É verdade que Jesus está fisicamente presente na Eucaristia? Veja, essa pergunta surgiu por parte de alguns dos nossos alunos porque em algumas homilias eu tenho falado desta realidade dizendo que Jesus está fisicamente presente na Eucaristia e tenho enfatizado muito isso. E alguém suspeitou dessa expressão, como assim, "presença física"?
Então, vamos esclarecer, é claro, tem que definir a palavra "física", o que é uma presença física, aqui é uma presença que contrasta com uma presença meramente simbólica ou até mesmo espiritual, por quê? Porque Jesus é Deus que se fez homem e, ao se fazer homem, Ele se fez uma presença diferente, uma presença que tem algo de espiritual, porque tem a alma, e tem algo de físico, que é o Seu corpo. Pois bem, o corpo de um ser humano está presente de forma histórica, de forma objetiva, de forma corporal, então não é a mesma coisa de chegar e dizer assim: "Ah, Jesus está presente nos nossos corações quando lembramos Dele", não é a mesma coisa de dizer que Jesus está presente em nós pela inabitação, não, é uma presença diferente.
A Eucaristia tem a presença de um corpo humano, é uma presença substancial, mas é um corpo humano, vamos esclarecer isso daqui, vamos lá, primeiro, o que acontece quando o padre consagra o pão, quando ele consagra o vinho, o que acontece é que tudo que nós podemos levar para o laboratório, aquilo que chamamos presença empírica, testável, que está submetida aos sentidos, continua na mesma, então, o que acontece? Algumas pessoas pensam: "Bom, presença física é presença empírica", errado, não, não é verdade, presença empírica quer dizer uma presença a qual nós podemos ter acesso através dos sentidos e, portanto, é uma presença dos acidentes, porque a única coisa que a gente vê das coisas é o acidente, então, por exemplo, eu tenho aqui diante de mim um livro, esse livro é desse tamanho, mas um livro, a substância de livro, podia ser maior ou menor, podia ser azul, como esse é, ou vermelho, amarelo, podia ser de capa dura, como este ou podia ser numa brochura, podia ser em português, mas esse aqui é em grego, então é um livro, tudo o que eu vejo do livro é acidente de livro, eu não vejo a substância desse livro, mas a minha inteligência é capaz de entender o que é a substância de livro, de tal forma que eu vejo esse outro aqui e digo: "É livro" e aquele outro: "É livro", outro: "É livro", são todos livros, a presença desses livros aqui em cima da mesa é uma presença física e, ao mesmo tempo, uma presença empírica, eu posso experimentar. A presença de Jesus na Eucaristia não é uma presença empírica, porque não tem acesso aos meus sentidos, então eu não vejo os acidentes, mas ela é uma presença substancial, a substância está lá, a substância de um corpo é uma presença física, objetiva, histórica, é uma presença corporal, embora eu não tenha acesso aos acidentes.
Só pra ninguém achar que essa expressão é uma "invenção" minha, vamos ver o que o Papa Paulo VI diz na sua encíclica "Mysterium Fidei", porque exatamente logo após o Concílio Vaticano II, alguns teólogos começaram a por em dúvida a presença de Jesus na Eucaristia e a dizer: "Não, a presença de Jesus é simbólica, é uma trans-significação, é uma transfinalização e iam inventando outras expressões, pois bem, Paulo VI diz o seguinte: "A Igreja nos diz que Jesus é uma realidade objetiva, pois, convertida a substância ou natureza de pão e de vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, nada fica do pão e do vinho, além das espécies, ou seja, além das aparências, debaixo destas aparências, dessas espécies, está Cristo completo presente na Sua realidade física", Paulo VI diz isso, "in sua physica «realitate»", diz o texto oficial em latim, "mesmo corporalmente", "etiam corporaliter praesens", "se bem que não do mesmo modo como os corpos se encontram presentes localmente, porque este livro se encontra presente aqui localmente porque ele tem acidentes, já a presença física de Jesus na Eucaristia é substancial e é por isso que se eu rasgar esse livro no meio, eu não tenho dois livros, eu tenho um livro rasgado, um livro destruído, porque eu já não tenho mais, perdeu algo daquilo que é a substância, então se eu quebro a hóstia no meio, eu posso dizer que Jesus está todo presente no fragmento de cá e todo presente na outra parte de cá porque a presença é substancial, é física, real, concreta, histórica, não simbólica, mas substancial. Num mundo que não entende de substâncias, é claro, isso causa um pouco de escândalo e um pouco de dificuldade, mas é importante nós entendermos isto, quando o padre consagra o pão, a substância de pão não é mudada para substância de Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus, não, a substância de pão é mudada pela substância de Corpo e por concomitância está presente ali também o Sangue, a Alma e a Divindade. Quando o padre consagra o vinho, a substância de vinho é mudada, é transformada, é convertida em substância de Sangue de Cristo que, claro, como está o Sangue de Cristo agora?
Está no Corpo Dele, junto com a Alma Dele, porque Ele está vivo, glorioso e, portanto, como sempre esteve lá também a Divindade. É um mistério. Como diz o papa Paulo VI nesse número 48 da "Mysterium Fidei", "é o maior dos milagres", mas é aquilo que nós cremos, um escândalo para quem não tem fé, mas para nós católicos, é a coluna na nossa Igreja.