Hoje fazemos um salto até o capítulo 17 do livro do Eclesiástico, que é um capítulo no qual Jesus Ben Sirach começa a louvar a grandiosidade do ser humano na obra da criação. Nós lemos na liturgia até o versículo 13; porém, o texto continua, e nós conseguimos entender um pouco melhor o porquê desses louvores quando contrastado com aquilo que vem na sequência. Deus se apresenta como aquele que é testemunha de todos os atos do homem, dizendo o autor que todas as suas obras são claras como o sol, e Seus olhos observam sem cessar o seu proceder.
As leis de Deus não são eclipsadas pela iniquidade deles, e todos os pecados que cometem estão diante do Senhor. A esmola do homem é para Ele como um selo, e Ele conserva a beneficência do homem como a pupila dos olhos. Depois, se levantará para dar a cada um o que lhe é devido, e Ele os fará voltar às profundezas da Terra.
Quando nós entendemos que entre a graça e o pecado conseguimos perceber o que, no fundo, o autor está aqui nos mostrando, ou seja, Deus criou o homem de maneira tão prodigiosa, mas de que adianta isso se o homem não se comporta de acordo com a dignidade que ele tem? Então Ele diz: "Da Terra, Deus criou o homem e o formou à Sua imagem, e a Terra o faz voltar novamente". Embora o tenha revestido de poder semelhante ao Seu, que poder semelhante ao de Deus nós temos é o poder da nossa liberdade.
A nossa liberdade é uma criatividade participada da criatividade divina. Deus criou um mundo, introduzindo novidade, sempre produzindo algo novo. Nós, pela nossa liberdade, podemos produzir algo novo, e esse poder é um poder ao mesmo tempo maravilhoso e perigoso.
No dizer das Escrituras, quando Deus criou o homem, Ele disse: "Olha, você é chamado a ser livre, a andar na minha palavra, a não conhecer o mal. Não queira conhecer o mal. " Mas o homem quis conhecer o mal, e uma vez conhecendo o mal, acabou se depravando.
Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado; é uma coisa que raramente as pessoas consideram. O nosso tempo aqui é determinado, ou seja, nós não temos neste mundo uma eternidade para ganharmos o céu. O nosso tempo é limitado; nossos dias são contados.
Há muitas pessoas que pensam que podem passar a perna em Deus, por exemplo, cuidando da saúde, mas eu já vi muita gente saudável tendo mau súbito e morrendo do nada, enquanto outras pessoas doentes chegaram a idades muito avançadas, e ninguém entende bem o porquê. Portanto, temos que aproveitar o tempo que Deus nos deu. O tempo é um bem perecível; um segundo, quando se esvai, é irrecuperável.
E o que nós temos gastado de tempo para garantir a nossa salvação? "Deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a Terra, em todo ser vivo; infundiu o temor do homem, fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros. " Isso é muito interessante porque, em primeiro lugar, hoje, na nossa cultura contemporânea, não entendemos a superioridade do homem sobre os animais.
O que eu tenho visto de pessoas que tratam bicho como gente não está escrito, e que muitas vezes tratam um bicho melhor do que uma pessoa. Esses dias mesmo alguém me dizia que morreu a sua cachorrinha e a pessoa estava lá de luto. Digamos, meu Deus do céu, mas uma cadela não é uma pessoa!
Há um exagero aqui no cuidado dos animais e no relacionamento com os animais: espécie de humanização dos animais. Isso não corresponde àquilo que a Escritura nos ensina e, de certo modo, é uma espécie de delírio, porque o animal não sabe nem quem você é. Ele tem apenas estímulos aos quais responde e que produziram nele certas reações bioquímicas.
É por isso que ele pula quando você chega, lembra da comida, etc. Mas assim, um pouco menos, né? Nós precisamos ser mais sóbrios em relação a isso.
Mas também ele diz que em todo ser vivo infundiu o temor do homem, ou seja, os bichos têm medo do ser humano. E é exatamente assim, mesmo os animais mais perigosos. Por que eles picam?
Eles picam porque ficam com medo, mas se tivessem tempo e não se sentissem imediatamente ameaçados, correriam para longe. Uma cobra, por exemplo, se ela está num lugar e você pisa em cima dela, ela te pica; agora, se ela está ali e alguém vem chegando, ela se vai, ela vai embora. Agora nós nos esquecemos que os animais têm medo de nós, e, sobretudo, esses bichos, e nós aqui ficamos com medo deles.
Não tem gente que tem medo, por exemplo, de rato? Tem lá um rato e a pessoa tem medo do rato. O que o rato pode fazer?
Nada! Pega um pau, dá na cabeça do rato, morreu o rato. E uma barata?
O que uma barata pode fazer contra você? Nada! Mas tem lá uma barata e a pessoa entra em pânico.
É a barata que tem medo de você, não o contrário. Mas nós criamos essas fobias, né, quando, na verdade, Deus infundiu temor dos seres brutos ao homem. Deu ao homem discernimento, língua, olhos, ouvidos, um coração para pensar; encheu de inteligência e de sabedoria.
Deus ainda deu a ciência do Espírito. Vejam, Deus nos dotou de razão, de vontade, de sentimentos, de sentidos. E por que as pessoas não usam a cabeça que Deus lhes deu?
Deixam-se levar pelo seu desejo, pela sua vontade, pelos impulsos da carne. A gente vê agora o que é o carnaval, né? Quantas pessoas vão para esses bloquinhos, essas festas, chegam lá e o que rolar rolou.
Elas não percebem que Deus nos deu um cérebro, né? Vamos usá-lo para algo que seja útil, para algo que seja edificante. Algo que seja bom: vamos gastar nossa vida com estupidez.
É sempre o que acontece, né? Depois do Carnaval, o país fica empesteado de doença: H1N1, influenza, COVID, além da dengue, né, que tá aí campeando. Pois é, se os homens usassem o cérebro que Deus lhes deu, não se exporiam a tantas circunstâncias avassaladoras.
Mas Deus deu-lhes ainda a ciência do Espírito, encheu o seu coração de bom senso e mostrou-lhes o bem e o mal, infundiu seu temor em seus corações, mostrando-lhes a grandeza de suas obras. Isso é tremendo, né? Nós, hoje, temos a impressão de que, como estamos em prédios bem construídos, em casas de alvenaria, o mundo hostil não nos ataca.
Mas o homem antigo não morava numa choupana, numa cabana; qualquer vento destrói aquilo, qualquer incêndio mata todo mundo. Então a grandeza e a incontrolável natureza sempre causaram no homem um temor sadio. Hoje, esse temor se manifesta, por exemplo, quando temos essas chuvas que temos tido ultimamente, e chega aquele apitinho da Defesa Civil e diz: “Olha, vai para um lugar seguro porque vai cair um pé d'água.
” Tudo isso deveria levar o nosso coração a um temor, a uma docilidade. Eu tenho que respeitar Deus, que colocou regras na vida; eu não posso infringir as regras que estão postas na natureza. Se nós pensarmos, né?
Por exemplo, quando um rapaz bêbado pega uma moto e sai doido por aí, estrada fora, e colide com um caminhão, ele infringiu quantas regras da realidade que existe independentemente de nós? Por exemplo, se você bebeu excessivamente, você perde a coordenação motora, você perde a capacidade de autocontrole. Se você pega uma moto, você está exposto a interpelar; o seu corpo está exposto naquele instrumento.
E, quando você colide, há uma lei na física que diz que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço e, portanto, o corpo mais forte vai massacrar o mais fraco. E aí o infeliz acorda nos quintos dos infernos. Se nós lembrássemos que a realidade é limitada, eu não posso infringir as leis da realidade; eu tenho que ter respeito, temor, reverência, e caminhar de modo circunspecto diante de Deus.
Deus concedeu que se gloriem de suas maravilhas, louvassem o seu nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras. Pois é, o homem moderno deixou de louvar a Deus para louvar cantores drogados em cima de um palco e ainda acham que estão fazendo uma grande coisa, né, quando ficam vendo essa gente. Concedeu-lhes ainda instrução e entregou-lhes por herança a lei da vida, firmou com eles uma aliança eterna e mostrou-lhes sua justiça e seus julgamentos; ou seja, conhecer a lei de Deus para nós é algo grande.
Nós deveríamos nos sentir privilegiados de poder conhecer e meditar naquilo que o Senhor tem para nós. Foi-nos dado conhecer, foi-nos dado meditar, mas se nós preferimos ignorar, achando que nós é que somos os bons, temos aquela impressão de autossuficiência, mas que não resiste à primeira pancada. Seus olhos viram a grandeza da sua glória e seus ouvidos ouviram a glória da sua voz.
Ele lhes disse: “Tomai cuidado com tudo que é injusto. ” E a cada um deu mandamentos em relação ao seu próximo. Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos aos seus olhos; ou seja, Deus facilitou para nós o caminho.
Ele, além de nos criar e nos dar tantas capacidades, se tornou nosso mestre e nos ensinou a sua lei, a sua vontade, aquilo que para nós é bom, é perfeito e também é agradável, é saudável, produz vida. Ora, por que complicamos tudo? Ao invés de termos o pensamento cheio de humildade e considerarmos a sabedoria de Deus, o que nós fazemos é seguir a nossa própria vontade.
É tão simples: basta escutar a voz do Senhor, pedir-lhe a sua graça, meditar na sua lei. É tão simples e é um caminho de êxito, ainda que com sacrifícios, mas é um caminho de verdadeira vida plena. Peçamos ao Senhor que nós não desprezemos a sua sabedoria e que possamos seguir as suas leis, os seus conselhos, sobretudo colocando o nosso intelecto iluminado pela fé para meditar na grandeza do Senhor e na soberania das suas obras.