Se você anda de carro com frequência, você certamente já se juntou um dia com o preço da gasolina. Ou muitos dias. E mesmo se não anda, você com certeza já sentiu esse problema no bolso.
Talvez até sem perceber. Isso porque o custo do combustível é repassado pelos consumidores em basicamente todos os produtos que existem no nosso dia a dia. Já que eles precisam ser transportados do campo ou das fábricas em direção às lojas e aos mercados.
E eles são transportados por veículos a gasolina. Então quando a gasolina sobe, o custo do transporte sobe e o preço de basicamente tudo sobe. Mas por que a gasolina está sempre tão cara e quase sempre aumentando de preço?
Isso não é estranho? Afinal, ela vem do petróleo e o mundo extrai diariamente mais de 90 milhões de barris. Pois é, são quase 100 milhões de barris cheios de petróleo produzidos todo santo dia.
Só ao longo desse vídeo, 1 milhão de barris vão ser extraídos em todo o mundo e mesmo assim o combustível está sempre subindo de preço. Digita aqui nos comentários quanto que está o litro da gasolina na sua cidade e adapta pra gente ver esse número subir com o tempo. E senta direito na cadeira porque nesse vídeo você vai entender o motivo de o combustível estar sempre subindo de preço.
E como isso é muito mais complexo do que parece. Pra começo de conversa, a gente precisa entender o que é o petróleo. Ao contrário do que muita gente já ouviu por aí, ele não surgiu através da decomposição dos dinossauros.
E sim de restos de pequenos animais e principalmente de algas microscópicas acumulados no fundo do mar, dezenas de milhões de anos atrás. Então não, dinossauros de plástico não são feitos de dinossauros de verdade. Sim, tudo desapontado.
O processo de decomposição das algas originou uma mistura de hidrocarbonetos, que são substâncias formadas só de hidrogênio e carbono. E o petróleo é uma mistura de diferentes tipos de hidrocarbonetos com outras substâncias, como enxofre. O petróleo vem do latim e significa óleo de pedra.
E olha, tirar óleo de pedra é mais difícil do que tirar leite de pedra. Isso porque o petróleo normalmente está em grandes profundidades. Alguns poços estão mais de 7 mil metros abaixo do nível do mar.
Se a gente parar para pensar que o Everest tem por volta de 8 mil metros de altitude, é quase como se a gente tivesse que perfurar um Everest inteiro abaixo do oceano. Como dá para imaginar, fazer isso exige uma tecnologia extremamente avançada. Poucas empresas no mundo têm estrutura e capacidade para executar esse trabalho.
E aqui no Brasil, uma empresa detém o controle de praticamente todo esse processo. É a Petrobras. Ela foi fundada lá nos anos 1950, no governo do Getúlio Vargas, numa tentativa de garantir a soberania do Brasil em meio à corrida global pela produção de combustíveis.
70 anos depois, ela é, de fato, uma das grandes protagonistas do cenário mundial de exploração de petróleo, e está sempre nas listas das maiores petrolíferas do mundo. A empresa atua desde o mapeamento das áreas que podem ser perfuradas em busca do petróleo, passando pela extração e pelo refino, até chegar à venda e a distribuição do petróleo e seus derivados, como é o caso da gasolina. Daqueles 90 milhões de barris diários que eu falei agora há pouco, mais de 3 milhões são extraídos só pela Petrobras.
E desses 3 milhões de barris, o Brasil consome só 2 milhões por dia. Então o Brasil tem todo o petróleo que precisa, certo? Mais ou menos.
É mais complicado do que isso. Toda essa cadeia de produção tem um custo. E é um custo bem alto.
Do geólogo que estuda onde pode ser feita a exploração, até o motorista que transporta a gasolina, do parafuso da plataforma que flutua no alto mar, até a broca que perfura o solo do fundo do mar. Cada etapa tem um preço que precisa ser pago com a venda do combustível. E ao contrário do que muita gente imagina, o valor que vai para Petrobras, por exemplo, nesse caso, é só uma fração do que você pagou no posto.
Se você colocar R$ 100 de gasolina, R$ 36 vão para Petrobras, R$ 17 são o custo de distribuição e revenda e R$ 13 são do etanol misturado à gasolina para baratear o preço e reduzir as emissões poluentes. E ainda tem R$ 22 de impostos federais e R$ 11 de impostos estaduais. Olhando essa lista de ingredientes que formam o preço da gasolina, dá pra perceber que alguns deles têm relação direta com fatores internos.
É o caso dos impostos, por exemplo. De tempos em tempos, você deve ver nos jornais as disputas entre políticos por causa dos tributos. Todo governante quer arrecadar mais dinheiro, mas nenhum quer queimar o próprio filme defendendo o aumento de impostos, porque isso faz a nossa vida ficar mais cara.
E aí fica aquele embate de um lado querendo que o outro corte daqui, aumente dali e fica nisso infinitamente. O quanto de impostos você paga sobre a gasolina depende das escolhas feitas pelo governo federal e estadual. E da mesma forma, o quanto o etanol é adicionado também tem a ver com políticas nacionais.
O etanol é produzido usando cana-de-açúcar e mudanças na safra da cana-de-açúcar podem afetar o preço final da gasolina. A soma dos valores de impostos mais o etanol representa quase metade do preço da gasolina, e são explicados por escolhas feitas pelo Brasil como o país. Mas e quanto à outra metade?
É aqui que as coisas começam a ficar um pouco mais complicadas. A maior parte do valor final dos combustíveis acaba dependendo de fatores externos. O preço do barril de petróleo no mercado internacional, e também o preço do dólar, tem um impacto direto no valor que você paga no poço de gasolina.
E aí você pode estar se perguntando, o que o dólar e o preço do barril no exterior tem a ver com isso, já que a Petrobras extrai tanto petróleo aqui no Brasil? O Brasil teoricamente não é autossuficiente em petróleo? Teoricamente, sim.
Como eu falei no início do vídeo, a Petrobras produz mais de 3 milhões de barris por dia, enquanto a nossa demanda interna fica na casa dos 2 milhões. Ou seja, a gente até produz mais do que consome. Mas aqui entram dois problemas.
O primeiro é que nem todo petróleo é igual. Existem diversos tipos, que podem ser classificados de diversas formas. Um exemplo é de acordo com a densidade.
O petróleo considerado leve é mais usado para a produção de gasolina porque o custo de refina é menor do que o petróleo mais pesado. E existe também o petróleo doce, que é usado para a fabricação de chocolate. Brincadeira.
O petróleo doce é aquele que contém um teor menor de enxofre e ele é menos poluente do que o petróleo azedo. O que tem mais enxofre provoca um impacto ambiental maior. Em resumo, como existem diferentes tipos de petróleo, não necessariamente todo o petróleo produzido por um país vai servir para atender a demanda desse mesmo país.
Mas eu falei que o Brasil depende do cenário externo por conta de dois fatores, né? O segundo deles é a nossa falta de estrutura de refina. Ou seja, a gente realmente consegue extrair muito petróleo do fundo do mar, mas a gente não taca o petróleo direto no tanque de combustível do nosso carro.
Ele precisa ser refinado. O refino é o processo de separação dos componentes do petróleo. Como eu falei no começo do vídeo, o petróleo é uma mistura de diferentes tipos de hidrocarbonetos e a gente precisa separar eles porque eles têm usos diferentes.
E a forma de fazer isso é usar o fato de que cada tipo de composto do petróleo evapora temperaturas diferentes. A gasolina, por exemplo, evapora a 150 graus Celsius, enquanto o óleo diesel evapora só a 300 graus Celsius. Pra separar os diferentes hidrocarbonetos, o petróleo é evaporado dentro de uma torre de destilação, com sessões em diferentes temperaturas.
Embaixo é mais quente e em cima é mais frio. Dessa forma, os compostos mais voláteis, que evaporam mais fácil, se acumulam na parte superior da torre, e então os compostos mais resistentes à evaporação ficam mais embaixo. E alguns até precisam ser enviados para uma segunda torre que realiza a destilação a vácuo.
Em cada nível um recipiente coleta um subproduto específico do petróleo. O petróleo não gera só gasolina. Ele também é a base para garrafas PET, pneus, fertilizantes e vários outros subprodutos e combustíveis.
E falando mais especificamente da gasolina e do Brasil, o grande problema é que as nossas refinarias têm uma capacidade muito baixa de processamento. Primeiro porque elas são poucas. E além de serem poucas, as nossas refinarias são velhas.
A maioria delas foi construída lá nos anos 1970 e tem um maquinário adaptado para o petróleo mais pesado. Mas o petróleo descoberto na camada pré-sal em 2007 é do tipo leve. E aí, ao invés de ser refinado por aqui, boa parte desse petróleo é exportado na forma bruta, refinado lá fora e comprado de volta.
E esse é um dos motivos que explica o porquê de a economia internacional afetar tanto o preço dos combustíveis por aqui. A negociação de petróleo no exterior é feita com dólar. E aí, quando o dólar sobe, por qualquer motivo que seja, isso impacta em cheio o valor da gasolina, mesmo que não tenha nada a ver com combustíveis.
Por exemplo, uma notícia envolvendo, sei lá, o mercado de trabalho nos Estados Unidos é divulgada pela imprensa americana e mexe com a moeda deles. E aí sobra pra você, que mora em Xique-Xique, na Bahia, que tem que pagar mais caro pra encher o tanque. Além do dólar, é claro, o próprio preço do petróleo no exterior interfere nos preços praticados por aqui.
Quando o barril fica mais caro lá fora, o combustível fica mais caro aqui dentro. Foi o que aconteceu no famoso choque do petróleo 50 anos atrás. Pra boicotar o apoio do Ocidente à Israel na guerra do Yom Kippur, países árabes produtores de petróleo decidiram segurar o escoamento, o que fez com que o preço do petróleo quadruplicasse em poucos meses.
É por isso que os maiores produtores de petróleo do mundo não raramente são envolvidos em grandes confrontos geopolíticos. O país que concentra as maiores reservas de petróleo do mundo, por exemplo, é a Venezuela. O top 10 ainda tem países como a Rússia, o Iraque e o Irã.
Pare pra pensar em quantas vezes você já ouviu nos jornais os nomes desses países envolvidos em conflitos e guerras. Eu te garanto que isso não é uma coincidência. No fim das contas, mais do que óleo de pedra, o petróleo é o puro suco da política internacional.
Reinos no passado já usaram ouro como uma representação de valor. E a humanidade moderna usa petróleo. O resultado disso é que dois países brigando no outro lado do mundo também fazem com que a nossa gasolina fique mais cara.
Foi o que aconteceu em 2022, com a disparada do preço do petróleo por causa da guerra na Ucrânia. O barril chegou a quase 140 dólares, o maior preço em 14 anos. Outro exemplo foi a pandemia.
No auge do isolamento das pessoas em casa, em 2020, a demanda por combustível despencou. E como consequência, a produção também diminuiu para que os estoques não ficassem acumulados. Mas nos anos seguintes, quando as atividades começaram a ser retomadas, os carros voltaram a circular e as indústrias voltaram a funcionar, e a demanda cresceu rapidamente.
Só que a produção não conseguiu acompanhar no mesmo ritmo. O resultado é que o litro de gasolina, que custava cerca de R$ 4,50 antes da pandemia, saltou para mais de R$ 7,20 no meio de 2022. Isso é uma alta de mais de 50% em pouco mais de dois anos.
E de lá pra cá o preço até diminuiu, mas em uma velocidade bem diferente. É o chamado efeito do foguete da pena. Ou seja, quando é preciso subir um preço por causa de uma alta de uma matéria prima, por exemplo, muitos vendedores costumam repassar rapidamente o custo para os clientes, aumentando o valor na velocidade de um foguete.
Já na hora de diminuir esse valor para os consumidores, ele cai bem devagar, com a leveza de uma pena. Inclusive, se vocês souberem de outros exemplos de coisas que também funcionam assim, digite aqui nos comentários. Mas voltando a olhar para a gasolina e para toda essa dependência de uma cadeia global, a gente pode se perguntar qual é a solução?
Será que existe alguma maneira de a gente ficar menos suscetível aos impactos internacionais no preço do nosso combustível? Bom, existem pelo menos algumas tentativas. No ano passado, por exemplo, a Petrobras lançou uma nova política de preços.
Até então a empresa usava a chamada PPI, a política de paridade de importação. Nesse modelo, o preço praticado aqui no Brasil era totalmente alinhada aos preços do mercado internacional. Qualquer subida no valor do dólar ou do barril de petróleo era repassado automaticamente para o consumidor.
Essa política chegou ao fim. Atualmente, para definir o preço da gasolina, a Petrobras considera não só o valor do dólar e do petróleo lá fora, mas também uma série de indicadores do mercado interno. Segundo a empresa, são utilizadas 40 mil variáveis em um modelo de cálculo complexo que leva em conta até as características de cada região.
O objetivo, de acordo com eles, é chegar a um valor que seja o maior que um comprador pode pagar antes de procurar outro fornecedor e também o menor que a Petrobras pode praticar na venda mantendo o lucro. Mas no fim das contas, esse novo modelo de cálculo não faz muita diferença. Em média, o preço da gasolina está apenas 5% menor do que na época da PPI.
Ou seja, a mudança até pode ter sido benéfica, mas algo ainda precisa ser feito. Mas e aí, o quê? Uma solução estrutural seria a construção de novas refinarias.
Assim, todo o petróleo produzido aqui poderia ser aproveitado pelo mercado interno sem a necessidade de vender petróleo bruto para ser refinado lá fora. Mas isso, obviamente, custaria muito dinheiro e levaria muito tempo. Seriam décadas até que esse investimento enfim se pagasse.
E década definitivamente é algo que a gente não tem quando o assunto é combustível fóssil. Mas precisamos mudar a matriz energética do Brasil e do mundo muito urgentemente. O avanço implacável das mudanças climáticas deixa cada vez mais evidente a necessidade de a gente parar de queimar combustíveis.
Não só pelo fator ecológico, mas também pelo próprio aspecto econômico. Usar formas renováveis de energia, em vários casos, já é mais barato do que o petróleo. E nos casos em que ainda não é, em poucos anos vai ser.
E isso nos leva a uma conclusão interessante. O preço da gasolina é um problema que nós temos hoje por causa da nossa principal fonte de energia, que é o petróleo. Mas ao invés de tentar produzir mais petróleo para reduzir o preço do combustível, que eu espero que tenha ficado um pouco mais claro nesse vídeo por que não funciona, nós precisamos buscar alternativas ao petróleo.
Uma opção são os carros elétricos, mas eles ainda não são a saída perfeita. A produção das baterias e o descarte dos componentes elétricos são pontos de atenção, que também deixam uma grande pegada ambiental. Mas ainda assim eles poluem menos do que um carro a combustão.
Mas é preciso ir além. O ideal é que o transporte nas cidades como um todo seja otimizado. Um transporte público de qualidade, capaz de levar dezenas ou até centenas de pessoas no mesmo veículo, faz toda a diferença.
Ônibus bem cuidados, com rotas bem traçadas, além de um serviço funcional de trem e de metrô, são artigos de primeira necessidade para qualquer grande cidade do nosso país. Estradas bem cuidadas também são fundamentais. Ruas cheias de buraco provocam mais atrito com os pneus, prejudicam os automóveis e aumentam o consumo de combustível.
Um dos principais usos do petróleo é na locomoção. E existem formas de mover pessoas e cargas sem depender tanto de gasolina. Inúmeras cidades ao redor do mundo já demonstraram que é sim possível depender menos de veículos motorizados, que ajuda na dependência da gasolina.
E depender menos da gasolina pode até ajudar quem vai continuar dependendo de usar um carro. Mas eu não quero dar a ideia de que esse é um problema fácil de se resolver. Muito pelo contrário.
O mundo depende de transporte, tanto de cargas quanto de pessoas, e não é à toa que qualquer variação no preço do combustível que carrega tudo isso nos afeta diretamente. A verdade é que nas últimas décadas nós investimos em infraestrutura para um tipo de combustível e agora que a tecnologia avançou, nós podemos migrar para outro mais barato e mais limpo, mas não é do dia para a noite. Mas eu sou otimista e eu imagino que esse vídeo vai ser uma discussão do passado em alguns anos.
Mal espero. Muito obrigado e até a próxima.