Eu descobri meu marido na cama com minha própria mãe, a mulher que me deu a luz nos braços do homem que jurou me amar até o fim. Mas o que eles não sabiam é que aquele dia mudaria nossas vidas para sempre. Olá, meu nome é Aparecida, tenho 82 anos hoje e vou contar uma história que guardei no fundo do meu coração por décadas. Antes de começar a contar esta história que marcou minha vida, queria pedir um minutinho da sua atenção. Se você está gostando deste canal com histórias de vovós como eu, por favor, não se
esqueça de curtir este vídeo e se inscrever no canal. Isso me ajuda muito a continuar compartilhando minhas experiências com vocês. E me conta nos comentários que tipo de histórias vocês mais gostam de ouvir. Tenho tantas memórias guardadas no coração e quero saber qual estilo toca mais a sua alma. Me contem para que eu possa trazer relatos que realmente façam sentido para vocês. Preparem o coração, porque vou contar como descobrir uma traição que mudou completamente o rumo da minha vida. Nasci em 1943, numa cidadezinha do interior onde todos se conheciam. Meu pai trabalhava como sapateiro, um
homem honesto que acordava antes do sol nascer e só voltava quando as estrelas já brilhavam no céu. Minha mãe, Marlene era dona de casa, mas sempre reclamava da vida que levava. Aparecida, você precisa ser mais esperta que eu fui, ela dizia enquanto olhava com inveja as esposas dos comerciantes da cidade, que usavam vestidos mais bonitos e joias delicadas. Cresci, ouvindo aquelas palavras. como um aviso constante. Desde menina aprendi a costurar. Primeiro arrumando as roupas do meu pai, depois fazendo pequenos ajustes para vizinhas. Aos 16 anos, já era conhecida por ter mãos habilidosas com a agulha
e linha. Sonhava em ter meu próprio atelier um dia. Mas naquela época, em 1959, as moças de família pensavam primeiro em casar. E foi o que fiz. Roberto entrou na minha vida como um raio de sol depois de dias chuvosos. Ele tinha 24 anos quando nos conhecemos na festa da igreja. Alto, com cabelos escuros, penteados para trás, sempre de terno bem passado. Roberto tinha acabado de conseguir um emprego no único banco da cidade. Era um rapaz que prometia futuro, como diziam os mais velhos. Namoramos por 8 meses antes de ficarmos noivos. No dia em que
Roberto foi pedir minha mão, nunca esquecerei o brilho nos olhos da minha mãe. Não era o brilho de emoção que se espera de uma mãe vendo a filha encontrar um bom partido? Era um brilho diferente, quase possessivo. "Que sogra sortuda eu sou", ela disse, segurando o braço dele por tempo demais. "Meu pai faleceu seis meses antes do nosso casamento. Um ataque do coração o levou enquanto trabalhava. Foi um golpe terrível. Minha mãe, aos 45 anos tornou-se viúva. O luto dela, porém, durou menos do que o esperado. Logo estava preocupada com o vestido que usaria no
meu casamento, perguntando se poderia morar conosco até se estabelecer. Roberto, sempre gentil, sugeriu que ela ficasse em sua própria casa, que não era longe da nossa futura residência. Assim a senhora mantém sua independência, dona Marlene", ele disse. "Foi a primeira vez que vi minha mãe olhar para ele com certa frieza. Nos casamos em junho de 1962. Eu tinha 19 anos. Roberto 27. Nossa casa era pequena, mas aconchegante, com dois quartos, sala e cozinha. Não era luxuosa, mas era nossa. Cada móvel foi escolhido com carinho, cada cortina costurada por minhas próprias mãos. Nos primeiros meses, vivia
aquele sonho que toda moça da minha época almejava: ser esposa, cuidar da casa, esperar o marido voltar do trabalho com o jantar pronto. Mas eu também tinha meus sonhos. Com a bênção de Roberto, comecei a trabalhar meio período no atelier de costura da dona Lourdes, uma senhora que morava na rua de cima. O dinheiro extra vai nos ajudar a comprar nossa própria casa em alguns anos", disse a Roberto, que concordou desde que eu não descuidasse do lar. Minha mãe aparecia sem avisar, quase sempre quando Roberto estava em casa. "Vim ver se vocês precisam de ajuda",
dizia, "mas passava mais tempo conversando com meu marido do que comigo. Ela perguntava sobre o banco, sobre as pessoas importantes que ele conhecia, sobre quanto ganhava. Sua mãe só está interessada na nossa vida. Roberto justificava quando eu comentava que ela estava sendo intrometida. Em 1963, minha mãe começou a mudar sua aparência. Aos 46 anos, passou a pintar os cabelos, usar batom vermelho e vestidos mais justos. A vida continua, filha. Não vou ficar de luto para sempre. Eu entendia, claro, mas algo me incomodava na forma como ela se arrumava, especialmente nos dias em que sabia que
viríamos almoçar em sua casa ou quando ela vinha nos visitar. Roberto foi promovido em 1964. De simples caixa, passou a contadora auxiliar do banco. Seu salário aumentou e com isso nossa qualidade de vida também. Compramos uma geladeira nova, uma das primeiras da vizinhança. Minha mãe apareceu no dia da entrega. Que maravilha, Roberto. Você está dando à minha filha o que nunca pude ter. E completou, olhando para mim. Espero que você saiba valorizar o homem que tem. No Natal daquele ano, Roberto me deu um broche de ouro com uma pequena pérola. Simples, mas elegante. Minha mãe
não tirou os olhos da joia durante todo o almoço natalino. Quando estávamos lavando a louça, ela sussurrou: "Ele tem bom gosto. A pérola combina mais comigo do que com você, não acha?" "Minha pele é mais clara." Ri pensando ser uma brincadeira. Não era? Em março de 1965, completamos 3 anos de casados. Roberto estava cada vez mais ocupado no banco. Chegava tarde, quase todos os dias, dizendo que o trabalho estava exigente. Eu também progredia no atelier. Dona Lourdes confiava em mim para atender clientes importantes e minhas costuras eram elogiadas. Guardava parte do dinheiro que ganhava numa
lata de biscoitos escondida atrás de um azulejo solto na cozinha. Roberto achava que eu entregava todo o meu salário para ele administrar. Era meu pequeno segredo, minha segurança. Foi nessa época que minha mãe começou a aparecer mais nos finais de tarde, sempre quando eu ainda estava no trabalho. Vim trazer um bolo para vocês. Ela justificava quando eu chegava e a encontrava conversando com Roberto na sala. Em algumas ocasiões, notei copos de bebida, meu marido levemente alterado. Sua mãe trouxe uma garrafa de licor que ganhou, ele explicava. Em junho, minha mãe pediu que Roberto a ajudasse
com alguns papéis do banco relacionados à pensão do meu pai. "É tão complicado para uma viúva lidar com essas coisas", ela dizia com aquela voz frágil que nunca usava comigo. Roberto, sempre prestativo, começou a visitá-la depois do trabalho. "Passo lá antes de vir para casa", ele explicava. Uma colega do atelier, Josefa, me perguntou certa vez se eu não achava estranho que minha mãe sempre usasse o melhor vestido e perfume quando meu marido ia visitá-la. As pessoas comentam: "Aparecida." Defendi os dois, claro, eram minha mãe e meu marido. Jamais poderia pensar qualquer maldade. Em julho, Roberto
ganhou um relógio de pulso da minha mãe. Presente de agradecimento pela ajuda com os papéis, ele disse, sem me olhar nos olhos. O relógio parecia caro demais para alguém que vivia de pensão. Quando questionei minha mãe, ela respondeu: "Economizei para dar algo especial ao homem que cuida tão bem da minha filha. Suas palavras soavam doces, mas seus olhos tinham aquele brilho que aprendi a desconfiar. Em meados de julho, comecei a sentir enxaquecas frequentes. O médico disse que era tensão, estresse. Recomendou que descansasse mais. Naquela quarta-feira, dia 21 de julho de 1965, a dor foi tão
forte que dona Lourdes insistiu para que eu voltasse para casa mais cedo. Vai descansar, menina. O trabalho espera, a saúde não. Saí do atelier por volta das 3 da tarde. O sol de Júlio era forte e o calor só piorava minha dor de cabeça. Caminhei devagar até nossa casa, pensando em tomar um chá e deitar um pouco antes que Roberto chegasse do banco, geralmente após às 7. Ao virar a esquina da nossa rua, notei algo estranho. A bicicleta da minha mãe estava encostada no nosso portão lateral, aquele que dava para os fundos da casa. Achei
curioso, já que ela sempre usava a entrada principal quando me visitava. O portão dos fundos estava destrancado. Entrei silenciosamente, ainda confusa. Na cozinha encontrei a bolsa de couro vermelha da minha mãe sobre a mesa, junto com dois copos usados e uma garrafa de vinho pela metade. Roberto não bebia vinho durante o dia, nunca. Meu coração começou a acelerar quando ouvi risos abafados vindo do nosso quarto. A porta estava entreaberta e foi então que os vi. Roberto sentado na beirada da nossa cama de casal, aquela mesma cama que compramos com tanto sacrifício quando nos casamos. E
ali em seu colo estava minha mãe, os braços em volta do pescoço dele, o batom vermelho manchando o rosto do meu marido. Se ela soubesse que fazemos isso há mais de um ano, se ouvi minha mãe dizer entre risos enquanto beijava o pescoço dele. "Ela é ingênua demais para desconfiar", respondeu Roberto, suas mãos percorrendo o corpo da minha própria mãe. "Acha que estou sempre no banco quando estou com você. Ela nunca soube como manter um homem interessado. Minha mãe riu. Igual ao pai dela. Por que você acha que eu olhava tanto para outros homens? Senti
o ar fugir dos meus pulmões. A dor de cabeça agora parecia minúscula comparada à dor que senti no peito. Era como se alguém tivesse enfiado uma faca entre minhas costelas e a girasse lentamente. As duas pessoas que mais deveriam me proteger no mundo estavam me traindo da forma mais cruel possível. Recuei lentamente, sem fazer barulho, apoiando-me na parede do corredor para não cair. Lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto enquanto eu voltava para a porta da cozinha. O mundo parecia girar ao meu redor, mas uma certeza crescia dentro de mim. Eles pagariam por isso. Saí da
casa tão silenciosamente quanto entrei. Caminhei até a praça, sentei-me em um banco e deixei as lágrimas correrem livremente por quase uma hora. Quando finalmente me recompus, algo dentro de mim havia mudado. A dor continuava lá, dilacerante, mas agora havia também uma determinação fria e calculista que eu nunca soube que possuía. Decidi que não confrontaria os dois naquele momento. Não, eles mereciam algo especial, algo que nunca esqueceriam. Voltei para casa no horário normal, depois das 6. Ao entrar, encontrei Roberto lendo o jornal na sala. como se nada tivesse acontecido, como se não tivesse estado na nossa
cama com minha própria mãe horas antes. "Como foi seu dia, querido?", perguntei com um sorriso que não alcançava meus olhos. "O de sempre no banco." "Muito trabalho", ele respondeu sem nem mesmo levantar os olhos do jornal. Naquele momento, começou o meu plano de vingança. Uma vingança que mudaria nossas vidas para sempre. Durante três semanas, vivi um pesadelo acordada, dormindo ao lado do homem que me traía com minha própria mãe. Cada boa noite de Roberto soava como uma mentira. Cada beijo de despedida pela manhã era uma facada, mas ninguém perceberia olhando para mim. Mantive a mesma
rotina, o mesmo sorriso educado, os mesmos gestos de esposa dedicada. Por dentro eu fervia. Comecei a observar padrões que antes ignorava. Roberto chegava do banco às terças e quintas, sempre com o mesmo cheiro de perfume barato que minha mãe usava. Nas sextas, minha mãe inventava desculpas para não me encontrar para nosso café semanal. Estou com dor nas costas, filha. Preciso ir ao médico hoje. Mentiras sobre mentiras. Sempre que os três estávamos juntos, percebia os olhares cúmplices, os sorrisos contidos, os dedos que se tocavam discretamente ao passar o açucareiro durante o café. A audácia deles me
revoltava e alimentava minha determinação. Agosto de 1965 chegou com o anúncio que toda a cidade esperava. A grande festa de aniversário da fundação de nossa pequena São Miguel do Oeste. Todo ano a prefeitura organizava um jantar no salão paroquial, onde as famílias mais importantes se reuniam. Como contador do banco principal, Roberto sempre tinha lugar garantido na mesa próxima a do prefeito. Era o evento social do ano, onde todos apareciam com suas melhores roupas, exibindo sorrisos e joias, compartilhando fofocas e negócios. Foi quando soube dessa festa que meu plano começou a tomar forma concreta. Se eles
me humilhavam escondidos, eu os humilharia diante de todos. O primeiro passo era coletar provas. Não bastava minha palavra contra a deles. Precisava de algo irrefutável. Em 1965, câmeras fotográficas não eram objetos comuns em casas como a nossa. Mas João, o fotógrafo oficial da cidade, era meu amigo desde a infância. Sua loja ficava em frente ao atelier onde eu trabalhava. Numa tarde, enquanto Roberto estava no banco, visitei João. "Preciso de um favor especial", disse baixinho. Depois de fechar a porta da loja. Expliquei que suspeitava que alguém entrava em minha casa quando eu não estava. "Quero saber
quem é." Menti. João hesitou no início, mas quando mencionei que pagaria bem pelo serviço, acabou concordando. O plano era simples. João instalaria uma câmera escondida em nosso quarto, direcionada para a cama. Ativada por um mecanismo de corda, ela tiraria fotos em sequência, quando houvesse movimento. O desafio era levar minha mãe para longe de casa, enquanto João instalava tudo. Na segunda semana de agosto, convidei minha mãe para ir à cidade vizinha procurar tecidos para um vestido especial. Quero algo único para a festa da cidade, expliquei. E ninguém tem olho para cores como você, mamãe. O elogio
funcionou como isca. Ela aceitou imediatamente, provavelmente pensando que também poderia comprar algo para impressionar Roberto. Saímos cedo de ônibus. Enquanto isso, João entrou em minha casa com a chave que lhe dei e instalou a câmera dentro do guarda-roupa, através de um pequeno orifício que não seria anotado. Quando retornamos, já era da tarde. Minha mãe comentou ao se despedir: "Esse vestido azul vai te deixar linda, filha. Roberto não vai tirar os olhos de você. A ironia daquelas palavras me deu vontade de gritar, mas apenas sorri. No dia seguinte, terça-feira, segui minha rotina normalmente. Saí para o
trabalho, deixando a casa vazia e a câmera pronta. Como previsto, às 2as da tarde da janela do atelier, vi minha mãe pedalando sua bicicleta na direção da minha casa. 15 minutos depois, Roberto saiu para almoçar do banco, caminhando apressadamente pela mesma rua. Fiquei no atelier costurando um vestido de noiva, minhas mãos tremendo levemente enquanto imaginava o que estava acontecendo em minha própria cama. Dona Lourdes notou minha inquietação. Está passando mal de novo, Aparecida. Neguei com a cabeça, forçando um sorriso, só ansiosa com a festa da cidade. Às 5 da tarde, quando voltei para casa, tudo
estava como sempre. Nenhum sinal da visita deles, apenas o cheiro fraco do perfume da minha mãe no ar que Roberto tentou disfarçar, abrindo as janelas. A câmera tinha funcionado. Precisaria esperar até o dia seguinte para descobrir. Na manhã de quarta-feira, assim que Roberto saiu para o trabalho, tirei a câmera do esconderijo e corri para a loja de João. Meu coração batia forte enquanto ele revelava os filmes no quarto escuro. Quando saiu com as fotos nas mãos, seu rosto estava pálido. Aparecida. Eu eu não sabia. Gaguejou, evitando meus olhos. As imagens eram claras, nítidas, inconfundíveis. Minha
mãe e Roberto na minha cama, em posições que me fizeram corar de vergonha e raiva. Em uma das fotos, minha mãe olhava diretamente para a câmera, como se soubesse que estava sendo fotografada. Um sorriso vitorioso em seus lábios enquanto abraçava meu marido. "Quanto cobro por estas revelações?", João perguntou claramente desconfortável. Nada", respondi, "mas preciso de mais um favor. O próximo passo do meu plano exigia coragem. Pedi a João que fizesse slides das fotos mais comprometedoras, aquelas onde os rostos dos dois estavam claramente visíveis." "É para um projeto pessoal", expliquei vagamente. João não fez perguntas. O
que vira nas fotos era suficiente para entender que algo sério estava acontecendo. Depois visitei Antônio, o técnico que sempre operava o projetor nas apresentações da cidade. Como filho do prefeito, ele tinha acesso ao equipamento que seria usado na festa. Preciso que você projete algumas imagens extras no final da apresentação sobre a história da cidade. Pedi. É uma surpresa para Roberto. Antônio hesitou. Precisaria da autorização do meu pai. Sorri pensando rápido. É aniversário de casamento nosso na mesma semana. Quero fazer uma homenagem surpresa. A mentira funcionou. Antônio concordou desde que eu lhe entregasse os slides no
dia anterior ao evento. Os dias que se seguiram foram um teste para minha atuação. Continuei tratando Roberto e minha mãe normalmente, até com mais carinho que o habitual. Estou tão animada com a festa comentei com ele durante o jantar. Vou usar um vestido novo, azul, sua cor preferida. Roberto sorriu distraído. Tenho certeza que estará linda, como sempre. No domingo anterior à festa, durante o almoço na casa da minha mãe, ela não parava de falar sobre o evento. Imagino que vocês estarão na mesa principal, não é mesmo? Roberto é tão importante no banco. Seu tom era
de orgulho, mas seus olhos revelavam inveja. Eu estarei sentada com as outras viúvas, claro, longe da ação. Pode sentar conosco, mamãe! Ofereci, sabendo que era exatamente o que ela queria. Tenho certeza que o prefeito não se importará com um lugar extra na nossa mesa. O brilho no olhar dela foi imediato. Sério, filha, não sei se devo. Faço questão. Afinal, somos família. Na véspera da festa, entreguei os slides para Antônio dentro de um envelope lacrado. "Só abra na hora de projetar." Instruí. É realmente uma grande surpresa. Naquela noite não consegui dormir. Deitada ao lado de Roberto,
pensava em como nossas vidas mudariam após o dia seguinte. Haveria burburinhos, fofocas, olhares de pena, a esposa traída pelo marido com a própria mãe, mas também haveria justiça. Os dois seriam expostos, humilhados, assim como me humilharam. Na manhã da festa, 21 de agosto de 1965, acordei com uma tranquilidade que não sentia há semanas. Era o dia da minha vingança. Preparei o café da manhã para Roberto, como de costume. Nervoso com o discurso de hoje? Perguntei, sabendo que o prefeito sempre pedia algumas palavras do contador do banco. Um pouco, admitiu, mas vai dar tudo certo. Tenho
certeza que sim, respondi, servindo mais café. Hoje será inesquecível. Passei a tarde me arrumando com cuidado especial. O vestido azul, ajustado por minhas próprias mãos, realçava minha cintura fina. Prendi meus cabelos negros num coque elegante, deixando alguns fios soltos e moldurando meu rosto. O batom vermelho, um tom mais vibrante que o usado por minha mãe, completava o visual. Quando minha mãe apareceu para irmos juntos à festa, seus olhos me avaliaram com inveja mal disfarçada. "O vestido ficou bom, mas acho que o decote poderia ser menor", comentou. estava usando um vestido verde esmeralda, justo demais para
uma senhora de sua idade. Roberto nos elogiou a ambas, mas notei seus olhos demorando-se mais no decote da minha mãe. Aquele olhar que antes me machucaria agora apenas alimentava minha determinação. Chegamos ao salão paroquial às 8 da noite. O lugar estava decorado com flores e bandeiras, as mesas dispostas em semicírculo ao redor de um pequeno palco onde o prefeito faria seu discurso. Como previsto, fomos conduzidos à mesa principal, próxima ao palco. Minha mãe não cabia em si de satisfação, cumprimentando a todos como se fosse a convidada de honra. O jantar transcorreu lentamente. Cada garfada era
um esforço. Cada sorriso forçado me aproximava mais do momento da verdade. Roberto foi chamado para dizer algumas palavras em nome do banco, agradecendo a cidade pela confiança. Minha mãe aplaudiu com entusiasmo exagerado, como se ele fosse um orador brilhante e não apenas um contador, lendo um texto decorado. Após os discursos oficiais, começou a apresentação sobre a história da cidade, slides mostrando fotos antigas, os primeiros colonizadores, a construção da igreja matriz, a inauguração do banco. A cada imagem sentia meu coração acelerar. Logo seria a hora. Quando a apresentação oficial terminou e as luzes começaram a se
acender, levantei-me rapidamente. "Um momento, por favor", chamei. "Minha voz mais firme do que esperava. Gostaria de fazer uma pequena homenagem surpresa. O prefeito, um homem bonachão que conhecia minha família há anos, sorriu e assentiu. Claro, Aparecida, o palco é seu." Caminhei até o pequeno palco, sentindo todos os olhares sobre mim. Roberto parecia confuso. Minha mãe intrigada. Quero mostrar a todos o verdadeiro caráter de duas pessoas muito especiais na minha vida, anunciei fazendo sinal para Antônio. As luzes se apagaram novamente e o projetor zumbiu ao ganhar vida. A primeira imagem apareceu na parede branca. Roberto e
minha mãe em minha cama, nos braços um do outro. O salão, antes barulhento com conversas, mergulhou num silêncio sepulcral. Ouvi alguém engasgar, talvez a esposa do prefeito. Esta é a lealdade do homem que jurou me amar até a morte, disse calmamente enquanto mais imagens apareciam. E esta é a dedicação da mulher que me deu a luz. Finalmente tive coragem de olhar para os dois. O rosto de Roberto estava branco como o papel, a boca entreaberta em choque. Minha mãe cobria o rosto com as mãos, mas podia ver seus ombros tremendo. Sem mais palavras, desci do
palco e caminhei até nossa mesa. Peguei minha bolsa, ergui o queixo e disse alto o suficiente para que todos na proximidade ouvissem: "Podem ficar um com o outro, vocês merecem". E então, de cabeça erguida, saí do salão paroquial. Atrás de mim, deixei não apenas um marido traidor e uma mãe invejosa, mas também uma vida de ilusões. Aquela noite de agosto de 1965 marcou o fim da Aparecida ingênua e o nascimento da mulher que eu me tornaria. Do lado de fora, a noite estava estrelada e o ar mais leve. Respirei fundo, sentindo uma liberdade que nunca
havia experimentado. Não sabia exatamente para onde iria ou o que o futuro me reservava, mas sabia com absoluta certeza que seria eu quem escreveria minha própria história dali em diante. Saí do salão paroquial naquela noite de agosto, sem olhar para trás. O murmúrio chocado das pessoas atrás de mim era como uma música distante. Caminhei sob as estrelas sozinha pela primeira vez em anos, mas estranhamente não me sentia desamparada. Uma força nova pulsava em meu peito. Fui direto para a casa de dona Lourdes. Bati a sua porta depois das 10 da noite, algo impensável para uma
mulher de respeito em 1965. Mas as circunstâncias exigiam ousadia. Quando ela abriu a porta e viu meu rosto, não precisei explicar. As notícias já haviam chegado até ela através do filho que estava na festa. "Entre, menina", disse simplesmente, abrindo espaço. "Você pode ficar o tempo que precisar". Passei a noite em claro, sentada na pequena varanda dos fundos da casa de dona Lourdes, ouvindo os grilos e o ocasional latido de um cão distante. Não chorei. Já havia derramado lágrimas suficientes às escondidas. Agora era hora de planejar, de construir algo novo das cinzas do meu casamento. Na
manhã seguinte, domingo, não fui à missa. Sabia que todos os olhares estariam sobre mim. Alguns com pena, outros com curiosidade maldosa. Em vez disso, fiz um inventário mental do que possuí. Minhas roupas, meus instrumentos de costura e o dinheiro escondido na lata de biscoitos atrás do azulejo solto na cozinha da minha antiga casa. "Preciso buscar minhas coisas", disse a dona Lourdes durante o café da manhã. "Tem certeza que quer ir sozinha, Aparecida? Meu filho pode acompanhá-la." "Agradeço, mas preciso fazer isso por mim mesma. Esperei até o meio da tarde, horário em que sabia que Roberto
estaria na casa da minha mãe. Aos domingos, ele sempre almoçava lá, uma tradição que agora fazia sentido de forma amarga. Caminhei com passos firmes até a casa que dividimos por três anos. A chave ainda girou na fechadura com a familiaridade de sempre. Dentro tudo parecia igual e completamente diferente ao mesmo tempo. Os móveis nos mesmos lugares, os mesmos quadros nas paredes, o mesmo cheiro de lavanda que eu usava para limpar o piso. Mas não era mais meu lar, era apenas um cenário de uma peça que havia terminado. Não levei muito tempo. Peguei apenas o que
era verdadeiramente meu. Roupas, objetos pessoais, fotografias da minha infância com meu pai. Deixei as joias que Roberto me dera, exceto a aliança de noivado, que pertencera à minha avó paterna. Por último, retirei o azulejo solto e recuperei meu tesouro. Mais de 300.000 cruzeiros, economias de quase 3 anos de trabalho. Era uma quantia significativa para uma mulher sozinha em 1965. Quando estava terminando de arrumar minha pequena mala, ouvi a porta da frente se abrir. Roberto entrou. O rosto abatido, olheiras profundas marcando os olhos. Parecia ter envelhecido 10 anos em uma noite. Aparecida começou a voz embargada.
Ergui a mão, interrompendo-o. Não tenho nada para dizer a você. Por favor, precisamos conversar. O que aconteceu ontem? A cidade inteira está falando. Meu emprego no banco. Seu emprego? ri, um som seco, sem humor. É com isso que está preocupado, não com o fato de ter traído sua esposa com a própria sogra. Ele deu um passo em minha direção, os olhos súplices. Foi um erro terrível. Sua mãe, ela me seduziu, me perseguiu. Estava confuso, fraco. Poupe-me das desculpas, Roberto. Você teve escolha. E escolheu trair. "Podemos superar isso?", insistiu. As pessoas vão esquecer eventualmente. Podemos nos
mudar para outra cidade e começar de novo. Olhei para ele com uma calma que o fez recuar. Não existe nós mais. Acabou. Peguei minha mala e caminhei em direção à porta. Roberto agarrou meu braço, não com violência, mas com desespero. O que vou fazer? O banco está considerando me demitir. Ninguém vai me respeitar novamente nesta cidade. Desvencilhei-me de seu toque. Devia ter pensado nisso antes. Quanto à minha mãe, vocês podem consolar um ao outro agora abertamente. Saí da casa pela última vez, deixando para trás não apenas um marido, mas uma versão de mim mesma que
não existia mais. A esposa submissa e ingênua, que aceitava migalhas de afeto como se fossem um banquete. Os dias seguintes foram um turbilhão. A cidade fervilhava com o escândalo. Mulheres cruzavam a rua para evitar encontrar comigo, como se meu infortúnio fosse contagioso. Homens coxixavam quando eu passava, alguns com olhares que misturavam pena e um novo tipo de interesse que me enojava. As crianças eram proibidas de brincar perto da casa de dona Lourdes enquanto eu estivesse lá. Uma semana após o incidente, soube que Roberto havia sido demitido do banco. Conduta imprópria, incompatível com a confiança necessária
para a posição. Foi a justificativa oficial. Quanto à minha mãe, ninguém mais a convidava para os eventos sociais. Suas amigas de décadas evitavam sua casa e até o padre hesitava em cumprimentá-la após a missa. poderia ter sentido satisfação com a desgraça deles, mas estranhamente só sentia uma espécie de vazio. A vingança não havia preenchido o buraco deixado pela traição, apenas o tornara mais definido, com bordas mais nítidas. Em setembro de 1965, com meu dinheiro guardado e a experiência adquirida no atelier de dona Lourdes, tomei a decisão que mudaria minha vida. Viajei até a capital do
estado, onde ninguém me conhecia, onde ninguém sussurraria ao me passar. A cidade grande me assustou no início. O barulho, as multidões, a impessoalidade. Aluguei um pequeno quarto em uma pensão familiar administrada por uma senhora italiana chamada dona Dina, que não fazia perguntas sobre o passado de suas inquilinas, apenas exigia pontualidade no pagamento e comportamento discreto. Consegui emprego em uma loja de roupas finas no centro da cidade. Minha habilidade com costura impressionou a proprietária, uma francesa de meia idade chamada Madame Solange. "Você tem mãos de artista", disse após me ver ajustar um vestido de noiva que
parecia impossível de salvar. Não deveria estar apenas fazendo ajustes. Trabalhei duro, economizei cada centavo. Nos fins de semana e a noite, aceitava encomendas particulares de consertos e ajustes. Dormia pouco, comia frugalmente, guardava quase tudo que ganhava. Tinha um objetivo claro, abrir meu próprio atelier. Em fevereiro de 1966, recebi uma carta de dona Lourdes. Roberto havia deixado nossa cidade pequena após meses tentando, sem sucesso, recuperar sua reputação. Ninguém confiava em um homem que traía a esposa com a própria sogra. Quanto a minha mãe, vivia reclusa, saindo apenas para o necessário, sempre de cabeça baixa, evitando olhares.
Não respondia a carta. Aquela vida parecia pertencer a outra pessoa, uma aparecida que ficara para trás, enterrada sob escombros de confiança quebrada e ilusões perdidas. Em junho de 1966, quase um ano após a fatídica noite no salão paroquial, finalmente alcancei meu objetivo. Com minhas economias, aluguei uma pequena sala no segundo andar de um prédio comercial a duas quadras da loja onde trabalhava. O espaço era modesto, uma sala principal para atendimento, uma saleta para provas e um pequeno depósito. Pintei as paredes de azul claro, instalei espelhos bons, comprei duas máquinas de costura, uma a prestação e
mandei fazer uma placa simples. Ateliê Aparecida, ajustes e alta costura. Madame Solange, longe de ficar ressentida por minha saída, tornou-se minha primeira cliente fiel. Você tem talento", disse na inauguração trazendo um buquê de lírios brancos. E esta cidade precisa de mais mulheres independentes. Os primeiros meses foram difíceis. Havia dias em que nenhum cliente aparecia e eu ficava sentada junto à janela, costurando peças para um estoque modesto, lutando contra o desânimo. Continuei com alguns trabalhos para Madame Solange, o que garantia um mínimo de renda para cobrir o aluguel e as despesas básicas. O ponto de virada
veio em outubro, quando a filha de um industrial local entrou em meu atelier, procurando alguém para ajustar um vestido importado da França. "Ninguém consegue acertar a barra sem estragar o bordado", explicou a jovem, desenrolando com cuidado um deslumbrante vestido de seda azul marinho coberto de pedrarias delicadas. Trabalhei três noites seguidas naquele vestido, dormindo apenas o essencial. Quando a cliente retornou para a prova final, seu rosto se iluminou ao ver o resultado. O ajuste era perfeito, invisível, como se o vestido tivesse sido feito para ela desde o início. "Você é um achado", exclamou, girando diante do
espelho. "Preciso te apresentar as minhas amigas". E assim, de boca em boca, minha reputação começou a crescer. As mulheres da alta sociedade, cansadas de costureiras que não entendiam suas exigências ou não respeitavam os prazos, encontraram em mim uma profissional confiável e talentosa. Logo, não estava apenas fazendo ajustes, mas criando peças exclusivas, primeiro para ocasiões específicas, depois coleções sazonais inteiras. Em 1967, contratei minha primeira funcionária, uma jovem de 17 anos chamada Teresa, tão habilidosa com a agulha quanto eu era a sua idade. No ano seguinte, mudei para um espaço maior em uma rua mais movimentada. Em
1969 já tinha três costureiras trabalhando para mim e uma lista de espera de clientes. Foi nesse período que recebi outra carta de dona Lourdes. Roberto havia sido visto em uma cidade do interior trabalhando como caixa em um pequeno armazém. estava envelhecido, sempre bêbado após o expediente, contando a quem quisesse ouvir sobre seu passado glorioso como contador bancário. Quanto à minha mãe, havia tentado se reconciliar com antigas amigas sem sucesso. A solidão e a vergonha a consumiam lentamente. Desta vez, respondi a carta. Agradeci a dona Lourdes por sua amizade nos momentos difíceis e contei sobre meu
novo negócio, minha vida independente. Não mencionei Roberto ou minha mãe. Eles pertenciam a um capítulo encerrado. No Natal de 1970, 5 anos após aquela noite que dividiu minha vida em antes e depois, recebi uma visita inesperada no atelier. uma senhora de aparência frágil, cabelos completamente brancos, apesar de ter apenas 53 anos, vestindo roupas simples e gastas. Levei alguns segundos para reconhecer minha própria mãe. Aparecida, disse ela, a voz tão pequena quanto sua presença. Podemos conversar? Fiz sinal para que entrasse no meu escritório particular, longe dos olhares curiosos das funcionárias e clientes. Ofereci uma cadeira que
ela aceitou com as mãos trêmulas. "Como me encontrou?", perguntei, mantendo a voz neutra. "Dona Lourdes", implorei até que ela me deu seu endereço. Minha mãe olhou ao redor, notando os tecidos finos, os croques na parede, o telefone moderno sobre a escrivaninha. "Você conseguiu? Tudo isso sozinha? Não era uma pergunta, mas a senti mesmo assim. O que deseja a mamãe? Ela retirou um lenço da bolsa gasta, torcendo-o entre os dedos. Perdão! murmurou finalmente. Sei que não mereço, mas estou doente. O médico diz que é o coração. Não tenho muito tempo. Olhei para ela, procurando sentir algo.
Raiva, pena, qualquer emoção. Mas havia apenas um vazio educado. Esta mulher, que deveria ter sido meu porto seguro, havia se tornado uma estranha. Onde está Roberto?, perguntei. Não por interesse, mas para avaliar a situação completa. Não sei. Me abandonou seis meses depois que você, depois daquela noite, disse que eu o havia arruinado. Ela riu amargamente, um som fraco e áspero, como se ele não tivesse escolha. Ficamos em silêncio por alguns minutos. Lá fora, ouvia-se o burburinho do atelier, a vida continuando o seu curso. O que quer de mim? Perguntei finalmente. Um lugar para ficar, respondeu,
os olhos fixos no chão. Não tenho mais nada. A pensão do seu pai mal cobre os remédios. Não posso trabalhar neste estado. Avaliei a mulher à minha frente. Não via mais a sedutora ousada que roubara meu marido, apenas uma velha prematura, consumida pelo remorço e pela doença. Senti uma pontada do que poderia ser compaixão ou talvez apenas a memória distante do que era ter uma mãe. "Há um quarto de empregada no fundo da minha casa", disse finalmente. "Pode ficar lá até se recuperar". O alívio em seu rosto foi imediato, quase doloroso de testemunhar. Obrigada, filha.
Prometo que não vai se arrepender. Posso ajudar com as tarefas da casa, cozinhar. Ergui a mão, interrompendo-a. Não quero nada disso. Tenho empregada. O quarto é apenas um lugar para ficar enquanto se trata. Não somos família novamente. Entende isso? Ela assentiu, os olhos marejados. Entendo e agradeço mesmo assim. Naquela noite, instalei minha mãe no pequeno quarto, nos fundos da casa que comprara no ano anterior, um sobrado confortável em um bairro residencial tranquilo. Não era por perdão ou reconciliação que a acolhi, mas por uma estranha sensação de que o ciclo precisava se completar. A jovem ingênua
que fui um dia precisava mostrar a mulher que me traiu que eu havia não apenas sobrevivido, mas prosperado apesar dela. E talvez em algum lugar profundo que eu mal reconhecia ainda existisse um resquício da menina que uma vez amou sua mãe, antes que a inveja e a amargura a transformassem em outra pessoa. A década de 1970 amanheceu com uma nova Aparecida. Aos 27 anos, eu já não era mais definida como a esposa traída ou a filha abandonada. Era simplesmente Aparecida, a proprietária do atelier mais requisitado da capital, a mulher que vestia as esposas dos industriais
e políticos, a costureira cujas criações apareciam em colunas sociais e inspiravam imitações. Meu ateliê cresceu para ocupar um prédio inteiro na rua Augusta. O térrio transformou-se em uma elegante loja onde exibia minhas coleções sazonais. O primeiro andar abrigava o espaço de produção com 12 costureiras trabalhando em mesas alinhadas sob minha supervisão atenta. No segundo andar, meu escritório e estúdio de criação, onde passava horas desenhando novos modelos, selecionando tecidos importados, planejando o futuro. Em 1971, abri minha primeira filial em São Paulo. Um empreendimento ousado que exigiu viagens constantes e noites sem dormir. Muitos duvidaram de minha
capacidade como mulher sozinha, sem marido ou pai, para orientar os negócios. Os bancos hesitavam em conceder empréstimos. Os fornecedores questionavam minha credibilidade, mas cada obstáculo apenas alimentava minha determinação. Senhora Aparecida, talvez fosse prudente associar-se a um investidor, um homem com experiência no mercado, sugeriu certa vez o gerente do banco quando solicitei um empréstimo para comprar maquinário italiano. "O senhor estaria sugerindo o mesmo a um homem em minha posição?", questionei, mantendo a voz calma, apesar da fúria crescente, com o mesmo patrimônio, as mesmas garantias, o mesmo histórico de sucesso, o homem teve a decência de corar,
apenas pensando em seu benefício, senhora. Meu benefício será obtido quando o senhor aprovar meu empréstimo baseado em meus números, não em meu gênero. Consegui o empréstimo, comprei as máquinas e no final daquele ano meu faturamento havia triplicado. Enquanto meus negócios floresciam, minha mãe definhava no quartinho dos fundos de minha casa. O coração dela, fragilizado por anos de amargura e vergonha, foi cedendo gradualmente. Contratei uma enfermeira para cuidar dela durante o dia, enquanto eu trabalhava. À noites, era eu quem verificava seus remédios, ajudava-a com o banho, ouvia sua respiração difícil através da parede fina. Nossa relação
nunca voltou a ser de mãe e filha. Era mais como uma obrigação humanitária que assumi, uma conta que saldava com a vida por tudo que recebi e perdi. Às vezes, quando a febre a consumia, ela murmurava pedidos de perdão, confissões entrecortadas de como sempre invejar a minha juventude, minha beleza, minha capacidade de conquistar um homem como Roberto. Sua voz sempre dizia que você seria mais bonita, mais feliz do que eu", confessou numa noite particularmente ruim. Não suportava ver isso acontecendo. Eu apenas trocava suas compressas, ajustava seus travesseiros e saía sem responder. O que poderia dizer?
Que a perdoava? Seria mentira? Que a odiava? Já nem isso sentia mais. Em junho de 1972, em uma manhã fria de inverno, encontrei-a imóvel na cama. Havia partido durante a noite, silenciosamente, como viver a seus últimos anos. Organizei um funeral simples com apenas alguns conhecidos. Não havia amigos para comparecer. Quando o padre perguntou se eu gostaria de dizer algumas palavras, apenas neguei com a cabeça. Não havia epitáfio possível para nossa história. Após sua morte, mergulhei ainda mais no trabalho. Abri uma terceira loja no Rio de Janeiro em 1973, e iniciei exportações para Argentina e Chile
em 1974. Aparecida Confecções tornou-se uma marca reconhecida, símbolo de elegância e qualidade. Meu rosto aparecia em revistas de moda. Minha opinião era solicitada em matérias sobre tendências. Empresárias jovens me procuravam pedindo conselhos. Exteriormente era a imagem do sucesso. A menina do interior, que se transformou em empresária respeitada, superando traições e abandonos. Por dentro havia um vazio que nenhuma conquista profissional parecia preencher. Em 1975, completei 32 anos. Não celebrei. Datas comemorativas eram apenas dias como outros quaisquer para mim, exceto pela ausência de reuniões marcadas. Passava esses dias sozinha em minha casa, agora uma mansão no bairro
mais exclusivo da capital, com jardins impecáveis que raramente apreciava e cômodos vastos que nunca utilizava. Foi nesse ano que Teresa, minha primeira funcionária, agora gerente da loja principal, entrou em minha sala com um convite de casamento nas mãos. Dona Aparecida ficaria honrada se pudesse comparecer. Será algo simples, mas significaria muito para mim. Olhei para o convite, o papel fino com letras douradas, anunciando a união de Teresa e Carlos, um jovem engenheiro que conhecera em um dos nossos desfiles. Senti algo estranho no peito, uma pontada que não conseguia nomear. Claro que irei, Teresa, e faço questão
de criar seu vestido de noiva. O sorriso dela iluminou a sala. Era justamente isso que ia pedir. Seria uma honra usar uma criação sua no meu grande dia. Passei semanas trabalhando pessoalmente naquele vestido, algo que já não fazia há anos, tendo delegado a produção a minhas costureiras mais habilidosas. Cada ponto, cada aplicação de renda, cada detalhe foi costurado por minhas próprias mãos. Era como se, através daquele vestido, estivesse reconectando-me com a jovem Aparecida, que sonhava com amor eterno e finais felizes. No dia do casamento, uma cerimônia singela em uma igreja nos arredores da cidade, sentei-me
no último banco, observando Teresa caminhar até o altar com o vestido que criei. Um modelo elegante de cetim marfim com mangas longas de renda chantilly. Carlos a esperava, os olhos marejados, as mãos trêmulas de emoção. Algo úmido escorreu por minha face. Levei a mão ao rosto, surpresa ao descobrir que estava chorando. Não chorava desde aquela noite, em agosto de 1965, quando descobri a traição. Por 10 anos, meus olhos permaneceram secos, meu coração protegido por uma muralha de determinação e trabalho. Agora as comportas se abriam. Chorei silenciosamente, não de tristeza ou inveja, mas de uma saudade
profunda por algo que nunca tive. verdadeiramente amor genuíno, confiança plena, a sensação de pertencer a alguém e ter alguém que me pertencesse de alma. Após a cerimônia, quando todos cumprimentavam os noivos, aproximei-me discretamente. Teresa, radiante em seu vestido de noiva, abraçou-me com sinceridade. Dona Aparecida, obrigada por tudo. Não apenas pelo vestido, mas por acreditar em mim quando eu era apenas uma menina sem experiência. Você merece toda a felicidade, Teresa. Ela segurou minhas mãos, um gesto comum dado a nossa relação profissional. A senhora também merece, sabe? Não é tarde para recomeçar. Suas palavras me acompanharam no
caminho de volta para casa. Recomeçar. Como se recomeça uma vida aos 32 anos, com cicatrizes profundas e uma incapacidade apreendida de confiar. Parecia impossível, quase ridículo. Ainda assim, algo mudou em mim após aquele casamento. Comecei a observar o mundo ao meu redor, com olhos diferentes, notando pequenos detalhes que antes ignorava. O sorriso do jardineiro ao ver suas rosas florescerem. A alegria das costureiras jovens compartilhando segredos durante o almoço, o carinho com que minha governanta arrumava as flores frescas em meu escritório todos os dias. Em setembro de 1975, recebi uma carta de dona Lourdes. Seus dedos,
agora tomados pela artrite, mal conseguiam segurar a caneta, mas ela fazia questão de manter contato. Entre as novidades da pequena cidade, uma informação me fez parar. Roberto havia retornado, agora um homem envelhecido e doente, tentando conseguir o perdão da comunidade através de trabalho voluntário na igreja. Ele pergunta por você", escreveu dona Lourdes. "Quer saber se você está bem, se é feliz? Não contei sobre seu sucesso. Achei que não era meu direito compartilhar sua história." Dobrei a carta cuidadosamente e aguardei na gaveta. Roberto pertencia ao passado. Um capítulo encerrado. Não sentia ódio, nem mesmo mágoa. Era
como pensar em um personagem de um livro lido há muito tempo. Em dezembro daquele ano, algo inesperado aconteceu durante um desfile beneficente que organizei para arrecadar fundos para um orfanato local. Entre os convidados estava João Paulo, um arquiteto viúvo de 40 anos, recém-chegado do exterior. Nossos olhares se cruzaram durante o coquetel após o desfile. "Suas criações são extraordinárias", comentou, aproximando-se com uma taça de champanne. Há uma arquitetura nas suas roupas que me fascina. Senti o rosto esquentar, uma sensação que não experimentava desde a adolescência. Arquitetura. Nunca pensei nessa comparação. Os cortes, as estruturas, a forma
como cada elemento se relaciona com o todo é muito similar ao que fazemos com prédios. Ele sorriu, um sorriso discreto que não mostrava segundas intenções. Sou João Paulo, a propósito, Aparecida. Eu sei quem é, todos sabem. Conversamos por horas naquela noite sobre moda, arquitetura, viagens, livros. Não falamos de relacionamentos passados ou expectativas futuras. Era apenas uma conversa agradável entre dois adultos que apreciavam a companhia um do outro. Quando ele pediu meu telefone no final da noite, hesitei apenas por um segundo antes de anotar o número em um guardanapo para discutirmos a possibilidade de colaboração em
projetos futuros. explicou ele com uma seriedade que me fez sorrir. João Paulo ligou três dias depois, convidando-me para um almoço. Estritamente profissional, garantiu, com um tom que sugeria exatamente o oposto. Aceitei para minha própria surpresa. O almoço se estendeu por horas, seguido por um passeio no parque. Falamos de nossas infâncias, formações, sonhos realizados e aqueles ainda em espera. Não mencionei Roberto ou minha mãe. Algumas histórias não precisavam ser contadas imediatamente. Nas semanas seguintes, encontramos-nos regularmente, jantares, concertos, exposições de arte. João Paulo era culto sem ser pretencioso, atencioso sem ser sufocante. Respeitava meu espaço, minha independência,
meu silêncio quando temas difíceis surgiam. Em fevereiro de 1976, ele me convidou para conhecer sua casa, um projeto que ele mesmo desenhara nas colinas fora da cidade. Era uma construção moderna, toda em vidro e concreto, integrada à natureza exuberante ao redor. No terraço, com vista para o vale, jantamos sob as estrelas. Aparecida disse ele, servindo mais vinho em minha taça. Preciso confessar algo. Meu corpo enrijeceu instantaneamente, anos de desconfiança aflorando. O quê? Estou me apaixonando por você e isso me assusta porque faz muito tempo que não sinto algo assim. Baixei os olhos, incapaz de sustentar
seu olhar. João Paulo, há coisas sobre mim, sobre meu passado. Todos temos histórias Aparecida, cicatrizes. Não estou pedindo que compartilhe as suas agora ou mesmo que corresponda ao que sinto. Apenas quis ser honesto. Naquela noite, pela primeira vez em mais de 10 anos, permiti que alguém ultrapassasse as barreiras que construí ao meu redor. Não apenas fisicamente, embora também tenha acontecido com uma ternura que me fez chorar, mas emocionalmente. Contei a João Paulo sobre Roberto, sobre minha mãe, sobre a traição e a vingança. Contei sobre os anos de solidão disfarçada de independência, sobre o medo constante
de confiar e ser novamente traída. Ele ouviu em silêncio, segurando minhas mãos, secando minhas lágrimas ocasionais. Quando terminei, me abraçou longamente. "Você é extraordinária", sussurrou contra meus cabelos. "Não apesar do que viveu, mas incluindo tudo isso, cada dor, cada superação, cada conquista." Naquela noite, adormeci nos braços de um homem pela primeira vez desde meu casamento. Não houve pesadelos, nem a insônia habitual que me acompanhava. Apenas um sono profundo e reparador, como o de uma criança que finalmente se sente segura. O relacionamento com João Paulo avançou com uma cautela respeitosa. Ele entendia minhas hesitações, meus recuos
ocasionais quando a intimidade parecia avaçaladora. Nunca pressionou, nunca cobrou, apenas estava lá, constante como o nascer do sol, paciente como as marés. Em agosto de 1976, exatamente 11 anos após a noite que mudou minha vida, João Paulo me levou à praia. Caminhamos descalços na areia, observando o sol mergulhar no horizonte em tons de laranja e rosa. Quando as primeiras estrelas apareceram, ele parou e se ajoelhou diante de mim. Aparecida, não tenho ilusões sobre amor perfeito ou finais de conto de fadas. Somos adultos com histórias complexas e cicatrizes profundas, mas sei com absoluta certeza que quero
construir uma vida ao seu lado. Não para completá-la. Você já é completa por si só, mas para somar, para compartilhar, para crescer junto, você me daria essa honra? Olhei para aquele homem ajoelhado na areia, os cabelos grisalhos nas têmporas, os olhos sinceros, as mãos que sempre me tocavam com reverência. Senti o peso dos anos de solidão, o eco distante da traição, o fantasma da desconfiança. E então, como uma onda que lava a tareia, senti também algo novo. Esperança. Sim, respondi simplesmente: "Sim, quero construir uma vida com você". Casamos em novembro daquele ano numa cerimônia íntima
com apenas amigos próximos. Usei um vestido simples de seda azul petróleo sem vé ou buquê. João Paulo vestia um terno cinza claro. Trocamos votos escritos por nós mesmos, promessas realistas de respeito, honestidade e companheirismo. Não juramos amor eterno ou felicidade constante. Sabíamos demais da vida para tais promessas grandiosas. Estabelecemos nossa rotina com naturalidade. Eu mantinha meu império de moda, agora expandido para cinco lojas em três estados. João Paulo continuava seus projetos arquitetônicos, cada vez mais reconhecidos internacionalmente. Morávamos em sua casa nas colinas durante os fins de semana e no meu apartamento na cidade durante a
semana por conveniência profissional. Em 1977, recebi uma notícia inesperada. estava grávida aos 34 anos. O médico demonstrou preocupação devido à minha idade, considerada avançada para uma primeira gestação naquela época. Mas João Paulo e eu sentimos apenas alegria cautelosa. "Será que consigo ser mãe?", perguntei certa noite, a mão sobre a barriga ainda plana. "Não tive exatamente o melhor exemplo." João Paulo entrelaçou seus dedos nos meus. "Você não é sua mãe Aparecida. Nunca foi. E maternidade não é algo que se herda, é algo que se constrói dia após dia, escolha após escolha. A gravidez avançou sem complicações,
mas com as ansiedades normais de qualquer futura mãe, amplificadas pelo meu histórico familiar turbulento. Em março de 1978, nasceu Luía, uma menina de bochechas rosadas e olhos curiosos que pareciam absorver o mundo ao seu redor. Segurei minha filha pela primeira vez com um misto de terror e maravilhamento. Aquele pequeno ser dependia completamente de mim. Confiava sem questionar, amava sem condições. A responsabilidade parecia esmagadora. "E se eu não souber amá-la direito?", sussurrei para João Paulo enquanto ele admirava nossa filha em meus braços. "Você já está amando", respondeu ele, beijando minha testa suada. O medo de falhar
como mãe já é prova disso. Adaptar-me à maternidade exigiu ajustes significativos. Redimensionei minha presença nas empresas, delegando mais responsabilidades aos gerentes que havia treinado ao longo dos anos. Teresa, agora diretora criativa, assumiu muitas de minhas funções com competência tranquila. A senhora construiu algo que funciona mesmo sem sua presença constante", comentou ela durante uma reunião. "Isso é a marca de um verdadeiro líder. Essas palavras me confortaram nos momentos em que me sentia dividida entre a empresária e a mãe, papéis que aprendi a integrar gradualmente. Em 1980, aos 37 anos, engravidei novamente. Desta vez, as complicações apareceram
no segundo trimestre. Pressão alta, risco de parto prematuro. Passei os últimos três meses praticamente a camada, as mãos inquietas, costurando minúsculos vestidos para Luía e seu futuro irmão ou irmã. Pedro nasceu em fevereiro de 1981, um menino pequeno, mais saudável, com os olhos do pai e minha teimosia, que se manifestou desde os primeiros dias, quando se recusava a dormir nos horários convencionais. Com dois filhos pequenos e uma carreira consolidada, meus dias se tornaram uma dança cuidadosamente coreografada entre reuniões de negócios e reuniões escolares, desfiles de moda e apresentações de baleia infantil, negociações com fornecedores e
negociações com crianças sobre hora de dormir. João Paulo era um parceiro no sentido mais completo da palavra, presente, participativo, compartilhando igualmente as responsabilidades parentais, algo raro para homens de sua geração, no início dos anos 1980. Juntos construímos uma família que funcionava não por obrigação ou aparências, mas por amor e respeito mútuos. Em 1982, recebi uma carta que abalou minha estabilidade duramente conquistada. Dona Lourdes, agora com saúde bastante fragilizada, escrevia para informar que Roberto havia falecido. Passou seus últimos anos trabalhando como zelador na igreja matriz, sempre perguntando por você, sempre esperando notícias. Morreu sozinho em seu
pequeno quarto nos fundos da paróquia. Entre seus pertences encontraram uma fotografia sua do dia do casamento de vocês. Li e reli aquela carta várias vezes, buscando em mim alguma emoção definível. Tristeza, vingança satisfeita, indiferença. Encontrei apenas uma melancolia suave, como a que sentimos ao lembrar de um lugar onde vivemos brevemente na infância. Mostrei a carta a João Paulo, que me abraçou em silêncio. Não precisávamos de palavras. Ele entendia que aquela notícia encerrava um capítulo importante, mesmo que já não houvesse sentimentos vivos relacionados a ele. Semanas depois, em uma decisão que surpreendeu a mim mesma, viajei
com João Paulo até minha cidade natal. Era a primeira vez que retornava desde 1965. Luía com 4 anos e Pedro com apenas um, ficaram sob os cuidados de Teresa e seu marido. A pequena São Miguel do Oeste havia mudado pouco. As mesmas ruas estreitas, a mesma igreja imponente no centro da praça, os mesmos olhares curiosos seguindo forasteiros, exceto que não éramos forasteiros. Eu era a filha pródiga, agora uma mulher de sucesso, retornando ao cenário de sua maior humilhação. Visitamos o túmulo de Roberto no pequeno cemitério local, uma lápide simples, sem flores ou enfeites. Fiquei ali
por alguns minutos, João Paulo, respeitosamente afastado, dando-me espaço para o que quer que eu precisasse processar. Não senti necessidade de falar com o homem enterrado ali. Não havia perdão a conceder, nem raiva a expressar, apenas um reconhecimento silencioso de que aquela pessoa que um dia ocupou o papel central em minha vida, agora era apenas uma lembrança esmaecida, sem poder sobre meu presente ou futuro. Depois visitamos dona Lourdes, agora confinada a uma cadeira de rodas, mas com o mesmo espírito afiado de sempre. Apresentei João Paulo, contei sobre meus filhos, meus negócios. Ela sorriu, os olhos embaçados
pela catarata brilhando de orgulho. "Sempre soube que você seria alguém extraordinário, menina", disse, segurando minhas mãos com suas mãos enrugadas. desde o dia em que entrou no meu atelier, pedindo para aprender a costurar direito. Antes de partir, fiz uma última visita ao túmulo de minha mãe. Diferente do que senti ou não senti no túmulo de Roberto, aqui havia emoções tumultuadas, raiva antiga, pena, uma tristeza pelo que poderia ter sido e nunca foi. Deixei um pequeno buquê de margaridas, as flores que ela costumava colher comigo quando eu era criança, antes que a amargura a consumisse por
completo. "Estou em paz", disse a João Paulo no caminho de volta. E estava finalmente. Os anos 1980 avançaram com a velocidade impressionante que só os pais de crianças pequenas conhecem. Luía cresceu curiosa e determinada, sempre questionando o mundo ao seu redor. Pedro, mais introspectivo, demonstrou desde cedo talento para desenho e música. Ambos foram criados com amor abundante, limites claros e a certeza inabalável de que eram amados incondicionalmente. Minhas empresas continuaram prosperando, agora com uma linha internacional que vendia para Europa e Estados Unidos. Em 1985, lancei uma coleção inspirada em minha jornada pessoal, Renascimento, que se
tornou meu maior sucesso comercial e artístico. João Paulo e eu celebramos 10 anos de casamento em 1986 com uma viagem à Itália, nossa primeira férias realmente prolongadas sem as crianças. Caminhando pelas ruas de Florença, observando a arte que sobreviveu a séculos de guerras e tragédias, sentiu uma conexão profunda com a ideia de permanência através da criação. "Somos como estes artistas", comentei, observando uma escultura de Michelângelo. "Criamos algo que permanecerá além de nós." João Paulo apertou minha mão. nossos filhos, nossas obras, os valores que plantamos. Tudo isso viverá depois de nós. Quando retornamos ao Brasil, implementei
mudanças significativas em minhas empresas. Criei uma fundação para apoiar jovens mulheres em situação vulnerável, oferecendo formação profissional em corte e costura. Estabeleci políticas de licença à maternidade estendida e horários flexíveis para mães, práticas revolucionárias no Brasil dos anos 1980. "A senhora está décadas à frente de seu tempo", comentou meu contador, preocupado com os custos destas iniciativas. Estou apenas construindo o mundo onde gostaria que minha filha trabalhasse", respondi. E era verdade. Cada decisão empresarial passou a ser filtrada por essa perspectiva. Que tipo de mundo eu estava ajudando a construir para as próximas gerações? Na década de
1990, quando Luía e Pedro entraram na adolescência, enfrentamos os desafios típicos deste período com a mesma parceria que caracterizava nosso casamento. João Paulo era particularmente habilidoso em conectar-se com Pedro durante seus momentos mais reservados. Eu encontrava formas de navegar os humores voláteis de Luía, reconhecendo nela a mesma força interior que me sustentara nos momentos mais difíceis. Em 1996, aos 53 anos, recebi o diagnóstico de câncer de mama. A notícia caiu como um raio em nossa família estável e feliz. Luía, então, com 18 anos e prestes a iniciar a faculdade, quis adiar seus planos para ficar
comigo. Não disse firmemente enquanto começava o tratamento. Sua vida não será interrompida por isso. Lutei demais para construir um mundo onde você pudesse voar com suas próprias asas. O tratamento foi agressivo, cirurgia, quimioterapia, radiação. Perdi meus cabelos, pesei 40 kg, enfrentei dias em que levantar da cama parecia impossível. João Paulo esteve ao meu lado em cada etapa, segurando minha mão durante as sessões de quimioterapia, lendo para mim quando meus olhos estavam cansados demais para focarem nas palavras. Não morrerei assim, prometi a mim mesma nos dias mais escuros. Ainda tenho muito a fazer, muito a ver.
E sobrevivi. Em 1997, fui declarada em remissão. A experiência de encarar a mortalidade transformou-me profundamente. Passei a valorizar ainda mais cada momento com minha família, cada pequena alegria cotidiana, cada nascer do sol que tinha o privilégio de testemunhar. Aos poucos, reintegrei-me aos negócios, mas com uma nova filosofia. Delejei ainda mais responsabilidades, treinei sucessores, preparei a empresa para continuar, mesmo quando eu não estivesse mais presente, não por morbidez, mas por sabedoria. A verdadeira liderança, disse a uma revista de negócios, que me entrevistou em 1998 é criar sistemas que prosperem independentemente de você. Novo milênio, João Paulo
e eu entramos na fase de avóz. Luía, agora advogada, casou-se com um professor universitário e teve gêmeos em 2003. Pedro, que seguiu carreira como designer gráfico, deu-nos uma neta em 2005. Descobri na avosidade uma alegria diferente da maternidade, menos ansiosa, mais contemplativa, profundamente gratificante. "Vovó, conta de novo a história de como você ficou rica." Pedi a minha neta Helena, aninhando-se em meu colo durante as tardes de domingo em família. Contava versões suavizadas, apropriadas para ouvidos infantis. Falava de trabalho duro, perseverança, superação. Um dia, quando fossem mais velhos, talvez compartilhasse a história completa, não por amargura
ou drama, mas porque nossas cicatrizes também são parte de quem nos tornamos. Hoje, aos 82 anos, olho para trás e vejo não apenas a jovem traída que fui um dia, mas toda a jornada que me trouxe até aqui. Vejo o império que construí com minhas próprias mãos, os filhos que criei para serem pessoas íntegras e compassivas, os netos que carregam em si fragmentos de minha determinação. Vejo também João Paulo, agora com cabelos completamente brancos, ainda me olhando como se eu fosse a maior maravilha de sua vida, mesmo depois de tantos anos. E percebo que a
verdadeira vingança nunca foi a humilhação pública de Roberto e minha mãe naquela noite de agosto. A verdadeira vingança foi a vida plena que construí depois. Não a despeito deles, mas graças à força que descobri em mim mesma, quando não tinha mais nada além de coragem e determinação. Se me perguntarem se valeu a pena toda a dor, direi que sim. Não porque a dor seja necessária para o crescimento, mas porque aprendi que podemos transformar até mesmo nossas feridas mais profundas em algo belo e significativo. E assim termina a minha história, queridos. Agradeço de coração a todos
que ficaram comigo até o final deste relato. Se você gostou da minha história, por favor, não se esqueça de curtir este vídeo e se inscrever no canal. Isso ajuda muito a levar estas histórias de superação para mais pessoas que talvez precisem ouvir que mesmo nos momentos mais sombrios, sempre há um caminho adiante. E minhas queridas que estão assistindo, gostaria muito de saber que tipo de histórias vocês gostariam de ouvir nos próximos vídeos. Tenho tantas experiências para compartilhar ao longo dos meus 82 anos de vida. Contem nos comentários qual é seu estilo favorito de história, o
que toca mais o coração de vocês. Quero trazer relatos que realmente façam sentido para todas nós. Afinal, nós, vovós, temos um baú cheio de histórias para compartilhar, não é mesmo? Até o próximo vídeo com muito carinho.