[Música] Então, vamos dar sequência a esse início, né, das nossas palestras de 2023, com a nossa segunda palestra sobre conversão, ok? E o tema de hoje vai ser metanoia: a reorganização profunda do espírito. E quem vai palestrar para nós hoje será o padre José Eduardo.
Ele é licenciado em filosofia pelo Centro Universitário Assunção, doutor em Teologia pela Universidade da Santa Cruz, em Roma, sacerdote da diocese de Osasco, e da Igreja São Domingos, Osasco, e conferencista, ok? Receba uma salva de palmas, por favor. [Aplausos] [Música] [Aplausos] Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Amém. Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei em nós o fogo do Vosso amor. Enviai o Vosso Espírito e tudo se renovará.
Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Muito bom! Eu quero também dar as boas-vindas aos seminaristas do seminário.
Vários deles foram meus alunos também. E, muito bom, hoje nós vamos falar sobre esse tema que é tão crucial para o nosso crescimento espiritual, que é o tema da conversão. Há muitos modos de abordar esse tema, mas eu gostaria de começar pelo versículo que me parece ser o essencial nesse caso, que é Marcos, capítulo 1, versículo 15.
Estou usando a tradução da CNBB. Começamos: versículo 14. Depois que João foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o evangelho de Deus e dizendo: 'Cumpriu-se o tempo e está perto o Reino de Deus.
Arrependei-vos e crede no evangelho. ' A palavra que, traduzida por 'arrependei-vos', é a palavra grega metanoia, que é uma conjugação relativa ao substantivo. Essa palavra é uma palavra muito importante no Novo Testamento, especialmente nos chamados Evangelhos sinóticos, que são os três primeiros Evangelhos: Mateus, Marcos e Lucas.
Essa expressão teológica, evangelho sinótico, se dá pelo fato de que esses Evangelhos podem ser lidos em sinopse, podem ser colocados lado a lado. Eles têm a mesma estrutura fundamental e, portanto, uma linguagem que é muito comum. O que significa isso?
Esta é a junção de duas palavras gregas. Nos, em grego, é a inteligência ou o pensamento, é um ato próprio da nossa psique, da nossa alma; é o ato mais característico da nossa alma, o mais profundo e elevado ato da nossa alma: o ato de pensar, de inteligir. Mas Jesus diz: metanoia.
Esse 'meta' indica simplesmente 'depois' ou 'além'. Então, por exemplo, Aristóteles, quando escreveu os livros da física e, depois deles, escreveu alguns livros que falavam de algumas coisas que estavam para além da física, chamou-os de metafísica, porque é o que está para além da física. E esse termo, até hoje, é o termo utilizado para falar das estruturas ontológicas da realidade que estão para além da matéria.
Até hoje nós usamos a mesma florjatura conceitual de Aristóteles, que é muito difícil você dizer essas coisas. Então, metanoia significa uma maneira um pouco mais palatável para os nossos ouvidos: ultrapassagem do pensamento, você mudar a forma de pensar. Mas também essa maneira de traduzir é fraca, porque quando ele diz 'metanoia', ele está querendo dizer apenas 'vamos além do pensamento atual' ou 'pensem depois daquilo que vocês enxergam'.
O que ele está querendo dizer é algo mais profundo. Ele está querendo dizer que nós precisamos mudar intimamente a nossa percepção da realidade inteira. O nosso ser precisa ser reorientado de tal modo que as nossas perspectivas mudem completamente.
E é por isso que essa palavra metanoia frequentemente é traduzida como conversão, porque o que é a conversão? Então, por exemplo, você está dirigindo o carro, o navegador diz 'conversão à direita', o que significa isso? Você vai se voltar totalmente para a direita.
É uma mudança de rumo, é uma mudança de orientação. É como se você adquirisse uma bússola nova e a orientasse, e ela reorientasse o seu espírito por inteiro, aquilo que você é mais íntimo. Como alguém, por exemplo, que é a corda da hipnose e percebe que estava em um estado alterado de consciência e, de repente, percebeu outros fatores e notou a realidade como um todo de uma maneira diferente.
Eu me lembro que há um tempo atrás eu assisti a uma pegadinha muito sugestiva na internet. Depois eu procurei e não a encontrei de novo. É assim: na pegadinha, você chama.
. . É o seguinte: a vítima chegava e o ator dizia para ele: 'Olha, eu vou entregar agora uma aliança, vou fazer um pedido de casamento para a minha noiva, eu queria que você filmasse com o celular', né?
Isso é uma pegadinha anglo-saxônica, deve ter sido na Inglaterra, em algum lugar assim. E aí o rapaz, inocentemente, pegava o celular e começava a filmar, né? E o rapaz bateu na porta, sai a noiva, o rapaz se ajoelha, ela se emociona, etc.
, está surpreendida, e, no alto da janela, nas costas do noivo, vai pulando o outro, né? Obviamente, é um ator, né? Então, vai pulando o outro e o outro fala assim: 'Não, por favor, mostra para lá, desvia a atenção dele.
' E ele se vê naquela situação em que, de repente, ele se torna cúmplice de um adultério, porque ele está ajudando a acontecer, porque o rapaz inocentemente está pedindo a mão da noiva em casamento. Só que o fim da pegadinha não é esse, né? O fim da pegadinha é que ele acha que está flagrando algo absurdo, mas, na verdade, é ele que está sendo flagrado.
E aí, quando ele percebe o que está acontecendo, quando dizem que é uma pegadinha, o cara acorda e: 'Nossa, que loucura', né? Acorda para uma nova realidade. Então, a conversão é exatamente esse choque de realidade.
Você achava que a realidade ia, digamos assim, até aqui. Então, você percebe que ela vai além daqui. Você achava, por exemplo, que a realidade era apenas esse mundo material, esse mundo feito de bens, de prazeres, de excelências e de.
. . De repente, você acorda dessa hipnose e percebe que existe uma realidade sobrenatural que está para além do que você está vendo, e que essa realidade sobrenatural, além de ser infinitamente mais rica, é ela que determina, na verdade, tudo que está aqui.
A minha vida aqui é apenas um breve instante em relação a uma eternidade, a uma duração ilimitada que, na verdade, será a minha verdadeira vida. Tudo que eu estou vivendo aqui não passa, apenas, de uma preparação, de um teste, de uma prova para aquilo que virá depois, que, aquilo sim, é que será consistente, duradouro, imperecível, permanente, que é massivamente real. E essa experiência de você, de repente, acordar para a verdadeira realidade, cuja supremacia espiritual é o que caracteriza de uma forma mais profunda o que nós chamamos de conversão, é uma experiência maravilhosa, ainda que seja cheia de sofrimentos, de desencontros.
Ainda que ela comporte dificuldades e adaptações inacreditáveis, ela é maravilhosa. Esse Jesus estava vendo, por exemplo, a história da irmã Claire, uma história maravilhosa: uma moça baladeira que era completamente sex-lib, totalmente envolvida com tudo que há de mais mundano, e que uma amiga dela a inscreveu no retiro sem que ela soubesse. E ela, durante a Semana Santa, teve que ir nesse retiro e foi vivendo o retiro como se nada daquilo fosse realmente verdadeiro.
E, quando chega a Sexta-feira Santa, já estava caminhando para o fim, ela está sentada durante a cerimônia de adoração da Santa Cruz. E, aí, de repente, ela é encontrada pela consciência do Evangelho: "Jesus morreu por mim. " E aí ela cai do cavalo, chora, se arrepende dos seus pecados, procura o sacerdote, faz uma confissão de várias horas e reorienta a vida dela para esse fim sobrenatural.
Uma história linda, a da irmã Claire, mas como a dela existem milhares e milhares e milhares acontecendo a todo momento, porque é a graça que opera esse milagre que nós chamamos de conversão. Portanto, a conversão supõe um antes e um depois: supõe uma vida anterior, feita de naturalismo, de uma visão transcendente da realidade, de um confronto material com o mundo e tão somente isso; e de um depois que é uma vida orientada para o seu fim último, para as realidades sobrenaturais, para aquilo que é eterno, não o que é instantâneo e evanescente, mas para aquilo que é permanente e duradouro, para o céu. Esse processo é algo tão profundo que, na literatura joanina, São João chama de Novo Nascimento.
É o famoso capítulo 3 de São João: a conversa de Jesus com Nicodemos. Nicodemos foi discutir teologia com Cristo, né, à noite, e Jesus diz: "Em verdade, em verdade te digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus. " Nicodemos pergunta: "Não pode alguém nascer?
" Isso já é velho, ele pergunta: "Ele poderá entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe para nascer? Poderá reencarnar? " Ele está achando que é nascer de novo nesse sentido.
Jesus diz: "Em verdade, em verdade eu digo: se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito. Não te admires porque eu te disse que vós deveis nascer do alto.
O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai; assim acontece com todo aquele que nasceu do Espírito. " Aquilo que aqui nós traduzimos como Novo Nascimento, "nascer de novo", no texto grego é ligeiramente diferente. O que Jesus está dizendo é: "Se alguém não for gestado da água e do Espírito Santo, não poderá ver o Reino de Deus.
" Se alguém não for gestado. . .
Por que esse detalhe é importante? Porque o nascimento acontece no instante; a gestação dura nove meses. Ou seja, quando Jesus diz que quem é gestado da carne é carne e quem é gestado do Espírito é Espírito, Ele está falando da conversão também como um processo.
Ou seja, é verdade que você se converte num momento, é o momento em que você recebe a graça e reorienta a sua vida, mas também é verdade que esta reorientação é um processo longo e que perdura ao longo de toda a existência. Ou seja, a conversão não é um ato acabado no instante em que ela acontece, é uma semente que vai germinar; ela é uma reorientação que nos vai, por assim dizer, arrancando, desenraizando desse mundo e nos plantando para o Reino de Deus. Para o que Jesus chama de Reino de Deus, que na verdade é a vida da Graça, a vida sobrenatural.
Exatamente disso que São Paulo fala em Romanos, no capítulo 12, quando ele explica o que é conversão para ele. Ele diz o seguinte: "Eu vos exorto, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, a oferecerdes os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Este é o vosso verdadeiro culto.
Não vos conformeis com este mundo. " A palavra "mundo" aqui é a palavra "século", em grego, "aion", que quer dizer: "não vos conformeis com esta era, com esta ordem de coisas, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente. " Então, ele descreve aqui um processo dinâmico.
No grego, é "mas metamorfoseai-vos pela renovação da vossa luz, da vossa mente". Então, ele está escrevendo "metanoia" de um jeito dinâmico. Ele está falando que "metano" é um processo contínuo, é um processo de revisão da própria forma de pensar que jamais cai em estagnação.
Isso é muito importante, porque a renovação do evangelho que é produzida em nós, ela nunca chega a um momento de fixação em que você diz: "Agora eu cheguei. " É um processo dinâmico, cujo fim é só na eternidade. O que, portanto, implica da nossa parte uma abertura de pensamento.
Eu vejo que nos nossos dias existem muitos cristãos que pretendem ficar no cristianismo como se já tivessem chegado ao ponto correto, ideal, máximo e assim por diante. Não, não! No evangelho, o confronto.
. . É diário.
Eu, eu, eu tenho que ser ensinável a todo momento. Essa ultrapassagem de pensamento tem que acontecer a cada instante. Eu tenho que ser surpreendido continuamente pela verdade do evangelho e mergulhando em níveis mais profundos de consciência.
Eu não, eu não chego àquele momento que não "agora já me converti, agora em seguida aqui para frente". Não, a consciência do evangelho tem que se aprofundar em mim, ela tem que se tornar cada vez mais metabólica, ela tem que atingir áreas diferentes, ela precisa realizar uma readequação que me vai projetar em sentidos diferentes, causando-me maravilhamento sem cessar. Portanto, nunca chegar ao dia em que eu me apresentarei como o cristão acabado, o cristão realizado, e direi para você: "me siga porque eu sou o cara, eu sou o profeta, sou eu o mensageiro, sou eu que trago a revelação, eu sou super-herói.
Minha patente está aqui". Não, isso é comportamento de falso profeta. Porque quem está no processo do evangelho está se colocando em cheque todo santo dia, está se problematizando incessantemente a cada instante, está olhando para sua vida, encontrando lacunas a serem preenchidas a cada momento.
E é por isso que ele é humilde, é por isso que ele desce ao chão. Ele, todo dia, entende que entende menos e não podia ser diferente, né? Porque quanto mais eu conheço a Deus, mais eu percebo que Ele é infinito.
Quanto mais eu conheço, mais eu percebo que nem definível Ele ainda é. Agora, se eu me sinto o mestre de Deus, o doutor de Deus, a enciclopédia de Deus, o carbono, eu estou passando um diploma de que eu não sou nada daquilo que eu pretendo ser. É um dos paradoxos do evangelho.
Quer dizer, alguém que foi realmente impactado pela graça é que nem São Paulo, que vai para Damasco cheio de certezas, que é derrubado pela graça e levanta como um discípulo simples, cego, que precisa ser conduzido por outro, que não faz a própria vontade, que é ensinado e que passa a vida inteira tentando ensinar os outros a serem tão somente ensináveis pela verdade de Cristo, até chegar ao estado, como diz ele na carta aos Efésios, do varão perfeito, mas que é a medida da plenitude de Cristo. Não minha, ou seja, me esvaziei completamente. Eu já não tenho pretensão nenhuma, eu não sou nada, mas essa vida presente na carne, como diz ele, eu vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou.
Então, meu viver é Cristo; Ele é, o resto não é nada, não significa para mim mais nada. Portanto, quando São Paulo fala de conversão, ele está falando desse processo de uma renovação contínua. E é maravilhoso, porque eu digo isso com a experiência de quem está há 30, 31 anos buscando se converter.
Eu não paro de aprender. Eu não paro de aprender, inclusive com as pessoas mais simples, que às vezes são aquelas que ensinam mais, que me envergonham, que mostram que tudo que eu sei não passa de presunção. Eu não paro de.
. . eu não sou de aprender.
Quanto mais eu leio, mais eu vejo que eu não sei. E essa abertura de consciência que me torna maleável nas mãos de Deus. .
. eu fico muito preocupado com os católicos, os cristãos em geral do nosso tempo. Então, são tão cheios de certezas.
É claro que nós vamos ter certeza das verdades de fé, dos dogmas, mas eles são a menor parte de tudo. Deus mesmo está muito além, a nossa vida com Ele está muito além. A graça é vida; é a vida de Deus em nós.
Isso tem um quê de inexprimível, de insubstituível, que é muita presunção. Você quer esgotar isso ou pretender? Não dá.
Agora, nesse sentido, São Paulo diz na segunda carta aos Coríntios, no capítulo 7, a partir do versículo 9: "Agora alegro-me, não porque ficastes tristes, mas porque a vossa tristeza vos levou ao arrependimento, à conversão, à mudança do modo de pensar. De fato, a vossa tristeza foi uma tristeza segundo Deus, e portanto não vos prejudicamos em nada. A tristeza segundo Deus produz o arrependimento que leva à salvação, isso não causa pesar.
Mas a tristeza segundo o mundo causa morte". São Paulo aqui relaciona conversão com tristeza porque o contexto é bem preciso, ele está falando sobre a primeira carta aos Coríntios. Essa é a segunda.
Na primeira, ele censura os Coríntios por uma série de problemas, é "cacetada" para todo lado. Já no começo da carta aos Coríntios, ele critica as divisões que há na igreja. Depois, ele fala sobre o incestuoso que eles admiram no meio deles.
São Paulo pega pesado quando fala disso porque ele aproveita e denuncia um monte de pecado. Depois, ele fala sobre os escândalos daqueles que comem carnes sacrificadas aos ídolos. Aí ele fala sobre os escândalos durante a celebração da Eucaristia, sobre o uso abusivo dos dons e carismas sem ordem nem decoro, sobre as doutrinas heréticas que estão ensinando naquele tempo contra a ressurreição.
E aí ele termina a primeira aos Coríntios, depressão comunitária, porque ele aposto que havia estabelecido o fundamento daquela igreja em Corinto. Um fundamento tão lindo; quando nós lemos nos Atos dos Apóstolos, a fundação dessa igreja foi uma coisa maravilhosa. Ele está voltando de uma pregação fracassada em Atenas, vai para Corinto; aquele Priscila está ali, o ajuda na edificação daquela comunidade, é tudo maravilhoso.
E depois ele sai. E quando ele sai, vai primeiro para Antioquia, depois volta. Fica no meio do caminho; chegam as notícias, ele escreve.
Ele escreve essa primeira carta, e ela causa tristeza no coração dos coríntios. É tão verdade que quando ele começa, ele meio que começa a pegar leve, né? Ele diz assim: "Se alguém causou tristeza, não causou a mim somente, mas em parte sim, exageradamente, a todos vós; para esse tal".
Ele está falando do incestuoso. Que ele havia mandado excluir da igreja, ele disse para esse tal: "Basta repreensão por parte da maioria". Agora, pelo contrário, é melhor que o perdoeis e o consoleis, para que não venha a consumir-se de tristeza.
Por isso, eu vos exorto a confirmardes o vosso amor para com ele. Quer dizer, meio que sem jeito, exagerei pesado demais. E aqui, olha, voltem lá, pelo amor de Deus, né?
Ele não cai em desespero! Voltem lá, mostrem amor! Não façam isso, voltem atrás!
Introduzam esse homem aí entre vocês. Mas aí ele vai, no Capítulo 7, diz: Essa tristeza que foi causada em vocês pela minha carta é uma tristeza para conversão, é uma tristeza boa, é a tristeza do arrependimento. Portanto, não existe verdadeira conversão sem esse pesar pelos nossos pecados, e é um pesar que vai adquirindo novos conteúdos ao longo da vida.
Porque a peneira vai afinando, e se não for afinando é porque você não está no processo. Quer dizer que, quando você começa a sua caminhada, o que te incomoda são coisas mais grosseiras: é o fato de que você não vai à missa, de que você não conhece direito a fé, você negligenciou sua formação catequética. É o fato de que você comete pecados monstruosos do ponto de vista da sexualidade, é o fato de que você vive uma vida materialista.
Bom, são coisas mais grosseiras. Só que, à medida que você vai progredindo no processo de conversão, você vai se entristecendo por outras coisas, por coisas que estão mais no fundo da sua alma. As coisas que antes você achava que eram insignificantes começam a te incomodar.
Isso é um sinal de que você está no processo, porque você se entristece com falhas que são, talvez aos olhos dos outros, não tão importantes. Por exemplo, você faz um comentário desnecessário, você é ácido quando fala com alguém, você poderia ter sido mais generoso quando vai prestar algum serviço, mais alegre, desprendido. Você poderia ser mais amoroso, ter demonstrado mais afeto, e coisas desse tipo.
Porque essas coisas revelam um fundo de maldade, um fundo de malícia. Quer dizer, quando a gente começa a se converter, a gente se arrepende muito pelos pecados de fragilidade. Então, sei lá, um jovem, por exemplo, se converte e se arrepende muito porque via pornografia na internet e cometia atos de impudicícia solitariamente.
Mas quando você está num processo um pouco mais avançado de conversão, em que você não recai nessas faltas, você percebe que existe um fundo de ruindade, estabelecido um núcleo que precisa ser quebrado. Então, você começa a ser levado pela graça a um pesar mais profundo, a uma tristeza relativa a essas balizas. É aí que a conversão começa a se tornar real e não apenas uma conversão exterior, superficial.
Vejam, existe uma noção de conversão que é extremamente superficial. Então, por exemplo, plano: se torna católico. Então, antes de se tornar católico, ele frequentava a discoteca; aí, depois que ele vira católico, ele começa a frequentar a cristoteca.
Antes de ser católico, ele vestia Lacoste. Aí, depois, ele vira católico e começa a vestir Canção Nova, Aliança de Misericórdia, sei lá o que. Antes, ele falava mal dos outros porque iam para a igreja; agora, ele fala mal dos outros porque não vão para a igreja.
Antes, ele falava palavrão, ele xingava; hoje ele não diz o palavrão, mas, creio eu, ele diz assim: "se o abençoado é como a energia, é tão diabólica que vale um palavrão". É uma blasfêmia, na verdade, acaba sendo uma blasfêmia, então, utilizando o nome de Deus de maneira raivosa. Antes, ele odiava porque era contra o cristianismo; agora, ele odeia a favor do cristianismo, mas ele continua odiando, tem ódio das pessoas, que eram a morte, que era a supressão, etc.
e tal. Antes, ele fazia macumba e agora, ao invés de fazer macumba, ele faz boacumba. São aquelas orações feiticeiras que ele acha que vão resolver de maneira supersticiosa.
Ele vai lá e faz um novenário, mas a energia, o que está na mente dele, ainda é totalmente. . .
ele pensa em critérios feiticeiros. Ele está fazendo barganha com Deus o tempo todo, então ele é um "toma lá, dá cá". É um negócio profundamente estabelecido na base da permuta.
Ele não vai deixar um despacho lá na encruzilhada, mas ele deixa qualquer coisa, qualquer oferenda. Muda só o tipo de oferenda, mas, na verdade, a psicologia feiticeira continua existindo nele, porque não há engajamento. Ele não percebe que não é uma mudança exterior, é uma mudança interna.
Ele tem que começar a amar, ele tem que começar a perdoar e tem que começar a ser generoso com os outros, a ser bom, a demonstrar serviço, a olhar dentro do olho do mendigo de vez em quando, dar um abraço no mendigo. Ele tem que se humilhar, ele tem que pedir perdão, até quando ele tem razão, para ganhar a pessoa. E até com medo de se humilhar, um pouco de se rastejar, ele precisa ser manso.
Ou seja, é uma transformação que engaja o meu comportamento como um todo e que me faz me entristecer pelo meu modo de ser precedente. Você não tem isso? Eu posso me recobrir de qualquer coisa.
Isso não é conversão, porque eu preciso verdadeiramente, como diz Jesus, em Lucas, no capítulo 3. O contexto é o contexto do batismo, essa pregação de João Batista: "Muito obrigado, querido, produzir pois frutos dignos de vosso arrependimento". E não comeceis a dizer a vós mesmos: "Nosso pai Abraão", pois, "elogio que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão".
São João Batista está acusando os judeus. Ele está dizendo: "Ah, vocês dizem que são filhos de Abraão". No fundo, o que ele estava querendo dizer é o seguinte: Ismael também era.
. . conhece a história de Abraão, né?
Abraão teve dois filhos: um filho com a escrava, Ismael, do qual vêm os muçulmanos e. . .
Isaac, da esposa legítima, que é o filho da promessa, que é o filho mais novo, o qual é o herdeiro, é o herdeiro, então, que São João Batista, dizendo aqui, é filho de Abraão. Ismael também é, e nem por isso ele está no povo de Israel. Produzir frutos dignos de conversão, frutos, você mostra que você se converteu.
Não pelas suas palavras, não pelas músicas que você canta, não pelo time pelo qual você torce. Não é uma questão de torcida, não é uma questão de estar de um lado. Jesus fala disso claramente no Evangelho de São Mateus, no final do Sermão da Montanha, lá no capítulo 7, quando Ele diz o seguinte: "Cuidado com os falsos profetas, que vêm até vós em pele de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes.
Pelos seus frutos os conhecereis. Acaso se colhe uvas de pinheiros ou figos de urtigas? Assim, toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má produz frutos maus.
Uma árvore boa não pode produzir frutos maus, e uma árvore má não pode produzir frutos bons. Toda a árvore que não produz frutos bons é cortada e lançada ao fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.
Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no reino dos céus, mas só aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. " Se nós lemos esse versículo em relação ao que São Paulo diz no trecho anteriormente mencionado, Romanos 12, versículo 2, ele diz: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da mente, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito. " Então, ele fala dessa mudança de pensamento, que me faz entender que a vontade de Deus é boa, agradavelmente perfeita.
A mesma coisa que o juiz está dizendo aqui: não é uma questão de dizer, é uma questão de fazer. Mas fazer o quê? Fazer significa que as minhas ações revelam efetivamente o discípulo que eu sou.
Ele disse que, naquele dia, muitos me dirão: "Senhor, não profetizamos em teu nome? Não expulsamos demônios em teu nome? Não fizemos muitos milagres em teu nome?
" Então, eu lhes declararei: "Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. " Vocês operam mal.
Veja que Jesus não diz aqui: "Então, eu lhes declararei: 'Vocês não profetizaram, vocês não expulsaram demônios, vocês não fizeram milagres. ' Tudo era mentira. " Não.
Ele não desmerece o fato de que possam ter profetizado, que possam ter expulsado demônios e que possam ter feito milagres. Mas o que Ele está dizendo é o seguinte: embora tudo isso vocês possam ter feito, nós não temos uma relação de conhecimento. "Eu não vos conheço.
Vocês não têm a minha natureza. Vocês não praticam o que eu pratico. Vocês não seguem os mesmos princípios que eu sigo.
" Por dentro, vocês são lobos: vontade de ganhar, vontade de prevalecer, vontade de insuflar o seu próprio ego, vontade de reforçar a vocês mesmos. E é por isso que, embora tenham peles de ovelhas, por dentro têm a natureza de lobos. Vocês querem, no fundo, devorar.
Por isso, vocês vivem de ameaça, vocês vivem de barganha, vocês vivem de troca, vocês vivem de medo, vocês vivem de tudo que não tem nada a ver comigo. Vocês percebem que, quando a gente lê o Novo Testamento com muita atenção, essas coisas saltam à vista. Mas você precisa ler com a simplicidade de quem se deixa formar, não como quem vai lendo assim aos tropeções, mas quem vai lendo com o verdadeiro desejo de ser ensinado por Cristo.
Essa experiência, por exemplo, que São Lucas nos escreve em Atos 2, quando, na primeira pregação da igreja na manhã de Pentecostes, feita pelo chefe dos apóstolos, por São Pedro, aquela multidão fica perplexa. Quando ouviram isso, ficaram com o coração comovido e perguntaram a Pedro e aos outros: "Irmãos, que devemos fazer? " Pedro respondeu: "Convertei-vos, arrependei-vos, e que cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão de vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
A promessa é para vós e vossos filhos e para todos aqueles que estão longe. " Todos aqueles que o Senhor com muitas outras palavras ainda Pedro lhes dava testemunho, exortava, dizendo: "Salvai-vos desta geração perversa. " Os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o batismo.
Veja que coisa impressionante! São Pedro os exorta ao arrependimento, ao pesar, à tristeza pelos pecados, à desconformidade com a sua conduta anterior, à ruptura com um padrão ético que já não pode mais ser coerente com a fé conhecida. É isso que São Pedro exorta toda aquela multidão como vida pela graça, porque já estão tocados pela pregação inspirada do apóstolo naquela manhã de domingo.
Tudo isso deve nos colocar uma questão, porque veja, nós temos diversas imunizações contra o arrependimento hoje em dia. A primeira imunização é a ideia de que o pecado não existe: "Nada é pecado se me faz feliz", dizem as pessoas de hoje em dia. "Nada é pecado se eu acho que me faz bem.
" Então, inclusive, alguns que são um pouco mais liberais na pregação até dizem: "Olha, vamos parar de falar de pecado, porque esse assunto é muito pesado. Nós temos que falar do amor, da misericórdia, etc. " Mas eu vou arrepender de quê?
Esse não fala de pecado, mas o que é que eu vou me arrepender? Como é que você é humilde se eu não tenho consciência de pecado? Quer dizer, o cristianismo não é um tipo de pregação que me traz conforto e agrado.
Não é uma espécie de. . .
A pregação do evangelho não é uma espécie de sessão de coaching que me vai motivar a tomar tais ou quais resoluções ou perseguir quais metas. A pregação do evangelho, ela me coloca. .
. Em crise todo dia, ou seja, se eu não leio o Evangelho e não fico em crise, é porque eu não tô entendendo nada. É duro isso, gente, é duro!
Porque o que as pessoas querem hoje? Elas querem aceitação, elas querem confirmação das suas expectativas, elas querem que a igreja diga o que elas querem ouvir, elas querem aprovação da sua conduta, elas querem um "salve conduta" para continuar vivendo como elas estão vivendo. Só que isso não serve só para aquilo, serve para tudo.
O cristão é um homem continuamente em crise, em crise moral, não quis de fé, não quis moral. Alguém que sempre está se exigindo mais e sempre dizendo: "Nossa, eu tô longe, eu não tô conseguindo. Meu Deus, tem piedade de mim, eu não sou nada, eu não presto mesmo, eu sou ruim.
" Meu Deus do céu, quanta dureza em mim! Quanta fragilidade! Quanto é malícia!
Meu Deus, me perdoa, eu tô assim o dia inteiro, o tempo todo. Para nós, essa é a coisa mais maravilhosa que existe. Se eu estou com uma convicção de pecado e alguém vive para mim assim, não é "deixa isso para lá", não é pecado, seu próprio demônio falando para mim.
Tudo que eu quero é estar ali aos pés de Cristo. Sabe que esse exercício eu faço continuamente? É assim, sempre que eu faço, pego aqueles pecados mais vergonhosos cometidos na minha vida, me lembro só para me humilhar e trazer uma pessoa.
Chega para mim, faz um elogio: "Nossa, que legal que você fez aquilo lá! " Ela tá falando e eu tô pensando: "É que ele não sabe. " Pensando em fazer, lembrando todas as coisas mais vergonhosas que eu fiz na vida, descendo lá naquele esgoto e ficando ali.
Isso é bom, isso me derruba da posição presunçosa, isso me mostra que a graça me constrói, isso me devolve para o meu lugar de humildade, para a verdade no meu ser. E por privilégio, de eu não precisar ser impecável para entrar no Reino dos Céus, eu chego lá acusando a mim mesmo. É bom!
O arrependimento é bom! É por isso que a Quaresma é um negócio bom; a gente voltar para aquela posição de arrependimento, sentar lá no chãozinho e ficar lá lembrando os meus pecados e pedindo perdão a Deus pelo que eu fiz. Isso é bom, é bom, é bom, isso é bom!
É o grande exercício que nós fazemos de descer naquela posição quebrantada. Eu não preciso parecer super-herói, isso é patético do cristianismo, pelo amor de Deus, não tem nada a ver com Jesus isso aqui! Quando foi que ele fez isso?
Você leu o Evangelho e nunca fez isso? Quando chega o capítulo 6 de São João, né, e os discípulos escandalizam, aí uma turma vai embora, não quer mais seguir, porque ele falou que quem não come a carne dele e não bebe o sangue dele, né? O termo grego é mais forte que não mastigar a minha carne; quem não beber meu sangue não terá a vida eterna.
Ele disse claramente, aí uma turma disse: "Essa palavra é dura demais! Quem é que pode escutar isso? " Os judeus, falando de comer carne humana, para eles aquilo era insuportável de ouvir.
E aí Jesus vira para os apóstolos e fala assim: "Vocês também querem ir embora? Vocês também querem? " Podem!
Você não vê ele falando assim: "Você tem que ficar, você tem que fazer. " Não! Com ele não tem isso.
Ou seja, no Evangelho eu não preciso ser super-herói; o que eu preciso ser é como aquele publicano lá do que nos fala São Lucas, que não tinha coragem de olhar para o céu e batia no peito e dizia: "Deus, tem piedade de mim, que sou pecador! " E Jesus disse: "Esse aí voltou para casa justificado. " O outro que tava lá dizendo: "Eu sou cara, eu pago o dízimo da hortelã do cominho, eu não sou como os outros homens, bebedores, fanfarrões, e nem como esse publicano," ele volta igual.
Por que que eu tô dizendo isso? Porque nós podemos nos proteger do arrependimento com uma noção do pecado que é extremamente benévola, como se o pecado fosse uma falha ortográfica, fosse apenas uma gafe, fosse somente uma precisão de etiqueta. Não!
Não é isso. Se eu não rastreio nas minhas disposições e percebo que eu sou como um animal, você, dentro do prazer, como um malicioso que quer poder, como um vaidoso que precisa ser glorificado, para ser louvado. Se eu não percebo que eu sou um ganancioso que quer qualquer coisa, bens e dinheiro, eu não percebi a raiz dessa maldade em mim.
Eu não entendi o que é pecado! Aí eu vou para confissão, eu vou falar com comparação, assim, dando um checklist, como se estivesse dando uma receita de bolo, com a mesma frieza de quem dá uma receita de pudim de chocolate. Não!
Se eu não tô ungido pelo verdadeiro arrependimento, eu me tornei inalcançável para conversar. No capítulo três de São Mateus, João Batista disse: "Eu vos batizo com água como sinal de arrependimento, mas o que vem depois de mim é mais forte do que eu. Nem eu sou digno de carregar suas sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.
" Aí o pessoal acha que esse fogo aqui é o fogo, tipo assim, do fervor, da euforia espiritual, mas é o fogo do juízo. Depois vem o batismo de Jesus. Ele é batizado e, quando ele rasga as águas, né, diz: "Depois de batizado, Jesus saiu logo da água.
Então, o céu se abriu e viu o Espírito de Deus descer como pomba sobre ele. " Por que que o Espírito de Deus aparece como pomba sobre ele? É para dizer que agora está se repetindo a mesma cena que aconteceu no dilúvio, quando Noé soltou a pomba fora da arca.
Ou seja, o batismo representa um novo começo. É o batismo de conversão, é o batismo de arrependimento, é o batismo que zerei a minha vida para começar uma vida nova. E é esse batismo do reinício, do recomeço, que nós renovamos em cada vigília Pascal, como faremos no Sábado Santo, na noite do Sábado Santo, e receberemos mais uma vez as pessoas com a água benta, manifestando o nosso desejo de começar de novo, de reiniciar, de viver uma vida ressuscitada com Jesus ressuscitado.
E aqui eu termino. Portanto, para o Novo Testamento, o processo vai durar até nós chegarmos à Jerusalém Celeste. Enquanto nós chegamos lá, ninguém se considere santo, porque nós estamos sempre chamados a uma superação que não é nossa, mas é da Graça de Deus em nós.
Você tem perguntas? Gostaria de fazer alguma pergunta? Sintam-se à vontade.
Padre, a diferença, se o Senhor pudesse colocar para a gente, entre arrependimento e remorso? Tá, o arrependimento é sobrenatural; o remorso é natural. Então, por exemplo, a palavra remorso, aliás, etimologicamente, significa.
. . em espanhol se diz "remordimiento", porque "morder" é morder, é uma forma de dizer "morder".
A gente não diz mais em português isso, a gente diz "mordência", algo desse tipo. Mas o remorso é você ficar remoendo o que você fez de errado. Então, por exemplo, digamos assim que você brigou com a sua mãe.
Aí você fica com remorso; você fica ali: "Poxa, por que que eu fui fazer isso? Meu Deus, poxa vida, o que que eu fui falar aquele negócio? " Mas é natural; é o remorso natural, porque você cometeu um erro.
O arrependimento é sobrenatural, ou seja, é por causa de Deus. Como diz o filho pródigo em Lucas 15, né? "Pai, pequei contra Deus e contra ti, já não mereço ser chamado de teu filho.
" Ou como diz Davi no Salmo 50 (51): "Foi contra a voz só, contra vós que eu pequei. " Ele diz a Deus, mas peraí, ele tinha adulterado com a mulher de Urias, ele tinha mandado o marido dela para frente de batalha, se tornou por tanto assassino por causa disso. Como é que ele tem coragem de dizer que pecou apenas contra Deus?
Pois é, é que o arrependimento é teologal, ele tem a ver com Deus. E aí existem dois níveis de arrependimento, ou dois níveis de contrição. A gente chama a contrição imperfeita de aflição, que é aquele arrependimento que a pessoa tem por medo do inferno.
Então, a pessoa cometeu um pecado: "Ai, meu Deus, vou me confessar porque se eu morrer vou para o inferno", né? Essa é a atrição. A contrição, que é o arrependimento em sentido próprio, é por amor a Deus, né?
É quando você diz: "Deus, eu troquei a tua vontade pela minha, eu te ofendi, eu escolhi a minha ao invés de escolher a ti. " Isso é a contrição, e a contrição perfeita é quando esse arrependimento por amor chega a um nível de profundidade. A contrição perfeita é aquele arrependimento radical, assim perfeito mesmo, que a pessoa não voltará mais a cometer aquele pecado.
Então, é isso. Mais uma pergunta! Vou chamar o senhor de meu xará, tá bom?
O senhor me deixou triste pelo que eu entendi, tá? Eu já estava achando que eu era convertido, tá? Eu sou desse aí que a conversão não termina nunca.
Assim sendo, só de eu achar que eu já era convertido, eu tô fazendo pecado, quase eu achava que não estava convertido, e não é bem assim. Não vai terminar. Mais ou menos um ensinamento como esse que eu fiz hoje serve muito mais para colocar as ideias em ordem, o coração, etc.
[Música] Que talvez a gente entenda as coisas de uma maneira que você está pecando só para achar que você não estava informado direito sobre esse assunto. E agora deve estar um pouco mais claro sobre isso, tá bom? Só que o senhor não se desesperar, é conversão diária.
Mais uma pergunta aqui. Padre, vou voltar um pouco na pergunta do Alex. Eu sempre considerei a palavra, não só pensando na parte religiosa, vamos dizer assim, a palavra arrependimento, para mim, é uma coisa de pessoas que não fizeram alguma ação de forma consciente.
Ou seja, se você se planeja bem para alguma coisa, você age com consciência. A partir daquele momento, é muito difícil para mim falar em arrependimento. Me sinto até mal em falar "não foi uma decisão consciente".
Eu estou me convertendo, eu estou fazendo agora, eu quero fazer tudo diferente, mas o arrependimento me dá a sensação de. . .
não sei se eu consigo explicar. Eu acho que eu entendi o que você quer dizer. É que você quer dizer que, se você realizou uma ação deliberada e depois você diz que se arrependeu, é como se você estivesse sendo hipócrita.
É isso que o senhor quer dizer? É, o hipócrita. Porque em casos que não seja uma coisa errada, necessariamente.
. . Por exemplo, vou dar um exemplo, tá?
Me permite assim. Por exemplo, eu vou sair daqui, eu tenho que ir para a zona norte. Então, se eu não olhar.
. . Hoje em dia a gente tem tecnologia para ver o melhor caminho para a gente ir até lá, ver se não aconteceu nada.
Se eu saio que nem um louco, não verifico nada e vou no caminho, caio, não é uma coisa errada e tal, depois vou falar "me arrependi". Lógico, também eu não me planejei, se eu tivesse me planejado bem, eu não consigo. E aí, vamos supor, eu demorei duas horas para chegar lá.
Eu não consigo, depois que cheguei lá, falar: "não, eu não me arrependi, eu fiz conscientemente". E não sei se. .
. Se eu fizesse alguma. .
. Outra coisa seria melhor. Eu não sei, talvez aquilo era necessário para minha vida.
Então, espera aí, aí a coisa tá confundindo, porque é o seguinte: suponhamos que a zona norte seja um inferno e você toma a decisão de ir para o inferno. E aí, é no meio do caminho que Deus te dá uma graça e você percebe: "Poxa, eu tô indo para o inferno". Então, eu vou deixar de ser satanista e vou me converter a Jesus Cristo.
O arrependimento não significa que você não fez uma ação deliberada antes; o arrependimento significa que aquela ação deliberada que você fez é uma droga. Você está fazendo tudo errado; você não estava enxergando o plano completo da coisa. Vou te dar um exemplo: uma vez, um senhor me contou, fora de confissão, que ele era de uma família extremamente rica.
Ele já nasceu extremamente rico e foi formado com Mateus desde muito criança. Então, eles armavam a religião daquela perspectiva externa. Achavam que a crença em Deus era uma fraqueza.
Ele dizia que as pessoas são fracas, e que elas não conseguem admitir a realidade de que a vida é só matéria, que não tem sentido nenhum, que aqui só prevalece o que pode, e que a vida é uma luta, uma competição pela sobrevivência. Só merece prevalecer, realmente, quem é mais forte. Então, eles acreditam em Deus porque são fracos.
Eles criaram esse expediente mental por causa da fraqueza deles, até o dia em que ele viveu doente, né? Até o dia em que teve uma experiência de morte e a alma dele saiu do corpo. E aí, ele viu, ele viu, ele viu Cristo.
E, quando voltou, percebeu que o que achava estava totalmente errado. Mas não é que o que ele achava antes era inconsciente ou não planejado. Era indeliberado, não era deliberado; era um consciente que era errado.
Então, eu posso e devo me arrepender pelas coisas erradas que fiz deliberadamente. Isso não é hipocrisia. Aliás, gente, eu me arrependo até das coisas certas que fiz, porque, vejam, tipo assim: eu vou rezar o terço, quantas distrações eu tenho ali?
É imperfeito! Eu venho para a missa e, de repente, me distraio; minha mente. Então, até das coisas boas, eu me arrependo.
Por que não me arrependo das ruins? Percebe? O teu arrependimento, para nós, é um estilo de vida.
Mais lá no fundo, Padre, o senhor falou muito de consciência. Quais dicas o senhor poderia nos dar dessa injeção diária na nossa consciência para despertar? Sabe?
Olha, acompanhar a liturgia da igreja é uma coisa maravilhosa, porque a liturgia da igreja sempre vai nos levar. A igreja é uma mãe, né? Então, ela vai nos levando numa pedagogia que é totalmente doce, suave.
E a igreja tem tempos de penitência, depois de um tempo de festa, aí depois volta com um tempo mais ordinário e depois volta à penitência de novo. Aí, depois volta à festa de novo. .
. é assim! Então, a igreja vai nos levando pela medida certa nos ciclos que nós precisamos para justamente crescermos na nossa vida espiritual.
Então, ter uma espiritualidade litúrgica é uma coisa muito boa. E, além disso, conhecer obras clássicas do cristianismo, que são leituras espirituais que nos ajudam a crescer na intimidade com Deus. Que mais?
Aqui vamos usar, para terminar, de alguns seminaristas lá do Mata Ecles, como o senhor falou. Então, gostaria que o senhor nos desse algumas dicas de como viver essa reorientação do espírito, né? Nesse caminho longo que é o caminho do seminário.
É dizer como viver bem essa conversão. Nós, que almejamos esse ministério, nessa série total. Então, como viver?
Como tomar isso dentro da realidade do seminário? Só que já passou por um seminário, né? Tenho certeza que conhece bem as alegrias e tristezas, as dores também.
Então, que dicas o senhor nos daria na nossa caminhada para trazer isso para nossa realidade enquanto vocacionados ao sacerdócio? O que eu digo é o seguinte: o objetivo da nossa vida para quem está respondendo à vocação sacerdotal não é ser padre. O objetivo é chegar à união com Deus.
Por que isso é importante? Porque há muitas miragens ao longo do caminho. Então, por exemplo: eu quero ser diácono, eu quero ser sacerdote, eu quero ser pároco, eu quero ser coordenador de pastoral, eu quero ser vigário geral, eu quero ser bispo.
. . quero ser.
Essas coisas, essas ilusões, são todas distrações vaidosas que nos tiram do olhar fixo em Deus. A vida espiritual não é feita de colecionar patentes; é o contrário. Ela é feita de esvaziar-se delas dia após dia.
Quando é que eu, de fato, oro? Eu oro quando me esvazio. Quando eu chego diante de Deus numa pobreza total.
A pobreza é aquilo que Jesus diz na primeira bem-aventurança: "Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus. " Pobre em espírito é aquele que não sabe nada, aquele que não quer nada e aquele que não tem nada. Então, no dia em que fui chamado por Deus para ser sacerdote, eu não fui chamado para uma premiação; fui chamado para servir, para colocar minha vida à disposição d'Ele.
Só isso. Com a simplicidade de quem pega uma vassoura e vai limpar o chão. Se eu não perder de vista que minha finalidade é me esvaziar cada dia mais para que Ele me preencha e Ele seja minha única recompensa, você pode ter milhões de patentes.
Você vai com todas elas para o inferno. E aí, terá valido a pena uma vida de renúncias, uma vida de sacrifícios, uma vida de dedicação, simplesmente para inchar a vaidade, muitas vezes, sem que eu. .
. Tenho as condições para nada daquilo compensa. Se for por menos do que Deus, não compensa nada.
Compensa? Não compensa! Não está aqui, então este tem que ser o nosso foco.
Isso não é só para quem tem a vocação, que foi chamado por Deus ao sacerdócio, mas esse é o foco para qualquer cristão. Se for menos do que Deus, não vale a pena. Tá bom, vamos encerrar.