Esse é um gráfico que mostra o preço médio dos carros 0km no Brasil. De 2018 até 2023 tivemos um aumento de incríveis 90%, passando de R$74 mil para R$141 mil reais. Tanto a pandemia como a falta de peças nas fábricas contribuíram para este aumento exorbitante, e por isso muitos se voltaram para os usados. Isso fez com que o mercado de carros usados crescesse 32% em março de 2023 em comparação com o mesmo período do ano anterior. E com isso, um antigo golpe ganha força, o Golpe da Quilometragem. Ele consiste em diminuir a quilometragem do veículo
para enganar compradores, fazendo eles pensarem que o carro possui menos quilometragem do que realmente tem e assim valorizar o veículo obtendo maior lucro na venda. Estimativas apontam que cerca de 30% dos veículos seminovos vendidos no Brasil possuem a quilometragem adulterada. Isso indica que a cada 10 seminovos que um brasileiro olha para comprar, 3 deles provavelmente estão com o hodômetro fraudado. Ao contrário do que a maioria pensa, o hodômetro digital não extinguiu este golpe, e quem busca aplicar o golpe utiliza da tecnologia para realizar a fraude de maneira bastante fácil. É possível encontrar ferramentas para adulterar
hodômetros sendo vendidos na internet, além de aplicativos que prometem congelar a contagem. E apesar de não ser muito difícil de ser aplicado é um golpe complicado de ser descoberto e muitas das vítimas sequer desconfiam que foram passadas para trás, causando um prejuízo bilionário aos consumidores anualmente. Um golpe que envolve até mesmo carros vendidos pelas maiores locadoras do Brasil. Então, como funciona esse golpe e como escapar dele? Ao comprar um carro usado uma das questões principais para se fechar um negócio é a conservação do carro, por isso quanto menos quilômetros rodados um automóvel possui mais valorizado
ele é. No entanto, essa informação pode ser enganosa. Um carro bem cuidado com alta quilometragem é muito melhor que um carro com baixa quilometragem que não passou por revisões no período determinado e com gambiarras. Enquanto a tecnologia avança e os carros se tornam mais modernos, os componentes internos também ficam. Mesmo com a digitalização do painel, por exemplo, ainda é possível ser fraudada a quilometragem. Antigamente essa adulteração era feita manualmente, com uma agulha para girar a roda numérica que fazia a marcação, quando os hodômetros digitais começaram a aparecer parecia que ele seria a prova de fraudes,
mas a tecnologia do crime também evolui. É possível facilmente encontrar empresas que oferecem o serviço. Obviamente, essas são práticas ilegais, tanto da venda quanto da compra. Inclusive aplicativos de celular que oferecem a possibilidade de congelar o hodômetro ou retardar a contagem da quilometragem, por exemplo, se o carro rodar 1000 km o hodômetro registra apenas 300km. Há até mesmo vídeos no Youtube ensinando como reverter a quilometragem. Por mais que novos veículos possuam uma central de controle, a vistoria cautelar não acessa essa parte do veículo e mesmo com o uso de um scanner encontrar a adulteração não
é uma tarefa tão simples. A ECU, sigla em inglês para Unidade de Controle do Motor, consegue armazenar o registro da quilometragem por isso, dependendo da forma de como o golpe é aplicado, ele pode ainda vir acompanhado de outras infrações legais, a mais conhecida recentemente é o golpe do laudo. Quando é vendido, um carro usado pode vir acompanhado de um laudo cautelar veicular que informa todo o histórico do carro, incluindo a quilometragem. No entanto, este laudo pode ser antigo e apresentar uma quilometragem menor, consciente disso o vendedor modifica a quilometragem do carro e o vende por
um preço acima do que deveria. Mas esta é só uma forma de aplicar o golpe. Existem casos em que o laudo apresentado também é adulterado ou falso. Eles modificam a quilometragem no laudo ou simplesmente inventam uma empresa e falsificam todo o documento. Por mais que seja possível identificar se um laudo cautelar é verdadeiro, acessando o QR Code emitido junto ao documento e conferindo no banco de dados da empresa para verificar se as informações estão corretas, especialistas orientam que na compra de um seminovo a vistoria cautelar seja feita pelo próprio comprador em uma empresa de confiança.
Um caso muito curioso envolvendo adulteração de quilometragem aconteceu em 2015, e envolveu parlamentares no estado do RS e que vai na contramão do golpe tradicional. Existe uma indenização pelo uso do carro particular, que garante ao parlamentar R$ 0,86 por quilômetro rodado, logo, se tornou comum os deputados enviarem seus carros a oficinas mecânicas para aumentar artificialmente a quilometragem registrada, o que resulta em um reembolso maior. Mas não se engane pensando que este é um golpe exclusivo no Brasil, várias partes do mundo sofrem com a mesma situação. Segundo a Administração Nacional de Segurança Rodoviária dos Estados Unidos,
no país mais de 450 mil veículos são vendidos anualmente com o hodômetro adulterado, causando ao país um prejuízo de US$1 bilhão de dólares a cada ano. Mesmo que a adulteração seja pequena, de alguns milhares de quilômetros, por exemplo, isso já afeta o valor do veículo, no entanto, na maioria dos casos a adulteração é de dezenas de milhares de quilômetros. Nos EUA, o prejuízo dos consumidores chega a ser em média $4 mil dólares. Recentemente a FedEx, a maior empresa de entregas do mundo, foi acusada de aplicar o golpe da quilometragem. Os veículos vendidos pela empresa tinham
o hodômetro substituído e poderiam marcar a quilometragem até 4 vezes menor do que a realidade. Até 2011 a empresa possuía o costume de descartar veículos antigos, mas então passou a partir daquele ano leiloar seus caminhões e vans para reverter em lucro para a empresa. No entanto, uma denúncia envolvendo inúmeros compradores privados de diferentes estados dos Estados Unidos revelaram a prática tendenciosa. A substituição aparentemente foi realizada em inúmeros veículos da frota que eram completamente zerados e depois de um certo tempo rodando eram então vendidos. Muitos desses veículos estavam listados com quilometragem de 160 mil km, mas
estima-se que os números reais eram muito acima e vendidos por um preço acima do valor real a pequenos empresários. O processo afirma que esse procedimento resultou na venda de veículos que ultrapassaram seu tempo de vida útil, ocasionando problemas mecânicos sérios que prejudicaram financeiramente e colocaram em risco os compradores O processo ainda afirma que as concessionárias Holman Automotive estavam cientes da fraude já que tinham acesso ao software de monitoramento dos veículos. A concessionária pode ainda estar envolvida diretamente na fraude sendo responsável pela venda e dividindo os lucros com a FedEx. O processo que ainda corre na
justiça americana, se for confirmado, será o maior Golpe de Quilometragem da história dos Estados Unidos. Mas existe um caso específico em que a própria revenda não faz ideia de que está vendendo um carro adulterado. Entre 2018 e 2019, as locadoras passaram por uma ‘era de ouro’. Parte de um seleto grupo autorizado pelo governo a comprar diretamente com montadoras e receber descontos nas alíquotas de ICMS e IPI, as locadoras neste período estavam comprando frotas com cerca de 30% de desconto e estavam sendo as salvadoras do mercado automotivo do Brasil. Com a necessidade constante de atualizar os
carros e tendo comprado automóveis com descontos tão altos, as locadoras podiam repassar seus carros para venda por valores 30% mais barato que as concessionárias. Com o brasilieiro não comprando carro novo e consequentemente faltando carros usados para venda, as locadoras viram uma grande oportunidade. Nesse período a principal receita de locadoras se tornou a venda de carros, com cerca de 51% e 60% do faturamento bruto das principais locadoras do Brasil, Localiza, Unidas e Movida advindas da venda de seminovos. Muitos pontos de locação até mesmo se tornaram pontos de revenda de veículos. Somente em 2018 a Unidas Seminovos
teve um aumento de 153% nas vendas e a Seminovos Localiza teve crescimento de vendas de 43% no primeiro trimestre de 2019. Os carros de locadoras possuem uma idade média pequena de apenas de 17 meses, os clientes sempre dão preferência por veículos mais modernos e econômicos na hora de alugar, por isso os seminovos oferecidos por elas chamam atenção por serem veículos bem conservados, de boa procedência e quilometragem baixa. No entanto, é preciso ficar atento. Carros de aluguel são veículos que passaram pelas mãos de diversos condutores, por mais que a locadora tenha o cuidado de preservar o
carro ao máximo, o mesmo pode não acontecer com seus usuários. Geralmente as empresas de locação de veículos oferecem dois tipos de serviço: a de Aluguel Avulso, geralmente utilizado por turistas, motoristas de aplicativo ou para outros fins; e as frotas corporativas que são carros alugados para executivos e funcionários. Este último tipo de locação funciona por meio de um contrato estabelecido entre a empresa e a locadora e pode durar anos. Ao fazer um contrato de aluguel há uma quilometragem limite para ser rodada, caso ultrapassado o cliente é obrigado a pagar um valor adicional. O que acontece é
que muitos clientes ultrapassam essa quilometragem e, sem querer pagar pela taxa, diminuem a quilometragem do carro e devolvem o carro como se nada tivesse acontecido. A locadora passa o carro para frente sem nem saber que seu veículo foi adulterado. Além do caso das locadoras, existem inúmeros outros onde o hodômetro adulterado não foi resultado de um vendedor mal intencionado. Pode haver casos em que as pessoas baixam a quilometragem para permanecer com a garantia do carro. Ou então para receber seguro em casos de batidas. E até mesmo onde o painel do carro foi trocado e permaneceu com
a quilometragem do antigo veículo. E então, nesses casos, quem é o culpado? E mais importante, como fugir desse golpe? A adulteração do hodômetro configura crime previsto no Código Penal pelo artigo 171, com pena de até cinco anos e multa. O Código de Defesa do Consumidor ainda prevê que qualquer pessoa envolvida na compra ou venda desses veículos seja vendedor ou fornecedor serão responsabilizados. Em 2016, em Minas Gerais, uma cliente ganhou o processo que abriu contra a concessionária Tecar Automóveis depois de adquirir um Palio, com o hodômetro apontando cerca de 52 mil quilômetros rodados e descobrir que
o carro na verdade possuía mais de 95 mil quilômetros rodados. Apesar da concessionária ter entrado com recurso alegando que havia adquirido o veículo de um terceiro, a desembargadora do caso considerou que a compra obtida pela cliente lhe causou diversos transtornos e manteve a decisão de que a empresa deveria ser responsabilizada pela venda e pagar uma indenização de R$10 mil por danos morais e ressarcir a cliente pelos valores gastos na manutenção do carro. Apesar de ser difícil de ser identificado, é possível que o cliente realize certos cuidados na hora da compra para evitar cair no golpe.
Se o carro indicar uma quilometragem baixa e os bancos, volante, pedais estiverem desgastados, é muito provável que o hodômetro foi modificado, especialistas afirmam que essas peças começam a se desgastar a partir de 40 mil km rodados. Mas em alguns casos os golpistas mudam essas peças e os fazem parecer novos. Neste caso o consumidor precisa ficar atento ao estado dos pneus, se as condições de estrada em que o carro percorreu não forem adversas um pneu tende a ficar desgastado com cerca de 50 mil km rodados. Se o pneu do carro estiver trocado é capaz que ele
tenha rodado mais que isso. É possível também utilizar um pouco da lógica. O brasileiro roda em média 15 mil km por ano, é possível conferir a data da compra do veículo quando ele era 0km e fazer as contas de quanto em média aquele carro pode ter rodado. É claro que pode haver certas variações, mas se o indicado no hodômetro fugir muito dessa conta é provável que esteja adulterado. Por mais que o Golpe do Laudo esteja crescendo é importante conferi-lo antes de tudo, o laudo não só demonstra a quilometragem do carro, mas todo o seu histórico.
O mais eficiente para evitar este tipo de golpe é levar o carro para um mecânico de confiança, ele poderá notar irregularidades que cidadãos comuns não achariam e fará o alerta. Com o aquecimento do mercado de carros usados, até mesmo uma nova profissão surgiu e agora você também pode contar com a ajuda de um consultor automotivo que serve justamente para identificar este tipo de golpe e outros problemas na hora de comprar um carro usado o orientando para o melhor negócio. Se caso alguém desconfie que caiu no golpe, o código do consumidor certifica que o cliente possui
garantia legal de até 30 dias após o recebimento do veiculo, para reclamar ou exigir a troca do veiculo caso ele apresente defeitos aparentes ou ocultos. E além dessa profissão, surgiram também novas oportunidades para comprar um carro novo Hoje, as locadoras brasileiras são donas de 1,3 milhão de veículos. O setor cresceu e se manteve firme mesmo durante a pandemia, em uma das maiores crises da indústria automotiva. Em 2020, pela primeira vez na história, a frota total das locadoras chegou a mais de 1 milhão de veículos. Elas foram responsáveis pela compra de 360 mil carros zero, 20%
do que foi vendido no ano inteiro. Segundo a Abla, Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, o faturamento líquido das locadoras foi de 15,3 bilhões de reais em 2020, na época, o setor já era responsável por empregar mais de 77 mil pessoas. Mais recentemente, em 2022, o faturamento bruto das locadoras chegou a 36,8 bilhões de reais, representando um crescimento de 109% sobre 2020. Que elas ganham muito dinheiro é óbvio, mas a questão é que 60% do faturamento dessas empresas não vem da locação de carros. Então: - Como as locadoras realmente ganham dinheiro? - É através de
uma prática legal? - E o que VOCÊ tem a ver com isso? Pode parecer irônico, mas as locações não representam nem metade do lucro das locadoras. São, na verdade, entre 40 a 50% da margem de lucro. E a grande sacada dessas empresas começa na hora da compra. Locadoras de carro, em sua maioria, são empresas muito grandes. Elas pagam muito mais barato porque aproveitam de benefícios que o consumidor final não tem: comprar carros direto das fábricas e em grandes lotes. Esses descontos podem variar entre 15 e 30% do valor do automóvel, no caso de modelos com
vendas mais fracas. Além disso, elas são o principal público da venda direta, que é quando a montadora vende diretamente para quem consome. Dentre os consumidores diretos estão o grande público em geral, as pessoas que possuem algum tipo de deficiência ou doença crônica que comprometa sua mobilidade, e taxistas. Por isso, elas podem comprar direto das montadoras com benefícios fiscais como ICMS e IPI mais baixos. Depois da compra, as concessionárias alugam esses carros pra diferentes tipos de público: - Pessoas como eu e você, que precisam pra uma viagem, temporada, emergência ou simplesmente não quer ter que lidar
com a burocracia de um carro próprio; - Órgãos públicos e privados, que muitas vezes preferem alugar ao invés de comprar, porque o aluguel sai muito mais barato e dá menos dores de cabeça com manutenção; - E motoristas de aplicativo, que muitas vezes preferem dirigir carros alugados do que seus próprios veículos, para evitar seu desgaste e consequente depreciação.. Então tá, locadoras compram carros mais baratos e alugam. A gente já imaginava, onde tá a novidade nisso? Bem, agora que começa a ficar interessante. Justamente pela facilidade que elas têm para comprar carros novos e até para manter sua
frota sempre atualizada e atraente, as locadoras acabam renovando seu portfólio com muita frequência. E os carros usados precisam ir pra algum lugar. É aí que as locadoras realizam a maior parte do seu lucro. Muitas delas possuem lojas próprias, onde vendem esses veículos que deixam em seus catálogos. Em 2021, lojas de locadoras venderam cerca de 250 mil carros. Esse número não corresponde nem a 3% das vendas totais de seminovos e usados no país, mas ainda é um número significativo. Pra você ter uma ideia, até algumas lojas de usados compram em grandes lotes das próprias concessionárias de
locadoras. É comum as pessoas terem preconceito em comprar carros que já foram locados, principalmente por acharem que eles já virão cheios de problemas, pela quantidade de quilômetros rodados. O que muitas delas não sabem é que seu carro comprado em uma concessionária de usados comum pode muito bem ter vindo de uma Localiza da vida. Segundo a Abla, em 2021, 50% das vendas das locadoras foram destinadas às concessionárias e lojas de bairro. Ou seja, mais 97% dos carros dessas concessionárias de veículos semi-novos e usados não vieram de locadoras, e sim de pessoas comuns. Mas uma pequena parte
deles, sim. Estas concessionárias fazem isso pra manter o estoque e ter uma boa variedade de modelos. E os seminovos das locadoras são um prato cheio porque chegam a preços muito atraentes, já que foram adquiridos por um valor muito mais baixo. E é assim que as locadoras de automóveis ganham dinheiro: Primeiro, elas compram os veículos bem mais baratos. Depois, elas lucram com o aluguel dos carros durante 1 ou 2 anos. E, finalmente, revendem esses carros com uma margem de lucro muito boa. Daí, elas podem renovar a frota e o ciclo recomeça. Mas todas essas operações são
legais? Já faz um tempo que os benefícios fiscais das locadoras têm incomodado as outras empresas do setor. A Fenabrave, Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, diz que por venderem usados a preços mais baixos, graças aos descontos que têm, elas acabam pressionando as margens do setor inteiro, o que seria excelente para o consumidor final. Contudo, sabendo que os usados vindos de locadoras representam uma fração tão pequena, de apenas 3% dos usados à venda no mercado, provavelmente a federação está superestimando esse poder de pressão dos carros das locadoras sobre os preços dos seminovos. Em 2020, o
STF decidiu que é válida a cobrança de ICMS sobre a venda de automóveis por locadoras, mas apenas se for antes do prazo de um ano da compra. Agora, existe um projeto de lei em discussão que quer ampliar esse tempo pra dois anos. O que pode parecer muito bom para o consumidor, já que a redução de impostos faria com que o preço na ponta também caia, mas pode ser um problema caso as locadoras decidam praticar arbitragem fiscal, ou seja, comprar com ICMS muito baixo, como em São Paulo, onde ele é 90% menor, e vender o veículo
por um preço acima do que pagou por ele. Para evitar que isso ocorra, foi realizado o Convênio ICMS nº 64 de 07/07/2006 do Confaz. Sua cláusula primeira define que se o veículo for vendido antes de 12 meses da data da aquisição junto à montadora, deverá ser efetuado o recolhimento do ICMS pelo estado do domicílio do comprador. A cláusula segunda do mesmo Convênio define que a base de cálculo do imposto será o preço de venda ao público sugerido pela montadora. Mas a regra é o contrário. O normal é que a locadora revenda os carros por um
valor inferior ao valor que os proprietários comuns, já que pagaram menos por eles. E isso é muito bom para o comprador de semi-novos e usados. O deputado Mário Heringer do PDT de Minas, que foi quem sugeriu o projeto, diz que no Brasil não existe nenhuma lei que restringe a venda sem um prazo mínimo, só um acordo. Mas a Fenabrave é contra o projeto e defende que o prazo de 12 meses continue, mas que os estados fiscalizem para que esse tempo seja cumprido. A Abla defende que as locadoras precisam vender os carros para renovar a frota
e que essa venda é feita pela tabela Fipe. Mas o valor recebido pela venda da frota pra renovação, que no último ano foi 10% menor que o valor gasto na compra, hoje é apenas 5% menor que o gasto na compra. Por isso, muitos especialistas ainda defendem que, como o lucro das locadoras já vem em sua maioria e cada vez mais das vendas, não das locações dos carros, é preciso fazer uma revisão do modelo de negócio e dos privilégios que essas empresas recebem. A Abla defende ainda que essa ideia de que o setor de locação atrapalha
o mercado de compra e venda e traz impacto nos preços do varejo. Mas realmente, 3% do volume de carros vendidos podem exercer tanta influência sobre os preços no geral? Enquanto os rivais argumentam que as locadoras estão se aproveitando das isenções graduais de impostos, de acordo com cada estado da federação, elas alegam que a venda não é um negócio de fato, mas uma forma de renovarem suas carteiras de veículos. Bem, pelo que já expusemos aqui, os dois modelos de negócios geram bastante lucro para as montadoras. Mas confusões à parte, a pergunta que mais interessa pra você
consumidor é: vale a pena comprar um seminovo que pertenceu a uma locadora de veículos? Existem vantagens e desvantagens em comprar um carro de locadora. A variedade de modelos é muito boa e como elas renovam suas frotas com muita frequência, a maioria dos veículos são novos, com 1 ou 2 anos de uso. Os carros também, em sua maioria, aparentam ser bem conservados e completos, mesmo os modelos de entrada, apesar da quantidade de quilômetros rodados. Com exceção dos utilizados por motoristas de aplicativos, o que já é de se esperar por rodarem mais. Os veículos ficam nas lojas
à pronta entrega e já são revisados pelas próprias locadoras. As concessionárias de locadoras também trabalham com financiamentos, então é possível ir até uma delas, fazer sua análise de crédito e já sair de lá com seu novo carro. Muita gente se sente mais segura ao comprar um veículo de uma pessoa comum, com a ideia de que essa pessoa cuidou bem do carro, afinal de contas, era dela. Agora um carro de locadora já foi utilizado por várias pessoas, para fins diversos. E muitas vezes essas pessoas que alugam não ligam muito pra deixar o carro bem cuidado. É
claro que há um contrato entre o locatário e a locadora, para que os danos sejam mínimos. Mas nada, além da ética pessoal, impede ninguém de fazer uma maquiagem e devolver o veículo com a quilometragem adulterada, por exemplo. O mesmo ocorre com a pessoa física que vai vender seu carro usado, ou o dono da concessionária de seminovos e usados. Ou seja, você pode se dar bem ou mal, independente de onde compra o carro. Tem gente que compra um carro zero e se dá mal, e tem gente que compra carro de locadora e faz um ótimo negócio.
Então o importante é sempre se informar bem sobre o carro e levar ele em algum mecânico, especializado, ou levar o mecânico até a revenda, para ter certeza de que se trata de um bom negócio. E além disso pra se proteger você precisa ter um seguro. Só que até nessa hora você precisa ficar de olho pra não cair em golpe Você sabe o que o motoqueiro desse vídeo tá tentando fazer? Ele simplesmente para a moto e se joga embaixo dela, fingindo depois estar desacordado até que alguém passe no local e encontre essa cena. Tudo pra fingir
que acabou de sofrer um acidente, e tentar fraudar o seguro. Ou seja, ele poderia, em tese, acionar o seguro e receber uma indenização pelo ocorrido. Então ele faz toda essa encenação só pra forjar esse sinistro. O único problema é que ele não contava com uma câmera de segurança gravando essa cena lamentável do início ao fim. Casos de fraudes contra seguradoras são comuns, e acontecem no mundo inteiro, e vão desde acidentes combinados, a gente se jogando na frente de carros de estranhos, e até a esquemas gigantescos envolvendo as próprias seguradoras. A possibilidade de descolar uma grana
instantânea leva muita gente a adotar estratégias dignas de cinema pra fraudar um sinistro – e acredite, há histórias bizarras sobre isso espalhadas pela internet. Uma delas conta que um dono de uma oficina automotiva tinha uma Ferrari F430, e depois de usar o carro por um tempo, simplesmente desmontou a Ferrari inteira e vendeu todas as peças. Depois acionou o seguro, e disse que o veículo foi roubado, recebendo um bom dinheiro da indenização. Outra fala sobre um homem que resolveu enterrar seu carro no quintal de casa, um Fiat Uno 2000. Depois de soterrar o Uno, ele ligou
pra seguradora também dizendo que foi vítima de roubo – só que um vizinho viu a movimentação, achou estranho e chamou a polícia. Afinal, não é todo dia que seu vizinho enterra um Uno no quintal. As histórias são tão bizarras, que daria pra fazer um concurso de tentativa de fraude mais criativa, o que seria cômico se não fosse trágico. Isso porque a busca pelo dinheiro fácil através dessas fraudes na verdade causa muito prejuízo às seguradoras, aumentando o risco envolvido e consequentemente o preço dos contratos, fazendo com que todo mundo pague a conta no final. Mas por
que essa prática tem atraído cada vez mais gente? Como isso afeta você, consumidor honesto e que só quer se prevenir? E o que as seguradoras têm tentado pra acabar com essas práticas sujas? Atualmente, contratar um seguro de automóveis no Brasil pode custar bem caro — e não é muito difícil entender o porquê. Com as cidades brasileiras registrando altos índices de acidentes, estradas esburacadas e uma preocupante incidência de roubos de veículos, os proprietários enxergam o seguro como mais do que um simples serviço; é uma salvaguarda essencial pra proteger seus bens em meio a um cenário de
riscos constantes. No entanto, as seguradoras também enfrentam um desafio que tem se tornado uma constante dor de cabeça: as fraudes. Em 2022, as fraudes comprovadas às empresas seguradoras somaram mais de 800 milhões de reais de prejuízo, o que representa aproximadamente 16% dos sinistros suspeitos. Esses números representam mais do que um dano milionário; eles também impactam diretamente sobre o valor dos prêmios de seguro pra todos os consumidores, incluindo você, tornando o processo de compra de seguro automotivo ainda mais caro. Na ponta do lápis, o custo do seguro figura entre os mais altos aqui no Brasil porque,
além de todos os desafios que a falta de segurança proporciona, as seguradoras precisam estar muito mais preparadas pra não cair em nenhuma tentativa de fraude. Elas geralmente dispõe de uma equipe de especialistas, munida de tecnologia de ponta, pronta para desvendar possíveis esquemas fraudulentos quando um seguro é acionado. O trabalho vai muito além da simples inspeção visual; é uma verdadeira investigação que exige técnica e perícia por parte dos profissionais envolvidos. Mesmo assim, o desafio persiste. Afinal, lidar com fraudes não é tarefa fácil. Os golpistas estão sempre tentando dar um passo à frente, buscando novas maneiras de
ludibriar o sistema e enganar até mesmo os mais experientes peritos, a polícia, e os consumidores. Mas não são só os consumidores os únicos culpados. Em 2016, na cidade de São Paulo, a Polícia Civil desencadeou uma operação pra investigar galpões onde as seguradoras realizam leilões de carros de clientes que foram indenizados por perda total do veículo – nesses casos, muitas vezes os próprios funcionários das seguradoras estão envolvidos. Aqui o crime passa para uma escala muito maior. Segundo os investigadores, é exatamente nesses locais que quadrilhas especializadas atuam pra alimentar o mercado paralelo de automóveis, onde é possível
adquirir um carro por até 50% do valor da tabela Fipe. O que deveria ser apenas um monte de ferro-velho ganha uma nova vida nas mãos das quadrilhas. Os carros, muitas vezes em estado deplorável, sem condições de voltar às ruas, passam por um complexo e cuidadoso processo de renascimento: são restaurados, recebem reparos na funilaria, recebem uma nova camada de tinta e, por fim, são colocados novamente no mercado como veículos semi-novos, sem que haja qualquer registro do seu passado. É só fazer as contas, esse negócio é altamente lucrativo. Os veículos são adquiridos como sucata, o que significa
que seu valor real é reduzido pra somente 5 ou 10% do seu valor de mercado. As quadrilhas se aproveitam das fraudes pra lucrar e alimentar um mercado que só cresce. Com o carro aparentemente restaurado, os criminosos o revendem no mercado, lucrando de forma exorbitante, pois conseguem vendê-lo por um valor próximo ou até mesmo superior ao preço de mercado, sem que os compradores tenham conhecimento do histórico obscuro do veículo e acabem se tornando vítimas do golpe. Na maior parte das vezes, os próprios funcionários da seguradora têm um papel crucial nesse esquema, emitindo laudos periciais fraudulentos. A
ação correta, em caso de avaria e perda total do veículo, é notificar o Detran pra que o órgão faça a baixa no certificado de registro e licenciamento. Quando essa notificação não é feita, o documento original do veículo fica “livre” pra ser usado em um dublê ou “carro reciclado” — que geralmente é reformado com peças roubadas —, e assim, circula normalmente. Pra quem compra esses carros, o prejuízo é maior ainda: além do risco de adquirir um veículo com problemas estruturais graves, o comprador pode enfrentar complicações legais ao descobrir que o carro possui pendências no Detran ou
está associado a ocorrências criminais. Mesmo sendo vítima, a pessoa que adquire um carro nessa situação pode ter problemas com a justiça e ser indiciada por falsidade documental, receptação e estelionato. Ainda que seja desafiador descobrir e desmantelar as quadrilhas que operam nesse segmento, aqueles que estão por trás desses golpes, mesmo em pequenas proporções, podem responder por uma série de crimes graves. Desde falsidade de documentos até associação criminosa e estelionato, as consequências legais pros envolvidos podem ser severas. E pra desespero dos golpistas, o fato é que vivemos na era da informação, e é extremamente difícil não deixar
rastros pelo caminho, nem que sejam rastros digitais. Com tantas ocorrências de fraudes, as seguradoras estão sob crescente pressão para intensificar seus esforços no combate a esse problema. Comprovar a veracidade de sinistros, principalmente em grandes cidades, tem sido um grande desafio. Algumas empresas já usam tecnologia de cruzamento de dados através de big data, que são o conjunto de dados de grande variedade coletados de usuários no ambiente digital. Esses dados podem ajudar os investigadores a detectar se, em um acidente de carro, o motorista tem algum nível de relacionamento não declarado com os demais envolvidos, além de comportamentos
imprudentes. Isso tudo ajuda a montar um quebra-cabeça que revela padrões e conexões ocultas que são característicos de uma fraude. Ao analisar os dados de localização, histórico de comunicações e interações nas redes sociais dos motoristas envolvidos, os investigadores podem identificar possíveis relações não declaradas entre eles, como parentesco, amizade ou mesmo associações criminosas. Em 2014, o britânico Adam Islam sofreu um acidente quando um Audi A1 alugado bateu em sua Ferrari F430. Como resultado recebeu da seguradora do Audi uma indenização de quase 30 mil libras pra cobrir os danos em seu supercarro. O problema? A Ferrari de Adam
era na verdade um Toyota MR2 disfarçado com um kit de carroceria pra parecer uma F430, e o condutor do Audi alugado na verdade era seu amigo, ou melhor, cúmplice. Os dois combinaram a batida pra arrancar dinheiro da seguradora e dividir os lucros. A fraude só foi descoberta quando os investigadores encontraram fotos dos dois amigos no Facebook, e entenderam que tinha algo errado ali. Adam foi condenado a 18 meses de prisão, e durante a sentença, o juiz foi preciso: “Esse não é um crime sem vítimas. Todos nós acabamos pagando mais pelo seguro automotivo. Isso também acaba
com a confiança das seguradoras nos clientes, o que causa atrasos nos pagamentos de sinistros legítimos. Mais fraudes tornam mais difícil pra que pessoas honestas sejam pagas.” Nas investigações contra esse tipo de fraude, também é possível descobrir se o cliente já se envolveu em acidentes parecidos ou se ele ingeriu bebida alcoólica antes do acidente. As informações de GPS também são coletadas, o que permite verificar o trajeto e a velocidade do veículo antes do acidente, fornecendo insights adicionais sobre o comportamento do motorista. Além do trabalho dos investigadores, o trabalho da perícia inicial também é essencial, e além
de fazer a leitura do local de um acidente, por exemplo, observando resquícios de tinta e partes do carro que podem ter ficado pela rua, o vistoriador também percebe os sinais de comportamento suspeito por parte dos envolvidos. No Brasil, há punições pra quem comete esse tipo de crime: de acordo com o Código Penal, podem acarretar em uma pena de reclusão que varia de 1 a 5 anos, além de multa proporcional. Ainda existem os casos menos graves de fraude: um deles é quando o segurado solicita um reparo indevido no veículo. Mesmo após um acidente, quem indica quais
peças devem ser substituídas é o perito, mas os casos onde o cliente tenta acionar um sinistro e solicita a substituição de peças não relacionadas à colisão pode se caracterizar como fraude. Essa prática é comum em relação a amassados de pequenas proporções, e pode parecer inocente, mas na verdade é uma forma de tentar obter benefícios indevidos, o que impacta negativamente as seguradoras e, em última instância, os demais segurados, que acabam pagando mais caro dada a frequência desse tipo de prática. Mas tudo indica que o triunfo desses criminosos está com os dias contados: graças aos avanços tecnológicos
e a constante inovação digital que estamos vivendo, prever a trajetória das fraudes pode se tornar cada vez mais fácil. O uso da Inteligência Artificial tem se tornado mais frequente pelas empresas de seguro, e tudo aponta que essa tendência só vai se aperfeiçoar com o tempo. Tudo funciona assim: ao abrir um sinistro, o analista da seguradora acessa uma plataforma pra enviar relatos, imagens e documentos sobre a ocorrência. A partir daí, a Inteligência Artificial é capaz de analisar o material e cruzar os dados com outros sinistros, pra indicar a probabilidade de fraude. O sistema também informa se
o relato do acidente é coerente com os danos físicos do veículo, o que pode auxiliar o trabalho dos peritos e ajudar na tomada da decisão final do analista da seguradora, que também irá analisar a veracidade dos fatos. É possível combinar diversos fatores que vão além do que o olho humano pode ver, além de informações que estão disponíveis graças à nossa vida ultraconectada. Atualmente, com o uso de smartphones e suas diversas aplicações, é quase impossível não deixar rastros — e mesmo que esses rastros sejam sutis, a análise detalhada de dados pode revelar atitudes e comportamentos suspeitos
que escapariam à detecção “manual”. Com essa tecnologia, as seguradoras podem aprimorar utilizando o machine learning da Inteligência Artificial que já utiliza pra identificar padrões ainda mais complexos de dados e dificultar ainda mais a ação de criminosos. Isso tudo pode fazer com que o valor dos seguros de fato fiquem mais baratos, um custo a menos para manter um carro, que aqui no Brasil é um absurdo. E quem dificulta tudo isso é o governo e as próprias montadoras. No final de 2023 quem tinha um Volkswagen Nivus tava com medo de deixar o carro na rua. Uma onda
de roubos do emblema dianteiro e do módulo do controle adaptativo de cruzeiro escancarou algo curioso, o valor das peças nas concessionárias. A substituição dos componentes roubados passa dos 15 mil reais. Em duas peças. Pra você ter uma noção, isso é 10% do valor do carro. Surpreendentemente, as concessionárias Volkswagen resolveram dar um desconto de 90% no valor dessas peças, pra ajudar o cliente que teve as peças furtadas, como também pra desencorajar o ladrão, já que a peça não é mais tão cara. Por mais que isso ajude a todos, a pergunta que fica é: por que a
Volkswagen cobrava tão caro pelas peças? E a resposta, segundo Sérgio Habib, é simples: Com tudo! Tudo! A Despesa de funcionamento da montadora é paga com as margens das peças de reposição. Ou seja, o negócio das montadoras não é apenas vender carros. Sim, elas projetam, desenvolvem, e montam os automóveis, mas, ainda assim, a verdade é que não é apenas venda desses carros que torna o modelo de negócio das montadoras lucrativo. Apesar de os carros custarem muito caro, especialmente nos dias de hoje e aqui no Brasil, as despesas operacionais da montadora pra fazer os automóveis saírem do
papel e chegarem até o cliente são quase tão grandes quanto o valor da venda. Produzir um carro envolve muito investimento em pesquisa e desenvolvimento, matéria-prima de alta qualidade, além de fornecedores especializados que cobram um valor também considerável por seus insumos. E ainda temos que considerar a cadeia logística de um produto que pesa entre 900 quilos a 2 toneladas, a depender do modelo. Levando tudo isso em conta, a margem de lucro pela venda de cada automóvel não é tão alta. Onde o caixa realmente flui pras montadoras é no mercado pós-venda, o mercado de peças de reposição.
A ideia é simples: todos os carros vendidos vão precisar de manutenção, e às vezes de reparos. A maioria das peças tem vida útil, e elas precisarão ser trocadas em algum momento. Ou seja, por mais que o lucro no momento da venda não seja tão exorbitante pras fabricantes, cada carro vendido garantirá anos de lucro com peças de reposição. Nos Estados Unidos, só o mercado de peças de reposição vale quase 400 bilhões de dólares. Isso desempenha um papel fundamental pra cobrir os altos custos de operações dessas empresas. Mas esse cenário pode estar prestes a mudar – uma
onda de inovação pode acabar com o modelo de negócios de décadas da indústria automotiva. Mas como as montadoras conseguiram nos deixar, por anos, reféns de peças de reposição tão caras? E que inovação é essa, que está ameaçando esse modelo de negócios tão lucrativo? A pressão de parte da sociedade e, principalmente, dos governos por acelelar a transição e trazer os carros elétricos para as ruas tem gerado certa preocupação nas montadoras, que se veem diante do grande desafio de terem que adaptar sua tecnologia e infraestrutura de produção consolidadas a décadas. Se a maioria das fabricantes de carros,
no atual momento, está desenvolvendo novas ou melhores versões de veículos elétricos, temos um problema que tem sido muito pouco comentado pelos especialistas no tema, mas que Sérgio Habib trouxe com maestria em entrevista ao podcast Você na Roda. De acordo com ele, que é presidente da JAC Motors no Brasil, cuja produção é exclusiva de automóveis movidos a energia elétrica, além de todo o esforço e do custo que isso está trazendo para as montadoras de veículos tradicionais, a mudança da matriz de carros à combustão para veículos elétricos representa outro obstáculo pra as montadoras: a redução das margens
de lucro. Isso acontece porque as montadoras, que já dependem de um complexo sistema de fornecedores de peças pra produzir veículos à combustão, com a transição pra veículos elétricos, terão uma dependência muito maior de fornecedores. Hoje, 60% das peças utilizadas pelas montadoras são compradas. Para a produção dos elétricos, esse percentual sobe para 85, sem contar com a bateria, que também é fabricada por empresas diferentes. Na medida que as montadoras investem tempo e dinheiro pra desenvolver um novo carro, elas recuperam o capital investido a partir de estratégias que bem sempre resultam no aumento da receita com aquele
modelo. Uma dessas estratégias é a venda de peças de reposição. Por meio de um mercado de peças de reposição para veículos a combustão as montadoras pode garantir uma margem de lucro consistente, uma vez que as despesas operacionais da fabrica como os custos com funcionários, instalações e outros são cobertas com a receita da venda dessas peças. Essa fonte de receita continua ajuda a sustentar a rentabilidade do negócio mesmo sem a venda do próximo veiculo, afinal todo carro precisa de manutenção constante. Ou seja a demanda por peças como velas, correias, engrenagens de câmbio ou filtros de óleo
deixaria diminuiria muito, e isso é um grave problema para as fabricantes de carros que tendo que mudar seu modelo de negócios, dos carros a combustão para os elétricos… Os componentes essenciais de um veículo elétrico, como as baterias e os motores, são fabricados por empresas especializadas, não pelas montadoras, como ocorre com os veículos tradicionais. O resultado é que elas deixam de controlar grande parte da cadeia de produção e, principalmente, do mercado de peças, que é justamente o que garante que o atual modelo de negócios de produção de carros seja lucrativo. É por isso que os elétricos
são sinônimo de dor de cabeça pras montadoras tradicionais, que já tinham uma estrutura de negócios muito bem estabelecida, e onde ainda assim estavam constantemente procurando melhorar a gestão da produção, minimizando custos e maximizando lucros. O problema é que não dá pra fugir do futuro: vários países estabeleceram uma aliança pra acabar com a venda dos veículos tradicionais até 2035. Entre eles estão Reino Unido, Canadá, Índia, Noruega e Áustria. Pras montadoras, essa é uma questão urgente de adaptação, já que vários outros governos no mundo todo estão comprometidos em cumprir, mesmo que um pouco mais tarde, o acordo
firmado pela Organização das Nações Unidas; e é só uma questão de tempo até que as regulamentações se tornem mais rigorosas pro mercado automotivo. Uma boa parte dos consumidores, preocupados com o meio ambiente, também querem essa mudança. Mas será que esse suposto futuro verde vai compensar para montadoras e donos de automóveis? O dilema das montadoras com os carros elétricos está longe de ser resolvido, pois os desafios pra torná-los uma unanimidade parecem maiores que os benefícios que eles prometem trazer. No entanto, a pressão por mudanças e as novas regulamentações de alguns países alertam que essa transição não
é uma escolha, mas uma necessidade, a fim de reduzir as emissões de carbono que ameaçam o meio ambiente. Mesmo em países onde há incentivos governamentais para a transição de carros, como é o caso da Alemanha, sede de gigantes como Porsche e Volkswagen, a relação custo-benefício para as montadoras e também para o motorista ainda não parece tão promissora, já que o GOLF, da Volks, foi o automóvel mais vendido no país em 2023. Ainda assim, o setor dos elétricos consegue encontrar motivos pra comemorar. Com a distribuição de um bônus bem vantajoso para quem comprasse um veículo elétrico,
a frota alemã cresceu incríveis 63,8%. Hoje já são mais de um milhão de alemães dirigindo os carros elétricos Olhando para a Europa como um todo, a comemoração pode ser ainda maior: o Modelo Y, da Tesla, acabou de fechar 2023 como o mais vendido do continente, ultrapassando o Dacia Sandero. Ele foi o primeiro elétrico a ser o carro mais vendido da Europa. Mesmo com todos esses avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido, no sentido de convencer o motorista de que a mudança para o motor movido a eletricidade será a sua melhor escolha, para que
os elétricos sejam realmente competitivos, é preciso uma economia de larga escala, que possibilitaria a redução de preços. Mas a terceirização das peças encarece bastante o processo produtivo, além de dificultar o controle total sobre a qualidade e a inovação dos produtos. A dependência de fornecedores externos pra componentes pode expor as montadoras a vulnerabilidades em termos de disponibilidade, custo e conformidade com os padrões de qualidade desejados. Num país como o Brasil, com dimensões continentais e renda per capita baixa — se comparado às nações onde houve algum incentivo aos elétricos, como França e Alemanha — sonhar com uma
frota de carros elétricos pode parecer um devaneio. Ainda assim, no ano passado foram emplacados 94.000 veículos eletrificados, quase o dobro do período anterior. Trata-se de um crescimento de 91% sobre as vendas de 2022, com 49.245 emplacamentos. Em 5 anos, o mercado cresceu 15x. Em 2023, o avanço foi resultado da estratégia agressiva de preços e marketing das empresas GWM e BYD. Além disso, de acordo com a Folha de São Paulo, carros elétricos terão produção nacional e preços mais atraentes por aqui logo, logo, já que as duas montadoras chinesas abrirão fábricas no Brasil e na Argentina. Sim,
há um crescimento desse mercado no país, mas, sejamos francos: o Brasil é o sexto país mais populoso do mundo, com 212 milhões de habitantes, e algo em torno de 100 mil carros movidos a eletricidade em circulação. É muito pouco se compararmos com a Alemanha, por exemplo, que tem quase um terço da nossa população e 10 vezes mais veículos elétricos. Não é pra menos. Nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, o carro elétrico pode até disputar espaço com os modelos tradicionais pelas ruas. No entanto, quando se trata das estradas, a realidade é
bem diferente. A infraestrutura atual da malha rodoviária brasileira está longe de ser ideal, até mesmo pra carros movidos a combustão. E embora existam bons projetos de postos de recargas em desenvolvimento e outros já concluídos, parte do público ainda tem receio de carros elétricos, muitos ainda acham os valores caros demais e outros ainda preferem o bom e velho som de um motor 6.2 V8 aspirado Diante dessa realidade, a pergunta que fica é: o atual modelo de negócios das montadoras ainda será financeiramente sustentável a longo prazo? A resposta pode estar no seu valor de mercado. A fabricante
de automóveis mais valiosa do mundo é a Tesla. Enquanto a empresa de Elon Musk vale mais de 550 bilhões de dólares, as fabricantes tradicionais não chegam nem aos 100 bilhões, com exceção da Toyota. Para ter uma ideia, a Volkswagen vale 73 bilhões, a Honda 60 bilhões e a Ford 50 bilhões. O valor dessas três gigantes juntas não chega nem à metade do valor da Tesla, mesmo tendo muito mais tempo de mercado. A chinesa BYD também já ultrapassou todas essas três, mesmo em um período curtíssimo de sucesso. Com tanto tempo de mercado, seria esperado que as
tradicionais montadoras estivessem entre as companhias mais valiosas de todo o mundo, mas não é isso que os números mostram. Então, por que exatamente esses colossos da indústria automotiva valem apenas uma fração da Tesla? O primeiro fato que é preciso considerar é que as montadoras tradicionais têm muito a perder com a migração forçada pra os carros elétricos – como a perda no mercado de peças de reposição – enquanto as que já nasceram voltadas para este segmento têm tido muito mais sucesso. A chinesa BYD, por exemplo, desbancou a própria Tesla e se tornou a maior fabricante de
carros eletrificados do mundo. Em 2023, a empresa vendeu 3 milhões de unidades, sendo 1,6 milhão de automóveis puramente elétricos. Já a americana Tesla deve deter um mercado de 1,8 milhão de unidades com a tecnologia. As vendas da BYD se beneficiaram da crescente procura de veículos elétricos na China e dos descontos que a empresa ofereceu aos compradores nacionais de automóveis. Segundo a BYD, o faturamento em 2023 cresceu 62% em relação a 2022. A montadora triplicou seus lucros para US$1,5 bilhão no primeiro semestre do ano passado, de acordo com a Car News China. Enquanto isso, as montadoras
tradicionais sofrem para se adaptarem ao mercado de elétricos, ao mesmo tempo em que têm que manter a sua atual participação no setor de carros a combustão. O que significa, em resumo, que o futuro incerto dessas montadoras frente aos carros elétricos é um dos pontos que afeta negativamente o valor dessas empresas. A segunda questão é que, apesar de venderem carros de dezenas ou centenas de milhares de reais, as montadoras operam com margens de lucro baixas, ao contrário do que se imagina. Isso acontece porque todos os custos envolvidos na produção e venda de um automóvel tradicional são
muito altos – pois é algo que envolve o processo de pesquisa e desenvolvimento do projeto do carro, a fabricação, toda a logística de peças e distribuição, até a entrega ao consumidor, além de, claro, o pagamento de impostos ao longo de todo esse caminho. Como Sérgio Habib explica, o investimento pra se produzir um carro novo é estimado em cerca de 1 bilhão de euros, que só serão recuperados após anos de vendas daquele modelo. Além disso, como a margem de lucro com cada unidade é baixa, as montadoras operam em um nível de risco muito alto, dificultando o
crescimento rápido do capital, mas fácil de colapsar em um momento de crise. E o último ponto é que o mercado não confia nas montadoras tradicionais de automóveis. Não estamos falando de confiança nos carros feitos pelas marcas, mas sim nos números que essas empresas mostram para os investidores. Isso porque é muito comum que os executivos das montadoras adulterem os números dos demonstrativos contábeis dessas empresas, manipulando os resultados e o desempenho da companhia, e enganando o mercado. Muitas vezes, os CEOs utilizam de algumas maquiagens contábeis pra “diluir” os custos iniciais com novos carros ao longo dos anos,
fazendo com que os primeiros anos da gestão pareçam ter um desempenho muito melhor do que a realidade, e deixando o problema real para o próximo CEO a assumir. Em 2019, por exemplo, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos condenou a Fiat Chrysler a pagar mais de 40 milhões de dólares por enganar os investidores fraudando demonstrativos contábeis. Naturalmente, esse tipo de prática acaba afastando investidores dessas empresas, o que impacta diretamente o valor de mercado delas. E você o que acha sobre isso? Comenta aqui abaixo e não esquece de dizer o que achou do vídeo. Agora,
pra descobrir quem são as grandes empresas brasileiras que estão fazendo bonito no mundo inteiro, exportando tecnologia, confere esse vídeo aqui que tá na tela. Então aperta nele aí que eu te vejo lá em alguns segundos. Por esse vídeo é isso, um grande abraço e até mais.