ele é da academia Mineira de letras e agora candidato à Academia Brasileira de Letras escritor filósofo poeta ele é publicado em ao menos 13 países é autor dos livros ideias para adiar o fim do mundo a vida não é útil e futuro ancestral TV entrevista aqui na TV a TV pública da Bahia e o canal Bob Fernandes hoje conversam com Aílton kenac Líder ativista em defesa dos direitos indígenas e do meio ambiente a atuação no Brasil e mundo afora tem sido determinante ele é um dos articuladores da União das Nações Indígenas e da Aliança dos povos da floresta sua fala então foi decisiva para tirar do Limbo trazer para o debate aberto e inserir na Constituição o os direitos dos povos indígenas à sua cultura e às terras onde vivem há milênios Ailton kenac prazer em recebê-lo novamente na TVE a TV pública da Bahia e também aqui no canal Bob Fernandes crenac o André Mendonça Ministro do Supremo Tribunal Federal no julgamento do Marco temporal ele ao dar o seu voto ele alegou o direito de conquista eu pergunto primeiro que direito é esse que conquista é essa e de onde veio esse Marco temporal que foi ressuscitado a uns 5 anos mais ou menos na gestão do Muro né E que agora foi derrotado como tese no Supremo Tribunal Federal pelo Supremo Tribunal Federal há semanas a gente não sabe ainda qual vai ser o tamanho do do do enterro digamos assim do Marco temporal porque ainda vão disputar quem recebe quem não recebe Então é isso comecemos por aí meu amigo Bob Fernandes eh obrigado pela acolhida nesse seu programa A gente já tem essa conversa nossa já que vem desde o tempo da pandemia eh dessas distopias sanitárias e políticas Agora nós estamos vivendo um tempo eh de crise climática né que é um assunto muito relevante e que tem a ver com essa questão de proteger ou não Os territórios eh indígenas na parte da Amazônia brasileira no país inteiro e resolver inclusive o pretexto para essa coisa esdruxula que é o Marco temporal eu há 10 anos atrás eu falo que isso é uma excrescência jurídica eles vão acabar me dando um cargo no STF porque eu tô me revelando um constitucionalista eu disse que na Constituição essa coisa não colava né E que tinha sido uma invenção eh do Nelson Jobim quando era Ministro do Fernando Henrique Cardoso Lá na década de 90 Marco temporal não nasceu Ontem ele foi gestado no gabinete de um Ministro da Justiça com seus esquemas parlamentares e outras relações ocultas que achava que o artigo 231 da Constituição era Conquista demais pro povo indígena sempre tem um ministro que acha que os índios querem demais e esse senhor aí esse Mendonça que não se perca pelo nome ele deve ter extraído essa tese dele da idade média porque lá houve um debate a época do Acho que foi o o o o Infante Felipe um daqueles Infante católico português ele teria inaugurado um debate há 500 anos atrás se eh um um debate inclusive moderado pelo Vaticano pelo Papa se Esses povos conquistados nas terras que eles estavam invadindo tinham direitos principalmente se eles eram humanos depois se eles tinham alma e na na bacia das almas o Vaticano decidiu que sim eles tinham uma alminha uma alminha sensível frágil parecida com aquela que o João Baldo descreve no livro dele vivo o povo brasileiro onde a a a aparição do primeiro né do primeiro brasileiro seria um alminha eh feito uma Alma de Gato assim pendurado num galho eh sensível frágil e esses caras acham que a gente é idiota esse Mendonça deveria ler mais ele deveria conhecer a história do país que ele apareceu onde ele apareceu e se perguntar se ele não é uma daquelas alminhas que fica Alma de Gato eh essa tese dele é absurda ela úpa ela não encontra eh apoio em nenhuma literatura nem ficção eh não existe esse papo de direito eh de conquista senão os muçulmanos deveriam estar na Europa até hoje quando Maomé passou o rodo na Europa e chegou até a a península ibérica ele deveria ter declarado o direito de conquista dele sobre os reis católicos e pronto passar o rodo é isso que esse sujeito tá falando da gente vamos mandar Mendonça Vamos mandar o Mendonça aí ler o alcorão não não apenas por esse direito de conquista o PCC e o comando vermelho poderiam eh exigir o direito de conquista sobre vários territórios brasileiros que eles ocupam no momento já mais de 30 anos não é isso então mas essas duas entidades aí elas não têm pretensão de entar juridicamente eles metem bala e pronto o problema é quando esses caras ficam com essa conversa fiada sobre direitos e usa isso para traiç suar um povo que sempre viveu as suas próprias custas que não precisa eh daquela toga do ministro e que ele deveria respeitar o que é o que é o Brasil para você o que que é o Brasil a 24 4000 anos segundo as as pinturas rupestres ali do Piauí São Raimundo Nonato aquela região as pesquisas mais recentes né Eh indicam a presença humana ali aá 24. 000 anos não apenas os 8000 anos que se pensava que se estabelecia ou 12. 000 né que é o Brasil quando você ouve falar o Brasil que que soa para você a gente precisa distinguir uma uma nomeação né nos termos do Darc Ribeiro uma nomeação dessa terra eh em descobrimento pelos europeus E e essa alcunha Brasil do território do continente nós nós temos um continente é o continente que veio receber um apelido também muito muito inadequado que é de América uma homenagem a um outro cara que é o Américo Vespúcio então de homenagem em homenagem a gente vai apelidando esses territórios que pros povos que viveram aqui tanto nesse período muito distante que você se refere a ele que só arqueologia e antropologia que se interessam por ele eh os os povos que habitavam essa região a mesoamérica a norte da América aqueles que fizeram as migrações aqueles que dataram a travessia no canal lá de Bering naquela ponte gelada essa gente toda nomeou esse lugar ao longo de milhares de anos por diferentes digamos eh cosmovisões Bob são cosmovisões então então às vezes você vai ver uma narrativa de índios da América do Norte ou até dos esquimó que vão dar nome para aqueles lugares quando você chega ali no México na Guatemala os maias os Aztecas e os que viveram antes deles os tcas os mais antigos remotos também nomeavam esses lugares tenos tlan por exemplo não é o nome só do México é o nome de uma grande região na mesoamérica que era compartilhado por povos de diferentes eh extratos eh culturais são muitas línguas querer reduzir essa conversa a um apelido dado a um país de onde eles extraíam o palau vermelho é uma piada de português e eu não vejo graça nenhuma eh num questionamento desse né porque ele ele despista o problema real que é o fato de o poder político o poder colonial no nosso país não conseguir se atualizar e continuar tomando como referência para suas decisões em relação aos povos originários aquele mandato Colonial que é o de controlar a gente dominar a gente aniquilar a gente não tem esse negócio de pacificação aquela série Netflix guerras do Brasil pessoal me pergunta Ô kenac você diz que nós estamos em guerra eh não é muito ostensivo não é você não não não não fica assim muito duro nessa afirmação eu pergunto para essas pessoas se eles conhecem a história da Conquista desses territórios feita a facão Uhum E você fala também nesse mesmo seriado que você falou você fala desse pré-brasil e desenvolve um raciocínio sobre o que é a Mata Atlântica como ela surge eu não sei se você tem alguma informação sobre isso ou se é uma inferência mas fala um pouco sobre isso pra gente olha eu gostaria inclusive de compartilhar essa informação eh que é Ampla ela tá reunida numa obra que deveria ser considerada fundamental para quem pensa a questão eh da formação mesmo do do Brasil eh digamos assim no mesmo alinhamento com a obra do Darc Ribeiro que fala sobre as Américas eh tem um autor eh que não nasceu aqui no Brasil nasceu nos Estados Unidos mas mas veio fazer os estudos dele no Brasil e escreveu uma obra que eu acho que é monumental primeiro Ele estudou a Mata Atlântica depois ele foi pros Andes e ele sofreu um acidente de carro e morreu cedo e quem dera que esse sujeito tivesse eh ficado Vivo para ele continuar revelando eh histórias sobre esses eh essa parte da América do Sul esse essa essa parte do continente e sobre a formação e a ocupação humana da Mata Atlântica que é o caso da nossa pergunta agora né Bob Uhum E o nome dele é orang Jim esse cara era fanático para entender a história do da América do Sul e ele diz que a Mata Atlântica assim como hoje já é reconhecido que o serrado e a floresta amazônica são produtos da presença humana da interação humana com esses ecossistema ele diz que a Mata Atlântica ela era temida pelos hominídeos que há cerca de 30.
000 anos 20 tantos Mil Anos ficavam aqui nessa nesse platô nessa região da Serra do espinhaço onde foi localizado o povo de luia o povo de Luzia é aquele povo que é considerado pré-histórico e que só foi localizado quando aned achou o os restos de fogueira e as inscrições deles datadas de muito tempo atrás aqui nessa região nossa que é a serra do espinhaço que é Minas Gerais atravessando até lá na Chapada Diamantina na Bahia e tinha um povo que vivia ali vamos imaginar que cerca de 17 20. mil anos atrás que tinha medo de ir para mata atlântic né Essa é história da arqueologia e depois da botânica e de outros estudos que vão mostrar que essa Mata Atlântica ela ao mesmo tempo que ela comeou acolher essa gente humana primeva que provavelmente não tem nem descendente deles mais que eles entraram aquela região que a gente chama de Mata Atlântica e que os Guarani chamam deer é um um um uma espécie de cosmogonia onde os os Guarani realizam uma Épica viagem através do tempo eles contam como a Serra do Mar foi dobrada por dois heróis míticos Guarani para evitar que o mar invadisse o continente quer dizer é um Épica É uma história muito grande muito bonita e que os brasileiros não sabem e que o Mendonça provavelmente vai morrer sem saber então esse território tem história ele tem uma história milenária ele tem uma história arqueológica a Mata Atlântica ela é a dos Guarani ela é um lugar maravilhoso que produz água né a gente faz um elogio da floresta amazônica porque ele produz água a Mata Atlântica é produtora de água desde sempre e de uma biodiversidade fantástica só que ela já foi devorada em cerca de 83% 87% de toda a sua cobertura original o que sobrou foi Um retalho da Mata Atlântica que tem gente que ainda fica achando que é muito que eles deveriam acabar com resto esse pessoal que acha que pode acabar com o resto da Mata Atlântica eles estão aí na região eh do litoral da Bahia privatizando as Dunas botando placa de propriedade privada e botando as milícias deles para expulsar comunidades que vivem nessa região meus amigos que vivem nessa região quilombolas e indígenas dizem que estão sendo frequentemente atacados por bandidos armados até o dente né e continua acontecendo isso não é só no governo passado tá acontecendo no governo presente tanto no Governo Federal qu no governo estadual que parece que tá fazendo vistas grossas a essa invasão da Mata Atlântica do litoral da Mata Atlântica a tal da Costa Dourada toda essa Mitologia e privatista que tá chegando para comer o litoral da Bahia o Sergipe e todo mundo problemas de boipeba até o Linha Verde lá em vários pontos é então assim nós est nós estamos nos recolonização do nosso país é feita por todo mundo se ela começou pelos portugueses agora ela é feita pelo mundo inteiro de vez em quando tem até alguns chineses inventando um ressort por aí Eu já vi você usar a expressão ladrão que de que forma você usa usou e usa essa expressão ladrão e qual é o mito fundador do Brasil bom eu costumo usar o temo ladrão no no sentido hidráulico tem uma caixa d'água lá na nossa reserva que nós somos dependentes da Vale do Rio Doce porque ela põe um caminhão pipa para rodar a reserva em encher as caixas d'água com 2000 l e para cada residência o sujeito que opera o caminhão ele fica olhando de lá da estrada se o ladrão vai jogar água fora é um cano que sai da caixa d'água a cerca de 5 m de altura e joga um sinal para fora indicando que está vazando Então esse é a definição no meu dicionário de ladrão uma rápida pausa e já voltamos com Ailton krenak no TVE entrevista TV entrevista hoje conversando com a uma grande liderança indígena e sócioambiental Ailton kenac kenac Há um erro quando se fala em 350 ou 380 anos de escravização não há isso é muito mais não é porque não incluem não incluem os povos indígenas nisso como se tivesse sido apagado Olha Eu mencionei os reis católicos e as suas digamos inglesas né os os reis católicos diziam que não podia escravizar os silvícolas mas o Atlântico era muito longe e os caras chegavam aqui esqueciam carta do Rei matava e escravizava se algém olhar bem a nossa histria osos for escravizados desde que os portugueses PIS aqui franceses óis os hes então a gente foi escravizado por esses europeus na moita digamos assim escondido b não se escer que um dos caras que denunciaram isso seriamente foi Bartolomeu de Las Casas que o Mendonça deveria ler sim sim o Bartolomeu denunciava aos reis dizendo o que esses caras estão fazendo aqui é um genocídio falava em 700. 000 indígenas em um século e pouco não é isso me lembro disso é e que e e que literalmente foram aniquilados uhum isso talvez explique esses quatro séculos e tantos se é que a gente pode não contar uma outra forma de até a escravização moderna que todo dia se continua achando né as raízes da violência brutal do Brasil dessa ferocidade toda diluída numa suposta boa índole né Bob provavelmente essa seja a história de todas as terras novas aquelas que no século 15 16 17 foram tomadas pela Europa seja na África na Ásia ou aqui no continente americano não sobrou ninguém a a Europa para produzir a riqueza que ela tem hoje ela passou o rodo no mundo a ainda se discute se o coronavírus foi laboratório ou não laboratório mas mal comparando se pode comparar essa colonização a uma guerra biológica não pelo tudo que a gente viu é já foi já foi afirmado isso em várias ocasiões no livro do Eduardo Galeano eh as veias abertas da América Latina Ele conta 500 anos de violência contra Esses povos sem cessar com a modernização depois dos estados nacionais as novas colônias e tudo inclusive o Bolívar e todos esses caras bacanas eles substituíram os donos anteriores e impuseram um novo sistema de eh justiça e de controle sobre a vida desses povos que agora eles libertavam para uma nova escravidão e você usa uma expressão sobre o hoje que o mundo está sendo governado por serial killers desenvolva por favor então durante um uma boa parte digamos assim do período eh que a gente poderia chamar de moderno né a ideia de Justiça de humanidade ela refreou um pouco esse cial Killer eh a gente inaugurou a ideia da Democracia depois avançou para ideias de direitos humanos a universalização desses direitos e em algumas regiões do mundo até tememos mesmo alguma coisa parecido com democracia era uma democracia para ricos uma democracia para brancos porque eles continuaram escravizando os outros povos para manter suas ruas bem democráticas suas praças democráticas suas experiências no século XX eh chegaram Inclusive a imaginar uma social democracia que seria uma coisa muito próxima de uma ideia socialista digamos assim então uma democracia social distribuição de riqueza benefícios eh inclusão de todo mundo nos benefícios daquilo que era considerado a a o capitalismo que tava se implantando no mundo essa história coincida né Bob não sou eu que tô revelando isso claro mas do dos final do depois da primeira guerra e segunda guerra o mundo passa a ser governado por homens Arm amadas então de lá para cá eh a gente foi perdendo a qualidade das relações entre povos até se estabilizar mesmo nessa coisa de cereal Killer chefe governos na Coreia na China nos países africanos no Oriente Médio na América a América durante muito tempo ela quis segurar aquele troféu de mãe da democracia no mundo né aliás eles fizeram guerras para provar que eram bons bons Democratas aquela Estátua da Liberdade com aquela tocha na mão eh Ela tá procurando um justo mas para todo lado que vira a luz ela só vê bandido o antropólogo Carlos Fausto ele fala em 80 milhões de de de indígenas aproximadamente entre 1500 e mais uns 100 anos depois eh e diz que nesse período teria sidado Talvez o maior holocausto da história da humanidade você pensa parecido vê algo parecido Olha eu evito esse tipo de eh referência pra história porque se a gente eh for por aí nós vamos ser injusto com algum período da história onde ocorreram também outros eh e outros ataques é outros abates outros ataques assim inomináveis e fica parecendo que a gente tá querendo levar o troféu de vítima né ah Fulano sofreu holocausto cicrano sofreu holocausto fica parecendo essa história de querer responsabilizar um determinado governo que esteve à frente do nosso país de genocida aí fica uma imprecisão muito grande né E aí vira um debate inócuo porque Uns vão dizer não não foi os outros ah foi o maior genocídio foi com os povos que da diáspora porque eles foram jogados em navios para morrer e os que sobreviveram foram escravizados Aí alguém pode dizer que o holocausto foi isso outros vão dizer que o holocausto foi quando Hitler exterminou eh milhões de pessoas eh com a sua sanha né com a sua Fúria mas a gente também teve na Ásia a gente tem a história da Ásia com milhões de de de cadáveres achados nos lugares onde ditaduras eh sanguinárias governaram eh territórios fechados onde não tinha jornalismo onde não tinha informação onde não tinha notícia mas tem livros que reportam esse período da história que vai pegar o final do século XIX e o século XX como um verdadeiro açou onde quando não tavam matando na Ásia tavam matando na África Parece que tem uma fome de sangue que mobiliza esse tipo de de gente esse tipo de Poder esse tipo de governos esses que eu chamei de serial killer então eles sempre estiveram por aí babando e é só da moleza que Eles tomam conta do mundo o o relatório da Comissão da Verdade fala sen dominicano em 423 mortos e desaparecidos pela ditadura e cita mas não na mesma dimensão aproximadamente pelo menos 8.
000 indígenas que também teriam sido mortos durante esse período da ditadura e eu acho que é importante falar disso né porque isso tá apagado na história né né então em diferentes períodos da história é importante reportar o mais próximo possível esses eventos contra a vida contra a vida de qualquer um porque eu tô chegando num ponto da minha observação Bob em que eu acho que a gente não pode discriminar o grau de violência que aniquila a vida seja a fome o exílio a miséria agora nós estamos com 250.