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Video Transcript:
Pela presença pessoal, uma alegria, uma alegria retornar mais uma vez ao YouTube. E por que mais uma vez? Porque, desde 2013, eu produzo aquela palavra que se banalizou muito no contemporâneo: produzo conteúdo. E, desde 2013, nessa jornada, entregando vídeos, deixando aulas, deixando materiais. Só que, em mais de uma oportunidade, eu precisei parar de trabalhar no YouTube, e isso aconteceu mais uma vez no ano de 2024, o ano que eu havia estabelecido para retomar o meu trabalho no YouTube. Muitos de vocês estiveram comigo nas aulas ao vivo que ministrei sobre o descobrimento do Brasil, Paulo
Freire. Só que não estava, obviamente, em meus planos atuar naquela que é a pior tragédia já vivida no estado do Rio Grande do Sul, uma das piores de todo o nosso país. Então, eu precisei parar, parar com todo o meu trabalho, com as aulas que eu tinha para ministrar. Eu precisei interromper todas as minhas atividades, uma vez que eu estava numa fase de retomada no YouTube, obviamente. Aqui acabou sendo um dos últimos espaços de retorno, né? Então, eu tinha muitas aulas para ministrar que estavam atrasadas, livros para escrever, materiais para corrigir, alunos para atender. Afinal
de contas, em resumo, eu fiquei por mais de 70 dias dedicado apenas a tentar, dentro das minhas possibilidades, ajudar as pessoas que foram decisivamente impactadas por essa tragédia. Então, chegou o dia, chegou o dia de voltar, e eu estou feliz por isso, ansiei por isso. Eu tenho como pretensão, neste ano de 2025, caso, evidentemente, não ocorra alguma tragédia, alguma circunstância que não esteja no meu controle, eu espero ter um ano de 2025 produzindo muitos conteúdos. A palavra que mencionei, tão banalizada, e hoje, para marcar esse retorno à minha produção, quis é polêmica, quis provocar. Eles
querem o barulho, eles querem algazarra, eles querem o historiador do povo na sua versão proctologista. E eu, obviamente, aceitei o chamado, um chamado provocativo, mas, ao mesmo tempo, do seu ponto de vista intelectual, eu acho ele necessário e importante. Então pediram que eu analise e comente "1889", de Laurentino Gomes. O Laurentino Gomes me bloqueou nas redes sociais, vez porque eu fiz uma pergunta sincera: se certos argumentos apresentados neste livro saíram de seu cú. Ele me bloqueou. Não sei se foi por esse argumento — uma pergunta sincera, uma pergunta socrática — ou se foi por uma
outra afirmação minha, quando disse que se eu comesse uma sopa de letrinhas, eu cagaria um argumento melhor do que aqueles que o Laurentino Gomes apresentou. Aqui, para além dessas minhas manifestações socráticas, com latim em dia, eu quero conversar tecnicamente sobre isso. Esse é meu objetivo. Não estou aqui pelo lacre, não estou aqui pelo corte. A equipe que trabalha comigo — eles, sim, os seus respectivos agentes — estão sedentos pelo sangue. Eles querem cortes, eles querem likes, eles querem inscritos, e eu estou nem aí para tudo isso. Eu estou aqui, sim, para a história brasileira. Afinal,
eu me considero um filho de Frei Vicente do Salvador, o nosso primeiro historiador. Então, qual é o meu objetivo aqui, pessoal? Vamos lá. Eu quero reforçar, para além das polêmicas, para além das divergências fáceis, para além das obviedades, o meu objetivo é o de analisar tecnicamente "1889", o livro de Laurentino Gomes, um bestseller conhecidíssimo. Laurentino Gomes é o autor, né, de outros bestsellers: "1808", "1822", sua trilogia sobre a escravidão. Quem é meu aluno, principalmente dentro do meu grupo de estudos, já sabe. Já analisei o Laurentino Gomes com toda a seriedade que, na minha percepção, qualquer
autor de fato merece ser analisado. Vamos lá, o que eu preparei aqui pedagogicamente? Eu separei alguns trechos e quero lê-los e comentar cada um deles. É isso, é isso. Entendam algo: é um livro de verdades fáceis, muitas vezes também um livro de meias verdades, e também acaba sendo um livro permeado de mentiras. Mas, além de dizer tais questões, afirmas etc., eu quero comprovar isso. Só que o livro tem, em matéria cronológica, acontecimentos prévios ao golpe republicano até o início da presidência de Campos Sales. Ou seja, é um tema de longa duração. Vamos aqui, só para
exemplificar, que parte da guerra do Paraguai. E é só uma exemplificação. E vai até o segundo presidente civil da nossa história. Então, tivemos o golpe republicano, Deodoro da Fonseca assume como presidente provisório, e depois aí sim, o presidente legitimado pela constituição de 1891. Na sequência, a partir de um golpe, de um modo ilegal, segundo o próprio regimento constitucional republicano de 1891, assumiu Floriano Peixoto. Depois de Floriano Peixoto, Prudente de Moraes, e depois de Prudente de Moraes, Campos Sales. Ou seja, no sentido de cronologia histórica, é um livro de longa duração, e é um livro que
tem aí suas mais de 400 páginas, se eu não estou enganado. É isso mesmo, claro, contando índice etc., mais de 400 páginas. Então, evidentemente que na minha vida de leitura, o livro de 400 páginas é um livro médio. Mas, no cotidiano de muitos, falar de 400 páginas parece assim que é um número muito grande, que é algo que demanda um tempo, um esforço. Mas, como o livro de fato tem problemas estruturais, se for fazer uma análise minuciosa, eu realmente precisaria — e não é um eufemismo, não é um exagero, não é uma hipérbole — enfim,
eu precisaria quase que página a página. Então, selecionei assim trechos, digamos, mais grosseiros, os mais problemáticos. Deixei todos, evidentemente, anotados para conseguir conversar. Primeiro, eu não sou contra, quero deixar isso claro, livros simples que, digamos, toquem, discutem, versam sobre temas relativos à nossa história. Meu ponto de divergência com Laurentino Gomes não está objetivamente na simplificação. Eu acho que há espaço, sim. Para uma discussão pedagógica, eu acho que é, sim, espaço para facilitação dentro do processo de apresentação de um tema. Tudo isso, esse não é o meu problema. Não é nem de perto a minha questão.
É que existem maneiras de você facilitar, de você apresentar. Porque, dependendo, o limiar é um pouco sensível; a tentativa de facilitar você acaba banalizando, você acaba reduzindo, você acaba simplificando de um modo que você, de fato, não está ensinando. Você está reduzindo todo um processo a banalidades, questões menores. Por exemplo, o livro vem com aquela perspectiva de apresentar o que normalmente não se discute. Mas quem fez cursinho pré-vestibular, muito provavelmente, deve ter aprendido boa parte dos temas que o Laurentino Gomes traz em 1889. Poderia citar o 1808, 1822, de um modo, senão igual, muito similar.
Exemplo: Dom João VI, gordo, corno, comedor de coxinhas, etc. Todas essas configurações estão atreladas, essas imagens, essas simplificações estão atreladas a já uma estrutura comum. Estranho, de fato, quando você tenta mostrar que, além de determinados aspectos pessoais tidos como anedóticos, acidentais, menores, pitorescos, como queiram classificar, Dom João ainda foi um homem que tinha tais, tais, tais qualidades, etc. Então, o que acontece? Não há aqui uma distinção clara daquilo que aprendemos na escola com aquilo que o livro apresenta. As simplificações colocadas em 1889 vão ao encontro e não de encontro ao modo como se ensina história
do Brasil, se apresenta dentro do espaço escolar. Eu digo isso porque sou professor, sou professor há mais de dez anos, já ministrei aulas, para assim, realmente, sem hipérboles, né, milhares de alunos. Fui estudante, fiz cursinho pré-vestibular, tenho amigos, convivi, etc., etc., etc. Ou seja, não é um ambiente que me causa estranheza. E, como eu sou um professor que tem alunos dos mais diferentes espaços, logo, consigo ter, assim, né, o aluno que estudou em São Bernardo do Campo, outro que estudou em São Paulo, outro que estudou em Florianópolis, Teresina, Aracaju. Então, eu consigo ter um mapa
de que o livro não está distante do que normalmente se apresenta sobre o 15 de Novembro. Então, quero deixar só claro isso: eu não sou contra simplificações, desde que estas sejam feitas com qualidade, para justamente não banalizar conteúdos maiores, mais expressivos, mais importantes, mais complexos, etc. Certo, bem, espaço de longa duração. Utilize, inclusive, o maior, pois estamos falando de algo grande, volumoso, complexo, de longa duração. Quais são os processos, as razões para que o império caísse? Algumas, por exemplo, questão religiosa, questão militar, o fato de Isabel ser mulher e não se apressem, sem fiasc, sem
exageros. Não é um discurso de endosse à pauta feminista, etc, mas o fato de Isabel ser mulher, num país como o nosso, segundo João Camilo de Oliveira Torres, era, sim, um empecilho, era, sim, um problema. Ainda, além dos pontos que já mencionei, existe, sim, a parcela relativa à composição da Lei Áurea, existe ainda uma organização política pré-existente desde a década de 70, de organização de um partido republicano. Ou seja, tem vários fatores que culminaram na queda do império. Vários fatores, vários. Eu gosto de trabalhar com a seguinte analogia: lembrem-se da máxima "o inimigo do meu
inimigo é meu amigo". Ou seja, nós temos vários grupos em oposição ao império que têm um inimigo comum; logo, são aliados circunstanciais. Depois do 15 de novembro de 1889, foi sangue, porrada, na madrugada. Esses grupos começaram a divergir, começaram a disputar poder, começaram, de fato, a tentar, em alguma medida, ocupar um espaço. Então, militares, setores do clero, setor agrário, setores republicanos gradualistas, republicanos já carbonários, revolucionários, republicanos de uma linha um pouco mais positivista, outros de uma linha, digamos assim, com uma interpretação divergente, numa perspectiva de como a república deveria se configurar, mais federalista ou não.
Aí esses grupos começaram a brigar e, de fato, até hoje, né, o Brasil não se encontrou enquanto república. Tá? Primeiro que república também, cabe uma adendo, não é um modelo político. República é uma qualidade política. Então, façamos aqui só uma distinção: tá? O Brasil tem um modelo político. Qual é o modelo político? Ah, presidencialista, etc. Então, república é uma qualidade, uma qualidade política. Por isso, inclusive, que Dom Pedro II, é que cabe só uma adendo, ele gostava da república. Mas aí o que acontece? Ele recebeu leituras como se ele gostasse do sistema republicano? Não, ele
gostava da qualificação república. Então, república, vocês devem se recordar: coisa pública. Então, ponto. Então, vamos lá, falei, falei, falei, falei. Espero ter contextualizado quais são as minhas, digamos, pretensões. Trechos devidamente anotados, vamos lá. Página 192. O que aconteceu também só para vocês se ambientarem é que eu já fiz um exame do 1889 no meu Instagram e foi justamente nesse exame, a partir, digamos, de um contínuo processo analítico, que comecei, de fato, a fazer as perguntas mencionadas. E, como eu sou um filho de Graciliano Ramos, eu considero que a palavra foi feita para dizer. Vamos lá,
primeira manifestação: a velha tese de que a república brasileira, a partir do protagonismo de Teodoro da Fonseca, ela se desenvolveu naquilo que eu gosto de chamar de solidariedade peniana. Vocês vão entender. Página 192 do [Música] 1889, nessa disputa, Deodoro levou a pior. Qual disputa? Volto algumas linhas. O estourador Al Silva afirma que a briga entre os dois, Gaspar Silveira Martins e Deodoro da Fonseca, tinha origem em uma competição em que aparece uma bela senhora da época, que seria a Baronesa de Triunfo, viva, bonita, elegante, fazendeira e filha do general gaúcho Andrade Neves. Nesta disputa relativa
à Baronesa do Triunfo, Deodoro da Fonseca levou a pior na comparação com Silveira Martins. Silveira Martins, segundo Laurentino, coloca um homem galanteador, mais culto, inteligente, viajado do que o marechal, teria conquistado o coração da bela baronesa. E desde então, as relações entre os dois azedam de vez. Notícia da escolha de Silveira Martins para chefiar o ministério de Dom Pedro I na noite de 15 de novembro de 1889, que levaria o até então relutante Deodoro a aderir definitivamente à República. Como se verá em capítulo mais adiante, vamos lá, vamos lá: esse tema é interessantíssimo. Ele é
interessantíssimo porque nós percebemos como o Brasil, em alguma medida, se repete. Muitos aqui falam da nossa Independência. Certo, ela foi configurada da seguinte maneira: Dom Pedro voltou da casa da Marquesa de Santos, estava ali com aquilo que nós gaúchos chamamos de "chur", então estava com chur, caganeira, montado numa mula e, ao voltar então da casa da Marquesa de Santos, o Brasil foi decente. Ignora quase que por completo, em primeiro lugar, o significado simbólico do que é uma Independência e ainda ignora, de uma maneira completa, essa simplificação: todos os debates relativos à configuração pré e pós
Dia do Fico. Ou seja, ignora de fato toda a construção que culmina na nossa Independência. Afinal de contas, quando pensamos nesse ano de 1822, a independência brasileira não foi um Everest que simplesmente apareceu no meio do nada. Muito pelo contrário, existiram processos históricos: a formação do Partido Brasileiro, tentando disputar de fato em Portugal uma presença política mais substanciosa; as insatisfações de José Bonifácio, de Antônio Carlos, de Martim Francisco de Gonçalves Ledo. Essas insatisfações chegando dentro do cenário nacional, o protagonismo de Leopoldina. Ou seja, tem uma série de fatores, e o 7 de Setembro acaba sendo
uma data síntese, mas a independência do Brasil não foi definida ali necessariamente. Ali é uma data síntese, bem, mas perceberam, né? Tem o tom peniano, um tom fálico, né? Ou da casa da mãe, agora na Proclamação da República? O republicano também tem esse tom fálico, esse tom peniano. Então, o Deodoro da Fonseca sentiu uma dor, né, nos testículos. Gaspar Silveira Martins apareceu então com esse argumento, e Deodoro da Fonseca aderiu decisivamente ao movimento. Esse argumento é muito frágil, pessoal, ele é muito frágil. Ele ignora toda a presença política de Deodoro da Fonseca nas organizações militares
durante as décadas de 70 e 80 do século XIX. Ele ignora, por exemplo, a força simbólica efetiva de um episódio como o de Sena Madureira, que é um episódio que demonstra que Deodoro da Fonseca — e aqui eu só quero usar uma linguagem pedagógica — ele era, antes de um militar a serviço da coroa, um militar a serviço do exército. Isso ele deixou muito claro. As maneiras como Deodoro da Fonseca divergiu e se opôs a políticas que ele entendia como simples desmandos por parte de Dom Pedro I. Muitos dizem assim: "Ah, mas Deodoro da Fonseca
era monarquista." Não. Deodoro da Fonseca tinha uma relação pessoal com Dom Pedro I, mas ele, mais de uma oportunidade, deixou claro que ele era militar. Então, antes de ser monarquista, Deodoro da Fonseca era militar. Ele era um homem forjado dentro do exército nacional. Deodoro da Fonseca, enquanto militar, merece muito respeito. Muito respeito! Deodoro da Fonseca tomou tiro na bacia durante a Guerra do Paraguai. Segundo o General Osório, Deodoro da Fonseca é o maior militar da nossa história. General Osório disse isso certa vez. O General Osório foi premiado, ia ser condecorado, etc., e ele disse: "Não,
eu quero também homenagear aqui Deodoro." Então, se o General Osório definiu Deodoro da Fonseca desse modo, quem somos nós para discordar? Simples assim. Então, como militar, Deodoro da Fonseca merece todos os louros, os elogios. Agora, como líder político, foi de fato um protagonista de páginas terríveis, e eu quero poder falar disso. Então, os grupos republicanos: nós tínhamos desde a década de 70 um Partido Republicano organizado; nós tínhamos uma elite agrária atrelada, muito envolvida na composição e compreensão política republicana; nós tínhamos, digamos assim, republicanos de última hora, exemplo Rui Barbosa, que tinha uma perspectiva mais federalista.
Não era necessariamente um republicano, mas também não era um monarquista. Nós tínhamos setores militares dentro do próprio exército, frações, porque, por exemplo, Benjamin Constant, Deodoro, Floriano atuaram no golpe e enxergaram a República de três maneiras distintas. Então, simplificar que de fato a adesão de Deodoro deve-se a essa especulação em torno do nome de Silveira Martins é muito pequeno. Agora, eu não descarto, dentro das conjunturas da vida privada, que, quando o nome do Silveira Martins apareceu, obviamente o Deodoro não gostou. Mas e as razões para o não gostar? Ultrapassavam, inclusive, a Baronesa de Triunfo. Havia razões,
razões no plural, inclusive, interpretações políticas, inclusive vínculos dentro da realidade, dentro da estrutura do Rio Grande do Sul. Não se esqueçam: Deodoro da Fonseca esteve no Rio Grande do Sul. Hermes da Fonseca, que viria a ser presidente do Brasil, é sobrinho do Deodoro da Fonseca. Hermes da Fonseca nasceu em São Gabriel, cidade gaúcha, inclusive a cidade do Mascarenhas de Morais, que foi o comandante da FEB. Então, tudo isso para dizer o seguinte: o argumento de uma adesão de Deodoro por causa do nome de Silveira Martins, e que o nome causou uma rejeição, e todos os
outros aproveitaram-se então dessa dor peniana de Deodoro é um simplismo. É um simplismo! Muitos de vocês daqui a pouco começam a pensar assim: "Ah, mas professor, eu vi no YouTube um corte do monarquista A, do monarquista B dizendo isso." Tá errado! Tá errado! Quantas vezes eu já li, já ouvi monarquistas ou historiadores tentando defender a monarquia, colocando exatamente esse argumento como uma questão decisiva para o golpe republicano, ignorando, por exemplo, as debilidades físicas de Dom Pedro I, questões religiosas, questões militares e outros fatores que eu já comentei aqui ou então não comentei ainda. A própria
Isabel, isso é colocado naquela trilogia maravilhosa, escrita pelo Heitor Lira sobre Dom Pedro I. Ela bem define que a República no Brasil aconteceria, ela aconteceria. Ela tem uma interpretação. Heitor Lira coloca que a República aconteceria de um modo gradual. Ou seja, Isabel... Não está necessariamente dentro desse entendimento, aderindo, obviamente, ao 15 de Novembro, mas ela fazia uma leitura de conjuntura e ela tinha, sim, compreensão política bem consistente. Sob ponto de vista intelectual e sob ponto de vista social, ela havia olhado pelos caminhos políticos que a nossa elite parlamentar tem tomado. A república vai acontecer; ela
imaginou, evidentemente, que fosse exatamente naquele cenário. Então, sobre a solidariedade pernana, que eu aprendi assim na escola, aprendi assim no cursinho: Deodoro da Fonseca, até por ser gaúcho, ah, Deodoro da Fonseca, ele aparece desse modo. Aí nós temos Silveira Martins e aí páginas, inclusive, gloriosas na vida de Deodoro, elas são ignoradas, é claro, né? A própria adesão de Deodoro ao golpe, uma adesão esta que, sim, foi decisiva. Deodoro era uma lenda militar, mas ela foi decisiva até um certo pedaço; não à toa que o próprio Deodoro não aguentou, de fato, a divergência parlamentar, o cenário
de oposição que ele encontrou já, né? Presidente eleito constitucionalmente, ou seja, Deodoro não era simplesmente alguém que mandou a esmo. A sua adesão não foi feita, então, a esmo; ele somou-se, certo? Bem, um outro nome que, uma vez que Campos é mencionado e que é um problema do livro, tá, é a ausência do Francisco de Assis Rosa Silva, que muitos de vocês nem sabem, nem imaginam, né? Quem foi? Ele foi simplesmente o vice-presidente. O Campos foi presidente e o vice foi o Rosa Silva. O que acontece? Assim, se é um livro que quer mostrar a
história republicana nunca vista, essa coisa toda, aquilo que você não aprendeu... enfim, com todas essas promessas, o Rosa Silva tinha que ser mencionado. E por que tinha que ser mencionado? Porque ele, simplesmente, no exercício da vice-presidência, tá, ele mandou bombardear até adversários. O primeiro centro comercial no Brasil, aspas aqui, tá, sem ser anacrônico, é só para ser pedagógico, tá? Aquilo que, enquanto centro comercial, antecede um shopping. Então, não quero ser anacrônico; eu quero só usar, assim, um elemento análogo. Ele mandou bombardear na cidade do Recife. Então, imaginem só: é um vice-presidente usando o aparelho de
Estado para mandar bombardear adversários. O Rosa Silva me faz gostar até do Alem; é nesse nível. É nesse nível, então, é impressionante. Então, um livro que quer apresentar uma história nunca vista poderia ter discutido tranquilamente que nós tivemos o vice-presidente que, inclusive, veio das fileiras conservadoras do império. O Rosa Silva teve uma formação dentro do partido conservador, então ele foi importante dentro do cenário político pernambucano. E pegou, então, suas divergências locais e, no exercício da vice-presidência, ele foi lá e mandou reprimir, e reprimiu severamente. E não foi o único vice-presidente que atuou desse modo. Desse
modo, então, Rosa Silva... Isso, inclusive, se vocês observarem o índice onomástico, ele nem aparece. Bem, próximo trecho, página 378. Vamos lá, vou 377 para entrar no contexto. E 378, o que mudou a sorte de Prudente Moraes foi um acontecimento dramático no qual o presidente quase perdeu a vida. No dia 5 de novembro de 1897, Prudente iria recepcionar dois batalhões do exército que retornavam de Canudos. Dos 12.000 homens que lutaram no cerco aos jagunços de Antônio Conselheiro, 5.000 haviam morrido. O desembarque que se daria no Arsenal de Guerra, prédio no centro do Rio de Janeiro, que
hoje abriga o Museu Histórico Nacional, inclusive, quem mora por lá, no Rio de Janeiro, visite o nosso Museu Histórico Nacional. Quando o presidente atravessou o pátio, sobre ele saltou o Marcelino Bispo. Isso aqui eu adoro mencionar, que nós tivemos então um atentado ao Prudente Moraes protagonizado pelo Marcelino Bispo. E o atentado ao Bolsonaro, o Adélio Bispo, até nessas situações o Brasil meio que se repete, né? Então, falei dessa questão fálica agora, os atentados: Marcelino Bispo e Adélio Bispo, um anse pesada que tentou matá-lo a facadas. Interessante, né? Prudente foi salvo pela interferência do ministro da
Guerra, Marechal Carlos Machado Bittencourt, que, ao se interpor entre ele e o assassino, recebeu os golpes fatais, morrendo em seguida. O inquérito, instantes após a morte de Bittencourt, revelou um vasto complô contra o primeiro presidente civil; além de Marcelino Bispo, 22 pessoas seriam responsabilizadas pelo atentado, incluindo ninguém menos que o vice-presidente da República, o baiano Manuel Vitorino Pereira, e o chefe republicano paulista Francisco Gré. Descobriu-se também que a tentativa de assassinato não fora a primeira; nas anteriores, Prudente escapara de forma milagrosa, sem saber o risco que correra. A conspiração se estendia por vários estados. Qual
é o ponto aqui? Nada do que foi colocado está errado; nada. Porém, quando nós avançamos na leitura, fica muito claro que Lorentino Gomes considera, de fato, que a república na nossa história foi uma evolução política e que, depois do movimento das Diretas Já, esta evolução atingiu uma etapa muito importante e, portanto, mais... vou usar uma palavra assim... mais exitosa, que de fato, talvez assim mereça. Esperança; esperança social, esperança política. Mas nós acabamos de ler que um vice-presidente tentou, né, junto de outros comparsas, mandar matar um presidente da república. Acabamos de ver isso, mencionei, né, no
começo aqui do nosso encontro por Moraes. Quem o sucedeu? Campos Sales, mencionei a partir do Rosa Silva que, na condição de vice-presidente, mandou bombardear adversários. Ou seja, é que tá um pouco confuso esse processo evolutivo. Tivemos o golpe do dia 15 de Novembro, foi um golpe, Deodoro da Fonseca assume como presidente provisório e já mandou censurar adversários. Joaquim Nabuco, por exemplo, foi censurado. Joaquim Nabuco tentou até montar um partido conservador monárquico, etc., e não conseguiu, tá? Para ficar com ele, outros também foram sancionados. O que vai acontecer? Deodoro da Fonseca assume e assume atuando como
um ditador. Depois, vem a Constituição de 1891. Existe uma regra constitucional; dentro desta regra, o vice-presidente não poderia assumir se o presidente não tivesse cumprido. Né, pelo menos assim, a metade mais um ali, né? Vamos aqui simplificar o processo do tempo de mandato que aconteceu. O Floriano Peixoto assumiu logo na sequência. Deodoro da Fonseca não ficou um ano na presidência da república, eleito constitucionalmente. Deodoro da Fonseca tentou dar um golpe, tentou fechar o Parlamento, tentou de fato, né, estabelecer uma ditadura; não conseguiu. O vice-presidente, que era o Floriano Peixoto, devidamente alinhado com a elite agrária,
em especial com Campos Sales, além de outros agentes, claro, Floriano Peixoto então deu um golpe em cima do golpe. E, no caso, saiu Deodoro e entrou um outro militar, que é o Floriano Peixoto. Floriano assumiu, tinha poder para assumir constitucionalmente, se Deodoro da Fonseca saiu antes da metade do mandato. Logo, Floriano não poderia assumir, mas ele assumiu. Seguiu como presidente e, mais do que isso, tornou-se conhecidíssimo, né, como o Marechal de Ferro. Isso se deve ao quê? Quem já leu "O Triste Fim de Policarpo Quaresma" sabe bem que o Floriano Peixoto, pelo menos no ângulo
do Lima Barreto, não era assim um democrata. Usando uma palavra da... então, saiu Floriano Peixoto, veio P. D. Moraes, o vice, tentou matar, entrou Campos Sales, o vice, e atuou desse modo nada democrático. Na sequência, vem Rodrigues Alves. E aí, com Rodrigues Alves, nós temos aquele contexto, né, da Revolta da Vacina etc. No meio desse processo, Laurentino Gomes não ignora o que eu vou dizer agora: nós tivemos a supra mencionada, nós tivemos, né, a Batalha de Canudos traumática, um genocídio. Leiam "Os Sertões". Tivemos, no meio dessa conjuntura traumática, a Guerra Federalista, também traumática. Então, o
cenário republicano foi terrível. É como se o Brasil, só para vocês entenderem, é como se o Brasil retrocedesse a certas etapas regenciais, no sentido de conflitos, no sentido de autonomia federal, no sentido de autonomia política de elites locais tentando ocupar um espaço frente, digamos assim, às elites nacionais. Então, o Brasil retrocedeu no campo institucional. “Ah, mas Thomas, professor, forçando um pouco a barra, Laurentino não coloca isso.” Pacto não inscrito? Então, vamos na página 380: entre o presidente e os governadores, representantes dessas oligarquias, assegurava o governo da maioria no Congresso. Ele está falando sobre a política
dos governadores, que equivocadamente vocês provavelmente aprenderam como a república do café com leite. Tá, um dia ainda vou gravar um vídeo sobre por que essa nomenclatura está errada. O sistema eleitoral não era tão fraudulento quanto antes. Não, ele ficou pior. Ele ficou pior, tá? Esse aqui é um dado da realidade: Rodrigues Alves, na sua segunda eleição, venceu com mais de 99% dos votos, certo? Assim, e fora os resultados do Campos Sales, do Afonso Pena. São resultados terríveis. Então, assim, ah, o sistema eleitoral era tão fraudulento quanto antes? Não, ele ficou pior. Ele realmente ficou pior.
Então, assim, o Vitor Nunes Leal, "Os Donos do Poder", ajuda a entender de fato que o aparelho de domínio e opressão ficou mais sofisticado. Ficou mais sofisticado. Então, é evidente, é evidente que existia e não era nada pouca, tá? Corrupção eleitoral, cabresto no meio da política imperial. Então, não estou... Esse é o problema do nosso país. Dependendo do tema, né, tudo é um debate meio maniqueísta. Então, a partir do momento em que estou criticando um modelo político, parece que estou elogiando o outro. Leiam Aristóteles: o caminho está no meio, certo? A virtude está aqui, como
Timias mesmo cantou. Bom senso, fiquemos no bom senso, fiquemos nisso, certo? O sistema eleitoral, então, era tão fraudulento quanto antes? Não. Ele piorou. A justiça era executada à revelia da lei, de acordo com a vontade desses chefes, né, regionais. É verdade, o antigo sistema de "Toma Lá, Dá Cá", inaugurado por Dom João na chegada da corte ao Brasil, mediante a troca de privilégios nos negócios públicos por apoio, o governo manteve-se inabalável. Aqui nós temos um problema e não foi Dom João VI que inventou um modelo de "Toma Lá, Dá Cá". Isso está na nossa configuração
política desde as nossas primeiras estruturas de estabelecimento de governo geral etc. Então, eu acho um pouco ruim você dar nome a um processo histórico tão vasto. Desde o tempo de Dom João, você coloca um carimbo em Dom João VI; isso é um pouco desproporcional, uma vez que esse processo já existia prévio a Dom João. Prévio a Dom João. Na prática, a república brasileira, para se viabilizar, teve de vestir a máscara da monarquia. Ou seja, aqui nós temos um tom de que o Laurentino enxerga a monarquia de um modo ruim. Vamos botar assim: pior do que
a república, um espelho ruim que esses vícios da própria república muitas vezes se estruturaram por causa dessa necessidade de vestir máscaras monárquicas. A república observou Raimundo Faoro, que, depois de dez anos de tropeços, descarta-se como o império do mais sedoso e anárquico de seus componentes: o povo. O que acontece é assim: Medeiros e Albuquerque, que o Laurentino utiliza ao longo do seu livro aqui para fundamentar ou para escrever certos processos. O Medeiros e Albuquerque, que é um dos proclamadores da república, Medeiros e Albuquerque, que é um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, ele literalmente
espinafrou o regime presidencialista no Brasil, considerou um aborto. E ele era republicano! O Assis Brasil, que era republicano, presidencialista, espinafrar estabelecido na república. Então, dizer que houve, né, uma máscara monárquica é divergir certo de Assis Brasil e de Medeiros e Albuquerque, que eles colocavam justamente esse modelo republicano, recém até então, né, aplicado justamente como um aborto, um retrocesso parlamentar, além de outros problemas, mas vou continuar e assim permaneceria pelos 100 anos seguintes, marcados por golpes e rupturas, entremeados por breves e instáveis períodos de democracia, até que uma outra república inteiramente nova começasse a nascer, proclamada
não por generais ou fazendeiros, mas pelo tão temido componente sedoso e anárquico, em 1984. Nove anos. Antes da realização do plebiscito anunciado por Benjamin Constant, na noite de 15 de novembro de 1889, ruas e praças de todo o Brasil foram palco de coloridas, emocionadas e pacíficas manifestações políticas, nas quais milhões de pessoas exigiam o direito de eleger seus representantes. A campanha das Diretas Já, que pôs fim a duas décadas de regime militar, abriu caminho para que a República pudesse finalmente incorporar o povo na construção de seu futuro. Vamos aqui a algumas informações. Primeiro, não sei
vocês, mas o Brasil é um país sem nem saneamento básico pleno. Certo, democracia! Democracia! Segundo, Gustavo Corção, além de outros autores, afirma que, para que ela exista, precisa levar em conta a dignidade da pessoa humana. Então, eu posso, de fato, problematizar o entendimento de que somos uma democracia quando vivo em um país onde milhões de pessoas não têm sequer saneamento básico pleno. Simples assim, eu posso levantar isso, né, enquanto questionamento. A campanha das Diretas Já, enaltecida por Laurentino Gomes — colocando de fato como uma evolução, como um avanço —, tem alguns problemas, problemas simbólicos. O
primeiro deles: o senhor Ulisses Guimarães. Ele apoiou o golpe de 64, apoiou também o A5 nas Diretas, e ao lado de Tancredo Neves ele era uma das principais lideranças. Inclusive, quando a Constituição de 88 foi promulgada, ele fez aquele discurso bem conhecido, mas só esqueceu de manifestar, nesse discurso, o ódio e o nojo da ditadura. Ele só esqueceu de dizer que apoiou o golpe de 64 e que apoiou o A5. São só detalhes que ele acabou esquecendo, né? Foi moleque! Ele só esqueceu disso, só dessas duas coisas. Acontece, né? A nossa República, no pós-ditadura militar,
foi estabelecida também num acordo oligárquico. As estruturas de poder permaneceram. A Constituição de 88 é, assim, perigoso contestá-la, etc. Garantir aqui, enfim. Mas o processo... Outro é isso, não é informação minha, não fui eu que inventei. Eu não tirei isso da minha cabeça, do meu [música] ânus. Ela contou até com a presença de cafetinas nos debates constitucionais. Isso aí, isso é sério. Isso é sério, isso é sério. Isso é documentado, tá? Isso é registrado, isso é registrado. Então, como eu espero, de fato, né, conseguir perseverar neste YouTube, ainda vou abordar a Constituição de 88 com
vocês, etc. Mas assim, posso pensar nessa Constituição como um símbolo de avanço quando começo a olhar certos processos? Não posso! Não posso! Posso, mas... Bem, então Laurentino Gomes alega que nós avançamos, mas eu tenho problemas com relação a esses avanços. Afinal de contas, numa República, né, de 88 para cá, já são 36 anos! Durante 36 anos, certo, colecionamos então o epílogo do Collor, o epílogo da Dilma, o Petrolão, a privataria tucana, ou seja, poderia citar o Mensalão, o Fundão eleitoral, certo? Gripezinha, eu poderia citar uma série de páginas absurdas, bizarras, que compõem esses 36 anos.
Então, assim, eu tenho uma dificuldade sincera de encontrar esse avanço. Fora, claro, outras questões do tipo nosso símbolo pedagógico, Paulo Freire. Já o analisei aqui no canal, essa coisa toda, etc., etc., etc. Temos um partido historicamente terrorista como o PCdoB, um partido historicamente vinculado, né, nasce como uma composição mais radical dentro do PCB, vinculado ao maoísmo, etc. Trela do Gu, aí faz parte da democracia brasileira, etc., etc., etc. Ou seja, a gente tem vários problemas. O advogado do Lula compõe o STF, assim, então é uma democracia com alguns problemas, alguns problemas, alguns problemas. Vamos lá.
O Laurentino discute, e até com certo acerto, assim, uma ressignificação simbólica que a nossa República, de fato, acabou apresentando isso no calor do golpe. Ele só não menciona, e eu acho que isso é um problema, o fato de Benjamin Constant não ter sido, né, ao adotar um nível simbólico com um tipo de efeito. Então, não que ele não mencione Benjamin, ele menciona, mas não dá uma ênfase, uma importância. Eu acho que ele acaba dando importância a temas acidentais, certo? Esse ponto ele não explora, na minha concepção, como deveria. Aqueles que pensam assim: "Ah, mas, professor,
sistemas são muito técnicos." Não! Não são! O juízo que ele fez a respeito da evolução política brasileira não tem nada de técnico! Se fosse técnico, de fato, ele teria levado em consideração certas coisas. Não precisaria fazer determinados elogios. Não tem nada técnico, não tem nada complexo, não tem nada que, de fato, destruiria o livro, né, no sentido de refinar um pouco o que está apresentando. A partir do momento que ele ignora Rose Silva, ele pode ter mencionado em um parágrafo quem foi Rose Silva, mas assim nós temos mais problemas. Assim, tem vários, mas eu quero
dar destaque, assim, com ênfase, a este. Ainda quero comentar, pelo menos, mais uns dois. Vamos lá. O ditador paraguaio foi morto pelas tropas brasileiras na localidade de Carô, em março de 1870, mais de um ano após a de Assunção. Acuado e sem meios de se defender, usou como escudos mulheres, crianças, velhos e adolescentes que foram trucidados sem piedade pelas tropas brasileiras. Só um detalhe, né? Que são coisas que compõem o Brasil. Quem matou o Solano Lopes foi o Chico Diabo. Eu acho isso sempre muito brasileiro, né? Então, assim, quem matou o Solano Lopes não foi
o Caxias, não foi o Osório, não foi o Coelho, não foi o Pelotas, foi o Chico Diabo. Inclusive, eu visitei o seu túmulo e assim, num estado deplorável! Tristeza, tristeza. O Chico Diabo é um herói militar brasileiro, é um herói brasileiro. Os números são imprecisos, mas alguns historiadores falam em mais... de 100.000 mortos entre 10 e 15% da população paraguaia de 1 milhão de habitantes. Nessa época, o massacre, considerado desnecessário por muitos estudiosos, manchou de maneira irremediável a biografia do coronel Júlio José Cenato, autor de uma história do conflito sob a ótica da esquerda. De
1979, o acusou de sádico e sanguinário, responsável por uma crônica fantástica pelos crimes que cometeu. Só um detalhe: vamos lá, mesmo processo, a Guerra do Paraguai, ainda quero abordá-la aqui isoladamente. Então, estejam aqui, certo? Se inscrevam se quiserem, mas estejam aqui. Vamos lá. Primeiro, o que Cenato? O que é Cenato? Ele escreveu, sim, um livro sobre a Guerra do Paraguai, mas, ao longo do livro, que tem sérios problemas técnicos — quem é meu aluno sabe que eu já analisei algumas vezes — ele não consegue fazer sequer a distinção entre o Visconde do Rio Branco e
o Barão do Rio Branco. Ele não conseguiu distinguir isso ao longo do livro, pai e filho. Ele não conseguiu. É um erro básico, até porque o Visconde do Rio Branco é importante justamente para a articulação política na perspectiva brasileira diante do conflito. Além disso, dentro de um tipo de argumento pedagógico, ele transforma o Paraguai numa espécie de regime igualitário, uma sociedade utópica, com uma série de valores, muitas vezes tirados desse modo, uma leitura bem canhestra da filosofia de Marx. Enquanto isso, o protagonismo, quase monopólio da violência, foi desenvolvido pelo Brasil. Pessoal, uma guerra é, de
fato, a falência, a banalidade do mal, é a queda do homem, sim, mas numa guerra não existe monopólio da violência. Existem proporções, existem proporções, mas monopólio da violência dentro de uma guerra, certo? Não! E uma guerra que, nesse sentido, não foi o Brasil que a provocou. Não foi o Brasil que a provocou, que de fato a iniciou. Bom, então o livro do que Cenato tem problemas sérios. Então, o Laurentino utilizá-lo como bibliografia eu já acho pobre, tá? Uma dieta intelectual ruim, certo? Ruim é você exigir muitos nutrientes de uma massa, tipo miojo, entenderam? É essa
configuração. Mas aí o Laurentino quer aumentar o sarrafo intelectual. Vamos lá, Francisco Doratioto. O Francisco Doratioto aí é uma outra conversa. Ele é o autor desta obra aqui, "Maldita Guerra", livro seminal. É o livro, no artigo definido, sobre a Guerra do Paraguai. É o livro; existem outras boas obras, mas, quando nós pensamos no livro de referência, é aqui. Doratioto, "Maldita Guerra", inclusive, escreveu uma biografia maravilhosa sobre o General Osório. Certo? E, para que o Brasil saiba, que o Henrico, que me ajuda, ele me prometeu mais de um ano que terminaria de ler isso, certo? Henri,
estou olhando para você! Aí, pessoal, vamos aqui ao Doratioto. Francisco Doratioto é um pesquisador mais equilibrado, verdade, mais equilibrado que Cenato, é fácil e criterioso no uso das fontes. Também é fácil em comparação com Cenato. Ainda assim, ele o descreveu como um criminoso de guerra, capaz de degolar prisioneiros amados e executar a sangue frio mulheres, crianças e adolescentes na caçada final a Solano Lopes. Opa, opa, opa! Laurentino, seu tinhoso! Assim, e o Doratioto não despejou elogios ao coronel; isso é um fato. É um fato! Chegou, inclusive, na página 446, a definir o coronel como uma
figura que se tornou patética. Faz, de fato, uma descrição da Batalha de Campo Grande, mas nós não encontramos em "Maldita Guerra" uma ênfase desse modo. Nós não vamos encontrar uma defesa qualquer, uma defesa a Caxias, uma defesa a Solano Lopes. O Doratioto buscou uma certa imparcialidade, e ele foi, em certos momentos, também, pudera, bastante incisivo na crítica à guerra, ao conflito, e não uma atribuição de monopólio de violência. Mas aí eu quero poder contestar, tecnicamente, o que o Laurentino mencionou. Então, aqui, pessoal, Diário do coronel, certo? Esse diário foi transcrito e organizado pelo Rodrigo Goena
Soares, que é um pesquisador de referência sobre a Guerra do Paraguai, tá? Além de outros temas. E o que é interessante é assim: Rodrigo não é aluno do Dom Betran, tá? Então, vamos lá, página 288, e ele utiliza, tá, utiliza como base os textos originais de Cenato, outros documentos, o próprio "Maldita Guerra", que o Laurentino disse que analisou dialeticamente, né, com Cenato. Vamos lá. Página 288: "criminalizar Solano Lopes ou os soldados brasileiros pelos excessos de Campo Grande é um esforço que, em contexto bélico, contribui com pouco, a exceção de muitas polêmicas". Ou seja, a ideia
do monopólio da violência. Estão falando de uma guerra; a guerra, ela em si é condenável, ela em si é condenável. Parece-nos difícil, contudo, supor que o coronel, em pleno combate, tenha ordenado a matança geral. Pelo contrário, por intermédio de seus relatos e daqueles de Tomé, no Diário do Exército, sabe-se que o príncipe, com sorte, não participou do embate corpo a corpo. Príncipes e Reis nas guerras do século XIX não eram de enfrentar-se diretamente com o inimigo. O segundo trecho da carta que o coronel enviou a seu sogro, em 29 de agosto, é revelador no que
diz respeito à atuação de Vitorino Deb na guerra, na pouco documentada. E aí ele segue as palavras do coronel: "No combate do dia 18, a coisa ficou pior. O Vitorino, de acordo com Tiburcio, mandou lancear todos os 15 oficiais paraguaios que se tinham entregado. Alguns dizem que pediam de joelhos pela vida e davam vivas ao Brasil. Foi horrível." Ou seja, o coronel dizendo que foi horrível um massacre protagonizado, segundo o registro. Certo? Ou seja, não há uma sustentação desse comportamento sedento por sangue do coronel. A gente aprende, dependendo do caso, na escola, né: "O coronel
mandou matar crianças!" Duro, difícil! Eu não estou aqui condenando o coronel; eu não estou com esse propósito. Estou embasado em... Dora, Choto, que segundo o Lorentino Gomes, né, defendeu uma imagem de um Condid tirânico, assassino, sendo que o Doratioto, ele, embora não tenha sido elogioso no modo muitas vezes de analisar Condid, ele também não o diminuiu por completo. Aí eu trouxe para fundamentar a minha manifestação crítica o "Diário" de Condid, que foi transcrito e organizado pelo Rodrigo Oena e que é, de fato, um trabalho primoroso. E aí nós temos essa manifestação na qual, sem nenhum
compromisso monárquico, o Rodrigo Oena de fato estrutura o livro e coloca esse argumento, e é um argumento importante. Bom, então, assim, é um exemplo de que o problema de 1889 não está muitas vezes no que discute. Vejam, é um parágrafo, é um parágrafo que não tem sustentação. Tem um problema aqui, é evidente. Assim, ou não convencê-lo, você quer ler isso aqui? Leia. Eu não tenho nada com sua vida, só estou dizendo que, dependendo do caso, existe uma coisa chamada tempo. Tempo nós não recuperamos. Se você quer gastar o seu tempo com isso, etc., gaste. Gaste
melhor ler isso do que, sei lá, ficar assistindo vídeos. Melhor, melhor. Leia isso. Agora, se você de fato quer compreender os processos brasileiros, etc., política brasileira, se você quer ir um pouco além, existem obras simples que prometem esse tipo, digamos assim, de erros, né? Traços, bizarros, como por exemplo esse, esse modo de definir Condid como sádico. Essa lá, nós temos aqui alguns problemas nessa definição. Mas então, pelo menos, assim, mais uns dois pontos, né? Página 345: "Aqui, velho, gravemente enfermo, sem forças nem paciência para reagir às pressões, Deodoro da Fonseca renunciou ao mandato no dia
23 de novembro de 1891, passando o governo ao vice-presidente Floriano Peixoto, alagoano e marechal." Como ele, as semanas anteriores foram marcadas por conjunções em todo o país, o clímax do conflito se dera no dia 3 de novembro de 1891, quando o Marechal, em mais de uma de suas atitudes intempestivas e autoritárias, dissolveu o Congresso Nacional. "Não posso por mais tempo suportar esse congresso. Desejo que ele desapareça para a cidade do Brasil!" Ordenou Deodoro ao Barão de Lucena, chefe do ministério: "Prepare o decreto de dissolução." Ou seja, aqui nós temos o Deodoro da Fonseca não conseguindo
dialogar com o congresso. Ele não era político, era militar; ele estava acostumado a estabelecer uma conversa hierárquica, né, o mando e faz. Deodoro teve que agora ocupar uma posição de presidente constitucional. Na minha questão, quando eu separei esse trecho, é que assim o Lorentino demonstra alguma leitura, algum tipo de repertório, alguma análise de conjuntura sobre o período. Ele sempre demonstra. Mas como ele consegue chegar a conclusões tão equivocadas no sentido de entender que houve um tipo de avanço, exemplo, na nossa configuração republicana? Isso aqui é um retrocesso. Dom Pedro I, com todos os seus problemas,
convivia com uma estrutura parlamentar, exemplo, na questão sensível que é a questão da Abolição. Pessoalmente, Pedro II era um abolicionista e ele deu indicativos dessa sua posição pessoal. Não atua que ele foi protagonista junto do próprio Visconde do Rio Branco da Lei Rio Branco, que é a lei do ventre livre. Ponto. Aqui é o seguinte: na questão da Abolição, para o bem ou para o mal, ele respeitou a dinâmica parlamentar, além de outras pautas. O Brasil vivia com o Parlamento. O Brasil vivia dentro de uma estrutura constitucional. Vem Deodoro e o Brasil passa a não
conseguir conviver, né, com poderes devidamente distribuídos. Embora um livro simples poderia, Laurentino, uma vez que abordou temas tão secundários, como a tal solidariedade peniana, ele poderia ter discutido o vácuo que até hoje sentimos enquanto nação do Poder Moderador. Tanto é que entra fase, sai fase, algum grupo tenta ocupar esse papel; foi o Exército, agora o STF. Então, tem todo um movimento de um vácuo, vácuo das confusões políticas, afinal de contas, né? Quem governa de fato representa o Estado. Então, nós temos assim uma dificuldade entre o que é Estado e o que é política de Estado.
Portanto, o que é política de governo? Uma dificuldade em separar poderes, um processo eleitoral que muitas vezes está confuso. Afinal de contas, existem determinadas regras que o cidadão médio não consegue acompanhar: ah, coeficiente, etc. Tem uma série de regras que o eleitorado muitas vezes não acompanha. Então, nós temos, inclusive, um sistema eleitoral que, em várias das suas aplicabilidades, ele é profundamente excludente. Então, tudo isso serve, né, para mostrar assim: olha, o livro tem suas meias verdades. Todavia, algumas são mentiras, tipo a do Solano Lopes, do Condid, por exemplo. Ele tratou o Condid como sanguinário. Volto
a isso, né? Mas o Solano Lopes, o Solano Lopes tirano... Pesquisem tema de casa; a gente conversa sobre isso em um outro vídeo. Vejam, assim, como é que Solano Lopes tratou, por exemplo, sua mãe? Sua mãe. Mãe de Solano Lopes. Só isso, só isso. Veja assim, Solano Lopes de sua mãe. Para a gente começar o processo de diálogo. Então, assim, Solano Lopes foi uma figura de fato execrável. Execrável. E não estou sendo anacrônico ao estabelecer isso, tá? Não estou sendo anacrônico. Não é um juízo de valor; é uma descrição objetiva. Por fim, separei mais um
aqui: "O vice-presidente da República, página 327, igualmente eleito por 4 anos, exerceria simultaneamente a presidência do Senado Federal. Caberia a ele substituir o presidente sempre que necessário, inclusive em caso de morte. Mas se a vacância ocorresse antes de completados dois anos do exercício do mandato, seria realizada nova eleição." Nós estamos falando daquela transição que eu já mencionei, né? Deodoro - Floriano. Esse item seria o motivo de grande crise do governo Floriano Peixoto após a renúncia e morte de Deodoro. Não, não foi crise; foi um golpe. Um golpe político. Golpe político. Epitácio Pessoa, por exemplo, que
na época era Ministro do STF e depois viria a ser presidente do Brasil, foi opositor a isso aqui, foi oposição nesse processo, além de outros. Ou seja, nós temos crise, que é um eufemismo para falar de determinadas situações republicanas, chamemos assim. O Lorentino chama de crise para falar de determinadas denúncias contra a monarquia. A nós, estamos falando de tiranias sanguinárias, é um pouco desproporcional o processo. O governo Floriano Peixoto foi um governo difícil, complexo. A Revolta Armada mencionei, o próprio Lima Barreto, tem outros tantos episódios. De fato, nós estamos falando de um golpe político. Floriano
Peixoto não poderia assumir na condição de presidente, ou seja, nós tivemos a nossa primeira constituição republicana, ela não durou um ano sem um golpe político dessa magnitude, que é o "ouv" se assumir, né, sem as devidas condições. Então, só fazendo aqui uma síntese, né, então Deodoro assumiu através de um golpe, Floriano assumiu através de um golpe. Aí o Floriano Peixoto não entregou a faixa para Prudente de Morais. Então, se o Bolsonaro não entregou a faixa para o Lula, por exemplo, isso não é um fato novo na história da nossa República, né? A primeira transição efetiva
de presidência no Brasil sai então Floriano e entra Prudente. Ele não tem faixa. Nossa República já começou com isso. Afinal de contas, Deodoro não cumprira, né, todo o mandato. Bem, aí o Prudente assumiu, aí o seu vice conspirou para matá-lo. Aí vem o Campos Sales, pacto oligárquico, política dos governadores. O vice, o Rose Silva, mandou bombardear adversários. Aí vem o Rodrigues Alves no meio disso, né? Canudos, vem o Rodrigues Alves, Revolta da Vacina, etc. E, ao mesmo tempo, o Brasil vai viver a sua Belle Époque, penso, imagino, no Rio de Janeiro. Aí, no meio dessa
configuração difícil, vem o Afonso Pena. O Afonso Pena morre, né, sem ter cumprido todo o mandato, e quem assume é o Nilo Pessanha, que é o nosso primeiro presidente negro. Então, aí nós entramos numa outra fase. O ponto é que essas primeiras transições foram complexas, terríveis, difíceis. A nossa constituição republicana não durou um ano, repito isso. E são pontos que o Lorentino, de fato, fez que ele seguiu, porque ele abordou a presidência por mores. Ele chegou a Campos Sales, ele poderia ter discutido tudo isso. Poderia. Então, é um livro, digamos assim, raso, tem meias verdades,
tem alguns acertos, tem alguma fundamentação bibliográfica que colar, mas, como porta de entrada, olha, eu não acho que seja uma boa porta de entrada, eu não acho que seja uma boa obra, não acho que seja um bom livro, e eu acho que, inclusive, o fato dele ser muito celebrado e muito lido demonstra um problema, né, quanto à compreensão, digamos assim, mais abrangente do nosso passado. Acho que isso também é um tipo de sintoma. Então, é isso. Tentei fazer uma análise do 1889. Como eu disse, eu tenho totais condições de analisar página a página, selecionei alguns
problemas, deixei outros para depois. Quem sabe ainda gravo, né, uma parte do... uma parte TR, uma parte, enfim, até parte 87, vai saber? Então, tem problemas. Espero ter colaborado, espero ter colaborado, e é isso. Até a próxima às 20 horas aqui neste canal. Valeu!
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