E essa ideia de autonomia no Kant aí sim tá muito vinculada à razão, ao conhecimento racional, a uma esperança, vou até colocar na palavra esperança, de que o homem vai dar lei a si mesmo porque ele é um ser racional. Freud, alô Freud. É o Freud escolhamba essas coisas.
Esculhamba. Exatamente. Então, mas de todo modo, canteão gigante.
Eu tenho todo o respeito porque é um absurdo que ele faz na filosofia, mas eh ele tá preso em em raízes racionais, assim como Hegel. E o romantismo, ele tá muito mais próximo aqui do nosso amigo Freud, tá muito mais próximo de um inconsciente. Não se falava exatamente, Freud tá próximo do romantismo, apesar que ele ficaria bravo, hein?
bravo e próximo do Niet também ficaria bravo, principalmente no começo da carreira ele ficaria bravo. É. E então essa autonomia cunhada pelo Kant vai ser levada, por assim dizer, pelos românticos a um outro patamar, mas não o patamar racional, justamente há um outro lugar e que aqui eu vou falar outro palavrão filosófico que é neste momento o Burlin aponta para uma separação histórica entre fato e valor.
Uh, me ajuda. Que que isso quer dizer? Antes a natureza pro homem era a fonte da criação dos valores e do significado.
Quando você separa fato e valor, quando você descreve a natureza e descreve a moral e os valores do homem como coisas separadas, e isso vem na esteira também falávamos no último episódio, Newton, descobertas e tal, a gente vai passando, né, porque tudo faz parte de tudo no limite. Essa separação dá a possibilidade aos românticos de darem um salto em relação a essa autonomia cantiana e propor uma criação de valores a partir deste eu. Mas aí não é racional, é em outra chave, né, Pondé?
É exatamente isso. Assim, eh, pro Berlin, o o Berlin, na realidade é um filósofo que deu ao romantismo o justo estatuto de ser uma escola filosófica poderosa, sem a qual a gente não entende a modernidade. É, né?
ele deu esse estatuto de uma forma brilhante e e sem dúvida nenhuma, assim, a entender a modernidade historicamente, filosoficamente, socialmente, sem entender o romantismo, é sempre uma experiência capenga. Isso que está falando, separação de fato valor, é porque isso aparece claramente no Niets, porque aparece de certa forma no Niet, porque o Niet é um filósofo, alguns dizem que ele é o último filósofo romântico, né? a ideia de que o sujeito pode ser criador de valor.
Exato, né? E o Burlin deixa muito claro que o romantismo ele vai valorizar a ação da pessoa, do agente, muito mais do que o que eu posso dizer que aquilo é bom ou ruim. O romântico valoriza ação, a autenticidade.
A famosa é tem uma frase do Steve Jobs que passa, já passou muito tempo, né? Eh, que acho que é um discurso que ele fez em Stanford, se não me engano. Ah, é.
É que ele fala uma frase que é um uma verdadeira assinatura romântica. Exatamente. Follow your heart.
Isso é a máxima romântica. A ideia para além da frase, que pode parecer uma frase autoajuda, sei lá o quê, a ideia da frase é que se você segue o seu coração, você nunca se perde. Essa é a ideia romântica por excelência, né?
E o coração representaria aqui a fonte de autenticidade no mundo em que o pensamento racional degenera instrumentalização. Ou seja, isso os frankfurtianos perceberam claramente, né? Quer dizer, a racionalidade moderna ela deságua numa razão instrumental.
E o que que é uma razão instrumental? É um palavrão. Vai dar que razão instrumental.
É inclusive nisso aí, né? de forma extremamente dramática, a razão instrumental é uma razão em que só reconhece o seguinte mecanismo: tudo é meio para atingir um fim. Nada é fim em si mesmo, que bate de frente com Kant que tinha uma utopia de que o homem tem que ser fim em si mesmo, né?
E daí ele é um verdadeiro fundador de toda a expectativa de direitos humanos. de respeito do indivíduo acima de tudo, de que a pessoa humana vale mais de que qualquer coisa e vem a razão instrumental e diz assim pro Cante. Não é tudo meio para atingir um fim.
E o romântico olha para isso e diz o seguinte: "Não, isso se você seguir a razão, se você segue o seu coração, o coração não se engana. É, aí você tá sendo autêntico. " É, o coração é é um grande valor romântico, né?
autenticidade. Exatamente. Então, quando a gente fala aqui em separação de fato e valor, significa que agora o valor é criado pelo sujeito a partir de uma motivação interior.
Não é porque ele está seguindo uma regra, não é porque ele está seguindo uma máxima universal como ia propor Kant, porque eh eu, né, a ideia do Kant é que eu sou livre se eu sigo uma lei universal eh porque eu quero, não por dever. Já tô seguindo, por exemplo, vou dar um exemplo bem prático. Vou deixar de matar porque eu não quero matar.
Porque se eu deixo de matar porque eu sei que eu vou ser presa, daí a motivação já tá errada. Então, quer dizer, ele pressupõe um ser puro, bom, que não existe, que não existe. Por isso que foi colocado na caixinha do idealismo alemão, porque tem uma certa dose de um ideal que quando você chega, como que dizem, na prática, a teoria é outra, certo?
Sempre é. Bom, além disso, eh, então quando você coloca a motivação interior como a grande fonte de valor e de criação, a ideia de criação, a gente vai já falar de arte, de tudo isso tá muito misturado no romantismo. Você então postula que os ideais vão ser criados, que eles não existem.
criados a partir desse eu que vive no mundo, que segue o seu coração e que vai circular no mundo da maneira mais livre e se expressar. Tá aí uma coisa contemporânea que é absurdamente romântica essa necessidade doentia neurótica, patológica, de se expressar, quando às vezes não tem nada para expressar, é porque a vida é meio banal mesmo, né? Porque não é obrigado a ter alguma coisa para expressar.
É exatamente. Às vezes não tem nada na cabeça passando. E olha, fazer o quê?
Se o tempo inteiro tiver coisa passando na cabeça, você tá mal. Tá mal, tá mal. Momentos vazios assim, precisa, enfim, essa livre expressão desse e o desenvolvimento era ilimitado.
Então, todas as faculdades estavam postas, as faculdades psíquicas do homem, Sim. onde você estuda, é, não a universidade. As faculdades da cognição, da estética, de tudo isso estavam postas para essa experiência aberta ao mundo em que a ideia de formação é muito forte, que os alemães chamam de buildunk, né, Pumba?
Isso mesmo. O Get escreveu anos de formação de Villemister, que é uma espécie assim de romance modelo, né? ah, dessa noção de que você narra o processo de formação do sujeito.
E eh é engraçado e essa a modernidade, a dependência da modernidade do romantismo, porque assim, o romantismo e os românticos se sentem mal na modernidade. O João Pedra Cotinho, professor, filósofo português, colega da Folha, ele costuma dizer que os românticos amam ruínas. É, né?
Porque os românticos valorizam muito o passado. A gente em algum momento vai ter tempo de falar aqui ou em outra hora, os românticos valorizam muito o passado, né? Então assim, e muitas vezes um passado idealizado e com diferen é e com tá aí um, eu só deixa eu te parar para mostrar que a gente tá falando a diferença e por que o romantismo é um mal-estar da modernização.
Se a modernização é um processo que joga o passado na lata do lixo ou o conglomerado herdado, como a gente tem insistido. Por isso que o romantismo é a contraposição disso, valorizando às vezes idealmente que é isso que Punda tá falando o passado. Mas a tia parou de explicar, mas ele é ele é moderno do mesmo jeito.
É, quer dizer, isso é o porque acredita no a agonia do romântico é porque ele tá, ele tem um mal-estar enorme com o período histórico, com o que tá acontecendo, mas ele é desse período histórico. Não dá para dizer a rigor, tecnicamente que existiria um romântico no século XI. É, o que existe é no século XIX ou final do XI, um romântico que idealiza o século XI.
Isso é outra coisa, porque entendia que a idade média as pessoas não eram vendidas. Sim. Exato.
Aí vem a tal da instrumentalização que nosso amigo Adorno insiste muito, por isso que a gente fala que ele é romântico, tornar as pessoas meios ao invés de fim. Então ela é um mero instrumento, ou seja, ela é um martelo. O martelo ele serve para alguma coisa, a não ser colocar o prego e serve para filosofar.
Acabou com a minha metáfora, vou voltar. Bom, o romantismo então ao valorizar tudo isso, ele acaba criando uma dimensão quase estetizante da individualidade, né? é fruto de uma imaginação, valorização da imaginação, porque pensa, tudo aquilo que é contra o Iluminismo, a razão, as indústrias do comércio, tudo aquilo que é preto no branco, que é iriz oriz, ele vai se contrapor com imaginação, criatividade, expressividade, como vai dizer o filósofo contemporâneo Charles Taylor.
Tudo aquilo que é os anos de formação de Wilh Meister é um romance também outro catatal, mas fica a dica que é lindo acompanhar que é o romance, né, basicamente de que é o início do movimento romântico. Então tem a ver com educação, tem a ver com formação, tem a ver com subjetividade, tem a ver com arte. A história dele, a história numa trupe de teatro e ele vai passando e vai passando.
Um filho de um burguês que quer ser artista. É um filho de um burguês renegado. Veja só os nossos jovens hoje em dia que se dizem comunista, que são pais, faz filme da fina de questionamento da ditadura.
Ela vai ricos, ela vai, ela vai que fazem eh vem da fina flor, da burguesia paulistana, mas chegam na sala de aula, se dizem comunista, amam a natureza, mas a hora que tiverem câncer vão correr pro Sírio e pro aquela coisa assim, sabe? Olha, Gabi, você me lembrou falando vila mais. Não, não, não.
Pode ficar tranquila. Falando Willem, você me lembrou um trecho do romance especificamente em que é assim, Villemter é o filho de burguês que renega a sua origem. Sim.
Seu pai quer que ele siga a lojinha, o Loginha. Ele tem um amigo que tá na mesma condição dele, mas é um cara, digamos assim, bem aclimatado na condição, né? O V ele é tão, né, assim, ele é tão assim que ele ama a Mariane, que é uma atriz, né, e que é amante de burgues ricos mais velhos, porque ela não consegue sobreviver sendo atriz, mas ela não pode contar isso para ele de jeito.
Ninguém pode contar isso para ele, porque se ele descobrir que a Santa Mariane dedicada à arte, por isso que eu falei, ela vende, seu corpo, vende o seu corpo ao burguês rico porque ela não consegue viver, sendo que ele é de origem rica. Ele ele podia dar a ela essa condição de vida. Bom, mas não foi nem esse trecho que você me lembrou, foi outro que é o seguinte, tem uma noite em que o Villemister ele tem uma espécie de surto assim e ele resolve que ele vai finalmente deixar de ser romântico, digamos assim, né?
Vai voltar para casa, vai voltar para casa, vai trabalhar, vai assumir suas responsabilidades e tal. E ele tem uns poemas, umas coisas que ele escreve, eles ele tem um uns bonequinhos de teatro, né, de fantocha, acho que chama. E e ele vai e joga os poemas na lareira, no fogo, queima tudo.
E aí ele vai falar pro seu amigo lá que ele percebeu naquela noite, é, é muito, eu tô contando uma versão curta, é claro, que aquela noite ele percebeu que tava tudo dizendo para ele, que ele precisava então, sei lá, ah, fazer uma ruptura, assumir, sabe, fazendo referências à noite, a estrela, o ar da noite. E aí esse amigo dele vira para ele e fala: "Mas você não devia ter feito isso? Algumas das suas poesias eram boas.
Você não ia jogar na fogueira? Inclusive porque essa coisa de dizer que a noite lhe inspirou e que você descobriu nesse momento, isso é uma bobagem, porque a noite não inspira nada, as estrelas não insina. Esse é o burguês.
É, tá vendo? na sua condição pura. Que nada, estrela, o o universo não fala com você coisa nenhuma, não diz nada para você, é você quem decide tudo que você tem que fazer na vida.
E você foi um idiota, porque você tinha até umas poesia legal. Não devia ter, ele não fala idiota. Eu que tô falando.
Você não devia ter jogado fora. Quer dizer, dá uma utilidade suas coisas. Essa cena.
Essa cena é de caráter didático gigantesco do embate. E você é um bobo. Como que o universo tá dizendo nada para você?
O universo não diz nada. Você experimentou falar com as pedras da praia? É isso que é o universo.
Pedra. Ponda tá dizendo que burguês não faz poesia. É, se ele fizer, ele ganha dinheiro com isso.
Ele ganha dinheiro com isso. E ele tá dizendo pro vilim assim: "Tá passando a responsabilidade pro universo. Você é que fez cagada.
O universo não diz nada para você". Sabe por quê? Porque o romantismo, um dos problemas do do romantismo, principalmente hoje, é que o romantismo, coitado, ele é usado por todo tipo de picareta.
Ele é argumento para todo tipo de picareta. Para todo tipo de picareta. E enfim, outra característica que eu queria trazer aqui, eh, que é muito óbvio para nós, é que o romantismo, ao se contrapor toda essa lógica burguesa, instrumental, racional, fria, industrial, moderna, ele volta com uma valorização da natureza.
Sim. Opa. Opa.
Isso é mais atual. Eu não tô colocando aqui disclaimer um problema da crise ou não climática. Não é, não tô falando disso.
Tô falando um pouco mais de abraçar a árvore, tipo, pô, a natureza, sabe? Um p, né? Uma coisa mais assim, eu vou pra natureza que eu preciso sair da URB.
É isso. É bem tipo de paulistano em crise no Nordeste ou paulistano na pandemia que foi para São Francisco Xavier. Não, eu eu que sou a Eu que sou nordestino, certo?
Então tem um lugar de fala para falar disso. É adoro branco, nordestino, mas sou nordestino, tá no meu RG, pernambucano, molhei na Bahia há muitos anos. Era muito típico ver os paulistanos e as paulistanas tudo neurótico, neurótica, indo passar verão no nordeste, querendo pisar na areia.
A gente achava isso muito legal, natureza. Nossa. Então, mas isso é de fato romântico, porque a ideia de que você foge, porque aí vem, né, o mal-estar com a vida urbana é fato.
A urb é algumas pessoas t, é, não, todo mundo tem. É, não, mas para algumas pessoas precisar saída. É, para algumas pessoas, eh, viver numa numa cidade grande para elas é pior.
Ela prefere viver numa cidade menor, ela não gosta de tanto estímulo. Sim, né? Numa cidade como São Paulo, o tempo social voa, porque o tempo social é resultado das relações materiais.
E como as relações materiais em São Paulo, porque é uma cidade moderna, capitalista, a única do Brasil, a única verdadeiramente capitalista e moderna do país, as relações materiais correm numa velocidade monstruosa, né? Então os românticos, os românticos fogem essa idealização romântica, às vezes pro passado, às vezes pra natureza, e aí idealiza a natureza. E aí tem gente que acha que vai poder viver como aborigene, né?
De repente aí cria que nem quando a gente fazia o trabalho prático do de comportamento contemporâneo, as ecovilas, ecovilas, covilas, vai morar numa casa da urb, comunidades que você vai reinventar a vida. E aí eu acho idealmente sociedade simples, né, que vai dar em sociedade perto da natureza, é covid, é que não seja industrializado, né, inclusive valorizado, tem forma mercadoria, a gente troca as coisas, então e que a gente o trigo pelo seu pela sua galinha, né, e e valorizar a idade média também romantizada aí que vem o amor romântico enquanto tal, é o seguinte, isso é uma contradição romântica, porque o romantismo valoriza isso, Mas ele tá pensando num sujeito moderno, livre das amarras racionais, interesseiras, que só pensa em dinheiro, em eficácia, mas é um sujeito moderno buscando isso. E aí esquece-se de uma coisa.
Quando você funda, por exemplo, essas coletividades, eu adoro essa contradição, quando você funda essas coletividades, essas sociedades idealizadas, você esquece que um um dos pilares delas era você não ter escolha. Aí eu deixo uma dica. Escolha.
É, deixo uma dica para você. Assiste Dog Ville. É bom, [ __ ] filme, né?
É, pr você que não viu, fica a dica porque assim, é onde vai dar, é onde vai dar. Acabam com a great. E você também pode citar num jantar inteligente.
É que bom, é assim, você não tem escolha, você não tem autonomia. Sabe quando fala não, porque a gente precisa recuperar a tradição e tal. Existe mesmo uma ruptura, existe um sofrimento, o o o movimento romântico identifica um sintoma real.
Mas vai, vai. Você acha que você vai viver, segundo a tradição, no workshop, na granja, por três dias? Tradição tem que dizer para você não pode, não é desse jeito, você não tem escolha, tem que viver da forma que vem sendo construída durante muito tempo.
Então essa contradição, ah, vamos viver em coletividade aí, dá em comunidade hip, que era um movimento romântico bastardo, né? vai dar em comunidade hip, você acha a contracultura é romantismo bastardo, né? Você vai dar em comunidade hip, que assim, nós vamos realizar o mundo novo, mas a partir de cada indivíduo, não é assim.
o mundo medieval antigo que for, não existia esse indivíduo livre, não tinha nem estrada, não tinha essa de ter crise no quarto para buscar a si mesmo. É, então, exatamente. Essa e esse, por exemplo, é o tal do comunitarismo.
Comunitarismo extremamente romântico. É um movimento filosófico contemporâneo, eh, que o próprio nome já diz, eu acho, né? meio autoexlicativo.
Eu quase não acredito nada que venha com adjetivo contemporâneo, ismo, qualquermo, é essa coisa, essa como comunitarismo, porque existe o mal-estar. O mal-estar é um dado. É um dado.
E mesmo mesmo depois de tanto tempo, porque para aqueles que são mais ligados à pureza do mal-estar romântico, entende que para você ser romântico você tinha que estar no século XIX. Sim, né? 19.
Quer ser romântico no 21 e você tinha que estar lá numa cidade que tinha um castelo medieval dentro dela, sem luz elétrica, sem calefação, sem banho mais quente no inverno do europeu. É. E não cidade, não na pousada cara para burro em tira dentes, maravilhosa.
É, vinho harmonizado, destrói tudo, cara. Eu não tenho nada contra vinho, hein? É, por favor.
A ideia do vinho harmonizado como marketing aqui, eu acho muito brega, cara. Ô, Pondé, vamos voltar para essa ideia ideia então do eu e que é muito forte, né, dessa subjetividade que se constrói a partir de si, de maneira autêntica, a partir dos seus próprios valores, experiências. Eu recentemente fiz um vídeo da Ti explica lá no meu Instagram que falava, a gente, claro, de novo, como tudo tá relacionado a tudo, a gente já tangenciou esse assunto dessa ideia contemporânea da gente ser um eterno working progress.
Quanto isso é romântico, né? Eu quero ser a melhor versão de mim mesma. Isso dá numa ansiedade, tá?
Estudar numa loucura que assim não tem explicação, porque aí a melhor versão de si mesma para nós mulheres, a gente se ferrou, né? A gente tá pior, porque significa ser a melhor mãe, a melhor esposa, a melhor filha, a melhor sobrinha, a melhor neta, a melhor profissional. Que mais?
Melhor na cama. Melhor na cama. Esquece, hein?
Enfim, amante. As mulheres estão pior nessa aí, porque a gente acumulou uns papel aí, né? É porque a mulher é marcador de modernidade.
Isso. Exatamente. Então essa ideia é romântica.
Isso que eu trouxe lá no corte da tia. Explica que eu queria que o Pondé falasse mais. É romântica porque tem tudo a ver com esse espírito de eu vou me construir, eu vou o o a jornada do Villan Master é uma jornada de formação de a gente acompanha 12 anos com a personagem dele nessa trup de teatro.
Então, tem a ver com a arte, tem a valorização da arte como campo da criatividade, que se contrapõe à lógica instrumental, industrial, racional. Então, tem toda essa valorização e a gente transpõe isso. Olha o fardo, olha o peso, ó o pianão que a gente colocou aqui.
Seja a melhor versão de Sim, mas significa que eu tenho que acordar todo dia um pouco melhor que ontem. [ __ ] merda. Vai dar, vai dar ruim.
Não, já deu. Agora isso que você falou da da mulher pegar um lado pesado disso daí. Tem um monte de pesquisa que fala que nós estamos com burnout.
É, é, não, pesquisa que fala que os homens tendem cada vez mais a ser conservadores e as mulheres a ser mais progressistas, né? Isso inclusive na faixa etária de jovens, né? Ah, e que isso provavelmente é um fato, né?
Eu não levo muito a sério essa oposição conservador progressista quando se transforma em discurso de slogan, né? Mas assim, a mulher, a imagem da mulher moderna é uma prisão maior do que a imagem do homem moderno, homem gênero, não espécie. Por quê?
Porque é como se o homem gênero ele pudesse transitar pela herança do passado de uma forma um pouco menos disruptiva. E quando for disruptiva o será prioritariamente no campo do trabalho. É, a mulher como ela, essa imagem da mulher moderna que o feminismo trabalha, que dá na ideia de progressista, essa mulher, por definição, ela tem que odiar sua ancestral, ela tem que menosprezar sua ancestral, ela tem que ver a sua ancestral, na melhor das hipóteses, como uma idiota, oprimida, ignorante, que não tem nada para ensinar, que não serve para E isso seguramente dá numa ruptura muito mais dramática, porque não é só profissional, é psíquica, é completa a ruptura, é familiar subjetivo.
Então e aí quer dizer, é como se o homem, ainda que moderno, todos nós somos modernos, mal e mal, bem, bem, não importa, o homem tem mais, homem gênero tem mais continuidade. A mulher não, a mulher não pode ter continuidade nenhuma, porque se ela tiver, ela é racionária, ela é idiota, ela é soft girl, ela quer ser sustentada pelo marido. É, e ela é oprimida, né?
É oprimida. Anfã. Eh, vamos sair um pouco do eu e falar um pouco eh falar do ponto de vista sociológico que o Burlin aponta, né, para que pr pro surgimento, pra ascensão do romantismo como um produto de uma nacionalidade na eh ferida, uma nacionalidade alemã alemã ferida, porque nó, né, disse no começo que nós estamos falando de um certo rom romantismo, que é o romantismo alemão, que foi aonde ele surgiu.
Depois ele se espalhou principalmente pra França e pra Inglaterra. a gente tem vários poetas românticos na França também vários escritores, mas ele nasce e aí queria enfatizar esse caráter sociológico, então eh de uma espécie de humilhação nacional que a Alemanha tinha por estar atrasada em relação à França. É esse ou a Inglaterra, desculpa, porque a Inglaterra era revolução industrial, a França era revolução francesa.
É assim, e esse isso é um fato. O Burley mostra isso muito bem, quando inclusive ele vincula o nascimento do romantismo a um certo protestantismo quietista no livro, né, que é o protestantismo alemão quietista, o movimento quietista, quando se fala em quiismo, em espiritualidade significa gente que foge do mundo, quieto. Daí vem o quietismo, é quieto, que não tem nada a ver com a cacofonia de hoje, né?
Não, não, não, que ele na realidade, aí ele vai dizer a Alemanha, esses, principalmente esses protestantes, olhavam pra França, revolução política, Herder, quando vai pra França, todo cara só pensa em vender e toda mulher vagabunda, quer dizer, não tem nenhum parâmetro, não sei o quê. A Inglaterra também só business, indústria, não sei o quê. O mundo é do Satanás, o mundo é do mal.
Então eu recuo, eu recuo do mundo e eu vivo em comunidades isoladas do mundo. E o Burlin vai dizer, ainda tinha um fato que era o seguinte, a Alemanha, que que no século XVI não existia comunidade nacional, é, a gente tá falando para facilitar a conversa. É, é, existiam povos, principados, alemães e tal, mas a Alemanha, para facilitar a conversa, então a Alemanha era uma região atrasada, tão atrasada, que Voltert era o maior sarro, né?
Para ele é o buraco do mundo, né? No no Cândido. Então, assim, a Alemanha ela não tinha entrado na modernização, ela ainda não tinha indústria, ela não tinha estrada, ela vivia na Idade Média e ela tava na miséria.
Por que ela tava na miséria? Porque a Alemanha viveu o que a gente pode chamar muito provavelmente de o maior período de tempo de guerra religiosa na Europa, a famosa guerra dos 30 anos, que na realidade não durou 30 anos, durou 150 anos. Mas se fala 30 anos, o período entre 1618 e 1648, por isso dá 30 anos, que foi o período mais agudo e em que os alemães se mataram sistematicamente, católicos e protestantes, eu quero dizer.
E chegou em 1648, eles tentaram fazer um tratado de paz, não entraram no acordo católicos e protestantes, na numa região chamada vestifália, né? E aí é conhecido como paz de vestalha, porque apesar que eles não conseguiram fazer um acordo, a guerra acabou. A guerra acabou porque quase não tinha mais homem, tinham quase tudo morrido em batalha.
Tinha um monte de mulher grávida, inclusive de violência. A economia tava da miséria, quase não tinha cavalo, certo? Ou seja, como dizia, como dizia o Soran, chegaram à virtude pelo cansaço.
É, né? Então assim, por que que eu tô falando isso? Porque o Berlin ele vai dizer que essa guerra religiosa de 30 anos, que na realidade levou cerca de 150, devastou a Alemanha completamente.
Então a Alemanha, enquanto França e Inglaterra estavam voando, certo? mudança, reajuste na sociedade, revolução política, avanço industrial, tavam, as duas estavam voando, a Alemanha tava lá embaixo no buraco, perdida no passado. Então ele vai dizer que nesse sentido isso deve ter sido seguramente uma causa para que o mal-estar tivesse nascido justamente ali com relação à modernização.
Mas um outro autor que trata disso, Gabi, e depois, né, é o Alan Fickencrow. Sim. No livro dele, Derrota do Pensamento, ele fala muito bem desse impasse entre o Iluminismo francês moderno, Napoleônico e a resistência alemã ao Iluminismo moderno napoleônico, inclusive por conta das invasões napoleônicas naquilo que ser a Alemanha e a devastação dos povos alemães que o exército Napoleônico faz.
E aí o Fickenc vai dizer ali o romantismo se torna resistente à modernização. Você citou o Herder, né? Ele pro Berlin é o primeiro e o é ele e o Haman, os dois pais do romantismo, vanguardistas é a Vanaletre, né, do do do romantismo.
E para eles o Iluminismo parecia matar aquilo que havia de mais precioso no ser humano, que é o rico mundo dos sentidos. Quando eu falei que o romantismo ele colocava uma dimensão estetizante, estetizante na filosofia é sentidos, né? Não é estética no sentido necessariamente.
Exatamente. E nesse sentido eles, o triunfo da ciência, do racionalismo, eles abafavam os desejos irracionais. Por isso que eu tô aqui apontando pro Freud, por isso que a gente falou no começo do episódio que o romantismo, ao fazer frente a tudo isso, ele de alguma maneira preparou um terreno pro Freud paraa psicanálise, né?
Não, à toa que eles inventaram inconsciente. É, os românticos inventaram a palavra inconsciente já existia. O conselho de consciência vem do romantismo.
E assim, o romantismo na realidade, quando você estava descrevendo a agora, o romantismo na verdade é um grande grito contra o desencantamento do mundo. Uhum. Né?
Apesar que o Weber fala que o desencantamento começou com profeta hebraico e não com a ciência, como muita gente acha que ele falou, porque os profetas hebreus começaram a falar que Deus não queria sacrifício, queria que você cuidasse de órfão e viúva, certo? Então, Deus teria eh iniciado o processo de desmagificação do mundo. Quer dizer, não adianta matar bicho para mim, eu quero que você vai cuidar da viúva e do órfão, certo?
Matar bicho não adianta comigo. Quer dizer, quando os profetas israelitas começam a falar isso, é aí que o Weber identifica o nascimento, desencantamento do mundo. Mas o processo de modernização é uma radicalização disso pelo viés científico.
E o romantismo é um grande grito contra o desencantamento do mundo total. Por isso esse universo de imaginação, de sonhos e de sentido, né? É.
E que eles, os românticos, entendiam que a modernização destruía qualquer sentido. Destruía qualquer sentido. Eles erraram.
É de novo, porque ela precisou renegar todo o passado e criar novo o seu mundo a partir de si mesmo ou partir de uma ideia de futuro. E gente, a gente teria de novo, né, minha pauta, a gente teria muito mais a dizer, até porque hoje a gente voa alto, né? Acho que foi o primeiro episódio que a gente fez.
É, romanti que voa alto. É, a gente voou 5000 pés de altura. Primeiro episódio bem filosófico, né?
Mas realmente o romantismo ele tem um lugar especial e numa certa análise da modernidade, do malestar, do eu contemporâneo e etc. E a gente promete voltar a ele num próximo episódio, num episódio futuro, para explorar, porque realmente tem muito mais coisa a ser dita. E a gente se vê então numa próxima.
Até lá. Yeah.