Olá, moçada, tudo bem? Baita prazer reencontrá-los aqui! Espero que todos estejam bem para mais uma meditação estóica.
Tenham todos um excelente dia hoje, dia 24 de fevereiro, com uma meditação de Epicteto, uma meditação importantíssima que, mais uma vez, traz alguns dos elementos essenciais do estoicismo, especialmente desse estoicismo que eu chamo de tardio, né? O estoicismo, para quem não se lembra desse ponto, é uma longa corrente da história da filosofia, do período assim chamado helenístico. E o estoicismo, de modo geral, os estudiosos separam em três momentos: o primeiro estoicismo, né, que foi inaugurado por Zenão de Cítio.
Veja que a gente nem citou ele aqui porque está realmente bem lá no começo do movimento estoico, por assim dizer. Depois, nós temos um médio estoicismo, que é reconfigurado, que traz novas características em relação ao primeiro estoicismo. Por isso mesmo, é um segundo.
E nós temos o estoicismo que estamos contemplando aqui, que é esse estoicismo tardio, a terceira fase do estoicismo, que é a sua fase romana, que encontra em Sêneca, Marco Aurélio e Epicteto os seus três maiores representantes, ainda que não sejam os únicos, mas os seus três nomes mais luminosos nesse período romano do estoicismo. Pois bem, vamos de Epicteto. Cito: "Ah, desculpa, eu não falei o título, né?
A verdadeira fonte de dano. " Os nossos autores colocam como título "A verdadeira fonte de dano". Tenham em mente que não é aquele que guarda rancor de ti e te golpeia, que te prejudica.
Não é aquele que guarda rancor de ti e te golpeia e te ataca. Não é ele que te prejudica, mas que o mal vem de teu pensamento sobre a agressão. Os estóicos ensinam que, neste sentido, o mal deriva do modo como nós interpretamos aquilo que nos acontece.
Não é um mal em si aquilo que nos acontece, mas o modo como nós percebemos essas impressões que acontecem conosco. Assim, quando alguém desperta tua raiva, sabe que é tua própria opinião que, de fato, a alimenta. O outro não pode causar raiva em mim se eu decido não experimentar raiva por conta daquilo que ele faz ou deixa de fazer, ou por conta daquilo que ele fala ou deixa de falar.
Interessante isso: a raiva ou qualquer outro sentimento negativo que eu venha a experimentar é uma concessão ao outro. Eu concedo isso, eu presenteio o outro com um sentimento negativo que ele quer me causar, mas eu poderia simplesmente não experimentar aquilo. Eu poderia simplesmente dominar aquilo, eu poderia simplesmente esvaziar aquilo.
Mas não, eu presenteio o meu adversário, que quer me causar um mal, sentindo o mal que ele quer me causar. Em vez disso, faz com que tua primeira reação seja não te deixar levar por essas impressões. Não se deixe levar!
Assuma o controle das suas impressões, pois, com o tempo e a distância, é mais fácil alcançar o autodomínio. Fim de citação. Nunca tome uma decisão de cabeça quente.
Não responda emocionalmente ao que acontece com você. Você vai se arrepender, você vai se arrepender! Isso é fatal.
Não se deixe dominar pelo que querem causar em você, porque o dano só pode existir por um ato de concessão. Então, imagine você sofrer uma ofensa, seja de que natureza for. Ela só é ofensa enquanto você absorver aquilo como ofensa.
Do contrário, você se torna uma pessoa absolutamente inatingível. Se aquela máxima do jardim de infância, né? "O que vem de baixo não me atinge" é uma máxima cheia de sabedoria.
Se aquilo você sublima e se educa. Primeiro, você se educa, depois você é livre. Se você quer experimentar a liberdade de quem não se sente ofendido por qualquer coisa, treine não se sentir ofendido por qualquer coisa.
Existe uma palavra no grego que é "doimo". É um verbo, "doimo". Eu vou colocar em grego: "doimo".
Não sei o que ficou pior, em grego ou transliterado, "doimo". "Doimo" é um verbo em grego no infinitivo, e fica avaliar. Ele, até os autores comentam isso lá no epílogo desse livro, que esse verbo se refere a uma atividade que até hoje existe, né?
De avaliadores de metal. Então, sabe aquela pessoa que pega um anel de ouro e vai avaliar se é realmente de ouro? Então, o verbo é "dokad", que é avaliar.
Então, o sujeito pega, dá uma mordidinha, faz um barulhinho, ele está avaliando se aquilo ali é realmente algo que parece ser ou se não é algo que parece ser. O Epicteto usa com alguma frequência esse verbo para dizer que nós devemos adestrar as nossas impressões, fazendo como aquele que domina o ato de "dokmaden", de avaliar as coisas no modo como elas de fato são. Às vezes tem cara de ouro, tem jeito de ouro, tem peso de ouro, mas não é ouro.
Parece ofensa, soa como ofensa, mas só é ofensa se eu concedo. Parece ataque, tem som de ataque, tem cheiro de ataque, mas só é ataque se eu concedo. Agora, se eu dou um pé atrás, me afasto e respiro, o modo de você se dominar vai fazer de você um avaliador exímio daquilo que você experimenta.
Seja um avaliador exímio daquilo que você experimenta, concedendo às coisas apenas aquilo que deve ser concedido a elas. Se não te traz paz, não é bom. Se não te traz paz, não é bom, não te faz bem.
Tem coisas que acontecem lá fora, obviamente eu não domino, mas o modo como eu reajo a isso. . .
Eu, para usar o meu exemplo de sempre, posso estar em um mar absolutamente tempestuoso e calmo. Eu posso estar numa situação muito tensa e calmo, porque eu aprendi a lidar com as minhas emoções. Aprenda a ser esse avaliador que, pelo simples som de uma coisa que o metal faz tocando outro metal, ele diz.
Assim, isso aqui não vale a pena; isso aqui não tem valor nenhum. Ou, por outro lado: opa, isso aqui tem valor! Isso daqui eu vou trazer pra minha vida.
Acho que o comentário aqui dos autores apenas reforça isso. Eu vou ler o segundo parágrafo do comentário dos autores: Nossa reação é o que decide onde o dano ocorreu. Se sentimos que fomos prejudicados e ficamos zangados, claro que é assim que parecerá.
Se levantamos a voz porque sentimos que estamos sendo confrontados, naturalmente uma confrontação se seguirá. Mas, se mantemos o controle de nós mesmos, decidimos se rotulamos ou não algo como bom ou mau. De fato, se nos ocorresse uma situação igual em outros momentos da vida, poderíamos ter reações muito diferentes.
Quantas vezes, às vezes a gente tinha, lá quando éramos novinhos, né? Tínhamos lá os nossos 12, 13 anos e reagíamos de uma maneira a uma determinada frase. Amadurecemos e passamos a reagir de outra.
Olha, se eu posso então ter domínio sobre o modo como eu reajo, por que eu não reajo com inteligência a todas essas situações, de maneira desapassionada? Eu gostei dessa ideia, né? As impressões são como, já viu aquelas garrafas, né?
Na fábrica de cerveja, lá as garrafas ou de refrigerante: as garrafas passando, e joga-se o líquido lá dentro e vem um rótulo. Nós temos que treinar essa arte de rotular adequadamente, e isso só a prudência, por meio da razão, da faculdade da razão, pode fazer. Então, com razão, com prudência, com sensatez, rotulamos as coisas com o peso que elas realmente têm, não exagerando nas nossas reações.
Beleza? Bom dia para vocês! Até amanhã, gente!
A gente se encontra aqui.