Mulher contrata morador de rua para ser seu motorista, mas tudo dá errado quando ele joga o carro em uma ribanceira. Taís estava andando pela rua de uma Avenida Nobre de sua cidade; ela queria comprar uma bolsa nova. O céu estava claro e o sol brilhava intensamente, refletindo nas vitrines das lojas de luxo.
As pessoas ao redor seguiam seus caminhos apressadas, carregando sacolas de compras e conversando em tom baixo. Enquanto andava, Taís notou uma cena incomum à sua frente: dois seguranças estavam levando, quase arrastando, um homem pelo braço. Ele parecia desesperado, resistindo como podia, enquanto os seguranças o conduziam para longe da entrada da loja.
O homem exclamava, com a voz trêmula: "Eu não fiz nada! " Taís parou por um instante e ficou observando; o homem era claramente um morador de rua. Seus cabelos estavam longos e desalinhados, e a barba grande e mal feita escondia boa parte de seu rosto.
Suas roupas velhas e manchadas eram de um cinza desbotado, quase se confundindo com a poeira da calçada. Ela mal conseguia ver seus olhos, que estavam semicerrados, talvez por conta do sol intenso. Sentindo-se incomodada com a cena, Taís se aproximou de uma senhora que também observava a situação, com uma expressão de reprovação no rosto.
Ela resolveu perguntar o que havia acontecido. A senhora, suspirando em descontentamento, explicou: "Ele estava apenas parado ali, se protegendo do sol. Não estava incomodando ninguém, mas sabe como é, algumas pessoas se incomodam com a presença de quem não tem onde ficar.
Só por estar parado ali, os seguranças já vieram e o tiraram sem sequer perguntar nada. " Taís olhou novamente para o homem, que ainda tentava argumentar, sua voz ficando cada vez mais baixa. Notou que ele estava descalço e seus pés sujos e castigados faziam pressão contra o chão quente da calçada.
Ele apertava o rosto, claramente sentindo dor ao tocar o piso aquecido pelo sol. Sentindo-se desconfortável com a situação, Taís entrou na loja. Os seguranças já haviam levado o homem para longe, mas a imagem dele, descalço e vulnerável, ficou em sua mente.
Ela tentou focar nas prateleiras elegantes, cheias de bolsas, mas se pegou distraída imaginando o homem e o que ele estaria passando. Depois de algum tempo, escolheu uma bolsa e foi ao caixa. Enquanto esperava, algo simples na seção de acessórios chamou sua atenção: uma chinela.
Ela olhou para o par, barato e discreto, mas que com certeza serviria para proteger os pés daquele homem. Sem pensar duas vezes, pegou o par de chinelos e pagou junto com a bolsa. Ao sair da loja, ela olhou ao redor, tentando encontrá-lo.
Taís observou a calçada, o entorno da loja e até as outras vitrines, mas não o viu. Já estava quase desistindo quando, ao longe, avistou a figura dele, sob a sombra de uma árvore. Ele estava sentado, de olhos fechados, parecendo descansar após o desconforto de mais cedo.
Taís se aproximou devagar, tentando não o assustar. Quando chegou perto, ele abriu os olhos, surpreso. "Oi," disse ela, um pouco hesitante, estendendo-lhe os chinelos.
"Vi que você estava de calço, achei que isso pudesse ajudar. " O homem olhou para o par de chinelos em sua mão, incrédulo; seus olhos estavam marejados, como se não acreditasse no que via. "Obrigado, senhora, eu.
. . eu não sei como agradecer," ele disse, pegando os chinelos com cuidado.
Ela riu suavemente, tentando quebrar o clima formal. "Não me chame de senhora, não sou tão velha assim," disse ela com um sorriso. "Sou Taís.
" Ele retribuiu o sorriso, um pouco sem graça, e respondeu: "Sou Mário. Obrigado de novo, Taís. Você não imagina o quanto isso significa para mim.
" Taís ficou em silêncio por um momento, observando-o com mais atenção. Algo naquele nome, Mário, lhe soava familiar, e o rosto dele, apesar da barba e dos cabelos longos, parecia ter traços que ela já havia visto antes. Ela ficou pensativa, tentando entender de onde o conhecia, mas sem conseguir se lembrar de imediato.
"Você. . .
você morou por aqui? " Mário arriscou, tentando puxar assunto e ver se ele compartilhava algo que lhe desse uma pista. Ele deu de ombros, olhando para os chinelos novos em seus pés, como se estivesse tentando se acostumar com a sensação.
"Morei sim, mas faz tempo. As coisas mudaram muito desde então, sabe? " respondeu ele, com um ar distante.
Taís se sentiu ainda intrigada, mas preferiu não insistir. Eles se despediram, e Mário seguiu seu caminho, caminhando devagar pela calçada. Ao voltar para casa, Taís ainda pensava nele, naquela sensação estranha de familiaridade.
Ao entrar, deixou a bolsa nova de lado e foi até uma das estantes, onde mantinha um álbum de fotos antigas. Sentou-se no sofá e começou a folhear até que parou numa foto de sua formatura do ensino médio. Quando viu a imagem, seu coração parou; lá estava ele, Mário, com um sorriso juvenil e cheio de vida, abraçado ao grupo de amigos de turma.
Ela se lembrava agora: ele era aquele colega alegre e sempre rodeado de pessoas, o tipo de pessoa que parecia destinada a ter sucesso. Taís ficou ali, encarando a foto, sem conseguir acreditar que aquele rapaz sorridente havia se tornado o homem vulnerável e desamparado que ela havia encontrado na rua. Então, viu seu marido chegar e sentiu um nervosismo se instalar.
O dia tinha sido longo e o clima entre eles ultimamente parecia tenso, com a recente demissão da empregada doméstica e agora do motorista. O ar parecia estar sempre no limite, e com a ausência de funcionários, ele passou a esperar que Taís assumisse algumas responsabilidades da casa. Algo que ela, ocupada com suas próprias atividades e acostumada com o apoio da equipe, achava desafiador.
Vitor entrou pela porta e logo franziu a testa ao ver a cozinha vazia e sem o cheiro de comida. "Taís, você não fez o jantar? " ele perguntou, cruzando os braços.
Ela tentou suavizar o clima com um sorriso hesitante, mas seu tom refletia a apreensão. "Eu acabei esquecendo, Vitor. Me distraí.
" Com outras coisas, a resposta fez com que ele soltasse um suspiro pesado, sua expressão endurecendo. "Taí, você sabe que está cada vez mais difícil encontrar gente confiável para trabalhar aqui. Agora, além da empregada, o motorista também se demitiu, e eu preciso que ao menos você colabore.
" Ela baixou os olhos, sentindo o peso das palavras dele. Sabia que Vittor tinha uma personalidade difícil e que muitos dos funcionários acabavam saindo pela maneira brusca como ele tratava todos ao redor, mas ela nunca dizia nada, talvez por medo de discutir ou talvez por não saber exatamente como lidar com o temperamento dele. "Vou pedir comida pelo aplicativo e também farei um anúncio para procurar um motorista novo.
Pode ser? " Ele assentiu, ainda sério, mas com um suspiro mais leve. "Obrigado," Thí disse, e depois, em um tom quase murmurante, completou: "Desculpe, acho que estou estressado.
É muita coisa ao mesmo tempo. " Ela apenas assentiu, tentando não deixar transparecer o cansaço que também sentia. Era sempre assim: ele se irritava, dizia o que queria e depois pedia desculpas.
O ciclo nunca parecia ter fim. Na manhã seguinte, Tháy sentiu a necessidade de sair de casa. Pegou sua bolsa e foi até o lugar onde tinha encontrado Mário, o antigo colega de escola que agora vivia em situação de rua.
Ela ainda se lembrava da surpresa que sentiu ao vê-lo e do impulso que a levou a oferecer ajuda. Aquele reencontro despertou memórias de tempos mais simples e ela se perguntava como Mário reagiria à proposta que tinha em mente. Ao chegar na Avenida, olhou ao redor até vê-lo mais uma vez, na sombra da árvore onde o encontrara anteriormente.
Mário estava tentando subir no tronco baixo, seus pés descalços pressionando a casca enquanto ele esticava a mão para pegar uma fruta que balançava no galho mais alto. Ela sorriu ao ver a cena e, quando ele finalmente a anotou, acenou, chamando-o e dando um passo para frente. Ele desceu da árvore com um sorriso tímido e limpou as mãos no jeans surrado, parecendo um pouco envergonhado.
"Taí! Olá, não esperava te ver hoje. " Ela riu, tentando deixá-lo mais à vontade.
"Queria conversar com você. " Começou, fazendo um gesto para que ele se sentasse ao seu lado no banco mais próximo. "Eu acho que você deve se lembrar de mim, do ensino médio, não?
" Mário olhou para o chão, envergonhado, e assentiu lentamente. "Claro que me lembro, só fiquei surpreso. Você é tão diferente agora.
Quero dizer, você é uma pessoa rica e eu. . .
bem, olha só para mim. " "Eu lembrei de você no momento em que lhe vi, mas fiquei com vergonha de dizer. " Taí estendeu a mão e tocou no braço dele, com um gesto gentil.
"Mário, isso não importa, sabe? Eu estava me lembrando de várias coisas de quando éramos adolescentes. Você era sempre tão prestativo, sempre ajudava nas tarefas e uma vez até me defendeu de um garoto que estava me importunando.
" Ele sorriu, um pouco mais relaxado. "É verdade, lembro daquele dia. " Ele desviou o olhar, balançando a cabeça, como se estivesse revisitando as memórias.
"Eu também tive meus dias bons, Thí, mas a vida foi dura comigo. Enfim, nem vale a pena contar todos os detalhes. " Sentiu um aperto no coração ao vê-lo tão abatido, um contraste enorme com o jovem cheio de vida que conhecera anos atrás.
A oportunidade de ajudá-lo agora parecia se encaixar perfeitamente com a situação em casa. "Sabe, eu soube por alguns amigos há alguns anos que você estava trabalhando como taxista. É verdade?
" Ele assentiu. "Sim, mas já faz tempo. Perdi o emprego e as coisas foram piorando desde então.
Tentei outros trabalhos, mas nada fixo. A cidade é cruel e, depois de um tempo, parece que as portas se fecham. " Taí respirou fundo, tentando escolher as palavras certas.
"Mário, eu tenho uma proposta para você. " Ela hesitou, observando a reação dele. Ele a encarou, curioso.
"Meu marido e eu. . .
bem, estamos procurando um motorista particular, e eu gostaria de oferecer o trabalho para você. " Ele arregalou os olhos, uma mistura de surpresa e desconfiança em seu rosto. "Um motorista particular para você e seu marido?
" Taí assentiu. "Sim, é um trabalho estável e você receberia um bom salário. E tem mais: nós temos uma casa de hóspedes na mansão, você poderia ficar lá com conforto e segurança.
O que acha? " A palavra "mansão" pareceu quase surreal para ele. Ele balançou a cabeça, rindo um pouco, como se estivesse tentando absorver a oferta.
"Uma mansão, Thí? Você tem certeza disso? Eu sou.
. . sou só um bum.
. . você sabe.
" Ela tocou no braço dele novamente, dessa vez com mais firmeza. "Mário, você é uma pessoa honesta. Eu confio em você e todos têm uma segunda chance, não acha?
Eu lembro da pessoa incrível que você foi e acho que podemos ajudá-lo a retomar sua vida. " Ele respirou fundo, ainda assimilando a ideia. Thí observava seus olhos se iluminarem com uma mistura de esperança e gratidão, algo que ele parecia não sentir há muito tempo.
Finalmente, ele sorriu e, com um brilho no olhar que ela não via há anos, respondeu: "Taís, eu aceito. Não sei nem como agradecer, mas sim, eu aceito. " Ela sorriu, sentindo-se leve e satisfeita por poder fazer algo de real significado para alguém que já havia sido parte de sua vida.
"Ótimo! Podemos resolver tudo para que você comece na semana que vem. Vou preparar a casa para sua chegada e deixar tudo pronto para você.
Vai dar tudo certo, Mário. " Ele sorriu, um pouco mais confiante, e apertou a mão dela com um aperto firme. "Taís, muito obrigado!
Eu prometo que não vou te decepcionar. " Taísa sentiu que, de alguma forma, aquilo também era um novo começo para ela. Mário foi ao cabeleireiro com o dinheiro que Thí havia lhe dado para se arrumar.
Ao cortar o cabelo, ele se viu completamente diferente no espelho; a pessoa que olhava de volta quase não se reconhecia. Parece que ele mesmo; seu rosto parecia mais jovem, menos cansado, como se aquela mudança tivesse retirado uma camada de peso que ele carregava. Com o que restava do dinheiro, Mário comprou uma blusa básica, uma calça jeans e um par de tênis simples.
Embora nada daquilo fosse de grife ou mesmo de alta qualidade, a roupa limpa e o corte de cabelo o fizeram se sentir renovado. Ele chegou ao endereço que havia lhe passado: uma mansão de aparência imponente em um bairro nobre. Quando Mário se aproximou do portão, sentiu uma mistura de nervosismo e empolgação.
Sabia que aquela era uma chance de recomeço, um passo que nunca imaginou que estaria dando. Taí apareceu na porta assim que ele tocou a campainha. Ao vê-lo, ela parou por um instante, surpresa com a transformação.
"Mão, meu Deus! Está irreconhecível! Parece outra!
" Disse ela, sorrindo com admiração. Ele sorriu um pouco sem jeito, mas também satisfeito com a reação. "Obrigado.
Realmente faz tempo que não me sentia assim," respondeu, passando a mão pelo cabelo recém cortado. Ela assentiu e o convidou a entrar. Taí começou a mostrar a mansão, guiando-o por um corredor amplo, com piso de mármore e decorado com quadros e esculturas que transmitiam a imponência da casa.
Ao lado da mansão, havia uma casa de hóspedes pequena, mas bem estruturada, e foi para lá que o levou. "Aqui é onde você vai ficar. Mão, raramente recebemos visitas.
Então, esse espaço normalmente fica vazio, mas alguns empregados descansam por aqui de vez em quando. " Ele olhou em volta, admirado; era maior do que qualquer lugar em que ele já havia morado. "Muito obrigado por isso!
Eu não sei como vou poder retribuir," disse ele, com a mão dispensando a gratidão exagerada. "Não precisa agradecer. Eu sei que você precisa desse tempo para se estabilizar.
Vou dizer ao Vittor que você veio de outra cidade. Assim fica mais fácil de explicar sua estadia por aqui. Ele só precisa saber que estou te ajudando a se organizar para o trabalho.
" Mário assentiu, compreendendo; ele sabia que Vittor não era exatamente um homem fácil de lidar e preferia evitar complicações. "Claro, Taí, eu entendo. Assim que conseguir juntar dinheiro suficiente, planejo alugar meu próprio lugar.
Não quero dar trabalho," disse ele, com seriedade. Ela sorriu, contente com a resposta. Taí o deixou explorar a casa de hóspedes, e Mário começou a observar cada detalhe do espaço.
A casa tinha uma sala de estar aconchegante, uma cozinha espaçosa e bem equipada, e até mesmo alguns quartos; para ele, era um luxo inimaginável. Ao abrir a geladeira, encontrou uma variedade de ingredientes frescos; era algo que ele não via há muito tempo, tomado por uma sensação de normalidade que quase havia esquecido. Mário preparou um lanche simples e, enquanto comia, sorriu para si mesmo, apreciando cada mordida.
Depois de um cochilo revigorante no quarto arejado, ele foi chamado por Taí para ser apresentado ao marido dela, Vittor. O encontro foi direto e um tanto formal. Vittor o cumprimentou com um aperto de mão firme e avaliou-o de cima a baixo.
"Espero um bom serviço," disse ele, com um tom sério. Mário respondeu com um olhar decidido: "Farei o meu melhor, senhor Vittor. " O primeiro teste de Mário no trabalho foi a direção.
Ele guiou o carro da família com precisão, mostrando-se cuidadoso e profissional. Taí e Vittor, ambos no banco de trás, observaram a condução atenta e segura dele e, ao fim do trajeto, Vittor assentiu com aprovação. "Muito bom.
Dirige muito bem," comentou. Mário agradeceu com um aceno respeitoso, sentindo-se aliviado e satisfeito com o elogio. Sabia que uma primeira boa impressão era importante, especialmente com alguém como Vittor.
Nos dias seguintes, Mário se habituou à rotina. Quando estava livre, passava tempo na cozinha da casa de hóspedes, onde fazia suas próprias refeições. Cozinhar para si mesmo era uma atividade que ele gostava e que o fazia se sentir mais independente.
Em pouco tempo, o aroma das suas comidas começou a se espalhar, escapando pelas janelas e invadindo a mansão principal. Certo dia, enquanto preparava uma refeição, o cheiro da comida chamou a atenção de Taí e Vittor. "Esse motorista que você contratou parece cozinhar bem," comentou Vittor, com o nariz levemente empinado, enquanto sentia o aroma.
Taí sorriu, tentando disfarçar a curiosidade. "É, parece que ele gosta de cozinhar nas horas vagas. " Vittor pensou por um instante e então falou, com uma certa impaciência: "Peça para ele preparar uma refeição para nós dois.
Estou curioso para saber se ele cozinha tão bem quanto parece. " Taí hesitou, notando que já era tarde e que o pedido poderia soar inapropriado. "Vittor, não seria educado pedir isso agora.
Ele foi contratado como motorista, não como cozinheiro. Além disso, já é bem tarde," ela argumentou suavemente. Vittor a interrompeu, com um tom de impaciência: "Ele está na minha casa, então ele tem que me obedecer.
Só estou pedindo uma refeição. " Taí, sem ter muita escolha, dirigiu-se à casa de hóspedes e bateu na porta da cozinha. Mário a recebeu com um sorriso amigável.
"Taí, precisa de algo? " Ela suspirou, um pouco desconcertada. "Olha, Mão, eu sinto muito, mas Vittor quer que você prepare algo para ele e para mim.
Eu entendo se você não quiser; é tarde e sei que isso não faz parte do seu trabalho. " Mário, no entanto, deu um sorriso compreensivo: "Não se preocupe, Taí, farei isso com prazer. Já estou com a comida pronta, só preciso fazer alguns ajustes.
" Ela sorriu aliviada. "Muito obrigada, Mário, de verdade. " Mário retornou à cozinha e ajustou o prato com capricho; preparou uma massa com molho caseiro, vegetais frescos salteados e uma carne suculenta.
Em pouco tempo, levou os pratos à sala de jantar, onde Taí e Vittor já esperavam. Quando ele colocou os pratos à mesa, Vittor olhou para a comida, com uma sobrancelha erguida, curioso. Mário se afastou com um aceno e retornou à casa.
De hóspedes, deixando-os aproveitar a refeição em paz. Depois das primeiras garfadas, Thí e Vitor trocaram um olhar surpreso. "Isso está incrível!
Um humorista que cozinha melhor do que muitos profissionais que já contratamos para isso", sentindo uma certa admiração por ele e lembrando-se do caminho que ele percorreu até ali. Ao término, Thí foi até a casa de hóspedes por ter preparado isso tão de última hora. Mário sorriu satisfeito.
"Foi um prazer. Fico feliz que tenham gostado. " Ela olhou para ele com gratidão e compreensão, vendo que Mário não só era bom em seu trabalho, mas também possuía um talento que trazia um toque de acolhimento àquela casa.
Naquela noite, enquanto voltava para a mansão, Thí pensava sobre como Mário estava se encaixando ali de maneira surpreendente. Dias passaram. Em uma manhã ensolarada, Thí dirigia pela cidade, levando Mário ao escritório de contabilidade, onde ela era gerente.
Enquanto guiava pelas ruas tranquilas, aproveitando o silêncio confortável entre eles, Mário parecia pensar em algo importante. Ele olhava fixamente para a estrada à frente, mas Thí percebia que havia algo a mais em seu semblante. Depois de alguns minutos, ele finalmente quebrou o silêncio.
"Começou", ele hesitante, "preciso contar uma coisa. " Thí olhou para ele, surpresa. A seriedade no tom dele indicava que o assunto era delicado.
"Claro, Mário, pode falar", respondeu ela, tentando encorajá-lo com um sorriso gentil. Mário respirou fundo, os dedos apertando o volante. "É algo que eu nunca contei para ninguém aqui porque, bom, porque eu tinha medo de perder o emprego.
Mas eu não gosto de esconder nada e sinto que você tem o direito de saber", disse ele, a voz um pouco trêmula. Thí continuava atenta, esperando que ele encontrasse as palavras. "Há alguns anos, quando eu ainda trabalhava como taxista, aconteceu um acidente.
Eu estava dirigindo na rodovia, dentro do limite de velocidade, mas aconteceu algo que mudou tudo. " Ele fez uma pausa, como se estivesse reunindo forças para continuar. "Um homem bêbado vinha de bicicleta na contramão.
Ele apareceu de repente, e eu. . .
eu não consegui desviar. Foi tudo tão rápido que não tive nem tempo de pensar. " Mário engoliu em seco, a voz quebrando um pouco.
"Ele faleceu na hora. " Thí respirou fundo, absorvendo o que ele acabara de revelar. Mário continuou, lutando para manter a calma.
"Eu fiquei desesperado. Fui considerado inocente. Claro, o homem estava bêbado e foi um acidente, mas.
. . " Ele parou de falar por um momento, seu olhar distante.
"Eu vi a esposa dele, os três filhos. Eles olhavam para mim com ódio, como se eu fosse o único culpado. Sei que não foi minha culpa, mas aquela cena, aquela dor me perseguiu.
" Thí estendeu a mão e tocou o braço de Mário, numa tentativa de confortá-lo. "Mário, sinto muito por tudo isso. Deve ter sido terrível.
Mas saiba que não foi culpa sua. Você fez tudo o que podia. Infelizmente, coisas assim acontecem.
" Ele a sentiu, mas a dor ainda era evidente em seus olhos. "Mesmo sabendo disso, aquilo me destruiu. Meu psicológico não aguentou.
A empresa de táxi me demitiu. Acho que não queriam alguém marcado por uma tragédia. Eu entrei numa tristeza tão profunda que não conseguia nem levantar da cama.
Quando percebi, já não tinha mais dinheiro para pagar o aluguel e acabei indo parar na rua. " Thí balançou a cabeça, triste ao ouvir a história. "Isso só me faz admirar ainda mais você.
Só alguém muito bom carregaria essa culpa por algo que não teve como evitar. " Ele respirou fundo, olhando para ela com gratidão. "Obrigado, Thí.
Fico aliviado por ter contado. Tem me feito bem estar aqui, ter uma nova chance de seguir em frente. " Ao chegarem ao destino, Thí desceu do carro e lhe dirigiu um sorriso caloroso.
"Você merece essa chance, Mário, e sei que fará um ótimo trabalho aqui. " Mário retribuiu o sorriso e acenou antes de partir. A revelação parecia ter retirado um peso de seus ombros.
Aquele dia, ele decidiu que faria algo especial para agradecer por todo o apoio de Thí. À noite, depois de terminar seu trabalho, ele foi até a cozinha da casa de hóspedes e começou a preparar uma refeição. Escolheu ingredientes com cuidado, preparando um prato saboroso e digno de ser servido na mansão.
Quando tudo estava pronto, ele colocou a refeição em uma travessa, cobriu-a e foi até a mansão, onde tocou a campainha. Thí atendeu, surpresa ao vê-lo ali com a comida. "Mário, o que é isso?
" perguntou ela, sorrindo. "Preparei algo para você e o senhor Vitor como uma forma de agradecer. Sei que não seria nada do que normalmente servem aqui, mas fiz com muito carinho.
" Thí parecia comovida com o gesto. "Mário, isso é muito gentil, mas Vítor ainda não chegou", disse ela, olhando para o relógio. "Sem problemas.
Quando ele chegar, posso trazer a comida de volta", respondeu Mário, com tranquilidade. "Claro. Obrigada.
" Mário agradeceu, ela sorrindo. A noite avançou e, para a surpresa de Thí, Vitor ainda não havia retornado. Ela olhava o relógio inquieta enquanto o aroma da comida de Mário ainda pairava pelo ar.
Depois de algum tempo, sentindo a fome aumentar, decidiu ir até a casa de hóspedes. Ela bateu levemente na porta e Mário logo apareceu, surpreso ao vê-la ali. "Thí, tudo bem?
" perguntou ele, com um sorriso amigável. "Sim, está tudo bem. É que eu pensei em aceitar seu convite e experimentar a refeição.
Agora mesmo, estou morrendo de fome," ela disse, rindo. Mário deu um passo para o lado, convidando-a a entrar. A cozinha da casa de hóspedes era simples, mas aconchegante, e Thí sentiu-se estranhamente confortável naquele ambiente modesto.
Ela se sentou na pequena mesa enquanto Mário servia a comida com todo o cuidado. "Espero que goste", disse ele, colocando o prato na frente dela. Thí deu a primeira garfada e fechou os olhos, saboreando cada detalhe.
"Está delicioso, Mário! Realmente, você tem um talento incrível para a cozinha. " Ele sorriu, visivelmente satisfeito com o elogio.
Elogio: Obrigado, Taís. Eu sempre gostei de cozinhar; é como se fosse uma terapia para mim. Eles continuaram conversando durante a refeição, trocando histórias e lembranças que vinham à tona.
Taís notou que, sob a simplicidade de Mário, havia uma riqueza de experiências e uma bondade que ela não encontrava com frequência. Ela se pegou rindo de algumas de suas histórias, e Mário também relaxou, aproveitando a companhia dela. Quando terminaram de comer, Taís colocou os talheres no prato e suspirou satisfeita.
— Mário, foi uma das melhores refeições que já tive. Muito obrigada, mesmo! Ele olhou para ela com gratidão.
— Eu que agradeço. Você me deu uma segunda chance quando ninguém mais acreditava em mim. Ela sorriu, levantando-se da cadeira.
— Vou voltar para casa agora. Obrigada mais uma vez por tudo, foi um prazer. E, se precisar de mais alguma coisa, é só chamar — disse ele, acompanhando-a até a porta.
Ela deu um último sorriso antes de sair, sentindo que, naquela noite, uma nova amizade havia nascido. Foi dormir naquela noite, mas o pensamento de que Vítor ainda não havia retornado a incomodava. Geralmente, Vítor mandava uma mensagem instruindo-a a buscá-lo no trabalho, mas, naquele dia, ele não mandara nada; era um comportamento fora do comum.
Mário tentou afastar a preocupação e adormeceu. Porém, no meio da madrugada, foi acordado por uma discussão; eram vozes altas, ríspidas, que vinham da mansão. Ele olhou o relógio: quase 3 da manhã.
Reconheceu as vozes de Vítor e Thí que brigavam de maneira intensa, quase desesperada. Mário se levantou e foi até a janela, mas hesitou; os gritos ecoavam pela casa, carregados de ressentimento. Ele não conseguia entender as palavras exatas, mas percebia que era uma briga séria.
De repente, o som de algo se quebrando fez o coração dele acelerar. Ouviu um prato estilhaçar, seguido de mais vozes exaltadas. Por um momento, ele pensou em ir até lá para ver se Thí estava bem.
No entanto, era apenas um funcionário. Quem era ele para intervir na vida pessoal dos patrões? Mário ficou parado com a mão na maçaneta, mas recuou, lutando contra o impulso de se intrometer.
Voltou para a cama, tentando bloquear o som da discussão, mas levou horas para adormecer novamente. Só conseguiu cochilar quando o silêncio, enfim, se restabeleceu. Na manhã seguinte, Vítor entrou no carro para que Mário o levasse ao trabalho.
Durante toda a viagem, ele permaneceu em silêncio, os olhos fixos na estrada à frente, com um semblante sombrio e fechado. Mário também não disse nada, respeitando o ambiente tenso. Assim que Vítor saiu, Mário suspirou e retornou à mansão para buscar Thí.
Quando Thí entrou no carro, Mário a cumprimentou com um “bom dia”, tentando manter a normalidade. Taís retribuiu com um sorriso fraco, mas, ao virar-se para ele, Mário percebeu algo que o fez congelar por um instante: o olho dela estava levemente roxo, um hematoma que ela tentava cobrir com maquiagem. A visão deixou Mário sério, o coração acelerando de preocupação.
Thí, percebendo o olhar dele, riu de forma nervosa. — Ah, isso aqui — disse ela, apontando para o olho machucado — foi culpa de uma garrafa de vinho. Ela estava na prateleira mais alta e caiu bem no meu olho quando tentei pegar.
Que azar, não é? Ela forçou um sorriso, mas Mário apenas assentiu, percebendo que a expressão dela dizia outra coisa. — Tudo bem, Taí — respondeu ele, com uma calma que tentava esconder sua apreensão.
Durante o trajeto até o trabalho, Thí se manteve calada, os olhos voltados para o lado de fora da janela. Parecia pensativa e triste, um comportamento que não era comum nela, pois geralmente era alegre e simpática. Enquanto dirigia, Mário observava pelo retrovisor, enquanto ela aplicava mais maquiagem na tentativa de cobrir a mancha roxa.
Passou várias camadas de base, mas o excesso de maquiagem tornou seu rosto pesado e pálido. Ao chegarem ao escritório, Mário se despediu dela com um sorriso, mas Taís respondeu com um aceno distraído, ainda imersa em seus próprios pensamentos. Ele prometeu a si mesmo que voltaria para buscá-la no final do dia, como sempre fazia, e tentou ignorar a inquietação que sentia.
No entanto, o restante do dia foi dominado por um peso difícil de ignorar. A cena do olho roxo de Taí não saía de sua cabeça. A história da garrafa de vinho não parecia convincente; era quase impossível que uma garrafa causasse um hematoma tão específico.
A dúvida o corroía, e Mário passou a tarde inteira questionando-se: seria possível que Vítor tivesse feito aquilo? Nos dias que se seguiram, o clima na mansão ficou cada vez mais estranho e silencioso. Thí e Vítor falavam menos entre si e, mesmo quando estavam juntos, havia uma tensão visível no ar.
Mário percebeu o desconforto crescente, mas se manteve à distância, cumprindo suas funções sem questioná-los diretamente. Porém, em uma manhã, Thí apareceu com um novo machucado, dessa vez no braço. O hematoma tinha o formato incontestável de uma mão, como se alguém tivesse apertado seu braço com força.
Mário sentiu o sangue ferver, mas se conteve. Quando Taís entrou no carro, ele não conseguiu mais conter sua preocupação. — Taís, você precisa.
. . precisa denunciar isso!
A voz dele era baixa, mas carregada de seriedade e preocupação. Taís tentou sorrir, mas seus olhos logo se encheram de lágrimas. Ela olhou para o chão do carro, parecendo frágil e envergonhada.
— Eu. . .
eu não posso, Mário. Não posso fazer isso. Ele a observou, a voz tremendo com a frustração que segurava.
— Taís, você merece respeito! Ninguém tem o direito de fazer isso com você! Você não está sozinha!
Ela balançou a cabeça, as lágrimas caindo silenciosamente, enquanto olhava para ele com um misto de desespero e tristeza. — Por favor, Mário, eu não quero mais falar sobre isso — disse ela, saindo do carro assim que chegaram ao escritório, ainda limpando o rosto. Mário a observou enquanto ela entrava no prédio, seu coração cheio de dor e impotência.
O que mais podia fazer? Queria interferir na vida pessoal dela, mas era impossível assistir a tudo aquilo e não se preocupar. A sensação de impotência o acompanhou de volta à mansão.
Nas horas seguintes, Mário tentou se ocupar com tarefas triviais, mas a imagem de Thái chorando e o hematoma em seu rosto não saíam de sua mente. Ele se perguntava se haveria uma forma de ajudá-la sem invadir sua privacidade, sem violar os limites que ela mesma parecia impor. Ao final do dia, quando voltou para buscá-la, Thái parecia ainda mais abatida, com o olhar perdido.
Mário sabia que ela precisava de alguém que a ouvisse, que a ajudasse a enfrentar aquele problema. Ele ensaiou algumas palavras para dizer, mas a expressão dela o fez desistir; talvez não fosse o momento. Durante o trajeto de volta, eles ficaram em silêncio, mas antes de Thái sair do carro, Mário respirou fundo e decidiu tentar mais uma vez: — Thái, se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, estarei aqui.
Ela olhou para ele com os olhos ainda tristes, mas deu um leve aceno. — Obrigada, Mário. Eu sei que você está aqui.
Isso já ajuda. Ela saiu do carro e Mário ficou ali, assistindo-a caminhar de volta para a mansão. Sabia que algo precisava mudar, mas respeitaria o tempo dela.
Dias passaram e novamente Mário foi acordado no meio da madrugada pelos sons de uma discussão que vinham da mansão. Dessa vez, os gritos de Thái eram desesperados e ecoavam na noite silenciosa. Ele se levantou de supetão, sentindo o sangue ferver; já não importava mais se seria demitido, ele sabia que não podia ficar parado enquanto Thái sofria.
Sem pensar duas vezes, Mário correu até a mansão e, em um impulso, abriu uma das janelas laterais e entrou silenciosamente. Os gritos continuavam e ele se guiou pelo som até encontrar o quarto onde Thái e Vítor estavam. Thái estava encolhida, lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto Vítor, visivelmente bêbado, gesticulava com raiva, uma das mãos erguida no ar como se estivesse prestes a agredi-la.
Mário não hesitou; em um movimento rápido, ele segurou o braço de Vítor, impedindo-o de qualquer agressão. — O que pensa que está fazendo? — Mário gritou, sua voz grave e firme.
— Covarde! Por que não enfrenta alguém do seu tamanho? Vítor, surpreso e assustado pela interrupção, recuou, seus olhos arregalados de medo.
Ele cambaleou para trás, tentando recompor-se, mas o estado de embriaguez deixava-o confuso, e seu olhar desviava para a porta, claramente buscando uma saída. — Você. .
. você está demitido, entendeu? — Vítor gritou, com a voz trêmula, tentando disfarçar o medo.
— Saia da minha casa agora! Ele fechou a porta do quarto com um baque, isolando-se ali, enquanto Mário o observava com desdém. — Covarde!
— Mário murmurou, controlando a raiva que ainda pulsava dentro de si. Ele se virou para Thái, que estava sentada na beira da cama, ainda tentando recuperar o fôlego. Os olhos dela estavam vermelhos e assustados, mas também havia um misto de alívio e gratidão em seu rosto.
— Thái, você está bem? — perguntou ele com a voz baixa, quase num sussurro, tentando transmitir a segurança que ela precisava. Ela assentiu, ainda enxugando as lágrimas.
— Sim, mas não posso mais ficar aqui. Eu preciso sair daqui. — Mário agora.
Então vamos. — Ele segurou a mão dela e ajudou-a a se levantar. Thái pegou sua bolsa e os dois saíram da mansão às pressas.
Ela entregou as chaves do carro a Mário e, sem olhar para trás, deixou que ele dirigisse, a mente ainda processando tudo o que havia acontecido. Enquanto cruzavam as ruas desertas da cidade, Mário quebrou o silêncio. — O que você vai fazer agora?
— Eu. . .
eu não posso mais viver com ele. Toda vez que ele bebe, ele se transforma. Eu achava que isso mudaria, sabe?
No começo era diferente, mas agora. . .
— Ela fez uma pausa, olhando para as próprias mãos. — Vou pedir o divórcio. Mário assentiu com um olhar sério e firme.
— Thái, você precisa denunciá-lo por agressão. Ele não pode ficar impune. Ela hesitou, mas assentiu, com os olhos fixos na estrada à frente.
— Sim, Mário. Eu sei. Eu tenho medo do que ele possa fazer, mas dessa vez não vou me calar.
Após um longo silêncio, chegaram a um hotel. Thái, ainda abalada, foi até a recepção e reservou dois quartos separados. Ao terminar o check-in, ela entregou a chave do quarto a Mário.
— Obrigada por tudo — murmurou, o olhar cheio de gratidão. — Não precisa agradecer, Thái. Vou estar sempre aqui para o que precisar.
Nos dias que se seguiram, Thái ficou no hotel, buscando um novo lugar para morar. Mário manteve-se próximo, oferecendo apoio e conselho sempre que podia. Durante esse período, Thái revelou que havia uma vaga simples no escritório onde ela trabalhava e perguntou se ele teria interesse.
— Mário, não é uma posição de destaque, mas é algo estável, e eu ficaria muito mais tranquila com você por perto — disse ela, esperançosa. Mário aceitou o emprego com um sorriso grato; aquela oportunidade, além de ser um novo começo, era uma chance de seguir em frente perto de alguém que ele respeitava profundamente. Pouco depois, Thái encontrou um apartamento confortável e se mudou.
Com a proximidade que ela e Mário já tinham, ele conseguiu alugar um apartamento no mesmo prédio, a poucos metros de distância. Aquela nova realidade, embora humilde comparada à vida na mansão, era um alívio para ambos. A paz que eles não sentiam há tempos finalmente parecia presente.
Thái e Vítor se divorciaram, mas por causa do regime de separação de bens, ela não recebeu nada do patrimônio de Vítor. No entanto, isso parecia ser o último dos problemas para ela. Com o apoio constante de Mário, Thái também tomou coragem para denunciá-lo por agressão.
A medida protetiva foi concedida, garantindo que Vítor não poderia mais se aproximar dela, algo que a fez respirar aliviada. Agora, além de serem vizinhos, Thái e Mário trabalhavam juntos no escritório, onde compartilhavam as pausas para o café e conversas sobre a vida. A amizade entre os dois se fortalecia a cada dia, criando um laço de confiança e respeito que ambos valorizavam.
Em um fim de tarde, enquanto terminavam o expediente, Taí olhou para Mário com um sorriso discreto. — Sabe, Mário, quando nos reencontramos naquela Avenida, eu nunca imaginei que nossa amizade tomaria esse rumo — ela riu, lembrando de todos os acontecimentos que os haviam unido. Mário sorriu de volta, concordando: — A vida tem dessas, não é?
Acho que a gente nunca sabe o que vai acontecer, mas de alguma forma as coisas parecem fazer sentido. Taí sentiu os olhos brilhando. — Sim.
Acho que, no final, encontramos as pessoas certas quando mais precisamos. E você tem sido uma dessas pessoas para mim, Mário. Obrigada por tudo.
Ele balançou a cabeça sem conseguir esconder o sorriso. — Eu que agradeço, Taí. É bom poder contar com alguém de verdade.
Os dois ficaram em silêncio, compartilhando um momento de tranquilidade e gratidão. A jornada havia sido difícil, cheia de obstáculos e desafios que haviam testado suas forças, mas naquele momento tudo parecia estar no lugar certo. Meses passaram, e a amizade entre Taí e Mário floresceu de maneira tão natural que logo os dois perceberam que algo mais profundo os unia.
Mário estava perdidamente apaixonado por Taí, mas a insegurança sempre o atormentava. Ele via Taí com um bom emprego, uma mulher que já havia sido milionária ao lado de Vittor, e se perguntava como poderia competir com isso. Em comparação, ele ganhava pouco e, para alguém que já tivera o mundo nas mãos, como ele poderia oferecer qualquer coisa que a encantasse?
Ainda assim, os sentimentos que ele guardava começaram a crescer a cada dia. Eles compartilhavam almoços, risadas, e os momentos mais simples se tornavam preciosos. Mesmo assim, Mário hesitava em confessar; sentia-se indigno, como se o amor que ele pudesse oferecer não fosse suficiente.
Mas algo dentro dele o impulsionava e, em uma tarde, enquanto Taí preparava uma refeição na cozinha, ele finalmente criou coragem. Ele respirou fundo, apoiando-se na mesa enquanto a observava cortar vegetais com um sorriso suave no rosto. O coração dele disparou.
— Taí, eu preciso dizer algo — começou, a voz baixa, mas firme. Ela olhou para ele, parando o que fazia, intrigada. — Claro, Mário.
O que foi? Ele passou a mão pela nuca, claramente nervoso. — Eu.
. . bem, eu gosto muito de você e não só como amigo.
Eu acho que estou apaixonado por você — disse ele, sentindo o coração bater mais rápido. — Mas eu também sei que não tenho nada para te oferecer além de uma vida simples. Não posso te dar o mundo, só momentos modestos como esses.
Taí ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dele, e então seus olhos se encheram de emoção. Ela colocou a faca de lado e se aproximou dele, segurando suas mãos. — Mário, você não entende, esses momentos simples são os mais especiais que eu já tive na minha vida.
As coisas que você acha que não podem me dar felicidade são exatamente o que me faz feliz. Antes que ele pudesse responder, Taí inclinou-se e o beijou. O beijo foi suave e cheio de ternura, selando uma promessa que palavras nunca poderiam expressar.
A partir daquele dia, os dois começaram um relacionamento, construindo uma vida juntos. Com o passar dos meses, eles formaram uma rotina aconchegante, morando juntos no pequeno apartamento. Apesar de não terem muito, encontravam felicidade nos pequenos gestos: preparar jantares juntos, assistir a filmes, passear pela vizinhança.
Para Taí, era uma vida nova, sem o peso das aparências e sem o medo que cercava o passado. Contudo, enquanto Taí e Mário viviam felizes, alguém acompanhava à distância cada um de seus passos, remoendo o que considerava uma traição. Vittor, o ex-marido de Taí, não conseguia aceitar o fim do casamento, tampouco o fato de que ela havia encontrado paz e amor ao lado de alguém.
Por ciúmes possessivos e cada vez mais envolvido em sua vida social e nos negócios, ele via sua fortuna escorregar entre os dedos como fúteis e noites regadas. Frequentemente, estacionava o carro em frente ao prédio onde Taí e Mário moravam, assistindo à entrada e saída deles, alimentando um rancor cada vez mais intenso, que misturava tristeza, raiva e uma possessão doentia. Uma noite, ele os viu rindo e acenando um para o outro, e o ciúme pareceu dominá-lo de uma vez por todas.
Vittor socou o volante, com o rosto contorcido de ódio. — Se ela não vai ser minha, então não vai ser de mais ninguém — murmurou, com um olhar insano. Em uma manhã ensolarada, Vittor estacionou o carro na frente do prédio de Taí mais uma vez, esperando por qualquer oportunidade de se aproximar dela.
Taí saiu do prédio, acenando para Mário, que estava no carro se preparando para ir trabalhar. O sorriso no rosto dela e o aceno alegre foram como gasolina no fogo da raiva de Vittor. Ele fixou o olhar nela, e em um impulso irracional, ligou o motor e acelerou em sua direção.
— Isso acaba agora — murmurou para si mesmo, com o coração cheio de ciúmes e ressentimento. Mário percebeu o carro de Vittor avançando em direção a Taí em alta velocidade. Num instante, ele entendeu o que estava prestes a acontecer.
Sem pensar duas vezes, acelerou o próprio carro e posicionou-se entre Taí e o veículo de Vittor. O impacto foi violento, os dois carros colidindo com força. Ambos os veículos deslizaram pela calçada, caindo em uma ribanceira nas proximidades.
Taí gritou desesperada, correndo até a beira da ribanceira. Mário saiu do carro ileso. Ele se levantou com dificuldade e olhou para o carro de Vittor, que estava parcialmente destruído e preso em algumas árvores no barranco.
Taí correu até ele, abraçando-o, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Mário, você está bem? — perguntou ela, tentando manter a calma.
— Estou, Taí, estou bem, mas precisamos chamar ajuda para tirar Vittor dali. Enquanto Taí ligava para os serviços de emergência, olhava para o carro de Vittor, que estava preso entre as árvores, com Vittor ainda no… Volante desacordado e preso nas ferragens quando os bombeiros chegaram, levaram várias horas para cortar o metal e retirá-lo do veículo. Mais tarde, quando a polícia revisou as câmeras de segurança próximas, as imagens capturaram a tentativa de Vittor de atropelar Thí e a intervenção de Mário para protegê-la.
Com as provas em mãos, Vitor foi detido e acusado de tentativa de homicídio, resultando em uma condenação de alguns anos na prisão. Quando Vitor foi finalmente levado pela polícia, Thí e Mário respiraram aliviados; sabiam que, ao menos por um tempo, estariam livres do perigo que ele representava. A ameaça que pairava sobre eles havia finalmente se dissipado e agora podiam viver em paz.
Com o tempo, Thí e Mário voltaram à sua rotina simples, cheia de pequenas alegrias. Os momentos que antes poderiam parecer banais, como jantar juntos ou assistir a um filme no sofá, agora tinham um peso ainda maior. Cada instante era uma celebração da liberdade e do amor que conquistaram.
Em uma noite, enquanto assistiam a um filme antigo na sala, Thí segurou a mão de Mário e olhou para ele com um sorriso. "Nunca imaginei que uma vida simples como essa poderia me fazer tão feliz", disse ela, com os olhos brilhando. Mário apertou sua mão, sorrindo de volta, e respondeu: "Eu nunca imaginei que poderia encontrar alguém como você, Thí.
Você trouxe luz para minha vida. " Eles continuaram juntos, aproveitando os dias sem pressa, valorizando cada pequeno detalhe da vida que construíram. A paz e o amor que encontraram juntos eram o suficiente, e assim continuaram de mãos dadas, para o que viesse a seguir.