Decolonialidade e contra-colonialidade | Caminhos antirracistas | Jean Fontes

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Jean Fontes
Nesse vídeo eu discuto um pouco sobre a ideia de "decolonialidade" que é um conceito que vem surgind...
Video Transcript:
Vamos falar sobre decolonialidade, descolonização, contra colonialidade e tudo isso que está relacionado a essas coisinhas. Para quem estava acompanhando os vídeos anteriores eu venho falando sobre a questão de raça, venho falando sobre essa teoria e essa construção que alguns autores latino-americanos têm feito sobre colonialidade e tudo isso fala sobre como a sociedade que a gente vive hoje é atravessada por padrões coloniais e sobre a gente pensar que nada do que a gente vive hoje, nada do que a gente faz hoje é à toa e muitas coisas que a gente acredita, muitas coisas que a gente sustenta, muitas formas da gente olhar para algo diz sobre uma certa colonialidade e diz sobre a gente manter um certo padrão de opressão que foram impostos para nós. É claro que a gente vai conversando aqui um pouquinho, vou tentar trazer alguns exemplos para que isso fique mais fácil de entender.
Como eu já falei no vídeo anterior aqui no Brasil, por exemplo, teve o fim da escravidão e aí todo mundo começa a pensar: "nossa, que legal! Acabou a escravidão, agora os pretos e os indígenas são grupos libertos, podem fazer o que quiser! " Além de todo o debate da falta de política pública para essas pessoas existe um debate de que esse modelo de colonização só mudou de cara e foi exatamente o que eu falei no vídeo anterior porém a mudança de cara dele não foi só sobre a operação e a violência para o trabalho, mas foi para todos os modos de vida, toda a cultura até porque só sobre o trabalho é esse padrão colonial, esse padrão de opressão não se manteria sozinho, então por isso esse padrão, essa colonialidade está presente em diversas áreas como na cultura, na educação, na linguagem, na medicina, na arte, e entre outras coisas.
É só a gente pensar, por exemplo, o que é o que é visto como arte? Dança clássica, é aquela dança europeia que ocupa esse lugar de clássica. Música clássica, é aquela música europeia.
Se a gente pensar no modo em que a medicina é desenvolvida hoje, em que muitos âmbitos, é claro que já tem uma galera caminhando nesse sentido decolonial, mas em que sua maioria é levado em conta essa medicina em que não dá atenção para os saberes tradicionais, em que anula os saberes tradicionais e vai levando uma coisa totalmente ali medicalocêntrica, medicamentosa, ignorando todos os outros saberes e todas as outras coisas. E aí quando a gente fala decolonialidade a gente fala exatamente isso: é um estado de alerta, é um modo de vida, um botãozinho que você ativa ali em que a partir daquele momento você vai pensar criticamente sobre todas as coisas que você vive. É claro que para isso existe.
. . vai exigir um aprofundamento porque não é do nada que a gente olha para uma coisa e fala "aquilo ali é assim por conta da colonialidade".
E por isso no vídeo anterior eu falei sobre colonialidade do poder em que fala especificamente sobre essa questão da globalização, do eurocentrismo, do capitalismo e como é que tudo isso está relacionado a essa ideia de decolonialidade, mas aí eu ainda vou debater outros vídeos em que fale sobre a questão do gênero, em que fale sobre a questão da religião, em que fale sobre a questão da forma em que os estudos científicos foram elaborados e aí aos poucos a gente vai percebendo como cada coisinha dessa vai alimentando esse grande sistema de opressão, de hierarquia e de atravessamentos, então pensar o termo decolonial precisa também pensar esses outros pontos de colonialidade, onde é que essas colonialidades atingem e como é que elas atingem. Depois que a identificado todos esses pontos de colonialidade, como cada coisa tá ali em um lugar específico e de propósito, o movimento da colonial parte de um ponto de escavação. É você ir atrás da história, é você pensar a história de outros modos, é você começar a olhar lá e pensar que talvez a história do Brasil, por exemplo, não é metade de como contaram para gente É você olhar para os povos negros e para os povos indígenas e pensar que esses povos, na verdade, tem muita coisa para nos oferecer, esses povos já faziam muitas coisas antes da chegada do povo branco, esses povos já produziam tecnologia, já produziam coisas que muitas foram apagadas e muitas se perderam, por isso que muita coisa que a gente vê hoje, tudo que a gente lê hoje, tudo que a gente estuda vai estar lá: "nasceu em tal país da Europa, nasceu na Europa, nasceu não sei quanto na América" e parece que o mundo partiu desse lugar do branco, que o branco construiu tudo que vivemos hoje quando na verdade isso é o que eles nos contam, é o que eles querem que a gente acredite, é a narrativa que é passada para gente quando na verdade tem muita coisa por trás, aconteceram muitas coisas ali que foram apagadas, muita coisa interessante e que foram se perdendo, então por isso que esse movimento decolonial existe para a gente começar a perceber que muita coisa que hoje dizem que foram os brancos, que foram os europeus que construíram foram coisas roubadas e muitas coisas que a gente, que éramos povos negros, povos indígenas povos diversos construíamos e que foi se perdendo exatamente para que a gente não tivesse o contato com esse nosso, digamos assim, com esse nosso poder de criar coisas e de transformar coisas e fosse colocado nesse lugar e aceitasse estar nesse lugar de dependência que foi algo que eu já falei.
Um filme muito interessante que tem, para a gente pensar sobre isso é Hotxuá, um filme que fala sobre palhaçaria indígena em que eles desenvolvem a palhaçaria totalmente com o método deles, com a ferramenta deles, utilizando de coisas que estão ali ao redor deles e faz parte da cultura deles e de mais ninguém, porém se a gente for pesquisar em qualquer outro lugar como surgiu a palhaçaria, de onde veio isso, vai apontar para a Europa e para todo aquele desenvolvimento, quando a gente pesquisa sobre teatro gente vai ler que o teatro nasceu na Grécia Antiga, quando na verdade quando a gente olha com outro olhar para essas coisas, quando a gente olha para essa palhaçaria que tá acontecendo lá na tribo e com certeza não foi algo que nenhum branco ensinou, quando a gente olha para os ritos indígenas, quando a gente olha para toda a cultura africana a gente vê o quanto de teatro tem ali, por exemplo, o quanto de arte, o quanto de música e o quanto aqueles povos construíam coisas e tinham coisas deles e construíam de forma independente sem precisar de ninguém para poder estar ali ensinando, para poder tá mostrando, porém a gente não lê isso em lugar nenhum, a gente não vê isso em lugar nenhum e tudo que a gente vai crescendo, vai ouvindo tá apontando para esse lugar do branco, pro que o branco produziu, por que o branco construiu nos tornando a reféns dessa vida. Um filme muito interessante é o Pantera Negra, porque ele aponta exatamente prq isso, faz a gente pensar como é que seria o mundo se não houvesse todo esse processo de colonização e não seria o mundo ao atrasado, muito pelo contrário seria um mundo muito bem desenvolvido, mas com outros tipos de cultura, com certeza com culturas mais horizontalizadas, com uma outra relação com a natureza, com uma outra relação com a educação, com uma outra relação com os saberes, com uma outra relação com tudo, sabe, mas pelo fato desse eurocentrismo, pelo fato dessa ideia de modernidade que eu já citei no vídeo anterior, ficar aqui na nossa cabeça, ficar aqui no nosso dia-a-dia, a gente fica pensando que, tipo, "Não, ia ser horrível! Não, isso daqui não é bom o suficiente!
Não, credo isso tá muito atrasado! ", entende? Essas coisas todas vão afetando a gente nesse lugar, de fazer a gente olhar para tudo de um modo colonizador e se desconstruir disso é um movimento difícil, se desconstruir desse olhar, criar um novo olhar é muito difícil.
É muito interessante o que o autor Antônio Bispo fala, porque ele aponta para desconstrução desse olhar a partir dos povos tradicionais, a partir dos povos quilombolas e desses povos que têm uma maior interação com a terra, com a natureza e com essas modos de vidas mais tradicionais que estão relacionados aos povos indígenas e aos povos africanos e Antônio Bispo, ele vai dar o nome para tudo isso de contra-colonialidade em que ele diz que a diferença de uma contra-colonialidade, por exemplo, para o termo de decolonialidade é que a contra-colonialidade fala exatamente sobre esse fazer na prática, fala sobre essa atuação ali, fala sobre eu não só falar, eu não só estudar, mas eu fazer, mas eu mostrar, mas eu apontar para aquilo a partir do que tá acontecendo a partir do que tá existindo, sabe? Então ele vai falar sobre os modos de festejos das culturas quilombolas, dos povos tradicionais e aí se a gente olhar para os reisados a gente vai ver muito isso, como eles contam histórias, como eles passam ensinamentos a partir dessas festas, a partir desses festejos, se a gente olhar para as religiões de matrizes africanas e para os ritos indígenas têm essa coisa da horizontalidade, do círculo em que tá todo mundo ali no mesmo nível, numa coisa só, enquanto que as religiões cristãs, as religiões com essa vertigem mais europeia, mais branca, tem essa coisa da superioridade em que todo o resto fica ali sentado, mas tem uma pessoa ali na frente com a palavra, com o poder, com a responsabilidade, então são essas coisinhas que não cabem em um vídeo, que não dá para eu falar que sair falando o que é decolonial o que não é, até porque isso parte de uma pesquisa, parte da vivência, parte da gente tá ali vivendo, experimentando, sabe, todas essas coisas vão apontar quais são as diferenças E uma forma simples da gente percebe a diferença é a gente pensar: viver decolonial é viver sem prejudicar ninguém, é viver valorizando as pessoas, ou contra-colonial é viver valorizando as pessoas, valorizando a cultura, é viver de uma forma múltipla, é viver de uma forma em que você está disposto a ouvir, a acolher o outro e não impor verdade, sabe. É muito interessante pensar que o tempo todo essa essa cultura branca, essa cultura colonizadora, ela impõe um caminho, ela impõe um deus, ela impõe o que é certo e o que é errado, uma coisa a seguir, enquanto essas outras culturas indígenas, africanas impõe vários caminhos, te apresentam a vários deuses, te apresentam a várias formas de fazer uma coisa só, te apresentam várias formas de viver a vida em que todas elas você pode viver, pode ser acolhido pode estar ali junto com todo mundo vivendo em comunidade e vivendo bem.
Então tudo isso tem essa relação também, sabe É a gente ser múltiplo é a gente saber ouvir, é a gente saber acolher, é a gente estar disposto a conhecer o diferente e experimentar o diferente para saber o que é que é, sabe, e é isso. É bem complicado falar sobre a colonialidade, falar sobre contra-colonialidade, porque não é um vídeo que vai responder o que é, sabe? É a vivência.
É mais fácil a gente saber o que não é decolonialidade do que saber o que é até porque, como eu falei, é se olhar para trás e a gente não tem noção de tudo o que aconteceu, muitas coisas foram perdidas, sabe. Então é estar disposto a caminhar ali, olhar para tudo que já passou ver como é que pode utilizar essas coisas que passaram para andar para frente, sabe. E saber dizer não para tudo isso que é imposto, sabe, para tudo isso que diz é esse ponto, é o certo, é o que tem que ser feito e quando na verdade está prejudicando o outro, tá prejudicando milhões de pessoas.
Acho que é isso que é importante para vocês saírem desse vídeo, é essa mensagem é importante que eu quero passar nesse vídeo. Pensem de forma crítica, e se uma coisa tá prejudicando alguém, se uma coisa tá ali excluindo pessoas não é o melhor caminho para seguir, quem diz muito que é bom, o que é certo o que é correto, talvez ainda nem se encontrou e talvez nem viveu o suficiente para saber de tudo ou pior tá com interesse em oprimir alguém ou se aproveitar da opressão de alguém. É isso!
Beijos de luz, me acompanhem aqui no canal, se inscreve, comenta e. . .
:* Fui!
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