Como o diagnóstico de câncer mudou nos últimos anos | DrauzioCast

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Drauzio Varella
Antigamente, o câncer era um tabu e muitos nem sequer citavam a palavra. Mas nos últimos anos, estam...
Video Transcript:
[Música] Olá eu comecei a fazer Oncologia no início dos anos 70 no Hospital do Câncer de São Paulo o a camarco e a Oncologia estava ensaiando os primeiros passos nessa época nós tínhamos uma cidade que a cidade de São Paulo que já tinha sei lá uns 8it milhões de habitantes ou mais na época e nós éramos uma meia meia dúzia de oncologistas então vi Oncologia nascendo e o que aconteceu com o tratamento do Câncer tratamento do Câncer naquela época era basicamente cirúrgico e alguns casos que eram tratados com radioterapia e a quimioterapia estava começando a
se desenvolver e adquirir a forma científica que a qual acabou chegando nós tínhamos os doentes em geral vinham com tumores avançados porque não havia informação e e e e muitos médicos também eram mal informados e acabavam demorando para fazer os os diagnósticos e os resultados muito precários naquela época o câncer era considerado pela sociedade Como Uma Sentença de Morte as pessoas escondiam não falavam da doença alguns não falavam o nome falavam aquela doença ele sofre daquele mal achavam que dava azar usar a palavra câncer esse Panorama mudou bastante Oncologia se modernizou os m muitos médicos
se interessaram pela Oncologia e passaram a desenvolvê-la esse é o tema que nós vamos conversar hoje com o Dr Paulo R eu não vou dar todos os títulos do Paulo porque todo tempo que nós temos aqui seria consumido mas basicamente O Paulo é o presidente de Oncologia da Red dor Ele é professor de Oncologia da Universidade de São Paulo diretor do iesp o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo que é uma instituição maravilhosa da qual nós todos nos orgulhamos aqui no nosso estado e tem uma atividade enorme científica e administrativa na área da
Oncologia PA prazer ter aqui ter você aqui com a gente Poxa draus O prazer é todo meu poder participar desse podcast com você eu digo uma coisa Paulo essa não isso que eu disse que no passado ninguém usava a palavra câncer as pessoas não tinham morram de meto da doença a desinformação era generalizada como você acha que isso evoluiu Então draus você tocou num ponto fundamental a Oncologia em si é uma especialidade recente né né Eh basicamente dos anos 70 nós tínhamos cirurgia radioterapia mas pouquíssima opção sistêmica e os resultados não eram bons Então as
pessoas se assustavam tinha todo esse tabu que você mencionou eu diria que melhorou muito até porque né drausio a incidência vem aumentando muito e é rara a família que não tem pelo menos um caso de câncer Então as pessoas começaram a se acostumar um pouco e começaram a ver que não é mais uma sentença de morte hoje draus no Brasil nós temos uma expectativa de que mais ou menos 60% dos pacientes se curem ainda obviamente 40% falecem da doença é muito precisamos trabalhar por isso mas já começou a mudar o cenário então nós vemos menos
esse esse medo e esse esse tabu embora ele ainda exista viu draus especialmente pessoas mais do interior com um pouco menos acesso à informação ainda tem esse esse medo e o que é que se deve Esse aumento da incidência Esse aumento do número de casos isso não é só porque a população aumentou né Pois é Dráusio e veja 15 anos atrás quando nós abrimos o iesp eram um pouco mais de 350.000 casos de câncer por ano no Brasil esse ano nós vamos fechar com mais de 700.000 novos casos de câncer a seguir nessa atuada Oi
o dobro o dobro em 15 20 anos e a seguir nessa atada nós devemos atingir um pico próximo a 1 milhão de casos novos por ano no passado nós usávamos um argumento relativamente simplista de ah a população está envelhecendo não morremos mais de doenças infecciosas não morremos do coração então o câncer Aparece mas a verdade que nos últimos 10 anos ficou Evidente de que este aumento não se deve só ao envelhecimento da população nós temos uma uma uma migração da curva epidemiológica e nós estamos vendo mais jovens tendo câncer o que nos preocupa bastante como
é que você explica eu lembro que eu uma vez nos anos 70 mesmo eh lá no ambulatório do Hospital do Câncer as pessoas começaram a dizer que tinha uma paciente com 32 anos e câncer de mama e ficou todo mundo muito interessado o caso dela foi levado a uma discussão na reunião geral do hospital com todos os médicos 32 anos e câncer de mama eu perdi a conta de quantas pacientes com essa idade que Eu tratei de câncer de mama né que nós devemos isso depois foi descrito em câncer de colo que é sua e
área de maior interesse não é a a que nós devemos essa então Dráusio é essa mudança é real ela tem acontecido um aumento de mais ou menos 15% na incidência de câncer de mama e intestino em pacientes jovens mas também outros tipos de câncer acontecendo e Nós não sabemos exatamente mas coincide como uma mudança importante no perfil epidemiológico da população mais pessoas vivendo em grandes centros urbanos mais pessoas obesas eh infelizmente obesidade causa um processo de inflamação generalizado que está associado ao aumento risco de câncer menos atividade física que eu costumo dizer é melhor você
ser gordinho e ativo do que magro e sedentário em termos de de proteção né e uma mudança importante na alimentação nós hoje temos um consumo de alimentos Ultra processados que é absurdo eh e as pessoas não comem tão bem Devíamos comer mais fibras naturais frutas verduras frescas e estamos aí com a população que se alimenta ah pesadamente de produtos ultraprocessados Então tudo isso associado e também a poluição nos grandes centros eh parece que são fatores importantes nessa modificação explica para quem não conhece o que são os alimentos ultraprocessados a modo simples de dizer são aqueles
produtos que entre seu estado natural e o estado que foram consumidos foram trabalhados pela indústria então o exemplo mais comum são os embutidos né Eh salames copas Esses são alguns dos mais comuns mas também refrigerantes eh são alimentos que TM eh bastante conservantes produtos químicos adicionados e infelizmente epidemiologicamente parecem estar Associados com aumento no risco de câncer no longo prazo os salgadinhos né que são tão populares muito você veja hoje ficou barato de você consumir caloria Mas ela é caloria de um baixo padrão nutritivo né então você consegue comprar esses salgadinhos esse tipo de alimento
você se alimenta fica satisfeito mas não é uma alimentação saudável né esses fatores todos estão relacionados com uma mudança muito grande que aconteceu na sociedade nos últimos 20 ou 30 anos nãoé exato agora você entre ter essa mudança e acontecer o o aparecimento de uma doença malna você precisa de muitos anos sempre nãoé Então draus as pessoas podem dizer assim mas essa mudança de alimentação obesidade não é de agora nos anos 90 já tínhamos isso mas é isso o processo de carcinogênese que é a transformação de uma célula normal Numa célula cancerosa ele é complexo
ele tem etapas e ele pode levar mais de 10 anos para acontecer Claro que existe alguns casos em que isso é mais rápido Mas no geral é de 10 a 20 anos para que o processo se complete então nós estamos vendo agora os câncer que tiveram a exposição e os efeitos estimuladores no final do século passado em compensação né drau se você me permite explorar um pouco isso nós vimos no Brasil uma queda importante nos tumores relacionados ao tabaco porque justamente no final do século passado tivemos campanhas importantes limitando o acesso ao tabaco e até
o que nos preocupa agora é que a gente vê movimentos para liberalizar mais Vap etc e o medo que haja uma ressurgência do uso de de produtos do tabaco é com esse com esses cigarros eletrônicos não é você não não tem estudos a longo prazo como nós temos com cigarro comum em relação a vários tipos de câncer n isso é uma coisa muito recente né Muito e e como a quantidade de nicotina é maior nos cigarros eletrônicos há um potencial para que is sirva de porta de entrada pros produtos mais tradicionais então eu não acho
que eles sejam Seguros Existem algumas patologias como por exemplo a pneumonite associada ao uso do do cigarro eletrônico e o risco dele estimular que volte a se subir eh no consumo de tabaco que foi uma grande conquista da sociedade brasileira né Nós tínhamos uma redução de mais de 50% no número de adultos brasileiros que fumam se nós olharmos anos 80 para agora né então não é de retr é e e e se você olhar o que aconteceu no Brasil nós tínhamos na minha geração quando era adolescente 60% dos homens com mais de 15 anos fumavam
hoje a prevalência do fumo na sociedade brasileira abaixo de 10% nós fumamos menos do que os americanos e menos do que todos os países da Europa muito menos e e vemos uma redução nos casos de câncer de pulmão por isso sabe Dra Então isso é importante mas é eu acho que todo esse esforço pode ser perdido agora com essa questão dos cigarros eletrônicos é nós estamos muito preocupados a academia Nacional de medicina ela liberou uma nota e está fazendo inclusive agora um simpósio justamente para discutir isso porque eu entendo que a pessoas que sugerem que
a regulamentação ajuda você dá mais segurança ao consumo mas a verdade é que nós tínhamos que trabalhar para que ninguém use o produto isso seria o ideal Outro ponto draus se você me permite já que seu programa é tão ouvido é a questão das vacinas né nós tivemos durante a pandemia um movimento antivacina que é muito negativo e Outro fator que aumentou a incidência de câncer no jovem são os vírus infelizmente nós temos no Brasil uma ideia de que próximo a 10% das mortes por câncer são Associados a cânceres relacionados a vírus muitos evitáveis com
vacina vacina para Hepatite vacina para HPV e nós temos essas vacinas disponíveis no SUS e elas não são utilizados né as pessoas ficam preocupadas não vou vacinar minha filha não vou vacinar meu filho isso tem que acabar porque ajuda a evitar câncer no futuro né Vamos pegar o caso do câncer de mama o ministério da saúde recomendava que as mulheres começassem a fazer as mamografias aos 50 anos Sociedade Brasileira de Mastologia sempre recomendou a partir dos 40 anos numa posição que eu sempre tive de acordo porque você tem cerca de 20% dos casos de câncer
de m ocorre nessa faixa etária entre os 40 e os 50 anos agora com o aparecimento de um número maior de de moças jovens com câncer de mama Você acha que nós Devíamos mudar esses critérios que Valeria também pro câncer de cola por exemplo aí Valeria um podcast só para isso né Eu acho que o câncer de mama tá meio pacificado nesse momento que a prevenção deve se iniciar aos 40 anos para câncer de intestino é uma proposta que nós ah reduzem a a idade do início da do rastreamento para 45 anos para pessoas que
não TM caso na família mas quanto eu reduzzi para menos de 40 anos o câncer de mama nós temos alguns problemas com essa ideia primeiro você sabe bem que a Mama jovem ela é muito mais densa e a mamografia ela não é tão efetiva na detecção Outro ponto é que e na medicina nós temos isso o risco do falso positivo ele aumenta muito para pacientes mais jovens e você vai acabar gerando biópsias eh estress eh até traumas em mulheres muito jovens que não tem um problema maligno então neste momento eu não conheço nenhuma sociedade que
esteja propondo a redução da idade de mamografia baixo de 40 anos por esses pontos e aí tem algo que o o sid sidarta kerge quando esteve no bril mencionou e gerou muita celeuma que são aqueles casos em que você tem mulheres jovens que tem um aparecimento de uma lesão eh maligna e que desaparece espontaneamente Isso parece acontecer em mulheres muito jovens então muito que precisamos aprender mas eu tenho acho que um ponto que vai ser a solução para isso drausio que é a biópsia líquida nós estamos muito próximo nós estamos assim como se diz entre
aspas na boca de resolvermos o problema da biópsia líquida quando isso ISO acontecer nós não vamos mais precisar fazer exames e de imagem como a mamografia ou exames invasivos como a colonoscopia vamos poder fazer esse rastreamento com exame de sangue aí fica tudo mais simples né explica como é feita a biópsia líquido então todas as nossas células quando elas morrem elas soltam os seus componentes na circulação para que ele seja excretado eliminado ou reutilizado de alguma maneira isso vale para células cancerosas também um dos fragmentos que sai da destruição de uma célula é o o
são os fragmentos de DNA e olha que interessante o fragmento de DNA resultante da destruição de uma célula normal é diferente do fragmento de DNA resultante da destruição de uma célula cancerosa hoje nós temos tecnologia para fazendo exame de sangue separar o que é componente de uma célula normal do que é componente de uma célula maligna Então você vai poder fazer um exame e detectar se algum ponto do organismo que está soltando essas células ou fragmentos de células malignas e E aí sim você vai atrás da onde está vindo faz os exames etc como o
rastreamento fica muito mais fácil Qual o problema quando você faz esse tipo de análise Você pode ter uma análise informada ou não informada informada Você tem o tumor você sabe que alteração há no tumor que que mutação específica houve você procura essa mutação é mais fácil quando você faz o rastreamento numa pessoa saudável você não tem um tumor original Então você tem que procurar todas as alterações possíveis nesse fragmento de DNA e é isso que ainda é complexo mas já existe alguns e algumas tecnologias com eficácia de até 60% não é o suficiente para usarmos
Mas é uma indicação que em pouco tempo teremos algo nessa linha Você não acha que o futuro é esse porque hoje nós temos inúmeros tratamentos para vários tipos de câncer né alguns mais eficazes outros menos e esses tratamentos todos se você faz o diagnóstico tardiamente esses tratamentos são complexos são demorados muitas vezes durante anos e eles aparecem a um custo absolutamente proibitivo paraa população de um modo geral eh o nosso problema na Oncologia Você não acha que não é descobrir só não é apenas descobrir novas drogas para esses casos mais complexos mas fazer o diagnóstico
precoce eu acho porque se você faz um exame de sangue mostra que aquela pessoa tem um tumor maligno sei lá no pâncreas uma situação complicada hoje e você vai lá e tira o pâncreas dessa pessoa sei lá enfim o que for necessário é não você tem absolutamente razão draus e e vou um passo além isso já está acontecendo né você terá uma tecnologia simples de fazer o diagnóstico precoce o tratamento mas também após a cirurgia você vai saber se precisa ou não fazer o tratamento complementar na minha área no câncer de intestino por exemplo câncer
com estadio dois que era uma dúvida fazemos ou não fazemos químio né e um estudo foi feito mostrando que se você não dá quimioterapia quando você não tem alteração molecular presente você tem o mesmo resultado Ou seja você evita de dar o tratamento para as pessoas que não precisam porque no fundo né draus com o custo absurdo dos novos remédios novas tecnologias nós vamos ter que aprender a dar a quem precisa O que funciona seros seletivos para poder dar o que há de melhor para todos aqueles que realmente vão se beneficiar do do tratamento e
hoje tem você toca num ponto toca num ponto importantíssimo porque você tem um tipo de tratamento que tem 20% de resposta em doentes com aquele determinado tumor aí a gente fica sempre ligado no dado Positivo né então você vai fazer esse tratamento só que você não sabe sabe quais são esses 20 Você vai dar o tratamento para todos né para 100% e a gente muitas vezes não para para pensar que com a intenção de tratar esses 20 de obter uma resposta você vai tratar inutilmente 80 pessoas com o custo e com os efeitos colaterais então
a a seleção do paciente é fundamental eh conversamos antes do podcast sobre uma medicação muito importante oxim US anti egfr né Lembrando que no início do seu uso 20 anos atrás todos os pacientes com câncer de cola avançado eram candidatos Então se dava para 100% dos pacientes com taxa de resposta muito pequena fomos aprendendo a identificar marcadores de não resposta então hoje só 40% dos pacientes são candidatos mas tem resultados muito bons Então isso é importante né Dráusio porque quando a gente fala do uso do a terapia em quem não vai se beneficiar não é
só o custo econômico tem aão questão psicológica tem a questão dos efeitos físicos colaterais é importante eis eu acho que esse esse vai ser o caminho você não Ach identificar quem vai ser beneficiado para não submeter os outros a tratamentos desnecessários eu acho que esse é o caminho e cabe a nós sabe draus e pessoas que estamos presentes nas pesquisas etc estimularmos que quando você faz a pesquisa para determinar a existência de novo tratamento você tem que também ao mesmo tempo pesquisar em quem esse tratamento realmente vai ter utilidade porque isso é importante pra sociedade
como todo é a única maneira que nós temos de tornar racional o tratamento dos pacientes com câncer né E tem que haver também um equilíbrio não é Paulo pega por exemplo um tipo de tratamento em que aquela pessoa com câncer disseminado tem uma chance de viver três ou quro meses a mais bom eu eu acho que três ou quatro dias já vale a pena Claro mas precis saber a que preço né então isso é complicado né porque eu acho que o indivíduo ele tem obrigação de buscar a sua preservação e quando nós temos um familiar
a gente quer isso também é legítimo né dro e o médico também o médico quer dar ainda que seja três ou quatro dias mas a sociedade quando eu falo sociedade ao todo precisa realmente tomar essas decisões difíceis qualis serão os nossos desfechos né quanto tempo de ganho de sobrevida eh nós estamos dispostos a a a bancar como sociedade e mas não não pode ser o paciente e o médico a tomar essa decisão isso tem que ser uma decisão coletiva da sociedade né E mesmo no plano individual eh se você tem um medicamento nós temos inúmeros
exemplos na Oncologia que que provoca diarreia por exemplo diarreia persistente de 4 C às vezes até mais evacuações por dia e você diz bom eu tô com uma doença grave mas eu tô mais ou menos bem agora diarreia você tem um dia de diarreia já é um inferno nãoé a gente já fica desesperado né você não pode sair de casa aquilo vai ter uma limitação muito grande na sua vida né Você não acha que nós médicos assim naquela intenção de tentar fazer de tentar melhorar a vida daquele paciente às vezes nós não informamos aos doentes
Quais são os efeitos colaterais possíveis tem um estudo muito interessante de uma médica de Harvard Debora shag a Debora shag ela em Harvard sabe draw estamos falando de Boston pessoas altamente educadas ela investigou em pacientes recebendo tratamento sistêmico nos hospitais de Harvard qual ela qual era a impressão qual era a expectativa dos pacientes do ter dos pacientes entrevistados achavam que o tratamento tinha como objetivo algo que era impossível de se se obter com tratamento então no geral há uma dificuldade de comunicação ninguém gosta de dar más notícias né Nós queremos sempre ser otimistas mas você
tem toda a razão acho que nós médicos temos que ser muito diretos Francos com os pacientes e discutir realmente a expectativa de benefício E a expectativa de dano que pode acontecer com com os tratamentos que nós oferecemos porque são tratamentos muito fortes né geralmente quando cheguei no Hospital do Câncer os doentes eram tratados com cirurgia e radioterapia basicamente e alguns tipos de tumor mais sensíveis à quimioterapia também recebiam um tratamento quimioterápico mas quando chegava numa fase em que esses pacientes já não tinham fora do alcance da cirurgia da radioterapia e da quimioterapia não havia tratamento
oncológico disponível esses doentes vin tinha um carimbo no prontuário que vinha escrito rhd que queria dizer regime higieno dietético alguém inventou essa história o que significava que eles não podiam mais ser tratados no hospital e não podiam mais ser tratados por oncologistas Olha o que mudou de lá para cá né e cuidados paliativos ninguém tocava nesse assunto então o que acontecia você via um doente que aparecia no hospital porque tinha tido um sangramento e ele vinha com anemia e tinha que dar sangue tinha que corrigir a hemoglobina etc mas isso esses doentes ficavam perdidos e
Isso mudou muito né Isso mudou e tem que mudar né draus porque quando você vê o paciente você não tá tratando o câncer você tem que tratar o paciente então o fato de você fazer uma intervenção contra o câncer ou não é só parte da história eu acho que o paciente ter certeza que ele será cuidado da melhor maneira possível até o fim dá ele tranquilidade até para aceitar que às vezes não há uma intervenção que realmente possa mudar o desfecho do Câncer Mas isso não impede de continuar sendo tratado com carinho da melhor maneira
que a evidência permite né draus Eu acho que isso é fundamental começa a mudar mas eu acho que ainda em muitos locais do Brasil um certo preconceito com cuidado paliativo que precisa ser trabalhado precisa eh ser melhor entendido o que o que isso eh leva no tratamento dos pacientes né E você acha que o profissional para tratar desses casos avançados que vão chegando ao final da evolução é o próprio oncologista ou uma equipe montada especificamente treinada para cuidados paliativos eu acho que a origem do profissional importa menos do que o que você mencionou por último
você tem que ter uma equipe um grupo de cuidados paliativos tem que ter um psicólogo você tem que ter um apoio espiritual você tem que ter nutricionista você tem que ter alguém que entenda de clínica então se o o o passado desse profissional que abraçou o paliativismo se ele era oncologista ou se ele era geriatra ou se ele era pneuma é menos relevante do que ele realmente se focar no cuidado porque basicamente no Cuidado paliativo você tem é Clínica Médica né é a velha e boa Clínica Médica cuidados dos sintomas e e os a os
sinais que aparecem nesse paciente então em algum locais como nos Estados Unidos sim são oncologistas que fazem isso no Brasil eu conheço muitos profissionais de outras áreas que abraçaram e conseguem fazer bem o o importante é que a equipe de cuidados paliativos tem que estar em contato com a equipe oncológica para ter certeza que tudo que podia ou pode ser feito pelo paciente tá sendo feito né ô Paulo nós estamos falando de de da Oncologia mais avançada né falamos de biópsias líquidas para fazer diagnósticos precoces drogas ativas que a gente precisa definir Quais são as
populações eh ideais para recebê-las mas nós estamos num país muito desigual em que muita gente não tem acesso à prevenção muita gente recebe o diagnóstico e tem a felicidade de receber o diagnóstico mas eh o trat é muito muito demorado como é que você vê a situação brasileira Olha draus nós tivemos um aumento substancial no recurso do SUS que é dedicado ao tratamento do Câncer há que se reconhecer isso o problema é que grande parte desse recurso acabou sendo direcionado justamente pro uso dessas novas terapias sistêmicas enquanto que nós Ainda temos problemas graves de acesso
então no Brasil hoje eu costumo dizer o grande problema é esse diagnóstico Inicial é pessa a mulher que sentiu um nódulo na mama até que ela consiga fazer a biópsia é o indivíduo que tem sangramento nas Fes até que ele consiga fazer uma colonoscopia uma vez que ele fez o diagnóstico ele entra dentro do sistema E aí o tratamento vai acabar acontecendo o segundo ponto é que nós temos que ser mais práticos né temos uma lei no Brasil que é muito importante a lei dos 60 dias né pro nosso ouvinte no Brasil Teoricamente Você recebeu
o diagnóstico câncer no SUS você tem 60 dias para iniciar ao tratamento isso não acontece a lei tem 10 anos e não conseguimos fazer com que ela seja cumprida O problema é que se eh promulgou a lei mas não houve recurso para aumentar os pontos de acesso ao tratamento e or draus falamos que nos últimos 20 anos dobramos o número de casos de câncer então nós teríamos que pelo menos ter dobrado a infraestrutura isso não aconteceu eh mesmo no Estado de São Paulo que é na minha opinião um estado muito bem gerido na né nessa
questão temos espaço para melhorar eu acho que os dois pontos que eu trabalharia mais seria questão de acesso ao diagnóstico especialmente biópsia e início do tratamento aqueles tratamentos que realmente curam que é cirurgia radioterapia né isso é importante que a gente não esqueça que a maior parte dos casos de câncer serão curados pela cirurgia Olha eu ando muito pelo pelo Brasil e você vai a esses locais cidades pequenas pouco isoladas e às vezes até nas cidades Grand grandes não é a periferia das cidades grandes e aí você tem uma mulher que toca que percebe que
tem um caroço na mão ela já tem uma dificuldade para marcar a consulta aí ela vai ser encaminhada para um mastologista e tem dificuldade meses às vezes meses aí programa a biópsia e essa biópsia também vai levar um tempo longo e o exame anátomo patológico conforme a cidade po pode levar um mês para ficar pronto ou mais do que um mês até ou mais e aí vai marcar a cirurgia você acha que é possível fazer isso em 60 dias não seguir essa via cruces aí eu acho que há como se fazer se houver interesse e
se se colocar Se colocarmos recursos nesse sistema como está hoje infelizmente em grande parte do Brasil como você apontou que você contou é exatamente o que nós vemos no iesp mesmo muitos pacientes que passaram meses tentando acessar o serviço eh eu acho que é possível draus Mas precisamos botar recurso e e gestão nessa área né ô Paulo as mulheres são muito mais atentas aos problemas de saúde né a menina começa a vida sexual ela vai ao ginecologista começa a fazer o Papa Nicolau os exames de rotina aos 40 anos se ela tem acesso fácil ela
vai fazer as mamografias e tá certo que o câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente nas mulheres e e uma doença potencialmente grave o homem no homem o câncer de próstata é mais frequente do que o câncer de mama nas mulheres e nós homens somos um relaxo total né ninguém ninguém faz os exames Por que que você acha que existe essa diferença tão grande olha bom primeiro o homem é sempre um pouquinho mais relaxado que a mulher né tanto que muitas das campanhas que a gente faz draus a gente foca na esposa
ou na acompanhante a companheira levar o homem ao médico né E no caso do câncer de próstata o melhor exame continua sendo toque e você sabe que nós vivemos uma sociedade muito machista em que essa ideia de você se submeter ao toque retal é incomoda os homens mas tem que ser feito draus porque como você disse é muito comum e eu até colocaria tem essa discussão toda em relação ao PSA e eu vejo algumas pessoas dizendo eu vou fazer o PSA não preciso fazer o toque não é um não elimina o outro e lembrando que
o PSA sozinho há uma discussão muito grande se ele deve ser feito ou não porque ele pode também acabar detectando tumores muito iniciais que talvez não precisassem de tratamento então importante que a gente faça o toque que você vai notar se é uma massa na próstata etc se você tá tendo dificuldades de urinar se a próstata tá aumentando Vale a pena ir no seu médico fazer um exame vê se você precisa ou não precisa fazer exames adicionais pra próstata mas é é um problema né nosso nosso homem brasileiro não gosta muito de médico pois é
mas aí não se trata de de gostar né é um dado que talvez ajude o ouvinte a se decidir aí é que aos 90 anos mais de 80% dos homens que são submetidos a autópsia tem câncer na próstata né é muito comum como você disse o desenvolvimento do câncer de próstata pra nossa sorte boa parte desses tumores são muito indolentes e não acabam nem precisando serem tratados mas eh até descobrir se é o caso ou não é bom ter o acompanhamento do urologista né você citou a poluição como uma das causas do aparecimento de muitos
casos de câncer sempre Houve essa suspeita mas tinha gente que dizer não não é não é bem assim a poluição causa muitos problemas respiratórios mas não há uma relação Direta com o apare tumores malignos não há essa relação Então vamos lá o problema que você tem de de delegar causa o câncer é o que nós comentamos da do processo de carcinogen ser muito longo de 10 a 20 anos então você tem que acompanhar o paciente por muito tempo para ver uma relação causal mas dois estudos recentes acho que vale a pena a gente mencionar aqui
um é definitivamente mostrando que poluição do ar está associada à formação de câncer pelo menos câncer de pulmão e e é muito muito claro né draus Nós vimos uma redução importante no uso do tabaco mas continuamos tendo casos de câncer no pulmão número menor do que seria mas tem então um trabalho foi feito e demonstrou a associação da poluição ambiental com câncer pelo menos de pulmão provavelmente com outros cânceres também só Claro difícil de provar Outro ponto você não me perguntou mas tenho certeza que a audiência tá curiosa sobre isso é um trabalho apresentado recentemente
que e sugere que depressão não causa câncer Isso é uma pergunta frequente né a gente tende a a ver o paciente o paciente fala alha eu perdi um ente querido eu perdi o emprego alguma coisa mas até pelo tempo da formação do tumor essa relação é de difícil eh difícil de se colocar E e esse trabalho mostrou claramente que não não parece haver essa essa relação causal mas lembrando entre os sintomas que uma depressão que surge de repente repente pode ser um sinal de câncer especialmente câncer de pâncreas pode estar associado Então se o indivíduo
não tinha e passa a ter depressão vale a pena ver um médico além do que processos depressivos muitas vezes levam a pessoa a fumar mais até outros comportar né comer pior engordar fazer menos exercício é verdade e e e e o papel da vida sedentária as pessoas têm dificuldade de entender isso P eu passo o dia sentado tudo bem mas quer di dier que vou ter câncer aonde que mecanismo é esse Olha o problema da vida sedentária tem a ver com alteração de metabolismo eh alteração de secreção de hormônios e muito importante tem a ver
com a saúde interna das células né você tem mais eh controle de processos inflamatórios etc quando você tá ativo o ser humano foi feito para ser ativo né draus a gente andava pelas Savanas atrás da comida etc não é natural você ficar sentado o dia inteiro e e eu costumo sempre dizer quando os pacientes me perguntam o que que eu como o que que eu bebo que chá eu tomo o que que vai fazer com que o meu tratamento vá melhor não existe nada melhor do que atividade física né atividade física melhor o resultado do
tratamento oncológico reduz o retorno da doença e previne câncer também e não precisa ser muito muito extenuante né draus ninguém precisa fazer Como draus correr a maratona se você caminhar aí 180 200 minutos por semana você já tem os benefícios né Você sabe o que que sempre me deixou invocado é que você pega por exemplo uma mulher com câncer de mama ela vem faz o tratamento rigorosamente sofre uma cirurgia que é sempre uma mutilação e faz radioterapia faz quimioterapia perde todo o cabelo e faz rigorosamente aí você diz olha você vai ter que andar 30
minutos vezes por semana é um quase ninguém anda né Di não anda e olha o estudo foi em câncer de mama que primeiro sugeriu a importância da atividade física né era em Nova York e o pessoal do memórial começou a ver o que que tinha de diferente nas mulheres que tinham mais chance de cura das que tinham menos e era um cachorro em casa el fala mas cachorro Será que é o amor do cachorro interação não você tem um cachorrinho em Nova Yorque Você tem que sair duas vezes por dia para caminhar com o cachorro
e isso já trazia um grau maior de cura para essas mulheres Ô Paulo como é que pra gente encerrar Então como é que você vê o panorama de câncer na população envelhecendo a doença aparecendo num público mais jovem a dificuldade e a complexidade do tratamento que que tornam uma o acesso mais difícil como é que você analisa esse Panorama geral sabe graus eu eu sou um otimista acho que você também somos oncologistas então nós somos otimistas não podemos esquecer disso mas a realidade é que os casos de câncer aumentaram ainda vão aumentar por alguns anos
antes de haver uma redução e aquele ponto que a gente sempre bate o diagnóstico precoce e o tratamento e imediato ajudam na probabilidade de cura Então eu acho que como sociedade a gente tem que preparar o sistema especialmente o sistema único de saúde para dar acesso às pessoas que se apresentam com sintomas para diagnosticar e tratar o mais rápido possível eh infelizmente nos próximos anos nas Provavelmente na próxima década câncer vai ser o o grande vilão vai suplantar em muitas cidades o coração como principal causa de morte aliás em algumas cidades do Sul já suplantou
né então nós precisamos direcionar a nossa infraestrutura médica para dar atenção a esses nossos concidadãos que precisam Paulo muito obrigado viu prazer foi meu draus se você gostou dessa conversa com Dr Dr Paulo lof Eu gostei muito eh acesse os nossos outros podcasts nós temos mais de 100 podcasts entre eles o saúde sem tabu o por dói e o outras histórias todos eles estão disponíveis no YouTube e nos principais agregadores Muito obrigado pela atenção
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