Queridos irmãos, hoje terminamos a leitura da Carta aos Hebreus, que nos acompanhou em toda essa primeira parte do tempo comum. Ontem, a leitura nos exortava a muitas virtudes: em primeiro lugar, à Filadélfia, o amor fraterno; depois, à hospitalidade, à caridade com os prisioneiros — possivelmente, até irmãos que estavam presos por causa da sua fé; depois, à honestidade do matrimônio, porque diz: "O matrimônio seja honrado por todos e o leito conjugal sem mancha, porque Deus julgará os imorais e adúlteros. " A palavra "imorais" tem a ver com "porneia"; isso é muito importante.
Hoje em dia, há tantas obscenidades que entram no leito conjugal, em que os casais querem imitar aquilo que há de mais devasso por aí, nesses exibicionismos horríveis. Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Nós temos que aprender a confiar na providência divina: "O Senhor é meu auxílio, jamais temerei.
" E diz: "Lembrai-vos de vossos dirigentes que vos pregaram a palavra de Deus, e considerando o fim de sua vida, o martírio, imitai-lhes a fé. " Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade; ou seja, a pregação não muda. Nós temos que manter os olhos cravados sobre aqueles que nos trouxeram a mensagem de salvação, recebê-la como um depósito e conservá-la fielmente para entregá-la às gerações seguintes.
Então, ele diz: "Por meio de Jesus, ofereçamos a Deus um perene sacrifício de louvor. " Isto é, o fruto dos lábios que celebram o seu nome. Ele está falando da profissão de fé, do nosso mesmo testemunho da fé, aquilo que é chamado no Novo Testamento de "homologous" (confissão) — as mesmas palavras da fé.
Quando nós oferecemos, como diz São Paulo aos Filipenses, a liturgia, a liturgia da fé, o serviço da fé a Deus por meio de Jesus, a fé que se exerce mediante a oração, esse sentido sobrenatural, a graça, a graça começa a explodir em nossa alma. Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois estes são sacrifícios que agradam a Deus. Essa palavra é extremamente chocante para um judeu, especialmente quando o Templo de Jerusalém ainda existia.
O sacrifício que agrada a Deus são as nossas boas obras, é a nossa koinonia, a nossa comunhão, é a nossa sintonia, é o nosso amor mútuo. Obedecei a vossos líderes e segui suas orientações, porque eles cuidam de vós como quem há de prestar contas; que possam fazê-lo com alegria e não com queixas — que não seria coisa boa para vós. A obediência é a virtude que caracteriza os santos.
Santa Faustina dizia que o diabo é capaz de disfarçar-se de humildade, mas não de obediência. E como a obediência hoje é pouco apreciada! Há cristãos que são ovelhas perdidas, como nos diz o Evangelho, que estão soltos e não querem curvar suas cabeças humildemente.
E, para a nossa confusão, Deus nos submete a tantas provas relativas à nossa fidelidade. O Deus da paz, que fez subir dentre os mortos aquele que se tornou, pelo Sangue de uma Aliança Eterna, o Grande Pastor das Ovelhas, nosso Senhor Jesus, vos torne aptos a todo bem para fazerdes a sua vontade. É Jesus que nos torna aptos pelo sangue que ele derramou por nós como um Cordeiro Imaculado que se fez Pastor; é Ele que nos impulsiona.
Não somos nós os autores do próprio bem da nossa alma; tudo vem dele e tudo volta para ele, e assim temos que viver numa dependência completa de Jesus Cristo, que realiza em nós o que lhe é agradável. Por Jesus Cristo, a quem seja dada a glória, pelos séculos dos séculos. Nós precisamos ser conscientes de que é Deus quem opera em nós o querer e o agir, como diz São Paulo em outro trecho de suas epístolas.
Nós não somos autores da nossa salvação nem os consumadores da mesma. É por isso que precisamos nos encher de Jesus Cristo. Nossa alma precisa ser carregada com a presença da alma de Jesus Cristo; a graça que flui de Jesus Cristo precisa ar nosso ser, porque é o Senhor — é Ele que opera em nós o querer e o agir.
Essa é a religião cristã, tão diferente do legalismo judaico, em que o homem tenta obedecer a uma lei. Aqui é Deus que nos faz fazer aquilo que compete para a sua glória.