aproxima-se a 2ª eleição papal. E dentre as numerosas perguntas que eu recebo sobre este tema é: como eram as eleições papais nos primeiros tempos da igreja? Como foram eleitos os primeiros sucessores de São Pedro?
É disso que nós trataremos no vídeo de hoje. Sabemos que o primeiro papa foi eleito por Jesus Cristo em pessoa. Simão, filho de Jonas, recebeu do próprio Salvador a sua sagrada missão após proclamá-lo, após proclamar Cristo como filho de Deus.
Desde então, inclusive, ele não se chamou mais Simão e sim Pedro. Ao que tudo indica, os primeiros sucessores, os sucessores diretos eh de São Pedro imediatos, eh, foram escolhidos diretamente por ele. Tratavam-se de São Lino, que foi papa de 68 a 79, de Santo Anacleto, papa de 80 a 92 e de São Clemente I, papa de 92 a 99.
Essas datas elas desses primeiros pontificados elas são incertas. Esses três, Lino, Anacleto, Clemente, que inclusive constam no canon romano, foram discípulos diretos de São Pedro e de São Paulo. A segunda carta de São Paulo a Timóteo menciona São Lino entre o os fiéis eh a serviço da jovem igreja romana e São Clemente é mencionado numa carta, na carta de São Paulo aos Filipenses.
Sobre o mesmo São Clemente escreveria Santo Irineu no no século 2, no seu contra as heresias que São Clemente viu os apóstolos e se relacionou com eles. A sua pregação, diz Santo Irineu, ressoava ainda em seus ouvidos e sua tradição estava ainda diante dos seus olhos. Fecha aspas.
Vê se que depois de de São Pedro, que foi, como sabemos, designado por Cristo, lhe sucederam três papas escolhidos entre os seus colaboradores pessoais. Mas desde Santo Evaristo, o quinto papa, e por quase 1000 anos, os papas não seriam escolhidos por uma pessoa. As eleições se dariam eh conforme o uso corrente eh para todos os outros bispos da igreja nos primórdios.
A eleição pelo clero e pelo povo é uma fórmula famosa pelo clero e pelo povo. Isso não significa uma eleição por voto, tal como nós entendemos hoje, é uma eleição com com candidatos, com a competição. Não, a eleição dos papas não correspondia a uma eleição democrática.
Eh, não eram inclusive todos não era o conjunto dos fiéis que designava o pontífice eh no no nos primeiros séculos, um grupo reduzido de clérigos da igreja de Roma escolhia o próximo papa e depois o povo, ou seja, o conjunto dos fiéis, testemunhava que aquele candidato era digno e pedia de forma bastante formal ao próprio clero que ele fosse sagrado bispo de Roma. Por vezes, no entanto, a vontade de Deus, o dedo, a escolha, a eleição direta de Deus manifestava-se de uma forma bastante direta. Inclusive, é o que conta Eusébio de Cesareia na história eclesiástica a respeito da eleição do sucessor do Papa Antero em 10 de janeiro de 236.
Isso está lá no livro 6 da história eclesiástica. abre aspas para Eusébio. Disse que Fabiano, depois da morte de Antero, veio do campo com outros companheiros e estabeleceu-se em Roma.
Ali, de modo muito extraordinário, através de uma graça divina e celeste, foi por sorte designado o bispo. Ao estarem reunidos todos os irmãos para a eleição do que deveria assumir o episcopado, veio à mente da maioria o nome de muitos homens célebres e notáveis. Ninguém pensara em Fabiano, que se achava presente.
Narra-se que de repente desceu do alto do céu uma pomba e pousou na cabeça dele a imitação da descida do Espírito Santo sobre o Salvador em forma de pomba. Diante do fato, o povo todo, movido de certo modo por um espírito divino, com um só impulso e uma só alma, exclamou que ele era digno. Sem demora, apoaram-se dele e fizeram ocupar o trono episcopal.
foi o Papa Fabiano, que inclusive depois padeceria na perseguição de Déci. Eh, pode-se ver e nesse fato uma das primeiras, né, a primeira eleição de um papa por inspiração que estaria durante séculos em uso. Nessa nessas nesses casos, é, de forma unânime, sob a inspiração do Espírito Santo, os eleitores se pronunciavam por uma mesma pessoa.
Isso aconteceu algumas vezes. Eh, o sucessor de São Fabiano, o Papa São Cornélio, eleito eh Papa em 251, ele não foi designado por inspiração. É, mas segundo o modo habitual daquela época.
E nós sabemos como se deu a sua eleição graças a uma carta escrita por um apoiador seu que era São Cipriano de Cartago. Essa carta é muito preciosa a respeito das eleições papais nos nos primórdios. Diz São Cipriano que abre aspas Cornélio foi eleito por um grande número de nossos colegas que estavam então na cidade de Coma.
Colegas, ou seja, bispos. Acrescentando que Cornélio foi eleito bispo por juízo de Deus e de seu Cristo, pelo testemunho favorável de quase todos os clérigos, com concordância do povo que estava então presente pelo colégio dos padres anciãos e da gente de bem. Fecha aspas.
Ou seja, houve a participação de outros bispos do clero de Roma e do povo que concordou com a eleição. Mas as eleições papais nem sempre seriam pacíficas. eh disputas, eh cismas seriam razoavelmente frequentes ao longo da história da igreja.
Afinal, onde está o homem, aí está a triste condição humana. E isso desde cedo, isso não é depois de Constantino, idade, não, desde a igreja das catacumbas. Veja, o mesmo São Cornélio, cuja eleição nós ouvimos aqui e agora São Cipriano descrever, ele foi vítimo de um concorrente, chamava-se Novaciano.
Novaciano era um era um padre eminente de de Roma que se negou a reconhecer Cornélio como papa. Ele julgava que São Cornélio ele era, ele não era suficientemente rigoroso com os laps ou seja, os cristãos que durante a perseguição, por medo da morte, apostataram e depois queriam voltar pra igreja. eh, novaciano, apoiado por parte do clero e uma parte dos fiéis, se proclamou bispo de Roma, se proclamou o Papa.
Ele foi o primeiro, talvez, eh, não dá para tratar disso aqui com com profundidade, talvez o segundo, antipapa da história, ou seja, alguém que declarou-se papa semlo. Terminada a era das perseguições, a igreja necessitou precisar com mais com mais rigor o modo e de escolha, o modo como ela iria escolher os seus chefes. Isso porque com o tempo a dignidade papal, ela começou a ser eh não apenas um cargo espiritual, mas uma dignidade social e até política.
Doravante, a partir da cristianização do império romano, eh um sem número de interesses estariam implicados em eleição na sucessão pontifícia. Isso quer dizer, então, que depois de Constantino as eleições eh pontifícies seriam todas objeto de disputa. Não.
Tomemos tomemos como exemplo os papas dos séculos e 5, que são os dois primeiros séculos de império cristão. Esses dois séculos tiveram juntos 22 papas. No entanto, só há registros de contendas, de disputas graves nas eleições de três desses 22.
Na eleição de São Damas, eleito em 366 com um concorrente, o Antipapo Ursino, na eleição de São Bonifácio I, eleito em 418 com um concorrente, o antepapa Eulo, e na eleição de São Cimaco em 498 com um antepapa, Lourenço. Agora, as outras 19 sucessões papais dos séculos e 5 se deram sem qualquer problema e muitas até com unanimidade. Foi o caso, por exemplo, do Papa São Sirício, que foi eleito por unanimidade em 384.
O mesmo se diga de São Celestino Io em 422, de São Cício Iir em 432, de São Leo Magno em 440, de Santo Hilário em 461, todos eles eleitos com unanimidade. E os demais, se não foram eleitos por unanimidade, ou menos as suas eleições não foram contestadas por ninguém. Agora, o risco de interferências indevidas, o poder político, eh, o risco de formações e da formação de de eleições paralelas que elegessem pontífices rivais ilegítimos, é claro, mas causando distúbios na igreja.
Isso era tudo um risco real na igreja, já no início do século V. E foi para evitar evitar esse risco que em 420 o Papa São Bonifácio I emitiu um decreto. Essa é a primeira vez, ao menos conhecida, primeira vez que um papa adotou uma disposição concernante a eleição, a eleição papal.
O decreto dizia que ninguém é reconhecido como papa após conspiração. E para dar eh maior eh força vinculante, tornar essa disposição incontestável, o Papa Bonifácio eh pediu ao imperador ocidental Honório que emitisse uma disposição legal, oficial, imperial, eh repetindo esse a sua decisão. Sim, em 422, Honório publicou um rescrito que estaria sempre nas nas coleções de direito canônico e que repetia a o que São Bonifácio havia eh decidido.
E é o célebre canon e siduo. Ele diz o seguinte: "Em caso de eleição contestada entre dois pretendentes, nenhum deles será bispo, somente aquele que uma nova eleição designar por consentimento unânime. " E tem-se notícia, né, no começo da igreja de como era a intronização de um papa, né, após a eleição, como ele se tornar, como ele era de fato alçado ao trono de São Pedro.
Bom, um século V havia já uma maior solenidade na ascensão de alguém ao trono papal. Eh, não existia ainda o rito de entronização ou de coroação papal que existiria a partir da Idade Média, mas a partir do século V apareceu já uma uma cerimônia de investidura diferente da eleição em si mesma. conforme o uso da daquele tempo, a eleição eh a eleição papal seria seguida alguns dias mais tarde por uma eh cerimônia solene de sagração.
E a partir do ano 400 é mais ou menos, a cerimônia de investidura do Papa se daria se deu sempre na Basílica de São João de Latrão, que é a catedral eh eh de Roma. naquele naquele tempo dava-se eh da da seguinte forma: a eleição eh ocorria mais rápido possível após a morte do do último papa e a sagração sempre em um domingo, no domingo seguinte. E o bispo de Hostia tinha sempre um papel eh especial e eminente na sagração.
Eh, e ele era eh assistido na cerimônia, o bispo de era assistido pelo por outros bispos da província eclesiástica de de Roma. O ato essencial da sagração do dos papas no século V e seria durante alguns séculos ainda era a imposição de mãos para fazê-lo bispo. Afinal, diferentemente de hoje, os papas dos nove primeiros séculos não eram bispos de algum lugar que eram que se tornavam bispos de Roma, não.
Eles eram geralmente padres, diáconos e talvez até leigos que ao serem eleitos precisavam ser sagrados bispos. Assim, voltando ao século V, após a sagração episcopal se colocava para que ele fosse bispo de Roma, se colocava na cabeça do do novo papa um livro com os evangelhos, lhe davam pálio arquipcopal e por fim ele se sentava no trono da no trono papal da basílica do de Latrão, onde ele recebia a homenagem do seu clero. No final do mesmo século V, uma disputa pelo trono Pontifício e exigiu que que novas e mais precisas disposições e a respeito da eleição papal fossem implementadas.
Foi quando da morte do Papa Anast em 498. A maioria do clero elegeu o Papa São Cmaco, mas uma certa minoria elegeu um certo Lourenço, antepapa. ocorreram conflitos sangrentos e depois dessa dupla eleição, acabou que eh São Simaco ao fim obteve o reconhecimento unânime e depois de obter esse reconhecimento, ele convocou um concílio na Basílica de São Pedro para impedir futuras desordens como aquela.
E no seu discurso de abertura daquele concílio, que foi em primeiro de março de de 499, o Papa São Caco declarou que havia reunido aquele concílio, abre aspas para procurar de que maneira no futuro poderão ser suprimidas manobras dos bispos, confusões ou tumultos populares, como quando se deu quando da minha própria ordenação. Fecha aspas. Ou seja, ele queria impedir que no futuro acontecesse o que aconteceu quando ele foi eleito.
E esse concílio de 499 eh fixou eh algumas condições mínimas para que a eleição de um papa fosse legítima. Duas condições, liberdade de escolha dos eleitores e maioria dos votos. E uma questão eh que eu já vi ser colocada em variados lugares.
Um papa pode nomear o seu sucessor conforme cânisam ao século aos séculos 4 e 5? Não, hoje há grande clareza no sentido de que não, mas houve um tempo em que as coisas não estavam tão claras e um papa tentou fazê-lo. O Papa Félix, em 30 de agosto de 530, caiu doente, acamado, e impôs o pário ao clérigo Bonifácio, indicando ali que ele desejava que ele o sucedesse.
E morreu. Félix morreu um mês depois. Ele não fez que ninguém jurasse nada, que alguém prometesse que elegeria Bonifácio ou algo do tipo.
Somente manifestou seu desejo. E ao cabo é sem nenhum tipo de coação Bonifácio. Segundo foi eleito o Papo.
O mesmo Bonifácio se tornou Bonifácio I. A sua eleição foi válida, mas no fim da sua vida, no seu curto bonificado, de 2 anos, se não me engano, e o Papa, o mesmo Bonifácio I, tentou fazer mais do que o seu antecessor fizera, não apenas indicando quem ele gostaria que o sucedesse, mas ele reuniu um sínodo na Basílica de São Pedro e promulgou uma constituição para designar o diácono Vigílio como seu sucessor. Ele nomeou o seu sucessor através de uma decisão de um concílio e colocou solenemente aquele documento diante da tumba de São Pedro.
Só que aquele ato ele era vedado pelos canones e por isso o o clero romano reuniu-se, foi até ele e disse ao Papa Bonifácio I que o que ele fizera violava as disposições canônicas. O Papa reconheceu seu erro e e na presença de todos os padres e clérigos de Roma, do Senado romano, queimou aquele documento que ele fizera jurar diante da confissão de São Pedro, da tumba de São Pedro com a fal da confissão. Em suma, respondendo à nossa pergunta inicial, no começo da igreja, como era eleito o Papa?
A exceção dos três primeiros sucessores de São Pedro, eleitos diretamente por ele. Nos primeiros séculos, os papas eram eleitos, primeiro lugar pelo clero romano, como nos mostra o registro de Eusébio sobre a eleição do do Papa Fabiano. Dois, comparticipação de outros bispos, como nos mostra o registro de São Ciprian sobre a eleição do Papa São Corné.
três, com aclamação do povo romano. Os primeiros séculos da Idade Média, no entanto, demonstraram que era necessário que a igreja tratasse com maior rigor esse assunto que era de importância vital para ela. Isso porque as a as interferências dos poderes deste mundo, primeiro, os ostrogodos no século VI, os bizantinos no século VI, os francos no século IX, as famílias romanas e os imperadores germânicos dos séculos 10 e 11.
Tudo isso fizeram que a igreja decidisse no século X reservar a eleição dos seus chefes para um grupo seleto de homens, o colégio de cardiais. Essa decisão caberia ao Papa Nicolau II em 1059. E no nosso próximo vídeo nós compreenderemos como essa decisão foi tomada, por exatamente porque o que qual foi a qual foi a causa próxima da decisão de Nicolau II nesse sentido.
E quando, menos de um século depois ou um século depois, além da eleição pelo colégio de Cardiais, foi implementada também a regra dos 2/3. Se você quer entender como as eleições papais foram se aproximando a a se tornar como são hoje, não deixe de assistir os próximos vídeos. Se você não estiver inscrito no canal, se inscreva e e ative as notificações para não perder os próximos vídeos.
Até mais. M.